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VISAGISMO Audrey Slomp Processo criativo Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer a inteligência visual. � Explicar o processo criativo. � Modificar a imagem pessoal com criatividade. Introdução Neste capítulo, você aprenderá a definição de inteligência e como ela pode ser desenvolvida de acordo com a atenção e a dedicação despren- dida a esse favor, bem como com a experiência aplicada, que refina as capacidades. Além disso, conhecerá os nove tipos de inteligência humana e quais as características de cada um deles, segundo a teoria mais atual a respeito do assunto. Você aprenderá quais são as inteligências essenciais para o profissional visagista e como aplicar a criatividade de modo a criar trabalhos com resultados excelentes, autênticos e inspiradores. Inteligência e visagismo Quando falamos em inteligência, é comum pensarmos de uma forma elimina- tória: ou a pessoa é inteligente, ou não é. Contudo, o que as pessoas costumam não saber, é que todos nós temos a capacidade nata de desenvolver nossa inteligência, em qualquer momento da vida. É claro que muitos fatores influenciam para o desenvolvimento de nossas capacidades, entre eles genética, sociedade, educação, incentivos e o am- biente em que fomos criados (ROAZZI; SPERB, 2014). O que não podemos é acreditar que a inteligência é somente para poucos, e que estes são bons em tudo. Por exemplo, Einstein era um gênio da Matemática; Leonardo Da Vinci, um gênio das artes; ao passo que Beethoven foi um gênio da Música. Se pesquisarmos a fundo, nenhum deles era um gênio em todos as áreas. Cada um desses ícones da inteligência tinha suas habilidades concentradas em até três áreas de estudo. Isso nos leva a concluir que todos nós temos potenciais semelhantes, porém alguns são mais desenvolvidos que outros ao longo da vida, principalmente na infância, que é a fase que determina muitas diretrizes em relação à forma como vamos agir, nos relacionar, o que criaremos, a forma como pensaremos e como poderemos contribuir efetivamente com a evolução de nossa sociedade e cultura. A educação nas escolas tem papel fundamental no desenvolvimento de nossas habilidades, mas, infelizmente, há muito tempo, e ainda atualmente, vemos que as instituições de ensino valorizam o desenvolvimento das capaci- dades ligadas a matemática, línguas e ciências muito mais do que valorizam o aprendizado e o incentivo das áreas artísticas e emocionais, por exemplo. Esse padrão de ensino tem formado gerações de pessoas que se consideram “sem inteligência”, quando, na verdade, sua real capacidade não foi aprimorada ao longo de sua vida estudantil, sendo substituída pela imposição de matérias consideradas mais importantes, que, às vezes, não eram exatamente as matérias que mais lhe favoreceriam em relação ao desenvolvimento pessoal. A inteligência, portanto, não tem a ver com a acumulação, ou seja, não se pode medir o nível de inteligência a partir da quantidade de informações que se teve acesso durante a vida, mas sim de acordo com as oportunidades recebidas e o que podemos fazer com o que sabemos no presente (BRUNER, 2000). Aliás, a inteligência não é algo quantitativo, não sendo possível medi- -la. É a experiência e a prática que moldam as nossas qualidades intelectuais (GARDNER, 1995). Ou seja, todos nós, em condições neurológicas normais, possuímos o espectro completo da inteligência. O que nos diferenciará ao longo da vida é a forma como desenvolvemos uma ou outra capacidade e, ainda, a forma e a intensidade com que aplicamos essas habilidades, aprendendo a cada dia com a experiência e expandindo o raciocínio, a fim de superar deter- minados obstáculos ou contribuir com a evolução da sociedade e da cultura. Os nove tipos de inteligência Ainda é difícil, até mesmo para os intelectuais da área, chegar a um consenso único em relação ao conceito de inteligência. Tudo o que se comenta pode ser considerado apenas tentativas de descrever esse complexo fenômeno intelectual. A teoria mais atual e aceita é a do psicólogo americano Howard Gardner, denominada teoria das inteligências múltiplas, que enfraqueceu a teoria antes mais aceita, de Alfred Binet, que testava a inteligência a partir de testes de QI. O problema desse tipo de teste é justamente a limitação de certas áreas da inteligência, priorizando as capacidades lógico-matemáticas e excluindo Processo criativo2 as demais. Gardner acredita que todas as pessoas nascem com um vasto potencial de talento e que isso é o que nos torna humanos, falando em termos cognitivos. Segundo o psicólogo, não há dois seres humanos que possuam o mesmo perfil em relação às suas qualidades e deficiências relacionadas às inteligências (GARDNER, 1995). A teoria que Gardner descreveu nos anos 80 identifica as nove principais áreas da capacidade humana, que serrão descritas aqui por meio de frases no quadro Exemplos, a seguir. Veja como nossa inteligência permite, mesmo que de uma forma deduzida, que entendamos sobre todas as inteligências sem precisarmos de muita informação. � Inteligência visual ou espacial: “Design não é apenas o que parece e o que se sente. Design é como funciona” (Steve Jobs). � Inteligência intrapessoal: “A vitória sobre si mesmo é a maior de todas as vitórias” (Buda). � Inteligência interpessoal: “Nenhum homem é uma ilha, completo em si próprio; cada ser humano é uma parte do continente, uma parte de um todo” (John Donne). � Inteligência lógico-matemática: “A matemática é o alfabeto com o qual Deus es- creveu o Universo” (Galileu Galilei). � Inteligência musical: “A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende” (Arthur Schopenhauer). � Inteligência linguística: “As palavras têm a leveza do vento e a força da tempestade” (Victor Hugo). � Inteligência corporal: “O corpo não é uma máquina como nos diz a ciência. Nem uma culpa como nos fez crer a religião. O corpo é uma festa” (Eduardo Galeano). � Inteligência naturalista: “A natureza não faz nada em vão” (Aristóteles). � Inteligência existencial: “Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe” (Oscar Wilde). Neste capítulo, o foco serão as inteligências visual-espacial e emocional (composta pelas inteligências intra e interpessoal), que são as capacidades principais de um profissional que trabalha com visagismo. A inteligência corporal também é importante para o visagista na fase de execução de uma ideia, como, por exemplo, cortar os cabelos, mas está mais relacionada à sua capacidade técnica, e não de criação, em si. 3Processo criativo Visagismo e inteligência visual ou espacial É a sensibilidade às cores, linhas, formas, configurações e espaços, havendo disposição para reconhecer este mundo visual, principalmente em relação às suas formas, proporções e harmonia entre os elementos de um jeito muito preciso (ARMSTRONG, 2018). Artistas, arquitetos, designers e inventores, por exemplo, desempenham profissões que exigem tal inteligência desenvol- vida a um nível de excelência, incluindo muito expressivamente também os profissionais da área da beleza. Por exemplo, Fernand Aubry, cabeleireiro e maquiador francês que criou o conceito do visagismo, é um exemplo de profissional com talento visual-espacial. Um profissional da área da beleza que não tenha desenvolvido sua capa- cidade visual-espacial dificilmente se diferenciará no mercado de trabalho, pois, provavelmente, seus empenhos estejam baseados em métodos padrões, como se numa linha de produção, executando sempre o mesmo resultado em todas as clientes. Quando falamos de visagismo, a palavra personalização vem sempre em sua companhia, e, quando falamos em personalização, é necessário que se enxergue cada cliente de uma maneira única e que sejam propostas soluções visuais individuais, visando ao equilíbrio e à harmonização geral dessa pessoa. É possível, como já foi dito, melhorar as capacidadesem qualquer âmbito das inteli- gências, segundo Gardner (1995), a qualquer momento da vida. Portanto, é possível adquirir conhecimento e treinar as habilidades para tornar-se uma pessoa inteligente no que concerne à intelectualidade visual. Visagismo e inteligência emocional A habilidade de lidar e interagir com os sentimentos individuais e de outras pessoas é chamada de inteligência emocional, a qual abrange as inteligências interpessoais e intrapessoais. Essa capacidade é inerente àquelas pessoas que conseguem naturalmente entender, interpretar e solucionar problemas no que diz respeito à parte emocional do ser. Processo criativo4 Entender as intenções e os desejos de outros e, consequentemente, se rela- cionar bem em sociedade são alguns do talentos das pessoas com inteligência emocional, que sabem, intuitivamente, identificar expectativas, desejos e motivações individuais e alheios, tornando-se extremamente sensíveis a essas necessidades. Terapeutas, psicólogos, políticos, religiosos e professores, por exemplo, sabem como motivar, compreender e analisar sentimentos, emoções e temperamentos, e, por isso, tendem a ter essa inteligência muito bem desen- volvida (GARDNER, 1995). Mahatma Gandhi, idealizador e fundador do moderno Estado indiano, era contra a violência, defendendo as formas pacíficas de protesto. Gandhi tinha uma forma simples e profunda de se conectar com as pessoas, pregando a paz e a igualdade entre todos. O visagista não deve ser diferente. É muito importante que esse profissional saiba como se conectar com o seu cliente antes de pensar em criar uma solução estética para ele. É necessário esquecer, por alguns momentos, suas preferências individuais e entender de uma forma amorosa e genuína sobre as preferências e os desejos do cliente. Para isso, é necessário ter muita inteligência emocional e um equilíbrio bastante definido entre a intrapessoalidade e a intrapessoalidade. O profissional de beleza não deve ser a estrela no momento do atendimento, como vemos com muita frequência no mercado, infelizmente. Dessa maneira, tem acontecido de a maioria dos clientes ficarem insatisfeitos com o resultado e com o atendimento, pois não se sentem importantes, muito menos valorizados. O cliente deve ser a peça central no atendimento, aquele que será ouvido, compreendido e ajudado, de forma amorosa e genuína. Para isso, é preciso deixar o ego de lado e trabalhar muito a inteligência emocional. O processo criativo: inspiração, insight, inovação e invenção Podemos chamar de pioneiro, ou descobridor, aquele que tem coragem de mergulhar na imensidão da criatividade, do que é novo, deixando o conforto e abrindo-se para o desconhecido, sem saber o que virá em frente. É preciso ter coragem, espírito de aventura e muita segurança para isso. Para ser uma 5Processo criativo pessoa criativa, é preciso estar a todo instante inspirado por uma meta e por seu significado. Viver uma vida inspirada e com senso de objetivo, não importa se grande ou pequeno, sustenta a felicidade de quem cria e de todos aqueles com quem se tem contato. Quem vive uma vida inspirada e com senso de objetivo, ou seja, com propósito e criatividade, parece ter uma vida mais longa e mais saudável (COVEY, 2005). A criatividade é a capacidade inventiva, nata ou adquirida, de uma pessoa. É o fruto da sua imaginação, aquilo que ocorre mais frequentemente em ambien- tes que favoreçam seu nascimento, crescimento e realização. Ter criatividade é criar algo que não existia antes, ou transformar algo de forma significativa e com propósito. Copiar um trabalho já existente não é um trabalho criativo. Em contrapartida, uma releitura de um trabalho já existente exige criatividade, pois, diferentemente da cópia, transformará e dará um novo significado para o ambiente, pessoa ou objeto onde este estiver presente (HALLAWELL, 2010). Inspiração Para encontrar inspiração, é preciso sensibilidade, olhar mais do que aquilo que já se conhece, mantendo os olhos e ouvidos atentos, participando de shows, conversando com pessoas, frequentando museus, lojas, galerias, praças, lendo livros e revistas, ouvindo músicas e, acima de tudo, observando pessoas (JONES, 2002). Insight O insight é a faísca que acende uma ideia criativa, a descoberta repentina de uma solução para algo que se procurava. Normalmente, os insights ocorrem nos momentos menos esperados, principalmente momentos fora do ambiente de trabalho, quando estamos relaxados. Ocorrem insights durante todo o processo criativo, fase a fase, reacendendo a chama da criação e avançando na construção de uma ideia. Inovação Inovação é a criatividade em um diferente grau. Para inovar, não é preciso criar algo novo, mas sim uma nova versão de algo que já existia, sob uma nova interpretação. É a forma mais acessível de criatividade e aquela que deve ocorrem na aplicação do visagismo. Existe uma pessoa, ou seja, um modelo inicial, e o visagista, com base em um propósito de melhoramento, cria uma Processo criativo6 nova identidade para ela. Ele inova a imagem pessoal do indivíduo de uma forma criativa, sem seguir padrões (HALLAWELL, 2010). Invenção A invenção é o resultado de uma ação criativa. É a realização de uma ideia autoral. Diferentemente da inovação, a invenção é construída a partir de uma ideia original que nunca havia sido pensada ou realizada. É uma das formas mais raras de manifestação da criatividade e exige muito da pessoa que está desenvolvendo a ideia. É por isso que algumas obras de arte são muito valo- rizadas, tendo valor não mensurável, algumas vezes, visto que o processo de criação provavelmente foi muito complexo, em relação a inspiração e insight, e exigiu muito conhecimento, técnica e sensibilidade do artista. A natureza exige criatividade. Pense em animais predadores. Eles nunca sabem como será, ou de onde virá, a próxima refeição. Precisam conhecer todos os cantos da floresta e suas particularidades, manter os olhos muito abertos, estar focados, com boa disposição e atentos a tudo o que está acontecendo no momento ao seu redor e além dele. Por isso, precisam sempre explorar, cada vez mais, investigar e manter um nível de curiosidade elevado (MORRIS, 2010). A criatividade é como um espírito cintilante que pode aparecer para qualquer pessoa, criado a partir de uma intenção apaixonada, que emana um movimento, cresce grada- tivamente, toma forma e se derrama. A falta de criatividade está ligada à construção de obstáculos ou à contaminação pela negligência ou pelo negativismo. É como um rio quando está poluído, onde não se manifesta a vida e a água flui com dificuldade. Assim também ocorre com a criatividade. Precisamos combater a poluição em nossos pensamentos, as críticas, o medo, reabrir a passagem e permiti-la fluir (ESTÉS, 2014). Imagem pessoal e criatividade Cooperação criativa O profissional visagista dificilmente trabalha sozinho em termos da criação de uma imagem pessoal completa. Na maioria dos casos, será preciso unir profissionais com habilidades diversas, entre eles: o cabeleireiro, o maquiador, 7Processo criativo o consultor de imagem, o odontologista, o psicólogo, etc. Esses profissionais precisam formar um time, se unir a favor do cliente, ter ideais, criar soluções em conjunto e abandonar roteiros e ideias prontas. O resultado dependerá certamente de como foi a conexão e a sinergia entre esses profissionais durante a fase de criação. Existem casos em que há um visagista responsável, que, por ter realizado a consultoria de visagismo, conhece melhor o cliente e, então, conduz as ideias e alinha isso com os profissionais parceiros que vão participar daquela criação, não somente executando, mas trocando ideias sobre o que pode ser feito em cada caso. O importante é saber que, nesta área de atendimento, ter alianças é uma das principais chaves de sucesso, pois sua aplicação depende da participação de profissionais de várias especialidades. Dizem que quem faz tudo,acaba por não fazer nada, o que encaixa neste contexto de cooperação criativa. Uma união legítima libera as potencialidades e a criatividade, revelando resultados muito mais ricos. Conheça o trabalho de profissionais de áreas que complementem a sua e preste atenção não somente ao domínio da técnica para selecioná-lo como parceiro, mas também a como é o tratamento ao cliente, a proposta de soluções, a criatividade e seu nível de humildade. Dificilmente é possível criar laços saudáveis com profissionais que não estão dispostos a trabalhar em formato de coparticipação, quando se deve ser flexível e aberto a opiniões. Lembre-se de que toda a rede de profissionais que você criar será como uma extensão de você mesmo. Fluxo de criação O processo criativo segue um fluxo padrão, independentemente de outros fatores. No entanto, não pode ser comparado a um lindo e tranquilo passeio no parque. O processo criativo pode ser bastante caótico, complexo e perturbador, às vezes, mas, quando ele se completa, tornando real o que antes era uma faísca, uma ideia, traz uma sensação de plenitude, felicidade e sonho realizado. Processo criativo8 No livro Centelhas de gênios, os autores descrevem as quatro fases do processo criativo, e consideram que, para tornar uma ideia real, é preciso finalizar todas as etapas com sucesso (ROOT-BERNSTEIN, 2001). A seguir, falaremos de cada uma delas, sob o ponto de vista do atendimento de um profissional visagista. Concepção Este primeiro momento do processo criativo está relacionado ao entendimento do propósito de uma ideia. Aqui, não deve haver preocupações com o resultado ou a execução da ideia. No visagismo, entender os propósitos está relacionado à fase da conexão inicial com o cliente, com o objetivo de conhecê-lo, ou seja, o que ele deseja expressar através da imagem pessoal naquele momento de vida. Essa fase é de muita escuta e reflexão, visto que todas as informações necessárias para basear o trabalho de visagismo vêm do cliente. É também nessa fase que é realizada a análise do temperamento por meio dos traços do rosto e a definição das melhores cores de acordo com o tipo de pele. O objetivo da concepção é criar um pacote de informações que darão o suporte e a energia necessários para passar para a próxima fase do processo criativo. Materialização É a fase de busca de uma solução por meio da inspiração e espera de um insight, para que se consiga transformar a ideia em algo concreto. Do ponto de vista de uma consultoria de visagismo, este é o momento que o profissional liberará todo o seu potencial criativo, em busca de soluções para a imagem do cliente. A fase da materialização é também uma fase de experimentação e testes. Portanto, o melhor a fazer aqui é desenhar, ou, de alguma forma, começar a criar a ideia em algo visual, físico. É a fase de “colocar no papel”. As ideias começarão a surgir e você conseguirá, ao fim, criar uma proposta para concretizar essa ideia, seguindo para a fase seguinte, de execução. É importante que, nessa fase, já ocorra a participação de todos os profissionais que farão parte do time (cabeleireiro, maquiador, consultor de imagem, etc.), pois eles poderão contribuir muito com a materialização do projeto. 9Processo criativo Interpretação É a fase em que ocorre, de fato, a execução da ideia e das soluções propostas. Este é o momento que se fará necessária a cooperação entre profissionais, em que cada um, de acordo com suas habilidades, realizará seu empenho para que a ideia seja concretizada. Por exemplo, o cabeleireiro executará o corte, o maquiador aplicará a maquiagem, o consultor de imagem auxiliará na composição da vestimenta, todos de acordo com a ideia surgida a partir das fases de concepção e materialização. Reinterpretação A última fase do processo criativo é a reinterpretação, quando as pessoas afetadas pela ideia esboçam reações, sejam estimuladas ou influenciadas, e quando o criador se autoavalia por meio do resultado de sua obra. O trabalho de visagismo, na fase de interpretação, está relacionado ao reencontro no espelho, quando a pessoa que passou pela consultoria e mudou a imagem se enxerga e se anima com a transformação, reagindo positivamente a respeito de si mesma. Como não poderia deixar de ser, a fase da reinterpre- tação também engloba a reação que as pessoas ao redor terão em relação a essa nova identidade. O ciclo se completa e o sucesso é alcançado quando as reações emocionais, sensitivas, intelectuais ou visuais geradas a partir da concretização de uma ideia forem positivas e eficazes em relação ao que foi recebido na fase da concepção. Como ser mais criativo Mais importante do que ter conhecimento sobre uma área ou facilidade em ter ideias, é ter cultura. Por isso, é importante e dito repetidamente que, para gerar boas ideias, ter inspirações e, então, inovar e criar, é preciso apreciar arte, teatro, literatura, sociedade. Inteligência visual e interpessoal são também grandes aliadas para ser um visagista criativo. Contudo, existem também alguns hábitos e atitudes que fomentam e aguçam a criatividade. Veja, a seguir, algumas dicas para que você consiga desenvolver seu potencial criativo: � Seja curioso: investigue a fundo, pesquise, estude, pergunte. Quanto mais informações relevantes você conseguir, mais profundo poderá ser o cerne de seu trabalho. Processo criativo10 � Permita-se refletir: uma ideia não é algo pronto esperando para cair do céu. Muitas vezes, a ideia demanda muita reflexão para se tornar consciente. � Não tenha medo de experimentar: esteja complemente desligado de padrões, soluções anteriores ou vontade de aplicar técnicas que você domina. A experimentação permite que a criatividade flua para zonas nunca exploradas. � Esteja aberto aos erros: muitas pessoas bloqueiam seu potencial criativo por medo de errar, por medo de ser julgado, por insegurança. Refinando seus conhecimentos e suas técnicas, e “limpando o rio” onde passa o fluxo de criatividade, permita-se realizar. Os erros serão impulsos para o crescimento. Eles acontecerão. Trate-os com naturalidade, mas não desista da ideia. � Descubra tudo a fundo: mergulhe no tema do trabalho, ou seja, no seu propósito. Observe o mar de possibilidades, explore tudo o que está acontecendo no meio. Explore os materiais, as texturas, as cores, o comportamento. Sinta o ambiente. Com o propósito sempre em mente, a ideia virá de toda essa inspiração vivida. E, então, crie. � Não desista facilmente: o conforto do ato de desistir é como um tran- quilizante que tem efeito temporário. Podemos comparar com uma caminhada em direção ao cume de uma montanha. Até que chegue lá e veja o horizonte, haverá obstáculos, faltará energia e a vontade de parar será grande. Entretanto, avançando passo a passo, o cume chegará. Se teve uma boa ideia e acredita nela, seja resiliente e ame isso com paixão e diariamente. Cada obstáculo vencido será um novo passo dado em direção ao cume. � Seja disciplinado: a disciplina é como um energético. Ela mantém o ritmo do caminho acelerado, avançando em crescimento gradativamente, e gera o efeito de uma equação equilibrada muito eficiente, estando ligada ao motor do processo de criação. Você deve se comprometer consigo mesmo e com o projeto e cumprir isso. Deve seguir firme apesar das adversidades. � Concentre-se: o sistema sensorial do ser humano é muito sensível aos estímulos que ocorrem a todo momento à nossa volta. Se você está, por exemplo, em um escritório com diversas pessoas trabalhando no mesmo ambiente, a janela está aberta e o barulho dos carros é constante. A tela do celular está piscando ao lado do notebook, toca o telefone e, ao mesmo tempo, chega um e-mail. Você está ansioso pelo encontro de sábado. E, ainda, o sapato que escolheu para aquele dia está ma- 11Processo criativo chucando seu pé. Se o seu foco era criar, ter um insight, saiba que isso dificilmente acontecerá ali. São muitas coisasacontecendo ao mesmo tempo. A concentração limpa o rio por onde fluem as ideias criativas. Você pode meditar, bem como ir a um parque, a um museu, sentar-se em uma praça e observar as pessoas, fazer um exercício físico, ler. Deve rodear-se por um ambiente que favoreça a observação e os estímulos recebidos em prol de sua idealização. � Aprimore sua autoestima: não ter autoestima na área de criação é algo que atrapalha bastante, visto que limita muito o potencial criativo. É importante desenvolver a capacidade de acreditar em si mesmo, se expressar, apostar em suas ideias e ser persistente. Perceba a sua ima- gem pessoal, se seria bom aprimorá-la com visagismo, num primeiro momento. Isso pode ajudar, mas não ter autoestima não depende só do exterior, da aparência. Há sempre causas emocionais que precisam ser olhadas. Procurar por uma terapia que auxilie em relação à aceitação e à autoconfiança é algo muito positivo nesses casos. � Interaja com outras pessoas: o ser humano precisa de relacionamentos. Dizem que um dos piores castigos para um homem é ficar totalmente iso- lado por muito tempo. No filme “Náufrago”, por exemplo, o personagem vivido por Tom Hanks, sozinho em uma ilha após um acidente de avião, desesperado por um relacionamento, nomeia como seu amigo uma bola de vôlei da marca Wilson, chamando-a por esse nome (NÁUFRAGO..., 2001). Estar com outras pessoas e se relacionar com elas cria redes que se expandem, auxiliando no processo de maturação ou criação de algo. � Pense que o resultado é consequência: seguindo o exemplo da mon- tanha, observe como é um costume as pessoas pensarem somente no pico. Estamos sempre pensando no resultado, no sucesso, quando, na realidade, precisamos viver o momento presente e a fase em que este projeto está. Nada adianta tentar enxergar como será, pois o resultado será a consequência do que foi feito em cada fase, obstáculo e apren- dizado vivido no durante. � Mantenha o bom humor: o bom humor, aqui entendido como entusiasmo e otimismo, atrai muita energia positiva para qualquer ambiente, o que favorece o fluxo de criatividade. Isso não significa que a pessoa deva forçar sorrisos ou fazer piadas — mantenha sua autenticidade. Basta acreditar de verdade e ter amor por aquilo que está fazendo. Se você for feliz com isso, a felicidade emanará de você. Processo criativo12 � Saia da rotina: a rotina faz as pessoas entrarem um ritmo de repetição, a qual raramente gera novas ideias. O cérebro conhece cada detalhe da rotina, e isso não desperta muitas novas emoções ou estímulos. Fazer atividades novas desperta o nosso sistema sensorial e ativa o fluxo de criatividade. Mantenha sua rotina, mas saia dela sempre que puder. � Faça mais do que o necessário: fazer o necessário é como aceitar um resultado mediano. Qualquer pessoa pode fazer o necessário. É uma atitude que cumpre a meta, mas não excede às expectativas, acabando por não ter tanto destaque perante outros trabalhos semelhantes, também na média. Quando se faz além do que se é necessário, e, para isso, é preciso ter se entregado de coração ao projeto, essa energia adicional, vinda de mais estudos, observações, pesquisas, interações, etc., refina a obra, e é o que pode fazer o trabalho ser muito mais criativo, autêntico e profundo, criando resultados bons, muito bons ou até excelentes, dignos de reconhecimento (HALLAWELL, 2010). ARMSTRONG, T. Multiple intelligences in the classroom. 4th ed. Alexandria, VA: Association for Supervision and Curriculum Development, 2018. BRUNER, J. S. Cultura da educação. São Paulo: Edições 70, 2000. COVEY, S. R. Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes. 31. ed. São Paulo: Best Seller, 2005. ESTÉS, C. P. Mulheres que correm com os lobos. 2. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2014. GARDNER, H. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. São Paulo: Penso, 1995. HALLAWELL, P. C. Visagismo integrado: identidade, estilo e beleza. 2. ed. São Paulo: Senac, 2010. JONES, S. J. Fashion design. New York: Watson-Guptill, 2002. MORRIS, D. O macaco nu. 18. ed. Rio de Janeiro: Record, 2010. NÁUFRAGO. Direção de Robert Zemeckis. Califórnia: Universal Pictures, 2001. 1 DVD (143 min). ROAZZI, A.; SPERB, T. M. O desenvolvimento de competências sociocognitivas: novas perspectivas. São Paulo: Vetor, 2014. ROOT-BERNSTEIN, R. Centelhas de gênios: como pensam as pessoas mais criativas do mundo. São Paulo: Nobel, 2001. 13Processo criativo
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