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CURSO DE PSICOLOGIA Alice Viana de Sousa UMA VISÃO PSICANALÍTICA DO AMOR ROMÂNTICO NA CONTEMPORANEIDADE Rio de Janeiro 2018 UMA VISÃO PSICANALÍTICA DO AMOR ROMÂNTICO NA CONTEMPORANEIDADE Trabalho de conclusão de curso de Psicologia apresentado ao Centro Universitário Hermínio da Silveira - IBMR - Laureate International Universities como requisito parcial para obtenção de grau de bacharel em Psicologia. Orientadora: Ludmilla Tassano Pitrowsky Doutora em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro 2018ORIENTADORA THERESA PINTO DEDICATÓRIA Dedico esse trabalho à minha família: Antônio, Graça e Aline e aos amigos dessa caminhada: Grazi, Camille, Juliana e Guga. 1 “A felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é válido. Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz”. Sigmund Freud 2 RESUMO SOUSA, Alice de Viana. Uma Visão Psicanalítica do Amor Romântico na Contemporaneidade. 2018. 30f. Monografia (Graduação em Psicologia) – Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação, Laureate International Universities, Rio de Janeiro, RJ, 2018. Este trabalho tem como proposta realizar uma reflexão teórica que busca discutir, a partir de autores e teorias, o amor romântico na psicanálise e as novas condições das relações na pós- modernidade. É caracterizado como uma revisão de cunho bibliográfico. Apresenta-se a vivência do complexo de Édipo como essencial para estruturação do aparelho psíquico, também como um ponto decisivo para o processo de sexualização e o direcionamento da escolha objetal do sujeito. Na pós-modernidade os relacionamentos são iniciados com intuito de serem vantajosos para o indivíduo, pois podem ser trocados quando não trazem mais satisfação, evitando futura frustração. A resposta dessa condição é a decadência das leis que fragilizam características do indivíduo em conservar vínculos moderados a uma ordem social. Revela-se um arrefecimento do superego, que segundo a psicanálise, seria o regulador dessas ações. Palavras-chaves: Objeto. Amor. Liquidez. 3 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 1 1 Amor Romântico na Psicanálise Freudiana ........................................................................ 2 2 Amor Romântico na contemporaneidade .......................................................................... 11 2.1 Possíveis Respostas .................................................................................................... 19 2.2 Ainda há amor? .......................................................................................................... 25 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 33 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho propõe fazer uma reflexão teórica que procura discutir, a partir de autores e teorias, o amor romântico vivenciado na contemporaneidade. O trabalho se caracteriza com uma pesquisa bibliográfica em torno de uma investigação dos relacionamentos que foram fragilizados em razão da pós-modernidade. Procurando responder essas questões propostas, utiliza-se a teoria psicanalítica para compreender uma possível explicação da escolha objetal do sujeito. Através de Bauman, entende-se que os relacionamentos pós-modernos possuem características fluidas na conservação do vínculo entre os sujeitos. O tema escolhido vem da percepção que o amor está sendo deixado de lado, portanto fora de “moda”. Porém, é curioso observar que enquanto é colocado na “gaveta”, gera certo incomodo no sujeito. Percebe-se que apesar de vivermos num mundo que preza pela liberdade, encontram-se pessoas perdidas sobre as suas escolhas amorosas. Na busca desse encontro, recorrem a aplicativos de celular para encontrar possíveis amantes, contando com a facilidade de obter prazer com o mínimo esforço. Diante disso, é possível considerar que aquilo presenciado em relação ao amor, está sendo vivenciado de forma incerta e duvidosa. A transição da modernidade para pós-modernidade apresentou mudanças significativas de como o amor é idealizado pelo sujeito. Sendo assim, os amores vistos em conto de fadas e nas telenovelas se tornam mais distantes. O príncipe ou a princesa não se encontram mais disponíveis e a frustação toma conta do sujeito contemporâneo. Com isso, fecham-se cada vez mais na justificativa de experiências negativas, deixando-se de lado novas oportunidades. Agora, a satisfação está na rapidez e utilidade em que o outro pode proporcionar. Procuram apenas experiências que possam trazer o prazer imediato, assim fugindo constantemente da frustração. Uma caraterística desse amor é a diversidade da ampliação do consumo e da indústria cultural que apresenta sem freio avanços tecnológicos e científicos. No primeiro capítulo compreende-se como é feita a escolha do objeto de desejo pelo apaixonado, portanto o que seria amor romântico para Freud. A teoria psicanalítica reconhece que essa escolha do objeto de desejo pode estar atrelada a relação com os pais. Para ele a vivência do complexo de Édipo é essencial para estruturação do aparelho psíquico, também um ponto decisivo para o processo de sexualização do sujeito. Freud também procura explicar como estar enamorado pode mudar a percepção do outro e a idealização na construção dos vínculos. 2 No segundo capítulo, é apresentado a teoria dos relacionamentos de Bauman, pela qual estuda-se de forma macro o porquê das fragilidades das relações. Com isso, o autor apresenta o embasamento da liquidez dos relacionamentos. Seguindo a idealização do capitalismo, o autor compara a ideia de relacionamentos com a dinâmica do consumo de mercadorias. Para Bauman (2004) consumo é feito através do impulso e não da necessidade do produto. A partir dessa lógica, apresentam-se relacionamentos iniciados para que sejam vantajosos para o sujeito, pois podem ser trocados quando não trazem mais satisfação. Para tal satisfação, torna-se necessário a criação de novos facilitadores para iniciação desses relacionamentos. Assim, é apresentada uma desqualificação do amor como bem precioso e necessário para atingir a plena felicidade. Para isso, além de Bauman, também me apoiei em autores como Guedes e Pinheiro (2000), Guedes e Assunção (2006) e Geruza (2010). O capítulo também propõe a explicar através da psicanálise junto à sociologia um estudo em torno desses relacionamentos. Assim, são analisadas as possíveis consequências da submersão do sujeito pós-moderno através da psicanálise. Diante disso, critica-se o desamparo na relação mãe-bebê e o supereu, visto na teoria psicanalítica como regulador das leis introjetadas pela sociedade. Esse declínio das leis debilita a faculdade do sujeito de conservar vínculos moderados a uma ordem social. Para o Lago (2009), o supereu continua instituído no sujeito contemporâneo, com propósito de viabilizar seu ingresso. Por fim, apresentam-se consequências da pós-modernidade nas construções nos relacionamentos. Para articular com Freud, trago-lhes novamente Bauman, sustentando-se através de outros autores como de Leite (2017)e Lago (2009). Em suma, parto de um estudo psicossocial da construção histórica do amor na psicanálise, em contra partida com a percepção da sociologia acerca dos relacionamentos contemporâneos. Esse trabalho busca refletir como as transformações tecnológicas podem influenciar também nas transformações subjetivas e culturais. A perspectiva psicanalítica de Freud a fim de compreender se os efeitos da civilização modificaram a subjetividade do homem, a escolha do objeto de desejo e a interligação do amor e a felicidade. Com intuito de compreender as novas condições de relações na pós-modernidade e se estas carregam algum prejuízo ao sujeito. 1 Amor Romântico na Psicanálise Freudiana 3 Neste capítulo irei discorrer sobre as contribuições de Freud para compreensão do amor romântico, através da Psicanálise, sustentando a hipótese de que uma revisão conceitual do amor na teoria freudiana permitiria a abertura da possibilidade de aproximar os conceitos de amor e a escolha do objeto de desejo. Freud destaca características que determinam a escolha da pessoa amada, demonstrando conflitos que ocorrem entre a capacidade de amar e desejar sexualmente o mesmo objeto. Freud já fala de amor no texto “Os Três Ensaios Da Sexualidade” (1905). O autor apresenta a teoria popular do instinto sexual, onde a fábula poética de Platão onde o homem, até então completo, divide-se em duas metades, transformando-se em homem e mulher e buscam unir-se novamente através do amor. No texto, Freud, relata que o tal mito trata-se de um equivoco, pois existem homens que não tratam a mulher como objeto sexual e mulheres que não tratam os homens como objeto sexual. Com isso, ele rotula os homossexuais de “invertidos”. Invertidos na escolha do objeto de desejo, pois para reprodução da raça, deveriam buscar parceiros de sexos opostos, mas neste caso houve uma inversão no objeto de desejo. Esse texto não está orientado para o desejo ou o fantasma e não é identificado nele nenhuma referência do Complexo de Édipo, mas ele é importante por ser um dos primeiros textos que apresentam o discurso de pulsão (GARCIA-ROZA, 1988). Para compreensão do Complexo de Édipo, desenvolvido por Freud, é inicialmente importante apresentar que é inspirado na tragédia grega Édipo Rei. A história trágica do Édipo faz parte da mitologia grega, onde pai de Édipo, Lipo, soube através de um oráculo que seu filho amaldiçoado pelos Deuses: ele foi destinado a casar com própria mãe, com quem teve dois filhos e mataria seu pai, rei que governava a cidade antes de Édipo. Ao descobrir que seu filho seria alvo de uma maldição, Lipo o abandonou seu filho para mata-lo pregando um prego em cada pé para tentar matá-lo. O menino foi recolhido mais tarde por um pastor e batizado como "Edipodos", o de "pés-furados", que foi adotado depois pelo rei de Corinto e voltou a Delfos. Édipo consulta o Oráculo que lhe dá a mesma previsão dada a Laio, que mataria seu pai e desposaria sua mãe. Achando se tratar de seus pais adotivos, foge de Corinto. No caminho, Édipo encontrou um homem e, sem saber que era o seu pai, brigou com ele e o matou, pois Laio o mandou sair de sua frente. (SÓFOCLES, 427 a.C.) Para facilitar a compreensão da teoria de Freud, Laplanche e Pontalis, sintetizam de forma clara o que seria Complexo de Édipo: Conjunto organizado de desejos amorosos e hostis que a criança sente em relação aos pais. Sob a sua forma dita positiva, o complexo apresenta-se como na história de Édipo-Rei: desejo da morte do rival que é a personagem do 4 mesmo sexo e desejo sexual pela personagem do sexo oposto. Sob a sua forma negativa, apresenta-se de modo inverso: amor pelo progenitor do mesmo sexo e ódio ciumento ao progenitor do sexo oposto. Na realidade, essas duas formas encontram-se em graus diversos na chamada forma completa do complexo de Édipo. Segundo Freud, o apogeu do complexo de Édipo é vivido entre os três e os cinco anos, durante a fase fálica; o seu declínio marca a entrada no período de latência. É revivido na puberdade e é superado com maior ou menor êxito num tipo especial de escolha de objeto. O complexo de Édipo desempenha papel fundamental na estruturação da personalidade e na orientação do desejo humano. Para os psicanalistas, ele é o principal eixo de referência da psicopatologia. (LAPLANCHE E PONTALIS, 1992, P. 77). Em síntese, segundo Moreira (2004), a cena edípica é crucial para construção do sujeito e ponto decisivo do processo da sexualização e poderá definir mais pra frente à escolha do objeto amoroso. Ou seja, a teoria do Complexo de Édipo faz parte das problemáticas fundamentais da teoria psicanalítica e também para compreensão o tema abordado em questão. É nela que Freud, apresenta os estágios psicossexuais do desenvolvimento. Freud volta a discutir sobre amor no Complexo de Édipo no texto “Cinco lições de psicanálise” (1910), afirma que “é absolutamente normal e inevitável que a criança faça dos pais o objeto da primeira escolha amorosa” (FREUD, 1910, p. 32). Portanto, a escolha amorosa teria relação direta com a identificação do sujeito quanto a seus pais. No texto Introdução ao Narcisismo (1914), Freud procura estudar o distúrbio narcisista, ao qual anteriormente era determinado como “perversão que absorveu toda a vida sexual da pessoa” (FREUD, 1914, p. 10). Porém, determina que o Narcisismo, após sua conclusão, “não seria uma perversão, mas o complemento libidinal do egoísmo do instinto de autoconservação, do qual justificadamente atribuímos uma porção a cada ser vivo”. (FREUD, 1914, p. 10). Apresenta que há dificuldades para o estudo sobre o narcisismo e estabelece que para se aproximar do assunto, deveria deslocar o estudo a respeito da doença orgânica, da hipocondria e da vida amorosa dos sexos. Vamos nos atentar, a via do estudo para a vida amorosa dos sexos para entendermos, pois nesse texto o autor expõe claramente como é feita essa escolha. Freud apresenta que, as primeiras satisfações sexuais autoeróticas estão relacionadas à autoconservação. (FREUD, 1914, p. 22). No inicio as satisfações eram apenas voltadas para os instintos eu; a forma de amamentação representada pela mãe, por exemplo, apresenta como esse primeiro objeto sexual. O narcisista, não apresenta esse tipo de direcionamento e seu desejo libidinal acaba sendo por ele mesmo, por tanto, procuram em si a satisfação deste desejo. Neste caso, seu próprio ego se torna seu objeto de satisfação e esse amor de si é o começo de todo amor. https://www.sinonimos.com.br/deslocar/ https://www.sinonimos.com.br/deslocar/ 5 Ele distingue que existem dois tipos de amor objetal: narcísico ou ao “de apoio”, por exemplo, representado pela mãe. Freud conclui que as pessoas que possuem uma desordem no processo do desenvolvimento libidinal - assim como os homossexuais e os perversos, mas no caso do narcisismo, acabam trocando esse objeto de apoio, que seria a mãe, por si mesmo. Ele supôs que a escolha do caminho através do objeto fica aberta e a pessoa tem a opção de escolher o que mais lhe agrada e tem origem em dois objetos sexuais: “Dizemos que o ser humano tem originalmente dois objetos sexuais: ele próprio e a mulher que o cria, e nisso pressupomos o narcisismo primário de todo indivíduo, que eventualmente pode se expressar de maneira dominante em sua escolha de objeto”. (FREUD, 1914, p. 22). Assim, apresenta que há um modo diferente de amar entre homens e mulher. Para o homem o amor de “apoio”, o objetal – onde a libido está ligada diretamente ao objeto: “Essa superestimação sexual permite que surja o enamoramento, esse peculiar estado que lembra a obsessão neurótica, remontando assim a um empobrecimento libidinal do Eu em favor do objeto” (FREUD, 1914, p. 23). Já a mulher possui um amor narcísico onde procura sempre alguém que as valorize, amam apenas a si mesmas e procuramhomem que reconheçam seu valor: “A rigor, tais mulheres amam apenas a si mesmas com intensidade semelhante à que são amadas pelo homem. Sua necessidade não reside tanto em amar, quanto em serem amadas; e o homem que lhes agradará é o que preencherá tal condição” (FREUD, 1914, p. 23). Sendo assim, esse modelo de diferenciação vem de uma abordagem econômica: o masculino significa maior quantidade libidinal no objeto e o feminino maior quantidade libidinal no eu. Com isso, podemos concluir que o Narcisismo é uma forma de investimento libidinal, que tem início na primeira infância, quando a criança toma o próprio corpo como objeto de satisfação sexual. Freud afirma que no desenvolvimento a criança não se importa com a relação com o outro, pois se satisfaz com o próprio corpo. É necessário que essa energia seja externalizada para o mundo e caso não aconteça, pode gerar um mal estar no indivíduo. Por isso, é importante investir força libidinal para o mundo externo, pois preserva o bem estar do sujeito. Logo, Freud relaciona a autoestima com o elemento narcisista do amor. O sujeito enamorado eleva seu objeto de desejo ao nível ideal e se torna humilde, pois quando ama abre mão do seu narcisismo, que só pode ser substituído pelo amor de outra pessoa por ele. Por isso, a autoestima nas relações amorosas pode aumentar se houver reciprocidade e diminuir se for rejeitado. A parte primária da autoestima vem do narcisismo infantil (como vimos anteriormente), outra da experiência a partir da realização ideal do ego e por último da 6 satisfação libido-objetal (a reciprocidade do amor). Portanto, estar apaixonado “consiste num fluir da libido do ego em direção ao objeto.” (FREUD, 1914, p. 33). Freud relaciona à impotência de amar devido a alguma perturbação mental e essa incapacidade acaba diminuindo a autoestima do indivíduo. Essa impotência estaria relacionada às psicoses, onde a libido é direcionada ao eu, em vez de ser ao objeto externo e na neurose a libido que foi retirada dos objetos vai investir os objetos da fantasia. Isso de torna importante para clinica psicanalítica, pois ajuda a compreender as psicoses e neuroses atuais. O conceito de Pulsão é apresentado por Freud, no texto “As pulsões e seus destinos” de 1915. No texto, Freud se preocupa em distinguir pulsão e instinto e para dar conta o que seria o conteúdo do inconsciente. A pulsão não implica comportamento pré-formado em um objeto especifico, já o instinto é um comportamento definido em um objeto especifico (GARCIA- ROZA, 1988). Freud procura explicar no texto que esses impulsos vitais que lançariam o sujeito à vida, em busca por satisfação e se apoia em um elo entre o corpo e a mente. O conceito de pulsão permite esse entrecruzamento. A dimensão pulsional designa a representação psíquica de excitações que chegam ao corpo, ou melhor, “A pulsão nos aparecerá como sendo um conceito situado na fronteira entre o mental e o somático, como o representante psíquico dos estímulos que se originam dentro do organismo e alcançam a mente, como uma medida de exigência feita à mente no sentido de trabalhar em conseqüência de sua ligação com o corpo” (FREUD, 1915, p.73) Desde o princípio, a definição pulsional estava marcada pela exigência de satisfação em torno do objeto. A pulsão é a representação psíquica de um processo somático que tem sua origem no interior dos órgãos do corpo, em zonas erógenas particularmente acentuadas. Portanto, o objeto é: “A coisa em relação à qual ou através da qual o instinto [ou pulsão] é capaz de atingir sua finalidade. É o que há de mais variável num instinto e originalmente, não está ligado a ele, só lhe sendo destinado por ser peculiarmente adequado a tornar possível a satisfação.” (FREUD, 1915, p. 128) O objeto pode ser modificado quantas vezes forem necessárias no decorrer das vicissitudes que a pulsão sofre durante sua existência, e pode ocorrer que o mesmo sirva de satisfação a várias pulsões, simultaneamente. Logo, a pulsão que experimenta seu objeto descobre que não é através dele que ela se satisfaz. Por exemplo: o que satisfaz a pulsão na necessidade alimentar não é o objeto alimento, mas o prazer da boca. Porém, Garcia-Roza (2008, p. 92), pontua “a afirmação de que para a pulsão o objeto é o que há de mais variável e de menos importante não se deve ser entendida no sentido de que o objeto é dispensável”. Somente por intermédio do objeto é que se pode obter a satisfação, mesmo que parcial. A 7 necessidade do objeto é inquestionável, o que não diz de sua especificidade: “a pulsão pede um objeto, o que ela não implica é um objeto específico” (GARCIA-ROZA, 2008). Portanto, a pulsão liga-se de fato à representação do objeto, que pode ter relação direta ou não com o objeto em si. Buscando recompor as origens pulsionais o autor no texto “Além do Principio do Prazer” de 1920, ressalta a ideia de que o ser humano teria a necessidade de restaurar um estado anterior às coisas: O que tenho no espírito é, naturalmente, a teoria que Platão colocou na boca de Aristófanes no Symposium e que trata não apenas da origem do instinto sexual, mas também da mais importante de suas variações em relação ao objeto. (FREUD, 1920/1996E, P. 86, itálico do autor). Freud (1920), afirma que essa plenitude só seria possível com a morte, e a partir disso, uma das características pulsionais seria sua direção à morte. Noutras palavras, estamos diante da impossibilidade de plenitude na relação corpo-objeto mediada pela linguagem (GARCIA- ROZA, 1990). É que o objeto da pulsão é variável, dependendo sempre da fantasia criada a seu respeito e desejo que assim ganha forma, sabemos que o desejo é o impulso em direção ao objeto e à situação de prazer, ou seja, àquela que proporcionaria a satisfação plena. No mesmo texto, Freud, elabora a teoria dos instintos opostos, de vida e morte (pulsão de vida e pulsão de morte), e afirma que o amor e ódio representam semelhante ambiguidade. Estabelece que há um movimento sádico no instinto sexual e conclui que, esses movimentos sádicos estão em serviço da função sexual. Na fase oral a aquisição do domínio erótico sobre o objeto de desejo gera a destruição do outro, com isso, objeto sádico se insola e se predomina na fase genital e se insere para fins de reprodução e, o dominar esse objeto sexual é que o sujeito demanda para concretização do ato sexual. Freud conseguiu realizar uma grande e clara diferenciação entre a sexualidade infantil e a sexualidade posterior ao período da puberdade, por isso, conclui-se que os processos psíquicos infantis, tanto em sua dimensão de ação como de afeto e representação, tendem a ser o modelo para as relações adultas. Para restaurar o significado de libido, o autor no texto “Psicologia de Grupo e a Análise do Ego” (1921), Freud discorre novamente sobre a expressão. A libido é uma magnitude quantitativa, instinto que está ligado tudo que se relaciona a palavra amor (FREUD, 1921, p. 57). Segundo o autor, o amor não se constitui apenas no sexual e na união sexual do objeto, mas também no amor próprio, amor pelo outro, amor pelos pais e filhos, amor pela amizade, pela humanidade, amor pelos objetos. Porém, a pesquisa psicanalítica procurou-se em https://www.sinonimos.com.br/ambiguidade/ https://www.sinonimos.com.br/estabelece/ https://www.sinonimos.com.br/estabelece/ https://www.sinonimos.com.br/estabelece/ https://www.sinonimos.com.br/demanda/ https://www.sinonimos.com.br/demanda/ https://www.sinonimos.com.br/demanda/ https://www.sinonimos.com.br/concretizacao/ https://www.sinonimos.com.br/concretizacao/ 8 investigar as expressões dos impulsos instintivos nas relações entre os sexos. São esses impulsos levam ao caminho da união sexual, porém, devida algumas circunstâncias, como a inversão (homossexualidade), o objeto se distância ou se torna impedidos deser atingido. Para Freud, as relações amorosas (ou laços emocionais) são também constituídas de uma influência cultural. A partir de duas hipóteses, o autor declara o domínio da mente grupal: Primeiro, a de que um grupo é claramente mantido unido por um poder de alguma espécie; e a que poder poderia essa façanha ser mais bem atribuída do que a Eros, que mantém unido tudo o que existe no mundo? Segundo, a de que, se um indivíduo abandona a sua distintividade num grupo e permite que seus outros membros o influenciem por sugestão, isso nos dá a impressão de que o faz por sentir necessidade de estar em harmonia com eles, de preferência a estar em oposição a eles, de maneira que, afinal de contas, talvez o faça ‘ihnen zu Liebe‘.(FREUD, 1921/1996E, P. 25). Freud relata que a igreja católica e a estrutura do exército são formas de dominação grupal. As pessoas que fazem parte deste grupo estão ligadas por laços libidinais, por outro um lado pelo líder (Cristo, o comandante chefe) e, por outro lado, aos demais membros do grupo. Este líder impõe seu pensamento através da ilusão do amor, que ama todos da mesma maneira. Este laço emocional se torna tão intenso que obriga os indivíduos a regular sua personalidade. A partir desse raciocínio pode-se observar que Freud, prova que sua psicanálise demonstra que quase toda relação íntima entre duas pessoas, seja ela qual for, contém sentimentos negativos que são julgados pela repressão essas formas de dominação grupal. Essa limitação do narcisismo, segundo ele, acontece por conta desse laço libidinal entre às pessoas. Conclui que o amor sobre si não é maior que o amor sobre os outros e os objetos. O amor, portanto, na dominação grupal, é um fato civilizador e busca modificar o egoísmo em altruísmo. Voltando para o tema sobre estar enamorado, a identificação, de acordo com psicanálise, é o que determina o laço emocional entre duas pessoas. Freud volta à teoria do complexo de Édipo, onde o menino identifica-se com o pai que é o seu ideal (seu modelo) e para com a mãe a identifica como um objeto sexual. Portanto, a identificação é imprecisa e pode acontecer com tanta facilidade de se aproximar, quanto à ânsia de se afastar. Segundo ele, há três fontes de identificação: O que aprendemos dessas três fontes pode ser assim resumido: primeiro, a identificação constitui a forma original de laço emocional com um objeto; segundo, de maneira regressiva, ela se torna sucedâneo para uma vinculação de objeto libidinal, por assim dizer, por meio de introjeção do objeto no ego; e, terceiro, pode surgir com qualquer nova percepção de uma qualidade comum partilhada com alguma outra pessoa que não é objeto de instinto sexual. Quanto mais importante essa qualidade comum é, mais bem-sucedida pode tornar- 9 se essa identificação parcial, podendo representar assim o início de um novo laço. (FREUD, 1921/1996E, P. 67). A partir da citação acima, podemos concluir que a identificação que se destaca por ser sempre parcial, pois se trata de uma identificação a uma qualidade de uma pessoa e não a uma pessoa. A partir disso, afirma que objeto escolhido regrediu para a identificação e o ego assume as características do objeto (FREUD, 1921, p. 67). Contudo ainda há outra possibilidade de identificação: uma identificação baseada na possibilidade ou no desejo de colocar-se na mesma situação, isto é, surge uma percepção de uma qualidade comum partilhada com alguma outra pessoa que não é objeto de instinto sexual e que ele denomina de empatia. É fato que o autor, ao discorrer sobre o tema, questiona-se se o amor é real, verdadeiro e genuíno. Para ele em determinados casos, o ato de amar busca incessante da satisfação sexual por conta dos instintos libidinais através do objeto escolhido. Para exemplificar, retorna ao exemplo do Complexo de Édipo: Em sua primeira fase, que geralmente termina na ocasião em que a criança está com cinco anos de idade, ela descobriu o primeiro objeto para seu amor em um ou outro dos pais, e todos os seus instintos sexuais, com sua exigência de satisfação, unificaram-se nesse objeto. A repressão que então se estabelece, compele-a a renunciar à maior parte desse objetivos sexuais infantis e deixa atrás de si uma profunda modificação em sua relação com os pais. A criança ainda permanece ligada a eles, mas por instintos que devem ser descritos como ‘inibidos em seu objetivo’. (FREUD, 1921/1996, p. 70). Logo, o autor conclui que, as emoções sentidas pelo menino são de caráter afetuoso, mas deixa claro que as tendências sensuais ainda permanecem e são preservadas no inconsciente. Mais uma vez fica claro o quanto as experiências amorosas infantis possivelmente determinam as experiências posteriores. A respeito de estar amando, enfatiza a ideia da supervalorização sexual: o objeto amado desfruta de liberdade quanto à crítica, suas características são altamente valorizadas comparada a outras pessoas, não igualmente amadas (FREUD, 1921, p.. 70). Para Freud, a escolha amorosa pode feita através da identificação do ideal de ego inatingido, neste caso, identificamos as perfeições que nosso ego é incapaz de adquirir no objeto amoroso e de maneira despretensiosa faz-se a satisfação do próprio narcisismo. Se os impulsos sexuais são mais ou menos recalcados no inconsciente, produzem ao objeto de desejo o magnetismo fantasioso da libido sexual reprimida, elaborando o devaneio de amar sensualmente o objeto. Com isso, Freud, conclui que esse devaneio esta relacionado à identificação, pois o objeto em questão está sendo pactuado da mesma maneira que tratamos o próprio ego, com isso, quando amamos a https://www.sinonimos.com.br/magnetismo/ https://www.sinonimos.com.br/magnetismo/ https://www.sinonimos.com.br/devaneio/ https://www.sinonimos.com.br/devaneio/ https://www.sinonimos.com.br/pactuado/ https://www.sinonimos.com.br/pactuado/ 10 quantidade de libido narcisista transborda o objeto, em suma, o objeto consumirá todo o ego. Com isso, conclui-se que o objeto foi colocado no lugar ideal do ego (FREUD, 1921, p.. 71). Assim, por estar amando, há uma restrição do narcisismo e outros danos causados a si próprio. Por isso, relaciona estar amando com a hipnose: Do estado de estar amando à hipnose vai, evidentemente, apenas um curto passo. Os aspectos em que os dois concordam são evidentes. Existe a mesma sujeição humilde, que há para com o objeto amado. Há o mesmo debilitamento da iniciativa própria do sujeito; ninguém pode duvidar que o hipnotizador colocou-se no lugar do ideal do ego. Acontece apenas que tudo é ainda mais claro e mais intenso na hipnose, de maneira que seria mais apropriado explicar o estado de estar amando por meio da hipnose, que fazer o contrário. (FREUD, 1921/1996E, P. 71 e 72). É evidente para Freud, que existe a mesma conexão entre estar amando e a hipnose para o objeto amado. O hipnotizador, contudo será colocado no lugar do ideal do ego, ele será o único objeto e será o responsável por verificar a realidade das coisas. Mas a diferença sintética entre a dedicação ilimitada de alguém que ama e a hipnose, é que a hipnose é excluída de satisfação sexual, enquanto, no amar a satisfação sexual é momentaneamente reprimida, mas conserva-se, em seguindo plano, para depois ser um provável objeto para outras ocasiões que o indivíduo possa se deparar. Em outras palavras, o transe hipnótico pode gerar a submissão intensa e isso também ocorre quando estamos apaixonados. A mesma forma que estar hipnotizado te deixe sonhando acordado, estar apaixonado causa o mesmo efeito. É como se não conseguíssemos distinguir o que é real e o foco se torna em corresponder, concretizar e satisfazer o desejo, seja estando apaixonado ou hipnotizado. Segundo Freud (1921), as emoções quando se estiver amando são de características afetuosas. Apesar disso o objetivosexual está sempre no inconsciente e atuando. Para Freud, são esses componentes afetuosos que camuflam o impulso sexual, pois, inibidos em seu objetivo são a condição do laço entre as pessoas. Ao trocar os impulsos sexuais por aqueles inibidos em seus objetivos, estabelece-se uma distinção entre o ego e o ideal do ego, tal como ocorre quando se está enamorado. Ou seja, Estar amando baseia-se na presença simultânea de impulsos diretamente sexuais e impulsos sexuais inibidos em seus objetivos, enquanto o objeto arrasta uma parte da libido do ego narcisista do sujeito para si próprio. Trata-se de uma condição em que há lugar apenas para o ego e o objeto. (FREUD, 1921/1996E, P. 90). https://www.sinonimos.com.br/restricao/ https://www.sinonimos.com.br/dedicacao/ https://www.sinonimos.com.br/dedicacao/ 11 Freud se refere à distinção entre o ego e o ideal do ego e os vínculos que essa diferenciação possibilita que diz respeito tanto à identificação quanto a colocar o objeto no lugar do ideal do ego. Essa divisão é complexa e gera alguns resultados que merecem atenção, por isso, deve-se realizar a separação do ideal do ego do próprio ego para que o indivíduo não perca sua subjetividade, por conta das projeções propostas pelas mentes grupais. A partir da leitura da psicanálise de Freud, pode-se pensar que a busca do objeto amoroso tem relação com os temas de relevância social pelo fato de ser relativo à formação subjetiva e serão as relações parentais que podem provavelmente direcionar as buscas amorosas do sujeito ao longo de sua vida. 2 Amor Romântico na contemporaneidade Como observado anteriormente, Freud, defende a leitura do amor pautada na troca libidinal, onde o objeto é eleito para satisfação pessoal, em quanto laço social duradouro. Porém, a literatura nos apresenta que o amor romântico foi invenção histórica e necessária, defendida pelas grandes instituições sociais (Estado, Religião e Família). Foram estas que partiram na conjuntura de um projeto de construção de uma sociedade nova, com raízes afetivas mais seguras e relações humanas mais duradoiras e como um incentivo à autonomia e independência financeira burguesa diante de interesses grupais reforçando também a origem puritana (GERUZA, 2010). O liberalismo político e capitalista explicam o individualismo da sociedade contemporânea (GUEDES e ASSUNÇÃO, 2006). Além disso, tornou a sociedade flexível e baseada na tecnologia da informação. Teixeira (1985) salienta que o regime capitalista de produção, supõe a disseminação da produção para a troca. Para ele com a expansão dessa generalização gera a separação entre os direitos dos produtores de mercadorias dos seus meios de produção. Isso que dizer que, o produtor que produzia as mercadorias, deixa de produzir e torna sua força de trabalho como única possível mercadoria. Proletariados são convertidos a assalariados, aptos à liberdade de consumir. Para fazer parte do processo de troca e assim fazer parte da sociedade, segundo Teixeira (1985), o sujeito deve estar disposto a expor suas habilidades ao mercado, deparando-se com os inúmeros sujeitos na mesma situação. Porém, não se aliena diante disso, e sabe que agindo de acordo com o fluxo pode continuar participando da troca – pois antagonicamente seria 12 apenas um escravo. Assim, de acordo com a relação de troca imposta pelo capitalismo, caracteriza-se a separação dos proprietários dos meios de produção aos antigos proletários. A transição da modernidade para pós-modernidade apresenta características importantes para construção do sujeito. A modernização engloba duas tradições que favorece mutuamente a corrente emancipatória (ou seja, libertadora) e a corrente tecnológica. São consequentes da Revolução Francesa que declara autodeterminação para todos, efetivada pelo tratado de Versailles. Este item emancipatório, contribuiu para a modernização, incorporado pela lei geral do Estado-nação que estabeleceu leis gerais pautadas no dever, na cidadania, burocracia e nos diretos (SHINN, 2008). Através dessa emancipação, podemos compreender que ela gera uma abertura na liberdade nas possibilidades de escolha do sujeito, que se mostra mais expressiva na pós-modernidade. Segundo Shinn (2008 apud JAMESON, 1984), a cultura pós-moderna pode ser caracterizada por três elementos: “[...](1) uma perda de profundidade individual hoje as pessoas são muitas coisas e estão constantemente mudando, o que não significa superficialidade mas, antes, multiplicidade; (2) o anterior entendimento progressivo e linear da história está perdido os indivíduos vivem agora o presente; as noções de espaço e tempo são bastante diferentes na pós-modernidade em comparação com a modernidade; (3) a emoção é legítima e central na pós-modernidade a emoção abre caminho para muitas outras formas de exploração e de identidade.”(SHINN, 2008, p.53) O autor apresenta que a pós-modernidade acelerou as coisas, tantos materiais quanto pessoais. Essa aceleração de novas descobertas substitui o sujeito por um ser auto-operante em uma nova dimensão temporal e espacial que são sustentados pelo trabalho, através das infinitas fontes de imaginação e criatividade. Bauman (2000) denota que na pós-modernidade o trabalho ainda está centralizado como fonte de subjetivação do sujeito. Porém, a partir das infinitas possibilidades, é nele que o indivíduo acredita encontrar o crescimento pessoal, familiar e financeiro. Essa relação de troca estabelecida pela mercantilização da mão de obra revela um homem que é valorizado no seu lugar de proprietário e consumidor – homem e mercadoria se identificam. Isso pode representar o alicerce que o homem elabora de si e dos outros as sua volta. Bauman dedica-se ao estudo dos laços humanos e novas formas de se relacionar de forma macro. Para ele a sociedade capitalista está atrelada ao consumo e transforma as mercadorias ou serviços para objeto de desejo. Ele faz comparação entre consumo de mercadorias e as escolhas amorosas. Para o autor as relações amorosas na contemporaneidade são pautadas em um “amor líquido”, portanto, 13 “Amor líquido é um amor ‘até segundo aviso’, o amor a partir do padrão dos bens de consumo: mantenha-os enquanto eles te trouxerem satisfação e os substitua por outros que prometem ainda mais satisfação. O amor com um espectro de eliminação imediata e, assim, também de ansiedade permanente, pairando acima dele. Na sua forma liquida, o amor tenta substituir a qualidade por quantidade- mas isso nunca pode ser feito, como ou mais tarde acabam percebendo. É bom lembrar que o amor não é um ‘objeto encontrado’, mas um produto de um longo e muitas vezes difícil esforço e de boa vontade”. (BAUMAN, Isto é, 2010). O indivíduo da sociedade contemporânea acredita que o relacionamento amoroso advém da realização pessoal imediata (GERUZA, 2010). Os meios de comunicação vendem a felicidade como um direito do ser humano de ser livre e conseguir tudo que quer. Essa independência ser torna um traço de caráter, onde o indivíduo conduz seu próprio ritmo de acordo com seus desejos próprios. O sujeito é responsável pela sua própria vida e a “felicidade” prometida através da realização do amor romântico, não conseguirá resistir ao cotidiano, ao esfacelamento daquilo que acredita ser perene em constantemente lhe proporcionar prazer: o amor romântico. Bauman (2004) analisa que essas experiências “amorosas” foram rebaixadas de padrões e acabam desvalorizando da palavra amor. As noites casuais de sexos são referidas pelo codinome “fazer amor”. Acredita-se que os repentinos aumentos da disponibilidade dessas experiências alimentam a concepção do amor como um treinamento, onde o acúmulo de experiências deixa a próxima experiência mais prazerosa. Porém, segundo o autor, trata-se apenas de uma ilusão, pois essa repetição não é nada maisdo que o desaprendizado do amor ou uma incapacidade de amar. Podemos perceber que o desejo é o único sentimento presente nas relações e Bauman (2004) confirma quando estabelece a diferenciação entre o desejo e o amor. Desejo é a vontade de consumir, buscando sempre domesticar o sujeito de forma que ele seja destruído a ser consumido. Já o amor é cuidar e preservar o objeto, se dedicar a ele e não se quer consumir o objeto e sim possuí-lo. Portanto, o autor destaca que os relacionamentos são voltados para satisfação do prazer momentâneo e individualista. Com isso, compara a lógica do shopping center, onde as pessoas não compram para satisfazer algum desejo e sim por impulso. Comenta que para semear desejo demanda tempo para se estabelecer e seguir por impulso a escolha das parcerias sexuais é deixar em aberto novas experiências românticas que podem ser mais satisfatórias e completas. Com isso, a relação é: 14 Guiada pelo impulso [...], a parceria segue o padrão do shopping e não exige mais que as habilidades de um consumidor médio, moderadamente experiente. Tal como outros bens de consumo, ela deve ser consumida instantaneamente (não requer maiores treinamentos nem uma preparação prolongada) e usada uma só vez, “sem preconceito”. É, antes de mais nada, eminentemente descartável. (BAUMAN, 2004, p. 27, aspas do autor). Dessa maneira, podemos concluir que o estilo de vida consumista, favorece a velocidade como a novidade e variedade que elas promovem e facilitam. As relações frequentemente são baseadas no impulso e se não trazem satisfação imediata são descartadas. Essa atitude pode ser comparada como uma compra feita pouco tempo e devolvida por conta da insatisfação do consumidor. Cada vez mais comuns, Bauman (2004) apresenta as relações de bolso e, assim são chamadas, pois guardam-se para que possam ser usadas quando forem preciso – geralmente conhecida como “amizade colorida” ou o chamam de “ficar”. A primeira regra dessa relação é não se apaixonar. A conveniência é a única coisa que importante, a pessoa deve manter a cabeça fria e coração sem sentimentos amorosos. Portanto, esse “ficar” observado pelo autor, remete a uma possibilidade de conhecer outras pessoas, pois mesmo “ficando” podem-se conhecer novos pretendentes. Isso, justamente pelo fato de não existir compromisso e se um dos dois sentirem algo fora do combinado é hora de finalizar e seguir adiante. Seguindo a lógica dos tipos de relacionamento, podemos também nos atentar aos relacionamentos através da conectividade, hoje em dia sendo mais comuns. Para Bauman (2004), essas relações são mais fáceis de entrar e sair, assim elas parecem ser feitas sob medida para o cenário liquido. A internet propõe a viabilidade de relação social, com apoio emocional e sentimento de pertence. Hoje ela possibilita a escolha do parceiro que deseja, na hora que deseja, da forma que deseja. A introspecção é substituída por uma interação sem freio, facilitando até os mais tímidos a iniciar relacionamentos mesmo sem se ver e essa distância gera coragem para tomar uma iniciativa, pois parece ser mais fácil encarar uma tela de computador do que um contato mais humano. Quando o relacionamento vinga, torna-se uma fonte de diversão e namorar dessa forma não há repercussão no mundo real. Assim, leva o relacionamento a um estado ilusório que não é digno de muitos esforços. Bauman (2004) atenta que essa interação depende de cada um dos envolvidos determinar sua continuidade. Esses relacionamentos podem ou não se materializarem, e os usuários são responsáveis pelas ações e atitudes na esfera dentro e fora do mundo virtual. É possível verificar que para Bauman os celulares contribuem para manter essa conexão. O trecho de um dos seus escritos exposto a seguir demonstra essa relação: 15 Você nunca perde de vista o seu celular. Sua roupa de jogging tem um bolso especial para ele, e você nunca sai com aquele bolso vazio, da mesma forma que não vai correr sem o seu tênis. Na verdade, você não iria a nenhum lugar sem o celular ("nenhum lugar" é, afinal, o espaço sem um celular, com um celular fora de área ou sem bateria). Estando com o seu celular, você nunca está fora ou longe. Encontra-se sempre dentro — mas jamais trancado em um lugar. (BAUMAN, 2004, p. 79). Hoje o celular tem uma função importante no dia a dia do ser humano. Ele faz parte da comunicação, da expressão e consequentemente contribuem para o cenário liquido. Se uma mensagem não foi respondia, não tem problema, existem outros números que podem satisfazer o que você procura. Portanto, essas conexões tendem ser mais frequentes e banais. O autor afirma que estar conectado por celular, assim como pelo computador, é menos custoso do que estar engajado, gerando uma menor produtividade na construção e manutenção dos vínculos. Com isso, o autor comenta que a proximidade virtual no cenário líquido pode ser vista com vantajosa, pois a solidão por trás da tela parece ser menos arriscada do que compartilhar com outra pessoa o mesmo local em comum. Portanto, não é admirável que, [...] a proximidade virtual tenha ganhado a preferência e seja praticada com maior zelo e espontaneidade do que qualquer outra forma de contiguidade. A solidão por trás da porta fechada de um quarto com um telefone celular à mão pode parecer uma condição menos arriscada e mais segura do que compartilhar o terreno doméstico comum. (BAUMAN, 2004, p. 84) Atualmente, é comum que os jovens busquem conhecer pessoas através de aplicativos disponíveis nos smartphones. O aplicativo “Tinder” é o mais comum entre os jovens que estão “a fim” de flertar pelo celular. Moura e Cortes (2015) apresentam de forma didática o funcionamento do aplicativo: Na prática, a plataforma mostra imagens de perfis que possivelmente agradem ao visualizador e outros dados como idade e raio geográfico, além de uma funcionalidade em que o usuário pode clicar na opção "Liked" (gostei) em um botão com formato de coração ou "Not" formando um "X" na tela [...] No momento em que dois usuários escolhem a opção "like", para os respectivos perfis, acontece uma combinação intitulada pela plataforma de “It’s a Match”, e a partir disso ambos podem iniciar uma conversa “on-line”. (MOURA E CORTES, 2015, p.4). O “match” descrito pelos autores claramente demostram a rapidez e agilidade no estabelecimento da ligação com o outro, antes era instituída pelo cortejo, que demandava tempo e dedicação. Assim, a afinidade que era baseada pela constituição familiar, é fragmentada com facilidade (BAUMAN apud MOURA E CORTES, 2015). Além disso, é importante evidenciar que a internet trouxe a possibilidade da sociedade apresentar o discurso que quiser de forma ampla, para pessoas de diversas sociedades. Foucaut (2001) apresenta o discurso como um acontecimento homogêneo à prática relacionada como 16 ato de criação e ao ato de ler histórias. Com isso, o discurso pode oferecer sentido à imagem que fazemos de nos mesmos e dos outros, de acordo com o contexto que quisermos. Para o autor, o discurso pode ser visto como conjunto de enunciados que apoiam a formação discursiva do ser e materializam nas práticas sociais dos sujeitos. Dessa forma, podemos cogitar que o a imposição do discurso nas redes sociais poderiam incentivar o a lógica a continuação do consumo exagerado da sociedade contemporânea. É a partir dessa lógica consumista que Bauman (2004) apresenta a relação dela com os relacionamentos atuais: E assim é numa cultura consumista como a nossa, que favorece o produto pronto para uso imediato, o prazer passageiro, a satisfação instantânea, resultados que não exijam esforços prolongados, receitas testadas, garantias de seguro total e devolução do dinheiro. A promessa de aprender a arte de amar é a oferta (falsa, enganosa, mas que se deseja ardentementeque seja verdadeira) de construir a “experiência amorosa” à semelhança de outras mercadorias, que fascinam e seduzem exibindo todas essas características e prometem desejo sem ansiedade, esforço sem suor e resultados sem esforço (BAUMAN, 2004, p. 22). Como podemos observar, assim como a lógica capitalista que valoriza a abundância de bens, os jovens hoje procuram quantidade e não qualidade em seus relacionamentos. Desta forma, gostam de quantificar quantas vezes “ficam” e quantas pessoas “pegam”. A quantidade que é importante, pois para eles é o que aparentemente supre a miséria afetiva de seus corações. Desse modo, podemos concluir que o fica é o medo de sofrer e se decepcionar quando descobrem que o outro não trás a garantia de felicidade. Por conta disso, mantém as suas relações superficiais com intuito apenas de suprir a necessidade sexual, enquanto a emocional é projetada em outras estâncias da vida. O medo da frustração é possivelmente devido à falência das habilidades para ter um relacionamento e consequentemente ter uma família (GUEDES e PINHEIRO, 2000). Para poupar-se de possíveis frustrações, o indivíduo entra em um mundo particular, dificultando possíveis contatos ou se apropriando do mundo virtual – como vimos anteriormente. De acordo com Bauman (1998), amar se caracteriza, na maioria das vezes, como um ato arriscado, perigoso, pois não conhecemos de antemão o resultado final das nossas experiências afetivas. Nesse seguimento, a pessoa esquiva-se da ansiedade e a incessante possibilidade do fim do relacionamento. Acerca disso, podemos relacionar com o termo de “flutuação”, apresentado por Baumam (1997), que seria a recusa de conceder o caráter custoso da tarefa e o trabalho duro. Assim, temos a estratégia de evitar as possíveis perdas e não investir tempo e muito menos 17 esforço, já que os ganhos estão abaixo do trabalho que é dedicado para assegurá-los. Nessa estratégia o indivíduo consegue se esquivar da insegurança em vez de enfrenta-la na esperança de encontrar segurança em esforços inferiores, mas que possam trazer benefícios árduos.(BAUMAN, 1997, p. 115). Podemos elucidar a entrada de trabalho da mulher relacionada à deterioração da relação com o homem. Geruza (2010) supõe que a entrada da mulher no mercado de trabalho, tirou o lugar de dona de casa, fazendo que ela saísse do papel de submissão em todos os âmbitos, principalmente o sexual. A mulher conquistou o direito de escolher com quem se relacionar. Isso tudo a torna ameaça ao “macho” que perdeu seu papel de chefe da família, em que era o único responsável por sustentar a casa. Para autora, a contemporaneidade gerou homens e mulheres desamparados por seus próprios sentidos e sentimentos facilmente descartáveis. Observamos que o sujeito contemporâneo devota-se à autonomia pessoal, e ter filhos, assim como casar, em nossa época pode ser uma questão de decisão e escolha. Porém, a lógica do consumo também transforma a estrutura familiar. Para expor melhor essa relação, Bauman (2004), defende que há dois caminhos na nova estrutura familiar: o primeiro é sustentado, como já falamos, pelo individualismo e a prioridades dos objetivos pessoais; e o fato de que formar uma família pode ser colocado em segundo plano. Já o segundo caminho, não abandona a lógica individual-consumista, mas adaptou a construção da família, onde ter filho se torna também um consumo, mas voltado para um consumo emocional. De maneira que, ter um filho fosse um amparo mais sólido, já que conseguem proporcionar uma alegria contínua – coisa que infelizmente nenhum objeto de consumo proporciona. Portanto os, objetos de consumo servem a necessidades, desejos ou impulsos do consumidor. Assim também são os filhos. Eles não são desejados pelas alegrias do prazer paternal ou maternal que se espera que proporcionem-alegrias de uma espécie que nenhum objeto de consumo, por mais engenhoso e sofisticado que seja, pode proporcionar (...)’. (BAUMAN, 2004, p.59) Porém, segundo o autor, essa lógica choca-se com a dinâmica contemporânea, pois ter filhos é um vínculo emocional e lealdade sem validade. Por isso, acredita que, quando o sujeito tem consciência disso, é capaz de entrar em colapso e isso pode ser a explicação das crises conjugais pós-partos. Sendo aparentemente relacionados com as doenças da contemporaneidade, como a anorexia ou bulimia (ambas voltadas para a frustação de não estar de acordo com que a sociedade impõe). 18 Relativamente, Bauman (2004) acredita que as pessoas não querem mudar certas atitudes ou abdicar de certos costumes em prol de um relacionamento, pois temem o término da relação no primeiro sinal de desgaste. A insegurança de estabelecer uma relação por conta da incerteza de seu futuro faz com que os jovens prefiram jogar todas suas expectativas na construção de sua carreira, onde a certeza do retorno é garantida. Seguindo esse embaraço da criação de vínculos duradouros, Bauman (2004) discute que vivemos com a dificuldade de amar ao próximo. Hoje o indivíduo questiona-se sobre a reciprocidade de amar o outro e o que isso lhe trará de bom. O altruísmo é questionado, e como já apresentado por Friedrich Nietzsche onde, “cada ação é preciso ter em vista o interesse pessoal, como seu bem supremo” (NIETZSCHE apud ARALDI, 2016, p. 80). Logo, podemos perceber que o objetivo do indivíduo contemporâneo é obter lucro e vantagem nos seus investimentos pessoais. Sendo assim, o autor concorda com Freud, que em seu texto, “Mal Estar da Civilização” de 1930, comenta sobre o mandamento “amar ao próximo como a si mesmo” e identifica que esse mandamento não faz mais sentindo, pois por conta da lógica de segregação social e espacial, vinda da incapacidade de aceitar o outro ser humano na sociedade, há uma ausência de compromisso com o próximo. Essa falta de empatia vem da lógica capitalista, em que os indivíduos vivem exacerbados em seus condomínios fechados, procurando manter seus bens e em consequência ficam alienados com tudo que acontece do lado ao contrário dos seus muros. Diante do que foi exposto nesse capítulo, podemos observar a contemporaneidade como a época o vazio, onde o tédio e a indiferença em relação ao outro se instalam. As pessoas perdem interesse rápido e a noção de várias possibilidades reforça isso. A procura por aplicativos de namoro se torna muito comum entre os jovens, por isso. Há uma catalogarização de pessoas que se conhecem através do “match” - que podemos traduzir como combinação de pessoas interessadas reciprocamente. Além disso, por mais que a contemporaneidade apresente várias formas de se relacionar, no final das contas os sujeitos possuem medo de se frustrar, devido à insegurança que a atualidade nos apresenta. A nossa cultura consumista favorece essa concepção de produto para uso imediato e de fácil acesso com prazer passageiro e satisfação imediata e podemos ter a mesma concepção para os novos relacionamentos. https://www.sinonimos.com.br/embaraco/ 19 2.1 Possíveis Respostas Como vimos no capitulo anterior, vivemos um estado de individualidade, onde o sujeito não procura vínculos. A fluidez da modernidade contemporânea se reflete na forma como os sujeitos se relacionam. (BAUMAN, 2004). Mas como a psicanálise pode explicar essa fluidez? A proposta desse capítulo é apresentar argumentos nos ajude a compreender essa questão. Como vimos no capítulo anterior, para Bauman (2004), essa liquidez também vem da desconfiança do amor do outro. Afinal, o amor exige tempo, cuidado e permanente manutenção. Acredita-se que os indivíduos não estão dispostos a ser entregar a algo que pode acabar. Portanto, esses sujeitos estão presos na satisfação imediata e não tem o mínimo de interesse em ter um relacionamento com seu objeto de desejo. Portanto, o indivíduo adquire múltiplas experiências amorosasao relacionar-se com outros sujeitos. Segundo Leite (2017), nossa sociedade induz que o consumo seja um objeto de desejo de gozo solitário, gerando a individualidade, que acabará levando o sujeito novamente à vivência do estado de desamparo. Há uma promessa (fantasiada) de que este consumo satisfaça totalmente seus desejos, e como na verdade não satisfaz, deixa o indivíduo cada vez mais desamparado. Ao relacionar o desamparo como possível causa da fragilidade dos relacionamentos, voltamos a Freud que introduz o termo em 1985, no texto “Projeto para uma psicologia científica”. No texto, o autor descreve que o recém-nascido precisa de ajuda de outro para promover sua sobrevivência. O bebê apela por ajuda e são esses sinais que fará o adulto responde com o cuidado. A mãe tem o papel de ser interprete do bebê sobre suas ansiedades e medos. A comunicação acontece a partir da captação das informações relacionadas às manifestações do bebê, onde a mãe tenta decodifica-las, devolvendo a ele o resultado da sua interpretação. Quando não há essa comunicação, o bebê pode entrar em estado de desamparo. Essa comunicação é de extrema importância para o desenvolvimento psicológico e, a partir disso, Freud (1927) conclui que o sentimento desamparo já aparece no começo da vida, devido à necessidade de realizar trocas com o mundo dependendo da ajuda do cuidador. No texto “O Futuro De Uma Ilusão” de 1927, Freud, destaca que a mãe satisfaz o bebê com o leite materno. Desse modo, ela se torna o primeiro objeto amoroso e fonte proteção de todos os perigos e ansiedades. Em seguida, essa figura é substituída pelo pai, porém, a criança admira o pai e ao mesmo tempo o teme, por causa da relação dela com a mãe. Isso o torna guardião da 20 lei e dos processos civilizatórios como anteparo contra eventuais ameaças de figuras intrusas. Aproveitando o raciocínio, Leite (2017) relativiza a entrada do pai em cena e o corte feito na primeira relação mãe-bebê, que satisfazia todas as demandas da criança, agora é o consumo da mercadora acaba de tomar o lugar do outro. A criança cresce e se torna adulto, logo, percebe que o seu destino é permanecer uma eterna criança no sentido de sempre precisar de proteções superiores. Portanto, para Freud, a religião teria origem como construção de uma proteção contra o desamparo humano e também a ameaças externas (FREUD, 1927). Com isso, o adulto não se sentirá desamparado, pois sempre terá alguém que não irá lhe abandonar e se sentirá protegido e amparado. Ou seja, O homem certamente se encontrará então em uma situação difícil: terá de reconhecer todo o seu desamparo, sua insignificância no mecanismo do mundo, não será mais o centro da criação e o objeto do cuidado terno de uma Providência bondosa. Ele estará na mesma situação da criança que deixou a casa paterna, tão aquecida e confortável (FREUD, 1927, p. 73). Como vimos no primeiro capítulo, na relação pós-edípica o indivíduo teria internalizado as figuras parentais, na instância psíquica do supereu e transferindo a libido para outro objeto de desejo, trazendo uma possível proteção frente ao desamparo humano. Porém, para Leite (2017) o pai falha novamente e como sempre falhou, portanto, o fantasma do desamparo vem novamente à tona. Isso poderia explicar porque hoje as relações humanas ou as de ternura, que deveriam dar suporte e segurança ao sujeito desamparado após o Complexo de Édipo, não consegue realizar o amparo necessário. Leite (2017) concluiu que ao invés de uma relação de insegurança, onde espera a possível falha do outro, o indivíduo na contemporaneidade encontra na mercadoria uma forma de segurança e amparo, que na verdade é apenas uma projeção. Acerca disso, podemos observar que deslocamento de libido continua acontecendo como tentativa de sair do estado de desamparo. Esse deslocamento acontece a partir do momento que acontece a troca das relações humanas com as relações estabelecidas com os objetos de consumo, pois esse objeto pode ser trocado a qualquer momento. Segundo Bauman (2004), é a indústria impõe que indivíduo sempre busque a satisfação, com isso manipulam os indivíduos através da reprodução de ideias jamais atingidas pelos seres humano. Consequentemente para Leite (2017), essa necessidade deixa de ser uma relação de necessidade para uso e passa ter relação com a imagem, onde entramos num mundo de ilusões e aparências. Em vista, podemos observar que o estado de desamparo deveria ser um impulso para que o indivíduo procure no outro amparo e segurança em seus semelhantes, porém https://www.sinonimos.com.br/consequentemente/ 21 aparentemente isso foi pacificado com a indústria cultural. Acerca disso, Bauman (2008), afirma que o que acontece na contemporaneidade é a troca das relações humanas para relações de consumo e essa troca trás consequências importantes para o psíquico. O que era esperado no encontrar no outro, passar a ser buscado em coisas que podem ser consumidas. Portanto, consegue-se o amparo com consumo de mercadorias e bens materiais (LEITE, 2017). Sendo assim, a mercadoria passa a substituir as relações afetivas, pois a satisfação é imediata. Leite (2017) expõe que ainda pode surgir uma falha da falta, porém o momento que a relação estará estabelecida com o objeto e não com uma pessoa real, ela poderá se trocada sem qualquer remorso, coisa que não é fácil ser feito nas relações humanas. Sendo assim, as relações humanas efetivas que antes serviam de amparo para estruturação do sujeito, na contemporaneidade são baseadas no uso do outro e nenhum retorno significativo. Diante disso, o outro passa a ser sinal de objeto para consumo a partir do momento que o ato é consumado, o outro passa da posição de objeto para posição de dejeto (BAUMAN, 2004). Com isso, Leite (2007, p. 71) conclui através da leitura de Freud, que as relações baseadas através do “princípio do prazer, se afundam ainda mais no indivíduo em sua solidão em que seu individualismo desde o momento que não encontram outros sujeitos aptos para fazerem essa troca de amor”. Como vimos no capítulo anterior, os indivíduos estão cada vez mais buscando outros indivíduos dispostos a viver do prazer imediato e não encontram nada além do vínculo que seja mais prazeroso do que a buscar do prazer, que é simples e quando conseguem obter, acreditam serem independentes e ao mesmo tempo solitários. Portanto essa satisfação “falsa”, relatada por Bauman (2004), pode explicar a continuidade no estado de desamparo no sujeito. Com isso, é possível pensar que esse desamparo gerado com o consumo possa gerar descaso com o outro. Para justificar essa satisfação imediata, apresento novamente Freud que no texto “Mal Estar da Civilização” de 1930, afirma que tentamos ser um “Eu puro do prazer”, ou seja, o funcionamento mais primitivo da subjetividade humana esta relacionado ao princípio do prazer de satisfação imediata e muitas vezes inconsciente. Freud (1930) identifica que as exigências da cultura civilizatória é o principal obstáculo para a satisfação sexual. Para ele essa relação ambígua da sociedade faz com que um mal-estar insista sobre o indivíduo. Portanto, o mal estar inerente a qualquer formação social e a busca felicidade está fadado ao fracasso. Em contrapartida, retomo as questões referentes ao amor e aos relacionamentos, para uma comparação com a busca da ordem que Freud apresentou como característica do 22 pensamento moderno, baseados nos valores tradicionais da família, pautadas em compromissos duradouros, pois estes faziam parte da exigência social de ordem (FREUD). Essa segurança, vinda da promessa do casamento que promete o amor “até a morte nos separe”, indicou ao sujeito de forma ordenada para realizar suas necessidades pulsionais, relacionadas às escolhas amorosas, propõe uma ordem monógama e duradoura: A civilização atual deixaclaro que só permite os relacionamentos sexuais na base de um vínculo único e indissolúvel entre um só homem e uma só mulher, e que não é de seu agrado a sexualidade como fonte de prazer por si própria, só se achando preparada para tolerá-la porque, até o presente, para ela não existe substituto como meio de propagação da raça humana. (FREUD, 1930, p. 110). Portanto, podemos observar que além das questões comportamentais, os valores sociais também delimitavam a forma como o sujeito se colocava a frente das questões relacionadas à sexualidade. É importante compreender que Freud, viveu na sociedade moderna, onde as normas de condutas eram mais rígidas com a escolha dos objetos amorosos. Não havia liberdade para viver a orientação sexual desejada. Era a sociedade delimitava as satisfações pulsionais através do relacionamento heterossexual, e consequentemente fortaleceu essa ideia no supereu. Bauman no texto “O mal estar da pós-modernidade” de 1998 faz algumas ressalvas ao texto de Freud ao qual acabamos de citar anteriormente. Segundo Bauman (1998), o texto de Freud relata que há uma relação dualística de que para ter segurança perde-se a liberdade e na verdade se refere à forma da pensar da sociedade moderna. Portanto, a forma de ver a sociedade como civilização ou cultura é característica do pensamento moderno e não faz parte da pós- modernidade. O autor propõe que o homem contemporâneo trocou parte da segurança por felicidade, o que traria um grande mal-estar. Logo, para Bauman (1998), estaríamos diante de um novo movimento social que prega a satisfação individual, marcado por exigências constantes de mudança por conta da globalização, gerando consequentemente insegurança no indivíduo. Bauman (1998) acreditava na dualística dos grupos humanos que instituíram organizações não naturais. Isso poderia estar relacionado com às quais poderiam se julgar organizados, como puro e correto e, o desorganizado, visto como impuro e incorreto. Onde cada uma poderia estabelecer normas de funcionamento apropriadas para cada grupo. Para o autor, no mundo pós-moderno adequar-se socialmente é a capacidade de participar do jogo do mercado. A nova ordem passar a ser a destruição da ordem anterior, onde nasce uma nova instituição, fatalmente temporária. No contexto contemporâneo, o homem tem que, mostrar-se capaz de ser seduzido pela infinita possibilidade e constante renovação promovida pelo mercado consumidor, de se regozijar com a sorte 23 de vestir e despir identidades, de passar a vida na caça interminável de cada vez mais intensas sensações e cada vez mais inebriante experiência (BAUMAN, 1998, p. 23). Portanto, os que não podem participar do jogo são considerados consumidores falhos com o sistema. Para Baumam (1998) essa imposição de incessante modificação é característica geral da sociedade contemporânea, ele nomeia como fluidez pós-moderna – logo atualiza em liquidez pós-moderna, como vimos no capitulo anterior. Freud com sua psicanálise apresentou a ideia de que a sociedade impõe a maneira de se expressar com mundo. Anunciou que a sociedade moderna vivia no mundo o qual a lei foi introjetada no supereu. Freud (1930) ressalva que essa lei não é somente uma proibição, mas uma condição imposta. Segundo a teoria do autor, o supereu seria o regulador das ações do sujeito a partir dos valores impostos pela sociedade. Para compreender melhor, exponho a origem do supereu (antes chamado de superego), segundo o próprio autor, [...]a origem do superego, tal como a descrevemos, reconheceremos que ele é o resultado de dois fatores altamente importantes, um de natureza biológica e outro de natureza histórica, a saber: a duração prolongada, no homem, do desamparo e dependência de sua infância, e o fato de seu complexo de Édipo, cuja repressão demonstramos achar-se vinculada à interrupção do desenvolvimento libidinal pelo período de latência, e, assim ao início bifásico da vida sexual do homem. (FREUD, 1923, p. 47) Freud (1923) apresenta que o supereu, é divergente do eu, pois ele opõe-se aos desejos do isso. O supereu retrata as normas e valores do grupo social em que o indivíduo está introduzido. A lei internalizada no próprio indivíduo muitas das vezes tem o papel de inibidor do eu e faz parte das últimas das três instâncias sendo herdado através do complexo de Édipo (FREUD, 1923, p. 61). A resolução do complexo de Édipo estabelece a partir da marcação do ideal egóico e da identificação paterna. Dessa forma, como já vimos anteriormente, o sujeito direciona a sua libido objetal, afastando do seu objetivo sexual por conta das concepções culturais introduzidas pelo Pai. Por esse motivo, Freud apresenta que o supereu estrutura-se como a representação da cultura para inclusão do sujeito na sociedade, afim que seja aceito e consiga seguir as leis que viabilizam a vida em sociedade – principalmente com a consciência da proibição do incesto. Consequentemente, o autor aponta que, a origem do supereu foi constituída pela herança cultural. Leite (2017), em razão disso, comenta que embora o supereu tenha a categoria de protetor, ele também tem como função inibir o indivíduo para não permitir a livre fruição de pulsão de morte através da agressividade contra o outro e contra o próprio Eu. O autor aponta 24 que na sociedade pós-moderna encontramos um supereu ainda com base da lei social, porém agora a lei é baseada no consumo, introduzido mais uma vez pela indústria cultural. Desse modo, Lago (2009) apresenta possível “arrefecimento” no supereu por conta da pós-modernidade. O autor ao trazer Freud com seus mal-estares (frutos do exagero de ordem da sociedade moderna) relativiza a normatização dos ideais do sujeito que fortaleceu o supereu, a partir das imposições da identidade e da função social que o homem tinha. Por exemplo, a formação da família tradicional como uma das regras para convivência social pelo casamento, validado pela ordem cristã ditada pela frase “até a morte nos separe”. Portanto, o autor salienta que as escolhas dos objetos substitutos se baseavam a partir do ideal do eu, de acordo com os valores sociais da época. Como vimos no capítulo anterior a pós-modernidade aponta que os valores não seguem uma ordem única. Existe uma diversidade de comportamentos subjetivos, que se estabelece através de uma realidade menos rígida e determinista, que possuem uma carência referencial. Para Lago (2009), a consequência disso é a falta de direcionamento para as escolhas objetais desse sujeito, já que valores sociais patriarcais, como a religião, estado e a família, perderam autoridade máxima. Continuando a linha de raciocínio, Lago (2009, p. 71), expõe que as diferenças entre a sociedade moderna e a pós-moderna parecem obedecer duas normas éticas: “Enquanto a primeira, por exemplo, alimentava-se de uma ética do trabalho que visava a poupança e a acumulação de capital (sociedade ordenada à produção), a segunda atua sob a ética do direito imediato à fruição prazerosa (sociedade destinada ao consumo)”. Dessa forma, a necessidade de “poupar” para em seguida ter acesso à disponibilidade dos bens, na pós-modernidade dar-se lugar ao simplificador do consumo, como o cartão de crédito, que facilita a compra de bens e pode satisfazer os desejos imediatamente. Lago (2009 apud MATTEO, 2005), ainda salienta que a ética do não agora é ética do sim ao prazer imediato, onde se justifica a facilidade de acesso ao consumo. A moral libidinal antes restrita, agora se tornou uma moral com uma satisfação mais aberta, plastificada para atender as demandas da sociedade do consumo. Exibe-se um supereu, que antes determinava o conteúdo de moralidade descrevendo o que é ilícito e permitido, para um supereu onde a única obrigação é a intimidação do gozar, sem determinar os objetos permitidos e adequados ao gozo, nem as formasde gozar. Sem direcionamento, o autor atenta que o sujeito parece consumir sem freio todos os objetos ao seu alcance na tentativa de substituir o objeto perdido na resolução do Complexo de Édipo. 25 Isso justificaria o arrefecimento do supereu com o surgimento da possível viabilidade de pensar a imediata satisfação das pulsões narcísicas antes controladas, para uma indeterminável variedade de objetos ao dispor do sujeito. Consequentemente, Lago (2009) conclui que esse afrouxamento da lei enfraquece o potencial do sujeito de manter laços coerentes de uma ordem social. Para o autor, ainda que o supereu continue instituído no sujeito contemporâneo, com propósito de possibilitar seu ingresso, a sua função de ordem pode ser ameaçada pelo enfraquecimento das autoridades – que anteriormente apontavam os caminhos morais. Assim, conclui que sem essa direção, o sujeito se vê desprotegido e se torna vulnerável a sedução da sociedade de consumo que apresenta várias possibilidades de satisfação. A partir da leitura desse capítulo, pode-se concluir que na sociedade pós-moderna, os valores sociais não introjetam mais as leis vigentes no supereu regulador. Isso pode ser a explicação da necessidade do sujeito contemporâneo de sempre estar substituindo objeto de desejo. Essa dinâmica de escolha e troca é vazia, além de ser sem direcionamento. A escolha do objeto de desejo respeita a lógica de consumo, onde o sujeito está sempre em busca do prazer imediato, pois não consegue encontrar satisfação plena. A facilidade de comunicação e a rapidez da realidade virtual contribuem para esse propósito. Sem esquecer, da facilidade para desfazer os vínculos estabelecidos através dela. 2.2 Ainda há amor? Além o arrefecimento do supereu, podemos expor outras possíveis respostas para o amor líquido que vivemos na atualidade, como o desenvolvimento primitivo emocional, a incessante busca da felicidade, medo do sofrimento gerado pelo rompimento do relacionamento e o desamparo psíquico. A partir dessas respostas, apresentam-se consequências para configuração dos relacionamentos desses sujeitos. Como vimos anteriormente, o consumismo cria nos indivíduos a ideia de que tudo deve ser trocado em curto prazo, pois sempre haverá um bem superior e mais moderno, a ser adquirido e usufruído instantaneamente. A nossa cultura favorece o consumo de produtos de uso imediato e a experiência amorosa se torna semelhante a esta aquisição. As mercadorias fascinam e seduzem por conta dessas características, prometendo saciar o desejo sem ansiedade e esforço. E, como vimos no capítulo anterior há uma transferência do desejo para o consumo, onde o dinheiro é visto como caráter de troca ou veículo para obter a mercadoria desejada. 26 Segundo, Fortes (2009) o sujeito pós-moderno organiza-se a partir do eixo individualista-hedonista, guiada pela obrigação da felicidade. Felicidade que no sentido mais restrito provém da satisfação (de preferência, repentina) de necessidades represadas em alto grau, sendo, por sua natureza, possível apenas como uma manifestação episódica. Como a cultura atual está atrelada ao consumismo, a felicidade implica-se em consumir sem freios. Seguindo essa lógica, há uma redução da figura de alteridade, pois o outro e torna objeto de consumo, servindo assim como mero instrumento egóico do sujeito. Quando qualquer situação desejada pelo princípio do prazer se prolonga, ela produz tão-somente um sentimento de contentamento muito tênue. Com isso, o autor, reforça a ideia de autoexaltação narcísica do sujeito como caminho para alimentar o eu e não como relação de alteridade. Para alimentar o eu, usa-se o outro como forma útil, voltando para uma relação predatória, que é vista como fonte para prazer do eu, reduzindo o outro a um mero objeto de troca. Desta forma, podemos comparar o conceito de modernidade líquida com o caráter fluído do desejo. O desejo é um desejo puro, pura pulsão (FORTES, 2009 apud SAFATLE, 2003), por isso, o sujeito busca algo, mas não sabe o que. Assim, o desejo sempre está em movimento para a busca. Por essa razão, podemos observar que na pós-modernidade líquida esse desejo também é líquido. E como vimos anteriormente, os modos da cultura determinam o que o sujeito é através do seu desejo, portanto, o sujeito é o que deseja. Seguem-se na condição pós-moderna as tarefas de preencher o desejo com algo (com algum objeto ou pensamento) é ideológica. A imposição de dar um significado ao desejo pode ser uma resposta para a questão discursiva da injunção à interpretação. Existe o dever de que o universo faça sentido para o sujeito, daí, que a ilusão sobre o universo pode ser uma ilusão discursiva. Costa (1998, p.133) argumenta que: “Vivemos numa cultura narcísica, inibidora da experiência amorosa”. Aprendemos a “querer tudo” porque nos julgamos “uma totalidade” que não pode apresentar fraturas. O outro só “é desejado se enriquece nosso ser”. Se, ao contrário, nos pede sacrifícios, é rejeitado de pronto. Partindo novamente da análise realizada por Freud (1930), os relacionamentos entre os homens representa uma das fontes de sofrimento. Trata o amor sexual como antiga fonte de experiências de satisfação, proporcionando o protótipo de toda felicidade e que a continuação da busca dessa satisfação torna-se o ponto central da vida. Com isso, para Freud, essa concepção deixou o sujeito perigosamente dependente do outro e, quando rejeitado, ou há perda por conta da infidelidade ou morte, causa-se um sofrimento extremo. Isso poderia explicar porque os 27 praticantes do “amor líquido” evitam o amor ou qualquer tipo de relacionamento, pois sujeita o indivíduo a um futuro sofrimento. Portanto, à medida que as imperfeições e exigências do outro afloram, implicando acolhimento e aceitação, o sujeito sente-se impulsionado a buscar substituição do objeto amoroso, tal como os produtos que atualmente descartamos ainda com vida útil. Prefere-se a conquista de um novo, ao ajuste daquilo que já possuímos. Para Pinto (2017), além do fenômeno da modernidade líquida, vivemos num estado de desenvolvimento emocional ainda primitivo, no qual o aparelho psíquico não consegue reconhecer o seu eu separado do outro e, por isso, a ansiedade de separação é vivenciada de forma devastadora. Portanto, para o autor, se projetarmos esse cenário intrapsíquico a um universo mais amplo, de forma que seja possível uma análise da subjetividade contemporânea, percebemos a vivência da falta sentida como um grande vazio. Porém, isso não pode ser concebido a uma sociedade que demanda como consequência a completude e respostas rápidas. Por isso, apresenta que é preciso consumir ferozmente para conseguir ser bem sucedido para esquivar-se da própria fragilidade, que se refere à vivência a dor da falta. De modo coerente com essas reflexões, Bauman (2004), assinala que: Quando a insegurança sobe a bordo, perde-se a confiança, a ponderação e a estabilidade da navegação. À deriva, a frágil balsa do relacionamento oscila entre as duas rochas nas quais muitas parcerias se esbarram: a submissão e o poder absolutos, a aceitação humilde e a conquista arrogante, destruindo a própria autonomia e sufocando a do parceiro. Chocar-se contra uma dessas rochas afundaria até mesmo uma boa embarcação com tripulação qualificada. O que dizer de uma balsa com um marinheiro inexperiente que, criado na era dos acessórios, nunca teve a oportunidade de aprender a arte dos reparos? Nenhum marinheiro atualizado perderia tempo consertando uma peça sem condições para a navegação, preferindo trocá-la por outra sobressalente. Mas na balsa do relacionamento não há peças sobressalentes (BAUMAN, 2004, p. 31). Como já foi apresentando, esses mecanismos compensatórios encontrados pelo sujeito possuem o objetivo de lidar com o desamparo, por conta enfraquecimento das
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