Buscar

monografia_final

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 42 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 42 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 42 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

CURSO DE PSICOLOGIA 
 
 
 
 
Alice Viana de Sousa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UMA VISÃO PSICANALÍTICA DO AMOR ROMÂNTICO NA 
CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2018 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UMA VISÃO PSICANALÍTICA DO AMOR ROMÂNTICO NA 
CONTEMPORANEIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso de Psicologia 
apresentado ao Centro Universitário Hermínio da 
Silveira - IBMR - Laureate International Universities 
como requisito parcial para obtenção de grau de bacharel 
em Psicologia. 
 
 
 
 
 
 
Orientadora: Ludmilla Tassano Pitrowsky 
 Doutora em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2018ORIENTADORA THERESA PINTO 
 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esse trabalho à minha família: Antônio, Graça e Aline e aos amigos dessa caminhada: 
Grazi, Camille, Juliana e Guga. 
 
1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é válido. Cada um deve 
procurar, por si, tornar-se feliz”. 
Sigmund Freud 
 
2 
 
RESUMO 
 
SOUSA, Alice de Viana. Uma Visão Psicanalítica do Amor Romântico na 
Contemporaneidade. 2018. 30f. Monografia (Graduação em Psicologia) – Instituto Brasileiro 
de Medicina de Reabilitação, Laureate International Universities, Rio de Janeiro, RJ, 2018. 
 
 
Este trabalho tem como proposta realizar uma reflexão teórica que busca discutir, a partir de 
autores e teorias, o amor romântico na psicanálise e as novas condições das relações na pós-
modernidade. É caracterizado como uma revisão de cunho bibliográfico. Apresenta-se a 
vivência do complexo de Édipo como essencial para estruturação do aparelho psíquico, também 
como um ponto decisivo para o processo de sexualização e o direcionamento da escolha objetal 
do sujeito. Na pós-modernidade os relacionamentos são iniciados com intuito de serem 
vantajosos para o indivíduo, pois podem ser trocados quando não trazem mais satisfação, 
evitando futura frustração. A resposta dessa condição é a decadência das leis que fragilizam 
características do indivíduo em conservar vínculos moderados a uma ordem social. Revela-se 
um arrefecimento do superego, que segundo a psicanálise, seria o regulador dessas ações. 
 
Palavras-chaves: Objeto. Amor. Liquidez. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 1 
1 Amor Romântico na Psicanálise Freudiana ........................................................................ 2 
2 Amor Romântico na contemporaneidade .......................................................................... 11 
2.1 Possíveis Respostas .................................................................................................... 19 
2.2 Ainda há amor? .......................................................................................................... 25 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 30 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 33 
 
 
 
 
 
1 
 
INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho propõe fazer uma reflexão teórica que procura discutir, a partir de 
autores e teorias, o amor romântico vivenciado na contemporaneidade. O trabalho se caracteriza 
com uma pesquisa bibliográfica em torno de uma investigação dos relacionamentos que foram 
fragilizados em razão da pós-modernidade. Procurando responder essas questões propostas, 
utiliza-se a teoria psicanalítica para compreender uma possível explicação da escolha objetal 
do sujeito. Através de Bauman, entende-se que os relacionamentos pós-modernos possuem 
características fluidas na conservação do vínculo entre os sujeitos. 
O tema escolhido vem da percepção que o amor está sendo deixado de lado, portanto 
fora de “moda”. Porém, é curioso observar que enquanto é colocado na “gaveta”, gera certo 
incomodo no sujeito. Percebe-se que apesar de vivermos num mundo que preza pela liberdade, 
encontram-se pessoas perdidas sobre as suas escolhas amorosas. Na busca desse encontro, 
recorrem a aplicativos de celular para encontrar possíveis amantes, contando com a facilidade 
de obter prazer com o mínimo esforço. Diante disso, é possível considerar que aquilo 
presenciado em relação ao amor, está sendo vivenciado de forma incerta e duvidosa. 
A transição da modernidade para pós-modernidade apresentou mudanças significativas 
de como o amor é idealizado pelo sujeito. Sendo assim, os amores vistos em conto de fadas e 
nas telenovelas se tornam mais distantes. O príncipe ou a princesa não se encontram mais 
disponíveis e a frustação toma conta do sujeito contemporâneo. Com isso, fecham-se cada vez 
mais na justificativa de experiências negativas, deixando-se de lado novas oportunidades. 
Agora, a satisfação está na rapidez e utilidade em que o outro pode proporcionar. Procuram 
apenas experiências que possam trazer o prazer imediato, assim fugindo constantemente da 
frustração. Uma caraterística desse amor é a diversidade da ampliação do consumo e da 
indústria cultural que apresenta sem freio avanços tecnológicos e científicos. 
No primeiro capítulo compreende-se como é feita a escolha do objeto de desejo pelo 
apaixonado, portanto o que seria amor romântico para Freud. A teoria psicanalítica reconhece 
que essa escolha do objeto de desejo pode estar atrelada a relação com os pais. Para ele a 
vivência do complexo de Édipo é essencial para estruturação do aparelho psíquico, também um 
ponto decisivo para o processo de sexualização do sujeito. Freud também procura explicar como 
estar enamorado pode mudar a percepção do outro e a idealização na construção dos vínculos. 
 
 
2 
 
 No segundo capítulo, é apresentado a teoria dos relacionamentos de Bauman, pela qual 
estuda-se de forma macro o porquê das fragilidades das relações. Com isso, o autor apresenta 
o embasamento da liquidez dos relacionamentos. Seguindo a idealização do capitalismo, o autor 
compara a ideia de relacionamentos com a dinâmica do consumo de mercadorias. Para Bauman 
(2004) consumo é feito através do impulso e não da necessidade do produto. A partir dessa 
lógica, apresentam-se relacionamentos iniciados para que sejam vantajosos para o sujeito, pois 
podem ser trocados quando não trazem mais satisfação. 
 Para tal satisfação, torna-se necessário a criação de novos facilitadores para iniciação 
desses relacionamentos. Assim, é apresentada uma desqualificação do amor como bem precioso 
e necessário para atingir a plena felicidade. Para isso, além de Bauman, também me apoiei em 
autores como Guedes e Pinheiro (2000), Guedes e Assunção (2006) e Geruza (2010). 
O capítulo também propõe a explicar através da psicanálise junto à sociologia um estudo 
em torno desses relacionamentos. Assim, são analisadas as possíveis consequências da 
submersão do sujeito pós-moderno através da psicanálise. Diante disso, critica-se o desamparo 
na relação mãe-bebê e o supereu, visto na teoria psicanalítica como regulador das leis 
introjetadas pela sociedade. Esse declínio das leis debilita a faculdade do sujeito de conservar 
vínculos moderados a uma ordem social. Para o Lago (2009), o supereu continua instituído no 
sujeito contemporâneo, com propósito de viabilizar seu ingresso. Por fim, apresentam-se 
consequências da pós-modernidade nas construções nos relacionamentos. 
 Para articular com Freud, trago-lhes novamente Bauman, sustentando-se através de 
outros autores como de Leite (2017)e Lago (2009). Em suma, parto de um estudo psicossocial 
da construção histórica do amor na psicanálise, em contra partida com a percepção da sociologia 
acerca dos relacionamentos contemporâneos. Esse trabalho busca refletir como as 
transformações tecnológicas podem influenciar também nas transformações subjetivas e 
culturais. A perspectiva psicanalítica de Freud a fim de compreender se os efeitos da civilização 
modificaram a subjetividade do homem, a escolha do objeto de desejo e a interligação do amor 
e a felicidade. Com intuito de compreender as novas condições de relações na pós-modernidade 
e se estas carregam algum prejuízo ao sujeito. 
1 Amor Romântico na Psicanálise Freudiana 
 
 
 
3 
 
Neste capítulo irei discorrer sobre as contribuições de Freud para compreensão do amor 
romântico, através da Psicanálise, sustentando a hipótese de que uma revisão conceitual do 
amor na teoria freudiana permitiria a abertura da possibilidade de aproximar os conceitos de 
amor e a escolha do objeto de desejo. Freud destaca características que determinam a escolha 
da pessoa amada, demonstrando conflitos que ocorrem entre a capacidade de amar e desejar 
sexualmente o mesmo objeto. 
Freud já fala de amor no texto “Os Três Ensaios Da Sexualidade” (1905). O autor 
apresenta a teoria popular do instinto sexual, onde a fábula poética de Platão onde o homem, 
até então completo, divide-se em duas metades, transformando-se em homem e mulher e 
buscam unir-se novamente através do amor. No texto, Freud, relata que o tal mito trata-se de 
um equivoco, pois existem homens que não tratam a mulher como objeto sexual e mulheres que 
não tratam os homens como objeto sexual. Com isso, ele rotula os homossexuais de 
“invertidos”. Invertidos na escolha do objeto de desejo, pois para reprodução da raça, deveriam 
buscar parceiros de sexos opostos, mas neste caso houve uma inversão no objeto de desejo. 
Esse texto não está orientado para o desejo ou o fantasma e não é identificado nele nenhuma 
referência do Complexo de Édipo, mas ele é importante por ser um dos primeiros textos que 
apresentam o discurso de pulsão (GARCIA-ROZA, 1988). 
Para compreensão do Complexo de Édipo, desenvolvido por Freud, é inicialmente 
importante apresentar que é inspirado na tragédia grega Édipo Rei. A história trágica do Édipo 
faz parte da mitologia grega, onde pai de Édipo, Lipo, soube através de um oráculo que seu 
filho amaldiçoado pelos Deuses: ele foi destinado a casar com própria mãe, com quem teve dois 
filhos e mataria seu pai, rei que governava a cidade antes de Édipo. Ao descobrir que seu filho 
seria alvo de uma maldição, Lipo o abandonou seu filho para mata-lo pregando um prego em 
cada pé para tentar matá-lo. O menino foi recolhido mais tarde por um pastor e batizado como 
"Edipodos", o de "pés-furados", que foi adotado depois pelo rei de Corinto e voltou a Delfos. 
Édipo consulta o Oráculo que lhe dá a mesma previsão dada a Laio, que mataria seu pai e 
desposaria sua mãe. Achando se tratar de seus pais adotivos, foge de Corinto. No caminho, 
Édipo encontrou um homem e, sem saber que era o seu pai, brigou com ele e o matou, pois Laio 
o mandou sair de sua frente. (SÓFOCLES, 427 a.C.) 
Para facilitar a compreensão da teoria de Freud, Laplanche e Pontalis, sintetizam de 
forma clara o que seria Complexo de Édipo: 
Conjunto organizado de desejos amorosos e hostis que a criança sente em 
relação aos pais. Sob a sua forma dita positiva, o complexo apresenta-se como 
na história de Édipo-Rei: desejo da morte do rival que é a personagem do 
 
 
4 
 
mesmo sexo e desejo sexual pela personagem do sexo oposto. Sob a sua forma 
negativa, apresenta-se de modo inverso: amor pelo progenitor do mesmo sexo 
e ódio ciumento ao progenitor do sexo oposto. Na realidade, essas duas formas 
encontram-se em graus diversos na chamada forma completa do complexo de 
Édipo. Segundo Freud, o apogeu do complexo de Édipo é vivido entre os três 
e os cinco anos, durante a fase fálica; o seu declínio marca a entrada no período 
de latência. É revivido na puberdade e é superado com maior ou menor êxito 
num tipo especial de escolha de objeto. O complexo de Édipo desempenha 
papel fundamental na estruturação da personalidade e na orientação do desejo 
humano. Para os psicanalistas, ele é o principal eixo de referência da 
psicopatologia. (LAPLANCHE E PONTALIS, 1992, P. 77). 
 
Em síntese, segundo Moreira (2004), a cena edípica é crucial para construção do sujeito 
e ponto decisivo do processo da sexualização e poderá definir mais pra frente à escolha do 
objeto amoroso. Ou seja, a teoria do Complexo de Édipo faz parte das problemáticas 
fundamentais da teoria psicanalítica e também para compreensão o tema abordado em questão. 
É nela que Freud, apresenta os estágios psicossexuais do desenvolvimento. 
 Freud volta a discutir sobre amor no Complexo de Édipo no texto “Cinco lições de 
psicanálise” (1910), afirma que “é absolutamente normal e inevitável que a criança faça dos 
pais o objeto da primeira escolha amorosa” (FREUD, 1910, p. 32). Portanto, a escolha amorosa 
teria relação direta com a identificação do sujeito quanto a seus pais. 
No texto Introdução ao Narcisismo (1914), Freud procura estudar o distúrbio narcisista, 
ao qual anteriormente era determinado como “perversão que absorveu toda a vida sexual da 
pessoa” (FREUD, 1914, p. 10). Porém, determina que o Narcisismo, após sua conclusão, “não 
seria uma perversão, mas o complemento libidinal do egoísmo do instinto de autoconservação, 
do qual justificadamente atribuímos uma porção a cada ser vivo”. (FREUD, 1914, p. 10). 
Apresenta que há dificuldades para o estudo sobre o narcisismo e estabelece que para se 
aproximar do assunto, deveria deslocar o estudo a respeito da doença orgânica, da hipocondria 
e da vida amorosa dos sexos. Vamos nos atentar, a via do estudo para a vida amorosa dos sexos 
para entendermos, pois nesse texto o autor expõe claramente como é feita essa escolha. 
Freud apresenta que, as primeiras satisfações sexuais autoeróticas estão relacionadas à 
autoconservação. (FREUD, 1914, p. 22). No inicio as satisfações eram apenas voltadas para os 
instintos eu; a forma de amamentação representada pela mãe, por exemplo, apresenta como esse 
primeiro objeto sexual. O narcisista, não apresenta esse tipo de direcionamento e seu desejo 
libidinal acaba sendo por ele mesmo, por tanto, procuram em si a satisfação deste desejo. Neste 
caso, seu próprio ego se torna seu objeto de satisfação e esse amor de si é o começo de todo 
amor. 
https://www.sinonimos.com.br/deslocar/
https://www.sinonimos.com.br/deslocar/
 
 
5 
 
Ele distingue que existem dois tipos de amor objetal: narcísico ou ao “de apoio”, por 
exemplo, representado pela mãe. Freud conclui que as pessoas que possuem uma desordem no 
processo do desenvolvimento libidinal - assim como os homossexuais e os perversos, mas no 
caso do narcisismo, acabam trocando esse objeto de apoio, que seria a mãe, por si mesmo. Ele 
supôs que a escolha do caminho através do objeto fica aberta e a pessoa tem a opção de escolher 
o que mais lhe agrada e tem origem em dois objetos sexuais: “Dizemos que o ser humano tem 
originalmente dois objetos sexuais: ele próprio e a mulher que o cria, e nisso pressupomos o 
narcisismo primário de todo indivíduo, que eventualmente pode se expressar de maneira 
dominante em sua escolha de objeto”. (FREUD, 1914, p. 22). 
 Assim, apresenta que há um modo diferente de amar entre homens e mulher. Para o 
homem o amor de “apoio”, o objetal – onde a libido está ligada diretamente ao objeto: “Essa 
superestimação sexual permite que surja o enamoramento, esse peculiar estado que lembra a 
obsessão neurótica, remontando assim a um empobrecimento libidinal do Eu em favor do 
objeto” (FREUD, 1914, p. 23). Já a mulher possui um amor narcísico onde procura sempre 
alguém que as valorize, amam apenas a si mesmas e procuramhomem que reconheçam seu 
valor: “A rigor, tais mulheres amam apenas a si mesmas com intensidade semelhante à que são 
amadas pelo homem. Sua necessidade não reside tanto em amar, quanto em serem amadas; e o 
homem que lhes agradará é o que preencherá tal condição” (FREUD, 1914, p. 23). Sendo assim, 
esse modelo de diferenciação vem de uma abordagem econômica: o masculino significa maior 
quantidade libidinal no objeto e o feminino maior quantidade libidinal no eu. 
Com isso, podemos concluir que o Narcisismo é uma forma de investimento libidinal, 
que tem início na primeira infância, quando a criança toma o próprio corpo como objeto de 
satisfação sexual. Freud afirma que no desenvolvimento a criança não se importa com a relação 
com o outro, pois se satisfaz com o próprio corpo. É necessário que essa energia seja 
externalizada para o mundo e caso não aconteça, pode gerar um mal estar no indivíduo. Por 
isso, é importante investir força libidinal para o mundo externo, pois preserva o bem estar do 
sujeito. 
Logo, Freud relaciona a autoestima com o elemento narcisista do amor. O sujeito 
enamorado eleva seu objeto de desejo ao nível ideal e se torna humilde, pois quando ama abre 
mão do seu narcisismo, que só pode ser substituído pelo amor de outra pessoa por ele. Por isso, 
a autoestima nas relações amorosas pode aumentar se houver reciprocidade e diminuir se for 
rejeitado. A parte primária da autoestima vem do narcisismo infantil (como vimos 
anteriormente), outra da experiência a partir da realização ideal do ego e por último da 
 
 
6 
 
satisfação libido-objetal (a reciprocidade do amor). Portanto, estar apaixonado “consiste num 
fluir da libido do ego em direção ao objeto.” (FREUD, 1914, p. 33). 
 Freud relaciona à impotência de amar devido a alguma perturbação mental e essa 
incapacidade acaba diminuindo a autoestima do indivíduo. Essa impotência estaria relacionada 
às psicoses, onde a libido é direcionada ao eu, em vez de ser ao objeto externo e na neurose a 
libido que foi retirada dos objetos vai investir os objetos da fantasia. Isso de torna importante 
para clinica psicanalítica, pois ajuda a compreender as psicoses e neuroses atuais. 
O conceito de Pulsão é apresentado por Freud, no texto “As pulsões e seus destinos” de 
1915. No texto, Freud se preocupa em distinguir pulsão e instinto e para dar conta o que seria 
o conteúdo do inconsciente. A pulsão não implica comportamento pré-formado em um objeto 
especifico, já o instinto é um comportamento definido em um objeto especifico (GARCIA-
ROZA, 1988). Freud procura explicar no texto que esses impulsos vitais que lançariam o sujeito 
à vida, em busca por satisfação e se apoia em um elo entre o corpo e a mente. O conceito de 
pulsão permite esse entrecruzamento. A dimensão pulsional designa a representação psíquica 
de excitações que chegam ao corpo, ou melhor, 
 
“A pulsão nos aparecerá como sendo um conceito situado na fronteira entre o mental e 
o somático, como o representante psíquico dos estímulos que se originam dentro do 
organismo e alcançam a mente, como uma medida de exigência feita à mente no sentido 
de trabalhar em conseqüência de sua ligação com o corpo” (FREUD, 1915, p.73) 
 
Desde o princípio, a definição pulsional estava marcada pela exigência de satisfação em 
torno do objeto. A pulsão é a representação psíquica de um processo somático que tem sua 
origem no interior dos órgãos do corpo, em zonas erógenas particularmente acentuadas. 
Portanto, o objeto é: 
“A coisa em relação à qual ou através da qual o instinto [ou pulsão] é capaz de atingir 
sua finalidade. É o que há de mais variável num instinto e originalmente, não está 
ligado a ele, só lhe sendo destinado por ser peculiarmente adequado a tornar possível 
a satisfação.” (FREUD, 1915, p. 128) 
 
O objeto pode ser modificado quantas vezes forem necessárias no decorrer das 
vicissitudes que a pulsão sofre durante sua existência, e pode ocorrer que o mesmo sirva de 
satisfação a várias pulsões, simultaneamente. Logo, a pulsão que experimenta seu objeto 
descobre que não é através dele que ela se satisfaz. Por exemplo: o que satisfaz a pulsão na 
necessidade alimentar não é o objeto alimento, mas o prazer da boca. Porém, Garcia-Roza 
(2008, p. 92), pontua “a afirmação de que para a pulsão o objeto é o que há de mais variável e 
de menos importante não se deve ser entendida no sentido de que o objeto é dispensável”. 
Somente por intermédio do objeto é que se pode obter a satisfação, mesmo que parcial. A 
 
 
7 
 
necessidade do objeto é inquestionável, o que não diz de sua especificidade: “a pulsão pede um 
objeto, o que ela não implica é um objeto específico” (GARCIA-ROZA, 2008). Portanto, a 
pulsão liga-se de fato à representação do objeto, que pode ter relação direta ou não com o objeto 
em si. 
Buscando recompor as origens pulsionais o autor no texto “Além do Principio do 
Prazer” de 1920, ressalta a ideia de que o ser humano teria a necessidade de restaurar um estado 
anterior às coisas: 
O que tenho no espírito é, naturalmente, a teoria que Platão colocou na boca 
de Aristófanes no Symposium e que trata não apenas da origem do instinto 
sexual, mas também da mais importante de suas variações em relação ao 
objeto. (FREUD, 1920/1996E, P. 86, itálico do autor). 
 
Freud (1920), afirma que essa plenitude só seria possível com a morte, e a partir disso, 
uma das características pulsionais seria sua direção à morte. Noutras palavras, estamos diante 
da impossibilidade de plenitude na relação corpo-objeto mediada pela linguagem (GARCIA-
ROZA, 1990). É que o objeto da pulsão é variável, dependendo sempre da fantasia criada a seu 
respeito e desejo que assim ganha forma, sabemos que o desejo é o impulso em direção ao 
objeto e à situação de prazer, ou seja, àquela que proporcionaria a satisfação plena. 
No mesmo texto, Freud, elabora a teoria dos instintos opostos, de vida e morte (pulsão 
de vida e pulsão de morte), e afirma que o amor e ódio representam semelhante ambiguidade. 
Estabelece que há um movimento sádico no instinto sexual e conclui que, esses movimentos 
sádicos estão em serviço da função sexual. Na fase oral a aquisição do domínio erótico sobre 
o objeto de desejo gera a destruição do outro, com isso, objeto sádico se insola e se predomina 
na fase genital e se insere para fins de reprodução e, o dominar esse objeto sexual é que o sujeito 
demanda para concretização do ato sexual. 
Freud conseguiu realizar uma grande e clara diferenciação entre a sexualidade infantil e 
a sexualidade posterior ao período da puberdade, por isso, conclui-se que os processos psíquicos 
infantis, tanto em sua dimensão de ação como de afeto e representação, tendem a ser o modelo 
para as relações adultas. 
Para restaurar o significado de libido, o autor no texto “Psicologia de Grupo e a Análise 
do Ego” (1921), Freud discorre novamente sobre a expressão. A libido é uma magnitude 
quantitativa, instinto que está ligado tudo que se relaciona a palavra amor (FREUD, 1921, p. 
57). Segundo o autor, o amor não se constitui apenas no sexual e na união sexual do objeto, 
mas também no amor próprio, amor pelo outro, amor pelos pais e filhos, amor pela amizade, 
pela humanidade, amor pelos objetos. Porém, a pesquisa psicanalítica procurou-se em 
https://www.sinonimos.com.br/ambiguidade/
https://www.sinonimos.com.br/estabelece/
https://www.sinonimos.com.br/estabelece/
https://www.sinonimos.com.br/estabelece/
https://www.sinonimos.com.br/demanda/
https://www.sinonimos.com.br/demanda/
https://www.sinonimos.com.br/demanda/
https://www.sinonimos.com.br/concretizacao/
https://www.sinonimos.com.br/concretizacao/
 
 
8 
 
investigar as expressões dos impulsos instintivos nas relações entre os sexos. São esses 
impulsos levam ao caminho da união sexual, porém, devida algumas circunstâncias, como a 
inversão (homossexualidade), o objeto se distância ou se torna impedidos deser atingido. Para 
Freud, as relações amorosas (ou laços emocionais) são também constituídas de uma influência 
cultural. A partir de duas hipóteses, o autor declara o domínio da mente grupal: 
Primeiro, a de que um grupo é claramente mantido unido por um poder de 
alguma espécie; e a que poder poderia essa façanha ser mais bem atribuída do 
que a Eros, que mantém unido tudo o que existe no mundo? Segundo, a de que, 
se um indivíduo abandona a sua distintividade num grupo e permite que seus 
outros membros o influenciem por sugestão, isso nos dá a impressão de que o 
faz por sentir necessidade de estar em harmonia com eles, de preferência a 
estar em oposição a eles, de maneira que, afinal de contas, talvez o faça ‘ihnen 
zu Liebe‘.(FREUD, 1921/1996E, P. 25). 
 
Freud relata que a igreja católica e a estrutura do exército são formas de dominação 
grupal. As pessoas que fazem parte deste grupo estão ligadas por laços libidinais, por outro um 
lado pelo líder (Cristo, o comandante chefe) e, por outro lado, aos demais membros do grupo. 
Este líder impõe seu pensamento através da ilusão do amor, que ama todos da mesma maneira. 
Este laço emocional se torna tão intenso que obriga os indivíduos a regular sua personalidade. 
A partir desse raciocínio pode-se observar que Freud, prova que sua psicanálise demonstra que 
quase toda relação íntima entre duas pessoas, seja ela qual for, contém sentimentos negativos 
que são julgados pela repressão essas formas de dominação grupal. Essa limitação do 
narcisismo, segundo ele, acontece por conta desse laço libidinal entre às pessoas. Conclui que 
o amor sobre si não é maior que o amor sobre os outros e os objetos. O amor, portanto, na 
dominação grupal, é um fato civilizador e busca modificar o egoísmo em altruísmo. 
Voltando para o tema sobre estar enamorado, a identificação, de acordo com psicanálise, 
é o que determina o laço emocional entre duas pessoas. Freud volta à teoria do complexo de 
Édipo, onde o menino identifica-se com o pai que é o seu ideal (seu modelo) e para com a mãe 
a identifica como um objeto sexual. Portanto, a identificação é imprecisa e pode acontecer com 
tanta facilidade de se aproximar, quanto à ânsia de se afastar. Segundo ele, há três fontes de 
identificação: 
O que aprendemos dessas três fontes pode ser assim resumido: 
primeiro, a identificação constitui a forma original de laço emocional 
com um objeto; segundo, de maneira regressiva, ela se torna 
sucedâneo para uma vinculação de objeto libidinal, por assim dizer, 
por meio de introjeção do objeto no ego; e, terceiro, pode surgir com 
qualquer nova percepção de uma qualidade comum partilhada com 
alguma outra pessoa que não é objeto de instinto sexual. Quanto mais 
importante essa qualidade comum é, mais bem-sucedida pode tornar-
 
 
9 
 
se essa identificação parcial, podendo representar assim o início de 
um novo laço. (FREUD, 1921/1996E, P. 67). 
 
A partir da citação acima, podemos concluir que a identificação que se destaca por ser 
sempre parcial, pois se trata de uma identificação a uma qualidade de uma pessoa e não a uma 
pessoa. A partir disso, afirma que objeto escolhido regrediu para a identificação e o ego assume 
as características do objeto (FREUD, 1921, p. 67). Contudo ainda há outra possibilidade de 
identificação: uma identificação baseada na possibilidade ou no desejo de colocar-se na mesma 
situação, isto é, surge uma percepção de uma qualidade comum partilhada com alguma outra 
pessoa que não é objeto de instinto sexual e que ele denomina de empatia. 
 É fato que o autor, ao discorrer sobre o tema, questiona-se se o amor é real, verdadeiro 
e genuíno. Para ele em determinados casos, o ato de amar busca incessante da satisfação sexual 
por conta dos instintos libidinais através do objeto escolhido. Para exemplificar, retorna ao 
exemplo do Complexo de Édipo: 
Em sua primeira fase, que geralmente termina na ocasião em que a 
criança está com cinco anos de idade, ela descobriu o primeiro objeto 
para seu amor em um ou outro dos pais, e todos os seus instintos 
sexuais, com sua exigência de satisfação, unificaram-se nesse objeto. 
A repressão que então se estabelece, compele-a a renunciar à maior 
parte desse objetivos sexuais infantis e deixa atrás de si uma profunda 
modificação em sua relação com os pais. A criança ainda permanece 
ligada a eles, mas por instintos que devem ser descritos como 
‘inibidos em seu objetivo’. (FREUD, 1921/1996, p. 70). 
 
Logo, o autor conclui que, as emoções sentidas pelo menino são de caráter afetuoso, 
mas deixa claro que as tendências sensuais ainda permanecem e são preservadas no 
inconsciente. Mais uma vez fica claro o quanto as experiências amorosas infantis possivelmente 
determinam as experiências posteriores. 
A respeito de estar amando, enfatiza a ideia da supervalorização sexual: o objeto amado 
desfruta de liberdade quanto à crítica, suas características são altamente valorizadas comparada 
a outras pessoas, não igualmente amadas (FREUD, 1921, p.. 70). Para Freud, a escolha 
amorosa pode feita através da identificação do ideal de ego inatingido, neste caso, identificamos 
as perfeições que nosso ego é incapaz de adquirir no objeto amoroso e de maneira 
despretensiosa faz-se a satisfação do próprio narcisismo. Se os impulsos sexuais são mais ou 
menos recalcados no inconsciente, produzem ao objeto de desejo o magnetismo fantasioso da 
libido sexual reprimida, elaborando o devaneio de amar sensualmente o objeto. Com isso, 
Freud, conclui que esse devaneio esta relacionado à identificação, pois o objeto em questão está 
sendo pactuado da mesma maneira que tratamos o próprio ego, com isso, quando amamos a 
https://www.sinonimos.com.br/magnetismo/
https://www.sinonimos.com.br/magnetismo/
https://www.sinonimos.com.br/devaneio/
https://www.sinonimos.com.br/devaneio/
https://www.sinonimos.com.br/pactuado/
https://www.sinonimos.com.br/pactuado/
 
 
10 
 
quantidade de libido narcisista transborda o objeto, em suma, o objeto consumirá todo o ego. 
Com isso, conclui-se que o objeto foi colocado no lugar ideal do ego (FREUD, 1921, p.. 71). 
Assim, por estar amando, há uma restrição do narcisismo e outros danos causados a si próprio. 
Por isso, relaciona estar amando com a hipnose: 
 
Do estado de estar amando à hipnose vai, evidentemente, apenas um 
curto passo. Os aspectos em que os dois concordam são evidentes. 
Existe a mesma sujeição humilde, que há para com o objeto amado. 
Há o mesmo debilitamento da iniciativa própria do sujeito; ninguém 
pode duvidar que o hipnotizador colocou-se no lugar do ideal do ego. 
Acontece apenas que tudo é ainda mais claro e mais intenso na 
hipnose, de maneira que seria mais apropriado explicar o estado de 
estar amando por meio da hipnose, que fazer o contrário. (FREUD, 
1921/1996E, P. 71 e 72). 
 
É evidente para Freud, que existe a mesma conexão entre estar amando e a hipnose para 
o objeto amado. O hipnotizador, contudo será colocado no lugar do ideal do ego, ele será o 
único objeto e será o responsável por verificar a realidade das coisas. Mas a diferença sintética 
entre a dedicação ilimitada de alguém que ama e a hipnose, é que a hipnose é excluída de 
satisfação sexual, enquanto, no amar a satisfação sexual é momentaneamente reprimida, mas 
conserva-se, em seguindo plano, para depois ser um provável objeto para outras ocasiões que o 
indivíduo possa se deparar. Em outras palavras, o transe hipnótico pode gerar a submissão 
intensa e isso também ocorre quando estamos apaixonados. A mesma forma que estar 
hipnotizado te deixe sonhando acordado, estar apaixonado causa o mesmo efeito. É como se 
não conseguíssemos distinguir o que é real e o foco se torna em corresponder, concretizar e 
satisfazer o desejo, seja estando apaixonado ou hipnotizado. 
Segundo Freud (1921), as emoções quando se estiver amando são de características 
afetuosas. Apesar disso o objetivosexual está sempre no inconsciente e atuando. Para Freud, 
são esses componentes afetuosos que camuflam o impulso sexual, pois, inibidos em seu 
objetivo são a condição do laço entre as pessoas. Ao trocar os impulsos sexuais por aqueles 
inibidos em seus objetivos, estabelece-se uma distinção entre o ego e o ideal do ego, tal como 
ocorre quando se está enamorado. Ou seja, 
Estar amando baseia-se na presença simultânea de impulsos 
diretamente sexuais e impulsos sexuais inibidos em seus objetivos, 
enquanto o objeto arrasta uma parte da libido do ego narcisista do 
sujeito para si próprio. Trata-se de uma condição em que há lugar 
apenas para o ego e o objeto. (FREUD, 1921/1996E, P. 90). 
 
https://www.sinonimos.com.br/restricao/
https://www.sinonimos.com.br/dedicacao/
https://www.sinonimos.com.br/dedicacao/
 
 
11 
 
Freud se refere à distinção entre o ego e o ideal do ego e os vínculos que essa 
diferenciação possibilita que diz respeito tanto à identificação quanto a colocar o objeto no lugar 
do ideal do ego. Essa divisão é complexa e gera alguns resultados que merecem atenção, por 
isso, deve-se realizar a separação do ideal do ego do próprio ego para que o indivíduo não perca 
sua subjetividade, por conta das projeções propostas pelas mentes grupais. 
A partir da leitura da psicanálise de Freud, pode-se pensar que a busca do objeto 
amoroso tem relação com os temas de relevância social pelo fato de ser relativo à formação 
subjetiva e serão as relações parentais que podem provavelmente direcionar as buscas amorosas 
do sujeito ao longo de sua vida. 
2 Amor Romântico na contemporaneidade 
 
Como observado anteriormente, Freud, defende a leitura do amor pautada na troca 
libidinal, onde o objeto é eleito para satisfação pessoal, em quanto laço social duradouro. 
Porém, a literatura nos apresenta que o amor romântico foi invenção histórica e necessária, 
defendida pelas grandes instituições sociais (Estado, Religião e Família). Foram estas que 
partiram na conjuntura de um projeto de construção de uma sociedade nova, com raízes afetivas 
mais seguras e relações humanas mais duradoiras e como um incentivo à autonomia e 
independência financeira burguesa diante de interesses grupais reforçando também a origem 
puritana (GERUZA, 2010). O liberalismo político e capitalista explicam o individualismo da 
sociedade contemporânea (GUEDES e ASSUNÇÃO, 2006). Além disso, tornou a sociedade 
flexível e baseada na tecnologia da informação. 
Teixeira (1985) salienta que o regime capitalista de produção, supõe a disseminação da 
produção para a troca. Para ele com a expansão dessa generalização gera a separação entre os 
direitos dos produtores de mercadorias dos seus meios de produção. Isso que dizer que, o 
produtor que produzia as mercadorias, deixa de produzir e torna sua força de trabalho como 
única possível mercadoria. Proletariados são convertidos a assalariados, aptos à liberdade de 
consumir. 
Para fazer parte do processo de troca e assim fazer parte da sociedade, segundo Teixeira 
(1985), o sujeito deve estar disposto a expor suas habilidades ao mercado, deparando-se com 
os inúmeros sujeitos na mesma situação. Porém, não se aliena diante disso, e sabe que agindo 
de acordo com o fluxo pode continuar participando da troca – pois antagonicamente seria 
 
 
12 
 
apenas um escravo. Assim, de acordo com a relação de troca imposta pelo capitalismo, 
caracteriza-se a separação dos proprietários dos meios de produção aos antigos proletários. 
A transição da modernidade para pós-modernidade apresenta características importantes 
para construção do sujeito. A modernização engloba duas tradições que favorece mutuamente 
a corrente emancipatória (ou seja, libertadora) e a corrente tecnológica. São consequentes da 
Revolução Francesa que declara autodeterminação para todos, efetivada pelo tratado de 
Versailles. Este item emancipatório, contribuiu para a modernização, incorporado pela lei geral 
do Estado-nação que estabeleceu leis gerais pautadas no dever, na cidadania, burocracia e nos 
diretos (SHINN, 2008). Através dessa emancipação, podemos compreender que ela gera uma 
abertura na liberdade nas possibilidades de escolha do sujeito, que se mostra mais expressiva 
na pós-modernidade. 
Segundo Shinn (2008 apud JAMESON, 1984), a cultura pós-moderna pode ser 
caracterizada por três elementos: 
“[...](1) uma perda de profundidade individual hoje as pessoas são muitas 
coisas e estão constantemente mudando, o que não significa superficialidade 
mas, antes, multiplicidade; (2) o anterior entendimento progressivo e linear da 
história está perdido os indivíduos vivem agora o presente; as noções de espaço 
e tempo são bastante diferentes na pós-modernidade em comparação com a 
modernidade; (3) a emoção é legítima e central na pós-modernidade a emoção 
abre caminho para muitas outras formas de exploração e de 
identidade.”(SHINN, 2008, p.53) 
 
O autor apresenta que a pós-modernidade acelerou as coisas, tantos materiais quanto 
pessoais. Essa aceleração de novas descobertas substitui o sujeito por um ser auto-operante em 
uma nova dimensão temporal e espacial que são sustentados pelo trabalho, através das infinitas 
fontes de imaginação e criatividade. 
 Bauman (2000) denota que na pós-modernidade o trabalho ainda está centralizado 
como fonte de subjetivação do sujeito. Porém, a partir das infinitas possibilidades, é nele que o 
indivíduo acredita encontrar o crescimento pessoal, familiar e financeiro. Essa relação de troca 
estabelecida pela mercantilização da mão de obra revela um homem que é valorizado no seu 
lugar de proprietário e consumidor – homem e mercadoria se identificam. Isso pode representar 
o alicerce que o homem elabora de si e dos outros as sua volta. 
Bauman dedica-se ao estudo dos laços humanos e novas formas de se relacionar de forma 
macro. Para ele a sociedade capitalista está atrelada ao consumo e transforma as mercadorias 
ou serviços para objeto de desejo. Ele faz comparação entre consumo de mercadorias e as 
escolhas amorosas. Para o autor as relações amorosas na contemporaneidade são pautadas em 
um “amor líquido”, portanto, 
 
 
13 
 
 
“Amor líquido é um amor ‘até segundo aviso’, o amor a partir do padrão dos bens de 
consumo: mantenha-os enquanto eles te trouxerem satisfação e os substitua por outros 
que prometem ainda mais satisfação. O amor com um espectro de eliminação imediata 
e, assim, também de ansiedade permanente, pairando acima dele. Na sua forma liquida, 
o amor tenta substituir a qualidade por quantidade- mas isso nunca pode ser feito, como 
ou mais tarde acabam percebendo. É bom lembrar que o amor não é um ‘objeto 
encontrado’, mas um produto de um longo e muitas vezes difícil esforço e de boa 
vontade”. (BAUMAN, Isto é, 2010). 
 
O indivíduo da sociedade contemporânea acredita que o relacionamento amoroso advém 
da realização pessoal imediata (GERUZA, 2010). Os meios de comunicação vendem a 
felicidade como um direito do ser humano de ser livre e conseguir tudo que quer. Essa 
independência ser torna um traço de caráter, onde o indivíduo conduz seu próprio ritmo de 
acordo com seus desejos próprios. O sujeito é responsável pela sua própria vida e a “felicidade” 
prometida através da realização do amor romântico, não conseguirá resistir ao cotidiano, ao 
esfacelamento daquilo que acredita ser perene em constantemente lhe proporcionar prazer: o 
amor romântico. 
Bauman (2004) analisa que essas experiências “amorosas” foram rebaixadas de padrões 
e acabam desvalorizando da palavra amor. As noites casuais de sexos são referidas pelo 
codinome “fazer amor”. Acredita-se que os repentinos aumentos da disponibilidade dessas 
experiências alimentam a concepção do amor como um treinamento, onde o acúmulo de 
experiências deixa a próxima experiência mais prazerosa. Porém, segundo o autor, trata-se 
apenas de uma ilusão, pois essa repetição não é nada maisdo que o desaprendizado do amor ou 
uma incapacidade de amar. 
Podemos perceber que o desejo é o único sentimento presente nas relações e Bauman 
(2004) confirma quando estabelece a diferenciação entre o desejo e o amor. Desejo é a vontade 
de consumir, buscando sempre domesticar o sujeito de forma que ele seja destruído a ser 
consumido. Já o amor é cuidar e preservar o objeto, se dedicar a ele e não se quer consumir o 
objeto e sim possuí-lo. 
Portanto, o autor destaca que os relacionamentos são voltados para satisfação do prazer 
momentâneo e individualista. Com isso, compara a lógica do shopping center, onde as pessoas 
não compram para satisfazer algum desejo e sim por impulso. Comenta que para semear desejo 
demanda tempo para se estabelecer e seguir por impulso a escolha das parcerias sexuais é deixar 
em aberto novas experiências românticas que podem ser mais satisfatórias e completas. Com 
isso, a relação é: 
 
 
14 
 
Guiada pelo impulso [...], a parceria segue o padrão do shopping e não exige 
mais que as habilidades de um consumidor médio, moderadamente experiente. 
Tal como outros bens de consumo, ela deve ser consumida instantaneamente 
(não requer maiores treinamentos nem uma preparação prolongada) e usada 
uma só vez, “sem preconceito”. É, antes de mais nada, eminentemente 
descartável. (BAUMAN, 2004, p. 27, aspas do autor). 
 
 Dessa maneira, podemos concluir que o estilo de vida consumista, favorece a velocidade 
como a novidade e variedade que elas promovem e facilitam. As relações frequentemente são 
baseadas no impulso e se não trazem satisfação imediata são descartadas. Essa atitude pode ser 
comparada como uma compra feita pouco tempo e devolvida por conta da insatisfação do 
consumidor. 
 Cada vez mais comuns, Bauman (2004) apresenta as relações de bolso e, assim são 
chamadas, pois guardam-se para que possam ser usadas quando forem preciso – geralmente 
conhecida como “amizade colorida” ou o chamam de “ficar”. A primeira regra dessa relação é 
não se apaixonar. A conveniência é a única coisa que importante, a pessoa deve manter a cabeça 
fria e coração sem sentimentos amorosos. Portanto, esse “ficar” observado pelo autor, remete a 
uma possibilidade de conhecer outras pessoas, pois mesmo “ficando” podem-se conhecer novos 
pretendentes. Isso, justamente pelo fato de não existir compromisso e se um dos dois sentirem 
algo fora do combinado é hora de finalizar e seguir adiante. 
Seguindo a lógica dos tipos de relacionamento, podemos também nos atentar aos 
relacionamentos através da conectividade, hoje em dia sendo mais comuns. Para Bauman 
(2004), essas relações são mais fáceis de entrar e sair, assim elas parecem ser feitas sob medida 
para o cenário liquido. A internet propõe a viabilidade de relação social, com apoio emocional 
e sentimento de pertence. Hoje ela possibilita a escolha do parceiro que deseja, na hora que 
deseja, da forma que deseja. A introspecção é substituída por uma interação sem freio, 
facilitando até os mais tímidos a iniciar relacionamentos mesmo sem se ver e essa distância 
gera coragem para tomar uma iniciativa, pois parece ser mais fácil encarar uma tela de 
computador do que um contato mais humano. 
Quando o relacionamento vinga, torna-se uma fonte de diversão e namorar dessa forma 
não há repercussão no mundo real. Assim, leva o relacionamento a um estado ilusório que não 
é digno de muitos esforços. Bauman (2004) atenta que essa interação depende de cada um dos 
envolvidos determinar sua continuidade. Esses relacionamentos podem ou não se 
materializarem, e os usuários são responsáveis pelas ações e atitudes na esfera dentro e fora do 
mundo virtual. É possível verificar que para Bauman os celulares contribuem para manter essa 
conexão. O trecho de um dos seus escritos exposto a seguir demonstra essa relação: 
 
 
15 
 
Você nunca perde de vista o seu celular. Sua roupa de jogging tem um bolso 
especial para ele, e você nunca sai com aquele bolso vazio, da mesma forma 
que não vai correr sem o seu tênis. Na verdade, você não iria a nenhum lugar 
sem o celular ("nenhum lugar" é, afinal, o espaço sem um celular, com 
um celular fora de área ou sem bateria). Estando com o seu celular, você nunca 
está fora ou longe. Encontra-se sempre dentro — mas jamais trancado em um 
lugar. (BAUMAN, 2004, p. 79). 
 
 Hoje o celular tem uma função importante no dia a dia do ser humano. Ele faz parte da 
comunicação, da expressão e consequentemente contribuem para o cenário liquido. Se uma 
mensagem não foi respondia, não tem problema, existem outros números que podem satisfazer 
o que você procura. Portanto, essas conexões tendem ser mais frequentes e banais. O autor 
afirma que estar conectado por celular, assim como pelo computador, é menos custoso do que 
estar engajado, gerando uma menor produtividade na construção e manutenção dos vínculos. 
Com isso, o autor comenta que a proximidade virtual no cenário líquido pode ser vista com 
vantajosa, pois a solidão por trás da tela parece ser menos arriscada do que compartilhar com 
outra pessoa o mesmo local em comum. Portanto, não é admirável que, 
[...] a proximidade virtual tenha ganhado a preferência e seja praticada com 
maior zelo e espontaneidade do que qualquer outra forma de contiguidade. A 
solidão por trás da porta fechada de um quarto com um telefone celular à mão 
pode parecer uma condição menos arriscada e mais segura do que compartilhar 
o terreno doméstico comum. (BAUMAN, 2004, p. 84) 
 
Atualmente, é comum que os jovens busquem conhecer pessoas através de aplicativos 
disponíveis nos smartphones. O aplicativo “Tinder” é o mais comum entre os jovens que estão 
“a fim” de flertar pelo celular. Moura e Cortes (2015) apresentam de forma didática o 
funcionamento do aplicativo: 
Na prática, a plataforma mostra imagens de perfis que possivelmente agradem 
ao visualizador e outros dados como idade e raio geográfico, além de uma 
funcionalidade em que o usuário pode clicar na opção "Liked" (gostei) em um 
botão com formato de coração ou "Not" formando um "X" na tela [...] No 
momento em que dois usuários escolhem a opção "like", para os respectivos 
perfis, acontece uma combinação intitulada pela plataforma de “It’s a Match”, 
e a partir disso ambos podem iniciar uma conversa “on-line”. (MOURA E 
CORTES, 2015, p.4). 
 
O “match” descrito pelos autores claramente demostram a rapidez e agilidade no 
estabelecimento da ligação com o outro, antes era instituída pelo cortejo, que demandava tempo 
e dedicação. Assim, a afinidade que era baseada pela constituição familiar, é fragmentada com 
facilidade (BAUMAN apud MOURA E CORTES, 2015). 
Além disso, é importante evidenciar que a internet trouxe a possibilidade da sociedade 
apresentar o discurso que quiser de forma ampla, para pessoas de diversas sociedades. Foucaut 
(2001) apresenta o discurso como um acontecimento homogêneo à prática relacionada como 
 
 
16 
 
ato de criação e ao ato de ler histórias. Com isso, o discurso pode oferecer sentido à imagem 
que fazemos de nos mesmos e dos outros, de acordo com o contexto que quisermos. Para o 
autor, o discurso pode ser visto como conjunto de enunciados que apoiam a formação discursiva 
do ser e materializam nas práticas sociais dos sujeitos. Dessa forma, podemos cogitar que o a 
imposição do discurso nas redes sociais poderiam incentivar o a lógica a continuação do 
consumo exagerado da sociedade contemporânea. 
É a partir dessa lógica consumista que Bauman (2004) apresenta a relação dela com os 
relacionamentos atuais: 
E assim é numa cultura consumista como a nossa, que favorece o produto 
pronto para uso imediato, o prazer passageiro, a satisfação instantânea, 
resultados que não exijam esforços prolongados, receitas testadas, garantias de 
seguro total e devolução do dinheiro. A promessa de aprender a arte de amar é 
a oferta (falsa, enganosa, mas que se deseja ardentementeque seja verdadeira) 
de construir a “experiência amorosa” à semelhança de outras mercadorias, que 
fascinam e seduzem exibindo todas essas características e prometem desejo 
sem ansiedade, esforço sem suor e resultados sem esforço (BAUMAN, 2004, 
p. 22). 
 
Como podemos observar, assim como a lógica capitalista que valoriza a abundância de 
bens, os jovens hoje procuram quantidade e não qualidade em seus relacionamentos. Desta 
forma, gostam de quantificar quantas vezes “ficam” e quantas pessoas “pegam”. A quantidade 
que é importante, pois para eles é o que aparentemente supre a miséria afetiva de seus corações. 
Desse modo, podemos concluir que o fica é o medo de sofrer e se decepcionar quando 
descobrem que o outro não trás a garantia de felicidade. Por conta disso, mantém as suas 
relações superficiais com intuito apenas de suprir a necessidade sexual, enquanto a emocional 
é projetada em outras estâncias da vida. 
O medo da frustração é possivelmente devido à falência das habilidades para ter um 
relacionamento e consequentemente ter uma família (GUEDES e PINHEIRO, 2000). Para 
poupar-se de possíveis frustrações, o indivíduo entra em um mundo particular, dificultando 
possíveis contatos ou se apropriando do mundo virtual – como vimos anteriormente. De acordo 
com Bauman (1998), amar se caracteriza, na maioria das vezes, como um ato arriscado, 
perigoso, pois não conhecemos de antemão o resultado final das nossas experiências afetivas. 
Nesse seguimento, a pessoa esquiva-se da ansiedade e a incessante possibilidade do fim do 
relacionamento. 
Acerca disso, podemos relacionar com o termo de “flutuação”, apresentado por 
Baumam (1997), que seria a recusa de conceder o caráter custoso da tarefa e o trabalho duro. 
Assim, temos a estratégia de evitar as possíveis perdas e não investir tempo e muito menos 
 
 
17 
 
esforço, já que os ganhos estão abaixo do trabalho que é dedicado para assegurá-los. Nessa 
estratégia o indivíduo consegue se esquivar da insegurança em vez de enfrenta-la na esperança 
de encontrar segurança em esforços inferiores, mas que possam trazer benefícios 
árduos.(BAUMAN, 1997, p. 115). 
Podemos elucidar a entrada de trabalho da mulher relacionada à deterioração da relação 
com o homem. Geruza (2010) supõe que a entrada da mulher no mercado de trabalho, tirou o 
lugar de dona de casa, fazendo que ela saísse do papel de submissão em todos os âmbitos, 
principalmente o sexual. A mulher conquistou o direito de escolher com quem se relacionar. 
Isso tudo a torna ameaça ao “macho” que perdeu seu papel de chefe da família, em que era o 
único responsável por sustentar a casa. Para autora, a contemporaneidade gerou homens e 
mulheres desamparados por seus próprios sentidos e sentimentos facilmente descartáveis. 
 Observamos que o sujeito contemporâneo devota-se à autonomia pessoal, e ter filhos, 
assim como casar, em nossa época pode ser uma questão de decisão e escolha. Porém, a lógica 
do consumo também transforma a estrutura familiar. Para expor melhor essa relação, Bauman 
(2004), defende que há dois caminhos na nova estrutura familiar: o primeiro é sustentado, como 
já falamos, pelo individualismo e a prioridades dos objetivos pessoais; e o fato de que formar 
uma família pode ser colocado em segundo plano. Já o segundo caminho, não abandona a lógica 
individual-consumista, mas adaptou a construção da família, onde ter filho se torna também um 
consumo, mas voltado para um consumo emocional. De maneira que, ter um filho fosse um 
amparo mais sólido, já que conseguem proporcionar uma alegria contínua – coisa que 
infelizmente nenhum objeto de consumo proporciona. Portanto os, 
 
objetos de consumo servem a necessidades, desejos ou impulsos do consumidor. Assim 
também são os filhos. Eles não são desejados pelas alegrias do prazer paternal ou 
maternal que se espera que proporcionem-alegrias de uma espécie que nenhum objeto 
de consumo, por mais engenhoso e sofisticado que seja, pode proporcionar (...)’. 
(BAUMAN, 2004, p.59) 
 
Porém, segundo o autor, essa lógica choca-se com a dinâmica contemporânea, pois ter 
filhos é um vínculo emocional e lealdade sem validade. Por isso, acredita que, quando o sujeito 
tem consciência disso, é capaz de entrar em colapso e isso pode ser a explicação das crises 
conjugais pós-partos. Sendo aparentemente relacionados com as doenças da 
contemporaneidade, como a anorexia ou bulimia (ambas voltadas para a frustação de não estar 
de acordo com que a sociedade impõe). 
 
 
18 
 
Relativamente, Bauman (2004) acredita que as pessoas não querem mudar certas 
atitudes ou abdicar de certos costumes em prol de um relacionamento, pois temem o término 
da relação no primeiro sinal de desgaste. A insegurança de estabelecer uma relação por conta 
da incerteza de seu futuro faz com que os jovens prefiram jogar todas suas expectativas na 
construção de sua carreira, onde a certeza do retorno é garantida. 
Seguindo esse embaraço da criação de vínculos duradouros, Bauman (2004) discute que 
vivemos com a dificuldade de amar ao próximo. Hoje o indivíduo questiona-se sobre a 
reciprocidade de amar o outro e o que isso lhe trará de bom. O altruísmo é questionado, e como 
já apresentado por Friedrich Nietzsche onde, “cada ação é preciso ter em vista o interesse 
pessoal, como seu bem supremo” (NIETZSCHE apud ARALDI, 2016, p. 80). Logo, podemos 
perceber que o objetivo do indivíduo contemporâneo é obter lucro e vantagem nos seus 
investimentos pessoais. 
Sendo assim, o autor concorda com Freud, que em seu texto, “Mal Estar da Civilização” 
de 1930, comenta sobre o mandamento “amar ao próximo como a si mesmo” e identifica que 
esse mandamento não faz mais sentindo, pois por conta da lógica de segregação social e 
espacial, vinda da incapacidade de aceitar o outro ser humano na sociedade, há uma ausência 
de compromisso com o próximo. Essa falta de empatia vem da lógica capitalista, em que os 
indivíduos vivem exacerbados em seus condomínios fechados, procurando manter seus bens e 
em consequência ficam alienados com tudo que acontece do lado ao contrário dos seus muros. 
Diante do que foi exposto nesse capítulo, podemos observar a contemporaneidade como 
a época o vazio, onde o tédio e a indiferença em relação ao outro se instalam. As pessoas perdem 
interesse rápido e a noção de várias possibilidades reforça isso. A procura por aplicativos de 
namoro se torna muito comum entre os jovens, por isso. Há uma catalogarização de pessoas 
que se conhecem através do “match” - que podemos traduzir como combinação de pessoas 
interessadas reciprocamente. 
Além disso, por mais que a contemporaneidade apresente várias formas de se relacionar, 
no final das contas os sujeitos possuem medo de se frustrar, devido à insegurança que a 
atualidade nos apresenta. A nossa cultura consumista favorece essa concepção de produto para 
uso imediato e de fácil acesso com prazer passageiro e satisfação imediata e podemos ter a 
mesma concepção para os novos relacionamentos. 
 
https://www.sinonimos.com.br/embaraco/
 
 
19 
 
2.1 Possíveis Respostas 
 
Como vimos no capitulo anterior, vivemos um estado de individualidade, onde o sujeito 
não procura vínculos. A fluidez da modernidade contemporânea se reflete na forma como os 
sujeitos se relacionam. (BAUMAN, 2004). Mas como a psicanálise pode explicar essa fluidez? 
A proposta desse capítulo é apresentar argumentos nos ajude a compreender essa questão. 
Como vimos no capítulo anterior, para Bauman (2004), essa liquidez também vem da 
desconfiança do amor do outro. Afinal, o amor exige tempo, cuidado e permanente 
manutenção. Acredita-se que os indivíduos não estão dispostos a ser entregar a algo que pode 
acabar. Portanto, esses sujeitos estão presos na satisfação imediata e não tem o mínimo de 
interesse em ter um relacionamento com seu objeto de desejo. Portanto, o indivíduo adquire 
múltiplas experiências amorosasao relacionar-se com outros sujeitos. 
Segundo Leite (2017), nossa sociedade induz que o consumo seja um objeto de desejo 
de gozo solitário, gerando a individualidade, que acabará levando o sujeito novamente à 
vivência do estado de desamparo. Há uma promessa (fantasiada) de que este consumo satisfaça 
totalmente seus desejos, e como na verdade não satisfaz, deixa o indivíduo cada vez mais 
desamparado. 
Ao relacionar o desamparo como possível causa da fragilidade dos relacionamentos, 
voltamos a Freud que introduz o termo em 1985, no texto “Projeto para uma psicologia 
científica”. No texto, o autor descreve que o recém-nascido precisa de ajuda de outro para 
promover sua sobrevivência. O bebê apela por ajuda e são esses sinais que fará o adulto 
responde com o cuidado. A mãe tem o papel de ser interprete do bebê sobre suas ansiedades e 
medos. A comunicação acontece a partir da captação das informações relacionadas às 
manifestações do bebê, onde a mãe tenta decodifica-las, devolvendo a ele o resultado da sua 
interpretação. Quando não há essa comunicação, o bebê pode entrar em estado de desamparo. 
Essa comunicação é de extrema importância para o desenvolvimento psicológico e, a 
partir disso, Freud (1927) conclui que o sentimento desamparo já aparece no começo da vida, 
devido à necessidade de realizar trocas com o mundo dependendo da ajuda do cuidador. No 
texto “O Futuro De Uma Ilusão” de 1927, Freud, destaca que a mãe satisfaz o bebê com o leite 
materno. Desse modo, ela se torna o primeiro objeto amoroso e fonte proteção de todos os 
perigos e ansiedades. Em seguida, essa figura é substituída pelo pai, porém, a criança admira o 
pai e ao mesmo tempo o teme, por causa da relação dela com a mãe. Isso o torna guardião da 
 
 
20 
 
lei e dos processos civilizatórios como anteparo contra eventuais ameaças de figuras intrusas. 
Aproveitando o raciocínio, Leite (2017) relativiza a entrada do pai em cena e o corte feito na 
primeira relação mãe-bebê, que satisfazia todas as demandas da criança, agora é o consumo da 
mercadora acaba de tomar o lugar do outro. 
A criança cresce e se torna adulto, logo, percebe que o seu destino é permanecer uma 
eterna criança no sentido de sempre precisar de proteções superiores. Portanto, para Freud, a 
religião teria origem como construção de uma proteção contra o desamparo humano e também 
a ameaças externas (FREUD, 1927). Com isso, o adulto não se sentirá desamparado, pois 
sempre terá alguém que não irá lhe abandonar e se sentirá protegido e amparado. Ou seja, 
O homem certamente se encontrará então em uma situação difícil: terá de reconhecer 
todo o seu desamparo, sua insignificância no mecanismo do mundo, não será mais o 
centro da criação e o objeto do cuidado terno de uma Providência bondosa. Ele estará 
na mesma situação da criança que deixou a casa paterna, tão aquecida e confortável 
(FREUD, 1927, p. 73). 
 
Como vimos no primeiro capítulo, na relação pós-edípica o indivíduo teria internalizado 
as figuras parentais, na instância psíquica do supereu e transferindo a libido para outro objeto 
de desejo, trazendo uma possível proteção frente ao desamparo humano. Porém, para Leite 
(2017) o pai falha novamente e como sempre falhou, portanto, o fantasma do desamparo vem 
novamente à tona. Isso poderia explicar porque hoje as relações humanas ou as de ternura, que 
deveriam dar suporte e segurança ao sujeito desamparado após o Complexo de Édipo, não 
consegue realizar o amparo necessário. 
Leite (2017) concluiu que ao invés de uma relação de insegurança, onde espera a 
possível falha do outro, o indivíduo na contemporaneidade encontra na mercadoria uma forma 
de segurança e amparo, que na verdade é apenas uma projeção. Acerca disso, podemos observar 
que deslocamento de libido continua acontecendo como tentativa de sair do estado de 
desamparo. Esse deslocamento acontece a partir do momento que acontece a troca das relações 
humanas com as relações estabelecidas com os objetos de consumo, pois esse objeto pode ser 
trocado a qualquer momento. 
Segundo Bauman (2004), é a indústria impõe que indivíduo sempre busque a satisfação, 
com isso manipulam os indivíduos através da reprodução de ideias jamais atingidas pelos seres 
humano. Consequentemente para Leite (2017), essa necessidade deixa de ser uma relação de 
necessidade para uso e passa ter relação com a imagem, onde entramos num mundo de ilusões 
e aparências. 
 Em vista, podemos observar que o estado de desamparo deveria ser um impulso para 
que o indivíduo procure no outro amparo e segurança em seus semelhantes, porém 
https://www.sinonimos.com.br/consequentemente/
 
 
21 
 
aparentemente isso foi pacificado com a indústria cultural. Acerca disso, Bauman (2008), 
afirma que o que acontece na contemporaneidade é a troca das relações humanas para relações 
de consumo e essa troca trás consequências importantes para o psíquico. O que era esperado no 
encontrar no outro, passar a ser buscado em coisas que podem ser consumidas. Portanto, 
consegue-se o amparo com consumo de mercadorias e bens materiais (LEITE, 2017). Sendo 
assim, a mercadoria passa a substituir as relações afetivas, pois a satisfação é imediata. 
Leite (2017) expõe que ainda pode surgir uma falha da falta, porém o momento que a 
relação estará estabelecida com o objeto e não com uma pessoa real, ela poderá se trocada sem 
qualquer remorso, coisa que não é fácil ser feito nas relações humanas. Sendo assim, as relações 
humanas efetivas que antes serviam de amparo para estruturação do sujeito, na 
contemporaneidade são baseadas no uso do outro e nenhum retorno significativo. 
Diante disso, o outro passa a ser sinal de objeto para consumo a partir do momento que 
o ato é consumado, o outro passa da posição de objeto para posição de dejeto (BAUMAN, 
2004). Com isso, Leite (2007, p. 71) conclui através da leitura de Freud, que as relações 
baseadas através do “princípio do prazer, se afundam ainda mais no indivíduo em sua solidão 
em que seu individualismo desde o momento que não encontram outros sujeitos aptos para 
fazerem essa troca de amor”. 
Como vimos no capítulo anterior, os indivíduos estão cada vez mais buscando outros 
indivíduos dispostos a viver do prazer imediato e não encontram nada além do vínculo que seja 
mais prazeroso do que a buscar do prazer, que é simples e quando conseguem obter, acreditam 
serem independentes e ao mesmo tempo solitários. Portanto essa satisfação “falsa”, relatada 
por Bauman (2004), pode explicar a continuidade no estado de desamparo no sujeito. Com 
isso, é possível pensar que esse desamparo gerado com o consumo possa gerar descaso com o 
outro. 
 Para justificar essa satisfação imediata, apresento novamente Freud que no texto “Mal 
Estar da Civilização” de 1930, afirma que tentamos ser um “Eu puro do prazer”, ou seja, o 
funcionamento mais primitivo da subjetividade humana esta relacionado ao princípio do prazer 
de satisfação imediata e muitas vezes inconsciente. Freud (1930) identifica que as exigências 
da cultura civilizatória é o principal obstáculo para a satisfação sexual. Para ele essa relação 
ambígua da sociedade faz com que um mal-estar insista sobre o indivíduo. Portanto, o mal estar 
inerente a qualquer formação social e a busca felicidade está fadado ao fracasso. 
Em contrapartida, retomo as questões referentes ao amor e aos relacionamentos, para 
uma comparação com a busca da ordem que Freud apresentou como característica do 
 
 
22 
 
pensamento moderno, baseados nos valores tradicionais da família, pautadas em compromissos 
duradouros, pois estes faziam parte da exigência social de ordem (FREUD). Essa segurança, 
vinda da promessa do casamento que promete o amor “até a morte nos separe”, indicou ao 
sujeito de forma ordenada para realizar suas necessidades pulsionais, relacionadas às escolhas 
amorosas, propõe uma ordem monógama e duradoura: 
A civilização atual deixaclaro que só permite os relacionamentos sexuais na base de 
um vínculo único e indissolúvel entre um só homem e uma só mulher, e que não é de 
seu agrado a sexualidade como fonte de prazer por si própria, só se achando preparada 
para tolerá-la porque, até o presente, para ela não existe substituto como meio de 
propagação da raça humana. (FREUD, 1930, p. 110). 
 
 Portanto, podemos observar que além das questões comportamentais, os valores sociais 
também delimitavam a forma como o sujeito se colocava a frente das questões relacionadas à 
sexualidade. É importante compreender que Freud, viveu na sociedade moderna, onde as 
normas de condutas eram mais rígidas com a escolha dos objetos amorosos. Não havia liberdade 
para viver a orientação sexual desejada. Era a sociedade delimitava as satisfações pulsionais 
através do relacionamento heterossexual, e consequentemente fortaleceu essa ideia no supereu. 
Bauman no texto “O mal estar da pós-modernidade” de 1998 faz algumas ressalvas ao 
texto de Freud ao qual acabamos de citar anteriormente. Segundo Bauman (1998), o texto de 
Freud relata que há uma relação dualística de que para ter segurança perde-se a liberdade e na 
verdade se refere à forma da pensar da sociedade moderna. Portanto, a forma de ver a sociedade 
como civilização ou cultura é característica do pensamento moderno e não faz parte da pós-
modernidade. O autor propõe que o homem contemporâneo trocou parte da segurança por 
felicidade, o que traria um grande mal-estar. Logo, para Bauman (1998), estaríamos diante de 
um novo movimento social que prega a satisfação individual, marcado por exigências 
constantes de mudança por conta da globalização, gerando consequentemente insegurança no 
indivíduo. 
Bauman (1998) acreditava na dualística dos grupos humanos que instituíram 
organizações não naturais. Isso poderia estar relacionado com às quais poderiam se julgar 
organizados, como puro e correto e, o desorganizado, visto como impuro e incorreto. Onde cada 
uma poderia estabelecer normas de funcionamento apropriadas para cada grupo. Para o autor, 
no mundo pós-moderno adequar-se socialmente é a capacidade de participar do jogo do 
mercado. A nova ordem passar a ser a destruição da ordem anterior, onde nasce uma nova 
instituição, fatalmente temporária. No contexto contemporâneo, o homem tem que, 
 
mostrar-se capaz de ser seduzido pela infinita possibilidade e constante 
renovação promovida pelo mercado consumidor, de se regozijar com a sorte 
 
 
23 
 
de vestir e despir identidades, de passar a vida na caça interminável de cada 
vez mais intensas sensações e cada vez mais inebriante experiência 
(BAUMAN, 1998, p. 23). 
 
Portanto, os que não podem participar do jogo são considerados consumidores falhos 
com o sistema. Para Baumam (1998) essa imposição de incessante modificação é característica 
geral da sociedade contemporânea, ele nomeia como fluidez pós-moderna – logo atualiza em 
liquidez pós-moderna, como vimos no capitulo anterior. 
Freud com sua psicanálise apresentou a ideia de que a sociedade impõe a maneira de se 
expressar com mundo. Anunciou que a sociedade moderna vivia no mundo o qual a lei foi 
introjetada no supereu. Freud (1930) ressalva que essa lei não é somente uma proibição, mas 
uma condição imposta. Segundo a teoria do autor, o supereu seria o regulador das ações do 
sujeito a partir dos valores impostos pela sociedade. Para compreender melhor, exponho a 
origem do supereu (antes chamado de superego), segundo o próprio autor, 
[...]a origem do superego, tal como a descrevemos, reconheceremos que ele é 
o resultado de dois fatores altamente importantes, um de natureza biológica e 
outro de natureza histórica, a saber: a duração prolongada, no homem, 
do desamparo e dependência de sua infância, e o fato de seu complexo de 
Édipo, cuja repressão demonstramos achar-se vinculada à interrupção do 
desenvolvimento libidinal pelo período de latência, e, assim ao início bifásico 
da vida sexual do homem. (FREUD, 1923, p. 47) 
 
Freud (1923) apresenta que o supereu, é divergente do eu, pois ele opõe-se aos desejos 
do isso. O supereu retrata as normas e valores do grupo social em que o indivíduo está 
introduzido. A lei internalizada no próprio indivíduo muitas das vezes tem o papel de inibidor 
do eu e faz parte das últimas das três instâncias sendo herdado através do complexo de Édipo 
(FREUD, 1923, p. 61). A resolução do complexo de Édipo estabelece a partir da marcação do 
ideal egóico e da identificação paterna. Dessa forma, como já vimos anteriormente, o sujeito 
direciona a sua libido objetal, afastando do seu objetivo sexual por conta das concepções 
culturais introduzidas pelo Pai. Por esse motivo, Freud apresenta que o supereu estrutura-se 
como a representação da cultura para inclusão do sujeito na sociedade, afim que seja aceito e 
consiga seguir as leis que viabilizam a vida em sociedade – principalmente com a consciência 
da proibição do incesto. Consequentemente, o autor aponta que, a origem do supereu foi 
constituída pela herança cultural. 
 Leite (2017), em razão disso, comenta que embora o supereu tenha a categoria de 
protetor, ele também tem como função inibir o indivíduo para não permitir a livre fruição de 
pulsão de morte através da agressividade contra o outro e contra o próprio Eu. O autor aponta 
 
 
24 
 
que na sociedade pós-moderna encontramos um supereu ainda com base da lei social, porém 
agora a lei é baseada no consumo, introduzido mais uma vez pela indústria cultural. 
 Desse modo, Lago (2009) apresenta possível “arrefecimento” no supereu por conta da 
pós-modernidade. O autor ao trazer Freud com seus mal-estares (frutos do exagero de ordem 
da sociedade moderna) relativiza a normatização dos ideais do sujeito que fortaleceu o supereu, 
a partir das imposições da identidade e da função social que o homem tinha. Por exemplo, a 
formação da família tradicional como uma das regras para convivência social pelo casamento, 
validado pela ordem cristã ditada pela frase “até a morte nos separe”. Portanto, o autor salienta 
que as escolhas dos objetos substitutos se baseavam a partir do ideal do eu, de acordo com os 
valores sociais da época. 
Como vimos no capítulo anterior a pós-modernidade aponta que os valores não seguem 
uma ordem única. Existe uma diversidade de comportamentos subjetivos, que se estabelece 
através de uma realidade menos rígida e determinista, que possuem uma carência referencial. 
Para Lago (2009), a consequência disso é a falta de direcionamento para as escolhas objetais 
desse sujeito, já que valores sociais patriarcais, como a religião, estado e a família, perderam 
autoridade máxima. 
Continuando a linha de raciocínio, Lago (2009, p. 71), expõe que as diferenças entre a 
sociedade moderna e a pós-moderna parecem obedecer duas normas éticas: “Enquanto a 
primeira, por exemplo, alimentava-se de uma ética do trabalho que visava a poupança e a 
acumulação de capital (sociedade ordenada à produção), a segunda atua sob a ética do direito 
imediato à fruição prazerosa (sociedade destinada ao consumo)”. Dessa forma, a necessidade 
de “poupar” para em seguida ter acesso à disponibilidade dos bens, na pós-modernidade dar-se 
lugar ao simplificador do consumo, como o cartão de crédito, que facilita a compra de bens e 
pode satisfazer os desejos imediatamente. 
Lago (2009 apud MATTEO, 2005), ainda salienta que a ética do não agora é ética do 
sim ao prazer imediato, onde se justifica a facilidade de acesso ao consumo. A moral libidinal 
antes restrita, agora se tornou uma moral com uma satisfação mais aberta, plastificada para 
atender as demandas da sociedade do consumo. Exibe-se um supereu, que antes determinava o 
conteúdo de moralidade descrevendo o que é ilícito e permitido, para um supereu onde a única 
obrigação é a intimidação do gozar, sem determinar os objetos permitidos e adequados ao gozo, 
nem as formasde gozar. Sem direcionamento, o autor atenta que o sujeito parece consumir sem 
freio todos os objetos ao seu alcance na tentativa de substituir o objeto perdido na resolução do 
Complexo de Édipo. 
 
 
25 
 
 Isso justificaria o arrefecimento do supereu com o surgimento da possível viabilidade 
de pensar a imediata satisfação das pulsões narcísicas antes controladas, para uma 
indeterminável variedade de objetos ao dispor do sujeito. Consequentemente, Lago (2009) 
conclui que esse afrouxamento da lei enfraquece o potencial do sujeito de manter laços 
coerentes de uma ordem social. Para o autor, ainda que o supereu continue instituído no sujeito 
contemporâneo, com propósito de possibilitar seu ingresso, a sua função de ordem pode ser 
ameaçada pelo enfraquecimento das autoridades – que anteriormente apontavam os caminhos 
morais. Assim, conclui que sem essa direção, o sujeito se vê desprotegido e se torna vulnerável 
a sedução da sociedade de consumo que apresenta várias possibilidades de satisfação. 
A partir da leitura desse capítulo, pode-se concluir que na sociedade pós-moderna, os 
valores sociais não introjetam mais as leis vigentes no supereu regulador. Isso pode ser a 
explicação da necessidade do sujeito contemporâneo de sempre estar substituindo objeto de 
desejo. Essa dinâmica de escolha e troca é vazia, além de ser sem direcionamento. A escolha 
do objeto de desejo respeita a lógica de consumo, onde o sujeito está sempre em busca do prazer 
imediato, pois não consegue encontrar satisfação plena. A facilidade de comunicação e a 
rapidez da realidade virtual contribuem para esse propósito. Sem esquecer, da facilidade para 
desfazer os vínculos estabelecidos através dela. 
2.2 Ainda há amor? 
 
Além o arrefecimento do supereu, podemos expor outras possíveis respostas para o amor 
líquido que vivemos na atualidade, como o desenvolvimento primitivo emocional, a incessante 
busca da felicidade, medo do sofrimento gerado pelo rompimento do relacionamento e o 
desamparo psíquico. A partir dessas respostas, apresentam-se consequências para configuração 
dos relacionamentos desses sujeitos. 
 Como vimos anteriormente, o consumismo cria nos indivíduos a ideia de que tudo deve 
ser trocado em curto prazo, pois sempre haverá um bem superior e mais moderno, a ser 
adquirido e usufruído instantaneamente. A nossa cultura favorece o consumo de produtos de 
uso imediato e a experiência amorosa se torna semelhante a esta aquisição. As mercadorias 
fascinam e seduzem por conta dessas características, prometendo saciar o desejo sem ansiedade 
e esforço. E, como vimos no capítulo anterior há uma transferência do desejo para o consumo, 
onde o dinheiro é visto como caráter de troca ou veículo para obter a mercadoria desejada. 
 
 
26 
 
 Segundo, Fortes (2009) o sujeito pós-moderno organiza-se a partir do eixo 
individualista-hedonista, guiada pela obrigação da felicidade. Felicidade que no sentido mais 
restrito provém da satisfação (de preferência, repentina) de necessidades represadas em alto 
grau, sendo, por sua natureza, possível apenas como uma manifestação episódica. Como a 
cultura atual está atrelada ao consumismo, a felicidade implica-se em consumir sem freios. 
Seguindo essa lógica, há uma redução da figura de alteridade, pois o outro e torna objeto de 
consumo, servindo assim como mero instrumento egóico do sujeito. Quando qualquer situação 
desejada pelo princípio do prazer se prolonga, ela produz tão-somente um sentimento de 
contentamento muito tênue. 
Com isso, o autor, reforça a ideia de autoexaltação narcísica do sujeito como caminho 
para alimentar o eu e não como relação de alteridade. Para alimentar o eu, usa-se o outro como 
forma útil, voltando para uma relação predatória, que é vista como fonte para prazer do eu, 
reduzindo o outro a um mero objeto de troca. Desta forma, podemos comparar o conceito de 
modernidade líquida com o caráter fluído do desejo. O desejo é um desejo puro, pura pulsão 
(FORTES, 2009 apud SAFATLE, 2003), por isso, o sujeito busca algo, mas não sabe o que. 
Assim, o desejo sempre está em movimento para a busca. Por essa razão, podemos observar 
que na pós-modernidade líquida esse desejo também é líquido. E como vimos anteriormente, 
os modos da cultura determinam o que o sujeito é através do seu desejo, portanto, o sujeito é o 
que deseja. 
Seguem-se na condição pós-moderna as tarefas de preencher o desejo com algo (com 
algum objeto ou pensamento) é ideológica. A imposição de dar um significado ao desejo pode 
ser uma resposta para a questão discursiva da injunção à interpretação. Existe o dever de que o 
universo faça sentido para o sujeito, daí, que a ilusão sobre o universo pode ser uma ilusão 
discursiva. Costa (1998, p.133) argumenta que: “Vivemos numa cultura narcísica, inibidora da 
experiência amorosa”. Aprendemos a “querer tudo” porque nos julgamos “uma totalidade” que 
não pode apresentar fraturas. O outro só “é desejado se enriquece nosso ser”. Se, ao contrário, 
nos pede sacrifícios, é rejeitado de pronto. 
Partindo novamente da análise realizada por Freud (1930), os relacionamentos entre os 
homens representa uma das fontes de sofrimento. Trata o amor sexual como antiga fonte de 
experiências de satisfação, proporcionando o protótipo de toda felicidade e que a continuação 
da busca dessa satisfação torna-se o ponto central da vida. Com isso, para Freud, essa concepção 
deixou o sujeito perigosamente dependente do outro e, quando rejeitado, ou há perda por conta 
da infidelidade ou morte, causa-se um sofrimento extremo. Isso poderia explicar porque os 
 
 
27 
 
praticantes do “amor líquido” evitam o amor ou qualquer tipo de relacionamento, pois sujeita 
o indivíduo a um futuro sofrimento. Portanto, à medida que as imperfeições e exigências do 
outro afloram, implicando acolhimento e aceitação, o sujeito sente-se impulsionado a buscar 
substituição do objeto amoroso, tal como os produtos que atualmente descartamos ainda com 
vida útil. Prefere-se a conquista de um novo, ao ajuste daquilo que já possuímos. 
Para Pinto (2017), além do fenômeno da modernidade líquida, vivemos num estado de 
desenvolvimento emocional ainda primitivo, no qual o aparelho psíquico não consegue 
reconhecer o seu eu separado do outro e, por isso, a ansiedade de separação é vivenciada de 
forma devastadora. Portanto, para o autor, se projetarmos esse cenário intrapsíquico a um 
universo mais amplo, de forma que seja possível uma análise da subjetividade contemporânea, 
percebemos a vivência da falta sentida como um grande vazio. Porém, isso não pode ser 
concebido a uma sociedade que demanda como consequência a completude e respostas rápidas. 
Por isso, apresenta que é preciso consumir ferozmente para conseguir ser bem sucedido para 
esquivar-se da própria fragilidade, que se refere à vivência a dor da falta. 
De modo coerente com essas reflexões, Bauman (2004), assinala que: 
 
Quando a insegurança sobe a bordo, perde-se a confiança, a ponderação e a 
estabilidade da navegação. À deriva, a frágil balsa do relacionamento oscila 
entre as duas rochas nas quais muitas parcerias se esbarram: a submissão e o 
poder absolutos, a aceitação humilde e a conquista arrogante, destruindo a 
própria autonomia e sufocando a do parceiro. Chocar-se contra uma dessas 
rochas afundaria até mesmo uma boa embarcação com tripulação qualificada. 
O que dizer de uma balsa com um marinheiro inexperiente que, criado na era 
dos acessórios, nunca teve a oportunidade de aprender a arte dos reparos? 
Nenhum marinheiro atualizado perderia tempo consertando uma peça sem 
condições para a navegação, preferindo trocá-la por outra sobressalente. Mas 
na balsa do relacionamento não há peças sobressalentes (BAUMAN, 2004, p. 
31). 
 
Como já foi apresentando, esses mecanismos compensatórios encontrados pelo sujeito 
possuem o objetivo de lidar com o desamparo, por conta enfraquecimento das

Outros materiais