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3 Modelagem matemática de sistemas mecânicos Introdução Método de Newton Método do sistema equivalente Método de energia Questionário Problemas Referência: Rao 2.2.1 a 2.2.3; 6.1 a 6.3 3.1 Introdução Existem vários métodos para deduzir o modelo matemático (equações diferenciais do movimento) de um sistema mecânico. Estudaremos os seguintes: • Método de Newton • Método do sistema equivalente • Método de energia 3.2 Método de Newton Baseia-se na aplicação da 2a Lei de Newton: “A taxa de variação temporal da quantidade de movimento linear (angular) de uma massa é igual à força resultante (ao momento resultante) atuando sobre ela”. No nosso estudo trataremos apenas do movimento plano de um corpo rígido, para o qual as equações fundamentais da dinâmica newtoniana são: • Translação: (3.1) • Rotação em torno de um eixo passando pelo centro de massa C: (3.2) • Rotação em torno de um eixo passando por um ponto fixo O que não seja o centro de massa C: (3.3) • rotação em torno de um eixo passando por um ponto S, móvel, paralelo ao eixo que passa pelo centro de massa: SC/SSS mJt .. x )( RrθM .. += (3.4) onde, de acordo com o Teorema de Steiner, 2C/SCS mrJJ += (3.5) .. xF m)t( = .. θM CC J)t( = .. θM OO Jt =)( 3 Modelagem matemática de sistemas mecânicos - 3-2 Procedimento: 1. Selecionar coordenadas generalizadas adequadas: lineares para a descrição das translações dos centros de massa dos corpos rígidos ou angulares para a descrição das rotações dos mesmos; 2. Definir as posições de equilíbrio estático do sistema e usá-las como origens das coordenadas escolhidas; 3. Desenhar os Diagramas de Corpo Livre (DCL) dos corpos rígidos para posições de deslocamentos, velocidades e acelerações positivas, representando todas as forças e momentos externos que atuam sobre os corpos; 4. Aplicar a 2a Lei de Newton a cada corpo rígido. A seguir, será ilustrado o procedimento acima, através de alguns exemplos. Ex. 3.1: Desenvolver o modelo matemático para o sistema massa-mola-amortecedor (m-k-c) com 1 GDL da fig. 3.1. Fig. 3.1 Movimento horizontal de um sistema m-k-c com 1 GDL. Este é o conhecido sistema mecânico translacional padrão, com 1 GDL. 1. Vamos selecionar como coordenada generalizada a translação horizontal do centro de massa do corpo rígido, x(t), conforme mostra a figura acima; 2. Vamos definir como origem da coordenadas x(t) a posição em que a mola ainda não se encontra deformada; 3. O diagrama de corpo livre correspondente está mostrado na fig. 3.2, onde estão representadas todas as forças externas atuando sobre a massa m, na direção x. Fig. 3.2 Diagrama de corpo livre. 4. Aplicando a 2 a Lei de Newton, eq. (3.1): ... )( xmkxxctF =−− )( ... tFkxxcxm =++ (3.6) O modelo matemático ilustrado pela eq. (3.6) será largamente utilizado nos capítulos seguintes. Observação importante: a destreza na construção correta dos diagramas de corpo livre é proporcional à quantidade de exercícios realizados. 3 Modelagem matemática de sistemas mecânicos - 3-3 Ex. 3.2: Desenvolver o modelo matemático para o sistema massa-mola-amortecedor (m-k-c) com um grau de liberdade. Fig. 3.3 Movimento vertical de um sistema m-k-c com 1 GDL. 1. Vamos selecionar como coordenada generalizada a translação vertical do centro de massa do corpo rígido, y(t), conforme mostra a figura acima; 2. Vamos definir como origem da coordenadas y(t) a posição em que a mola ainda não se encontra deformada pela ação do peso mg da massa m; 3. O diagrama de corpo livre correspondente está mostrado na fig. 3.4, onde estão representadas todas as forças externas atuando sobre a massa m. Fig. 3.4 Diagrama de corpo livre. 4. Aplicando a 2 a Lei de Newton, eq. (3.1): ... )( ymmgkyyctF =−−− )( ... tFmgkyycym =+++ (3.7) a qual pode ser simplificada eliminando o efeito do peso mg. Para isso, vamos medir o deslocamento a partir da posição de equilíbrio estático, x(t), obtida a partir da posição anterior, y(t), porém deixando que a mola sofra uma deflexão estática δest, conforme fig. 3.5: Fig. 3.5 Posição de equilíbrio estático. A deflexão da mola equilibra o peso, logo mg = kδest (3.8) Por outro lado, conforme mostra a figura acima, podemos fazer a transformação de coordenadas y(t) = x(t) - δest 3 Modelagem matemática de sistemas mecânicos - 3-4 Derivando duas vezes esta última equação e levando-as, juntamente com a eq. (3.8), na eq. (3.7), chegamos, após simplificações, a: )( ... tFkxxcxm =++ (3.9) Portanto, se adotarmos a coordenada x(t) a partir da posição de equilíbrio estático, podemos omitir o peso mg, o que é vantajoso, pois podemos usar essa última equação diferencial como modelo matemático para sistemas mecânicos de 2 a ordem que transladem tanto na vertical como na horizontal. Ex. 3.3: Suspensão de um veículo com dois graus de liberdade. Desenvolver o modelo matemático para o sistema simplificado da suspensão independente de um carro, onde é considerado apenas o movimento de uma das rodas do veículo, conforme ilustra a fig. 3.6: Fig. 3.6 Suspensão veicular simplificada. A rigidez do pneu é modelada pela mola k1. As massas do pneu, roda, eixo e demais peças não suspensas distribuídas a essa roda, são modeladas pela massa m1. O coeficiente de amortecimento do amortecedor viscoso e a rigidez da mola da suspensão são modelados, respectivamente, por c e k2. Já a massa suspensa distribuída àquele ¼ de suspensão é modelada pela massa m2. 1. Vamos adotar as coordenadas x1 e x2 para a descrição dos movimentos das massas m1 e m2, respectivamente; a coordenada x0 servirá para descrever o movimento do solo, devido às irregularidades do terreno; 2. Vamos definir as posições de equilíbrio estático do sistema como origens das coordenadas escolhidas; 3. O diagrama de corpo livre do sistema é mostrado na fig. 3.7, onde foi considerado que x2 > x1 > x0. Fig. 3.7 Diagramas de corpo livre. 4. Aplicando a 2 a Lei de Newton a cada corpo rígido: massa 1: 1 .. 11 . 2 . 122011 xm)xx(c)xx(k)xx(k =−+−+−− massa 2: 2 .. 21 . 2 . 122 xm)xx(c)xx(k =−−−− 3 Modelagem matemática de sistemas mecânicos - 3-5 Ordenando as EDOL´s, obtemos o modelo matemático do sistema com dois graus de liberdade: 01221212 . 1 . 1 .. 1 xkxkx)kk(xcxcxm =−++−+ (3.10) 0xkxkxcxcxm 22122 . 1 . 2 .. 2 =+−+− que pode ser colocado na forma matricial, na qual podemos identificar certos vetores e matrizes: = − −+ + − − + 00 0 0 1 2 1 22 221 2 . 1 . 2 .. 1 .. 2 1 x k x x kk kkk x x cc cc x x m m (3.11)onde as matrizes são todas 2 x 2 (no de GDL = 2) e os vetores são todos 2 x 1. Ex. 3.4 (Rao Ex. 6.1) - Sistema acoplado por molas e amortecedores com n GDL. Desenvolver o modelo matemático para o sistema da fig. 3.8 Fig. 3.8 Sistema com n GDL, acoplado por molas e amortecedores. O sistema acima é o mais completo sistema acoplado por molas e amortecedores. Assim sendo, podemos deduzir um modelo matemático para ele, o qual poderá ser aproveitado para sistemas mais simples, desde que tenha a mesma configuração acima. Um sistema real que pode ser modelado conforme a figura acima é a composição ferroviária, onde as massas representam os vagões e as molas e amortecedores representam os engates. Vamos usar o Método de Newton, considerando uma massa genérica mi, cujo DCL é apresentado abaixo: Vetor excitação Vetor deslocamento Matriz rigidez Vetor velocidade Matriz amortecimento Vetor aceleração Matriz massa (ou inércia) 3 Modelagem matemática de sistemas mecânicos - 3-6 Fig. 3.9 DCL para a massa genérica mi. Aplicando a 2 a Lei de Newton à massa genérica mi: Ordenando, chegamos ao modelo matemático (3.12) A equação acima é válida para a massa genérica mi. Podemos fazer i = 1, 2, ..., n para obter o sistema de n EDOL´s que constituem o modelo matemático. Tal sistema de EDOL´s, pode ser colocado sob forma matricial: Fig. 3.10 Modelo matemático do sistema da fig. 3.8 na forma matricial Sob forma compacta: (3.13) A comparação das matrizes da fig. 3.10 com a fig. 3.8 do sistema sugere um método para a montagem da equação matricial sem necessidade de aplicar o Método de Newton. Regras: • Vetores: vetores colunas com os elementos colocados em seqüência, de cima para baixo; • Matriz [m]: matriz diagonal, com as massas ocupando a diagonal principal em seqüência, do elemento m11 ao elemento mnn; = +− +− −+− −+ + + +− +− −+− −+ + + + n 3 2 1 n 3 2 1 1nnn 433 3322 221 n . 3 . 2 . 1 . 1nnn 433 3322 221 n .. 3 .. 2 .. 1 .. n 3 2 1 F ... F F F x ... x x x )kk(k...000 ............ 00...)kk(k0 00...k)kk(k 00...0k)kk( x ... x x x )cc(c...000 ............ 00...)cc(c0 00...c)cc(c 00...0c)cc( x ... x x x m0...000 .................. 00...m00 00...0m0 00...00m Matriz diagonal [m] Matriz simétrica [c] Vetor . [x] Matriz simétrica [k] Vetor [x] Vetor [F] Vetor .. [x] )]([]][[]][[]][[ txkxcxm F ... =++ i1i1ii1ii1ii1i . 1ii . 1ii1i . ii .. i Fxkx)kk(xkxcx)cc(xcxm =−++−−++− +++−+++− iiiiiiiiiiiiiii xmxxkxxkxxcxxctF .. 111 . 1 . 11 .. )()()()()( =−+−−−+−− ++−++− 3 Modelagem matemática de sistemas mecânicos - 3-7 • Matrizes [c] e[k]: matrizes simétricas, com os elementos da diagonal principal sendo constituídos, respectivamente, pela soma dos coeficientes de amortecimento ou das rigidezes existentes antes e depois das massas que ocupam aquela mesma posição na matriz [m]; para os elementos fora da diagonal principal (posição genérica cij ou kij), colocar o coeficiente de amortecimento ou a rigidez que conecta as massas mi e mj, porém com o sinal negativo. Obs.: essas regras só se aplicam a sistemas acoplados por molas/amortecedores. Ex. 3.5 Sistema inércia - mola torcional - amortecedor torcional, com 1GDL. Desenvolver o modelo matemático para o sistema da fig. 3.11. Fig. 3.11 Sistema torcional com 1 GDL. Este modelo é conhecido como sistema mecânico torcional padrão com 1 GDL. 1. Tendo em vista que o movimento de rotação se dá em torno de um eixo que passa pelo centro de massa da massa de momento de inércia J, vamos adotar a coordenada angular θ; 2. Vamos definir a posição de equilíbrio estático do sistema (aquela em que a mola torcional não está deformada) como origem da coordenada escolhida; 3. O diagrama de corpo livre do sistema é mostrado na fig. 3.12: Fig. 3.12 Diagrama de corpo livre. 4. Aplicando a 2 a Lei de Newton para o movimento de rotação em torno de um eixo passando pelo centro de massa C (eq. (3.2)): ••• =−− θθθ Ctt JcktM )( )(tMkcJ ttC =++ ••• θθθ (3.14) que é o modelo matemático desse sistema torcional com 1 GDL. Observemos que, matematicamente, é a mesma EDOL (3.6). Ex. 3.6 Pêndulo simples. Desenvolver o modelo matemático para o pêndulo simples da Fig. 3.13. Trata-se, agora, de um sistema sem mola e sem amortecedor no qual o armazenamento de energia potencial gravitacional se dá na própria massa, já que não existe mola no sistema. Além disso, não existe forçamento externo, sendo a causa do movimento um deslocamento inicial e/ou uma velocidade inicial atuando sobre a massa pontual m. •• = θM CC Jt)( 3 Modelagem matemática de sistemas mecânicos - 3-8 Fig. 3.13 Pêndulo simples. 1. Como o movimento de rotação se dá em torno de um eixo que passa pelo centro de rotação O, vamos adotar a coordenada angular θ; 2. Vamos definir a posição de equilíbrio estático do sistema (aquela em que o pêndulo está em repouso na vertical) como origem da coordenada escolhida; 3. O diagrama de corpo livre do sistema é mostrado na fig. 3.14: Fig. 3.14 Diagrama de corpo livre. 4. Aplicando a 2 a Lei de Newton para o movimento de rotação em torno de um eixo passando pelo centro de rotação O (eq. (3.3)) e considerando pequenas oscilações θ (nas quais o seno de um ângulo é praticamente igual ao valor do ângulo em radianos): •• =− θθ 2mLmgL 0=+ •• θθ L g (3.15) que é o modelo matemático do pêndulo simples. Ex. 3.7 Sistema mola-disco. Desenvolver o modelo matemático para o sistema da Fig. 3.15 no qual o disco rola sem deslizar sobre o plano horizontal. Dado: momento de inércia do disco = 2 mr 2 1 . Fig. 3.15 Sistema mola-disco. 1. Neste caso, o movimento de rotação se dá em torno de um eixo que passa pelo centro instantâneo de rotação, que é o ponto de contato do disco com o solo. Vamos adotar a coordenada angular θ; •• = θM OO Jt)( 3 Modelagem matemática de sistemas mecânicos - 3-9 2. Vamos definir a posição de equilíbrio estático do sistema (aquela em que a mola não está deformada) como origem da coordenada escolhida; 3. O diagrama de corpo livre do sistema para as forças que atuam na direção x(t) é mostrado na fig. 3.16: Fig. 3.16 Diagrama de corpo livre 4. Vemos, neste caso, que o centro de rotação instantâneo S sofre translação. Portanto, devemos aplicar a 2 a Lei de Newton para o movimento de rotação em torno de um eixo passando pelo centro de rotação móvel S (eq. (3.4)): SC/SSS mJt .. x )( RrθM .. += Usando o Teorema de Steiner(eq. (3.5)), determinamos o momento de inércia JS: 222 2 3 2 1 mrmrmrJ S =+= Por outro lado, o momento resultante MS, provocado apenas pela força da mola, é dado por MS = - kxr = - kr 2θ onde foi usada a equação de restrição x = rθ que liga as coordenadas x e θ. Além disso, o produto vetorial SSC x .. / Rr é nulo, pois ambos os vetores são colineares, com sentido de S para C. Notemos que o ponto S tem velocidade nula porém possui aceleração radial 2... θrR S = não nula, dirigida para o centro de massa; assim, o que torna nulo o termo SSC x .. / Rr é a definição de módulo do produto vetorial, dada por αsenx SSCSSC .. / .. / RrRr = , onde α = 0 é o ângulo formado pelos dois vetores. Finalmente, levando essas informações na eq. (3.4) e simplificando, chegamos ao modelo matemático 0 3 2.. =+ θθ m k (3.16) Ex. 3.8 Sistema carro-pêndulo simples. Desenvolver o modelo matemático para o sistema da Fig. 3.17, a qual mostra um carro de massa M que desliza sobre uma superfície horizontal sem atrito. Ele está ligado à parede por uma mola k e um amortecedor viscoso c e é submetido a um forçamento F(t). O centro de massa do carro serve como eixo de rotação de um pêndulo simples de massa pontual m e comprimento L. Deduzir o modelo matemático para pequenas oscilações θ. Fig. 3.17 Sistema carro-pêndulo simples. 3 Modelagem matemática de sistemas mecânicos - 3-10 Temos agora um sistema multicorpo (duas massas) com dois graus de liberdade: x para descrever a translação do carro de massa M e θ para descrever a rotação do pêndulo de massa m. 1. Vamos adotar as coordenadas x(t) para a translação da massa M e θ(t) para a rotação do pêndulo simples em torno do centro de massa de M, o qual translada horizontalmente; 2. Vamos definir as posições de equilíbrio estático do sistema (aquela em que a mola não está deformada e o pêndulo repousa na vertical) como origens das coordenadas escolhidas; 3. A fig. 3.18 mostra o diagrama de corpo livre no qual estão mostradas apenas as forças que produzem translação na direção x e o peso mg que produz momento em relação ao centro de rotação móvel, ponto S: Fig. 3.18 Diagrama de corpo livre 4. Vemos, neste caso, que o centro de rotação instantâneo S sofre translação. Portanto, devemos aplicar a 2a Lei de Newton para o movimento de rotação em torno de um eixo passando pelo centro de rotação móvel S (eq. (3.4)): SSCSS xmJM .. / Rrθ .. += onde ...... / cos) 2 ( xmLsenxmLxm SSC θθ π =−=Rr JS = mL 2 (momento de inércia de massa pontual) MS = - mgLsenθ Levando tudo na eq. (3.4) e ordenando, chegamos a 0cos .... 2 =++ θθθ mgLsenxmLmL (3.17) Já para o movimento de translação da massa M aplicamos a 2a Lei de Newton, eq. (3.1); logo, na direção x temos (levando em conta que são 2 massas a considerar): CxmxMxckxtF ..... )( +=−− (3.18) Tendo em vista que θθθθ θθ θ LsenLxx Lxx Lsenxx C C C 2....... ... cos cos −+= += += podemos levar essas informações na eq. (3.18) e obter, após ordenação: )(cos)( 2...... tFkxmLsenxcmLxmM =+−+++ θθθθ (3.19) Para pequenas oscilações θ, podemos considerar cosθ ≈ 1, senθ ≈ θ e 0 . ≈θ , e substituir nas eqs. (3.17) e (3.19) para obter o modelo matemático linearizado 3 Modelagem matemática de sistemas mecânicos - 3-11 )()( ..... tFkxxcmLxmM =++++ θ (3.20) 0 .. 2 .. =++ θθ mgLmLxmL (3.21) o qual pode ser posto na forma matricial: = + + + 0 )( 0 0 00 0 . . .. .. 2 tFx mgL kxcx mLmL mLmM θθθ (3.22) 3.3 Método do sistema equivalente Conforme já vimos, um sistema mecânico com apenas um GDL pode ser representado conforme a Fig. 3.19: Fig. 3.19 Sistema mecânico translacional com 1 GDL. onde a origem O denota a posição de equilíbrio estático (mola e o amortecedor não estão nem tracionados e nem comprimidos), sendo o seu modelo matemático dado pela EDOL de 2 a ordem )()()()( ... tFtkxtxctxm =++ (3.23) A equação acima também é válida para o movimento na direção vertical, desde que a origem seja adotada na posição de equilíbrio estático, ou seja, na posição em que a mola se encontra já deformada e assim equilibrando o peso da massa. O sistema acima é denominado sistema padrão com um GDL e a EDOL correspondente é conhecida como forma padrão do modelo matemático. Existem, entretanto, muitos sistemas mecânicos com um GDL que são bem mais complexos do que o sistema dado pela figura anterior. Por exemplo, o sistema da figura abaixo, apesar de possuir duas massas (uma translacional e outra rotativa), tem apenas um grau de liberdade. Fig. 3.20 Sistema mecânico híbrido, com massas translacionais e rotativas A questão que naturalmente se põe é: será possível obter um sistema equivalente ao sistema da fig. 3.20 mas com a mesma configuração do sistema padrão da fig. 3.19? A resposta é positiva. A vantagem principal de adotarmos o método do sistema equivalente reside no fato de que já conhecemos de antemão o modelo matemático e que, além disso, podemos 3 Modelagem matemática de sistemas mecânicos - 3-12 aproveitar todos os resultados obtidos, ao solucionarmos a EDOL acima, conforme veremos mais tarde. A Fig. 3.21 ilustra o objetivo do método: Fig. 3.21 Transformação sistema complexo → sistema padrão. Portanto, o modelo matemático do sistema equivalente será obtido através de uma pequena adaptação da eq. (3.23) do sistema padrão, resultando em: )()()()( ... tFtxktxctxm eqeqeqeq =++ (3.24) onde meq, ceq e keq serão obtidas pelos procedimentos já estudados anteriormente. A determinação de Feq deverá ser feita de acordo com os princípios da mecânica. Portanto, através deste método, podemos economizar o trabalho de dedução da EDOL do sistema, bastando encontrar os parâmetros do mesmo (massa equivalente, coeficiente de amortecimento equivalente e rigidez equivalente). Ex. 3.9 Sistema mola-disco. Desenvolver o modelo matemático para o sistema do Ex. 3.7, mostrado na Fig. 3.15, no qual o disco rola sem deslizar sobre o plano horizontal. Dado: momento de inércia do disco = 2 mr 2 1 . • Determinação de meq • Determinação de keq kk kxxk eq eq = = 22 2 1 2 1 • Determinação de ceq ceq = 0 • Determinação de Feq Feq = 0 Substituindo na eq. (3.24): 0 2 3 .. =+ kxxm 0 3 2.. =+ x m k x (3.25) Se usarmos a equação de restrição x = rθ, chegamos a sistemaeq TT = mm mmm r x mrxmxm Jxmxm eq eq eq Ceq 2 3 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 2. 2 2.2. 2.2.2. = += += += θ sistemaeq UU = 3 Modelagem matemática de sistemas mecânicos - 3-13 0 3 2 0 3 2 .. .. =+ =+ θθ θθ m k r m k r que é a mesma eq. (3.16) obtida anteriormentepelo método de Newton, quando foi usada a coordenada generalizada θ(t). Ex. 3.10 (Kelly-Schaum 1.32) – Determinar o modelo matemático para o sistema da figura, usando a coordenada generalizada o deslocamento do centro do disco, x(t). Desprezar a massa da polia. Dado: momento de inércia do disco = 2 mr 2 1 . Fig. 3.22 Aplicação do método do sistema equivalente. • Determinação de meq • Determinação de keq Obs.: A mola está conectada ao disco em A.. Quando o centro de massa do disco move-se x para a esquerda, A move-se 2x também para a esquerda. Portanto, a mola sofre uma deformação 3x, logo ( ) kk xkxk eq eq 9 3 2 1 2 1 22 = = • Determinação de ceq ceq = c (o amortecedor equivalente está na mesma coordenada que o amortecedor do sistema). • Determinação de Feq Feq = 0 Substituindo na eq. (3.24): 09 2 3 ... =++ kxxcxm (3.26) sistemaeq TT = mm mmm r x mrxmxm Jxmxm eq eq eq Ceq 2 3 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 2. 2 2.2. 2.2.2. = += += += θ sistemaeq UU = 3 Modelagem matemática de sistemas mecânicos - 3-14 3.4 Método de energia Baseia-se na aplicação do Princípio da Conservação da Energia. Em conseqüência, aplica-se somente a sistemas conservativos, ou seja, aqueles em que não há acréscimo e nem perda de energia por atrito, logo admitimos que a energia permaneça constante: T + U = constante (3.27) onde T é a energia cinética e U é a energia potencial. Procedimento: 1. Determinamos as energias cinéticas para todas as massas do sistema: sistema translacional: 2. xm 2 1 T = (3.28) sistema rotacional: 2. C xJ 2 1 T = (3.29) 2. Determinamos a variação das energias potenciais elásticas para todas as molas do sistema: sistema translacional: 2 kx 2 1 U = (3.30) sistema rotacional: 2 tk 2 1 U θ= (3.31) Obs.: se for o caso, consideramos também as variações das energias potenciais gravitacionais de todas as massas do sistema: mghU = (3.32) 3. Aplicamos o Princípio da Conservação da Energia, eq. (3.27): T + U = constante 4. Derivamos em relação ao tempo: (3.33) 5. Substituímos T e U, dadas pelas eqs. (2.7) e (2.8), respectivamente, na eq. (2.6) e simplificamos, chegando automaticamente ao modelo matemático. Ex. 3.11: Sistema massa-mola (m, k) na horizontal, com um grau de liberdade. 1. Determinamos a energia cinética do sistema: 2. xm 2 1 T = 2. Determinamos a variação da energia potencial do sistema: 2 2 1 kxU = Obs.: como o sistema atua na horizontal, não há variação da energia potencial gravitacional. 0)UT( dt d =+ 3 Modelagem matemática de sistemas mecânicos - 3-15 3. Aplicamos o Princípio da Conservação da Energia: tetanconskx 2 1 xm 2 1 2 2. =+ 4. Derivamos em relação ao tempo: 5. Substituímos T e U na eq. (3.34) e simplificamos, chegando a: 0xkxxxm 0)kx 2 1 xm 2 1 ( dt d .... 2 2. =+ =+ A velocidade . x só será nula nas extremidades, de modo que podemos dividir toda a equação por . x , chegando ao modelo matemático do sistema, idêntico ao obtido pelo método de Newton: 0kxxm .. =+ Ex. 3.12 (Steidel 3.27) – Deduzir o modelo matemático para o instrumento da figura, usando o método de energia. Fig. 3.23 Instrumento de medição de vibração 1. Determinamos a energia cinética do sistema: 2 .2. 2 1 2 1 == θamxmT 2. Determinamos a variação da energia potencial do sistema: ( ) ( )22 2 1 2 2 2 1 2 1 2 1 θθ bkakkxU +== Obs.: foi desprezada a variação da energia potencial gravitacional na presença da energia potencial elástica. 3. Aplicamos o Princípio da Conservação da Energia: T + U = constante 4. Derivamos em relação ao tempo: 5. Substituímos T e U na eq. (3.34) e simplificamos, chegando a: 0)UT( dt d =+ 0)UT( dt d =+ 3 Modelagem matemática de sistemas mecânicos - 3-16 ( ) ( ) 02 02 02 2 1 2 1 2 1 . 2 2 2 1 .. 2 . 2 2 . 2 1 ... 2 2 2 2 1 2 . = ++ =++ = ++ θθθθ θθθθθθ θθθ bkakma bkakma bkakam dt d A velocidade . θ só será nula nas extremidades, de modo que podemos dividir toda a equação por . θ , chegando ao modelo matemático: ( ) 02 2221 .. 2 =++ θθ bkakma Questionário 01. Quais os métodos mais utilizados na modelagem de sistemas mecânicos? 02. Em que se baseia o método de Newton? 03. Cite os 4 passos do procedimento que utiliza o método de Newton na modelagem de sistemas mecânicos. 04. Na modelagem de sistemas translacionais verticais, onde deve ser colocada a origem da coordenada generalizada? Por quê? 05. No caso de sistemas acoplados por molas e amortecedores, explique o método usado para a montagem da equação matricial sem necessidade de aplicar o Método de Newton. 3 Modelagem matemática de sistemas mecânicos - 3-17 06. Escrever as 3 equações que descrevem a rotação de um corpo rígido, identificando (nomeando) todos os parâmetros contidos nas mesmas e explicando as situações em que elas são utilizadas. 07. Em que consiste o método do sistema equivalente. Qual a vantagem dele em relação ao método de Newton? 08. Cite os passos seguidos na modelagem de um sistema pelo método de energia. 09. Pode o método de energia ser utilizado em sistemas com amortecimento? Por quê? Problemas Nos problemas seguintes o estudante deve, quando possível, usar os 3 métodos estudados para desenvolver os modelos matemáticos. Isso permitirá uma comparação dos métodos. 3 Modelagem matemática de sistemas mecânicos - 3-18 3.1 (Rao Ex. 2.6) – Deduzir o modelo matemático para o pêndulo composto da figura, supondo pequenas oscilações. Resp.: 0 .. =+ θθ mgdJ O 3.2 - Dado o pêndulo com massa distribuída da figura, deduzir o Modelo matemático, considerando pequenas oscilações. Resp.: 0 2 3.. =+ θθ l g 3.3 - Idem problema 3.2, porém agora existe uma massa concentrada M na extremidade da haste e um amortecedor viscoso torcional ct na articulação O. Resp.: 0 ) 3 ( ) 2 ( ) 3 ( . 2 .. = + + + + + θθθ lM m gM m lM m ct 3.4 - Deduzir o modelo matemático para o sistema massa-amortecedor da figura. Resp.: )( ... tFxcxm =+ 3.5 -Sistema engrenado - A figura mostra um sistema com duas engrenagens, estando a maior delas (N1 dentes, momento de inércia J1 e raio primitivo r1) conectada a um eixo cuja outra extremidade está fixada a uma estrutura. Sobre aengrenagem menor (N2 dentes, momento de inércia J2 e raio primitivo r2) atua um torque T(t) = Tsen ωt. Deduzir o modelo matemático 3 Modelagem matemática de sistemas mecânicos - 3-19 Resp.: tT N N k N N JJ t ωθθ sen 2 1 11 .. 2 2 1 21 =+ + 3.6 (Rao 6.5) – Deduzir o modelo matemático para o trem de engrenagens da figura. O sistema tem 4 GDL. Resp.: = − − +− − +− − + + + 0 0 0 cos 00 0 0 00 000 000 000 000 1 4 3 2 1 3 5 4 3 5 4 3 2 5 4 32 3 2 2 3 2 2 2 3 2 211 11 4 .. 3 .. 2 .. 1 .. 6 2 5 4 54 2 3 2 32 1 tM k n n k n n k n n kk n n k n n k n n kkk kk I n n II n n II I tt tttt tttt tt ω θ θ θ θ θ θ θ θ 3.7 (Rao 6.1) – Deduzir o modelo matemático para o sistema da figura: Resp.: = −− −− −− + )( )( )( 75 2 57 00 00 00 3 2 1 3 2 1 3 .. 2 .. 1 .. 3 2 1 tF tF tF x x x kkk kkk kkk x x x m m m 3.8 –Sistema motor-propulsor - O sistema da figura tem 2 GDL. Adotar as coordenadas θ1 e θ2, respectivamente, para descrever os movimentos de rotação do motor e do propulsor. O momento de inércia das peças rotativas do motor é representado por Je e o momento de inércia do propulsor por Jp. O torque de acionamento do motor é dado por M(t). Considerar que o eixo tem massa desprezível em comparação com as massas do motor e do propulsor, sendo ele representado por uma rigidez torcional kt. Admitir, também, a existência de um torque de resistência aerodinâmica, proporcional ao quadrado da velocidade de rotação do propulsor. Deduzir o modelo matemático. 3 Modelagem matemática de sistemas mecânicos - 3-20 Resp.: )(- 211 .. tMkkJ tte =+ θθθ 0- 21 2 2 . 2 .. =++ θθθθ ttp kkCJ (modelo matemático: duas equações diferenciais: uma linear e outra não-linear). 3.9 A figura mostra o motor de um barco (torque Te(t) e momento de inércia Je) acionando o propulsor a hélice (momento de inércia Jp), através de acoplamentos (momentos de inércia Jc1 e Jc2) e eixos flexíveis (rigidezes kt1 e kt2). Desenvolver um modelo matemático para o sistema, incluindo o torque resistente Tw que a água oferece ao movimento. Resp.: − − = − − − − + w c e p c c e tt tt tt tt p c c e p c c e T Tc T tT kk kk kk kk J J J J )( 00 00 00 00 000 000 000 000 2 1 22 22 11 11 .. 2 .. 1 .. .. 2 1 θ θ θ θ θ θ θ θ 3.10 – Sistema carro-pêndulo invertido. Deduzir o modelo matemático para o sistema da figura, considerando pequenas oscilações do pêndulo. Resp.: = +− + + + + +++ 0 )( 2 0 00 00 0 32 2 . . .. .. 2 tFx gL m m xcx L m mL m m L m mmmM c cc cc θθθ 3 Modelagem matemática de sistemas mecânicos - 3-21 3.11 – Deduzir o modelo matemático para o sistema mecânico da figura. Resp.: r )t(M kx5xcx r J m ... 2 =++ + 3.12 – Deduzir o modelo matemático para o sistema mecânico da figura, onde 2C ml 12 1 J = Resp.: = + + + 0 0x mglkl2kl2 kl2k3x clcl clc2x ml 3 2 ml mlm3 2. . 2.. .. 2 θθθ 3 Modelagem matemática de sistemas mecânicos - 3-22 3.13 - Sistema motor-bomba montado sobre uma base. A figura (a) mostra um sistema motor-bomba montado sobre uma base. A figura (b) ilustra o modelo físico simplificado deste sistema. Desenvolver o modelo matemático usando as coordenadas x(t), translação vertical do C. G. e θ(t), que descreve a rotação do conjunto. Resp.: ( ) ( ) = −−− −−+ + 0 0x lklklklk lklkkkx J0 0m 2 22 2 112211 221121 .. .. C θθ 3.14 - Deduzir o modelo matemático para o aerofólio da figura, usando as coordenadas x(t), translação vertical do ponto O e θ(t), que descreve a rotação do aerofólio em torno de um eixo horizontal que passa pelo ponto O. Resp.: = + − − 0 0x kke 0kx meJ0 mem t .. .. 2 G θθ
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