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Ética Medieval: interioridade agostiniana e virtudes teológicas (fé, esperança e caridade) “Para ser salvo, é preciso passar pela fé e por um Outro. Fides fala de fé e de confiança em Deus. Por isso, já Santo Agostinho não tinha palavras suficientemente duras para estigmatizar aqueles que chamava de “Soberbos”, isto é, os filósofos que pretendem, contra toda a evidência da fé, conseguir se “virar sozinhos”. - FERRY, Luc. Vencer os medos. Trad. Claudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2008, p. 18. Ética cristã revolucionou a ética grega... Já estudamos a concepção aristocrática da Ética em Aristóteles: o labor define a dimensão da casa (oikia) e das necessidades animalescas incessantes que “privam” pessoas desiguais de liberdade. O trabalho situa o homem perante objetos que são transformados e trocados – numa relação de criação artificial (instrumental). A ação política estaria restrita aos poucos iguais aptos à deliberação (dialética e retórica). A virtude grega associava DONS ou TALENTOS NATURAIS. A coragem situa-se entre a covardia e a temeridade... Um ponto de equilíbrio. Cada homem teria maior ou menor aptidão nesta hierarquia natural das virtudes. A virtude cristã não confunde a excelência da nascença com o livre arbítrio. A liberdade se interioriza. A igualdade é expandida para todos os seres com fé – que são irmãos também. AGOSTINHO (354-430 d.C) Santo ou pecador do início da Idade Média? Professor de Retórica em Catargo, em Roma e em Milão. Abandonou a retórica depois pela teologia. Filho de Mônica, mãe convertida ao cristianismo antes do filho. Pai de Adeodato, filho de escrava com quem Agostinho convivia. Viveu intensamente em busca de prazeres e de cargos. O encontro com o Bisbo Ambrósio o ajudou a promover a síntese entre o maniqueísmo e filosofia grega. Bispo de Hipona, repleto de funções eclesiásticas. Escreveu sobre o livre arbítrio, sobre a graça, a misericórdia e o pecado original. Ocupou-se de estudar o pecado original e possibilidade da salvação. Obras de destaque: “Confissões” (397), “A cidade de Deus” (427), “Sobre as gestas de Pelágio” (417). Teses de Agostinho... “Antes de criar o mundo, Deus nada fazia”. “Deus vive em uma dimensão diferente”. O tempo dos gregos estava vinculado aos movimentos dos astros, ao ciclo das estações, aos ciclos biológicos e continha a intuição da repetição. Já o tempo cristão adota a visão hebraica de um tempo linear e progressivo (da criação ao Juízo Final). “Somente o presente parece existir”. “O tempo pode ser medido somente no presente”. “O passado só existe no presente como memória”. “E o futuro também só existe no presente como antecipação”. “O presente do passado é a memória. O presente do presente é a percepção. O presente do futuro é a expectativa”. Deus pode ser responsabilizado pelo mal em suas criaturas? O mal para Agostinho é a ausência do bem. Para Agostinho o “pecado original” mantém o homem em sua natureza degenerada, culpada, carente e necessitada “que só pode ser salva com a ajuda de Deus”. Para Agostinho a “tendência a pecar é inata e imotivada”, pois há um “gosto de fazer o pecado” – pelo “prazer da transgressão” ou “superabundância de iniquidade”. <Furtar peras “não para comer, mas para jogar frutos aos porcos”>. Agostinho disse “amei a minha destruição em si mesma”. “O homem só pode evitar o pecado com a ajuda de Deus”. “O pecado é uma contestação à onipotência de Deus. Portanto, é uma conformação implícita de sua potência”. Como distinguir o Cristianismo original da apropriação posterior do Império Romano? O Cristianismo é uma heresia ao Judaísmo? Existem contradições insolúveis entre o Antigo Testamento e o Evangelho? Vingança X Perdão Guerra X Paz Castigos X Amor Asceticismo, anacoretismo, eremitismo, maceração física, autoesquecimento, distanciamento da vida pública, exercício espiritual pela oração.... como elementos da sublimação espiritual – contato místico com a divindade (vida contemplativa). A RELIGIÃO passa a ocupar o primeiro lugar na ordem! Não mais a retórica, nem a filosofia, nem a política... (BITTAR, 2010: p. 209). Neoplatonismo e patrística elogiam a interiorização, a reflexão, a oração e o isolamento reflexivo (ascese disciplinar da vida monástica). Pecado original e livre arbítrio “Se Agostinho se refere à capacidade humana de orientar-se secundum legem ou contra-legem, a ideia de que no livre-arbítrio reside a chave para a compreensão do julgamento divino das obras humanas é fundamental”. “Ser livre é não só poder deliberar com autonomia, mas sobretudo deliberar iluminado pelo espírito divino, que se busca pela interiorização, caminho em direção a Deus”. A ignorância das leis eternas provoca “anarquias, guerras, roubos, vícios, luxúria, concuspicência, assassinatos, latrocínios, pilhagem, banditismo, autoritarismo...” VIRTUDES CRISTÃS Fé, esperança e caridade. O progresso e a maturidade espiritual cristã se assentam nessas três virtudes. No plano delas, se inicia e se leva a termo nossa transformação radical de pecadores a filhos de Deus. Pela fé, cremos em Deus e em tudo o que a Igreja proclama como revelado por Ele. Pela esperança, apostamos nossa felicidade no reino dos céus e na vida eterna, confiantes nas promessas de Jesus Cristo e sustentados com a graça do Espírito Santo. Com o novo mandamento da caridade (Lava-pés), amamos a Deus sobre todas as coisas e, nesse amor, amamos ao próximo como a nós mesmos. “Santo Agostinho escreveu que Deus é mais íntimo de nós que nós mesmos! Ele nos ama no mais profundo de nosso ser. É famosa a leitura do santo sobre a história: dois amores construíram duas cidades! A dos homens e a de Deus. O amor dos homens a si mesmos, exacerbado até ao desprezo a Deus, construiu a cidade terrena visível, enganosa e perecível, a sociedade sem fé, iludida, inquieta, angustiada e frustrada. Já o amor de Deus por nós, levado ao extremo do auto-aniquilamento, edifica entre nós a cidade celeste eterna e invisível. A cidade terrena se organiza cultivando prestígio, riqueza, busca de poderes e competição sem freios. Predomina todo tipo de intolerância na disputa por espaço, direitos e respeito”. Movidos pela esperança, nós, os seguidores do Cordeiro no amor, aqui habitamos a caminho do novo céu e da nova terra. (Apocalipse 21,1). Caminhamos para a cidade eterna, fazendo da passagem terrena um serviço total de caridade fraterna, em busca da justiça, da paz e do respeito à vida em todos. https://www.a12.com/jornalsantuario/artigos/virtudes-teologais-fe-esperanca-e-caridade O Edito de Milão de 313 Após as missões, os soldados eram dispensados sem indenização. Generais passaram a proteger os soldados revoltados. Com o advento do Império surgiram as gratificações e distribuição de lotes de terras. O Alto Império (27 a.C. a 284 d.C.).... Otavio recebeu o poder total do Senado (título de Augusto) e se chamou de Imperator (general vitorioso). O Baixo Império começou em 284 com Diocleciano e foi até Justiniano I. Foi no governo de Constantino que a religião cristã foi reconhecida publicamente – pelo Edito de Milão, em 313. Ele fundou Constantinopla (antiga Bizâncio), capital do Império do Oriente. São Justino, o primeiro Padre da Igreja (II d.C.) Justino escreveu duas Apologias em grego em favor dos cristãos, entretanto, será decapitado em 165 por denúncia de um filósofo – durante reinado de Marco Aurélio (estóico). O “deus dos cristãos é um escândalo para os judeus” – Paulo na 1ª Epístola aos Coríntios. O escândalo está na forma humana e na aceitação da crucificação. O “deus dos cristãos é um loucura para os gregos” – Paulo. A loucura é a redução do lógos à pessoa de um filho único de Deus. TEORIA... No Evangelho de São João: “no princípio era o Verbo (lógos) e o Verbo fez-se carne e habitou entre nós”. Aqui Verbo tem sentido de Verbo divino. Algo como theîon... Ordem eterna, harmoniosa, justa e boa. Na filosofia grega o divino estava, sim, associado ao lógos, contudo, no Cristianismo todas estas forças cósmicas anônimase naturais passam a se concentrar na figura do menino Jesus, filho de Deus e pessoa humana e divina e única. Deus seria transcendente em relação à ordem e à estrutura do mundo. Jesus revela uma promessa de atenção especial a cada fiel – a cada um que confie. Salvação cristã: a ressurreição dos corpos Há uma crítica cristã ao mundo político e à vida nas cidades cheias de pecados... Uma tendência promoveu a defesa do isolamento, da vida monástica, do desprezo ao corpo, a crença no mundo do além, na vida após a morte. O amor cristão promete o reencontro com entes queridos em “corpos gloriosos” – através do amor em Deus. Promessas com impacto político... O livro arbítrio passa a se associar à fé e não ao agir, eis a interiorização. A igualdade expandida supera a noção de povo escolhido. A igualdade promete acolher todos os que eram “rebaixados” pela ética aristocrática: os pobres, os doentes, os ignorantes, os desvalidos, os menosprezados, os ladrões, os bandidos e arrependidos. A fraternidade restará implícita na ideia de uma irmandade perante Deus e perante Jesus. Cristianismo, catolicismo e protestantismo O que é o Cristianismo original? O de Pedro ou o de Paulo? A Igreja Católica herdará a auctoritas e potestas de Roma. O Protestantismo revolucionará os dogmas do catolicismo – como crítica teórica e política da instituição da Igreja Católica. O humanismo tentará secularizar ideias cristãs – com impacto na Revolução Francesa. A Declaração Universal dos Direitos do Homem herdará parte dos pressupostos cristãos. .MsftOfcThm_Accent1_Fill { fill:#4472C4; } .MsftOfcThm_Accent1_Stroke { stroke:#4472C4; }
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