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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da... Vara do Júri da Comarca de... , 
Estado de... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Processo n°... 
 
Alfredinho..., já devidamente qualificado nos autos do processo 
em epígrafe, por intermédio de seu advogado que este ao final subscreve, vem 
respeitosamente a presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 403, § 3° do 
Código de Processo Penal, para APRESENTAR 
 
MEMORIAIS 
pelas razões de fato e de direito a seguir expostos: 
 
DOS FATOS: 
Consta nos autos, que o réu transitava pela Rua Zuleica 
Afrouxadinha, altura do nº 2.000, em uma noite fria com pouca visibilidade, pois 
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havia formação de neblina, quando percebeu que duas pessoas se aproximavam 
cada vez mais, em atitudes suspeitas (passos rápidos e acompanho-o visualmente). 
Assustado com aquela situação, o acusado decide andar mais rápido, e 
posteriormente correr, no qual sua carteira viera a cair. Como as duas vítimas (já 
qualificadas), vinham acompanhando-o, recolheram a carteira do chão, e uma das 
vítimas, guardou-a em sua cintura. No momento em que o acusado percebe a 
ausência da sua carteira, decide olhar para trás, no objetivo de encontra-la, ele 
visualiza os mesmos indivíduos (vítimas) de outrora, correndo em sua direção, que 
armado, não tem outra atitude senão sacar a arma (revólver cal...) e efetuar 
disparos, a fim de cessar aquela investida, pois fora motivada pela atitude de uma 
das vítimas no momento em que levou a mão na cintura, no qual devido as fortes 
emoções, entendeu se tratar de uma potencial arma de fogo. 
O acusado efetuou 01 (um) único disparo em cada vítima, que 
infelizmente fora suficiente para ceifar a vida das duas vítimas. 
Todo o fato (disparos) foi assistido pela única testemunha, José, 
que no momento encontrava-se em sua residência, garagem. Posteriormente 
apresentada como testemunha dos fatos, corroborou com a versão apresentada 
pelo o acusado, tanto na delegacia, como em juízo. Disse ainda, que as vítimas 
estavam aparentemente bêbadas, e, que, ao recolheram a carteira do acusado do 
chão, correram em sua direção, sendo que a vítima que levou a mão na cintura 
verbalizou, “espera senhor toma aqui isso te pertence”, e o fato se desenrolou. 
O acusado informara que não ouviu as palavras mencionadas 
pela testemunha, disse que apenas percebeu “um murmurinho” qualquer. Disse, que 
devido todo o contexto, percebera que seria assaltado ou até morto, pois o lugar era 
ermo e isolado. Disse ainda, que a arma é registrada, e que somente efetuou 01 
(um) único disparo em cada uma das vítimas. Tão logo, permaneceu no local e 
chamou a polícia. 
O Ministério Público denunciou o acusado, que posteriormente foi 
acolhido por este juízo, pela prática de dois crimes previstos no artigo 121, §2º, 
inciso I, do Código Penal, homicídio qualificado por motivo torpe. 
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DO DIREITO: 
Conforme exposto, o réu é acusado pela prática de dois crimes 
previstos no artigo 121, §2º, inciso I, do Código Penal, homicídio qualificado por 
motivo torpe. Ocorre que tal acusação não merece ser acolhida. Senão vejamos: 
O réu desferiu 01 (um) tiro, com sua arma particular, em cada 
vítima, pois advento ao gesto de uma das vítimas (levar a mão na cintura), e a 
corrida que tinha realizado anteriormente, confundiu aquela situação com um roubo 
ou possível assassinato, cometendo o crime de homicídio simples: 
Art. 121. Matar alguém 
Observa-se que no caso em análise, estamos diante de agressão 
injusta, atual e a direito de outrem, caracterizando, a conduta do acusado, como 
legítima defesa putativa. A este respeito dispõe o artigo 25 do Código Penal: 
Art. 25. Entende-se legítima defesa quem, 
usando moderadamente dos meios 
necessários, repele injusta agressão, atual ou 
iminente, a direito seu ou de outrem. 
No tocante a qualificadora “motivo torpe”, principal argumentação 
da acusação, visando à condenação do réu, cabe esclarecer que, não há como 
exigir que uma pessoa, no calor da emoção, ao correr inicialmente da “possível 
agressão”, conseguir diferenciar que a “mão levada à altura da cintura” se tratara de 
sua carteira ao invés de uma arma de fogo, aja vista as circunstancias do local 
(noite, ermo e sob neblina), correndo risco de perder sua vida. Assim, no caso, 
considera-se que foram usados os meios necessários para repelir a “possível 
agressão”, uma vez, que não houve excesso na conduta. 
Assim, agindo o réu em legítima defesa, é notório que ele não 
praticou nenhum crime, consoante o disposto no artigo 23, inciso II do Código Penal: 
Art. 23. Não há crime quando o agente pratica 
o fato: 
II – em legítima defesa; 
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Portanto, tendo em vista que o acusado não praticou crime, já que 
agiu em legítima defesa putativa, sua absolvição é medida que se impõe. O artigo 
415, inciso IV do Código de Processo Penal assim dispõe: 
Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá 
desde logo o acusado, quando: 
IV – demonstrada causa de isenção de pena ou 
de exclusão do crime. 
Diante disso, demonstrada a causa de exclusão do crime por ter 
sido cometido em legítima defesa de terceiro, com base nos artigos acima 
transcritos, a absolvição do réu se faz necessárias como medida de justiça. 
 
DO MÉRITO 
DA ABSOLVIÇÃO PELA ATIPICIDADE DE CONDUTA 
Observa que sua conduta se amolda ao dispositivo do artigo 20, 
§1º, do código penal – erro sobre elementos do tipo: 
Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do 
tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a 
punição por crime culposo, se previsto em lei. 
§ 1º - É isento de pena quem, por erro 
plenamente justificado pelas circunstâncias, 
supõe situação de fato que, se existisse, 
tornaria a ação legítima. Não há isenção de 
pena quando o erro deriva de culpa e o fato é 
punível como crime culposo. 
Portanto, de rigor a absolvição do réu, pois este cometeu o crime, 
tão somente, pelo erro sobre elementos, sendo sua conduta fato atípico, com base 
no artigo 415, IV do CPP. 
 
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DOS PEDIDOS: 
Diante de todo o exposto, postula-se a absolvição sumária do réu, 
por ter agido em legítima defesa putativa. Caso Vossa Excelência entenda não ser 
cabível a legítima defesa no caso em análise, postula-se a absolvição sumária do 
réu, por agir em estrito cumprimento do dever legal, ambos com fundamento no 
artigo 415, inciso IV do Código de Processo Penal, como medida da mais lídima 
justiça. 
Se porventura, Vossa Excelência entender pela condenação do 
réu, requer-se, na dosimetria da pena, que seja reconhecida as atenuantes 
dispostas no artigo 65, III do Código Penal: b) procurado, por sua espontânea 
vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as 
consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano; c) cometido o crime 
sob a influencia de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima; d) 
confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime. Visto que, 
seja respeitado o princípio da proporcionalidade da pena, previsto no art. 5º, § 2 da 
Constituição Federal. 
Ainda, havendo condenação, que seja fixado o regime inicial de 
cumprimento de pena aberto, uma vez que restarão preenchidos os requisitos legais 
previstos no art. 33, §1º, “c”, do Código Penal OU os requisitos preenchidos em 
jurisprudência consolidada, conforme entendimento colacionado no item anterior. 
 
 
Nos termos, 
Pede deferimento. 
 
Local, data. 
 
 
Advogado- OAB... 
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