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Mercado Financeiro e de Capitais 2ª edição Rio de Janeiro UVA 2016 Helio Darwich Nogueira Mercado Financeiro e de Capitais 2ª edição Rio de Janeiro UVA 2016 Copyright © UVA 2015 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. ISBN - 978-85-69287-03-2 Autoria do Conteúdo Helio Darwich Nogueira Design Instrucional Daianá Lucília S. A. de Almeida Melo Projeto Gráfico UVA Diagramação Isabelle Martins Revisão Tássia Braga Lydianna Lima Ficha Catalográfica elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da UVA. Biblioteca Maria Anunciação Almeida de Carvalho. N778 Nogueira, Helio Darwich Mercado financeiro de capitais [livro eletrônico] / Helio Darwich Nogueira – Rio de Janeiro : UVA, 2016. 790 KB. ISBN 978-85-69287-03-2 Disponível também impresso. 1. Mercado financeiro. 2. Mercado de capitais. I. Universidade Veiga de Almeida. II. Título. CDD – 332.6 SUMÁRIO Apresentação................................................................................................................7 Sobre o autor....................................................................................................................8 Capítulo 1 - Conceitos básicos do sistema financeiro.....9 Sistema financeiro, crescimento econômico, intermediação finan- ceira e políticas econômicas.......................................................................10 Sistema Financeiro Nacional - Subsistemas normativo e supervisor...........................................................................................................24 Sistema Financeiro Nacional - Subsistema de intermediação.......35 Referências......................................................................................................56 Capítulo 2 - Conceitos básicos do mercado financeiro...59 Mercados monetário, de crédito, de capitais, de câmbio e de derivativos.........................................................................................................60 Títulos de renda fixa (emissão pública e privada)............................82 Fundamentos da avaliação de produtos financeiros.......................96 Referências.......................................................................................................128 Capítulo 3 - Mercado de capitais...................................131 Mercado à vista (renda fixa e variável).............................................132 Mercado de derivativos e futuros..........................................................142 Ambientes e mecânicas de negociação.................................................156 Referências...............................................................................................175 Capítulo 4 - Risco, retorno e portfólios........................177 Risco, retorno, diversificação e liquidez..................................................178 Escolas de análise e índices.......................................................................192 Modelos de precificação e mitigação de riscos....................................206 Referências......................................................................................................222 Considerações finais.......................................................224 7 APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO Este livro trata dos principais aspectos do Mercado Financeiro e de Capitais, e como as relações ocorridas nesses ambientes afetam a vida diária de pessoas físicas e jurídicas e mesmo de entes governamentais e regulatórios. Dada sua relação direta com a economia das nações e em âmbito mundial, tais mercados influem diretamente em aspectos sociais e políticos por todo o planeta. A movimentação de recursos financeiros ocorre desde o tempo em que as trocas de produtos e serviços passaram do simples escambo à busca por um equivalente comum, a chamada moeda. Esta, cada vez mais virtual, movimenta-se de forma a possibilitar o desenvolvimento das nações, da produção de alimentos, da criação de novas tecnologias e na busca incessante pelo bem-estar social e equilíbrio entre as condi- ções de vida da população mundial. Os mercados financeiros são, ao mesmo tempo, guardiões do valor de toda riqueza mundial e provedores de soluções financeiras para o de- senvolvimento pessoal e coletivo. Dessa forma, o conhecimento de suas práticas, participantes e produtos se mostra fundamental para o pro- fissional de finanças, esteja ele atuando diretamente nesses mercados ou em outros que dele dependam diretamente para busca ou alocação de recursos. Assim, você encontrará aqui os conceitos e fundamentos do mercado financeiro e de capitais, envolvendo seus principais parti- cipantes, produtos e metodologias de análise de investimento. Desejamos que o conhecimento construído e trabalhado ao longo des- te livro se transforme em ações práticas para a sua vida profissional e que você aproveite ao máximo essa experiência. Que a leitura desta obra promova uma oportunidade de reflexão sobre os conteúdos abor- dados, contribuindo efetivamente para o seu enriquecimento cultural e acadêmico. ...................................................................................................................................................................................................................... 8 SOBRE O AUTOR Helio Darwich Nogueira é doutor e mestre em Engenharia de Pro- dução pela Universidade Federal Fluminense - UFF, com MBA em Fi- nanças pelo Instituto Coppead - UFRJ, MBA em Gestão Empresarial pela Universidade Cândido Mendes – UCAM e Extensão em Business e Marketing pela Universidade de Tübingen e Export-Akademie Baden- -Württemberg GmbH, da Alemanha. O autor também possui as certifi- cações APIMEC CNPI, ANBIMA CPA-20 e IBRI CPRI2 e atua há mais de 20 anos no mercado financeiro em atividades de análise, operação e gestão de recursos. 9Sistema financeiro, crescimento econômico, intermediação financeira e políticas econômicas ...................................................................................................................................................................................................................... CAPÍTULO 1 CONCEITOS BÁSICOS DO SISTEMA FINANCEIRO Este capítulo trata de aspectos do sistema financeiro e sua importância no desenvolvimento econômico e social de uma nação. Dessa forma, será abordada não só a sua es- trutura, mas também as políticas econômicas e o próprio sistema que é adotado no Brasil e em outros países ao longo da história. Evoluindo para a intermediação financeira, você conhece- rá os principais participantes desse processo, sejam eles na forma de efetivos realizadores dessa tarefa, ou apenas partes interessadas no que é, na verdade, o grande fluxo de capitais observado além de qualquer fronteira. Conceitos básicos do sistema financeiro10 ...................................................................................................................................................................................................................... SISTEMA FINANCEIRO, CRESCIMENTO ECONÔMICO, INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA E POLÍTICAS ECONÔMICAS 1.1. Sistema Financeiro Nacional (SFN) Pode-se definir o sistema financeiro como o conjunto de instituições e instrumentos financeiros que possibilita a transferência de recursos entre seus ofertadores e toma- dores, seja diretamente ou por intermédio de instituições devidamente autorizadas, criando condições para que os títulos e valores mobiliários tenham liquidez no mercado. Dessa forma, o mercado financeiro é o local onde o di- nheiro é gerido, intermediado, oferecido e procurado, por meio de canais que se entrelaçam na formação de siste- mas que determinam a organização e o arcabouçolegal do mencionado mercado. Observa-se, no mercado financeiro, uma movimentação de fundos entre entes superavitários, que depositam re- cursos, postergando consumo ou investimento, e outros, deficitários, que buscam tais recursos para direcioná-los a investimentos ou simplesmente cobrir déficits em seus caixas. É por meio dessas movimentações e das relações de oferta e demanda por elas geradas que são determina- das as taxas de juros presentes em uma economia. 11Sistema financeiro, crescimento econômico, intermediação financeira e políticas econômicas ...................................................................................................................................................................................................................... 1.2. Sistema financeiro brasileiro Entende-se por Sistema Financeiro Nacional, ou, de forma abreviada, SFN, todo o conjunto de entidades envolvidas na movimentação de fluxos financeiros dentro de uma deter- minada nação e desta, ou de seus participantes, com outros entes ao redor do globo terrestre. Tais trocas de recursos envolvem não somente a moeda, mas todo tipo de ativos mobiliários, direitos e contratos de natureza financeira. 1.2.1. Evolução histórica Segundo o Banco Central do Brasil, o Sistema Financeiro Nacional brasileiro pode ser dividido historicamente em seis fases: 1ª fase: 1808 a 1914 No ano de 1808, surgiu o primeiro banco brasileiro, denominado Banco do Brasil, o qual acumulava fun- ções de banco central e banco comercial, tendo sido dissolvido em 1829. Em 1906, foi criado o que é o atual Banco do Brasil, presente em nosso sistema financeiro até os dias de hoje. Tal instituição sofreu redirecionamento de funções ao longo dos anos. Ao final do ano de 1910, o Brasil registrava a presença de 16 bancos nacionais e cinco estrangeiros. 2ª fase: 1914 a 1945 Nessas quatro décadas, os bancos aqui instalados se desenvolveram com relativa segurança e sustenta- ram as mudanças ocorridas na estrutura produtiva observada no Brasil. Em 1920, criou-se a chamada Inspetoria Geral dos Bancos. Cabe ressaltar que, nes- sa fase, o país já contava com mais de duas mil insti- tuições financeiras operando no território nacional. Conceitos básicos do sistema financeiro12 ...................................................................................................................................................................................................................... 3ª fase: 1945 a 1964 Nesse terceiro momento histórico, foi criada a Supe- rintendência de Moeda e Crédito (SUMOC), e coexis- tiam diversos órgãos com atribuições de Autoridade Monetária. Ainda nessa fase, ocorreu a criação do Banco do Nordeste do Brasil, do Banco da Amazônia e, em 1952, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), cuja nomenclatura foi alterada para BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), em 1982. 4ª fase: 1964 a 1988 Em pouco menos de duas décadas, ocorreu a im- plementação de significativas mudanças estruturais no sistema financeiro brasileiro, dentre as quais po- dem-se destacar as seguintes leis: • Lei da Correção Monetária (4357/64). • Lei do Plano Nacional da Habitação (4380/64). • Lei da Reforma do Sistema Financeiro Nacional (4595/64). • Lei do Mercado de Capitais (4728/65). • Lei da CVM (6385/76, alterada pela Lei 10411/02). • Lei das S.A (6404/76, alterada pelas leis 9457/97 e 10303/01). Algumas dessas leis causaram grandes efeitos, como é o caso da criação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) ou da correção monetária, dis- positivo presente até o final do século XX que, por anos, mostrou-se como forte gatilho inflacionário em nosso país. 13Sistema financeiro, crescimento econômico, intermediação financeira e políticas econômicas ...................................................................................................................................................................................................................... 5ª fase: 1988 a 1994 Nesse período cabe destacar a delegação de funções da autoridade monetária exclusivamente ao Banco Central do Brasil (BCB ou BACEN), tendo, nesse mes- mo momento, suas atividades atípicas sido transfe- ridas para o Tesouro Nacional (TN). Os empréstimos diretos ou indiretos do BCB para o TN ou qualquer entidade que não fosse instituição financeira fo- ram proibidos. Outro destaque nesse intervalo de pouco mais de um quinquênio foi a Resolução CMN nº 1.524/88, que permitiu a criação dos chamados bancos múltiplos no Brasil. 6ª fase: a partir de 1994 No período que se estende até os dias de hoje, obser- vou-se, inicialmente, a Resolução CMN nº 2.099/94, sobre a exigência de capital e patrimônio líquido, à qual se seguiram diversas mudanças no sistema de controle e fiscalização das instituições financeiras no Brasil, com destaques para as medidas deter- minadas pelo Acordo de Basileia e seus desdobra- mentos (Basileia, Basileia II e Basileia III). A primeira década do século XXI poderia ser definida como a “década da regulação e mitigação de riscos bancá- rios e de crédito”, pois as instituições financeiras aqui sediadas foram obrigadas a implementar uma série de instrumentos e criar estruturas mitigató- rias de risco de compliance. Apesar de tais ações, o mercado financeiro brasilei- ro assistiu a duas fases de enxugamento, consolida- ção e mesmo quebras em seu sistema financeiro, em Conceitos básicos do sistema financeiro14 ...................................................................................................................................................................................................................... que ocorreram intervenções e liquidações por parte do BCB em bancos e financeiras, fusões e incorpo- rações e aumento do interesse de grandes bancos estrangeiros em operar no Brasil, o que se deu, em sua maioria, pela aquisição de entes que já opera- vam aqui. Cabe destacar que grande parte de tais eventos de enco- lhimento do nosso mercado financeiro concentrou-se no início da década de noventa, em especial por ocasião da implantação do Plano Real, e também no início da segun- da década do século XXI, seguindo, em parte, efeitos da crise econômica, financeira e bancária mundial de 2008. Por outro lado, ao longo dos primeiros anos do século XXI ocorreu uma série de fusões entre bancos nacionais, sem prejuízo ao sistema. De uma forma geral, cabe destacar as grandes transforma- ções no Sistema Financeiro Nacional ocorridas após 1964, por meio do que pode-se chamar de Leis Básicas de Reor- denamento da Política Econômica Brasileira, todas elas da- tadas do período denominado como a 4ª fase e em cujos teores pode-se mencionar: (i) Lei do Mercado de Capitais (4728/65): a criação de normas e regulamentos básicos para estruturação de um sistema de investimentos. (ii) Lei da CVM (6385/76): a transferência do BCB para a CVM de toda a estrutura de legislação, fiscalização, re- gistros e regulamentação diretamente ligados ao mercado de valores mobiliários, incluindo ações e debêntures. A 15Sistema financeiro, crescimento econômico, intermediação financeira e políticas econômicas ...................................................................................................................................................................................................................... partir de então, as funções da CVM repercutiriam sobre três grandes grupos: instituições do mercado, companhias abertas e investidores. (iii) Lei das S.A. (6404/76): a regulamentação da vida legal das sociedades anônimas brasileiras, envolvendo aspec- tos relativos às suas características, constituição, compo- sição acionária, padronização das demonstrações finan- ceiras, etc. Iniciativa esta ocorrida em um momento emque se mostrava necessário atualizar a legislação sobre tais corporações (composição acionária, comercialização de ações e debêntures, modernização do fluxo de infor- mações, etc.). 1.2.2. Atual organização do SFN brasileiro Atualmente pode-se dividir o Sistema Financeiro Nacional brasileiro em três subsistemas: (i) órgãos normativos, (ii) entidades supervisoras e (iii) operadoras. Tal estrutura segue o entendimento do BCB e tem clara divisão entre as entidades que efetivamente normatizam e as que implementam, fiscalizam e mesmo auxiliam e pu- nem os chamados operadores do sistema, classe essa que envolve também participantes diretamente interessados nos fluxos de recursos financeiros, mas que atuam como satélites do sistema, na forma de aplicadores ou tomado- res de recursos ou ainda participando ativamente da orga- nização dos mercados. Conceitos básicos do sistema financeiro16 ...................................................................................................................................................................................................................... 17Sistema financeiro, crescimento econômico, intermediação financeira e políticas econômicas ...................................................................................................................................................................................................................... 1.3. Crescimento econômico O crescimento econômico de uma sociedade depende diretamente das condições do mercado financeiro que a mesma tem a seu dispor, seja internamente ou mesmo externamente, de uma forma que deriva do seu próprio desempenho, credibilidade e boas relações políticas com outras nações do planeta. Internamente uma economia depende inicialmente de nor- mas e regulamentos que garantam aspectos como equida- de e respeito a contratos, além de entes reguladores fortes em termos de autoridade e competentes em termos de re- gulação. Países cujas regras não se mostram estáveis em mercados como o de crédito e o de capitais tendem a ter sua poupança em baixo grau convertida em investimen- to, o que muitas vezes acarreta às economias um cenário recessivo, como a japonesa, ou inflacionário, como a bra- sileira. O ciclo de formação de poupança e posterior conversão desses recursos em investimento pode ser considerado como primeiro e fundamental motor de desenvolvimento de uma nação, porém, a este deve ser agregado o crédito. Indicadores de volume de crédito sobre o produto interno bruto (PIB) de um país são utilizados para medir o com- portamento de uma economia, sendo que a tomada de re- cursos em longo prazo para investimento e aquisição de bens duráveis, tais como imóveis, são termômetros que indicam o quanto esse perfil de crédito é mais ou menos saudável para promover o crescimento econômico em questão. Conceitos básicos do sistema financeiro18 ...................................................................................................................................................................................................................... Cabe ressaltar que o mercado de crédito é extremamen- te sensível às taxas de juros praticadas no país, o que se traduz em custo do dinheiro para funding1 e em disposi- tivos como recolhimentos compulsórios e de constituição de garantias para empréstimos. Tal relação o remete di- retamente à atuação das autoridades financeiras e entes governamentais em mercados como o monetário e o cam- bial, nos quais muitas vezes se define o custo do dinheiro para os demais mercados, seja por meio de recursos inter- nos ou externos. Ainda no âmbito interno, outro grande impulsionador do desenvolvimento é o mercado de capitais, no qual, como você verá mais à frente, são captados os recursos de prazo mais alongado, que, remunerados de forma fixa ou variá- vel, têm estreita relação com o desempenho econômico e financeiro das empresas tomadoras dos recursos. No lon- go prazo, o tamanho do mercado de capitais vem a ser o principal indicador do desenvolvimento e do potencial de uma economia. O mercado externo, por sua vez, adquiriu forte importân- cia com o advento da globalização, em que câmbio, merca- dos produtores e consumidores, transferência de tecnolo- gia e opções por onde produzir e onde vender se tornaram decisões rotineiras que impactam o trânsito de riquezas entre nações. 1 Captação de recursos destinados à estrutura passiva de instituições financeiras. 19Sistema financeiro, crescimento econômico, intermediação financeira e políticas econômicas ...................................................................................................................................................................................................................... Outrora, tais relações se resumiam à troca de fluxos finan- ceiros, na forma de empréstimos e nos focos de importa- ção e exportação. Ao abordar os mercados financeiros, cabe destaque, em âmbito internacional, para o Acordo de Basileia, o qual rege internacionalmente as práticas bancárias e, apesar de não ser aplicado uniformemente em todas as nações, tem diretrizes únicas que norteiam a ação dos diversos bancos centrais sediados nos continentes do globo terrestre. 1.4. Intermediação financeira No âmbito de um sistema financeiro pode-se identificar agentes cuja participação se mostra diretamente ligada à intermediação de recursos de forma simultânea à reten- ção de riscos, enquanto que, por outro lado, cabe a outros intermediários apenas a função de unir pontas interessa- das em desenvolver negócios complementares. Dentro das características das operações escolhidas — o que pode envolver desde a simples corretagem até a ob- tenção de funding para posterior repasse a terceiros na forma de operações de crédito — e também determinadas pelas carteiras que operam, tais instituições podem optar por atuar de forma ampla, em segmentos como o varejo e varejo massificado, ou cobrindo nichos específicos de mer- cado, sendo essa última estratégia usualmente, mas não necessariamente, adotada por entidades de menor porte. Pode-se classificar as instituições financeiras segundo a natureza das obrigações que elas emitem e os tipos de operação que estão autorizadas a realizar. Conceitos básicos do sistema financeiro20 ...................................................................................................................................................................................................................... O Sistema Financeiro Nacional poderia, então, ser agrupa- do segundo suas funções creditícias ou patrimoniais de acordo com a tabela a seguir: 1.5. Políticas econômicas Tema sempre presente no estudo da macroeconomia, as políticas econômicas são implementadas localmente dentro do cenário do sistema financeiro, em especial nos mercados monetário, cambial e de crédito, seja por meio de medidas diretas ou indiretas. É a partir do comporta- mento desses mercados que uma nação controla, ou pelo menos tenta controlar, fenômenos como crescimento, inflação e o próprio desenvolvimento de sua indústria e mercado consumidor. É no mercado monetário que as políticas de liquidez ou monetárias são implementadas pelos bancos centrais, por meio de três instrumentos básicos, a saber: Crédito de curto prazo Bancos comerciais e bancos múltiplos com carteira comer- cial, Caixa Econômica, coope- rativas de crédito, factorings. Crédito de médio e longo prazo Bancos de investimento e de- senvolvimento, bancos múlti- plos com carteira de investi- mento, companhias de leasing. Crédito ao consumidor Sociedades de crédito, fi- nanciamento e investimento (CFIs), bancos múltiplos com carteira de crédito, financia- mento e investimento. Crédito habitacional Caixa Econômica, companhias de crédito imobiliário, bancos múltiploscom carteira de cré- dito imobiliário. 21Sistema financeiro, crescimento econômico, intermediação financeira e políticas econômicas ...................................................................................................................................................................................................................... (i) Open Market: que consiste no mais flexível e impactan- te instrumento, pelo qual ocorre a troca de títulos públicos por moeda e vice-versa. Ao adquirir títulos no mercado, a autoridade monetária reduz a liquidez do mesmo e, uma vez que menos recursos transitam pela economia, estes tendem a custar mais caro, ou seja, as taxas de juros se elevam. Por outro lado, ao realizar a recompra de títulos, a autoridade busca irrigar a economia, que, mais líquida, força os juros para baixo. Ao reduzir ou elevar a disponi- bilidade de moeda em um sistema, observam-se maiores ou menores propensões a poupar e consumir e, por con- seguinte, diferentes reações de indústria e serviços, o que impacta também em indicadores como inflação e PIB. (ii) Depósito compulsório: para melhor entender esse instrumento, deve-se saber que todo recurso confiado a uma instituição financeira na forma de depósito, ou seja, a origem do funding para operações de crédito, tem uma parte destinada ao chamado depósito compulsório, cujos recursos são direcionados ao BCB e remunerados a taxas inferiores às usualmente cobradas quando os recursos são emprestados a clientes. Tais percentuais variam de economia para economia e de tempo em tempos, tornan- do-se, assim, mais um instrumento de política monetária. Ao elevar os percentuais de compulsório em uma econo- mia, a autoridade monetária reduz a liquidez da mesma e eleva suas taxas de juros, elevação essa oriunda da pró- pria escassez de moeda, como também da necessidade de as instituições financeiras rentabilizarem o “todo” da sua tomada de recursos com uma menor parte do mesmo. Por outro lado, ao deixar tais recurso livres para operações de crédito ou encaixe em títulos privados com mais elevada remuneração, tende a ocorrer na economia uma maior dis- Conceitos básicos do sistema financeiro22 ...................................................................................................................................................................................................................... ponibilidade de moeda, o que eleva os volumes de opera- ções de crédito com menores taxas de juros. (iii) Taxa de redesconto: esse talvez seja o instrumento de menor impacto na economia, pois se destina ao pro- cesso chamado de “zeragem” de um banco ao final o dia. Cabe ressaltar que o caixa de uma instituição financeira deve fechar cada dia útil com numerário igual ou maior que zero, e para tal, seus gestores buscam, ao longo do dia, equilibrar operações de crédito e depósitos, operar no mercado interfinanceiro e, por fim, recorrer ao BCB na operação de redesconto, cuja constante utilização não é conveniente. Dessa forma, ao elevar as taxas para esse tipo de recurso, a autoridade monetária desencoraja os bancos na concessão de crédito, criando nos mesmos uma cultura mais defensiva em relação à doação de recursos, o que, mais uma vez, reduz a liquidez da economia. Uma postura inversa, por sua vez, proporciona mais conforto aos operadores de crédito, mas não chega a encorajá-los a ponto de criar substancial expansão dessas operações ou irrigar de forma relevante a economia. O mercado de crédito, seja no âmbito de pessoas físicas ou jurídicas, além de ser impactado pelos instrumentos implementados no mercado monetário, também pode ser alvo de medidas intervencionistas, as quais envolvem con- trole de créditos subsidiados pelo governo, elevação ou redução do imposto sobre operações financeiras, o cha- mado IOF, assim como dos percentuais de pagamento mí- nimo de faturas de cartões de crédito. 23Sistema financeiro, crescimento econômico, intermediação financeira e políticas econômicas ...................................................................................................................................................................................................................... Por fim, o mercado cambial também pode ser acessado pelas autoridades monetárias para que medidas macro- econômicas sejam implementas, cabendo a cada nação determinar regras com relação ao câmbio, se fixo ou flutu- ante, e critérios de mobilidade de recursos, se alta, baixa ou em suas várias nuances para recursos e rendimentos em curto, médio e longo prazo. Tais medidas e perfis têm impacto não só na economia do país, como também no perfil dos recursos externos que ele recebe, podendo os mesmos serem classificados como desde especulativos até para investimentos de longo prazo, como indústria e infraestrutura. 24 ...................................................................................................................................................................................................................... Conceitos básicos do sistema financeiro SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL - SUBSISTEMAS NORMATIVO E SUPERVISOR Como mencionado anteriormente, um sistema financeiro serve ao desenvolvimento de uma nação e se interliga com outros sistemas ao redor do globo terrestre. Uma vez que engloba diferentes participantes e envolve direta e indi- retamente praticamente toda a população ativa de uma região, a correta gestão desse sistema define não só pa- tamares de crescimento e desenvolvimento, mas também do bem-estar de pessoas e prosperidade de corporações que ali atuam. A clara definição de regras se faz importante no âmbito do sistema financeiro e, definidas, estas devem ser imple- mentadas, fiscalizadas e mesmo operadas de forma per- manente por órgãos competentes. Dessa forma, as funções de criar e implementar normas e, ao mesmo tempo, realizar algumas operações, fiscalizar e punir muitas vezes se confundem entre os participantes. Cabe ressaltar que, para o sistema brasileiro, será adota- da, neste livro, a divisão entre entidades normativas, que engloba o Conselho Monetário Nacional (CMN), o Conse- lho Nacional de Seguros Privados e o Conselho Nacional de Previdência Complementar e entidades supervisoras, estas envolvendo o BCB, a CVM, a Superintendência de Se- 25Sistema Financeiro Nacional - Subsistemas normativo e supervisor ...................................................................................................................................................................................................................... guros Privados (SUSEP) e, por fim, a Superintendência Na- cional de Previdência Complementar (Previc). 2.1. Entidades normativas do SFN Cabe aos órgãos normativos a definição das regras para os diferentes mercados e mesmo do sistema econômico, fi- nanceiro e monetário nacional, não sendo, porém, da com- petência deste a execução dessas diretrizes, para a qual se valem de outros agentes, como o BCB, autoridade monetá- ria que atua diretamente sobre a regulamentação e gestão do crédito e é responsável pela divulgação, implementa- ção e fiscalização do conteúdo das Instruções Normativas do Conselho Monetário Nacional. Os três entes apresentados a seguir são responsáveis por atividades que geram fluxos financeiros de crédito e to- mada de recursos: o CMN, envolvido com aspectos que vão desde a moeda e títulos públicos até o crédito priva- do; o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), atu- ante em frentes como a poupança mútua voltada à seguri- dade, nela incluídas as atividades de previdência privada e títulos de capitalização e importantes entes formadores de poupança; e, por fim, o Conselho Nacional de Previ- dência Complementar (CNPC), responsável por entidades conhecidas como fundos de pensão, talvez osmaiores e mais importantes captadores e aplicadores de recursos no Brasil, responsáveis por financiar o desenvolvimento do país notadamente por meio dos mercados de crédito e de capitais. 26 ...................................................................................................................................................................................................................... Conceitos básicos do sistema financeiro Conselho Monetário Nacional (CMN) O CMN foi instituído pela Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964, sendo o órgão responsável por expedir diretrizes gerais que visam reger e regular o bom funcionamento do SFN. Entre suas atribuições, pode-se destacar responsabi- lidades como as de: • Adaptar o volume dos meios de pagamento às reais necessidades da economia local. • Regular o valor interno e externo da moeda e o equilíbrio do Balanço de Pagamentos. • Orientar a aplicação dos recursos das institui- ções financeiras que operam no país. • Propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos financeiros. • Zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras. • Coordenar as políticas monetária, creditícia, or- çamentária e da dívida pública interna e externa. A alta direção do CMN é constituída pelos ministros de Es- tado da Fazenda, que exercem a sua presidência, e do Pla- nejamento e Orçamento, assim como pelo presidente do BCB. Cabe, ainda, ressaltar que os serviços de secretaria do CMN são exercidos pelo BCB. Junto ao CMN funciona a Comissão Técnica da Moeda e do Crédito (COMOC), composta pelo presidente do BCB, na qualidade de coordenador, pelo presidente da CVM, pelo secretário executivo do Ministério do Planejamento e Orçamento, pelos secretários executivos do Ministério da 27Sistema Financeiro Nacional - Subsistemas normativo e supervisor ...................................................................................................................................................................................................................... Fazenda, de Política Econômica do Ministério da Fazenda, do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda, além de quatro diretores do BCB, estes indicados pelo presidente da entidade. Estão previstos ainda o funcionamento, no âmbito do CMN, das Comissões Consultivas de Normas e Organiza- ção do Sistema Financeiro, de Mercado de Valores Mobili- ários e de Futuros, de Crédito Rural, de Crédito Industrial, de Crédito Habitacional e para Saneamento e Infraestru- tura Urbana, assim como de Endividamento Público e de Política Monetária e Cambial. Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) Cabe ao CNSP fixar as diretrizes e normas da política de seguros privados, sendo o mesmo composto pelo ministro da Fazenda, que o preside, um representante do Ministério da Justiça, um representante do Ministério da Previdência Social, pelo superintendente da SUSEP, por um represen- tante do BCB e, por fim, por um representante da CVM. Dentre as funções do CNSP, pode-se destacar as de: • Regular a constituição, organização, funciona- mento e fiscalização dos que exercem atividades subordinadas ao CNSP. • Aplicar penalidades previstas aos entes partici- pantes desse mercado. • Fixar as características gerais dos contratos de seguro, previdência privada aberta, capitalização e resseguro. 28 ...................................................................................................................................................................................................................... Conceitos básicos do sistema financeiro • Estabelecer as diretrizes gerais das operações de resseguro. • Prescrever os critérios de constituição das socie- dades seguradoras, de capitalização, entidades de previdência privada aberta e resseguradores, assim como a fixação dos limites legais e técnicos das suas respectivas operações. • Disciplinar a corretagem de seguros e a profissão de corretor de seguros. Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC) É um órgão colegiado que integra a estrutura do Minis- tério da Previdência Social e cuja competência é regular, normatizar e coordenar as atividades das entidades fecha- das de previdência complementar, os também denomina- dos fundos de pensão. O CNPC é regulado pela Lei nº 12.154, de 23 de dezembro de 2009, que criou a Superintendência Nacional de Previ- dência Complementar (Previc), e pelo Decreto nº 7.123, de 03 de março de 2010. Presidido pelo ministro da Previdência Social, o CNPC tem em sua composição representantes da Previc, da Secretaria de Políticas de Previdência Complementar (SPPC), da Casa Civil da Presidência da República, dos Ministérios da Fazen- da e do Planejamento e Orçamento e Gestão, de entidades fechadas de previdência complementar, dos patrocinadores e instituidores de planos de benefícios dessas e também de participantes e beneficiários desses mesmos planos. 29Sistema Financeiro Nacional - Subsistemas normativo e supervisor ...................................................................................................................................................................................................................... 2.2. Entidades Supervisoras do SFN Tais entidades atuam como braços operadores dos órgãos normativos e também de entes federativos, como ministé- rios, e mesmo da Presidência da República. No escopo de suas atividades estão responsabilidades como as de implementar, orientar, fiscalizar, punir e mesmo ope- rar em seus respectivos mercados, o que envolve também atividades como as de prévia análise e autorização de fun- cionamento de entidades de crédito e executivos das mes- mas, atribuição essa detida pelo BCB. Dessa forma, tais entidades interagem com governo, pou- padores, investidores, operadores e prestadores de serviço dos diversos mercados, buscando cumprir suas funções e incentivar o funcionamento e o crescimento dos mesmos. Banco Central do Brasil (BCB ou BACEN) É uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, tam- bém criada pela Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964, e se trata do principal executor das orientações do CMN, sen- do o grande responsável por garantir o poder de compra da moeda nacional brasileira e, tendo ainda por objetivos gerais os de: • Zelar pela adequada liquidez da economia nacional. • Manter as reservas internacionais em nível adequado. • Estimular a formação de poupança. • Zelar pela estabilidade e promover o permanente aperfeiçoamento do sistema financeiro. 30 ...................................................................................................................................................................................................................... Conceitos básicos do sistema financeiro Destacam-se, ainda, como importantes atribuições do BCB: • A emissão de papel-moeda e moeda metálica. • A execução de serviços relativos ao meio circu- lante. • O recolhimento de depósitos compulsórios e vo- luntários das instituições financeiras e bancárias. • A realização de operações de redesconto e em- préstimo às instituições financeiras. • Regular a execução dos serviços de compensação de cheques e outros papéis. • Efetuar operações de compra e venda de títulos públicos federais. • Exercer o controle das operações de crédito. • Fiscalizar as instituições financeiras que atuam no país. • Autorizar o funcionamento de instituições finan- ceiras. • Estabelecer as condições para o exercício de quaisquer cargos de direção nas instituições finan- ceiras. • Vigiar a interferência de outras empresas nos mercados financeiros e de capitais. • Controlar o fluxo de capitais estrangeiros no país. Muitas das funções acima listadas nada mais são do que meios de o BCB executar sua função primordial, que é a de manter o poder de compra da moeda nacional, o que se traduz na manutençãodos índices de inflação dentro 31Sistema Financeiro Nacional - Subsistemas normativo e supervisor ...................................................................................................................................................................................................................... de patamares definidos pelo CMN. A esse desenho se dá o nome de metas inflacionárias. Com relação ao mercado de crédito, o BCB se apresenta como sua principal autoridade, mantendo uma atuação muito próxima às instituições financeiras, isto não só em relação ao cumprimento de regras e aplicação de puni- ções, como também monitorando esse mercado, aprovan- do o ingresso de profissionais nas diretorias estatutárias de suas instituições e analisando e criticando classifica- ções de risco de contrapartes em operações de crédito. Imprimindo uma postura muito mais proativa que reativa, o BCB tem revisto constantemente os níveis de risco apre- sentados pela concessão de crédito no território nacional, o que, muitas vezes, o leva a solicitar provisões adicionais para devedores duvidosos e reclassificações de risco em bancos e financeiras que aqui atuam. Cabe ressaltar que, nos últimos anos, ocorreu uma série de intervenções em instituições financeiras atuantes no Brasil, sendo que, em quase sua totalidade, seguiu-se a liquidação das mesmas. Tal postura da autoridade finan- ceira brasileira tem evitado colapsos maiores em nossa economia e em mercados como os de crédito e títulos pú- blicos e privados, uma vez que os problemas são detecta- dos antes que assumam proporções catastróficas, como ocorreu no passado. Adicionalmente, estruturas como as de processamento de dados (Tecnologia da Informação ou simplesmente TI), controles internos, riscos operacionais e compliance são 32 ...................................................................................................................................................................................................................... Conceitos básicos do sistema financeiro fiscalizadas e, quando necessário, analisadas e criticadas até se enquadrarem em níveis satisfatórios de mitigação de riscos, não apenas financeiros e de crédito, mas tam- bém operacionais. Tais iniciativas têm resultado na solidez do sistema finan- ceiro brasileiro, ante a dificuldades em âmbito mundial e local, observadas ao final da primeira década do corrente século e que ainda mostram sinais de preocupação em di- versas economias mundiais. Comissão de Valores Mobiliários (CVM) É também uma autarquia vinculada ao Ministério da Fa- zenda, tendo sido instituída pela Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976. Cabe à mesma regulamentar, desen- volver, controlar e fiscalizar o mercado de valores mobili- ários do país e, para esse fim, exerce as seguintes funções: • Assegurar o funcionamento eficiente e regular dos mercados de bolsa e de balcão. • Proteger os titulares de valores mobiliários. • Evitar ou coibir modalidades de fraude ou mani- pulação no mercado. • Assegurar o acesso do público a informações so- bre valores mobiliários negociados e sobre as com- panhias que os tenham emitido. • Assegurar a observância de práticas comerciais equitativas no mercado de valores mobiliários. • Estimular a formação de poupança e sua aplica- ção em valores mobiliários. 33Sistema Financeiro Nacional - Subsistemas normativo e supervisor ...................................................................................................................................................................................................................... • Promover a expansão e o funcionamento eficien- te e regular do mercado de ações. • Estimular as aplicações permanentes em ações do capital social das companhias abertas. Conhecida como xerife do mercado de capitais, a CVM atua ativamente junto a três frentes: emissores de valores mobiliários, investidores e intermediários de operações no mercado de capitais. Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) É uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, res- ponsável pelo controle e fiscalização do mercado de se- guros, previdência privada aberta e capitalização. Dentre suas principais atribuições, pode-se destacar as de: • Fiscalizar a constituição, organização, funcio- namento e operação das sociedades seguradoras, de capitalização, entidades de previdência privada aberta e resseguradores, na qualidade de executora da política traçada pelo CNSP. • Atuar no sentido de proteger a captação de pou- pança popular que se efetua por meio das opera- ções de seguro, previdência privada aberta, de capi- talização e resseguro. • Zelar pela defesa dos interesses dos consumido- res dos mercados supervisionados. • Promover o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos operacionais a eles vinculados. • Promover a estabilidade dos mercados sob sua jurisdição. ...................................................................................................................................................................................................................... 34 ...................................................................................................................................................................................................................... Conceitos básicos do sistema financeiro • Zelar pela liquidez e solvência das sociedades que integram o mercado. • Disciplinar e acompanhar os investimentos da- quelas entidades, em especial os efetuados em bens garantidores de provisões técnicas. • Cumprir e fazer cumprir as deliberações do CNSP e exercer as atividades que por este forem delegadas. • Prover os serviços de secretaria executiva do CNSP. Superintendência Nacional de Previdência Complemen- tar (Previc) É uma autarquia vinculada ao Ministério da Previdência Social, responsável por fiscalizar as atividades das entida- des fechadas de previdência complementar, os chamados fundos de pensão. A Previc atua como entidade de fiscalização e de supervi- são das atividades das mencionadas entidades e de exe- cução das políticas para o regime de previdência comple- mentar por elas operado, observando simultaneamente as diretrizes estabelecidas pelo CMN e pelo CNSP. 35Sistema Financeiro Nacional - Subsistema de intermediação ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL - SUBSISTEMA DE INTERMEDIAÇÃO O processo de intermediação financeira se mostra funda- mental para o trânsito de recursos entre entes superavitá- rios e os que desejam obter recursos, seja para cobrir dé- ficits de orçamento, investimento ou simples antecipação da aquisição de bens, duráveis ou não, e serviços, casos típicos de operações contratadas por pessoas físicas. Tal processo ocorre em âmbito local e internacional, en- volvendo não só as já mencionadas pessoas físicas, como também corporações de variados portes, governos em suas diversas esferas e mesmo a troca de recursos entre os próprios intermediários financeiros, o que se chama de mercado interbancário, ou pela emissão de títulos de dívida e de renda variável. Aqui serão tratados apenas os intermediários em si, po- rém cabe ressaltar que, entre poupadores e tomadores de recursos, poderiam ser destacados típicos participantes, tais como as entidades de previdências, companhias do ramo segurador, sociedades de capitalização, companhias de capital aberto e, mais uma vez, as diversas esferas go- vernamentais, que noBrasil tem como representante o TN, que emite títulos da dívida pública, negociados por meio do BCB e seus respectivos dealers.2 2 Instituições financeiras selecionadas pelo BCB para operar moedas e títulos prioritariamente para o mesmo. 36 ...................................................................................................................................................................................................................... Conceitos básicos do sistema financeiro Pode-se então classificar os intermediários em alguns sub- grupos. O primeiro deles seria a divisão entre os interme- diários, em cujas operações há retenção de crédito, e os que promovem apenas a união entre as partes interessadas em firmar negócios. Os primeiros também são denomina- dos como instituições operadoras de crédito, e ainda de contatos similares, como os de arrendamento mercantil, em que em ambos os casos o risco de inadimplência re- cai sobre o intermediário. Outro grupo, composto por en- tidades como corretoras e distribuidoras de valores, tem por finalidade oferecer suporte aos processos de compra e venda de títulos de renda fixa e variável, derivativos, ope- rações a termo e de câmbio, cabendo às contrapartes even- tuais riscos, como os inerentes ao crédito: default, desca- samento de prazos e taxas, inflação, câmbio e regulatórios. 3.1. Instituições operadoras do mercado de crédito No âmbito do SFN, observa-se que alguns de seus agentes têm maior participação nos processos de intermediação de negócios relacionados ao crédito e à retenção de risco desse tipo de operação. Segundo características determinadas pelas carteiras que operam e pela natureza de obtenção de funding, tais insti- tuições podem optar por atuar de forma ampla ou cobrir nichos específicos de mercado, tais como middle market,3 private banking,4 crédito consignado em folha de paga- mento e financiamento de veículos, sendo esta última op- 3 Segmento do mercado de crédito que abrange empresas com faturamen- to entre R$ 50 mil e R$ 500 mil, em geral. 4 Segmento de atendimento bancário destinado a correntistas pessoa físi- ca de alta renda e patrimônio pessoal. 37Sistema Financeiro Nacional - Subsistema de intermediação ...................................................................................................................................................................................................................... ção usualmente adotada por entidades de menor porte, o que não significa que tais operações também não sejam amplamente oferecidas por bancos de grande porte. As instituições apresentadas a seguir têm como caracte- rística a retenção do risco de crédito, sendo que o prin- cipal diferencial entre elas se dá pela captação, ou não, de recursos via depósitos à vista e a prestação de servi- ços tradicionais a correntistas, tais como fornecimento de talões de cheque, cartões de saque, débito ou crédito e movimentações eletrônicas para pagamentos de faturas e fichas de compensação. 3.1.1. Instituições captadoras de depósitos à vista Tais instituições se caracterizam por receber depósitos à vista, as chamadas contas correntes de movimento para pessoas físicas e jurídicas, recebendo especial atenção das autoridades monetárias pelo fator de influírem dire- tamente na multiplicação da moeda. Entre as principais entidades dessa categoria, pode-se citar: os bancos comer- ciais, os bancos múltiplos, as caixas econômicas e as coo- perativas de crédito. Bancos comerciais São instituições financeiras privadas ou públicas que têm como objetivo principal proporcionar suprimento de re- cursos necessários para financiar, em curto e médio pra- zo, o comércio, a indústria, as empresas prestadoras de serviços, as pessoas físicas e terceiros em geral. A captação de depósitos à vista, livremente movimentá- veis, é atividade típica do banco comercial, também po- dendo o mesmo captar depósitos a prazo. 38 ...................................................................................................................................................................................................................... Conceitos básicos do sistema financeiro O banco comercial deve ser constituído sob a forma de so- ciedade anônima e na sua denominação social deve constar a expressão “banco”, não sendo necessário que a institui- ção possua mais de uma carteira em operação. Bancos múltiplos São instituições financeiras privadas ou públicas que reali- zam as operações ativas, passivas e acessórias por meio de, pelo menos, duas destas carteiras: comercial, de investimen- to ou desenvolvimento, de crédito imobiliário, de arrenda- mento mercantil e de crédito, financiamento e investimento. O banco múltiplo deve ser constituído com, no mínimo, duas carteiras, sendo uma delas, obrigatoriamente, comer- cial ou de investimento, e ser organizado sob a forma de sociedade anônima, devendo, ainda, na sua denominação social constar a expressão “banco”. Suas operações estão sujeitas às mesmas normas legais e regulamentares aplicáveis às instituições singulares e suas respectivas carteiras, porém, a carteira de desenvolvimento somente poderá ser operada por banco público. Cabe ainda ressaltar que apenas as instituições com cartei- ra comercial podem captar depósitos à vista. Caixa Econômica Federal - CEF Criada em 1861, está regulada como empresa pública vin- culada ao Ministério da Fazenda. Trata-se de instituição assemelhada aos bancos comerciais, podendo captar depó- sitos à vista, realizar operações ativas e efetuar prestação de serviços. 39Sistema Financeiro Nacional - Subsistema de intermediação ...................................................................................................................................................................................................................... Uma característica distintiva da CEF é que ela prioriza a concessão de empréstimos e financiamentos a programas e projetos nas áreas de assistência social, saúde, educa- ção, trabalho, transportes urbanos e esporte. A instituição pode operar o crédito direto ao consumidor (CDC), financiando bens de consumo duráveis, emprestar sob garantia de penhor industrial e caução de títulos, bem como tem ainda os monopólios do empréstimo sob pe- nhor de bens pessoais e sob consignação e da venda de bilhetes de loteria federal. Atualmente, a CEF centraliza o recolhimento e posterior aplicação de todos os recursos oriundos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), integra o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e o Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Cooperativas de crédito Observam, além da legislação e normas do sistema finan- ceiro, a lei que define a política nacional de cooperativismo e institui o regime jurídico das sociedades cooperativas. Atuando tanto no setor rural quanto no urbano, as coope- rativas de crédito podem se originar da associação de fun- cionários de uma mesma empresa ou grupo de empresas, de profissionais de determinado segmento, de empresá- rios ou mesmo adotar a livre admissão de associados em uma determinada área de atuação, sob certas condições. Tais instituições têm como importante característica o fato de que os eventuais lucros auferidos com suas opera- 40 ...................................................................................................................................................................................................................... Conceitos básicos do sistema financeiro ções e prestação de serviços aos cooperados são reparti- dos entre os associados. Uma cooperativa de crédito deve adotar, obrigatoriamen- te, em sua denominação social, a expressão “Cooperativa”, vedada a utilização da palavra “banco”, e deve possuir o número mínimo de vinte cooperados e adequarsua área de atuação às possibilidades de reunião, controle, opera- ções e prestações de serviços. As cooperativas de crédito estão autorizadas a realizar operações de captação por meio de depósitos à vista e a prazo, porém somente junto aos seus associados, além de empréstimos, repasses e refinanciamentos de outras entidades financeiras e doações. Também o crédito pode apenas ser concedido aos seus cooperados, seja por meio de desconto de títulos, emprés- timos ou financiamentos. Ressalte-se, porém, que os re- cursos excedentes podem ser aplicados no mercado finan- ceiro e no interbancário. 3.1.2. Instituições não captadoras de depósitos à vista Além das instituições que recebem depósitos à vista, pres- tando serviços a seus correntistas, tais como contas cor- rentes, cartões de crédito, etc., outras que atuam voltadas à captação e ao repasse de recursos via financiamentos, usualmente de prazos mais alongados, estão presentes no sistema, cabendo destacar: agências de fomento, associa- ções de poupança e empréstimo, bancos de desenvolvi- mento, bancos de investimento, o Banco Nacional de De- senvolvimento Econômico e Social (BNDES), companhias 41Sistema Financeiro Nacional - Subsistema de intermediação ...................................................................................................................................................................................................................... hipotecárias, sociedades de crédito, financiamento e inves- timento, sociedades de crédito imobiliário e sociedades de crédito ao microempreendedor. Agências de fomento Têm como objeto social a concessão de financiamento de capital fixo e de giro associado a projetos na unidade fe- derativa onde tenham sede. Devem ser constituídas sob a forma de sociedade anônima de capital fechado e estar sob o controle da unidade federativa, sendo que cada unidade só pode constituir uma agência. Tais entidades têm status de instituição financeira, mas não podem captar recursos junto ao público, recorrer ao redesconto, ter conta de reserva no BCB, contratar depó- sitos interfinanceiros na qualidade de depositante ou de depositária e nem ter participação societária em outras ins- tituições financeiras. Em sua denominação social deve constar obrigatoriamente a expressão “agência de fomento” acrescida da indicação da unidade da federação controladora, sendo ainda vedada a sua transformação em qualquer outro tipo de instituição integrante do SFN. Associações de poupança e empréstimo São constituídas sob a forma de sociedade civil, sendo de propriedade comum de seus associados. Suas operações ativas são, basicamente, direcionadas ao mercado imobi- liário e ao SFH, enquanto que as passivas se originam por meio da emissão de letras e cédulas hipotecárias, depósi- tos de cadernetas de poupança, depósitos interfinanceiros e empréstimos externos. 42 ...................................................................................................................................................................................................................... Conceitos básicos do sistema financeiro Os depositantes dessas entidades são considerados acio- nistas da associação e, por isso, não recebem rendimen- tos, mas dividendos. Bancos de desenvolvimento São instituições financeiras controladas pelos governos estaduais, e têm como objetivo precípuo proporcionar o suprimento oportuno e adequado dos recursos necessá- rios ao financiamento, em médio e longo prazos, de pro- gramas e projetos que visem promover o desenvolvimento econômico e social do respectivo estado. As operações passivas se originam na forma de depósitos a prazo, empréstimos externos, emissão ou endosso de cédulas hipotecárias, emissão de cédulas pignoratícias de debêntures e de títulos de desenvolvimento econômico, en- quanto que, na ponta ativa, observam-se empréstimos e fi- nanciamentos dirigidos, prioritariamente, ao setor privado. Tais instituições devem ser constituídas sob a forma de sociedade anônima, com sede na capital do estado que detiver seu controle acionário, adotando, obrigatória e privativamente, em sua denominação social, a expressão “banco de desenvolvimento”, seguida do nome do seu es- tado controlador. Bancos de investimento São instituições financeiras privadas especializadas em operações de participação societária de caráter temporário, de financiamento da atividade produtiva para suprimento de capital fixo e de giro e de administração de recursos de terceiros, devendo ser constituídas sob a forma de so- 43Sistema Financeiro Nacional - Subsistema de intermediação ...................................................................................................................................................................................................................... ciedade anônima e adotar, de forma obrigatória, em sua denominação social, a expressão “banco de investimento”. Os bancos de investimento, ou simplesmente BI, não ofe- recem aos seus clientes contas correntes e, por isso, cap- tam recursos via depósitos a prazo, repasses de recursos externos e internos e venda de cotas de fundos de investi- mento por eles administrados. Entre as principais operações ativas desse tipo de insti- tuição, pode-se destacar os financiamentos de capital de giro e capital fixo, subscrições ou aquisições de títulos e valores mobiliários, depósitos interfinanceiros e repasses de recursos captados no exterior na forma de empréstimo. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Criado em 1952, trata-se de uma autarquia federal, en- quadrada, então, como uma empresa pública federal, com personalidade jurídica de direito privado e patrimônio próprio. A instituição atua como banco de desenvolvi- mento, sendo um órgão vinculado ao Ministério do Desen- volvimento, Indústria e Comércio Exterior e tendo como objetivo apoiar empreendimentos que contribuam para o desenvolvimento do país. Suas linhas de apoio contemplam financiamentos de lon- go prazo e custos competitivos direcionados ao desenvol- vimento de projetos de investimentos e para a comercia- lização de máquinas e equipamentos novos, fabricados no Brasil, bem como para o incremento das exportações brasileiras. É dessa forma que o BNDES contribui também 44 ...................................................................................................................................................................................................................... Conceitos básicos do sistema financeiro para o fortalecimento da estrutura de capital das empre- sas privadas, assim como o desenvolvimento do mercado de capitais. Tais linhas de apoio financeiro e os seus de- mais programas atendem às necessidades de investimen- tos das empresas de qualquer porte e setor, em sua maio- ria estabelecidas e atuantes no território nacional. Por meio da BNDESPAR, sua subsidiária integral, a institui- ção atua no mercado de capitais brasileiro, investindo em empresas nacionais em operações de subscrição de ações e debêntures conversíveis. A parceria com outras instituições financeiras com atua- ção em âmbito nacional permite a disseminação do crédi- to, possibilitando um maior acesso aos recursos do BNDES, por meio de produtos como o repasse de recursos de longo prazo para projetos e linhas simplificadas como o BNDES/ FINAME, para aquisição de maquinário e bens duráveis, e o Cartão BNDES, voltado a empresas de menor porte. Companhias hipotecárias São instituições financeiras constituídas sob a forma de sociedade anônima, que têm por objeto social conceder financiamentos destinados à produção, reforma ou co- mercialização de imóveis residenciais ou comerciais, aos quais não se aplicam as normas do SFH. Suas principais operações passivas são as letras hipotecá-rias, debêntures, empréstimos e financiamentos no país e no exterior, enquanto que, entre seus ativos, pode-se des- tacar os financiamentos imobiliários residenciais e comer- ciais, a aquisição de créditos hipotecários, os refinancia- 45Sistema Financeiro Nacional - Subsistema de intermediação ...................................................................................................................................................................................................................... mentos de créditos hipotecários e os repasses de recursos para financiamentos imobiliários. Tais entidades têm, ainda, como operações especiais a administração de créditos hipotecários de terceiros e de fundos de investimento imobiliário. Cooperativas centrais de crédito Formadas por cooperativas singulares, organizam em maior escala as estruturas de administração e suporte de interesse comum das suas filiadas, exercendo sobre elas, entre outras funções, a supervisão de funcionamento e ca- pacitação de administradores, gerentes e associados, além da auditoria de suas demonstrações financeiras. Sociedades de crédito, financiamento e investimento (CFI) Também conhecidas por financeiras ou simplesmente CFIs, são instituições financeiras privadas cujo objetivo básico é o de linhas de crédito para a aquisição de bens, serviços e capital de giro, operando em suas pontas passi- vas a captação de recursos por meio de aceite e colocação de letras de câmbio. As CFIs devem ser constituídas sob a forma de sociedade anônima e em sua denominação social deve constar ne- cessariamente a expressão “crédito, financiamento e in- vestimento”. 46 ...................................................................................................................................................................................................................... Conceitos básicos do sistema financeiro Sociedades de crédito imobiliário Atuam no financiamento habitacional por meio de ope- rações de financiamento para construção de habitações, abertura de crédito para compra ou construção de casa própria e financiamento de capital de giro para empresas incorporadoras, produtoras e distribuidoras de material de construção. A estrutura passiva dessas instituições é constituída ma- joritariamente por depósitos de cadernetas de poupança e emissão de letras e cédulas hipotecárias. Tais sociedades devem ser constituídas sob a forma de sociedade anônima, adotando obrigatoriamente em sua denominação social a expressão “crédito imobiliário”. Sociedades de crédito ao microempreendedor São entidades que têm por objeto social exclusivo a con- cessão de financiamentos e a prestação de garantias a pes- soas físicas e jurídicas classificadas como microempresas, objetivando viabilizar empreendimentos de natureza pro- fissional, comercial ou industrial de pequeno porte. Tais sociedades devem ser constituídas sob a forma de companhia fechada ou de sociedade por quotas de res- ponsabilidade limitada, adotando obrigatoriamente em sua denominação social a expressão “sociedade de crédito ao microempreendedor”, vedada a utilização da palavra “banco”, e estão impedidas de captar, sob qualquer forma, recursos junto ao público, bem como emitir títulos e valo- res mobiliários destinados à colocação e à oferta públicas. 47Sistema Financeiro Nacional - Subsistema de intermediação ...................................................................................................................................................................................................................... Banco de câmbio São instituições financeiras autorizadas a realizar, sem restrições, operações de câmbio e operações de crédito vinculadas às de câmbio, como financiamentos à expor- tação e importação e adiantamentos sobre contratos de câmbio, podendo, ainda, receber depósitos em contas sem remuneração, desde que não movimentáveis por cheque ou meios eletrônicos por parte do seu titular, e cujos re- cursos sejam destinados exclusivamente à realização das operações acima citadas. Na denominação dessas institui- ções deve constar a expressão “banco de câmbio”. 3.2. Demais intermediários do mercado financeiro Tais agentes se caracterizam por não reterem riscos de crédito propriamente ditos, uma vez que atuam de forma a apenas promover o encontro de entidades superavitá- rias com as demandadoras de recursos, sendo a prestação de serviços financeiros o principal foco de suas operações. Exceção pode ser feita às companhias de leasing, cujos contratos não se caracterizam como uma operação de cré- dito, mas em grande parte das ocasiões as substituem por conveniência dos clientes. Cabe ainda ressaltar que riscos de outras naturezas, como os de imagem, aplicam-se a esses participantes, que, em sua maioria, encontram-se sob rígida fiscalização dos ór- gãos reguladores do SFN, e devem zelar pela integridade, veracidade e adequabilidade de suas operações oferecidas às contrapartes interessadas. 48 ...................................................................................................................................................................................................................... Conceitos básicos do sistema financeiro Destacam-se nesse segmento de mercado as administrado- ras de consórcio, sociedades de arrendamento mercantil, sociedades corretoras de câmbio, sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários e as sociedades distribui- doras de títulos e valores mobiliários. Sociedades de arrendamento mercantil Também conhecidas como companhias de leasing, estão sob a supervisão do BCB e são constituídas sob a forma de sociedade anônima, devendo constar obrigatoriamen- te em sua denominação social a expressão “arrendamento mercantil”. Apesar de constituírem passivos direcionados à aquisição de ativos que servirão a terceiros, tais operações ativas não se classificam contabilmente como financeiras, pois o bem permanece como propriedade da arrendadora mer- cantil, em uma relação de locação, similar a de empresas especializadas em locação de veículo, como exemplo. Por outro lado, o inadimplemento das parcelas e eventuais dificuldades e custos elevados nos processos de retomada dos bens podem levar essas companhias a dificuldades financeiras, principalmente se não forem ligadas a um grupo financeiro, como bancos e CFIs, o que dificilmente ocorre no Brasil atualmente. Na prática, tais entidades têm seus produtos distribuídos por bancos comerciais e de investimento dentro dos seus portfólios de financiamento, adequando sua contratação ao perfil e à necessidade do cliente, juntamente com ou- tras opções, como o CDC, e mesmo linhas incentivadas do BNDES e outros entes nacionais e internacionais. 49Sistema Financeiro Nacional - Subsistema de intermediação ...................................................................................................................................................................................................................... Muitas vezes a opção entre CDC ou leasing se faz apenas por questões tributárias, o que envolve o tempo de de- preciação previsto para o bem, o prazo oferecido para as operações e o perfil de resultado da empresa contratante da operação. Também os processos de retomada do bem, em caso de inadimplência e liquidação antecipada da operação, mos- tram-se diferentes para as mencionadas operações, com destaque para esse último aspecto, em que a característica de locação não dá ao contratante de operações de leasing o benefício do desconto dos juros devidos no caso de an- tecipação de parcelas ou liquidação do contrato. As partes envolvidas nesse negócio são definidas como: (i) Arrendadora: é a empresa de leasing. As arrendadoras são empresas previamente autorizadas a funcionar pelo BCB,como também os bancos com carteira de arrenda- mento mercantil. (ii) Arrendatária: é o “financiado”, que necessita de um bem e faz a escolha livremente. (iii) Fornecedor: é o escolhido para fornecer o bem, pelo preço ajustado pelo arrendatário, e que será entregue após a emissão da ordem de compra pela arrendadora. (iv) Bens a serem arrendados: bens imóveis e móveis, de produção nacional ou estrangeira, tais como veículos, má- quinas, computadores, equipamentos, entre outros. As operações passivas dessas sociedades são a emissão de debêntures, dívida externa, empréstimos e financiamen- tos de instituições financeiras, enquanto seus ativos são constituídos por títulos da dívida pública, cessão de direi- 50 ...................................................................................................................................................................................................................... Conceitos básicos do sistema financeiro tos creditórios e, principalmente, por operações de arren- damento mercantil de bens móveis, de produção nacional ou estrangeira, e bens imóveis adquiridos pela entidade arrendadora para fins de uso próprio do arrendatário. Administradoras de consórcio São pessoas jurídicas prestadoras de serviços relativos à for- mação, organização e administração de grupos de consórcio. Ao BCB cabe autorizar a constituição dos mencionados grupos, sempre a pedido de administradoras previamente constituídas e sem interferência expressa da referida au- tarquia, mas atendendo a requisitos preestabelecidos, par- ticularmente quanto à capacidade financeira, econômica e gerencial da empresa. Também cabe ao BCB fiscalizar as operações e aplicar pe- nalidades cabíveis. Ademais, a autoridade monetária pode intervir nas empresas de consórcio e decretar sua liquida- ção extrajudicial. O grupo de consórcio em si é uma sociedade de fato, cons- tituída na data da realização da primeira assembleia geral ordinária pelos consorciados reunidos pela administrado- ra, que coletam poupança com vistas à aquisição de bens, conjunto de bens ou serviço turístico, por meio do chama- do autofinanciamento. Sociedades corretoras de câmbio São constituídas sob a forma de sociedade anônima ou por quotas de responsabilidade limitada, devendo constar na sua denominação social a expressão “corretora de câmbio”. 51Sistema Financeiro Nacional - Subsistema de intermediação ...................................................................................................................................................................................................................... Tais instituições têm por objeto social exclusivo a inter- mediação em operações de câmbio e a prática de opera- ções no mercado de câmbio de taxas flutuantes, sendo supervisionadas pelo BCB. Sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários São constituídas sob a forma de sociedade anônima ou por quotas de responsabilidade limitada. Tais sociedades são supervisionadas pelo BCB e, dentre seus objetivos, po- de-se destacar: • A operação em bolsas de valores, subscrevendo emissões de títulos e valores mobiliários no mercado. • A compra e venda de títulos e valores mobiliários por conta própria e de terceiros. • Encarregar-se da administração de carteiras e da custódia de títulos e valores mobiliários. • Exercer funções de agente fiduciário. • Instituir, organizar e administrar fundos e clubes de investimento. • Emissão de certificados de depósito de ações e cédulas pignoratícias de debêntures. • Intermediação de operações de câmbio. • Operar no mercado de câmbio de taxas flutuantes. • Praticar operações de conta margem. • Realizar operações compromissadas. • Praticar operações de compra e venda de metais preciosos, no mercado físico, por conta própria e de terceiros. • Operar em bolsas de mercadorias e de futuros, por conta própria e de terceiros. 52 ...................................................................................................................................................................................................................... Conceitos básicos do sistema financeiro Sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários São constituídas sob a forma de sociedade anônima ou por quotas de responsabilidade limitada, devendo constar na sua denominação social a expressão “distribuidora de títulos e valores mobiliários”. Essas são supervisionadas pelo BCB. Dentre algumas de suas atividades, temos: • Intermediação de ofertas públicas e distribuição de títulos e valores mobiliários no mercado. • Administração e custódia de carteiras de títulos e valores mobiliários. • Instituir, organizar e administrar fundos e clubes de investimento. • Operar no mercado acionário, comprando, ven- dendo e distribuindo títulos e valores mobiliários, inclusive ouro financeiro, por conta de terceiros. • Participar de operações de lançamentos públicos de ações. • Operar no mercado aberto e intermediar opera- ções de câmbio. Cabe ressaltar que tais sociedades foram autorizadas a operar diretamente na bolsa de valores, negociando ações, conforme Decisão Conjunta nº 17 do BCB e da CVM, edita- da em março de 2009. A medida retirou uma das últimas diferenças entre as corretoras e distribuidoras, sendo, hoje, a única característica que distingue uma da outra é que as corretoras podem fechar câmbio. 53Sistema Financeiro Nacional - Subsistema de intermediação ...................................................................................................................................................................................................................... Agentes autônomos de investimento É a pessoa natural ou jurídica uniprofissional que tenha como atividade a distribuição e mediação de títulos, valo- res mobiliários, quotas de fundos de investimento e deri- vativos, sempre sob a responsabilidade e como preposto das instituições. Para o exercício da atividade, o agente autônomo de inves- timento pessoa física deve ser aprovado em exame espe- cífico que avalie o respectivo conhecimento sobre o fun- cionamento e os riscos inerentes a esses mercados, obter a autorização da CVM, manter contrato para distribuição e mediação com uma instituição integrante do sistema de distribuição de valores mobiliários e realizar a sua ativida- de de distribuição e mediação exclusivamente como pre- posto da mesma. Correspondente bancário É qualquer pessoa jurídica, ou seja, qualquer empresa, que, entre suas atividades, atue também como agente interme- diário entre os bancos e instituições financeiras autoriza- das a operarem pelo BCB e seus clientes finais. Os correspondentes bancários podem prestar os seguin- tes serviços para bancos e demais instituições financeiras autorizadas a funcionar pelo BCB: • Propostas de abertura de contas de depósitos à vista, a prazo ou poupança. • Recebimento e pagamento de contas, aplicação e resgates em fundos de investimentos. 54 ...................................................................................................................................................................................................................... Conceitos básicos do sistema financeiro • Ordens de pagamentos. • Pedidos de empréstimos e financiamentos. • Análise de crédito e cadastro. • Serviços de cobranças. • Pedidos de cartões de créditos. • Atividades de processamento de dados. No caso dos serviços de encaminhamento de propostas de abertura de contas de depósitos à vista, a prazo e de pou- pança e de recebimentos e pagamentos de contas de depó- sitos à vista, a prazo e de poupança, bem como aplicações e resgates em fundos de investimentos, o correspondente bancário não poderá ter em seu contrato social referida prestação de serviço como atividade principal ou única. Para contratação dos serviços
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