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PORTUGUÊS C4_3ANO_SP_LARANJA_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK.qxp 10/06/2020 21:45 Página I C4_3ANO_SP_LARANJA_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK.qxp 10/06/2020 21:45 Página II – 1 P O R T U G U ÊS FÍ S IC A A P O R T U G U ÊS FRENTE 1Gramática MÓDULO 25 Regência Verbal (II) É frequente, embora incorreta, a construção de períodos com verbos transitivos diretos e transitivos indiretos e um só complemento, direto ou indireto, em função do verbo mais próximo. Também incor retamente constroem-se períodos com verbos tran sitivos indiretos que regem dife rentes prepo sições e emprega-se somente a preposição exigida pelo verbo mais próximo do complemento. Exemplos Eles não concordam, mas admitem seu ponto de vista. O verbo concordar, transitivo indireto, rege a pre posição com. O verbo admitir é transitivo direto. Nesse caso, o período deveria ser reescrito. Sugestão: Eles não concor dam com o seu ponto de vista, mas o admitem. Eu me lembrei e respondi à sua carta. Lembrar-se rege a preposição de e responder rege a prepo si - ção a. O período deve, portanto, ser refor mulado. Su gestão: Eu me lembrei da sua carta e respondi a ela. 1. (FUVEST) – A chamada jornalística que apresenta um par de verbos com regências incompatíveis é: a) Exposição mostra como a moda interfere e molda a figura da mulher. b) O MST foi criado e mantido num tempo de impunidade. c) Israel ataca e invade o QG de Arafat. d) Estudo comprova que TV incita e amplifica atos de violência. e) Tecnologia digital faz ET voltar e encantar com imagens inéditas. RESOLUÇÃO: Os verbos interferir e moldar apresentam regências incom pa tíveis: o verbo interferir é transitivo indireto (= interferir em) e moldar é transitivo direto. A frase correta seria: “Exposição mostra como a moda interfere na figura da mulher e molda-a.” Resposta: A 2. (ESPM) – Embora de ocorrência frequente no cotidiano, a gramática normativa não aceita o uso do mesmo complemento para verbos com regências diferentes. Esse tipo de transgressão só não ocorre na frase: a) Pode-se concordar ou discordar, até radicalmente, de toda a po lítica externa brasileira. (Clóvis Rossi) b) Educador é todo aquele que confere e convive com esses co nhe - cimentos. (J. Carlos de Sousa) c) Vi e gostei muito do filme O Jardineiro Fiel, cujo diretor é um brasileiro. d) A sociedade brasileira quer a paz, anseia por ela e a ela aspira. e) Interessei-me e desinteressei-me pelo assunto quase que simulta - neamente. Resposta: D Texto para a questão 3. 3. (UNESP) – Neste período do texto, considerando que o verbo compreender não pede a preposição sobre, como ocorre com agir, a construção ficaria sintaticamente mais ade quada com a substituição da sequência “para compre ender e agir sobre o mundo real” por: a) para compreender o mundo real e agir sobre este. b) para compreender e agir o mundo real. c) para compreender sobre o mundo real e agir. d) para compreender o mundo real e agi-lo. e) para compreender o mundo real e agir-lhe. RESOLUÇÃO: Outra possibilidade, talvez mais elegante, de “nor malizar” a construção com os dois verbos de regências diferentes seria: “compreender o mundo real e agir sobre ele”. Resposta: A Texto para a questão 4. 4. (FGV-SP-2019) – De acordo com a norma-padrão, as lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e respectivamente, com: a) a ... pelo ... que ... as ... do b) em ... com o ... a que ... a ... ao c) nos ... do ... em que ... às ... o d) para ... com o ... que ... às ... do e) a ... pelo ... a que ... à ... ao RESOLUÇÃO: “Em seus shows” funciona como adjunto adverbial de lugar; o adjetivo “satisfeita” rege preposição com; o emprego da preposição a antes do pronome relativo que é regência do verbo “chegar”; “devido a” é locução prepositiva; o adjetivo “próxima” rege preposição a. Resposta: B E é na adolescência, como vimos, que a lingua gem adqui re essa qualidade de instrumento para compreender e agir sobre o mundo real. (Proposta Curricular do Estado de São Paulo: Língua Portuguesa / Coord. Maria Inês Fini. São Paulo: SEE, 2008. p. 16. Adaptado.) Artistas do hip-hop estadunidense costumam incorporar ________ seus shows elementos altamente tecnológicos. É o que faz o rapper Drake, com o uso de drones no palco durante seu single Elevate. A empresa de drones está satisfeita _________ uso de seus dispositivos aéreos nos shows do rapper: “Drake é o melhor __________ podemos chegar”, disse Raffaello D’Andrea, fundador da Verity. Um concerto ao ar livre representa desafios para o voo dos drones devido _________ intempéries climáticas e restrições de espaço, além do público. O mau funcionamento poderia ocasionar a queda dos drones na multidão, de forma que foi decidido que os dispositivos voadores ficassem apenas na região próxima _________ palco, em volta do artista. (https://canaltech.com.br. Adaptado) C4_3ANO_SP_LARANJA_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK.qxp 10/06/2020 21:45 Página 1 2 – P O R T U G U ÊS 5. (UNIFESP) – Analise a capa de um folder de uma campanha de trânsito. Explicitando-se os complementos dos verbos em “Eu cuido, eu respei to.”, obtém-se, em conformidade com a norma padrão da língua portuguesa: a) Eu a cuido, eu respeito-lhe. b) Eu cuido dela, eu lhe respeito. c) Eu cuido dela, eu a respeito. d) Eu lhe cuido e respeito. e) Eu cuido e respeito-a. RESOLUÇÃO: Os verbos cuidar e respeitar têm regências diferentes; o primeiro é transitivo indireto e rege a preposição a; o segundo é transitivo direto, funcionando o pronome a como seu objeto direto. Resposta: C Texto para as questões 6 e 7. 6. (UNIFESP) – O título do texto é sugestivo, porque a) ironiza o nome composto de um estado brasileiro para mostrar que ele conta com 50% de sua cobertura florestal original. b) recupera o nome composto de um estado brasileiro para reforçar a ideia de se preservar a maior reserva da floresta tropical. c) explora o nome composto de um estado brasileiro para mostrar que nele se desenvolvem negócios lucrativos. d) desconstrói o nome composto de um estado brasileiro para sugerir o alto nível de desmatamento nele presente. e) emprega em sentido figurado o nome de um estado brasileiro, para sugerir que nele o desmatamento está em vias de retrocesso. RESOLUÇÃO: O título do texto é polissêmico, pois pode referir-se ao nome do estado (Mato Grosso), ou, com a pausa, ao progressivo desmatamento do Estado. Resposta: D 7. (UNIFESP) – Com base nos princípios de regência, está correto o contido em a) I, apenas. b) III, apenas. c) I e II, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III. RESOLUÇÃO: No item I, o erro ocorre na regência do verbo chegar, que rege a preposição a. Em II, o adjetivo devido rege a preposição a: ao agronegócio, à exploração ma dereira nacional e à especulação fundiária. Resposta: B 8. (ITA-SP-2019) – Assinale a alternativa em que ocorre desvio da norma culta. a) Fui tentar entender e não me faltaram explicações: é grafite, é tribal, coisas de difícil compreensão. b) O pequeno vândalo escondido dentro de mim busca frases na memória e, então, sinto até o cheiro da lama de Woodstock [...] c) Depois arriscaria uma frase que criei e gosto [...] d) Desde os primórdios dos tempos, usamos a escrita como forma de expressão [...] e) Poderia passar o dia todo pichando frases, as linhas vão se acabando e ainda tenho tanto a pichar... RESOLUÇÃO: Os verbos criar e gostar possuem regências diferentes. “Criar” é transitivo direto e “gostar” é transitivo indireto, regendo a preposição “de”. Portanto, o correto para construção do período seria: Depois arriscaria uma frase que criei e de que gosto. Resposta: C 9. (FUVEST) – Dentre estas propostas de substituição para diferentes trechos do texto, a única que NÃO está correta do ponto de vista da norma-padrão é: a) “Para onde vai ele, (…)?” = Aonde vai ele, (…)? b) “O operário não lhe sobra tempo de perceber” = Ao operário não lhe sobra tempo de perceber. c) “Teria vergonha de chamá-lo meu irmão” = Teria vergonha de chamá-lo demeu irmão. d) “Tenho vergonha e vontade de encará-lo” = Tenho vergonha e vontade de o encarar. e) “Quem sabe se um dia o compreenderei” = quem sabe um dia compreenderei-o. RESOLUÇÃO: O pronome oblíquo átono o não poderia ser em pregado em posição enclítica com o verbo no futuro. Correta é a forma presente no texto. Resposta: E I. Antes de o ônibus espacial Discovery chegar na Terra, a co man - dante Eileen Collins chamou a atenção para o ritmo acelerado do desmatamento no planeta. II. O desmatamento no Brasil ocorre devido o agrone gócio, a explo - ra ção madeireira irracional e a especu lação fundiária. III. Segundo as projeções, existem possibilidades de que haja um ce - ná rio ambientalmente catastrófico para o estado de Mato Grosso. MATO, GROSSO ATÉ QUANDO? Em agosto de 2005, quando os astronautas do ônibus espacial Discovery retornaram à Terra, a comandante Eileen Collins cha mou a atenção para o ritmo acelerado do desmatamento no pla ne ta, facilmente observado do espaço. (...) O Brasil destaca-se nesse cenário tanto por ter a maior floresta tropical do mundo quanto por ser líder mundial em desmatamento. O agronegócio, a exploração madei reira irracional e a especu lação fundiária são as causas desse processo. Entre os estados, o Mato Grosso responde por quase 50% do desmatamento anual na Amazônia brasileira. A julgar pelo que ocorre no presente, as projeções apontam para um cenário ambientalmente catastrófico para esse estado, que chegará a 2020 com menos de 23% da sua cobertura florestal original. (Ciência Hoje, vol. 42, n.º 248, maio de 2008. Adaptado.) C4_3ANO_SP_LARANJA_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK.qxp 10/06/2020 21:45 Página 2 Texto para a questão 10. 10. (FGV) – Considere as seguintes afirmações sobre o texto: I) Ocorre oposição de sentido entre as expressões “plugados” e “off- line”, bem como entre as palavras “generalistas” e “hierarquia”. II) A ordem alfabética de que se vale o texto correspon de à ordem cronológica. III) Para caracterizar sociologicamente a geração Y, o redator se vale de um subentendido. Está totalmente correto apenas o que se afirma em a) III. b) I. c) II. d) II e III. e) I e III. RESOLUÇÃO: Em II, a sequência x, y e z designa três gerações sucessivas de jovens, portanto há ordenação cronológica. Em III, o redator vale- se do subentendido que os profissionais da geração y valorizam menos a qualidade de vida do que poder aquisitivo, diversamente da geração z que “valorizam mais a qualidade de vida ao poder aquisitivo”. A palavra “diferentes” possibilita essa inferência. Resposta: D 11. (FGV) – Pode-se corrigir o erro gramatical presente na frase “valorizam mais a qualidade de vida ao poder aquisitivo”, substituindo o verbo “valorizar” por “preferir” e fazendo as adaptações necessárias, como ocorre em: a) preferem mais a qualidade de vida do que o poder aquisitivo. b) preferem menos o poder aquisitivo e mais a qualidade de vida. c) ao poder aquisitivo, preferem a qualidade de vida. d) do que o poder aquisitivo preferem mais a qualidade de vida. e) preferem ao poder aquisitivo mais que à qualidade de vida. RESOLUÇÃO: O verbo preferir é transitivo direto e indireto e rege a preposição a: preferem a qualidade de vida ao poder aquisitivo. Resposta: C 12. (FUVEST-transferência) – A única frase correta quanto à regência verbal é: a) Ele disse que a festa que participou foi muito bem organizada. b) O novo projeto possibilita a população a um acesso mais igualitário aos bens culturais. c) Para se encontrar, quem vem à Universidade precisa recorrer a ma - pas e a pedir informações. d) Houve, no passado, algumas encruzilhadas difíceis nas quais tive - mos que decidir que lado estávamos. e) O combate à inflação, em geral, implica a tomada de medidas drásticas. Resposta: E Texto para a questão 13. 13. (USF) – Assinale a opção que relata o desvio gramatical encontrado na propaganda. a) A palavra dessa deveria ter sido grafada como desta, uma vez que faz referência a uma informação que já foi dada no texto principal. b) Em Língua Portuguesa, os adjetivos devem sempre aparecer depois dos substantivos que caracterizam. Portanto, orgulhosa deveria vir após patrocinadora. c) O verbo agradecer é intransitivo, portanto a preposição a antes de todos deveria ter sido omitida. d) O verbo assistir, nesse caso, é transitivo indireto, portanto a preposição a deveria aparecer antes do pronome relativo que, no texto principal. e) O verbo fizeram deveria ter sido conjugado como fizemos, porque o autor da propaganda também se inclui dentre aqueles que participaram do evento. RESOLUÇÃO: Segundo a norma culta da língua portuguesa, o verbo assistir – no sentido de ver, presenciar – é transitivo indireto e rege a preposição a. Resposta: D Observe a imagem veiculada na internet e responda a questão 14. (UOL, 19/5/2011.) 14. (UNIFESP) – O texto verbal contém uma passagem em desacordo com a norma-padrão da língua portuguesa. Corrige-se essa inadequação com a substituição de a) tem por têm. b) vitais por vital. c) aprenda por aprende. d) a por à. e) cuidá-lo por cuidar dele. RESOLUÇÃO: O verbo cuidar, no sentido em que está empregado (“ocupar-se de, tratar de, preocupar-se com”), é transitivo indireto e rege a preposição de. Resposta: E Vivo, a orgulhosa patrocinadora da comemoração dos 450 anos de São Paulo agradece a todos que fizeram parte dessa grande festa. GERAÇÃO Z DESAFIA MERCADO Eles já nasceram plugados e não conhecem a vida off-line. São generalistas, não gostam de hierarquia e querem fazer o próprio horário. Diferentes dos profissionais das gerações X e Y, valorizam mais a qualidade de vida ao poder aquisitivo. Empresas têm grande desafio para se adaptar e reter essa mão de obra. Esse é o perfil dos jovens que nasceram depois de 1995 e começam a entrar agora no mercado de trabalho. (Destak. 22 fev 2016. Adaptado) – 3 P O R T U G U ÊS C4_3ANO_SP_LARANJA_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK.qxp 10/06/2020 21:45 Página 3 4 – P O R T U G U ÊS CRASE Comparando as frases Naquelas férias fui à Grécia (I) e Naquelas férias fui a Israel (II), percebemos que em (I) aparece um “a” com acento grave (à), o que não ocorre na frase (II). Isso acontece porque, apesar de as duas frases apresentarem o mesmo verbo fui (e quem vai, vai a algum lugar), os substantivos Grécia e Israel guardam entre si uma diferença. Grécia admite, antes dela, o artigo feminino “a” (estou vindo da Grécia); ao passo que Israel já não é precedido por artigo feminino “a” (estou vindo de Israel). Assim, podemos estabelecer que, para que haja crase (fusão de dois fonemas idênticos: a + a = à), é preciso detectarmos se o termo que antecipa (o regente) pede preposição “a” e se o termo que segue (o regido) é precedido ou não de artigo feminino “a”, ou de qualquer outro fonema “a” (a qual, as quais, aquele(s), aquela(s), aquilo). Exemplo (1)regente (2)regido O regente (dirigiu-se) pede preposição “a”, pois quem se dirige, na frase acima, dirige-se “a” algum lugar. ↑ preposição Já o regido (secretaria da escola) admite, antes de si, artigo feminino “a” porque, substituindo o ver bo da re - ferida oração, teríamos: o bedel está vindo da secre taria da escola. ↑ artigo feminino Portanto, havendo preposição “a” junto ao e o artigo feminino “a” antes do , o cor rerá obrigatoriamente a presença da crase. Outros exemplos Obviamente, se não ocorrerem a preposição “a” e o artigo feminino “a”, não haverá crase. Exemplos Concluindo: o termo regente (entendo) não pede preposição “a”, pois é um verbo transitivo direto. Concluindo: o termo regido (Guará) não admite artigo feminino “a”. Naquele ano voltei a Guará. (naquele ano estive em Guará) Não entendo a indiferença de meu pai. (não entendo o silêncio de meu pai) Ele pediu à filha mais velha que o ajudasse. ↑ a + a Quando cheguei à cantina, percebi que ela estava vazia. ↑ a + a Alguém se referiu à tristeza que havia no seu olhar. ↑ a + a regidoregente O bedel dirigiu-se à secretaria da escola. (1) (2) Desta forma, podemos estabelecer o seguinte: 1º) é muito importante ficarmos atentos à regência verbal e nominal, para que possamos perce ber a presença ou ausência da preposição “a”; 2º) também não devemos nos esquecer de que, em determinados casos, não ocorre artigo feminino “a”, não havendo possibilidade de existir crase. MÓDULO 26 Crase – Regra, Ocorrência e Não Ocorrência C4_3ANO_SP_LARANJA_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK.qxp 10/06/2020 21:45 Página 4 OCORRE CRASE (1)Locuções adverbiais femininas. Exemplos (2)Locuções prepositivas. Exemplos (3)Locuções conjuntivas. Exemplos (4)Expressões adverbiais indicando o número de horas. Exemplo s (5)A expressão à moda de, mesmo que a pa la vra “moda” esteja oculta. Exemplo s (6)Os pronomes pessoais de tratamento: senhora, senhorita, dona e madame admitem artigo e poderão aparecer pre cedidos de crase. Exemplos NÃO OCORRE CRASE 1.°) Antes de palavras masculinas. Exemplo 2.°) Antes de verbo infinitivo. Exemplo 3.°) Antes de pronomes. Exemplos 4.°) Antes de nomes de cidade. Exemplos 5.°) Nas expressões formadas por palavras repe tidas. Exemplo 6.°) Quando um a (sem o “s” de plural) preceder um nome no plural. Exemplos 7.°) Palavra hora não determinada. Exemplos à noite, à tarde, à vontade, à vista, à direita, à toa, às claras, às escon didas, às ocultas, às vezes, às pressas etc. Chegarei a Santos daqui a uma hora. Porém: Chegarei a Santos às 13 horas. Refiro-me a falhas absurdas... Porém: Refiro-me às falhas que ele cometeu. Os inimigos encontravam-se cara a cara. Fui a Curitiba visitar meus avós. Porém: Fui à Curitiba de Dalton Trevisan. ↑ elemento modificador Provando: Estou vindo da Curitiba de Dalton Tre visan. ↑ artigo feminino Dirigiram-se a mim para emprestar-lhes o dinheiro. Não contei a vocês a novidade. O carro pertencia a alguém da casa ao lado. Pus-me a reclamar da situação. Ela não gostava de andar a cavalo. Agradeço à senhora a oportunidade que me foi dada. Peço à senhorita que refaça o teste... – bife à (moda) milanesa; – estilo à (maneira de) Rui Barbosa. à uma hora, às duas horas, às vinte horas etc. à medida que, à proporção que. à espera de, à custa de, à procura de, à cata de, à vista de etc. Observações Complementares – 5 P O R T U G U ÊS C4_3ANO_SP_LARANJA_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK.qxp 10/06/2020 21:45 Página 5 6 – P O R T U G U ÊS 1. Coloque devidamente o acento grave indicador de crase, quando for necessário. a) Assistimos a orquestra sinfônica no espaço cultural. A renda do es pe - táculo será usada para assistir as (as) famílias atingidas pela en chente. RESOLUÇÃO: à orquestra, às ou as famílias b) Muitos aspiram a entrar na faculdade, pois visam a uma vida melhor. RESOLUÇÃO: sem crase c) A peça de teatro, só assistirei a ela se derem um convite a você também. RESOLUÇÃO: à peça de teatro d) Dirigiu-se a delegacia, esperou horas e chegou a universidade muito tarde. RESOLUÇÃO: à delegacia, à universidade e) Atitudes insensatas conduzem a mocidade a rebeldia. RESOLUÇÃO: à rebeldia f) Fui a Maceió e a Bahia. RESOLUÇÃO: à Bahia g) Procedeu-se a leitura do nome dos aprovados. RESOLUÇÃO: à leitura h) Chegaram a cidade a tarde e, a noite, foram a praça da igreja matriz. RESOLUÇÃO: à cidade, à tarde, à noite, à praça i) Desobedeceram a lei e adaptaram motor a gás nos carros. RESOLUÇÃO: à lei j) O homem infiel a esposa exige fidelidade da amante. RESOLUÇÃO: à esposa l) Paguei a dívida a dentista a vista. RESOLUÇÃO: à dentista, à vista m) Era uma criança indócil aos pais e a disciplina. RESOLUÇÃO: à disciplina n) O escritório ficava aberto das 8 as 18 horas, de segunda a sexta. RESOLUÇÃO: das 8 às 18 horas o) Ficamos a espera do cumprimento das promessas do senador que se elegeu a custa de nosso empenho. RESOLUÇÃO: à espera, à custa Texto para a questão 2. 2. (INSPER) – As lacunas desse excerto de Machado de Assis estão corretamente preenchidas em a) à, a, a, à. b) a, a, a, à. c) a, à, à, à. d) a, a, a, a. e) à, a, à, à. Resposta: B 3. (ESPM) – Em todas as frases abaixo, está presente o acento grave, indicador da ocorrência de crase. Em uma delas o acento foi usado indevidamente (de forma proposital em razão da questão). Assinale-a. a) O ataque terrorista à sede da ONU em Bagdá demons tra insanidade do terrorismo agora globalizado. b) O terrorismo deve ser repelido como grave ameaça à civilização e à comunidade dos povos. c) Às vésperas do 11 de setembro, as lições da tragé dia devem motivar os países para ações conjuntas. d) Há muitos mercados emergentes à beira do colapso. e) Conselho de Segurança da ONU expediu, logo após à ofensiva terrorista de 11 de setembro, leis mais rigorosas. RESOLUÇÃO: Há apenas artigo nesse caso. Resposta: E Texto para a questão 4. 4. (FGV) – As lacunas do trecho devem ser preenchi das, correta e respectivamente, com: a) à ... a ... a ... à b) a ... à ... a ... à c) à ... à ... a ... a d) a ... à ... a ... a e) à ... à ... à ... à RESOLUÇÃO: O substantivo ataque rege preposição a e cidade admite artigo feminino; entre palavras repetidas emprega-se apenas preposição; o pronome ele não admite artigo feminino; ameaça rege preposição a e população admite artigo feminino. Resposta: A 5. (VUNESP) – A regência verbal e nominal e o emprego do sinal indicativo de crase estão de acordo com a norma culta em: a) Nosso imaginário ainda persiste em guardar à lembrança de 68, como uma lição à todas as gerações. b) Quem não lembra daquele ano? Aliás, de 68 à 70 os jovens questionaram ao regime militar. c) Os jovens de 68 legaram às gerações futuras uma história mítica, baseada em resistir àquelas formas de opressão. d) A luta não se limitou à perspectivas políticas; estendeu-se à aspectos da vida cotidiana. e) Essa geração revolucionou à cultura, e dela herdamos à concepção romântica de lutar por ideais. Resposta: C Talvez espante ao leitor ____ franqueza com que lhe exponho e realço a minha mediocridade; advirto que ____ franqueza é a pri mei ra virtude de um defunto. Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, ____ luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência; e o melhor da obrigação é quando, ____ força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo. (Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis) Capitão Vitorino apareceu na casa do mestre José Amaro para falar-lhe do ataque __________ cidade do Pilar. Disse ao compadre que D. Inês ficou cara __________ cara com Quinca Napoleão, que queria saquear-lhe o cofre, mas ela não deu a chave __________ ele. O homem era uma ameaça __________ população. (José Lins do Rego, Fogo Morto) C4_3ANO_SP_LARANJA_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK.qxp 10/06/2020 21:45 Página 6 – 7 P O R T U G U ÊS 1. CRASE ANTES DA PALAVRA CASA A palavra casa – significando lar, a residência própria da pessoa –, se não vier modificada por um adjunto adnominal, não admite artigo. Daí, nesse caso, não ocorrerá a crase antes dela. Exemplos Provando Porém: Provando 2. CRASE ANTES DA PALAVRA DISTÂNCIA A palavra distância só admite artigo definido feminino a quando estiver especificada; daí, então, ocorrerá crase junto a ela. Exemplo Provando Porém: Provando 3. CRASE ANTES DA PALAVRA TERRA A palavra terra – em oposição a bordo e signi fi can do chão firme –, se não vier modificada por adjunto adnominal, não admite artigo definido feminino sin gular, o que fará com que não ocorra crase antes dela. Exemplos Provando Porém: Provando 4. CRASE ANTES DOS PRONOMES RELATIVOS a) Antes dos pronomes relativos que, quem, cujo, não ocorrerá crase, pois esses pronomes não admitem antes de si artigo definido feminino singular a ou as. Exemplos Cheguei a casa bem tarde. Saí de casa bem tarde. ↑ preposição sem artigo definido feminino singular Voltei à casa de meustios.↵ adjunto adnominal Saí da casa de meus tios. ↑ artigo definido feminino singular Fique à distância de 10 metros! Preciso da distância de 10 metros... ↑ artigo definido feminino singular — Fique a distância! Preciso de distância... ↑ preposição sem artigo definido femi ni no singular Os marinheiros foram a terra buscar água potável. Os marinheiros estiveram em terra buscando água potável. ↑ preposição sem ar ti go definido femi ni no ↵ adjunto adnominal Fomos à terra de meus avós. Estamos vindo da terra de meus avós... ↑ artigo definido feminino singular Pouca gente gostou da peça a que assistimos on - tem. Eram pessoas a quem confiamos quase tudo. É um escritor a cuja obra sempre faço referência. MÓDULO 27 Crase – Regras Especiais C4_3ANO_SP_LARANJA_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK.qxp 10/06/2020 21:45 Página 7 8 – P O R T U G U ÊS b) Quanto aos pronomes relativos a qual, as quais, por serem iniciados pelo fonema a, eles receberão o acento grave indicador da crase, desde que o termo regente peça preposição a. Exemplos Provando 5. CRASE ANTES DOS PRONOMES DEMONS TRATIVOS Sempre que o regente admitir preposição a, haverá a fusão dessa preposição a com o fonema a dos pronomes demonstrativos: — aquele(s), aquela(s), aquilo — a, as (= aquela, aquelas) Exemplos Provando 6. CRASE FACULTATIVA Pode ou não ocorrer crase: a) Antes de nomes próprios de pessoas femininos. Exemplo Provando b) Antes de pronomes possessivos femininos. Exemplo Provando c) Depois da preposição até. Exemplo Observe-se que a preposição até pode ser em pre gada sozinha (até) ou em uma locução com a prepo sição a (até a). Exemplos Nas expressões que indicam tempo, é importante não esquecer (1)que “a” (preposição) indica tempo futuro (a ser transcorrido). Exemplo (2)que “há” (verbo haver) indica tempo passado (que já transcorreu). Exemplo Gostei da peça à qual você fez referência. Não conheço as pessoas às quais ele não perdoou nunca. — Quem faz referência, faz referência a... — Quem perdoa, perdoa a alguém... Ninguém se referiu àquele erro que eu cometi. Esta camiseta é igual à que meu irmão ganhou da namorada. — Quem se refere, se refere a alguém ou a alguma coisa. — Algo igual... é igual a alguma coisa. Refiro-me a (à) Maria Fernanda Cândido... Penso em Maria Fernanda Cândido. ↑ preposição ou Penso na Maria Fernanda Cândido. ↑ artigo definido feminino singular Dirigi-me a(à) minha tia para pedir-lhe a foto. Dependo de minha tia... ↑ preposição ou Dependo da minha tia... ↑ artigo definido feminino singular Fomos até a (à) a lojinha da esquina. Fomos até o bar da esquina. ou Fomos até a o bar da esquina. ↑ preposição Observações Complementares Daqui a duas horas estaremos no parque... ↑ preposição Saímos do parque há duas horas... ↑ (faz) C4_3ANO_SP_LARANJA_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK.qxp 10/06/2020 21:45 Página 8 – 9 P O R T U G U ÊS 1. Coloque devidamente o acento indicador de crase, quando for necessário. a) A montanha ficava a distância de 100 quilômetros do vilarejo. RESOLUÇÃO: à distância. b) Aquela distância, ficava difícil divisar a aldeia de pescadores. RESOLUÇÃO: àquela. c) Ficou a distância, esperando a saída dos que estavam a bordo do navio. RESOLUÇÃO: não ocorre crase. d) Dirigiram-se a cidade que ficava a quatro quilô metros de dis tância. RESOLUÇÃO: à cidade. e) Escreveram uma carta a Gisele Bundchen. RESOLUÇÃO: facultativo (à/a). f) Ela deve chegar a casa antes da meia-noite. RESOLUÇÃO: não ocorre crase. g) Dizia a todos que voltaria a terra natal, a pátria amada. RESOLUÇÃO: à terra, à pátria. h) Em represália a prisões, deram apoio as invasões. RESOLUÇÃO: às invasões. i) Houve adesão do público jovem a marca a qual me referi. RESOLUÇÃO: à marca, à qual. j) Ela fez um sinal sugestivo aquele rapaz. RESOLUÇÃO: àquele. k) Esperou até a véspera, para dizer que não iria a casa de Pedro. RESOLUÇÃO: à/a véspera, à casa. l) A situação em que me encontro é semelhante a que você superou. RESOLUÇÃO: à que. m) As vezes, o fenômeno a que aludi é visível a noite a olho nu. RESOLUÇÃO: às vezes, à noite. 2. (CÁSPER LÍBERO) – Não dedicamos este trabalho ___ uma pessoa, mas ___ todas que nele encontrem soluções. Nossos leitores são ___ recompensa maior. ___________ que se lançarem ___ releitura descobrirão muito mais ___ cada página. Assinale a alternativa em que os acentos de crase aparecem empre - gados corretamente: a) à, à, a, Àqueles, à, à. b) a, à, a, Àqueles, a, à. c) a, a, a, Àqueles, à, a. d) a, a, a, Aqueles, à, a. e) à, à, a, Aqueles, à, a. Resposta: D 3. (PUC) – Em referência ao trecho Se a prática leva à perfeição..., acerca da crase (no caso, a junção da prepo si ção a com o artigo feminino a), é lin - guisti camente adequado afirmar que sua ocorrência é a) inadequada, pois, além de não haver junção de preposição com artigo, não altera o sentido do que é dito. b) facultativa, porque, mesmo havendo a jun ção de preposição com artigo, não altera o sen tido do que é dito. c) necessária, pois, além de haver a junção de preposição com artigo, sugere que a prática seja resultante da perfeição. d) necessária, pois, além de haver a junção de preposição com artigo, sugere que a perfeição seja resultante da prática. e) facultativa, porque, indiferentemente de haver ou não junção de preposição com artigo, crase é uma questão estilística. 4. (FGV) – Considere os enunciados. • O acesso ao celular no Brasil é uma fotografia idêntica ______ da renda. Quanto menor a remuneração numa região, mais baixa é a penetração do telefone móvel. • As trajetórias de Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil sem dúvida merecem consideração. Gosto ______ parte, o valor artístico de suas obras – assim como as de Djavan, Erasmo Carlos e Milton Nascimento – também é patente. • No mês passado, atracou no porto de Roterdã, na Holanda, o pri mei - ro navio cargueiro chinês ___ navegar até ___ Europa pelo Ártico. Assinale a alternativa em que os termos completam correta e respectivamente as lacunas das frases, extraídas do jornal Folha de S.Paulo, de 08.10.2013. a) à ... a ... a ... a b) a ... à ... à ... à c) à ... à ... a ... a d) a ... a ... à ... à e) à ... à ... à ... à RESOLUÇÃO: Pode-se confirmar que ocorra crase da preposição a com o artigo a substituindo-se a palavra seguinte feminina por outra mas cu lina; se com o masculino estiver presente o artigo o, no feminino também estará presente o artigo a, resultando daí a crase. Assim, as substituições confirmariam as crases em idêntica à (fotografia) da renda (idêntica ao quadro da renda) e em à parte (ao lado). Em a navegar não há crase, que nunca ocorre antes de infinitivo. Em até a Europa seria igualmente correta a ocorrência de crase, pois a preposição até pode ou não ser associada à preposição a; caso o fosse, ocorreria crase (até à Europa). Resposta: C RESOLUÇÃO: O verbo levar, no sentido de "conduzir", é transitivo indireto e rege a pre posição a. A fusão da preposição com o artigo feminino a, de a perfei ção, produz a crase, que é graficamente marcada pelo acento grave. Resposta: D C4_3ANO_SP_LARANJA_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK.qxp 10/06/2020 21:45 Página 9 10 – P O R T U G U ÊS 5. (INSPER) – Compare estes períodos: A respeito das construções sintáticas, é correto afirmar que a) em I, a ausência do acento grave constitui infração na regência do verbo depor que, por ser transitivo indireto, exige preposição obrigatória. b) em II, a inclusão do acento grave diante do substantivo femi nino revela um erro de regência verbal, que é corri gido na frase I. c) a ausência do acento grave no período I atribui ao verbo depor um significado completamente diferente do que ocorre no período II. d) os dois períodos exemplificam os casos em que a crase é facul - tativa, sem que haja qualquer alteração de sentido. e) a ocorrência de crase é obrigatória por haver a junção de pre posição e artigo na indicação de quem é o sujeito daação. RESOLUÇÃO: Em I, “a relatora da OAB” é objeto direto do verbo depor que significa “destituir do cargo”. Em II, “à relatora da OAB” é objeto indireto do verbo depor que tem a seguinte acepção: “testemunhar em âmbito jurídico”. Resposta: C Texto para a questão 6. 6. (FGV-Econ.-SP-2019) – Em conformidade com a norma-padrão, as lacunas do texto devem ser preenchidas, respectivamente, com: a) a ... sobre ... à ... sobre ... À b) à ... sob ... a ... sobre ... À c) a ... sob ... à ... sobre ... À d) à ... sobre ... a ... sob ... A e) a ... sobre ... à ... sob ... A RESOLUÇÃO: O adjetivo relativo rege preposição a; sobre é preposição e significa no texto “com referência a, com respeito”; o verbo voltar rege a preposição a; sob é preposição e indica a localização daquilo que se encontra colocado numa posição inferior a outra, “embaixo de, debaixo de”. Resposta: E 7. (FGV) – Os trechos a seguir, extraídos do editorial Derrotar o racismo (Folha de S.Paulo, 30.08.2014), foram intencio nal mente transcritos com algumas passagens em desa cor do com a norma-padrão da língua portuguesa. Reescreva esses trechos, considerando o item indicado entre parênteses. a) Manifestações racistas dirigidas à jogadores de fute bol, que se tornaram frequentes em torneios na Europa, propagam-se também no Brasil. Casos que antes pareciam esporádicos e isolados passa ram à se repetir em estádios nacionais com preocupante assidui dade. Não é demais lembrar que manifestações de preconceito tam bém se verificam em outros esportes e não se resumem a cor da pele. Trata- se de uma questão internacional, a qual o Brasil tal vez se sentisse imune por ser um país miscigenado, com tradição de relativa tolerância étnica. (Uso ou não do acento indicativo da crase) RESOLUÇÃO: Manifestações racistas dirigidas a jogadores de futebol, que se tornaram frequentes em torneios na Europa, propagam-se tam bém no Brasil. Casos que antes pareciam esporádicos e isolados passaram a se repetir em estádios nacionais com preocupante assiduidade. Não é demais lembrar que manifes ta ções de preconceito também se verificam em outros esportes e não se resumem à cor da pele. Trata-se de uma questão internacional, à qual o Brasil talvez se sentisse imune por ser um país miscigenado, com tradição de relativa tolerância étnica. b) As motivações dessa minoria [preconceituosa] cer tamente daria margem a estudos sociológicos e psicossociais – e o contexto de rivalidade e de conflito entre torcidas certamente são um fator a ser considerado. Campanhas contra o racismo tem sido patrocinado por entidades do esporte, como a própria Fifa, e precisam continuar. (Concordância nominal e verbal) RESOLUÇÃO: As motivações dessa minoria [preconceituosa] certamente dariam margem a estudos sociológicos e psicossociais – e o contexto de rivalidade e de conflito entre torcidas certamente é um fator a ser considerado. Campanhas contra o racismo têm sido patrocinadas por entidades do esporte, como a própria Fifa, e precisam continuar. I. Morta a testemunha que depôs a relatora da OAB. II. Morta a testemunha que depôs à relatora da OAB. A divulgação dos dados econômicos relativos __________ junho permite afirmar que ficaram para trás os efeitos diretos da greve dos caminhoneiros ________________ a atividade e a inflação. Em vários setores, como comércio, serviços e indústria, as perdas decorrentes da paralisação, em maio, foram quase inteiramente recuperadas. Do mesmo modo, as variações nos preços de alimentos voltaram ________ normalidade. O risco de novas quedas não está afastado, porém, dado que o ambiente financeiro permanece tensão desde o segundo trimestre. _______ começar pelos juros, que estão em alta. (Editorial. Folha de S.Paulo. 24.08.2018. Adaptado) C4_3ANO_SP_LARANJA_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK.qxp 10/06/2020 21:45 Página 10 – 11 P O R T U G U ÊS MÓDULO 28 Colocação Pronominal Sendo a próclise a tendência, é aconselhável que se fixem bem as poucas regras de mesóclise e ênclise. Assim, sempre que estas não forem obrigatórias, deve-se usar a próclise, a menos que prejudique a eufonia da frase. A colocação do pronome átono está relacionada à harmonia da frase. A tendência do português falado no Brasil é o uso do pronome antes do verbo – próclise. No entanto, há casos em que a norma culta prescreve o emprego do pronome no meio – mesó clise – ou após o verbo – ênclise. De acordo com a norma culta, no português escrito não se inicia um período com pronome oblíquo átono. Assim, se na linguagem falada diz-se Me encontrei com ele, na linguagem escrita, formal, usa-se Encontrei-me com ele. CASOS DE PRÓCLISE Palavra de sentido negativo Não me falou a verdade. Advérbios sem pausa em relação ao verbo Aqui te espero pacientemente. Havendo pausa indicada por vírgula, recomenda-se a ênclise. Ontem, encontrei-o no ponto do ônibus. Pronomes indefinidos Ninguém o chamou aqui. Pronomes demonstrativos Aquilo lhe desagrada. Orações interrogativas Quem lhe disse tal coisa? Orações optativas (que exprimem desejo), com sujeito anteposto ao verbo Deus lhe pague, Senhor! Orações exclamativas Quanta honra nos dá sua visita! Orações substantivas, adjetivas e adverbiais, desde que não sejam reduzidas. Percebia que o observavam. Este é o homem que te procura. Caso me ausente, cuide dos nossos negócios. Verbo no gerúndio, regido de preposição em. Em se plantando, tudo dá. Verbo no infinitivo pessoal precedido de preposição. Seus intentos são para nos prejudicarem. CASOS DE ÊNCLISE Verbo no início da oração, desde que não esteja no futuro do indicativo. Trago-te flores. CASOS DE MESÓCLISE É obrigatória somente com verbos no futuro do presente ou no futuro do pretérito que iniciam a oração. Dir-lhe-ei toda a verdade. Far-me-ias um favor? Se o verbo no futuro vier precedido de pronome reto ou de qualquer outro fator de atração, ocorrerá a próclise. Eu lhe direi toda a verdade. Tu me farias um favor? COLOCAÇÃO DO PRONOME ÁTONO NAS LOCUÇÕES VERBAIS Verbo principal no infinitivo ou gerúndio Se a locução verbal não vier precedida de um fator de próclise, o pronome átono deverá ficar depois do auxiliar ou depois do verbo principal. Devo-lhe dizer a verdade. Devo dizer-lhe a verdade. Havendo fator de próclise, o pronome átono deverá ficar antes do auxiliar ou depois do principal. Não lhe devo dizer a verdade. Não devo dizer-lhe a verdade. Verbo principal no particípio Se não houver fator de próclise, o pronome átono ficará depois do auxiliar. Havia-lhe dito a verdade. Se houver fator de próclise, o pronome átono ficará antes do auxiliar. Não lhe havia dito a verdade. Haver de e ter de + infinitivo Pronome átono deve ficar depois do infinitivo. Hei de dizer-lhe a verdade. Tenho de dizer-lhe a verdade. Observação Não se deve omitir o hífen nas seguintes cons truções: Devo-lhe dizer tudo. Estava-lhe dizendo tudo. Havia-lhe dito tudo. Verbo no imperativo afirmativo Amigos, digam-me a verdade! Verbo no gerúndio, desde que não esteja precedido pela preposição em. Saí, deixando-a aflita. Verbo no infinitivo impessoal regido da prepo sição a. Com outras preposições é facultativo o emprego de ênclise ou próclise. Apressei-me a convidá-los. Estava para dizer-lhe a verdade. / Estava para lhe dizer a verdade. C4_3ANO_SP_LARANJA_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK.qxp 10/06/2020 21:45 Página 11 12 – P O R T U G U ÊS 1. (UNISAL) – A gramática normativa determina que os pronomes oblíquos átonos (me, te, se, o, a, lhe, se, nos, vos) apareçam antes do verbo quando houver palavras negativas, advérbios, conjunções subordi - nativas, prono mes relativos, indefinidos ou demons tra tivos antes dele. Verifique a aplicação dessa regra nas frases seguintes: I. Luís jamais me olhou de novo. II. Nós esperávamos que nos dissessem toda a ver dade. III. Agora escute-me, por favor. IV. Avisaram-me sobre o acidente. Estão corretas, segundo a gramática normativa, as frases: a) I e IV. b) I, II, III e IV. c) I, II e IV. d) I, II e III.e) III e IV. 2. (FGV) – Assinale a alternativa em que a posição dos pro nomes áto - nos, na frase, está de acordo com a norma-padrão do português escrito. a) A respeitosa atitude de todos e a deferência universal que cerca vam-no... b) As obscuras determinações das coisas acertadamente o haviam erguido até ali. c) Ele julgava-se e só o que parecia-lhe grande entrava nesse julga mento. d) ... uma chusma de sentimentos atinentes a si mesmo que quase falavam-lhe. e) As obscuras determinações das coisas, acertadamente, mais alto levariam-no. RESOLUÇÃO: Nas demais alternativas há ênclises indevidas: em a e c porque os verbos são antecedidos por pronomes relativos; em d porque antes vem um advérbio; em e porque se trata de futuro do pretérito. Resposta: B 3. (FGV) – Assinale a alternativa correta quanto à colocação pro no minal e à pontuação. a) Falou-lhe com bondade, minha mãe, mas ele não atendia a coisa nenhuma, repetindo: “Já disse que mato-me!” b) Falou-lhe, com bondade, minha mãe, mas ele não atendia a coisa nenhuma, repetindo: “Já disse que me mato!” c) Falou-lhe, com bondade, minha mãe, mas ele não atendia a coisa nenhuma, repetindo: “Já disse que mato-me!” d) Lhe falou, com bondade minha mãe, mas ele não atendia a coisa nenhuma, repetindo: “Já disse que mato-me!” e) Lhe falou com bondade minha mãe, mas ele não atendia a coisa nenhuma, repetindo: “Já disse que me mato!” RESOLUÇÃO: De acordo com a norma culta, não se inicia período com pronome oblíquo átono, daí “Falou-lhe”. Em “Já disse que me mato”, o pronome “me” proclítico está corretamente colo ca do. Na alternativa b, as vírgulas foram empregadas corretamente para: (1) destacar o adjunto adverbial (“com bondade”) no meio da primeira oração; (2) separar a oração coordenada assindética (“Falou-lhe... minha mãe”) da coordenada sindética adversativa (“mas ele não atendia...”); (3) separar a oração reduzida de gerúndio (“repetindo...”). Resposta: B 4. (ESPM) – A colocação pronominal foge ao que se recomenda para o padrão culto em: a) Não se sabia ao certo, sem os resultados da pesquisa, quantos beneficiariam-se com a distribuição de alimentos. b) Tratava-se de um procedimento normal, informou a secretária, pois a dispensa de funcionários decorria da queda de arrecadação. c) Quem se dispuser a trabalhar em benefício das pessoas carentes da comunidade deve apresentar-se ao coordenador, amanhã cedo, no Centro de Solidariedade. d) Não houve quebradeira de empresas e de bancos, porque já se sabia dos riscos de uma desvalorização e as companhias se protegeram, comprando dólares. e) Presumo que o erro foi causado pelo fato de muitos economistas terem deduzido que a história se repete, e não foi o que se observou, nesse caso. 5. (CEFET-MG) – A posição do pronome oblíquo destacado na frase está de acordo com o que preconiza a norma padrão em: a) “A velhice nos lembra da proximidade do fim (...)” b) “Me sentirei honrada com o reconhecimento da minha força.” c) “Quando chegar a minha hora, por favor, me chamem de velha.” d) “(...) em um programa de TV, o entrevistador me perguntou sobre a morte.” e) “(...) se alguém me disser (...) que estou na ‘melhor idade’, vou romper meu pacto pessoal de não violência.” Resposta: E 6. (TOLEDO) – Para as questões seguintes, assinale: A) quando somente a I estiver correta; B) quando I e II estiverem corretas. a) I. O gado ia finar-se, até os espinhos secariam. II. O gado ia-se finar, até os espinhos secariam. b) I. Compadre, eu não lhe quero dizer coisa alguma. II. Compadre, eu não quero dizer-lhe coisa algu ma. c) I. Preciso contar, senhor delegado, como se foi formando entre nós esse espírito de briga. II. Preciso contar, senhor delegado, como foi for mando-se entre nós esse espírito de briga. d) I. As visões da caatinga tinham-se dissipado. II. As visões da caatinga tinham dissipado-se. (Graciliano Ramos. Vidas secas. Ed. Martins, pp. 30, 36.) Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. a) B / B / A / A b) A / B / A / B c) B / B / B / A d) A / A / A / B e) B / A / A / A RESOLUÇÃO: No item III, o correto é: Agora me escute... Resposta: C RESOLUÇÃO: Na passagem ...quantos beneficiariam-se... existe um erro de colocação pronominal, porque o pronome interroga tivo quantos atrai o pronome se para antes do verbo, havendo assim próclise: “...quantos se beneficiariam com...” Resposta: A RESOLUÇÃO: A frase As visões da caatinga tinham dissipado-se está er rada porque não se prende pronome oblíquo átono ao parti cípio. Resposta: C C4_3ANO_SP_LARANJA_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK.qxp 10/06/2020 21:45 Página 12 7. (FGV) – O emprego e a colocação do prono me estão de acordo com a norma culta na alternativa: a) Trata-se, evidentemente, de material muito simples, mas muitos dos que são alfabetizados não conse guem lê-lo, nem compreendê-lo. b) Pensemos na desobediência, na heresia e nas seitas e em como o conhecimento lhes introduziu no mundo. c) Lembre-se das rodas dentadas da pobreza, da igno rância, da falta de esperança e da baixa autoestima e de como usam-as para criar um tipo de máquina do fracasso perpétuo. d) Temos dilemas que nos perseguem e inteligências brilhantes, que poderiam ajudar a solucionar eles rapida mente. e) Existe a ideia de que a capacidade de ler, o conheci mento, os livros e os jornais são potencialmente peri go sos; os tiranos e os autocratas sempre compreenderam-na. RESOLUÇÃO: Em lê-lo, compreendê-lo, houve fusão do pronome oblí quo o, na função de objeto direto, com a terminação verbal (ler + o = lê-lo; compreender + o = compreendê-lo); em b, a forma pronominal lhes deve ser trocada por as (introduziu-as); em c e e, deve haver próclise (como as usam), (sempre a com preenderam); em d, solucionar eles é variante popular; deveria ser regis trada a forma solucioná-los. Resposta: A 8. (CEFET-MG) – A alteração na ordem da palavra em desta que promoveu um desvio da norma-padrão, exceto em: a) Já não se encolhe... Já não encolhe-se... b) ...as pessoas nunca se comunicaram tanto quanto na internet... ...as pessoas nunca comunicaram-se tanto quanto na internet... c) ...que se abre de par em par, passando para o outro lado, e se entregando... ...que se abre de par em par, passando para o outro lado, e en - tregando-se... d) ...a não ser por medo de sair à noite, pela insegurança que se alastra... ...a não ser por medo de sair à noite, pela insegurança que alastra-se... e) Encontram-se, em bibliotecas monumentais como a do Congresso americano... Se encontram, em bibliotecas monumentais como a do Congresso americano... Resposta: C 9. (FGV-2019) – Assinale a alternativa que atende à norma-padrão de colocação pronominal. a) Vai-se o sertanejo no êxodo para a costa, para as serras distantes – esvazia-se o sertão, ainda que a saudade acompanhe o retirante. b) Quando acaba-se o flagelo, é como se todos os problemas fossem esquecidos, e tudo se reestabelecesse como antes. c) Por fim, o sertanejo se dobra e, depois de tantos retirantes à sua porta, rapidamente amatula-se em um daqueles bandos. d) Ainda que o flagelo tenha ameaçado-o, o sertanejo volta ao sertão, movido pela saudade por estar meses longe de sua casa. e) Se vê, com assombro, a primeira turma de retirantes atravessar o terreiro, e depois outras seguem-se nos dias posteriores. RESOLUÇÃO: Ambos os pronomes oblíquos átonos estão em ênclise por ser início de oração. Em b, “quando se acaba”; em c, “rapidamente se anula”; em d, “tenha-o ameaçado”; em e, “Vê-se... e depois outras se seguem”. Resposta: A Texto para a questão 10. 10. (UFAL) – Assinale a alternativa correta em relação aos aspectos formais da língua padrão culta. a) O termo “vê-la-íamos” é traduzido por “vimos a verdade”. b) O termo “Basta-nos” pode ser substituído por “Nos basta”. c) A expressão “não se compreende” pode ser substituída por “não compreende-se”. d) O ponto e vírgula utilizado após a expressão “vê-la-íamos” pode ser substituído por um ponto, sem causar mudança de sentidoao texto. e) O trecho “ser homem é saber que não se compreende” pode ser reescrito da seguinte forma: “ser homem é saber, que não se compreende”. RESOLUÇÃO: Pode ocorrer a substituição porque a oração seguinte “Tudo o mais é sistema e arredores” é independente (coordenada). Resposta: D Se conhecêssemos a verdade, vê-la-íamos; tudo o mais é sistema e arredores. Basta-nos, se pensarmos, a incompreensi bi - lidade do universo; querer compreendê-lo é ser menos que homens, porque ser homem é saber que não se compreende. PESSOA, Fernando. O livro do desassossego. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 117. – 13 P O R T U G U ÊS 1. (FGV) – Assinale a alternativa em que a colocação dos pronomes oblíquos átonos atende à norma culta. a) Era claro que Nestor estava preocupado, mas otimista. “Erguerei- me depressa, enfrentando-lhe todos os arroubos.” b) Não disse-lhe palavra. Partiu a galope, sem olhar para trás. c) Ao ver-se cercado pelas emas, concluiu: os animais poder-se-iam perder, se o ajudante não os controlasse. d) Farei-o melhor do que você, embora não tenha tanta prática. e) Tendo encontrado-a sozinha na sala, deu-lhe um beijo maroto na face. RESOLUÇÃO Com infinitivo preposicionado, a norma culta reco men da a ênclise do pronome oblíquo átono, como em c, em bora a próclise também seja corrente e admissível no Brasil. Na mesma alternativa, a próclise antes de pala vra negativa e a mesóclise com o futuro do pretérito são de regra, embora neste último caso também se ad mi tisse a próclise. Erros: em a e d, o verbo no futuro não admite ên cli se; em b, dian te de palavra negativa não se admite ên clise, a não ser com verbo no infinitivo; em e, particípio não ad mite ênclise. Resposta: C 2. (ANHEMBI-MORUMBI) – Em Você nunca me viu sozinho / e você nunca me ouviu chorar, os pronomes assinalados estão empregados corretamente de acordo com as regras de colocação pronominal. Assinale a alternativa que esteja de acordo com a norma culta da língua: a) Nos explicaram que nem tudo era mentira. b) Explicariam-nos que nem tudo era mentira? c) Essa é a pessoa que explicou-me toda a verdade. d) Não explicarei-lhe mais nada sobre o assunto. e) Explicar-nos-ia o que aconteceu naquela noite? RESOLUÇÃO Em a, o pronome átono deveria estar depois do verbo (Explicaram- nos); em b, com o verbo no futuro do pretérito, deveria ocorrer mesóclise (explicar-nos-iam); em c, o pronome relativo que atrai o pronome átono me para antes do verbo (que me explicou); em d, o advérbio de negação não atrai o pronome átono lhe para antes do verbo (não lhe explicarei). Resposta: E Aplicações C4_3ANO_SP_LARANJA_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK.qxp 10/06/2020 21:45 Página 13 14 – P O R T U G U ÊS MÓDULO 25 Clarice Lispector (I) FRENTE 2Literatura 1. Vida Clarice Lispector (Ucrânia, 1925 – Rio de Janeiro, 1977) De Alfredo Bosi: Recém-nascida, veio para o Brasil com os pais, que se estabele ce ram no Recife. Em 1934 a família transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde Clarice fez o curso ginasial e os preparató rios. Adoles cen te, lê Graci li ano, Herman Hesse, Julien Green. Em 1943, aluna da Faculdade de Direito, escreve o seu primeiro ro man ce, Perto do Cora ção Selvagem, que é recusado pela editora José Olympio. Publica-o no ano seguinte, pela editora A Noite e recebe o Prê mio Graça Aranha. Ainda em 1944 vai com o marido para Nápoles, onde tra balha num hospital da Força Expedicionária Brasileira. Voltando para o Brasil, escreve O Lustre, que sai em 1946. Depois de longas estadas na Suíça (Berna) e nos Estados Unidos, a escritora fixa-se no Rio, onde viveu até a morte. (História Concisa da Literatura Brasileira) 2. Considerações críticas Já no romance Perto do Cora ção Selvagem, há aproximação com os ficcionistas de vanguarda da época: James Joyce, Vir gi nia Woolf e William Faulkner, pelo uso intensivo da metá fo ra insó li ta, do fluxo de cons ciência e pela rup tu ra com o enredo factual, elementos que preser va rá até a última obra. Caracteriza-se pela exacerba ção do momento interior, de tal modo intensa que, a certa altura de seu itinerário, a própria subjetividade entra em crise. O espírito, perdi do no labirinto da memória e da autoanáli se, reclama um novo equilí brio, trans cendendo do pla no do psicológico para o me tafísico. A própria nar rado ra re vela a cons ciência desse salto, quando diz: Além do mais a “psicologia” nun ca me interessou. O olhar psico ló gi co me impacientava e me impa cien ta, é um instrumento que só trans pas sa. Acho que desde a ado les - cên cia eu havia saído do estágio do psicoló gico. (A Paixão se gundo G.H.) Ou ainda: Uma vida completa pode aca bar numa identificação tão abso luta com o não-eu que não haverá mais um eu para morrer. (Bernard Berenson, cita do em epígrafe por Clarice em A Paixão segundo G.H.) A obra toda de Clarice é um romance de educação senti men tal. Até a Paixão segundo G.H., Clarice faz a prospecção do mundo interior, como quem macera a afeti vidade e afia a aten ção, para colher amostras, numa tentativa de absorver o mundo. A partir desse romance não há mais os recursos habituais do romance psicológico. Não há etapas de um drama. Cada pensamento envolve todo o drama: logo, não há um começo definido no tem po, nem um epílogo. Há um contínuo denso na experiência exis tencial e o reconhe - cimento de uma verdade que despoja o eu das ilusões cotidianas e o entre ga a um novo sentido da reali dade: Perdi alguma coisa que me era essencial, que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar, mas que fazia de mim um tripé estável. (A Paixão segundo G.H.) A palavra neutra de Clarice Lispector articula essa experiência metafí si ca radical, valendo-se do ver bo “ser” e de constru ções sintáti cas anômalas que obrigam o leitor a re pen sar as relações con ven cionais prati cadas pela sua própria lingua gem: Eu estava agora tão maior que não me via mais. Tão grande como uma pai sagem ao longe (...) como poderei dizer senão timi da mente assim: a vida se me é. A vida se me é, e eu não entendo o que digo. Então adoro. (A Paixão segundo G.H.) C4_3ANO_SP_LARANJA_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK.qxp 10/06/2020 21:45 Página 14 Texto para o teste 1. Ela parecia pedir socorro contra o que de algum modo involuntariamente dissera. E ele com os olhos miúdos quis que ela não fugisse e falou: — Repita o que você disse, Lóri. — Não sei mais. — Mas eu sei, eu vou saber sempre. Você literalmente disse: um dia será o mundo com sua impersonalidade soberba versus a minha extrema individualidade de pessoa, mas seremos um só. — Sim. Lóri estava suavemente espantada. Então isso era a felicidade. De início se sentiu vazia. Depois seus olhos ficaram úmidos: era felicidade, mas como sou mortal, como o amor pelo mundo me transcende. O amor pela vida mortal a assassinava docemente, aos poucos. E o que é que eu faço? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda, que já está começando a me doer como uma angústia, como um grande silêncio de espaços? A quem dou minha felicidade, que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta? Não, não quero ser feliz. Prefiro a mediocridade. Ah, milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz e preferem a mediocridade. Ela se despediu de Ulisses quase correndo: ele era o perigo. (LISPECTOR, C. Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990.) 1. A obra de Clarice Lispector alcança forte expressi vi - dade em razão de determinadas soluções narrativas. No fragmento, o processo que leva a essa expressividade fundamenta-se no a) desencontro estabelecido no diálogo do par amoroso. b) exercício de análise filosófica conduzido pelo narrador. c) registro do processo de autoconhecimento da personagem. d) discurso fragmentado como reflexo de traumas psicológicos. e) afastamento da voz narrativa em relação aos dramasexistenciais. RESOLUÇÃO: [ENEM-2018 – 2.a aplic.] No texto, a partir do diálogo e do trecho narrado na sequência — predominantemente em discurso indi reto livre —, observa-se que Lóri discute e reflete intensamente sobre seu lugar diante de um mundo “impersonalizado”, sobre a felicidade e o amor. Portanto, pode-se afirmar que, na passagem apresentada, a “expressividade fundamenta-se no registro do processo de autoconhecimento da personagem”. Resposta: C Texto para o teste 2. A PARTIDA DE TREM Marcava seis horas da manhã. Ângela Pralini pagou o táxi e pegou sua pequena valise. Dona Maria Rita de Alvarenga Chagas Souza Melo desceu do Opala da filha e encaminharam-se para os trilhos. A velha bem-vestida e com joias. Das rugas que a disfarçavam saía a forma pura de um nariz perdido na idade, e de uma boca que outrora devia ter sido cheia e sensível. Mas que importa? Chega-se a um certo ponto — e o que foi não importa. Começa uma nova raça. Uma velha não pode comunicar-se. Recebeu o beijo gelado de sua filha que foi embora antes do trem partir. Ajudara-a antes a subir no vagão. Sem que neste houvesse um centro, ela se colocara do lado. Quando a locomotiva se pôs em movimento, surpreendeu-se um pouco: não esperava que o trem seguisse nessa direção e sentara- se de costas para o caminho. Ângela Pralini percebeu-lhe o movimento e perguntou: — A senhora deseja trocar de lugar comigo? Dona Maria Rita se espantou com a delicadeza, disse que não, obrigada, para ela dava no mesmo. Mas parecia ter-se perturbado. Passou a mão sobre o camafeu filigranado de ouro, espetado no peito, passou a mão pelo broche. Seca. Ofendida? Perguntou afinal a Ângela Pralini: — É por causa de mim que a senhorita deseja trocar de lugar? (LISPECTOR, C. Onde Estivestes de Noite. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980 – fragmento.) 2. A descoberta de experiências emocionais com base no cotidiano é recorrente na obra de Clarice Lispector. No fragmento, o narrador enfatiza o(a) a) comportamento vaidoso de mulheres de condição social privile giada. b) anulação das diferenças sociais no espaço público de uma estação. c) incompatibilidade psicológica entre mulheres de gerações dife - rentes. d) constrangimento da aproximação formal de pessoas desconhe cidas. e) sentimento de solidão alimentado pelo processo de envelheci mento. RESOLUÇÃO: [ENEM-2016] O texto apresenta uma cena em que uma senhora é condenada a “não pode[r] comunicar-se” por ser “uma velha”. A personagem vê-se em uma situação de abandono afetivo, como comprova o fato de ter recebido um “beijo gelado de sua filha que foi embora antes do trem partir”. Dentro desse contexto de vazio emotivo, espanta-se com a delicadeza de outra mulher, que lhe oferece um lugar mais confortável no trem. Dessa forma, percebe- se o desenvolvimento do tema da solidão a que se é destinado por causa do envelhecimento. Resposta: E – 15 P O R T U G U ÊS C4_3ANO_SP_LARANJA_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK.qxp 10/06/2020 21:45 Página 15 16 – P O R T U G U ÊS Texto para o teste 3. AUTOR – Eu sou o autor de uma mulher que inventei e a quem dei o nome de Ângela Pralini. Eu vivia bem com ela. Mas ela começou a me inquietar e vi que eu tinha de novo que assumir o papel de escritor para colocar Ângela em palavras porque só então posso me comunicar com ela. Eu escrevo um livro e Ângela outro: tirei de ambos o supérfluo. Eu escrevo à meia-noite porque sou escuro. Ângela escreve de dia porque é quase sempre luz alegre. Este é um livro de não memórias. Passa-se agora mesmo, não importa quando foi ou é ou será esse agora mesmo. (…) ÂNGELA – Viver me deixa trêmula. AUTOR – A mim também a vida me faz estremecer. ÂNGELA – Estou ansiosa e aflita. AUTOR – Vejo que Ângela não sabe como começar. Nascer é difícil. Aconselho-a a falar mais facilmente sobre fatos? Vou ensiná-la a começar pelo meio. Ela tem que deixar de ser tão hesitante porque senão vai ser um livro todo trêmulo, uma gota d’água pendurada quase a cair e quando cai divide-se em estilhaços de pequenas gotas espalhadas. Coragem, Ângela, comece sem ligar para nada. (Clarice Lispector, Um Sopro de Vida) 3. (BARRO BRANCO) – Na construção da narrativa, revela-se que Autor e Ângela têm algumas preferências a) opostas e estabelecem entre si uma relação de interdependência, por meio da qual se evidenciam seus questionamentos íntimos. b) contraditórias e são naturalmente indecisos e apegados às memórias, reforçando a ideia de introspecção psicológica. c) comuns, notadamente aquelas alinhadas à tranquilidade de suas índoles, o que revela comportamentos previsíveis. d) excêntricas, e isso se deve à forma pouco entusiasmada como veem a vida, o que permite vislumbrar sem encantamento suas intimidades. e) ambíguas, fruto de uma concepção de vida pautada no medo de serem autênticos, o que destoa do caráter intimista da narrativa. RESOLUÇÃO: O Autor e Ângela Pralini têm “preferências opostas” (“Eu escrevo à meia-noite porque sou escuro. Ângela escreve de dia porque é quase sempre luz alegre.”). A relação de interdependência comprova-se pelo fato de a existência de Ângela Pralini ser uma invenção do Autor, com personalidade própria, porém ainda hesitante, como “uma gota d’água pendurada quase a cair”. O Autor confessa que a vida o “faz estremecer” também. Portanto, revela-se na narrativa “uma relação de interdependência” entre o Autor e Ângela Pralini, destacando-se “seus questionamentos íntimos”. Resposta: A Texto para o teste 4. DECLARAÇÃO DE AMOR Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. (...) A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo. Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado. Às vezes se assusta com o imprevisível de uma frase. Eu gosto de manejá-la — como gostava de estar montada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas, às vezes a galope. Eu queria que a língua portuguesa chegasse ao máximo em minhas mãos. E este desejo todos os que escrevem têm. Um Camões e outros iguais não bastaram para nos dar para sempre uma herança de língua já feita. Todos nós que escrevemos estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida. Essas dificuldades, nós as temos. Mas não falei do encantamento de lidar com uma língua que não foi aprofundada. O que recebi de herança não me chega. Se eu fosse muda e também não pudesse escrever, e me perguntassem a que língua eu queria pertencer, eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas, como não nasci muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo era escrever em português. Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só para que a minha abordagem do português fosse virgem e límpida. (LISPECTOR, C. A Descoberta do Mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999 – adaptado.) 4. O trecho em que Clarice Lispector declara seu amor pela língua portuguesa, acentuando seu caráter patrimonial e sua capacidade de renovação, é: a) “A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve.” b) “Um Camões e outros iguais não bastaram para nos dar para sempre uma herança de língua já feita.” c) “Todos nós que escrevemos estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida.” d) “Mas não falei do encantamento de lidar com uma língua que não foi aprofundada.” e) “Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só para que a minha abordagem do português fosse virgem e límpida.” RESOLUÇÃO: [ENEM-2017] A referência a Camões acentua o caráter patrimonial da Língua Portuguesa, mas essa herança não basta. A expressão individual e as mudanças de costumes exigem que se transponha o código clássico camoniano. Resposta: B C4_3ANO_SP_LARANJA_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK.qxp 10/06/2020 21:45 Página 16 Texto para o teste 1. Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-históriada pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou. (...) Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos — sou eu que escrevo o que estou escrevendo. (...) Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes. Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual — há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo — como a morte parece dizer sobre a vida — porque preciso registrar os fatos antecedentes. (LISPECTOR, C. A Hora da Estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.) 1. A elaboração de uma voz narrativa peculiar acom pa - nha a trajetória literária de Clarice Lispector, culmi - nada com a obra A Hora da Estrela, de 1977, ano da morte da escritora. Neste fragmento, nota-se essa peculiaridade porque o narrador a) observa os acontecimentos que narra sob uma óptica distante, sendo indiferente aos fatos e às personagens. b) relata a história sem ter tido a preocupação de investigar os motivos que levaram aos eventos que a compõem. c) se revela um sujeito que reflete sobre questões existenciais e sobre a construção do discurso. d) admite a dificuldade de escrever uma história em razão da complexidade para escolher as palavras exatas. e) se propõe a discutir questões de natureza filosófica e metafísica, incomuns na narrativa de ficção. RESOLUÇÃO: [ENEM-2013] O narrador Rodrigo S. M. reflete sobre a própria escrita (“Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual”) e sobre questões existenciais. A visão crítica da linguagem e a crise existencial são elementos fundamentais da narrativa de Clarice Lispector. Resposta: C Texto para as questões de 2 a 4. Talvez a nordestina já tivesse chegado à conclusão de que vida incomoda bastante, alma que não cabe bem no corpo, mesmo alma rala como a sua. Imaginavazinha, toda supersticiosa, que se por acaso viesse alguma vez a sentir um gosto bem bom de viver — se desencantaria de súbito de princesa que era e se transformaria em bicho rasteiro. Porque, por pior que fosse sua situação, não queria ser privada de si, ela queria ser ela mesma. Achava que cairia em grave castigo e até risco de morrer se tivesse gosto. Então defendia- se da morte por intermédio de um viver de menos, gastando pouco de sua vida para esta não acabar. Essa economia lhe dava alguma segurança, pois quem cai, do chão não passa. (Clarice Lispector, A Hora da Estrela) 2. (UFSCar – modificada) – Neste trecho, Clarice Lispector principia a falar de Macabéa, uma nordestina que, tendo partido de Alagoas com destino ao Rio de Janeiro, sofre o choque social da cidade grande. a) Tendo em vista o tema social tratado na obra A Hora da Estrela e, mais especificamente, o texto apresentado, o que caracteriza a escritura da autora, no tratamento desse tipo de tema? RESOLUÇÃO: Em A Hora da Estrela, Clarice Lispector tematiza tanto a exclusão social da migrante nordestina, quanto a crise existencial, o vazio nauseante que ronda o ser. Essa percepção do incômodo de existir já se exprime no primeiro período: “Talvez a nordestina já tivesse chegado à conclusão de que vida incomoda bastante, alma que não cabe bem no corpo, mesmo alma rala como a sua.” b) Uma das características de Clarice Lispector, segundo Alfredo Bosi, é o uso da metáfora insólita. Aponte uma metáfora insólita empregada pela autora no trecho transcrito. RESOLUÇÃO: É inteiramente insólita a metáfora “alma rala”, em que se aplica a algo imaterial um adjetivo de sentido físico, inteiramente inesperado no contexto. – 17 P O R T U G U ÊS MÓDULO 26 Clarice Lispector (II) C4_3ANO_SP_LARANJA_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK.qxp 10/06/2020 21:45 Página 17 18 – P O R T U G U ÊS 3. (UFSCar – modificada) – Ainda se considerando o estilo da escrita de Clarice Lispector, que efeito ela consegue ao empregar a derivação, também insólita, imaginavazinha (2.° período do texto)? RESOLUÇÃO: O diminutivo da forma verbal imaginava, recurso que foge à norma culta, apequena a personagem Macabéa, sugerindo limitação de sua capacidade imaginativa e reflexão abstrata. O narrador, em vários momentos da narrativa, assume postura irônica para falar da pequenez de alma da personagem, como acontece com a expressão metafórica “alma rala”. 4. (UFSCar – modificada) – O narrador faz alusão a um conto de fadas. Valendo-se de seu conhecimento de mundo, qual é o conto de fadas aludido e qual seria, então, o “bicho rasteiro”? RESOLUÇÃO: Após associar Macabéa a uma princesa, o narrador diz que, de súbito, ela se transformaria em um “bicho rasteiro”. Trata-se de uma alusão ao conto de fadas Cinderela, no qual a princesa, à meia- noite, volta a ser plebeia e seus cavalos, ratos. Textos para as questões 5 e 6. Texto 1 [Fabiano] Ouvira falar em juros e em prazos. Isto lhe dera uma impressão bastante penosa: sempre que os homens sabidos lhe diziam palavras difíceis, ele saía logrado. Sobressaltava-se escutando-as. Evidentemente só serviam para encobrir ladroeiras. Mas eram bonitas. Às vezes decorava algumas e empregava-as fora de propósito. Depois esquecia-as. Para que um pobre da laia dele usar conversa de gente rica? (Graciliano Ramos, Vidas Secas) Texto 2 Havia coisas que [Macabéa] não sabia o que significavam. Uma era “efeméride”. E não é que seu Raimundo só mandava copiar com sua letra linda a palavra efemérides ou efeméricas? Achava o termo efemírides absolutamente misterioso. Quando o copiava prestava atenção a cada letra. (...) Enquanto isso a mocinha se apaixonara pela palavra efemérides. (Clarice Lispector, A Hora da Estrela) O tema comum aos dois textos é a relação das personagens com a linguagem culta. Considerando essa informação, responda: 5. (FUVEST – adaptada) – Em que Fabiano e Macabéa se assemelham? RESOLUÇÃO: São ambos nordestinos, vítimas da marginalização social, da incomunica bilidade gerada pela incapacidade de expressão verbal. Há em ambos o mesmo fascínio pela linguagem, pelo significante em seu corpo sonoro, ainda que desprovido, para eles, de significação. 6. (FUVEST – adaptada) – Em que se distinguem um do outro? RESOLUÇÃO: Em relação à linguagem culta, Fabiano revela um nível de consciência mais crítico, pois, ainda que as admire, conhece o poder que as palavras têm de ludibriar, de “encobrir ladroeiras”. A atitude de Fabiano é também mais complexa, pois, mesmo temendo as “palavras difíceis”, invejava os que as dominavam e desejava que seus filhos estudassem num lugar incerto, vagamente relacionado com o Sul. Macabéa, mesmo vítima da dificuldade de expressão, mesmo manipulada pelos que detêm o domínio da linguagem, é presa de seu poder encantatório. C4_3ANO_SP_LARANJA_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK.qxp 10/06/2020 21:45 Página 18 – 19 P O R T U G U ÊS MÓDULO 27 João Cabral de Melo Neto 1. Vida João Cabral de Melo Neto (Recife, 1920 – Rio de Janeiro, 1999) João Cabral de Melo Neto pas sou a infância em São Lourenço da Mata, interior de Pernambuco, em contato com os engenhos de açúcar, os canaviais e a literatura de cordel, que costumava ler para os emprega dos dos engenhos da família. Aos dez anos, muda-se para Recife, cur sando o primário e o secundário no colégio dos irmãos maristas. Traba lhou como auxiliar de escritório, vendedor de apólices de seguro e foi campeão juvenil pelo Santa Cruz Futebol Clube. Em 1945, vivendo no Rio de Janeiro, ingressa na carreira diplomática, ser vindo em países da América do Sul, Europa e África. Em 1952, acusado de subversão pelo Ministério dasRelações Exteriores, é posto em “dis ponibilidade inativa”, pelo então presi dente Getúlio Vargas, só retomando suas funções em 1954. Estreou na literatura com o livro Pedra do Sono, mas é com O Engenheiro (1945) que sua poesia toma um rumo definitivo, marcado por uma postura antirromântica, que privile gia o cere bralismo, a precisão e a cla re za, mais do que a intuição ou inspi ração: “Eu procuro uma poe sia que fosse como uma cafeína. Uma poe sia que fosse um excitante, um esti mulante, e não um calmante. De forma que é daí que vem toda a minha imagística valorizando o áspero. (...) Eu não escrevo com algo dão (...) Eu prefiro escrever com pedras.” (João Cabral, Revista 34 Letras). Em 1969, é eleito para a Academia Brasi leira de Letras e, nos anos 90, é agraciado com o “Neustadt International Prize”, que o qua li fica para o Nobel de Literatura. 2. Considerações críticas Associado de início à Gera ção de 45, João Cabral trilhou, na ver da de, um caminho inteira mente próprio. Sua obra, como ele mesmo sugeriu, divide-se em duas águas: de um la do, a poesia-cons trução, voltada so bre si mesma, tematizando com fre quência a própria poesia; de outro, a poesia-participação, voltada para problemas sociais. Constitui, com Drummond e Murilo Mendes (poetas com os quais mantém afinidades, especialmente nos primeiros livros), o grupo mais denso e expressivo da poesia moderna brasileira. Absorvendo a perspectiva da pin tura cubista de Picasso, deforma a rea lidade aparente, para destacar as linhas estru turais básicas. É comum in vocar-se a influência do visua lismo sur realista de Murilo Mendes. Talvez seja melhor falarmos em con fluência de ideias, em co munhão em torno do ideal de construção rigorosa do poema. João Cabral é um poeta de pou cas palavras e poucos assuntos. Seus poemas comunicam-se por si mes mos, presos a um rigoroso es que ma tismo, e fundados em palavras com sentido denotativo, pala vras con cretas, tecidas em fios de tramas complicadas e surpreen dentes, co mo um tear, como “má quina do poema”. • Uma poética antirromântica As imagens da realidade em João Cabral são reduzidas à sua essência. São imagens des carna das, que deixam visí veis os seus “esque le tos”, isto é, as suas linhas estruturais bá sicas. O poeta não está preo cu pa do com sua ex pres são in dividual; pre tende, ao contrá rio, tornar o poe ma inde pendente dessa visão indi vidual. O poe ma deve funcionar co mo forma de comunica ção por sua pró pria força interior, sem interfe rên cia do poeta. • Uma educação pela pedra A pedra nos remete à aridez humana e geográfica do Nordeste, e é símbolo constante na obra do autor, fazendo confluir a temática social (lin guagem-objeto) com a reflexão sobre o fazer poético no próprio texto artístico (metalinguagem). • Uma poesia prosaica Sua poesia não é melódica, mas rítmica. João Cabral começou a escrever em verso livre, mas, a partir de O Cão sem Plumas, adotou a métrica tradicional, dando preferên - cia ao verso de oito e nove sílabas (octas sílabo e eneassílabo) e à rima toante, cuja sonoridade, estranha à língua portuguesa, aproxima a sua poesia do ritmo da prosa: Você aqui reencontrará as mesmas coisas e loisas que me fazem escrever tanto e de tão poucas coisas: o não-verso de oito sílabas (em linha vizinha à prosa) que raro tem oito sílabas, pois metrifica à sua volta; a perdida rima toante que apaga o verso e não soa, que o faz andar pé no chão pelos aceiros da prosa. (“A Augusto de Campos”, Agrestes – fragmento) C4_3ANO_SP_LARANJA_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK.qxp 10/06/2020 21:45 Página 19 20 – P O R T U G U ÊS Texto para os testes de 1 a 3. O NADA QUE É Um canavial tem a extensão ante a qual todo metro é vão. Tem o escancarado do mar que existe para desafiar que números e seus afins possam prendê-lo nos seus sins. Ante um canavial a medida métrica é de todo esquecida, porque embora todo povoado povoa-o o pleno anonimato que dá esse efeito singular: de um nada prenhe como o mar. (João Cabral de Melo Neto, Museu de Tudo e Depois) 1. (UNIFESP) – Ao comparar o canavial ao mar, a imagem construída pelo eu lírico formaliza-se em a) uma assimetria entre a ideia de nada e a de anonimato. b) uma descontinuidade entre a ideia de mar e a de canavial. c) uma contradição entre a ideia de extensão e a de canavial. d) um paradoxo entre a ideia de nada e a de imensidão. e) um eufemismo entre a ideia de metro e a de medida. RESOLUÇÃO: O paradoxo ou oxímoro encontra-se no verso “de um nada prenhe como o mar”, ou seja, um nada — que por definição é vazio — prenhe, cheio, como o mar. Resposta: D 2. (UNIFESP) – Nos versos iniciais do poema, “Um canavial tem a extensão / ante a qual todo metro é vão”, metro é concebido como a) forma ineficaz de se medir a extensão de um canavial. b) forma de se medir corretamente um canavial. c) meio de se dizer mais de um canavial do que só sua extensão. d) tradução subjetiva da extensão de um canavial. e) meio de se medir a extensão de um canavial com precisão. RESOLUÇÃO: Vão (“vazio”, “oco”) tem também o sentido de “ineficaz”, “inútil”. Resposta: A 3. (UNIFESP) – O poema está organizado em versos de a) dez sílabas poéticas que traduzem a visão de uma poesia descaracterizada pela falta de emoção. b) oito sílabas poéticas que traduzem a visão de uma poesia de expressão emocional contida. c) doze sílabas poéticas que traduzem a visão de uma poesia que prima pela razão, mas sem abrir mão da emoção. d) cinco sílabas poéticas que traduzem a visão de uma poesia de expressão sentimental exagerada. e) sete sílabas poéticas que traduzem a visão de uma poesia de equilíbrio entre razão e sentimentalismo. RESOLUÇÃO: Os versos têm oito sílabas métricas, com diversas elisões e sinéreses, e apresentam a contenção característica da poesia do autor. Resposta: B C4_3ANO_SP_LARANJA_TEORIA_EXERC_2020_PORT_GK.qxp 10/06/2020 21:45 Página 20 Textos para o teste 4. Texto I — O meu nome é Severino, não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria; como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias. Mas isso ainda diz pouco: há muitos na freguesia, por causa de um coronel que se chamou Zacarias e que foi o mais antigo senhor desta sesmaria. Como então dizer quem fala ora a Vossas Senhorias? (MELO NETO, J. C. Obra Completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1994 – fragmento.) Texto II João Cabral, que já emprestara sua voz ao rio, transfere-a, aqui, ao retirante Severino, que, como o Capibaribe, também segue no caminho do Recife. A autoapresentação do personagem, na fala inicial do texto, nos mostra um Severino que, quanto mais se define, menos se individualiza, pois seus traços biográficos são sempre partilhados por outros homens. (SECCHIN, A. C. João Cabral: a poesia do menos. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999 – fragmento.) 4. Com base no trecho de Morte e Vida Severina (texto I) e na análise crítica (texto II), observa-se que a relação entre o texto poético e o contexto social a que ele faz referência aponta para um problema social expresso literariamente pela pergunta “Como então dizer quem fala / ora a Vossas Senhorias?” — A resposta à pergunta expressa no poema é dada por meio da a) descrição minuciosa dos traços biográficos do personagem-nar rador. b) construção da figura do retirante nordestino como um homem resignado com a sua situação. c) representação, na figura do personagem-narrador, de outros Severinos que compartilham sua condição. d) apresentação do personagem-narrador como uma projeção do próprio poeta, em sua crise existencial. e) descrição de Severino, que, apesar de humilde, orgulha-se de ser descendente do coronel Zacarias. ESOLUÇÃO: Quem fala em Morte e Vida Severina é o retirante, Severino, que é símbolo de todos os excluídos que migram para buscar melhor condição de vida: “há muitos Severinos”. Resposta: C Texto para o teste 5. DOIS PARLAMENTOS — Nestes cemitérios gerais não
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