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Leia o estudo de caso abaixo: O caso da menina Laís, 6 anos, chegou ao Fórum pelo requerimento do seu pai, Diego (28) de reversão de guarda, já com denúncia de abuso sexual perpetrado pela mãe, Monique (25). A avó paterna de Laís (Sra. Sônia) havia ouvido da neta durante o banho a seguinte frase: “minha mãe coloca a boca aqui e faz assim vó”, referindo-se ao órgão genital. Além disso, a irmã de Monique, Ana, que era 10 anos mais nova e havia sofrido abuso sexual da irmã enquanto criança, estava desconfiada de que Monique estivesse abusando da sobrinha, pois passaram a trancar-se no quarto, e a criança encontrava- se constantemente assada e com corrimento vaginal. Ana decidiu chegar um dia mais cedo em casa e flagrou Monique fazendo sexo oral em sua própria filha. Outro fator é que a mãe de Monique revelou ao Conselho Tutelar que a filha sofreu violência sexual por parte do avô quando era infante, fato que foi “acobertado” pelo pai à época. Diante do flagrante, a tia comunicou a situação ao Conselho Tutelar que orientou-a a registrar um Boletim de Ocorrência - B. O. na delegacia. Entretanto, a agente de polícia da delegacia não acreditou no teor da denúncia efetuada e recusou-se a fazer o B.O., dizendo que para registrá-lo precisariam voltar no dia seguinte e conversar diretamente com o delegado. A tia materna não retornou para registrar a ocorrência, alegando que estava sofrendo muita “pressão” por parte do seu pai e de Monique, com a qual rompeu laços, mudando-se de cidade. Frente às circunstâncias, restou ao genitor de Laís, Diego, registrar o B.O narrando os fatos contatos pela tia materna. A denúncia foi acolhida e o processo tramita na Vara da Infância e da Juventude, setor em que você atua como psicólogo. Após leitura dos autos encaminhado pelo Juiz da Vara, você começa a planejar sua atuação. Com base nas aulas ministradas, no material didático, no conteúdo interativo: a) Elabore uma proposta de avaliação psicológica para o caso, deixando claros métodos, técnicas e instrumentos utilizados (2.5). Como o abuso sexual no contexto familiar possui uma dinâmica complexa e o silêncio por muitas vezes se instala, o psicólogo que trabalhará no caso, por sua vez, terá que criar um vínculo terapêutico com a paciente vítima de abuso através de entrevista, criando assim um ambiente seguro e uma relação de confiança. Seguidamente após uma anamnese com o paciente, pode-se utilizar um protocolo de entrevista investigativa estruturado chamado de NICHD, desenvolvido por pesquisadores do National Institute of Child Health and Human Development. O protocolo propõe uma fase introdutória em que o entrevistador se apresenta, esclarece que a criança deverá descrever os eventos com detalhes e deve dizer somente a verdade. Esclarecendo que a criança pode e deve responder “eu não me lembro” ou “eu não sei” quando for o caso, além de corrigir o entrevistador quando achar necessário. Segue-se para, a fase de rapport, cujo objetivo é criar um ambiente descontraído e de apoio, para que seja estabelecido um vínculo entre a criança e o entrevistado. Após a fase de rapport, o psicólogo faria uma entrevista estruturada com base no DSM – V / CID 10 para avaliação de transtorno do estresse pós-traumáticos. Os critérios diagnósticos estabelecido pelo Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais são utilizados como base para identificação da presença dos sintomas que compõem o transtorno como re-experienciação do evento traumático; esquiva de estímulos associados com o trauma; e, sintomas de excitabilidade aumentada. Além de verificar a presença dos sintomas, a entrevista avalia a intensidade e a frequência de cada um deles. E ao final, final fazer uma entrevista também com os cuidadores não-abusivos da criança vítima de abuso. Para que seja feito o encaminhamento psicoterápico correto com base em tudo que foi levantado durante as entrevistas. b) Com base no artigo: Entrevista clínica com crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual, cite e explique as habilidades que um entrevistador precisar desenvolver para atender casos como o de Laís. (2.5). Segundo o artigo, estas são as habilidades que um entrevistador precisa desenvolver para atender casos como o de Laís: 1. Habilidades empáticas que dizem respeito a um conjunto de sentimentos e atitudes, os quais os entrevistadores devem demonstrar em relação à criança, tais como honestidade, sinceridade, compreensão, interesse. Faz-se necessário que se coloquem no lugar da criança para melhor entender seus sentimentos e que ajam de modo que a criança perceba isto. 2. Habilidades não-verbais, tais como expressão facial, voz, postura corporal e gestos. Algumas das habilidades mais citadas são: voz modulada, suave e firme, olhar direto e seguro para a criança, sorriso ocasional, velocidade moderada da fala, gestos ocasionais com as mãos. 3. Habilidades de perguntar, ou seja, as perguntas devem ser feitas uma de cada vez, de forma clara, direta e precisa. Perguntas indutoras, sugestivas ou com conotação de valor ou apreciação moral devem ser evitadas. O momento para utilização de perguntas abertas ou fechadas deve ser bem escolhido. As perguntas abertas nunca têm uma resposta única, como "sim" ou "não", por isso sempre exigem que sejam aprofundadas, e buscado um número maior e mais detalhado de informações na resposta da criança. Já a pergunta fechada pode induzir respostas curtas, pois são pontuais e não estimulam a criança a falar. E falar é importante para que a criança possa romper com o segredo. O silêncio pode lhe ser muito penoso e por meio da fala poderá expressar e aliviar sua ansiedade e tristeza diante dos fatos vivenciados. 4. Operacionalizar informações, ou seja, buscar uma descrição do problema, pedindo esclarecimentos de algumas questões, para que se tenha certeza de que os entrevistadores e as crianças estão falando de um mesmo problema. 5. Parafrasear, ou seja, repetir frases ditas pela criança, com a intenção de mostrar entendimento, acentuar a questão e fazer com que a criança perceba que foi ouvida. Assim a criança poderá continuar refletindo sobre o assunto como se estivesse ouvindo sua própria fala. 6. Descrever sentimentos da criança para ajudá-la a identificar o que sente e também para sentir-se compreendida. 7. Sumarizar ou resumir as informações relatadas pela criança, para avaliar se foram bem compreendidas, e para que ela possa corrigir eventuais erros de comunicação. 8. Conduzir a entrevista conforme os seus principais objetivos. 9. Manter a sequência, a coerência e a continuidade entre a fala e os comportamentos dos entrevistadores e da criança. Além destes aspectos propostos por Silvares e Gongora (1998), com relação ao abuso sexual, é importante que os entrevistadores não prometam segredo sobre as informações por dois motivos. O primeiro, para não reforçarem a dinâmica de segredo que vitimiza a criança e o segundo, porque tais informações podem ser requisitadas por órgãos de proteção à criança e sempre que esta estiver em risco, é dever ético dos profissionais fazer a denúncia da violência. Além disso, prometer segredo e depois romper com este pode fortalecer a percepção anterior da vítima de que ninguém é confiável c) Explique a relação dos casos de violência sexual com o silêncio e o papel do profissional de psicologia no que tange esse silêncio. (2.5) As crianças usam as reações dos adultos como um ponto de referência para o que podem ou não falar. O receio em contar as experiências de abuso pode estar associado ao medo da rejeição familiar, ao fato da família não acreditar em seu relato, ao medo de perder os pais ou ser expulso de casa, de ser o causador da discórdia familiar ou, ainda, à falta de informação ou consciência sobre o que é abuso sexual. Além disso, o pacto de silêncio entreabusador e vítima desqualifica as revelações, favorecendo a negação das evidências e sinais do abuso em nome da união familiar. Tendo em vista isso, o papel do psicólogo na quebra desse silêncio se dá na maneira como ele estabelece o seu vínculo terapêutico com a criança vítima , se utilizando dos métodos nos quais ele precisa ter para atender essas vítimas, pois tudo vai depender do quanto a criança confiará nesse sujeito para se abrir e quebrar o silêncio. d) Com base no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e considerando a hipótese de o caso denunciado apresentar sinais abuso, quais sugestões você apresentaria na conclusão de seu laudo? (2.5). Com base nos estudos e no ECA, eu apresentaria a seguindo conclusão: “De forma geral, foi-se observado através de entrevistas com a criança vítima e de seus cuidadores não-abusadores que há indícios que comprovem o abuso sexual por parte de sua cuidadora materna. É altamente necessário que haja o afastamento imediato entre vítima e abusador, tendo em vista o artigo 130 do ECA (Estatuto da Criança e Adolescente) que protege crianças e adolescentes de abusos sexuais dentro de suas casas, afastando deles o seu agressor e definindo penalidades específicas para quem praticar esse crime contra crianças e adolescentes. Faz-se necessário também o acompanhamento psicológico para a criança vítima por tendo indeterminado.” Estudo disponível em: http://www.scielo.org.pe/pdf/psico/v35n2/a02v35n2.pdf
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