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Apostila - Psicologia da religião

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Outubro/ 2019
Professor/autor: Profª Vanessa Carvalho de Mello
Projeto Gráfico e Capa: Mauro Rota - Departamento de desenvolvimento institucional
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por:
Rua: Martinho Lutero, 277 - Gleba Palhano - Londrina - PR
86055-670 Tel.: (43) 3371.0200
3Psicologia da Religião | FTSA | 
SUMÁRIO
Psicologia da religião
Unidade I - A psicologia da religião no contexto histórico da psicologia
Introdução..............................................................................................................................05
1. Psicologia da religião: de que se trata?..............................................................................07
2. Precursores.........................................................................................................................12
3. Ciência psicológica e psicologia da religião......................................................................19
4. Terminologias.....................................................................................................................22
Unidade II - Cenários e perspectivas da psicologia da religião
Introdução..............................................................................................................................30
1. Psicologia da religião em perspectiva global...................................................................32
2. Sistema de sentido, crença e conhecimento...................................................................38
3. A Psicologia da Religião em perspectiva brasileira.........................................................44
4. Enfoque etnopsicológico da Psicologia da Religião.......................................................52
Unidade III - Variedades da experiência religiosa
Introdução................................................................................................................60
1. Crise existencial e modernidade.......................................................................................61
2. Estágios da fé.....................................................................................................................68
3. Conversão............... ............................................................................................................75
4. Experiências religiosas: oração, adoração, cura/milagre...................................................82
Unidade IV - Acercamentos entre teologia e saúde mental
1. Possessão e Narcisismo..................................................................................................94
2. Psicopatogias modernas.................................................................................................101
3. Saúde mental e a bíblia....................................................................................................111
4. Teologia e saúde.............................................................................................................120
Acesse o AVA para fazer os exercícios e obter as respostas e reações do professor!
| Psicologia da Religião | FTSA4
UNIDADE I: A pisicologia da religião no contexto histórico 
da psicologia
Uma breve apresentação da disciplina
Alinhar os desafi os apresentados em nosso contexto atual a uma refl exão 
e práxis teológica cuja centralidade seja a Sagrada Escritura, é uma das 
preocupações constantes da FTSA. Para que isso aconteça, a integração 
do saber teológico com outros saberes deve ser sempre aperfeiçoada. 
Embora a crescente do conhecimento no seio de cada uma das disciplinas 
acadêmicas aconteça como parte do processo de ensino-aprendizagem, o 
recurso a qual chamamos interdisciplinaridade parece não ser tarefa fácil.
A Teologia, de certo modo, sempre desempenhou a interdisciplinaridade 
como valor para elaborar sua refl exão, se dispondo de várias linguagens 
para explicar a realidade. Anselmo de Cantuária, teólogo e fi lósofo cristão 
do século XII, disse que teologia é “fi des quaerens intellectum” – fé em 
busca de entendimento, portanto, se entende que a Teologia como fé que 
busca o entendimento deve ser capaz de dialogar com as mediações 
humanas na procura da totalidade. Sendo assim, a interdisciplinaridade 
na Teologia tem como objetivo ampliar o horizonte rompendo então com a 
lógica isolacionista que separa Teologia e vida.
Como proposta de re-ligação e reorganização dos saberes, a ação 
interdisciplinar em Teologia estabelece, de modo circular, novos diálogos 
sobre temas extremamente importantes para a própria Teologia e para 
a vida da Igreja. Tal dialógica representa uma nova postura da Teologia 
com respeito aos problemas fundamentais da humanidade, e é aqui onde 
a Psicologia da Religião apresenta especial relevância para a Teologia 
e para a vida pastoral e ministerial, pois com o desenvolvimento das 
ciências modernas, o avanço dos estudos sobre o fenômeno religioso se 
fez extremamente necessário, o que corroborou para que o diálogo entre a 
Psicologia da Religião e a Teologia acontecesse, ampliando o entendimento 
a respeito do mesmo a partir da compreensão da experiência religiosa do 
ser humano. 
5Psicologia da Religião | FTSA | 
Motivados pela importância e avanço da interdisciplinaridade é que a 
FTSA propôs o estudo da diversidade do fenômeno religioso baseado 
em categorias e métodos próprios em psicologia, contemplando assim 
as exigências do Eixo Interdisciplinar da graduação em Teologia através 
da disciplina: Psicologia da Religião.
Objetivos da unidade I
1. Conhecer as origens da Psicologia da Religião. 
2. Compreender como a disciplina foi se desenvolvendo como um ramo 
especializado da Psicologia. 
3. Distinguir as terminologias empregadas no campo da Psicologia da 
Religião e a aplicabilidade de cada uma de acordo com o contexto. 
4. Observar quais são os principais aspectos estudados pela Psicologia 
da Religião.
5. Estimular a refl exão de forma contextual e interdisciplinar.
Introdução
Alguns assuntos que normalmente não são falados em certas áreas do 
conhecimento como: sexo, religião, sonhos, corpo, desejo, loucura, dentre 
outros, normalmente são explorados no campo da psicologia. Pode 
parecer esquisito encaixarmos a religião junto a estes outros temas, até 
porque, o normal é pensar que o território adequado para se falar sobre 
religião seja o das academias teológicas. Não obstante, sabe-se que 
o fenômeno religioso é algo que se estuda nas academias fi losófi cas, 
sociológicas, antropológicas e não só, também na academia psicológica. 
Ao contrário do que muitos estudiosos pensam, com o avanço da 
pesquisa empírica e teórica, aquilo que era conhecido como “tabu” 
passa a ser objeto de interesse e análise em outros territórios do saber, 
portanto, ao pensar no fenômeno religioso como algo que faz parte da 
subjetividade humana, caberia tentar entendê-lo também a partir das 
lentes da Psicologia da Religião até porque, se pensarmos no contexto 
brasileiro, de acordo com o censo do IBGE de 2010, o Brasil possui um 
| Psicologia da Religião | FTSA6
índice de apenas 8,0%1 dos cidadãos que se declararam sem nenhum 
vínculo religioso.
Exercício de reflexão
Em sua experiência como estudante de teologia, você tem 
acompanhado as pesquisas atuais/dados estatísticos, sobre a 
realidade brasileira quando a experiência religiosa?
1 IBGE, Agência de Notícias. Em <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-
sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/14244-asi-censo-2010-numero-
de-catolicos-cai-e-aumenta-o-de-evangelicos-espiritas-e-sem-religiao>. Acesso em: 02 
agosto 2018.
7Psicologia da Religião | FTSA | 
Gráfi co O Statista.com[2] - Uma pesquisa promovida pelo Pew 
Research Center em 2015 revela o quanto o caráter religioso 
infl uencia na vida de pessoas ao redor do mundo. A mesma 
questão foi levantada em diferentes países, considerando as 
inúmeras religiões existentes no planeta. O Brasil aparece em 15º 
no ranking, com empate técnico com a Palestina,atrás da Índia 
e à frente da África do Sul. Em território brasileiro, três em cada 
quatro pessoas alegam que a religião teve bastante impacto e é 
muito importante em suas vidas, portanto, estudar a diversidade 
do fenômeno religioso a partir de categorias e métodos próprios 
em psicologia é relevante já que pesquisas como esta apontam 
claramente que a subjetividade do ser humano está permeada pela 
sua relação com transcendente.
[2] O STATISTA, Portal das estatísticas. Em <https://www.statista.com/chart/4189/
which-nationalities-consider-religion-most-important>. Acesso em: 02 agosto 2018.
1. Psicologia da Religião: de que se trata?
Se trata do estudo da diversidade do fenômeno religioso a partir de 
categorias e métodos próprios em psicologia, ou seja, enxergar o 
fenômeno religioso a partir das lentes da Psicologia da Religião nada 
mais é que descrever e entender o desenvolvimento da religiosidade 
das pessoas, bem como os aspectos individuais e sociais que as 
condicionam, considerando as características especiais que adquirem 
em etapas do ciclo vital.
É pensando em ilustrar algumas formas como as pessoas se relacionam 
com a religião que mergulharemos em uma viagem pelas crenças religiosas 
no Brasil através deste vídeo que é um fragmento do documentário 
“Fé”, de Ricardo Dias, premiado no Festival de Biarritz. Observem que o 
fi lme mostra a relação do indivíduo (fi el) com o transcendente a partir 
da diversidade religiosa. O convite que faremos então, é para que 
| Psicologia da Religião | FTSA8
vocês mergulhem nesse universo com interesse e curiosidade, abertos 
ao conhecimento, dispostos a ouvir e dialogar, levando sempre em 
consideração a relevância da partilha entre a Teologia e a Psicologia da 
Religião.
PSICOLOGIA DA RELIGIÃO: é uma disciplina que faz parte de uma 
das áreas de conhecimento da psicologia dedicada ao estudo do 
comportamento religioso, comportamento que envolve os fatores 
cognitivos e afetivos do ser humano.
Embora leve este nome, a Psicologia da Religião não estuda as religiões 
em si, mas a relação do ser humano com a religião, seja ela qual for, relação 
esta que pode ser marcada tanto pela afi liação como pelo distanciamento 
da mesma, de sorte a serem analisados o comportamento dos religiosos 
e o comportamento dos não-religiosos. Em Psicologia da Religião não 
se afi rma nem muito menos se nega a existência das fi guras religiosas, 
do transcendente, dos demônios, dos espíritos, dos deuses; o que se 
busca compreender é o que leva as pessoas a afi rmarem ou negarem 
essa transcendência, a crer ou a não crer nessas fi guras e a venerá-las 
ou combatê-las.
Saiba mais!
Desde seu nascimento, este é um campo suspeito. Enquanto é 
acusado por alguns de irreligioso, outros consideram que deve ser 
desenvolvido a partir das instituições religiosas. Daí o surgimento 
de algumas obras intituladas “psicologia religiosa”, termo que hoje 
se nos apresenta com um certo ar confessional. 
O estudo do fato religioso por parte da psicologia, com notáveis 
transformações teóricas e metodológicas, perdura até nossos dias, 
e é nele que concentraremos nossa atenção. Por volta dos 
9Psicologia da Religião | FTSA | 
anos 1960, essa orientação viu-se enriquecida com uma nova 
forma de apresentar as coisas, que passou à literatura com o 
enfoque “psicologia e religião” (PARSONS, JONTE-PACE,2001, P.2-
9). Essa nova orientação pretende não estudar a religião a partir 
da psicologia, mas um diálogo mútuo. Um diálogo difícil, mas que 
encontra seu ponto de união na “busca de sentido do ser humano” 
[...] É um período no qual escritores muitos diferentes, com públicos 
muito distintos, trabalharam simultaneamente a partir de cenários 
diversos. Um desses cenários estendeu-se entre a psicologia 
e a teologia, em torno do pré e do pós Concílio. E não só nem 
preferencialmente entre o catolicismo e a psicologia, mas entre o 
judaísmo e o cristianismo em geral e a psicologia, especialmente 
a psicanálise e as correntes humanistas. Durante esse tempo, 
alguns teólogos e fi lósofos, como P. Tillich, M. Buber, R. Niehbuhr, P. 
Ricoeur, K Rahner etc., enfrentaram essa tarefa utilizando o diálogo 
e o que P. Tillich denominou método correlacional (p. 11-12). 
A psicologia da religião, como parte da psicologia geral, serve-se de 
seu próprio método, particular das ciências humanas. Propõe-se a 
inventariar os comportamentos religiosos, explorar as diferenças 
signifi cativas, compreender as relações com outros fenômenos 
humanos, conhecer as estruturas internas das experiências e dos 
comportamentos religiosos, discernir a atitude religiosa aparente 
da autêntica e formular hipóteses compreensivas da dimensão 
religiosa do homem (MILANESI, ALETTI, 1974, P. 10-14; VERGOTE, 
1971, p. 432ss.; 1983, p.16-19) (p.18).
ÁVILA, A.B. Para conhecer a psicologia da religião. São Paulo, 
Editora Loyola, 2010.
Podemos pensar também que, a expressão “Psicologia da Religião” é 
apenas um disfarce criado para evitarmos o enunciado completo, a saber: 
| Psicologia da Religião | FTSA10
Psicologia do comportamento religioso, já que é com esse comportamento 
que tal ciência lida, levando em consideração a experiência humana.
Portanto, uma vez que se faça referência ao termo “religião”, a pergunta 
que se espera responder é: qual o objeto de estudo da Psicologia da 
Religião? 
OBJETO DE ESTUDO: o objeto de estudo é o foco, o eixo central de 
uma pesquisa, diferente do assunto principal. O objeto de estudo 
de uma ciência é o que chama atenção dentro do tema principal. 
Se não compreendermos claramente qual é o objeto de estudo da 
Psicologia da Religião, nosso processo de ensino-aprendizagem é vão. 
Assim sendo, para respondermos adequadamente a pergunta acima 
levantada é necessário pensar não somente no objeto da Psicologia 
da Religião, mas em sua relação com outros campos do saber que 
estudam o fenômeno religioso, a exemplo de algumas ciências que o 
investigam desde outras perspectivas tais como a Sociologia da Religião, 
a Antropologia da Religião, a Filosofi a da Religião e a própria História da 
Religião. Contudo, em nosso campo de estudo, o objeto é o ser humano na 
qualidade de religioso: suas motivações, seus desejos, suas experiências 
e suas atitudes expressadas através do seu comportamento.
OBJETO DE ESTUDO NA PSICOLOGIA DA RELIGIÃO: o ser humano 
na qualidade de religioso e suas atitudes expressadas através do 
seu comportamento.
Percebe-se então que o estudo a respeito do ser humano em Psicologia 
da Religião, não é reducionista, no ponto de vista da crença, ou seja, não 
estudamos apenas aquele que se confessa crente, senão o não crente, 
estudamos a referência ao religioso de todos os seres humanos a partir 
de suas vivências no decorrer do processo evolutivo.
11Psicologia da Religião | FTSA | 
Autores contemporâneos como Antônio de Ávila, professor de Psicologia 
do Instituto de Pastoral e da Faculdade de Teologia São Dâmaso, em 
Madri, ressaltam que as pesquisas neste campo, embora apresentem 
difi culdades em delimitar o objeto focado, metodologicamente devem 
partir de um diálogo mútuo, usando sempre a dualidade: psicologia e 
religião sendo, a busca de sentido do ser humano, o ponto de união. Ávila 
afi rma que:
Assim, o objeto de estudo da psicologia da religião é tanto a 
experiencia religiosa do ser humano que se confessa crente como 
o fenômeno da incredulidade ou indiferença religiosa. Sua pergunta 
sobre a dimensão religiosa do ser humano concretiza-se do mesmo 
modo quando se pergunta como e por que determinadas pessoas 
se tomam crentes como quando se pergunta como e porque outros 
passam a engrossar as fi leiras da indiferença e do ateísmo (grifos 
meus, 2010, p.15).
GLOSSÁRIO: FENÔMENO RELIGIOSO:
1. Fenômeno: aquilo que aparece, que se apresenta, que se mostra.
2. Religiosidade: quando expressada através de gestos, palavras, 
atitudes e ritos é percebida com um fenômeno.
Exercício de Fixação - 01
O teólogo Paul Tillich foi um dos que se interessoupelo diálogo 
entre a psicologia e teologia. Calvani (2010, p. 21) em sua obra 
“Teologia da arte: espiritualidade, igreja e cultura a partir de Paul 
Tillich”, comenta que essa nova área de pesquisa ajudou Tillich a:
[...] se aprofundar em conceitos como ansiedade, desintegração, 
auto integração, alienação e na compreensão de salvação como 
‘cura’, presentes em sua Teologia Sistemática.
| Psicologia da Religião | FTSA12
Considerando esta orientação dada por Calvani, é possível indicar 
que o diálogo entre a Teologia e a Psicologia da Religião tem como 
ponto de união a:
a) ética
b) música e a dança
c) contextualização e a privatização
d) busca de sentido do ser humano
e) a comunidade religiosa
2. Precursores
2.1. Edwin D. Starbuck
Impossível elencar os precursores da Psicologia da Religião sem 
um olhar global no contexto histórico da psicologia. Ela nasce na 
última década do século XIX caracterizando-se em seus primeiros 
começos como a aplicação da psicologia ao estudo da religião. 
Embora o chamado pai da Psicologia da Religião seja o pesquisador 
norte-americano nascido em Nova York em 1842, William James, 
criador de uma escola voltada à pesquisa da religião, é importante 
fazer menção a Edwin D. Starbuck, que foi aluno de James e que 
escreveu a primeira obra de Psicologia da Religião chamada “A 
psicologia da religião: um estudo empírico do desenvolvimento da 
experiência religiosa”, publicada em 1899.
Starbuck era um erudito e atuou como professor principalmente 
nos campos da Psicologia da Religião, da educação religiosa 
e educação de caráter. Participou da comunidade dos Quakers 
sendo educado conforme essa tradição, seus valores, ética e 
religiosamente, sutilmente moldados pela criação e encorajamento 
em direção à moralidade e um senso de responsabilidade.
13Psicologia da Religião | FTSA | 
Saiba mais!
Os quakers têm origem britânica e surgiram no ano de 1652. O 
criador deste movimento religioso foi George Fox, que se rebelou 
contra os poderes religiosos e políticos instituídos na Inglaterra, 
sugerindo uma nova leitura de fé cristã que não seguia convenções. 
Ele e seus seguidores tinham como objetivo a restauração da fé 
cristã, que estava há séculos afastada de seus valores originais. 
Os quakers acreditam que as pessoas têm a capacidade de sentir 
a presença de Deus sem nenhum intermediário. Entre os quakers, 
as mulheres tinham os mesmos direitos de participar dos cultos 
que os homens. Por apresentarem estas características, eles 
foram fortes defensores do feminismo e do abolicionismo. Entre 
outros aspectos, valorizam a honestidade, proibindo atividades 
e negócios ilegais e nunca fazem juras. Assim como Mahatma 
Gandhi, são adeptos da não-violência, recusando-se a praticar atos 
violentos ou utilizar armamentos, mesmo que seja em sua defesa. 
Diversas organizações importantes foram criadas pelos quakers, 
entre elas, destacam-se a Amnistia Internacional e Greenpeace. 
Uma curiosidade é que, em uma tentativa de ridicularizar o grupo, 
alguns ingleses apelidaram-nos de “tremedores” (quakers, em 
inglês). Porém, o apelido foi adotado ofi cialmente e é utilizado até 
hoje. A&E Television Networks Disponível em:https://www.history.
com/topics/immigration/history-of-quakerism
O tema da conversão é o assunto principal da obra de Starbuck 
sendo tal literatura estruturada a partir do resultado de uma pesquisa 
feita com um público adolescente educados no protestantismo. 
Starbuck contou com todo material de pesquisa levantado a partir 
de questionários autobiográfi cos, resultando no apontamento 
da existência de múltiplos estados emocionais associados à 
conversão, os quais descrevem 2 tipos de conversão, assegurando 
que a variável intelectual é o elemento central da experiência 
religiosa. De acordo com Starbuck, o intelecto, ao observar o divino 
| Psicologia da Religião | FTSA14
e a dimensão racional do ser humano, decide entrar em contato 
com o Ser Supremo.
Ávila em seu livro “Para conhecer a psicologia da religião” ratifi ca que 
Starbuk tem o mérito não só de publicar o primeiro livro de psicologia 
religiosa, mas de ser um pioneiro na utilização do método científi co 
na área a partir da amostragem e análise estatística” (2010, p.25)
Com a publicação de 1899, Starbuck 
se estabeleceu como um pioneiro 
no campo. Ele foi o primeiro a iniciar 
um estudo empírico da consciência 
religiosa individual, cujo conteúdo e 
metodologia foram repetidos mais 
tarde por outros pioneiros no campo. 
Seu estudo delineou o desenvolvimento 
normal do crescimento religioso e os 
fatores mentais e orgânicos que afetam 
esse crescimento. Starbuck alegou que 
a conversão era uma manifestação de 
"processos naturais". Starbuck defi niu 
a religião como a resposta completa 
ao senso mais íntimo da realidade. Ele 
procurou não explicar a religião, mas discernir suas ideias para 
viver. O clássico pode ser acessado em inglês na página: https://
archive.org/details/cu31924031018249 
STARBUCK, E.D., The psychology of religion, an empirical study of 
the growth of religious consciousness. London, W. Scott.1899. 
2.2. William James
William James, mais conhecido como o pai da Psicologia da Religião, 
nasceu em Nova Iorque, nos Estados Unidos em 11 de janeiro de 1842. 
Filho do teólogo e fi lósofo Henry James, frequentou diversas escolas em 
15Psicologia da Religião | FTSA | 
países distintos. Durante décadas, William James aplicou seus métodos 
empíricos à investigação de temas fi losófi cos e religiosos. Explorou a 
questão da existência de Deus, da imortalidade da alma, dos valores 
éticos e do livre arbítrio como fonte da experiência religiosa e moral.
Em 1902, James publica a obra “Variedades da experiência religiosa: um 
estudo sobre a natureza humana”, sendo considerado a partir de então, a 
origem da Psicologia da Religião.
Breve resenha 
A presente obra nos conduz a uma abordagem pragmática 
da questão religiosa; aqui, a religião é considerada como uma 
experiência, como uma vivência, e não apenas como uma crença 
na experiência alheia.Neste clássico, publicado em 1902, William 
James explora a psicologia da religião, aplicando o método 
científi co a um campo que já havia sido tratado anteriormente como 
fi losofi a teórica e abstrata. O autor acreditava que as experiências 
religiosas individuais, diferentemente dos preceitos estabelecidos 
pelas religiões organizadas, constituíam a espinha dorsal da vida 
religiosa. Os seus comentários sobre conversão, arrependimento, 
misticismo e santidade, e suas observações acerca de experiências 
religiosas verdadeiras, pessoais, dão embasamento a essa tese. A 
obra é resultante de uma proposta para as Conferências Gifford. 
Tais conferências foram instituídas por Adam Gifford, jurista e 
fi lósofo que, antes de sua morte distribuiu o equivalente a 5 milhões 
de dólares entre as cinco maiores universidades da Escócia. De 
acordo com o testamento de Gifford, as universidades teriam que 
realizar pesquisas sobre teologia natural, as palestras teriam que 
discutir todas as questões sobre a concepção do homem a respeito 
de Deus e do Infi nito. 
JAMES, W. Variedades da Experiência Religiosa: um estudo sobre a 
natureza humana, Editora Cultrix, São Paulo, 1991.
Ao falar sobre a experiência religiosa do ser humano, James afi rma que 
os sentimentos religiosos estão concentrados no subconsciente, ou seja, 
| Psicologia da Religião | FTSA16
por trás da consciência clara e racional, sendo assim, é possível explicar 
com mais clareza as manifestações de religiosidade. Não há dúvida que 
para James, a experiencia religiosa tem seu gatilho no afeto, e logo a 
crença se origina.
Em sua obra, James dedica um dos capítulos ao tema “santidade”, 
apresentando sua ideia sobre a maturidade religiosa e a personalidade 
humana, trazendo à luz a refl exão sobre a possibilidade de se existir ou 
não uma experiência religiosa sã e madura, além de descrever dois tipos 
de personalidade que por conseguinte, dão origem a dois tiposde fé: a fé 
combativa e a fé reconfortante.
Saiba mais! 
- A personalidade sã supõe um equilíbrio mental que leva a viver a vida 
num tranquilo otimismo, com espírito decidido e com uma coerência 
linear, originando uma fé que surge da fortaleza, Ao preferir o bem ao mal, 
a pessoal moral luta por ele com a confi ança que sente em si mesma. 
É uma pessoa corajosa, exultante inclusive no perigo e na incerteza da 
vitória. 
- A personalidade enferma supõe uma disposição de espírito inclinada para 
a problematicidade, a inquietude, a insegurança, e, assim, a fé que gera 
surge da fraqueza humana, pedindo refúgio e segurança. Na fé combativa 
a religião possui uma particular riqueza de conteúdos psicológicos, uma 
profunda vida interior, um sentido de equilíbrio e de gozo, que supõem 
um estímulo para a vontade e se traduzem numa disponibilidade oblativa, 
que é o sinal da “santidade” (JAMES, 1986, p. 65-66, 137, 199ss, 212ss.). 
Por outro lado, a fé reconfortante tem como fi m último trazer alívio diante 
das difi culdades da vida, mas um alívio que é sobretudo refúgio e fuga 
da realidade e das responsabilidades que ela comporta. Assim, a prova 
defi nitiva do valor humano do sentimento religioso é dada por sua validade 
religiosa e moral. Defi nitivamente, o importante da experiência religiosa não 
é sua possível origem patológica, mas seus efeitos na personalidade do 
crente (JAMES, 1986, p. 249ss.) (p.27-28). ÁVILA, A.B. Para conhecer a 
psicologia da religião. São Paulo, Editora Loyola, 2010. 
17Psicologia da Religião | FTSA | 
2.3. Granville Stanley Hall
Ao pai da Psicologia da Religião não lhe faltou discípulos contemporâneos 
que de certo modo também marcaram o contexto histórico da psicologia, 
portanto, antes de passarmos para a terceira aula dessa unidade, gostaríamos 
de falar sobre o discípulo de James que foi considerado o primeiro psicólogo 
da religião propriamente dito: Granville Stanley Hall, conhecido também 
como o primeiro americano a ganhar um Ph.D. em Psicologia e o primeiro 
presidente da American Psychological Association (APA).
Parece ser que, além da psicologia, Hall, Starbuck e James tinham 
a teologia como território familiar, sendo que este primeiro, além de 
proceder de uma família congregacionalista extremamente conservadora 
e legalista, estudou teologia em 1867 no Union Theological Seminary pois 
queria ser pastor, embora tenha abandonado a ideia do pastoreio para se 
dedicar à psicologia.
Importante ressaltar os trabalhos e estudos iniciais de Hall foram 
direcionados à teologia, logo, ao publicar sua principal contribuição 
literária em 1904, não deixou de levar em consideração a relação da 
psicologia com a religião. A obra intitulada “A adolescência, sua psicologia 
e suas relações com a fi losofi a, a antropologia, a sociologia, o sexo, o 
crime, a religião e a educação” falava de conversão apontando para os 
processos transitórios do ser humano entre adolescência e fase adulta.
2.4. J. H. Leuba
Imagem: James Henry Leuba (9 de abril de 1868 - 
8 de dezembro de 1946)
James Henry Leuba, psicólogo da religião, fi cou 
conhecido por suas contribuições que explicavam 
o fato religioso a partir de princípios evolucionistas. 
Ávila, ao citar Leuba como um dos percursores da 
Psicologia da Religião, comenta que para Leuba, 
| Psicologia da Religião | FTSA18
a religião é a luta pela vida, uma luta biológica por assim dizer pois o 
ser humano tem a necessidade biológica de lutar contra as forças que o 
ameaçam e acaba buscando refúgio nas esferas superiores, satisfazendo 
então essa necessidade biológica, deste modo, o ser humano afi rma a 
existência de outros seres e sua relação direta com eles (2010, p.29).
Pois bem, antes de fi nalizarmos este capítulo, queremos reforçar a 
importância de conhecermos sobre os grandes nomes que marcaram 
a história de alguma ciência estudada, principalmente no campo da 
interdisciplinaridade. Do mesmo modo que damos importância a 
conhecer sobre a contribuição dos teólogos para cada área da teologia, é 
importante saber sobre os psicólogos da religião, principalmente os que 
deram o ponta pé inicial para tal campo de estudo e atuação profi ssional. 
Para encerrar, faremos um pequeno exercício de fi xação a partir das 
ideias de um dos precursores estudados.
Exercício de Fixação - 02
James dedica um dos capítulos da obra Variedades da Experiência 
Religiosa ao tema “santidade”, apresentando sua ideia sobre 
a maturidade religiosa e a personalidade humana. Este autor 
estabelece dois tipos de personalidade. Das indicações abaixo, 
aponte a alternativa que descreve corretamente estes dois tipos de 
personalidade:
(a) Personalidade introvertida e extrovertida.
(b) Personalidade intuitiva e sensorial.
(c) Personalidade sã e enferma.
(d) Personalidade perceptiva e julgadora.
(c) Personalidade sentimental e pensadora.
19Psicologia da Religião | FTSA | 
3. Ciência psicológica e psicologia da religião
3.1. Psicologia experimental - W. Wundt
Ao que poucos sabem, o pai da psicologia experimental W. Wundt era 
nascido numa família protestante. Filho de pastor luterano, estudou 
medicina na Universidade de Heidelberg e por volta de 1862 fomentou 
a necessidade de que a psicologia se constituísse como ciência 
independente, criando então uma enorme obra de dez volumes chamada 
Psicologia dos Povos, a qual expôs a difi culdade do método experimental 
ao analisar questões muito determinadas por condições históricas e 
sociais, como a linguagem, os costumes e a religião.
Wundt tinha grande interesse sobre o tema da religião, tanto que pesquisou 
sobre os processos emocionais envolvidos com a religião como o medo 
e sobre as fases do desenvolvimento religioso de uma população.
Saiba Mais! No pensamento de Wundt sobre a religião confl uem 
distintas correntes de seu tempo; da teologia alemã da época 
assume que a religião mora no sentimento e dele emana (Wundt, 
1990). Essa teologia, a partir do conhecimento protestante da sola 
fíde, do pietismo e da fi losofi a kantiana, despoja a experiência 
religiosa de seus aspectos intelectuais para destacar o caráter 
afetivo, entendido como sentimento, e sentimento de dependência, 
como a intuição da existência do infi nito no fi nito, que cada um 
vivencia de forma pessoal e distinta. Como homem científi co, 
infl uenciado pela fi losofi a positivista e pela teoria da evolução, 
está convencido de que a religião pode ser entendida unicamente 
a partir da evolução histórica dos povos. Segundo essa concepção, 
os povos primitivos vivem formas atávicas do desenvolvimento. 
A partir desse pressuposto, Wundt acredita que a psicologia 
comparada pode dar acesso aos mistérios psicológicos da religião 
(p.22). ÁVILA, A.B. Para conhecer a psicologia da religião. São 
Paulo, Editora Loyola, 2010.
| Psicologia da Religião | FTSA20
3.2. Psicanálise - Sigmund Freud
Freud, o pai da psicanálise, era médico neurologista e importante 
psicólogo austríaco. Em sua obra temos livros dedicados somente a 
religião, apesar de já citar o tema desde suas primeiras cartas ao seu 
amigo Fliess em 1887. O primeiro destes livros é o Totem e Tabu, de 
1912, a qual desenvolve, assim como Wundt, uma evolução da cultura 
religiosa e faz comparação entre os rituais de um obsessivo ao tabu de 
uma religião, encerrando suas contribuições de vida literária com o livro: 
Moisés e o monoteísmo (1939).
Breve resenha
Na presente obra Freud abraça os conceitos psicanalíticos para 
compreender o comportamento de um povo. O resultado é uma 
revolucionária investigação sobre as origens do judaísmo – a mais 
antiga das três grandes religiões monoteístas – a partir da fi gura de 
Moisés, líder religioso dos hebreus, que sempre o fascinara. O livro 
é composto por três ensaios – “Moisés, um egípcio”, “Se Moisés 
era um egípcio...” e “Moisés, seu povo e a religião monoteísta” – 
que foram publicados em conjunto pela primeira vez em 1939, às 
vésperas da Segunda Guerra Mundial e da morte de Freud. Os textos 
propõem como principalindagação: Como os judeus se tornaram 
o que são e por que atraem para si ódio eterno? Freud procede à 
releitura de documentos históricos e da Bíblia para provar a origem 
estrangeira do povo judeu. Em tempos obcecados pela pureza 
étnica e pela identidade das nações, concluiu que a religião judaica 
tem uma origem fragmentária, inseparável do outro. E, apesar de 
centrar seu estudo na mais antiga das três religiões monoteístas, é 
fácil detectar no texto freudiano que suas teses são aplicáveis para 
muito além do judaísmo.
FREUD, S. O homem Moisés e a religião monoteísta. Trad. de Renato 
Zwick. Porto Alegre: Editora LP&M, 2014.
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3.3. Escola de Psicopatologia francesa – P. Janet
Pierre Marie Félix Janet, conhecido por Pierre Janet, foi um psicólogo, 
psiquiatra e neurologista francês que fi cou conhecido por um estudo 
clínico de uma paciente que possuía experiências místicas extraordinárias. 
Dentro da psicopatologia, Janet foi o autor que mais contribuiu para a 
Psicologia da Religião ao desenvolver uma teoria que compreendia a 
religião a partir de estudos de caso de estados religiosos extraordinários 
como o caso da paciente “Madeleine”. Ao se falar de religiosidade, 
Janet identifi cava o misticismo como uma patologia já que, em sua 
metodologia de análise de quadros clínicos, Janet costumava compará-
los aos grandes místicos cristãos, a exemplo da comparação do caso da 
paciente “Madeleine” com Santa Teresa de Ávila, concluindo assim que 
“sob uma falsa consciência mística existia um caso de psicastenia ou 
seja, de uma neurose-obsessivo-compulsiva.” (Ávila, 2010, p.22).
Conclusão
Antes de concluirmos este capítulo, é importante lembrar que no cotidiano 
da vida, é comum escutamos o termo psicologia. Parece até que qualquer 
um entende um pouco sobre isso. Usamos o termo psicologia, no nosso 
cotidiano, com vários sentidos. Por exemplo, quando em nossa igreja ou 
vida ministerial nos deparamos com pessoas “comuns”, capazes de ouvir 
nossos problemas, dizemos que ele tem "psicologia" para entender as 
pessoas. Será essa a psicologia dos psicólogos? Certamente não. Essa 
psicologia, usada no cotidiano pelas pessoas em geral, é denominada de 
psicologia do senso comum. Mas nem por isso deixa de ser uma psicologia. 
O que estamos querendo dizer é que as pessoas, normalmente, têm um 
domínio, mesmo que pequeno da psicologia científi ca. Encerraremos com 
este pequeno vídeo onde trataremos de apresentar a Psicologia científi ca 
além da exposição da relação ciência/senso comum.
| Psicologia da Religião | FTSA22
4. Terminologias
Quando imergimos em nossos estudos acadêmicos, descobrimos um 
mundo diferente, cheio de novos conceitos, novas teorias, novas técnicas, 
metodologias e novas terminologias. O que muitos de nós não sabe é que 
nesse novo mundo há uma área de estudos que tem nas terminologias 
de cada ciência o seu objeto central de análise. De modo mais claro, falar 
de terminologias é falar de um conjunto de termos particulares utilizados 
por uma ciência específi ca.
Ao longo da história da Psicologia da Religião muitos conceitos e termos 
técnico-científi cos foram sendo implementados, alguns à primeira vista 
pareciam ter o mesmo sentido, o mesmo signifi cado, outros se cruzavam 
em correntes similares embora representassem coisas diferentes, outros 
por falta de conhecimento avançado por parte de quem os aplicava foram 
mal colocados, outros interpretados equivocadamente, ou seja, em meio 
a essa diversidade de terminologias empregadas para designar o campo 
da psicologia que investiga o fenômeno religioso é que nos encontramos 
até os dias de hoje.
Partindo desse contexto é que os autores Esperandio&Freitas (2017) dedicaram 
suas pesquisas nessa área, a fi m de tentar nos esclarecer as diferenças entre 
terminologias como: psicologia religiosa, psicologia da religião, espiritualidade, 
psicologia e religião, religiosidade, religião, dentre outros.
Como foi possível observar anteriormente, ao longo da história da 
Psicologia da Religião, muitos estudiosos se destacaram sendo que de 
1890 a 1920 aconteceu um movimento intelectual em torno da questão 
religiosa a partir das lentes da psicologia. Os precursores deste campo, 
mesmo de forma empírica-experimental, enxergavam na religião um 
objeto propício ao estudo científi co embora aconteça, até os dias atuais, 
um grande empasse entre o que é religioso e o que é secular, empasse 
este que gerado por confl itos advindos da negação das origens da 
psicologia ancoradas no cristianismo ocidental.
Portanto, antes de passarmos à segunda unidade da disciplina, o que 
23Psicologia da Religião | FTSA | 
faremos é situá-los nesse universo de terminologias para que vocês possam 
entender com mais propriedade como se deu a construção dessa ciência e 
mais que isso, para que, como pesquisadores, compreendam melhor como 
delimitar o tema, o objeto e a metodologia adequada para cada sub área ou 
área afi m que envolve os temas da psicologia e da religião.
Saiba mais! [...] foi William James (1842-1910) quem fi cou conhecido 
como principal pioneiro em Psicologia da Religião. Publicou, em 
1902, sua clássica obra The varieties of the religious experience 
(As variedades da experiência religiosa), resultantes de suas 
Conferências Gifford em 1896, e com uma abordagem pragmática 
de extensos e variados escritos e depoimentos religiosos. Nesta 
obra, James ressalta a distinção entre religião pessoal e religião 
institucional, tomando apenas a primeira como objeto de interesse 
psicológico, e que é, então, defi nida como “os sentimentos, atos e 
experiências de indivíduos em sua solidão, na medida em que se 
sintam relacionados com o que quer que possam considerar divino” 
(JAMES, 1902/1995, p. 31 e 32). Segundo sua perspectiva, o que 
realmente importa não é propriamente a falsidade ou veracidade 
da experiência religiosa vivida pelo indivíduo, mas sim o que ela 
signifi ca para ele e os frutos disso em sua vida (p.64).
 Outros pioneiros, por sua vez, intitularam suas obras, textos ou artigos 
com o termo psicologia acompanhado do adjetivo religiosa, como 
são os casos, por exemplo, de Theodore Flournoy (1854-1920), que 
publicou, em 1902, nos Archives de Psychologie, artigo intitulado 
Les principes de la psychologie religieuse (Princípios da psicologia 
religiosa) e, em 1903, suas Observations de psychologie religieuse 
(Observações de psicologia religiosa); ou ainda de James Leuba, 
que, em 1904, publica em L’année psychologique o artigo intitulado 
La psychologie religieuse (A psicologia religiosa). Mesmo cunhando 
a psicologia com este adjetivo, Flournoy propunha que o estudo 
psicológico da experiência religiosa deveria se dar por meio do que 
chamou de “exclusão metodológica do transcendente”, ou seja, de 
modo a não se pronunciar sobre a realidade ontológica de Deus ou de 
qualquer entidade a que se atribua a divindade, o sagrado, o numinoso, 
| Psicologia da Religião | FTSA24
ou outra dimensão que esteja para além da experiência humana. Na 
mesma linha, também Leuba (1904) tomava como objeto da chamada 
“psicologia religiosa” justamente a experiência religiosa tal como se 
dá na vida do indivíduo, não tomando como focos de investigação 
científi ca fatos supostamente objetivos ou sobrenaturais da religião ela 
mesma (p.64). [...] a partir da terceira década do séc. XX, a Psicologia 
da Religião não deixa de existir, mas perde em reconhecimento 
acadêmico científi co, mantendo-se frequentemente na marginal. Sob 
infl uência principalmente da Freud, Marx e Nietzsche, no contexto dos 
processos de secularização, a Psicologia da Religião passa a abordar 
seu próprio objeto com desconfi ança e suspeita. Ou seja, o religioso 
passa a ser escrutinizado e abordado pela perspectiva do sintoma, 
dos processos psicopatológicos e/ou associado ao obscurantismo.
[...] As novas categorias “seculares” opõem-se às chamadas categorias 
“religiosas” do self, cercando-as de suspeitas e desconfi anças.Com 
isso, deslegitima a experiência religiosa — mesmo aquela que é vivida 
pelas pessoas como sendo de cunho genuinamente espiritual — ao 
trazer para o âmbito do psíquico tudo aquilo que, a rigor, do ponto de 
vista epistemológico, deveria ser deixado no âmbito teológico. Por 
outro lado, as “categorias religiosas” dentro da psicologia, embora 
não deixem de existir, acabam sendo marginalizadas, consideradas 
“menores”, “não científi cas” e epistemologicamente frágeis, porque 
adentram o universo da teologia. Afi nal, muitas delas também se 
pronunciam acerca da realidade ontológica do transcendente, mesmo 
que positivamente e também de modo indireto, no seu esforço de 
qualifi car a experiência vivida pelas pessoas como genuinamente 
religiosas. O impasse decorrente desta dicotomia, alimentada no seio da 
própria psicologia, acaba redundando em grande silenciamento acerca 
do assunto durante a formação profi ssional, como foi experimentado 
por gerações sucessivas de psicólogos formados a partir de meados 
do séc. XIX até às últimas décadas do século XX. E a ansiedade que 
acompanha este impasse, que era bem menos pronunciado entre os 
pioneiros deste campo, faz com que na contemporaneidade, mesmo 
que ainda mais conhecido como Psicologia da Religião, ele seja 
25Psicologia da Religião | FTSA | 
frequentemente renomeado. Deste modo, este campo foi e tem sido, 
ainda hoje, com frequência reconceituado como “psicologia religiosa”, 
outras vezes como “estudos psicológicos e religiosos”, ou, mais 
recentemente, como “psicologia da espiritualidade”. Na esteira deste 
movimento que acompanha os processos de secularização, esta 
última nasce supostamente fundada numa divergência em relação 
à referência institucionalizada com que se costuma revestir o termo 
religião (p.65-66). ESPERANDIO, M.R.G. FREITAS, M.H. Psicologia da 
religião no Brasil. Curitiba, Editora Juruá, 2017.
Exercício de Fixação - 04
Uma das competências vista nesta unidade foi a de conhecer a 
defi nição da Psicologia da Religião. Ao falar sobre a Psicologia da 
Religião, o autor Carrette (2012, p. 21-54) afi rma o seguinte:
“A psicologia da religião é, de certo modo, a brilhante arte do cirurgião 
que corta os tendões que ligam o imanente ao transcendente, é 
a separação entre observação humana e especulação metafísica, 
entre dados empíricos e concepção fi losófi ca”.
Diante do exposto, das alternativas abaixo, qual delas diz respeito 
ao sentido fi gurativo de “uma cirurgia” para considerar a Psicologia 
da Religião?
(a) A Psicologia da Religião promove a distância entre o Criador e a Criatura.
(b) A Psicologia da Religião explica o sentido da linguagem somente na 
experiência religiosa.
(c) A Psicologia da Religião esclarece acerca da comunicação do divino 
com o ser humano. 
(d) A Psicologia da Religião relaciona a Sociologia com a Teologia. 
(e) A Psic. da Religião concede aos teólogos o signifi cado do mito e do rito. 
| Psicologia da Religião | FTSA26
GLOSSÁRIO
De acordo com o dicionário online de português:
IMANENTE: que faz parte de maneira inseparável da essência de um ser ou 
de um objeto; inerente.
TRANSCENDENTE: que excede ou vai além da natureza física, concreta das 
coisas; metafísico: divindades transcendentes.
De acordo com alguns autores contemporâneos, nessas últimas 
décadas as diferenciações entre religião e espiritualidade tornou-se 
parte de um debate profundo entre os pesquisadores interessados no 
fenômeno religioso sendo que, as discussões na área da psicologia 
resultaram até na mudança de nome na Associação Americana de 
Psicologia (APA) de Psicologia da Religião para Psicologia da Religião e 
da Espiritualidade. Contudo, a tendência à polarização entre os termos 
espiritualidade e religião ou religiosidade tem sido repensada, apesar de 
que muitos autores reconheçam que há aspectos positivos em defi nir 
de forma bastante precisa as terminologias, a integralidade entre os 
termos é algo latente. 
Esperandio&Freitas (2017) ao compilar artigos de diversos autores 
brasileiros que atuam na área da Psicologia da Religião, apresentam 
uma fi gura síntese elaborada pelos pesquisadores Freitas e Vilela 
(2017, p.97) a fi m de integrar as contribuições de diversos autores que 
tem investido nesta direção (p.69). 
Concepção de religiosidade Fonte: Reproduzido de Freitas e Vilela, 
2017, p. 97.
Nosso foco aqui não é aprofundar nessas terminologias e seus aspectos 
diferenciadores, apenas dar a conhecer que no campo da pesquisa 
em Psicologia da Religião no Brasil, estudos atualizados asseguram 
que a religião e a religiosidade estão relacionadas à referência ao 
transcendente, sendo que na religião, a resposta para o sentido da vida 
27Psicologia da Religião | FTSA | 
é compartilhada e institucionalizada, enquanto que na espiritualidade a 
ênfase é na busca de sentido, que não necessariamente coincide com 
a busca religiosa, ou seja, há na espiritualidade a possibilidade de que a 
resposta para a demanda existencial do ser humano advenha de outra 
fonte, já que a pessoa pode por si só, se denominar arreligioso.
GLOSSÁRIO
De acordo com o dicionário online de português:
RELIGIÃO: está relacionada ao transcendente e responde ao sentido da vida 
de forma compartilhada e institucionalizada.
ESPIRITUALIDADE: não necessariamente coincide com a busca religiosa, 
a resposta para a demanda existencial do ser humano pode advir de outra 
fonte que não seja necessariamente a religião.
Exercício de aplicação - 05
Considere o texto a seguir, escrito em contexto da experiência 
religiosa cristã.
A fé exerce uma infl uência, ou até mesmo dominação, sobre 
cada um de nós, por causa da adesão feita a Jesus Cristo. Deve-
se considerá-la como o carisma (dom) cuja força induz todos os 
fi éis à compreensão da promessa, ao exercício da obediência e 
ao cumprimento da missão. A fé, mais que qualquer outro dom, 
é o fi o condutor de energia divina para todos os receptores da 
esperança na volta do Ressuscitado, da variedade de serviços 
prestados ao socorro integral da vida humana, e, graciosamente, 
da ação redentora de toda a criação. A fé cristã é dinâmica e está 
sempre em constante movimento. Ela não deve ser um conteúdo de 
especulação, de dogmatismos insalubres, de pregações inférteis, 
de populismo sem oposição e de preferências teológicas. A fé cristã 
é um serviço gratuito às pessoas que necessitam da graça de Deus 
para compreender o amor, a salvação e a esperança. Todos os que 
| Psicologia da Religião | FTSA28
congregam com este sentimento submetem-se obedientemente à 
carismatização do Espírito, e, consequentemente, contribuem para 
a renovação da fé (ECP, Serviço carismático, 2017).
Baseando-se no contexto da fé cristã, é possível admitir que a função 
da Psicologia da Religião é descrever e entender o desenvolvimento 
da religiosidade das pessoas a partir das experiências individuais e 
coletivas que as condicionam como comportamento. Diante disto, 
indique a alternativa que entende a fé cristã como comportamento:
(a) A fé cristã é objeto de consumo dos fi éis e por isto deve ser 
especulada em todos os sentidos, inclusive nas mídias sociais.
(b) A fé cristã é a única que dá sentido e signifi cado ao fenômeno 
religioso.
(c) A fé cristã só pode ser exercida nas dimensões da atuação 
eclesiástica.
(d) A fé cristã é um mito, que passa de geração em geração.
(e) A fé cristã é o ingrediente que possibilita aos fi éis reinterpretar 
a experiência da vida humana.
Conclusão
Encerramos essa unidade esperançosos de que vocês tenham 
compreendido um pouco sobre as origens da Psicologia da Religião e seu 
diálogo interdisciplinar com a Teologia, das terminologias empregadas 
nesse território e da aplicabilidade dos conteúdos em vossos contextos, 
nos vemos na próxima unidade! 
Referências 
ÁVILA, A.B. Para conhecer a psicologia da religião. São Paulo: Editora 
Loyola, 2010.
CALVANI, Carlos. E. Teologia da arte: espiritualidade, igreja e cultura a 
partir de Paul Tillich. São Paulo: Ed. Fonte Editorial;Ed. Paulinas, 2010.
ESPERANDIO, M.R.G. FREITAS, M.H. Psicologia da religião no Brasil. 
29Psicologia da Religião | FTSA | 
Curitiba: Editora Juruá, 2017.
FREUD, S. O homem Moisés e a religião monoteísta. Trad. de Renato 
Zwick. Porto Alegre: Editora LP&M, 2014.
JAMES, W. Variedades da Experiência Religiosa: um estudo sobre a 
natureza humana, São Paulo: Editora Cultrix, 1991.
STARBUCK, E.D., The psychology of religion, an empirical study of the 
growth of religious consciousness. London, W. Scott.1899. 
Webgrafi a
A&E, Television Networks. Disponível em: <https://www.history.com/
topics/immigration/history-of-quakerism
IBGE, Agência de Notícias. Disponível em: <https://agenciadenoticias.
ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/
releases/14244-asi-censo-2010-numero-de-catolicos-cai-e-aumenta-o-
de-evangelicos-espiritas-e-sem-religiao>. Acesso em: 02 agosto 2018.
O STATISTA, Portal das estatísticas. Disponível em: <https://www.statista.
com/chart/4189/which-nationalities-consider-religion-most-important>. 
Acesso em: 02 agosto 2018.
| Psicologia da Religião | FTSA30
Unidade II - Cenários e perspectivas da psicologia da 
religião
1. Psicologia da Religião em perspectiva global 
Introdução
Essa unidade vai tratar sobre os cenários e perspectivas da Psicologia da 
Religião. Para tanto, nossa proposta pedagógica é conduzi-los ao estudo 
da psicologia do comportamento religioso a partir das percepções 
globais e locais. Nosso desejo é que ao término dessa unidade, você 
consiga cumprir com os seguintes objetivos:
Objetivos da unidade II
1. Elucidar a Psicologia da Religião em perspectiva global;
2. Analisar como opera o sistema de sentido, a crença e o conhecimento;
3. Aclarar sobre a Psicologia da Religião no Brasil;
4. Exercer o enfoque etnopsicológico em Psicologia da Religião.
Ao contrário do que muitos estudiosos afi rmaram, a religião não 
desapareceu, se observarmos a religião a partir do estudo dos processos 
psicológicos na religiosidade, percebemos que ela está bem presente 
em vários contextos e acontecimentos globais que acabam afetando o 
comportamento de grande maioria dos habitantes da terra.
O episódio de 11 de setembro é a prova mais evidente que conhecemos, 
data onde aconteceram os atentados terroristas realizados pela Al-Qaeda 
contra as Torres Gêmeas e contra o Pentágono. Nesse atentado, os 
fundamentalistas islâmicos sequestraram aviões comerciais e lançaram-
nos contra os alvos citados, resultando em milhares de mortos. O atentado 
de 11 de setembro foi organizado por membros da Al-Qaeda durante anos 
e inserido dentro do conceito de jihad (ideia de guerra santa que faz parte 
da religião islâmica e que é explorada pelos grupos fundamentalistas). O 
ataque foi muito bem planejado e usou 19 terroristas para sequestrar os 
aviões comerciais e cumprir seus propósitos.
31Psicologia da Religião | FTSA | 
O cenário de 11 de setembro mostrou que a religião não pode mais ser 
ignorada e que a análise do comportamento humano a partir das lentes 
da psicologia da religião deve partir de uma perspectiva global já que, 
sempre e quando tragédias dessa natureza acontecem na esfera global, 
a religião imediatamente volta à vida pública em muitos países ocidentais 
onde a fé havia sido relegada na esfera privada.
Saiba mais!
O termo "jihadista" é usado frequentemente no meio acadêmico 
ocidental, sobretudo depois dos ataques de 11 de setembro de 2001 
para diferenciar os muçulmanos sunitas que não se comportam 
violentamente dos que são violentos. Os jihadistas entendem 
que a luta violenta é necessária para erradicar obstáculos para a 
restauração da lei de Deus na Terra e para defender a comunidade 
muçulmana, conhecida como umma, contra infi éis e apóstatas 
(pessoas que deixaram a religião). Muitos muçulmanos não usam 
o termo "jihadista" porque eles acreditam que se trata de uma 
associação incorreta entre um conceito religioso nobre e a violência 
ilegítima, portanto, eles preferem o termo "pervertidos" para fazer 
referência aos muçulmanos que apresentam comportamentos 
violentos pois se desviaram dos ensinamentos religiosos. 
BBC NEWS, Brasil. O que é o jihadismo? Disponível em: https://www.
bbc.com/portuguese/noticias/2014/12/141211_jihadismo_entenda_cc 
Acesso em: 10.08 2018.
Exercício de reflexão - 06
No podcast anterior, escutamos a afi rmação do antropólogo Scott Atran, ao 
comentar sobre o comportamento dos jovens terroristas do 11 de setembro. Atran 
fez a seguinte análise: “Esses jovens, nesse estágio da vida estão buscando ter um 
signifi cado, amigos, glória e aventura", afi rmando então que "As ideologias radicais 
falam a essas necessidades." Refl etindo a partir da fé cristã, como responder à 
busca pelo sentido da vida de muitos jovens que anelam encontrar um signifi cado 
para sua existência? 1. Psicologia da 
| Psicologia da Religião | FTSA32
1. Religião em perspectiva global
No estudo do comportamento humano encontramos a religiosidade, e 
não há dúvida que a pesquisa sobre os fatores religiosos em psicologia 
advém de uma necessidade conjunta de solucionar problemas desde 
uma perspectiva individual, cultura, territorial e sobretudo global, 
portanto, considerado esta lógica, Raymond F. Paloutzian elencou 4 
pontos importantes que, segundo o autor, são os pontos-chave para uma 
melhor compreensão global do tema:
(1) As evidências e um instantâneo de uma psicologia da religião 
atual e globalizada. (2) Uma explicação das questões enraizadas no 
que a religião, religiosidade e espiritualidade são ou não são como 
um destaque a conceitos como o do “sagrado” são imprescindíveis 
para fi ns de conhecimento psicológico. (3) Uma argumentação 
sobre a razão de conceituar a psicologia da religião em termos de 
investigação da psicologia de sistemas de signifi cados pode ajudar 
a sintetizar os nossos conhecimentos e clarifi car a razão por que é 
um erro confundir crença com conhecimento. (4) Uma explicação do 
motivo pelo qual a investigação nesta área pode se aplicar bem mais 
à psicologia multinivelar bem como à psicologia interdisciplinar e 
multicultural (ESPERANDIO, M.R.G. FREITAS, M.H. Psicologia da 
religião no Brasil. Curitiba, Editora Juruá, 2017. p.26-27).
GLOSSÁRIO: SAGRADO - (do termo latino sacratu) refere-se a algo 
que merece veneração ou respeito religioso por ter uma associação 
com uma divindade ou com objetos considerados divinos. [1] 
FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. 
Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1536.
Dar atenção aos processos envolvidos na religiosidade, tendo em 
vista que o comportamento humano está ligado a ela, seja para o bem, 
seja para o mal, é de suma importância. Em psicologia, a relação do 
33Psicologia da Religião | FTSA | 
ser humano com o sagrado, que coaduna com aquilo que chamamos 
de experiência religiosa, faz referência à experiencia da realidade, da 
presença e da atividade de um Ser Supremo, do Sagrado, ou de Deus, 
ou seja, a experiência religiosa é a resposta primária do indivíduo, em 
termos cognitivos e emocionais, a qualquer coisa que ele considere 
divina, sendo então essa experiência a base das práticas religiosas.
Neste sentido, a experiência religiosa refere-se ao encontro momentâneo 
ou na totalidade de vida com Deus de um indivíduo e suas práticas 
religiosas podendo o tipo ou o conteúdo destas experiências variar muito, 
sendo a presença ou a experiência do Divino o elemento que defi ne ou 
delimita a experiência religiosa.
Exercício de fi xação - 07
Para fi ns de conhecimento psicológico, alguns conceitos como 
“sagrado” e “experiência religiosa” merecem destaque, portanto, desde 
as lentes da psicologia, qual das alternativas abaixo faz referência à 
experiência religiosa?
(a) A experiência religiosa é a resposta do imaginário social em 
termos cognitivos e emocionais à cultura do sagrado.
(b) A experiência religiosa é, em termos cognitivos e emocionais, 
qualquer coisa que o ser humano considere profano.
(c)A experiência religiosa é a resposta primária do indivíduo, em 
termos cognitivos e emocionais, a qualquer coisa que ele considere 
divina, sendo então essa experiência a base das práticas religiosas.
(d) A experiência religiosa não é a base das práticas religiosas.
(e) A experiência religiosa responde de forma global a qualquer 
expressão do divino, sendo os fatores culturais os que se sobrepõe à 
cognição e emoção. 
| Psicologia da Religião | FTSA34
GLOSSÁRIO
1. Cognição: é uma expressão que está relacionada com o processo 
de aquisição de conhecimento. A cognição envolve fatores diversos 
como o pensamento, a linguagem, a percepção, a memória, o raciocínio 
etc., que fazem parte do desenvolvimento intelectual.
2. Emoção: é uma resposta do nosso organismo diante de um estímulo 
externo. As relações com os demais ou os acontecimentos que nos 
rodeiam causam um impacto, do qual é traduzido em algum tipo de 
emoção.
1.1. Religião em conceito psicológico
Alguns autores afi rmam que a religião é um conceito cultural complexo 
e não um conceito psicológico, portanto, outras áreas do saber como a 
Antropologia, a História até conseguem defi nir religião, mas para que se 
consiga captar os processos psicológicos importantes para a construção 
de um conceito que explique a religiosidade como um comportamento 
humano é algo que ainda não está defi nido para fi ns de conhecimento 
psicológico. O psicólogo Malony (1980) talvez seja o pesquisador que 
mais conseguiu exemplifi car de forma afi rmativa a religião ao dizer que 
“A religião pode ser Deus, o País ou Yale!”.
Segundo os psicólogos Esperandio e Freitas (2017), não há acordo nos 
vários campos acadêmicos sobre a defi nição de religião, a saber:
[...] alguns afi rmam que a essência da religião é a crença em um 
deus ou outros agentes sobrenaturais, a prática de rituais ou uma 
experiência especial relacionada ao divino, mas os estudiosos das 
ciências da religião testaram essas ideias por cerca de cem anos, 
e falharam (ESPERANDIO, M.R.G. FREITAS, M.H. Psicologia da 
religião no Brasil. Curitiba, Editora Juruá, 2017. p.30)
35Psicologia da Religião | FTSA | 
1.2. Espiritualidade em conceito psicológico
Embora muitas pessoas façam confusão entre espiritualidade e religião, 
afi rmando até que a primeira substitui a segunda, recentemente o 
conceito de espiritualidade passou a fazer referência a uma ampla gama 
de crenças e práticas, sendo que algumas podem ou não incluir crenças 
em estados ou entidades de outro mundo.
Saiba mais!
A espiritualidade pode ser defi nida como uma "propensão humana 
a buscar signifi cado para a vida por meio de conceitos que 
transcendem o tangível, à procura de um sentido de conexão com 
algo maior que si próprio". A espiritualidade pode ou não estar 
ligada a uma vivência religiosa. Segundo diversas confi ssões 
religiosas, a espiritualidade traduz o modo de viver característico 
de um crente que busca alcançar a plenitude da sua relação com 
o transcendental. Cada doutrina religiosa comporta uma dimensão 
específi ca a esta descrição geral; mas, no aspecto religioso, pode-
se traduzir a espiritualidade como uma dimensão do homem, como 
um ser naturalmente religioso, e que constitui, de modo temático 
ou implícito, a sua mais profunda essência e aspiração. Alguns 
autores, porém, defendem a existência de uma espiritualidade 
inclusive em meio ao ateísmo. André Comte-Sponville fala de 
uma "espiritualidade sem Deus" no sentido de uma abertura para 
o ilimitado, um reconhecimento de sermos seres relativos, mas 
abertos para o absoluto. Seria o reconhecimento da dimensão 
misteriosa e ilimitada da existência, que não precisaria passar 
por alguma explicação religiosa; uma experiência que vai além do 
intelecto.
GUIMARÃES, Helio P., AVEZUM, Álvaro. O impacto da espiritualidade na 
saúde física. 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rpc/v34s1/
a12v34s1.pdf Acesso em:15/10/2018.
| Psicologia da Religião | FTSA36
1.3. Sagrado em conceito psicológico
No conceito popular, o Novo dicionário da língua portuguesa refere-se a 
palavra sagrado como algo que merece veneração ou respeito religioso 
por ter uma associação com uma divindade ou com objetos considerados 
divinos, não obstante, nosso foco de interesse ao falar sobre o conceito 
psicológico de sagrado é ressaltar a experiência com o sagrado como algo 
fundamental na vida das pessoas; compreendendo que se fosse necessário 
renunciarmos a ela, a vida se tornaria limitada da experiência de viver o eu 
de forma mais profunda.
A experiência subjetiva com o sagrado é relacional, portanto, ao encobrir de 
objetividade a relação, o ser humano acaba trilhando um caminho difi cultoso 
para que o sagrado surja e, para reverter essa situação, precisará sair da sua 
ilusão de segurança e se permitir aventurar pelo mistério, e assim, a relação 
com o sagrado será estabelecida pela pessoa em sua totalidade.
O austríaco Martin Buber, em sua obra Eu e Tu, ao falar sobre a relação entre 
o ser humano e o sagrado, afi rma que não se trata de uma dependência da 
criatura perante o criador, mas de uma relação que oferece reciprocidade. A 
continuação, veremos uma breve resenha sobre o clássico Eu e Tu.
BREVE RESENHA
Martin Buber nasceu na cidade de Viena, Áustria, em 8 de fevereiro 
de 1878. Ao morar com seus avós paternos em Lemberg, na Galícia, 
e doutor em Filosofi a pela Universidade de Berlim. Em 1923 foi 
professor na Universidade de Frankfurt, sendo destituído do cargo em 
1933 pelos nazistas. Em 1938 ensinou Sociologia na Universidade 
Hebraica de Jerusalém. Aos 60 anos, Buber já se encontrava com 
um arcabouço teórico enriquecedor, aprofundando-se em diversas 
áreas, como: estudos sobre a Bíblia, estudos políticos, sociológicos 
e fi losófi cos. Entre as suas infl uências, encontram-se alguns 
fi lósofos como Immanuel Kant, Soren Kierkegaard e Friedrich 
37Psicologia da Religião | FTSA | 
Nietzsche. Martin Buber faleceu aos 87 anos na data 13 de junho de 
1965. O livro “Eu e Tu” foi publicado em 1923, no período em que residiu 
na Alemanha, considerado sua obra mais densa e que possibilita 
fundamentar as obras posteriores. A fi losofi a do diálogo (EU E TU) é 
o ponto central de toda a sua refl exão, motivado principalmente pelo 
Hassidismo. Nota-se que o seu pensamento e a sua refl exão estão 
indissociáveis com a práxis. Na primeira parte da obra, o autor ressalta 
que não existe o Eu por si mesmo, mas, o Eu das palavras-princípio 
EuTu e Eu-Isso. Na segunda parte do livro o autor afi rma que de forma 
alguma o outro (Tu) deve se tornar um objeto (Isso). É evidente que a 
fi losofi a de Martin Buber (2001, p. 84) busca principalmente na segunda 
parte de “Eu e Tu”, apresentar a fi nalidade da existência humana 
fundamentada na práxis, fazendo-se necessária a presença do espírito 
tanto na vida pessoal do ser humano, quanto na vida coletiva. Todavia, 
o autor deixa claro que não deve ser essa espiritualidade debilitada 
que vemos atualmente, mas, a verdadeira “[...] essência do espírito, 
a faculdade de dizer Tu”. Na terceira parte do livro “Eu e Tu”, Buber 
esclarece que todas as relações se concretizam em um Tu eterno. 
Ressalta também, que possuímos um Tu inato, onde se consuma 
inteiramente no diálogo com o Tu, que, por sua vez, de forma alguma 
vem a se tornar um Isso. Os homens constantemente buscam o seu Tu 
eterno sob diversos nomes. Em relação a isso, Buber esclarece que é 
errôneo apontar um nome correto para Deus, pois, todos que invocam 
a Deus, independente do nome utilizado, buscam sempre o mesmo Tu 
eterno. Destaca também, que não apenas se fala sobre Deus, mas, se 
conversa com Ele. Por fi m, Buber salienta que diálogo entre a criatura 
e o criador não se trata de uma dependência da criatura perante o 
criador, mas de uma relação que oferece reciprocidade, em que assim 
como a criatura necessita do criador, o criador necessita da criatura.
BUBER, Martin. Eu e Tu. Tradução do alemão, introdução e notas por 
Newton Aquiles 
Von Zuben.10. ed. São Paulo: Centauro, 2001. 
| Psicologia da Religião | FTSA38
2. Sistema de sentido, crença e conhecimento
2.1. Sentido
Já sabemos que a necessidade de transcendência, de espiritualidade 
ou de sentido é comum nos seres humanos. Alguns autores recorrem 
à etimologia da palavra “sentido” para explicar o uso dos termos 
espiritualidade ou transcendência. Etimologicamente a palavra sentido 
origina-se do latim sensus, que remete à percepção, signifi cado, 
sentimento, ou ao verbo sentire que signifi ca perceber, sentir ou saber.
Embora os termos sentido e signifi cado sejam entendidos como 
sinônimos, os autores Tolfo e Piccinini (2007, p. 40) diferenciam sentido 
de signifi cado, defi nindo signifi cado como a representação social que 
algo executado tem para quem o executa e sentido como o valor que o 
que foi feito possui para o indivíduo no âmbito pessoal, sua satisfação e 
autorrealização.
Glossário
SIGNIFICADO: representação social que algo executado tem para quem 
o executa.
SENTIDO: valor que o que foi feito possui para o indivíduo no âmbito 
pessoal, sua satisfação e autorrealização.
Um dos autores que escreveu sobre a busca de sentido do ser humano 
foi o psiquiatra Viktor Emil Frankl, austríaco, fundador da escola da 
Logoterapia, que explora o sentido existencial do indivíduo e a dimensão 
espiritual da existência.
Em seu livro A Busca do Homem por Sentido (publicado pela primeira vez em 
1946), Frankl fala sobre as experiências que teve como interno de um campo 
de concentração. O psiquiatra descreveu seu método psicoterapêutico 
para encontrar sentido em todas as formas de existência e, a partir do 
sentido, uma razão para seguir vivendo. Em suas próprias palavras "O ser 
39Psicologia da Religião | FTSA | 
humano, por força de sua dimensão espiritual, pode encontrar sentido em 
cada situação da vida e dar-lhe uma resposta adequada”.
É certo que os ser humano possui a necessidade de estar em meio 
àquela tensão estabelecida entre ele mesmo (de um lado) e o sentido 
que ele deve realizar (do outro). É óbvio que o ser humano não procura as 
tensões pelas tensões, mas, em particular, procura mais realizações que 
confi ram sentido à sua existência.
Portanto, o sentido da vida é entendido como aquilo "que se tenciona, 
seja por uma pessoa que me pergunta algo, seja por uma situação que 
encerra uma pergunta e clama por resposta" (Frankl, 2011, p. 81). Quando 
o ser humano é poupado de tensões ele acaba criando uma tensão, a 
ponto de se expor a situações estressantes, mesmo que momentâneas, 
a exemplo da situação de stress pontual produzido pelo o esporte.
Exercício de aplicação - 08
Em seu livro A Busca do Homem por Sentido da Vida, Frankl (1946) 
afi rmou com suas próprias palavras que: 
[...] o ser humano, por força de sua dimensão espiritual, pode 
encontrar sentido em cada situação da vida e dar-lhe uma resposta 
adequada”.
De acordo com as palavras de Frankl, como colocar em prática a 
força da nossa dimensão espiritual em meio às tensões do dia a 
dia?
(a) buscando controlar as situações de stress que aparecem.
(b) orando com mais frequência.
(c) realizando trabalhos sociais.
(d) procurando mais realizações que confi ram sentido à sua 
existência.
(e) identifi cando quais as necessidades do cotidiano que precisam 
de prioridade. 
| Psicologia da Religião | FTSA40
Para compreender melhor sobre o sentido da vida à luz de Victor Frankal, 
convido vocês a assistirem um fragmento de uma entrevista feita com 
o médico psiquiatra austríaco, fundador da escola da logoterapia, que 
explora o sentido existencial do indivíduo e a dimensão espiritual da 
existência a partir de seus estudos.
É certo que os processos de construção de sentidos são muitas das vezes 
automáticos, ou seja, poucas são as vezes que se tem consciência disso, 
porém, é importante que não façamos confusão entre a necessidade de 
fazer sentido com uma necessidade de sentido pois o argumento de que 
as pessoas necessitam construir sentidos se baseia no princípio de que 
os seres humanos necessitam de um sistema de sentido compreensível 
que funcione bem tanto no nível psicológico quanto no nível biológico.
Ao conceituar os sistemas de sentido, Park (2010, 2013) afi rma que os 
sistemas de sentido são:
[...] amplas molduras mediante as quais as pessoas atentam 
e percebem estímulos; organizam os seus comportamentos; 
conceituam a si mesmas, os outros e as relações interpessoais; 
relembram o passado; e imaginam e antecipam o futuro.
Por fi m, dado a importância e essencialidade do sistema de sentido 
em satisfazer demandas específi cas do ser humano como o controle, 
o domínio, a coerência, a identidade, as respostas existenciais e as 
orientações para o comportamento, se faz necessário que o sistema 
de sentido funcione adequadamente para um funcionamento humano 
saudável.
41Psicologia da Religião | FTSA | 
2.2. Crença
A crença é algo que se desenvolve na maioria das vezes durante e infância 
e que, durante o decorrer da vida, vai sendo reafi rmada. As crenças 
podem ser negativas ou positivas, sendo que uma pessoa pode acreditar 
que ela é forte ou fraca, que ela é capaz etc. As crenças positivas podem 
ser mantidas por bastante tempo, salvo quando uma afl ição psicológica 
traga à tona as crenças negativas originadas em algum momento da 
infância da pessoa.
As crenças negativas normalmente estão associadas ao desamparo e ao 
fato de não ser amado/a, são conclusões desenvolvidas em situações 
traumáticas, a exemplo de uma criança que foi violentada pelo pai, esta 
pode concluir que isto aconteceu porque ela é uma criança má, e assim 
acaba mantendo a crença durante toda vida mesmo que na idade adulta 
entenda que adultos não devem espancar crianças. Esse tipo de situação 
implica na autoestima do ser humano, já que nem sempre a crença é algo 
percebido conscientemente.
Para compreender um pouco melhor sobre o que é a crença, o vídeo a 
seguir tratará de apresentar de forma simples e objetiva o que se entende 
por crença a partir das lentes da psicologia.
Com relação a crença e o sentido, é afi rmativo dizer que a crença é um 
sentido que foi produzido, o processo de crer é o processo de dar sentido 
a uma informação. Portanto, uma crença é o que há na mente humana 
a partir do momento em que os processos do sistema de sentido 
produziram alguma coisa.
Outra característica peculiar das crenças é que elas não são estáticas, 
elas fl uem e podem atingir a mudança em algum outro lugar no sistema. 
Sendo assim, a partir de uma análise psicológica, é viável compreender 
os processos de crença e não a crença em si. 
| Psicologia da Religião | FTSA42
Saiba mais!
As pessoas acreditam no que elas afi rmam conhecer. Como exemplos, 
as pessoas podem aceitar como “conhecimento que Jesus ressuscitou 
dos mortos, que Maomé ouviu lá falar a ele e dentro de uma caverna 
por vinte anos, que Moisés ouviu Deus falar de um arbusto em chamas 
mas não queimava, ou que Deus não existe e não há nada além deste 
mundo material. Mas elas não conhecem estas coisas - embora 
possam numa delas a ponto de morrer por ela. Se este ponto é ou 
não tido como uma afronta às crenças pessoais e talvez profundas de 
alguém, é crucial entender a diferença entre crer e saber. A ilustração 
a seguir pode esclarecer a diferença e o porquê da sua importância. 
Não há distorção dos fatos se alguém diz “tive um sonho esta noite 
em que eu tinha uma imagem mental de alguém e a voz de alguém 
que disse ser o anjo Gabriel. Então agora eu creio que Gabriel falou 
comigo. Uma declaração estruturada dessa forma é acurada; rotula 
uma crença relativa à memória de um evento mental enquanto criança 
não enquanto fato e não enquanto conhecimento, No entanto, se a 
frase tivesse acrescentado [...] então agora eu sei o que Deus quer que 
eu faça porque o anjo me disse [...] o valor da verdade dessa declaração 
teria mudado. Já não é preciso ou confi ável se por “saber” o falante 
pretende que alguém mais esteja obrigado ou deva pensara mesma 
coisa que pensa o falante. Neste caso o que é “conhecido” é apenas do 
espaço privado. É algo que não é transmissível a ninguém mais; assim, 
ninguém é obrigado a aceitá-lo como válido e estar a ele vinculado. 
A única coisa que alguém mais sabe é “isso é o que a outra pessoa 
diz”. A lição para nós é assegurar que destrinchemos com cuidado as 
alegações do conhecimento das pessoas. Sejamos meticulosamente 
claros acerca do processo de crer versus ter conhecimento. A diferença 
é muito importante - para cada pessoa individualmente e para todas 
as pessoas em toda a parte, especialmente em circunstâncias em que 
uma pessoa alega ter conhecimento de Deus e visa impô-lo a outra 
pessoa ou a todas as outras pessoas (p.37-38).
ESPERANDIO, M.R.G. FREITAS, M.H. Psicologia da religião no Brasil. 
Curitiba, Editora Juruá, 2017.
43Psicologia da Religião | FTSA | 
2.3. Conhecimento
O conceito de conhecimento abrange diversas esferas tais como: o mundo 
dos negócios, as ciências, a educação, a política e a religião, de sorte que 
seja impossível ignorar a essência fi losófi ca existente por trás do termo.
Para entender o conceito de conhecimento e como ele está presente em 
diferentes áreas da vida de qualquer pessoa, é importante identifi car a 
origem da palavra. Conhecimento é um termo que vem do latim cognoscere 
e signifi ca o ato ou efeito de conhecer. Também podemos chamar de 
conhecimento o processo pelo qual os seres humanos adquirem um 
saber intelectual ou a consciência que cada indivíduo tem da sua própria 
existência, além disso, refere-se a conhecer ou conhecimento, a relação 
entre indivíduos que, embora não tenham laços de amizade, mantêm 
contatos sociais
Conforme já citado anteriormente, a essência fi losófi ca do conceito de 
conhecimento foi desenvolvida pelo fi lósofo Platão, discípulo de Sócrates, 
para ele, o conhecimento se conceitua como o conjunto de informações 
adquiridas por meio de um processo de aprendizagem ou experiência.
Pode que muitos de vocês estejam se perguntando o porquê de fazermos 
alusão à fi losofi a se nosso foco é a análise do fenômeno religioso a partir das 
lentes da psicologia? A resposta é simples e já foi tratada na primeira unidade, 
porém sempre é bom recordar que a psicologia não surgiu diretamente como 
uma ciência, ela começou como um ramo da fi losofi a e continuou por cerca 
de 2000 anos antes de emergir como uma ciência. O termo psicologia foi 
encontrado pela primeira vez em livros fi losófi cos do século XIV.
Ao contrário das crenças e opiniões, o conhecimento é aquilo que 
é essencialmente verdadeiro (episteme). Seguindo com Platão, o 
conhecimento se difere das crenças e opiniões precisamente porque 
estas tendem a ignorar a verdadeira realidade. O fi lósofo entende que a 
crença e a opinião são baseadas em observações prováveis ou aparentes 
e que o conhecimento não ignora o real.
| Psicologia da Religião | FTSA44
Glossário: Conhecimento: aquilo que é essencialmente verdadeiro; 
difere das crenças e opiniões porque estas tendem a ignorar a 
verdadeira realidade.
3. PR em perspectiva brasileira
3.1. Precursores
Na unidade I tratamos de compreender que Psicologia da Religião consiste 
no estudo do comportamento religioso, isto é, do comportamento que 
se refere a um objeto transcendente, denominado “Deus” na cultura 
ocidental, sendo que esse comportamento pode ser de aceitação ou de 
rejeição do objeto transcendente, e esse objeto pode receber diversas 
outras denominações, além da predominante na cultura do ocidente.
É importante não somente conhecer a PR em términos globais, portanto, 
nossa tentativa neste capítulo é aproximá-los à história e contribuições da 
PR no Brasil, já que esta completou recentemente 60 anos, se tomarmos 
como início o artigo do padre Antal Benkö escrito em 1956, publicado na 
Revista de Psicologia Normal e Patológica cujo título foi Um ensaio de 
exame psicológico de seminaristas.
Pe. Benkö foi um sacerdote jesuíta e um dos 
responsáveis pela fundação do Departamento 
de Psicologia da Pontifícia Universidade 
Católica do Rio de Janeiro. O padre Antonius 
Benkö (nome de Batismo Antal Benkö) nasceu 
em 1920 em Parks, na Hungria. Em 1944, 
iniciou o curso de Licenciatura em Teologia em 
Szeged, onde fi cou até 1946, concluindo-o em 
1948 na Pontifícia Universidade Gregoriana, 
45Psicologia da Religião | FTSA | 
em Roma. Foi ordenado sacerdote em 1947. De 1949 a 1951 cursou 
Licenciatura em Psicologia, concluindo com o trabalho sobre o 
teste de Szondi, na Universidade Católica de Louvain. Ness mesma 
Universidade concluiu a Licenciatura em Filosofi a em 1950 e fez 
doutorado em Psicologia Aplicada, investigando o exame psicológico 
dos candidatos à vida sacerdotal (1954). Fixou-se no Brasil em 
1954, passando a lecionar na Faculdade de Filosofi a Nossa Senhora 
Medianeira, em Nova Friburgo, até 1959. Entre 1958 e 1959, fez pós-
doutorado na Universidade Loyola, em Chicago e na Universidade 
de Fordham, Nova Iorque. Em 1957, Padre Benkö passou a dirigir 
o Instituto de Psicologia Aplicada (IPA) a convite do Reitor da 
PUC-RJ, Pe. Alonso, com o objetivo de reformulá-lo. O curso de 
Psicologia da Santa Casa acabou sendo transferido para o Campus 
da Gávea. Sua estrutura e duração foram modifi cadas e introduzida 
a disciplina de Psicanálise, com o nome de Psicologia Profunda. 
Em 1960 criou o Centro de Orientação Psicopedagógica (COPP), 
origem do atual serviço de Psicologia Aplicada. Foi Vice-Presidente 
(1964) e Presidente (1967) da Associação Brasileira de Psicologia 
Aplicada. De março a outubro de 1966, lecionou na Universidade 
de Brasília. Em 1966, deixou a direção do IPA. Em 1975 foi para a 
Áustria, renunciando à cidadania brasileira adquirida em 1959, para 
naturalizar-se austríaco. Desde 1996 lecionava na Universidade 
Católica Pázmány Peter, em Budapest. A revista de Psicologia Normal 
e Patológica foi o principal veículo de seus escritos no Brasil. A Prof. 
Vera Candau, do Departamento de Educação da PUC-Rio, recorda que 
“o Padre Benkö foi uma pessoa muito especial. Sereno, atencioso e 
com uma visão de futuro, foi fundamental para a Pós-graduação em 
Ciências humanas da PUC”. O Padre Antonius Benkö teve mais de 20 
livros e artigos publicados. Faleceu em 24 de novembro de 2013 em 
Budapest, na Hungria, aos 93 anos. Dispponível em:
http://www.archivioradiovaticana.va/storico/2013/11/27/faleceu_aos_93_anos_
pe_benk%C3%B6,_co-respons%C3%A1vel_pela_funda%C3%A7%C3%A3o_do_
depto/bra-750592
| Psicologia da Religião | FTSA46
3.2. Início das pesquisas
Em se tratando de publicações e pesquisas feitas no Brasil no campo da 
PR, um estudo realizado de 2001 a 2005, pretendeu examinar a produção 
em PR analisando 25 periódicos científi cos conseguindo verifi car quais 
foram as tendências da pesquisa em PR no Brasil. A primeira delas é o 
número ascendente de estudos publicados, com exceção da década de 
1970. A segunda é a constante multiplicidade de temas específi cos em 
PR. A terceira é a predominância, na temática, da discussão conceitual. 
A quarta é o emprego progressivamente mais disciplinado das teorias 
psicológicas e a última, o crescente rigor metodológico das pesquisas 
publicadas. O gráfi co a seguir, apresenta a frequência dos artigos 
publicados até 2005.
A PR no Brasil surgiu infl uenciada pelos europeus. Profi ssionais da área 
médica e da psicologia foram os que dirigiram em 1950, em São Paulo, o 
Departamento de Psicologia da Religião da PUC, sendo o médico italiano 
Enzo Azzi da PUC quem fez o convite ao psicólogo holandês Theo van 
Kolck para levar a cabo o departamento na PUC Rio.
47Psicologia da Religião | FTSA | 
Em 1950 também se criou a Associação de Psicologia Religiosa, que, 
embora fosse uma associação de psicologia religiosa, acorpava psicólogos, 
médicos, antropólogos e sacerdotes, sob a direção do psicólogo holandês 
Theo van Kolck. Na década de 1960 foram organizados pela associação 
algumas reuniões que tratavam temas sobre a estrutura da personalidade

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