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INTERVENÇÕES TERAPÊUTICAS DA TERAPIA COGNITIVO- COMPORTAMENTAL (TCC) EM PACIENTES COM INSÔNIA: uma abordagem Danielle Maria da Costa1 RESUMO Muitas pessoas em todo o mundo sofrem com transtornos associados ao sono. O mais prevalente deles é a insônia que pode estar ou não associado a outros transtornos. Neste presente artigo pretendemos trabalhar a temática do sono sob o viés da intervenção psicológica através da abordagem da Terapia Cognitivo-Comportamental. A partir dos anos 70 surgiram técnicas com proposta de intervenção cognitivo-comportamental visando aprofundar o conhecimento dos processos saúde-doença associados ao sono especificamente à insônia. Essas intervenções foram estabelecidas por planos sequenciais de ações, desmembrados em diversos modelos conceituais, os quais trabalham especificamente com alteração de pensamento e comportamento. A educação e higiene do sono; a terapia de restrição do sono; a terapia de controle de estímulos; terapia de relaxamento e reestruturação cognitiva são as técnicas utilizadas no processo terapêutico no tratamento da insônia. A revisão de literatura foi a metodologia aplicada para o desenvolvimento do trabalho, permitindo a reafirmação da TCC como um importante instrumento terapêutico capaz de proporcionar relevantes benefícios ao paciente insone, com respostas eficazes em pouco tempo. Nessa perspectiva, o psicólogo assume um papel fundamental. Palavras-chave: Insônia. Qualidade de vida. Terapia Cognitivo-Comportamental. 1 INTRODUÇÃO A insônia é o transtorno do sono de mais incidência mundialmente e tem acometido cada vez mais pessoas. Se não atentado e diagnosticado precocemente aos sintomas de insônia, existe a possibilidade de se desenvolver outros transtornos a partir da mesma, prejudicando assim a qualidade de vida. O presente artigo busca trabalhar a temática do sono em uma perspectiva capaz de romper com o lugar comum e, com fundamentação teórica de estudiosos do assunto, trazer algo novo e atual. Vale considerar que o sono tem despertado fascínio e curiosidade desde a antiguidade. Tem-se notícias de estudos realizados sobre o sono anteriores à era cristã. Além do mais, atualmente nota-se constante crescimento no campo da pesquisa relacionada aos distúrbios do sono. Como exemplo disso, podemos citar o incremento do número de distúrbios do sono, que não eram conhecidos na versão 2008, do DSM-IV, considerado uma das principais fontes de pesquisas sobre o assunto. Na versão 2014 do agora DSM-V, outros novos distúrbios foram catalogados. Não se pode ignorar esses fatos deixando assim de considerar a relevância do tema. Existem inúmeros transtornos relacionados ao sono, e com o fito de delimitar o objeto de pesquisa-base do presente trabalho, buscamos trabalhar a questão das intervenções terapêuticas da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) em pacientes com insônia. 1 Artigo apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização em Terapia Cognitivo- Comportamental da Unigrad de Vitória da Conquista-BA. Data da aprovação: 2 Nesse contexto, faz-se necessária uma abordagem do que venha a ser um sono reparador ou não, com o intuito de responder a problemática da pesquisa, trabalhamos com os seguintes objetivos: A distinção da insônia enquanto sintoma, que se revela como vetor capaz de promover quadros críticos de comportamento prejudiciais às funções diárias, indicando a necessidade de intervenção psicológicas. Segundo a Sociedade Brasileira do Sono (2003), insônia é um sintoma que pode ser definido como dificuldade em iniciar e/ou manter o sono, presença de sono não reparador, ou seja, insuficiente para manter uma boa qualidade de alerta e bem-estar físico e mental durante o dia, com o comprometimento consequentemente do desempenho nas atividades diurnas. Para o autor a insônia não se trata apenas de um sintoma: A insônia, independentemente de sua etiologia, está associada a uma gama de sintomas adversos como distúrbios físicos, mentais e emocionais, como alterações de humor, ansiedade, irritabilidade, dificuldade de concentração e memorização. A insônia pode ser inicial, de manutenção ou terminal. Na insônia inicial, o paciente apresenta dificuldade para iniciar o sono, com duração superior a 30 minutos. A insônia de manutenção é caracterizada por despertares durante a noite que podem ser de curta ou de longa duração. A insônia terminal tem como principal sintoma o despertar precoce, ou seja, o paciente passa a acordar mais cedo do que o habitual. Comumente, essas trê s formas de insônia estão presentes em um mesmo paciente (PINTO JUNIOR, 2012, p. 28). Conforme mencionado anteriormente, a grande maioria dos casos de insônia pode ser caracterizado como insônia inicial, que se caracteriza pelo aumento da latência do sono, ou seja, aumento do tempo que o indivíduo demora para iniciar o sono. Alguns pacientes com insônia queixam-se da qualidade de seu sono, ou seja, mesmo dormindo uma quantidade de horas considerada satisfatória, esses indivíduos tem a sensação de que o sono não foi reparador. A quantidade ideal de horas de sono é uma característica individual. Quanto à intervenção psicológica pretendida, assume o papel-base nesta a aplicação da TCC, por ser considerada hoje padrão ouro no tratamento de pacientes insones sem a utilização prioritária de medicalização. Nesse sentido, pretendemos abarcar possíveis contribuições do psicólogo no trato das distorções cognitiva-comportamentais sobre o sono, com ênfase em tratamentos não farmacológicos referendados por profissionais da área e que felizmente têm surtido resultados positivos em que se submete a eles. Visando o domínio do tema, recorremos à metodologia de levantamento bibliográfico, a qual se desenvolveu a partir da leitura crítica de livros, artigos, dissertações e teses, levantamento, seleção, fichamento e arquivamento de informações relacionadas à pesquisa. 2 REVISÃO DE LITERATURA Uma constatação da relevância do sono é a de que, segundo cientistas, podemos passar mais tempo sem comer do que sem dormir. Sabe-se também que uma perda total de sono conduz a morte. Portanto é fundamental para sobrevivência. Dada a complexidade dos seus mecanismos e funções, definir o que seja sono não é uma tarefa fácil. Muitos estudos já foram realizados, e ainda serão e não sabemos se chegaremos a uma definição concreta para o tema. 3 No século XX começam a parecer as primeiras abordagens experimentais do estudo do sono. Nesta época surgiram os primeiros instrumentos que permitiram registrar as primeiras atividades cerebrais. A partir deste período começa o estudo científico do sono e seus transtornos através do método experimental. Sobre esse tema Hobson apud Buela-Casal e Yánez (2016, p.15) versa: O autor a quem devemos este grande avanço é o psiquiatra austríaco Hans Berger que conseguiu demonstrar que no cérebro humano se produzem oscilações de potencial elétrico que se podem registrar em forma de ondas (Berger, 1929). Esta técnica chamou de eletroencefalograma (EEG) e nos permite registrar a atividade cerebral em qualquer momento do dia. Os primeiros estudiosos a respeito manifestaram que a atividade cerebral era diferente durante o sono e durante a vigília. Mas estes resultados não receberam o merecido reconhecimento até que foram confirmados posteriormente por Adrian e Matthews (1934). Levando em consideração esses aspectos, podemos perceber que estes estudos fizeram questionar a ideia de que o sono era um fenômeno passivo. Porque evidenciou-se que durante o sono existia um padrão sincronizado de atividade cerebral e este não era completamente inativo, adquirindo assim uma concepção ativa. O sono, enquanto uma condição inerente a todos os indivíduos, que se alterna com a estadode vigília, (desperto), é um processo ativo envolvendo mecanismos fisiológicos e comportamentais em várias regiões do sistema nervoso central. Ainda sobre esse estado fisiológico denominado sono Andersen; Pinto Jr; Tufik, (2012, p.01) O sono é um estado fisiológico que ocorre na maioria dos animais, dentro de períodos de 24 horas, e se alterna com estados de vigília. Esse ritmo denominado de circadiano depende de estruturas anatômicas, mecanismos fisiológicos e da participação de neurotransmissores. Portanto, podemos perceber a importância dessas atividades cerebrais que acontecem tanto durante dia quanto a noite, para o bom funcionamento do sono, que trará reflexos físicos, mentais e comportamentais. No que se refere à insônia, é preciso destacar que etimologicamente o termo (do latim, in sem + somnus sono) indica a falta de sono. Segundo a Sociedade Brasileira do Sono (2003), insônia é um sintoma que pode ser definido como dificuldade em iniciar e/ou manter o sono, presença de sono não reparador, ou seja, insuficiente para manter uma boa qualidade de alerta e bem-estar físico e mental durante o dia, com o comprometimento consequentemente do desempenho nas atividades diurnas. Acerca do tema, Pinto Junior (2012) considera que a insônia não se trata apenas de um sintoma: A insônia, independentemente de sua etiologia, está associada a uma gama de sintomas adversos como distúrbios físicos, mentais e emocionais, como alterações de humor, ansiedade, irritabilidade, dificuldade de concentração e memorização. A insônia pode ser inicial, de manutenção ou terminal. Na insônia inicial, o paciente apresenta dificuldade para iniciar o sono, com duração superior a 30 minutos. A insônia de manutenção é caracterizada por despertares durante a noite que podem ser de curta ou de longa duração. A insônia terminal tem como principal sintoma o despertar precoce, ou seja, o paciente passa a acordar mais cedo do que o habitual. Comumente, essas três formas de insônia estão presentes em um mesmo paciente (PINTO JUNIOR, 2012, p. 28). 4 Alguns pacientes com insônia queixam-se da qualidade de seu sono, ou seja, mesmo dormindo uma quantidade de horas considerada satisfatória, esses indivíduos tem a sensação de que o sono não foi reparador. A quantidade ideal de horas de sono é uma característica individual. A insônia é a mais prevalente entre todos os transtornos de sono, com maior incidência nas mulheres. O seu primeiro episódio geralmente ocorre na fase adulta jovem, e tem menor incidência na infância e adolescência. Pode ser aguda, com duração menor que quatro semanas e surge como resposta a fatores estressores de natureza psicogênica, médica ou ambiental em uma pessoa previamente normal. Quanto às insônias crônicas, frequentemente levam o paciente a procurar auxílio médico, uma vez que tendem a durar meses, anos ou por toda a vida (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). Nesse sentido, Muller e Guimarães (2007), explicam as consequências adversas que os distúrbios do sono podem provocar na vida das pessoas. Aumento da propensão a distúrbios psiquiátricos, déficits cognitivos, surgimento e agravamento de problemas de saúde, riscos de acidentes de tráfego, abstencionismo no trabalho, enfim diminuição em todo o seu funcionamento diário e total comprometimento da qualidade de vida. Pinto Junior (2012) classifica as insônias primárias, como aquelas de curta duração que não são causadas por nenhum transtorno mental ou clínico, nem por outros transtornos do sono. Mas sim por comportamentos inadequados quanto a higiene do sono. A insônia primária, ainda segundo o autor, pode ser dívida em três tipos: • A Psicofisiológica, é denominada insônia aprendida, cursando como estado de hiperalerta cognitivo caracterizado por ansiedade ao ato de dormir. • A insônia Idiopática tem início antes da puberdade e pode persistir durante a vida adulta e há geralmente histórico familiar (fator genético). • A insônia Paradoxal, caracteriza-se pela presença de queixas subjetivas de sono e pela presença de sintomas diurnos de leve intensidade, causando assim uma má percepção do sono. Ainda de acordo com o autor acima citado, ao contrário do que acontece na insônia primária, a insônia secundária tem relação causal direta e temporal com o fator responsável pela insônia. Assim, enquanto houver um problema clinico, neurológico ou qualquer outro transtorno do sono ou mental não haverá remissão dos sintomas. Ela se torna comórbida ou associada quando há eliminação do fator causal e perpetuação dos sintomas da insônia. Insônia e comorbidade é tema sobre o qual ainda não há um consenso entre os pesquisadores. Conforme DSM-IV (2008), a insônia é uma comorbidade comum de muitas condições médicas, incluindo diabetes, doença cardíaca coronariana, doença pulmonar obstrutiva crônica, artrite, fibromialgia e outras condições de dor crônica. Aparentemente, a relação de risco é bidirecional: a insônia aumenta o risco dessas condições médicas, e os problemas médicos aumentam o risco de insônia. Nem sempre a direção da relação é clara, podendo alterar-se ao longo do tempo; por essa razão, insônia comórbida é a terminologia preferida na presença de insônia coexistente com outra condição médica (ou transtorno mental). Indivíduos com insônia podem usar incorretamente medicamentos ou álcool para ajudar o sono noturno, ansiolítico s para combater a tensão ou a ansiedade, e cafeína ou outros estimulantes para combater fadiga excessiva. Em alguns casos, além de agravar a insônia, o uso desse tipo de substâncias poderá evoluir para um transtorno relacionado ao uso de substâncias. É nesse contexto que os estudos acerca da intervenção psicológica no viés TCC dão uma significativa contribuição na condução de pacientes insones no sentido de leva-los a ter uma melhor qualidade de vida. 5 2.1 Insônia na psicologia do sono Pesquisas desenvolvidas desde 1910 vêm impulsionando o conjunto de conhecimentos e medidas de registros até hoje na área de estudos sobre o sono, sob o olhar da ciência psicológica. No caso da insônia, especialmente, trata-se de um grave problema de saúde pública devido as consequências evidenciadas para a saúde e qualidade de vida do indivíduo com larga verificação de alta prevalência notadamente na atenção primária. Esse transtorno ocasiona mudanças no sistema nervoso autonômico e neuroendócrino. Tais alterações podem resultar na elevação do risco de obesidade, arteriosclerose, hipertensão, diabetes, cardiopatias, doenças renais crônicas e doenças pulmonares obstrutivas crônicas. Irritabilidade, problemas na atenção e concentração e queda no desempenho cognitivo também estão relacionadas com a insônia, que se apresenta como um fator de risco para transtornos mentais, inclusive depressão. Percebe-se, portanto, que a insônia é um alto fator de risco para depressão, e pode acarretar grandes prejuízos nas atividades diárias, além de causar prejuízos sociais, profissionais e cognitivos aos sujeitos acometidos, também ocasiona um declínio considerável na qualidade de vida aumentando o risco de acidentes domésticos, no trabalho e no trânsito. Em estudos recentes na Reunião Anual das Sociedades do Sono - APSS (2006), foi estabelecido que a insônia ajuda a prolongar períodos de tristeza, de falta de esperança e de perda de interesse em atividades cotidianas, indicadores que caracterizam a depressão, dificultando a recuperação dessa. O estudo verificou também que pacientes com insônia são 11% vezes mais propensos a entrar em depressão em um período de 6 meses do que os dormidores normais. Essa pesquisa avaliou 1,8 mil homens e mulheres americanos. “Os resultados são especialmente significativos, uma vez que sugerem que o tratamento da insônia pode auxiliar na recuperação da depressão” disse Perlis, 2006. Assim, podemosperceber que a depressão enquanto transtorno do humor tem reflexo direto no sono. A ausência de remissão dos sintomas da insônia associa-se ao maior risco de recaídas, recorrência e episódios depressivos crônicos e períodos mais curtos entre os episódios, permanecendo o comprometimento funcional. Pois a ocorrência dessa comorbidade acarreta sérios danos a qualidade de vida. Estudos revelam que entre as mulheres, principalmente após a menopausa, a incidência da insônia é maior. Outros contingentes também tem propensão à insônia, como idosos, pacientes com doenças médicas e/ou psiquiátricas, trabalhadores em turno, desempregados e pessoas com baixa renda econômica e pouca escolaridade. Em Almondes (2016), encontra-se como se deu a interseção entre psicologia da saúde e a medicina do sono. Esta junção foi importante para o conhecimento dos comportamentos que contribuem para o desenvolvimento e manutenção dos transtornos do sono. Naquela época, surgiram concomitantemente, os diagnósticos para transtorno do sono e as intervenções que se transformaram em crescente interesse e ponto de pauta das pesquisas na área, tanto no que se refere aos fármacos quanto às tecnologias como medidas, e as abordagens terapêuticas. Segundo a autora, desde 1970 diferen tes pesquisas foram conduzidas com objetivo de avaliar aspectos da epidemiologia dos transtornos de sono, tratamento farmacológico e não farmacológico e fisiopatologia, englobando informações através de neuroimagem, genética, neurobiologia, avaliações comportamentais, dentre outros. Fica evidente que a partir dos anos 70, começam as contribuições da psicologia no estudo do sono. A partir de então surgiram técnicas que foram utilizadas para 6 intervenção cognitivo-comportamental com intuito de aprofundar esse conhecimento dos processos saúde-doença. As intervenções psicológicas no tratamento dos transtornos do sono especificamente na insônia, foram estabelecidas por planos sequenciais de ações, e para isso existem diversos modelos conceituais de intervenção para a compreensão do desenvolvimento e manutenção da insônia. Destacam alguns desses modelos: o modelo de condicionamento, que oferece uma base teórica para a eficácia de determinadas intervenções comportamentais. Esse modelo apresenta que o estado de vigí lia associado à insônia pode ser aprendido. Já o modelo de controle de estímulos é baseado no princípio comportamental de condicionamento, assim, um estímulo que é sempre junto a um comportamento específico tem grande chance de gerar uma determinada resposta (ALMONDES; PINTO JUNIOR, 2016). Para o adequado manejo da insônia, uma das finalidades é que ocorra uma associação da cama com o dormir, e não com outros estímulos. De acordo com Almondes, Pinto Junior (2016), o modelo de Spielman, conhecido como modelo dos 3Ps, indica a existência de fatores: predisponentes, precipitantes e perpetuantes, relacionados à ocorrência da insônia. Os fatores predisponentes são os que predispõem o indivíduo para o desenvolvimento da insônia ; os fatores precipitantes são os eventos que funcionam como gatilho para desencadear fatores que precipitam a ocorrência da insônia, e os fatores perpetuantes são compreendidos como os que mantêm a insônia, perpetuando-a. Fica entendido que, diante a um episódio de insônia, diversas estratégias mal adaptativas passam a ser realizadas na tentativa de aumentar o tempo de sono. Esses comportamentos são apreendidos por muitos pacientes como uma estratégia para conseguir dormir e não ter insônia, mas acabam sendo medidas que resultam maior estado de alerta e, consequentemente, mantêm a insônia. Conforme os referidos autores, o hiperalerta fisiológico, cognitivo e emocional pode propiciar a ocorrência de pensamentos disfuncionais e ser reforçado pelos mesmos. Tal hiperalerta pode predispor o indivíduo a hábitos incorretos, além de reforçar as distorções cognitivas e gerar consequências negativas no dia seguinte, agravando assim os hábitos inadequados relacionados ao dormir ou provocar aumento do alerta. Tornando assim um círculo vicioso, perpetuador de insônia nas suas diversas etapas. Entende-se que diversos são os fatores que podem interagir, em diferentes proporções, para a ocorrência e manutenção da insônia. Muitas são as formas como tais fatores são percebidos por cada indivíduo no que se refere à consciência do processo cognitivo. Também variados são os modos como cada pessoa, com suas características biológicas e aprendidas, rege a influência do meio e seus aprendizados sobre os fatores acima expostos, resultando em uma diversidade de manifestações e repercussões. O modelo Neurocognitivo, que delineia como a insônia ocorre de forma aguda, como se torna crônica e se perpetua. Segundo esse modelo, três fatores estão ligados ao surgimento e/ ou manutenção da insônia, são eles: As Terapias Cognitivas- Comportamentais (TCC) para Insônia incluem as seguintes modalidades de intervenções: terapia de restrição do sono, terapia de controle de estímulos, intervenções baseadas em relaxamento, estratégias cognitivas, ou uma combinação destas modalidades. A psicoeducação para higiene do sono, embora útil e envolvida no rol das modalidades da TCC, deve ser distinguida da TCC mais formal porque utilizada exclusivamente é frequentemente insuficiente para tratar a insônia crônica (ALMONDES, 2016, p.74). 7 Para uma avaliação clínica eficiente com fins a obtenção de informações para estabelecer um diagnóstico diferencial padrão ouro, ou seja, de total eficiência e elaborar um plano terapêutico adequado é importante a realização de entrevistas, aplicação de escalas, testes, questionários e de medidas subjetivo-objetivas como diário de sono e actígrafo (ALMONDES, 2016). Na realização da entrevista, por exemplo, leva-se em consideração algumas dimensões: levantamento do contexto social e cultural, caracterização da fase de desenvolvimento em que se encontra o paciente, visto que o sono depende desses contextos. O propósito é gerar um significado único, de acordo as especificações do transtorno apresentado por cada paciente. O levantamento da história do sono e da identificação do padrão do sono do paciente na atualidade são fatores importantes como parte da entrevista, que deve contemplar também os aspectos predisponentes, precipitadores e perpetuadores da insônia. Nessa perspectiva de investigação científica, o profissional deve solicitar ao paciente que recorde retrospectivamente seu sono antes de se tornar um problema e quando percebeu que este se transformou em transtorno. Na continuidade, o paciente deve descrever detalhadamente a queixa de insônia, especificando se a mesma ocorre ao iniciar, ao manter, ou ao acordar antes do horário, e/ou apresentar dificuldade para adormecer sem o uso de medicação. É preciso também que seja caracterizado a frequência e a variabilidade dessa queixa por noite. Toda essa investigação tem abrangência necessária para detectar uma rigorosa apreciação dos hábitos de sono e das crenças e a percepção sobre o sono, para estabelecer estratégias a fim de enfrentar as dificuldades com o sono. Tudo isso é decisivo para o diagnóstico. Faz-se, portanto, necessária a avaliação clínica antes de estabelecer a intervenção psicológica, porque a insônia pode ser sintoma de vários quadros médicos. Estes devem estar previamente estabelecidos e claros antes da intervenção psicológica. Neste contexto, em que se busca a regulação do sono, ganha relevo a abordagem da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). De acordo com Beck (1964), esse tipo de psicoterapia é estruturada, de curta duração, voltada para o presente, direcionada para a solução de problemas atuais e a modificação de pensamentos e comportamentos inadequados. Na forma de Terapia Cognitivo-Comportamental derivada do modelo de Beck (1997),em consonância com Alford (1997), o tratamento está baseado em uma formulação cognitiva, as crenças e estratégias comportamentais que caracterizam um transtorno específico. O tratamento também está baseado em uma conceituação, ou compreensão de cada paciente (suas crenças específicas e padrões de comportamento). O terapeuta procura produzir de várias formas uma mudança cognitiva – modificação no pensamento e no sistema de crenças do paciente – para produzir uma mudança emocional e comportamental duradoura. (BECK, 2013, p. 22) A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) para insônia é recomendada quando há sinais de fatores cognitivos e comportamentos disfuncionais aprendidos e condicionados que perpetuam ou acentuam os distúrbios do sono. Não há restrição à aplicação da TCC. Esta pode ser indicada tanto para o transtorno de insônia quanto para a insônia comorbidade, pois é eficaz para adultos e idosos, e para pacientes com uso prolongado de hipnóticos. 8 Tal terapia pode ser aplicada tanto na modalidade individual quanto na grupal. Controle de estímulos, treinamento de relaxamento e restrição de sono são técnicas utilizadas na TCC, podendo ser complementadas pela psicoeducação para o sono, além de instruções de higiene do sono e terapia cognitiva. É consenso que a terapia individual é a modalidade mais eficaz para a TCC para insônia quando comparada com as modalidades grupais. Conforme Lotufo Neto (1993), a TCC ajuda o indivíduo a modificar a relação entre a situação que está criando a dificuldade e a habitual reação emocional que ele tem naquela circunstância, mediante a aprendizagem de uma nova modalidade de reação. Assim, para que se alcance um sono de qualidade são necessárias mudanças de hábitos diários, as quais em conjunto com as técnicas da TCC é possível comprovar que o paciente apresenta um aumento no tempo total de sono, aumenta a percepção sobre a qualidade de seu sono e ainda, melhora o desempenho de suas funções durante o dia. São técnicas utilizadas na TCC, a educação e higiene do sono; a terapia de restrição do sono; a terapia de controle de estímulos; terapia de relaxamento e reestruturação cognitiva. A educação e higiene do sono • Avaliar condições do quarto (conforto, temperatura, ruídos); • Estabelecer horários regulares de sono tanto para dormir quanto para acordar; • Não ir para cama sem sono; • Não ficar controlando horário; • Não passar o dia preocupando-se com o horário de dormir; • Evitar ingestão de estimulantes (café, cigarros, drogas, chá preto, chocolate, próximo ao horário de dormir); • Procurar comer comidas leves até duas horas antes de dormir; • Não fazer uso de bebidas alcoólicas próximo ao horário de dormir; • Evitar excesso de liquido antes de dormir; • Realizar atividades físicas regularmente, preferencialmente pela manhã ou no final da tarde antes do jantar (ALMONDES; PINTO JUNIOR, 2016). Clemente (2006), por sua vez, versa que a educação e higiene do sono tem como principais objetivos, para o doente, adquirir noções corretas sobre o sono, compreender como se perpetua a insônia, modificar os fatores extrínsecos que prejudicam o sono, e comportamentos que causam um aumento da ativação pré-sono e promover fatores que aumentam a propensão para dormir e disciplinar o ritmo do sono-vigília. São fatores que contribuem para a higienização do sono: Deste modo percebemos que a higiene do sono promove condições adequadas a um sono tranquilo e saudável, relacionando-se a três questões fundamentais, o horário, o ambiente e as atividades que antecedem ao sono. Trata se de uma intervenção psicoeducadora, a fim de agir contra fatores que estejam mantendo a insônia. Terapia de restrição do sono Também faz parte do conjunto de técnicas da TCC, a terapia de restrição do sono, cujo objetivo é aumentar a eficiência do sono através da indução temporária de privação do sono. Há uma redução da quantidade de tempo passado na cama, para equiparar ao tempo que realmente adormece. Este tempo é subsequentemente ajustado em função da eficiência do sono (ALMONDES; PINTO JUNIOR, 2016). Os insones normalmente tentam compensar o tempo não dormido deitando-se mais cedo do que o normal e permanecendo na cama após acordarem, estes acreditam que esse período passado na cama pode ser restaurador, no entanto esse tempo em 9 excesso aumenta o estado de hiperalerta, o que acaba por reforçar a tentativa frustrada do paciente de não conseguir dormir. A terapia da restrição do sono tem por finalidade propor ao paciente que ele permaneça na cama somente quando estiver realmente dormindo. Terapia de controle de estímulo Outra técnica também utilizada pela TCC é a terapia de controle de estímulo, que se baseia na ideia de que a insônia resulta de um processo de condicionamento entre o ambiente de dormir, a hora de deitar e a ativação provocada por determinados comportamentos. O objetivo desta técnica é reforçar a associação entre comportamentos de dormir e estímulos ambientais, erradicando comportamentos incompatíveis com o sono. Dentre os procedimentos, estão: • Evitar ficar durante o dia no quarto e usá-lo apenas para dormir; • Levantar da cama ao sentir-se incapaz de dormir e ir para outro cômodo da casa; • Se não adormecer em 30 minutos sair da cama e dirigir-se a outro ambiente e procurar exercer alguma atividade tranquila e relaxante, importante que seja com pouca luminosidade e só retornar para a cama como estiver sonolento; • Não utilizar TV, computadores, rádios ou se alimentar neste ambiente; • Não cochilar durante o dia; • Utilizar uma agenda de compromissos anotando as atividades do outro dia; • Não insistir em tentar dormir. (ALMONDES; PINTO JUNIOR, 2016). Por isso, a terapia de controle de estímulos recondiciona o sono à cama, reforçando a interação dos comportamentos de dormir com os estímulos do ambiente e elimina os comportamentos que não são compatíveis com o sono. Terapia de relaxamento Também é bastante utilizada e tem por objetivo a redução do estado de hiperativação, que é responsável por causar e manter a insônia. Esta terapia requer uma prática diária, não sendo os resultados imediatos. • Treino neuromuscular progressivo; • Treino autogênico; • Imaginação guiada (ALMONDES; PINTO JUNIOR, 2016). Reestruturação cognitiva Finalizando o conjunto de técnicas da TCC temos a reestruturação cognitiva permitindo a identificação, a discussão e a correção de ideias distorcidas sobre as causas e consequências da insônia, sobre o sono e de falsas crenças sobre como lidar com a insônia. Assim procura alterar essas crenças e pensamentos disfuncionais que estão envolvidos no desenvolvimento e manutenção da insônia, diminuindo assim a ansiedade e preocupação com a insônia. • Aprender a lidar com o sono e não se preocupar com as repercussões da insônia; • Entenda que o período de sono na maioria das noites é maior do que costuma perceber; • Não alimentar crenças irracionais sobre a insônia; • Tentar fazer a ressignificação do sintoma da insônia. (ALMONDES; PINTO JUNIOR, 2016). Por fim, é na reestruturação cognitiva que irá permitir ao paciente identificar os pensamentos automáticos e os esquemas, e por meio destes aprender habilidades que irão modificar as percepções distorcidas, praticando assim uma série de exercícios para aproximar o aprendizado da terapia a questões situacionais do cotidiano. 10 Dentro do domínio das intervenções não farmacológicas, várias terapias alternativas e complementares vêm sendo utilizadas no tratamento da insônia. Acupuntura, Tai-chi e hipnose são algumas delas. Tais métodos, no entanto, não têm sido avaliados em estudos controlados como as outras intervenções anteriormente descritas. Vale ressaltar também que com o propósito de alcançar um público mais amplo, clínicos pesquisadores estão testando programas de TCC on-linepara insônia, utilizando a internet como recurso para ajudar os pacientes. Diante do exposto observamos a existência de uma gama de técnicas e métodos voltadas para tratamento de pessoas que sofrem de insônia e que a aplicação da TCC Diante do exposto observamos a existência de uma gama de técnicas voltadas para tratamento de pessoas que sofrem de insônia e que a aplicação da TCC tem sido amplamente adotada pela eficácia de seus resultados na promoção de mudanças de pensamento e comportamento dos pacientes, com reflexos diretos tanto na quantidade quanto na qualidade do sono. As pessoas podem se beneficiar da Terapia Cognitivo- Comportamental, que consiste em uma abordagem psicoeducativa e tem como objetivo avaliar o repertório comportamental do qual decorre a insônia e utiliza os procedimentos baseados em princípios de aprendizagem que promovem mudanças de hábitos e como consequência proporciona um padrão de vida mais saudável. Alguns fatores incidem para a não adesão ao tratamento, a exemplo de problemas médicos, depressão, resistência em preencher os diários de sono e confrontamento dos terapeutas com os dados. A literatura mostra que aproximadamente 15% dos participantes de pesquisa sobre a eficiência do tratamento não conseguem completar o plano terapêutico elaborado após a avaliação diagnóstica. (Perlis et. al., 2000). Para ajudar na aderência do tratamento, é importante uma eficiente avaliação diagnóstica para cercar todos os fatores intervenientes mencionados acima para não adesão, além de obter o diagnóstico do transtorno, para identificar se é indicação para modalidade individual e/ou grupal, pois a falha nessa avaliação pode obstaculizar o processo. (ALMODES; HOLANDA JUNIOR, 2016, p. 57) Diante do exposto, é preciso ressaltar que a TCC é útil tanto para os transtornos de insônia quanto para outros transtornos de sono. Essa abordagem terapêutica tem valor e eficácia para tratamento com crianças, adolescentes, adultos e idosos. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo demonstra que o sono exerce fundamental importância para o funcionamento adequado do organismo humano, sendo responsável pela manutenção de um equilíbrio físico e psicológico. Quando ocorre tal desequilíbrio, há o comprometimento das funções normativas do indivíduo, ocasionando quadros que interferem na sua qualidade de vida. Importante ressaltar, no entanto, que a insônia pode ser combatida, existindo para tanto diversos instrumentos terapêuticos, parte dos quais privativa da atuação do psicólogo. É nesse contexto que se impõe a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) ao envolver um conjunto de técnicas que agem diretamente no pensamento e comportamento do paciente insone. A intenção dessas técnicas é reverter significativamente os transtornos para a adequação do paciente às funções primordiais do sono: manutenção, reparação e restauração. A TCC, portanto, revela-se como uma forte medida terapêutica, pois ela traz grandes benefícios ao paciente insone, com efeitos mais rápidos e eficazes revertendo o que está mantendo a insônia e suas comorbidades. A mesma contribui no sentido de indicar novas 11 formas de tratamento que auxiliarão ao reestabelecimento psíquico e consequentemente na melhoria da qualidade de vida. O profissional de psicologia possui um papel fundamental no auxílio ao combate dos distúrbios do sono e cabe a ele aplicar técnicas e procedimentos citados neste artigo para facilitar a eficácia no tratamento. Esses procedimentos comportamentais se baseiam em princípios que envolvem o comportamento humano, o ambiente em que ele vive, mudanças de hábitos além de técnicas especificas. Por fim, concluímos referendando a importância do sono para a saúde física e mental do ser humano, bem como o papel do psicólogo, na prevenção, promoção e restauração da saúde de pessoas com distúrbios do sono. REFERÊNCIAS ALFORD, B. A., & BECK, A. T. (1997).; The integrative power of cognitive therapy. New York: Guilford Press. In: BECK, Judith S. (Org.) Terapia Cognitivo-Comportamental: 2ª Edição, Editora Artmed, 2013. p. 22. ALMONDES, Katie Moraes. Terapia Cognitivo-Comportamental para os transtornos do sono. Curitiba: CRV, 2016, p.74. ALMONDES, Katie Moraes; HOLANDA JUNIOR, F. W. 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