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Outubro/ 2019 Professor/autor: Profª Vanessa Carvalho de Mello Projeto Gráfico e Capa: Mauro Rota - Departamento de desenvolvimento institucional Todos os direitos em língua portuguesa reservados por: Rua: Martinho Lutero, 277 - Gleba Palhano - Londrina - PR 86055-670 Tel.: (43) 3371.0200 3Psicologia da Religião | FTSA | SUMÁRIO Psicologia da religião Unidade I - A psicologia da religião no contexto histórico da psicologia Introdução..............................................................................................................................05 1. Psicologia da religião: de que se trata?..............................................................................07 2. Precursores.........................................................................................................................12 3. Ciência psicológica e psicologia da religião......................................................................19 4. Terminologias.....................................................................................................................22 Unidade II - Cenários e perspectivas da psicologia da religião Introdução..............................................................................................................................30 1. Psicologia da religião em perspectiva global...................................................................32 2. Sistema de sentido, crença e conhecimento...................................................................38 3. A Psicologia da Religião em perspectiva brasileira.........................................................44 4. Enfoque etnopsicológico da Psicologia da Religião.......................................................52 Unidade III - Variedades da experiência religiosa Introdução................................................................................................................60 1. Crise existencial e modernidade.......................................................................................61 2. Estágios da fé.....................................................................................................................68 3. Conversão............... ............................................................................................................75 4. Experiências religiosas: oração, adoração, cura/milagre...................................................82 Unidade IV - Acercamentos entre teologia e saúde mental 1. Possessão e Narcisismo..................................................................................................94 2. Psicopatogias modernas.................................................................................................101 3. Saúde mental e a bíblia....................................................................................................111 4. Teologia e saúde.............................................................................................................120 Acesse o AVA para fazer os exercícios e obter as respostas e reações do professor! | Psicologia da Religião | FTSA4 UNIDADE I: A pisicologia da religião no contexto histórico da psicologia Uma breve apresentação da disciplina Alinhar os desafi os apresentados em nosso contexto atual a uma refl exão e práxis teológica cuja centralidade seja a Sagrada Escritura, é uma das preocupações constantes da FTSA. Para que isso aconteça, a integração do saber teológico com outros saberes deve ser sempre aperfeiçoada. Embora a crescente do conhecimento no seio de cada uma das disciplinas acadêmicas aconteça como parte do processo de ensino-aprendizagem, o recurso a qual chamamos interdisciplinaridade parece não ser tarefa fácil. A Teologia, de certo modo, sempre desempenhou a interdisciplinaridade como valor para elaborar sua refl exão, se dispondo de várias linguagens para explicar a realidade. Anselmo de Cantuária, teólogo e fi lósofo cristão do século XII, disse que teologia é “fi des quaerens intellectum” – fé em busca de entendimento, portanto, se entende que a Teologia como fé que busca o entendimento deve ser capaz de dialogar com as mediações humanas na procura da totalidade. Sendo assim, a interdisciplinaridade na Teologia tem como objetivo ampliar o horizonte rompendo então com a lógica isolacionista que separa Teologia e vida. Como proposta de re-ligação e reorganização dos saberes, a ação interdisciplinar em Teologia estabelece, de modo circular, novos diálogos sobre temas extremamente importantes para a própria Teologia e para a vida da Igreja. Tal dialógica representa uma nova postura da Teologia com respeito aos problemas fundamentais da humanidade, e é aqui onde a Psicologia da Religião apresenta especial relevância para a Teologia e para a vida pastoral e ministerial, pois com o desenvolvimento das ciências modernas, o avanço dos estudos sobre o fenômeno religioso se fez extremamente necessário, o que corroborou para que o diálogo entre a Psicologia da Religião e a Teologia acontecesse, ampliando o entendimento a respeito do mesmo a partir da compreensão da experiência religiosa do ser humano. 5Psicologia da Religião | FTSA | Motivados pela importância e avanço da interdisciplinaridade é que a FTSA propôs o estudo da diversidade do fenômeno religioso baseado em categorias e métodos próprios em psicologia, contemplando assim as exigências do Eixo Interdisciplinar da graduação em Teologia através da disciplina: Psicologia da Religião. Objetivos da unidade I 1. Conhecer as origens da Psicologia da Religião. 2. Compreender como a disciplina foi se desenvolvendo como um ramo especializado da Psicologia. 3. Distinguir as terminologias empregadas no campo da Psicologia da Religião e a aplicabilidade de cada uma de acordo com o contexto. 4. Observar quais são os principais aspectos estudados pela Psicologia da Religião. 5. Estimular a refl exão de forma contextual e interdisciplinar. Introdução Alguns assuntos que normalmente não são falados em certas áreas do conhecimento como: sexo, religião, sonhos, corpo, desejo, loucura, dentre outros, normalmente são explorados no campo da psicologia. Pode parecer esquisito encaixarmos a religião junto a estes outros temas, até porque, o normal é pensar que o território adequado para se falar sobre religião seja o das academias teológicas. Não obstante, sabe-se que o fenômeno religioso é algo que se estuda nas academias fi losófi cas, sociológicas, antropológicas e não só, também na academia psicológica. Ao contrário do que muitos estudiosos pensam, com o avanço da pesquisa empírica e teórica, aquilo que era conhecido como “tabu” passa a ser objeto de interesse e análise em outros territórios do saber, portanto, ao pensar no fenômeno religioso como algo que faz parte da subjetividade humana, caberia tentar entendê-lo também a partir das lentes da Psicologia da Religião até porque, se pensarmos no contexto brasileiro, de acordo com o censo do IBGE de 2010, o Brasil possui um | Psicologia da Religião | FTSA6 índice de apenas 8,0%1 dos cidadãos que se declararam sem nenhum vínculo religioso. Exercício de reflexão Em sua experiência como estudante de teologia, você tem acompanhado as pesquisas atuais/dados estatísticos, sobre a realidade brasileira quando a experiência religiosa? 1 IBGE, Agência de Notícias. Em <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia- sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/14244-asi-censo-2010-numero- de-catolicos-cai-e-aumenta-o-de-evangelicos-espiritas-e-sem-religiao>. Acesso em: 02 agosto 2018. 7Psicologia da Religião | FTSA | Gráfi co O Statista.com[2] - Uma pesquisa promovida pelo Pew Research Center em 2015 revela o quanto o caráter religioso infl uencia na vida de pessoas ao redor do mundo. A mesma questão foi levantada em diferentes países, considerando as inúmeras religiões existentes no planeta. O Brasil aparece em 15º no ranking, com empate técnico com a Palestina,atrás da Índia e à frente da África do Sul. Em território brasileiro, três em cada quatro pessoas alegam que a religião teve bastante impacto e é muito importante em suas vidas, portanto, estudar a diversidade do fenômeno religioso a partir de categorias e métodos próprios em psicologia é relevante já que pesquisas como esta apontam claramente que a subjetividade do ser humano está permeada pela sua relação com transcendente. [2] O STATISTA, Portal das estatísticas. Em <https://www.statista.com/chart/4189/ which-nationalities-consider-religion-most-important>. Acesso em: 02 agosto 2018. 1. Psicologia da Religião: de que se trata? Se trata do estudo da diversidade do fenômeno religioso a partir de categorias e métodos próprios em psicologia, ou seja, enxergar o fenômeno religioso a partir das lentes da Psicologia da Religião nada mais é que descrever e entender o desenvolvimento da religiosidade das pessoas, bem como os aspectos individuais e sociais que as condicionam, considerando as características especiais que adquirem em etapas do ciclo vital. É pensando em ilustrar algumas formas como as pessoas se relacionam com a religião que mergulharemos em uma viagem pelas crenças religiosas no Brasil através deste vídeo que é um fragmento do documentário “Fé”, de Ricardo Dias, premiado no Festival de Biarritz. Observem que o fi lme mostra a relação do indivíduo (fi el) com o transcendente a partir da diversidade religiosa. O convite que faremos então, é para que | Psicologia da Religião | FTSA8 vocês mergulhem nesse universo com interesse e curiosidade, abertos ao conhecimento, dispostos a ouvir e dialogar, levando sempre em consideração a relevância da partilha entre a Teologia e a Psicologia da Religião. PSICOLOGIA DA RELIGIÃO: é uma disciplina que faz parte de uma das áreas de conhecimento da psicologia dedicada ao estudo do comportamento religioso, comportamento que envolve os fatores cognitivos e afetivos do ser humano. Embora leve este nome, a Psicologia da Religião não estuda as religiões em si, mas a relação do ser humano com a religião, seja ela qual for, relação esta que pode ser marcada tanto pela afi liação como pelo distanciamento da mesma, de sorte a serem analisados o comportamento dos religiosos e o comportamento dos não-religiosos. Em Psicologia da Religião não se afi rma nem muito menos se nega a existência das fi guras religiosas, do transcendente, dos demônios, dos espíritos, dos deuses; o que se busca compreender é o que leva as pessoas a afi rmarem ou negarem essa transcendência, a crer ou a não crer nessas fi guras e a venerá-las ou combatê-las. Saiba mais! Desde seu nascimento, este é um campo suspeito. Enquanto é acusado por alguns de irreligioso, outros consideram que deve ser desenvolvido a partir das instituições religiosas. Daí o surgimento de algumas obras intituladas “psicologia religiosa”, termo que hoje se nos apresenta com um certo ar confessional. O estudo do fato religioso por parte da psicologia, com notáveis transformações teóricas e metodológicas, perdura até nossos dias, e é nele que concentraremos nossa atenção. Por volta dos 9Psicologia da Religião | FTSA | anos 1960, essa orientação viu-se enriquecida com uma nova forma de apresentar as coisas, que passou à literatura com o enfoque “psicologia e religião” (PARSONS, JONTE-PACE,2001, P.2- 9). Essa nova orientação pretende não estudar a religião a partir da psicologia, mas um diálogo mútuo. Um diálogo difícil, mas que encontra seu ponto de união na “busca de sentido do ser humano” [...] É um período no qual escritores muitos diferentes, com públicos muito distintos, trabalharam simultaneamente a partir de cenários diversos. Um desses cenários estendeu-se entre a psicologia e a teologia, em torno do pré e do pós Concílio. E não só nem preferencialmente entre o catolicismo e a psicologia, mas entre o judaísmo e o cristianismo em geral e a psicologia, especialmente a psicanálise e as correntes humanistas. Durante esse tempo, alguns teólogos e fi lósofos, como P. Tillich, M. Buber, R. Niehbuhr, P. Ricoeur, K Rahner etc., enfrentaram essa tarefa utilizando o diálogo e o que P. Tillich denominou método correlacional (p. 11-12). A psicologia da religião, como parte da psicologia geral, serve-se de seu próprio método, particular das ciências humanas. Propõe-se a inventariar os comportamentos religiosos, explorar as diferenças signifi cativas, compreender as relações com outros fenômenos humanos, conhecer as estruturas internas das experiências e dos comportamentos religiosos, discernir a atitude religiosa aparente da autêntica e formular hipóteses compreensivas da dimensão religiosa do homem (MILANESI, ALETTI, 1974, P. 10-14; VERGOTE, 1971, p. 432ss.; 1983, p.16-19) (p.18). ÁVILA, A.B. Para conhecer a psicologia da religião. São Paulo, Editora Loyola, 2010. Podemos pensar também que, a expressão “Psicologia da Religião” é apenas um disfarce criado para evitarmos o enunciado completo, a saber: | Psicologia da Religião | FTSA10 Psicologia do comportamento religioso, já que é com esse comportamento que tal ciência lida, levando em consideração a experiência humana. Portanto, uma vez que se faça referência ao termo “religião”, a pergunta que se espera responder é: qual o objeto de estudo da Psicologia da Religião? OBJETO DE ESTUDO: o objeto de estudo é o foco, o eixo central de uma pesquisa, diferente do assunto principal. O objeto de estudo de uma ciência é o que chama atenção dentro do tema principal. Se não compreendermos claramente qual é o objeto de estudo da Psicologia da Religião, nosso processo de ensino-aprendizagem é vão. Assim sendo, para respondermos adequadamente a pergunta acima levantada é necessário pensar não somente no objeto da Psicologia da Religião, mas em sua relação com outros campos do saber que estudam o fenômeno religioso, a exemplo de algumas ciências que o investigam desde outras perspectivas tais como a Sociologia da Religião, a Antropologia da Religião, a Filosofi a da Religião e a própria História da Religião. Contudo, em nosso campo de estudo, o objeto é o ser humano na qualidade de religioso: suas motivações, seus desejos, suas experiências e suas atitudes expressadas através do seu comportamento. OBJETO DE ESTUDO NA PSICOLOGIA DA RELIGIÃO: o ser humano na qualidade de religioso e suas atitudes expressadas através do seu comportamento. Percebe-se então que o estudo a respeito do ser humano em Psicologia da Religião, não é reducionista, no ponto de vista da crença, ou seja, não estudamos apenas aquele que se confessa crente, senão o não crente, estudamos a referência ao religioso de todos os seres humanos a partir de suas vivências no decorrer do processo evolutivo. 11Psicologia da Religião | FTSA | Autores contemporâneos como Antônio de Ávila, professor de Psicologia do Instituto de Pastoral e da Faculdade de Teologia São Dâmaso, em Madri, ressaltam que as pesquisas neste campo, embora apresentem difi culdades em delimitar o objeto focado, metodologicamente devem partir de um diálogo mútuo, usando sempre a dualidade: psicologia e religião sendo, a busca de sentido do ser humano, o ponto de união. Ávila afi rma que: Assim, o objeto de estudo da psicologia da religião é tanto a experiencia religiosa do ser humano que se confessa crente como o fenômeno da incredulidade ou indiferença religiosa. Sua pergunta sobre a dimensão religiosa do ser humano concretiza-se do mesmo modo quando se pergunta como e por que determinadas pessoas se tomam crentes como quando se pergunta como e porque outros passam a engrossar as fi leiras da indiferença e do ateísmo (grifos meus, 2010, p.15). GLOSSÁRIO: FENÔMENO RELIGIOSO: 1. Fenômeno: aquilo que aparece, que se apresenta, que se mostra. 2. Religiosidade: quando expressada através de gestos, palavras, atitudes e ritos é percebida com um fenômeno. Exercício de Fixação - 01 O teólogo Paul Tillich foi um dos que se interessoupelo diálogo entre a psicologia e teologia. Calvani (2010, p. 21) em sua obra “Teologia da arte: espiritualidade, igreja e cultura a partir de Paul Tillich”, comenta que essa nova área de pesquisa ajudou Tillich a: [...] se aprofundar em conceitos como ansiedade, desintegração, auto integração, alienação e na compreensão de salvação como ‘cura’, presentes em sua Teologia Sistemática. | Psicologia da Religião | FTSA12 Considerando esta orientação dada por Calvani, é possível indicar que o diálogo entre a Teologia e a Psicologia da Religião tem como ponto de união a: a) ética b) música e a dança c) contextualização e a privatização d) busca de sentido do ser humano e) a comunidade religiosa 2. Precursores 2.1. Edwin D. Starbuck Impossível elencar os precursores da Psicologia da Religião sem um olhar global no contexto histórico da psicologia. Ela nasce na última década do século XIX caracterizando-se em seus primeiros começos como a aplicação da psicologia ao estudo da religião. Embora o chamado pai da Psicologia da Religião seja o pesquisador norte-americano nascido em Nova York em 1842, William James, criador de uma escola voltada à pesquisa da religião, é importante fazer menção a Edwin D. Starbuck, que foi aluno de James e que escreveu a primeira obra de Psicologia da Religião chamada “A psicologia da religião: um estudo empírico do desenvolvimento da experiência religiosa”, publicada em 1899. Starbuck era um erudito e atuou como professor principalmente nos campos da Psicologia da Religião, da educação religiosa e educação de caráter. Participou da comunidade dos Quakers sendo educado conforme essa tradição, seus valores, ética e religiosamente, sutilmente moldados pela criação e encorajamento em direção à moralidade e um senso de responsabilidade. 13Psicologia da Religião | FTSA | Saiba mais! Os quakers têm origem britânica e surgiram no ano de 1652. O criador deste movimento religioso foi George Fox, que se rebelou contra os poderes religiosos e políticos instituídos na Inglaterra, sugerindo uma nova leitura de fé cristã que não seguia convenções. Ele e seus seguidores tinham como objetivo a restauração da fé cristã, que estava há séculos afastada de seus valores originais. Os quakers acreditam que as pessoas têm a capacidade de sentir a presença de Deus sem nenhum intermediário. Entre os quakers, as mulheres tinham os mesmos direitos de participar dos cultos que os homens. Por apresentarem estas características, eles foram fortes defensores do feminismo e do abolicionismo. Entre outros aspectos, valorizam a honestidade, proibindo atividades e negócios ilegais e nunca fazem juras. Assim como Mahatma Gandhi, são adeptos da não-violência, recusando-se a praticar atos violentos ou utilizar armamentos, mesmo que seja em sua defesa. Diversas organizações importantes foram criadas pelos quakers, entre elas, destacam-se a Amnistia Internacional e Greenpeace. Uma curiosidade é que, em uma tentativa de ridicularizar o grupo, alguns ingleses apelidaram-nos de “tremedores” (quakers, em inglês). Porém, o apelido foi adotado ofi cialmente e é utilizado até hoje. A&E Television Networks Disponível em:https://www.history. com/topics/immigration/history-of-quakerism O tema da conversão é o assunto principal da obra de Starbuck sendo tal literatura estruturada a partir do resultado de uma pesquisa feita com um público adolescente educados no protestantismo. Starbuck contou com todo material de pesquisa levantado a partir de questionários autobiográfi cos, resultando no apontamento da existência de múltiplos estados emocionais associados à conversão, os quais descrevem 2 tipos de conversão, assegurando que a variável intelectual é o elemento central da experiência religiosa. De acordo com Starbuck, o intelecto, ao observar o divino | Psicologia da Religião | FTSA14 e a dimensão racional do ser humano, decide entrar em contato com o Ser Supremo. Ávila em seu livro “Para conhecer a psicologia da religião” ratifi ca que Starbuk tem o mérito não só de publicar o primeiro livro de psicologia religiosa, mas de ser um pioneiro na utilização do método científi co na área a partir da amostragem e análise estatística” (2010, p.25) Com a publicação de 1899, Starbuck se estabeleceu como um pioneiro no campo. Ele foi o primeiro a iniciar um estudo empírico da consciência religiosa individual, cujo conteúdo e metodologia foram repetidos mais tarde por outros pioneiros no campo. Seu estudo delineou o desenvolvimento normal do crescimento religioso e os fatores mentais e orgânicos que afetam esse crescimento. Starbuck alegou que a conversão era uma manifestação de "processos naturais". Starbuck defi niu a religião como a resposta completa ao senso mais íntimo da realidade. Ele procurou não explicar a religião, mas discernir suas ideias para viver. O clássico pode ser acessado em inglês na página: https:// archive.org/details/cu31924031018249 STARBUCK, E.D., The psychology of religion, an empirical study of the growth of religious consciousness. London, W. Scott.1899. 2.2. William James William James, mais conhecido como o pai da Psicologia da Religião, nasceu em Nova Iorque, nos Estados Unidos em 11 de janeiro de 1842. Filho do teólogo e fi lósofo Henry James, frequentou diversas escolas em 15Psicologia da Religião | FTSA | países distintos. Durante décadas, William James aplicou seus métodos empíricos à investigação de temas fi losófi cos e religiosos. Explorou a questão da existência de Deus, da imortalidade da alma, dos valores éticos e do livre arbítrio como fonte da experiência religiosa e moral. Em 1902, James publica a obra “Variedades da experiência religiosa: um estudo sobre a natureza humana”, sendo considerado a partir de então, a origem da Psicologia da Religião. Breve resenha A presente obra nos conduz a uma abordagem pragmática da questão religiosa; aqui, a religião é considerada como uma experiência, como uma vivência, e não apenas como uma crença na experiência alheia.Neste clássico, publicado em 1902, William James explora a psicologia da religião, aplicando o método científi co a um campo que já havia sido tratado anteriormente como fi losofi a teórica e abstrata. O autor acreditava que as experiências religiosas individuais, diferentemente dos preceitos estabelecidos pelas religiões organizadas, constituíam a espinha dorsal da vida religiosa. Os seus comentários sobre conversão, arrependimento, misticismo e santidade, e suas observações acerca de experiências religiosas verdadeiras, pessoais, dão embasamento a essa tese. A obra é resultante de uma proposta para as Conferências Gifford. Tais conferências foram instituídas por Adam Gifford, jurista e fi lósofo que, antes de sua morte distribuiu o equivalente a 5 milhões de dólares entre as cinco maiores universidades da Escócia. De acordo com o testamento de Gifford, as universidades teriam que realizar pesquisas sobre teologia natural, as palestras teriam que discutir todas as questões sobre a concepção do homem a respeito de Deus e do Infi nito. JAMES, W. Variedades da Experiência Religiosa: um estudo sobre a natureza humana, Editora Cultrix, São Paulo, 1991. Ao falar sobre a experiência religiosa do ser humano, James afi rma que os sentimentos religiosos estão concentrados no subconsciente, ou seja, | Psicologia da Religião | FTSA16 por trás da consciência clara e racional, sendo assim, é possível explicar com mais clareza as manifestações de religiosidade. Não há dúvida que para James, a experiencia religiosa tem seu gatilho no afeto, e logo a crença se origina. Em sua obra, James dedica um dos capítulos ao tema “santidade”, apresentando sua ideia sobre a maturidade religiosa e a personalidade humana, trazendo à luz a refl exão sobre a possibilidade de se existir ou não uma experiência religiosa sã e madura, além de descrever dois tipos de personalidade que por conseguinte, dão origem a dois tiposde fé: a fé combativa e a fé reconfortante. Saiba mais! - A personalidade sã supõe um equilíbrio mental que leva a viver a vida num tranquilo otimismo, com espírito decidido e com uma coerência linear, originando uma fé que surge da fortaleza, Ao preferir o bem ao mal, a pessoal moral luta por ele com a confi ança que sente em si mesma. É uma pessoa corajosa, exultante inclusive no perigo e na incerteza da vitória. - A personalidade enferma supõe uma disposição de espírito inclinada para a problematicidade, a inquietude, a insegurança, e, assim, a fé que gera surge da fraqueza humana, pedindo refúgio e segurança. Na fé combativa a religião possui uma particular riqueza de conteúdos psicológicos, uma profunda vida interior, um sentido de equilíbrio e de gozo, que supõem um estímulo para a vontade e se traduzem numa disponibilidade oblativa, que é o sinal da “santidade” (JAMES, 1986, p. 65-66, 137, 199ss, 212ss.). Por outro lado, a fé reconfortante tem como fi m último trazer alívio diante das difi culdades da vida, mas um alívio que é sobretudo refúgio e fuga da realidade e das responsabilidades que ela comporta. Assim, a prova defi nitiva do valor humano do sentimento religioso é dada por sua validade religiosa e moral. Defi nitivamente, o importante da experiência religiosa não é sua possível origem patológica, mas seus efeitos na personalidade do crente (JAMES, 1986, p. 249ss.) (p.27-28). ÁVILA, A.B. Para conhecer a psicologia da religião. São Paulo, Editora Loyola, 2010. 17Psicologia da Religião | FTSA | 2.3. Granville Stanley Hall Ao pai da Psicologia da Religião não lhe faltou discípulos contemporâneos que de certo modo também marcaram o contexto histórico da psicologia, portanto, antes de passarmos para a terceira aula dessa unidade, gostaríamos de falar sobre o discípulo de James que foi considerado o primeiro psicólogo da religião propriamente dito: Granville Stanley Hall, conhecido também como o primeiro americano a ganhar um Ph.D. em Psicologia e o primeiro presidente da American Psychological Association (APA). Parece ser que, além da psicologia, Hall, Starbuck e James tinham a teologia como território familiar, sendo que este primeiro, além de proceder de uma família congregacionalista extremamente conservadora e legalista, estudou teologia em 1867 no Union Theological Seminary pois queria ser pastor, embora tenha abandonado a ideia do pastoreio para se dedicar à psicologia. Importante ressaltar os trabalhos e estudos iniciais de Hall foram direcionados à teologia, logo, ao publicar sua principal contribuição literária em 1904, não deixou de levar em consideração a relação da psicologia com a religião. A obra intitulada “A adolescência, sua psicologia e suas relações com a fi losofi a, a antropologia, a sociologia, o sexo, o crime, a religião e a educação” falava de conversão apontando para os processos transitórios do ser humano entre adolescência e fase adulta. 2.4. J. H. Leuba Imagem: James Henry Leuba (9 de abril de 1868 - 8 de dezembro de 1946) James Henry Leuba, psicólogo da religião, fi cou conhecido por suas contribuições que explicavam o fato religioso a partir de princípios evolucionistas. Ávila, ao citar Leuba como um dos percursores da Psicologia da Religião, comenta que para Leuba, | Psicologia da Religião | FTSA18 a religião é a luta pela vida, uma luta biológica por assim dizer pois o ser humano tem a necessidade biológica de lutar contra as forças que o ameaçam e acaba buscando refúgio nas esferas superiores, satisfazendo então essa necessidade biológica, deste modo, o ser humano afi rma a existência de outros seres e sua relação direta com eles (2010, p.29). Pois bem, antes de fi nalizarmos este capítulo, queremos reforçar a importância de conhecermos sobre os grandes nomes que marcaram a história de alguma ciência estudada, principalmente no campo da interdisciplinaridade. Do mesmo modo que damos importância a conhecer sobre a contribuição dos teólogos para cada área da teologia, é importante saber sobre os psicólogos da religião, principalmente os que deram o ponta pé inicial para tal campo de estudo e atuação profi ssional. Para encerrar, faremos um pequeno exercício de fi xação a partir das ideias de um dos precursores estudados. Exercício de Fixação - 02 James dedica um dos capítulos da obra Variedades da Experiência Religiosa ao tema “santidade”, apresentando sua ideia sobre a maturidade religiosa e a personalidade humana. Este autor estabelece dois tipos de personalidade. Das indicações abaixo, aponte a alternativa que descreve corretamente estes dois tipos de personalidade: (a) Personalidade introvertida e extrovertida. (b) Personalidade intuitiva e sensorial. (c) Personalidade sã e enferma. (d) Personalidade perceptiva e julgadora. (c) Personalidade sentimental e pensadora. 19Psicologia da Religião | FTSA | 3. Ciência psicológica e psicologia da religião 3.1. Psicologia experimental - W. Wundt Ao que poucos sabem, o pai da psicologia experimental W. Wundt era nascido numa família protestante. Filho de pastor luterano, estudou medicina na Universidade de Heidelberg e por volta de 1862 fomentou a necessidade de que a psicologia se constituísse como ciência independente, criando então uma enorme obra de dez volumes chamada Psicologia dos Povos, a qual expôs a difi culdade do método experimental ao analisar questões muito determinadas por condições históricas e sociais, como a linguagem, os costumes e a religião. Wundt tinha grande interesse sobre o tema da religião, tanto que pesquisou sobre os processos emocionais envolvidos com a religião como o medo e sobre as fases do desenvolvimento religioso de uma população. Saiba Mais! No pensamento de Wundt sobre a religião confl uem distintas correntes de seu tempo; da teologia alemã da época assume que a religião mora no sentimento e dele emana (Wundt, 1990). Essa teologia, a partir do conhecimento protestante da sola fíde, do pietismo e da fi losofi a kantiana, despoja a experiência religiosa de seus aspectos intelectuais para destacar o caráter afetivo, entendido como sentimento, e sentimento de dependência, como a intuição da existência do infi nito no fi nito, que cada um vivencia de forma pessoal e distinta. Como homem científi co, infl uenciado pela fi losofi a positivista e pela teoria da evolução, está convencido de que a religião pode ser entendida unicamente a partir da evolução histórica dos povos. Segundo essa concepção, os povos primitivos vivem formas atávicas do desenvolvimento. A partir desse pressuposto, Wundt acredita que a psicologia comparada pode dar acesso aos mistérios psicológicos da religião (p.22). ÁVILA, A.B. Para conhecer a psicologia da religião. São Paulo, Editora Loyola, 2010. | Psicologia da Religião | FTSA20 3.2. Psicanálise - Sigmund Freud Freud, o pai da psicanálise, era médico neurologista e importante psicólogo austríaco. Em sua obra temos livros dedicados somente a religião, apesar de já citar o tema desde suas primeiras cartas ao seu amigo Fliess em 1887. O primeiro destes livros é o Totem e Tabu, de 1912, a qual desenvolve, assim como Wundt, uma evolução da cultura religiosa e faz comparação entre os rituais de um obsessivo ao tabu de uma religião, encerrando suas contribuições de vida literária com o livro: Moisés e o monoteísmo (1939). Breve resenha Na presente obra Freud abraça os conceitos psicanalíticos para compreender o comportamento de um povo. O resultado é uma revolucionária investigação sobre as origens do judaísmo – a mais antiga das três grandes religiões monoteístas – a partir da fi gura de Moisés, líder religioso dos hebreus, que sempre o fascinara. O livro é composto por três ensaios – “Moisés, um egípcio”, “Se Moisés era um egípcio...” e “Moisés, seu povo e a religião monoteísta” – que foram publicados em conjunto pela primeira vez em 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial e da morte de Freud. Os textos propõem como principalindagação: Como os judeus se tornaram o que são e por que atraem para si ódio eterno? Freud procede à releitura de documentos históricos e da Bíblia para provar a origem estrangeira do povo judeu. Em tempos obcecados pela pureza étnica e pela identidade das nações, concluiu que a religião judaica tem uma origem fragmentária, inseparável do outro. E, apesar de centrar seu estudo na mais antiga das três religiões monoteístas, é fácil detectar no texto freudiano que suas teses são aplicáveis para muito além do judaísmo. FREUD, S. O homem Moisés e a religião monoteísta. Trad. de Renato Zwick. Porto Alegre: Editora LP&M, 2014. 21Psicologia da Religião | FTSA | 3.3. Escola de Psicopatologia francesa – P. Janet Pierre Marie Félix Janet, conhecido por Pierre Janet, foi um psicólogo, psiquiatra e neurologista francês que fi cou conhecido por um estudo clínico de uma paciente que possuía experiências místicas extraordinárias. Dentro da psicopatologia, Janet foi o autor que mais contribuiu para a Psicologia da Religião ao desenvolver uma teoria que compreendia a religião a partir de estudos de caso de estados religiosos extraordinários como o caso da paciente “Madeleine”. Ao se falar de religiosidade, Janet identifi cava o misticismo como uma patologia já que, em sua metodologia de análise de quadros clínicos, Janet costumava compará- los aos grandes místicos cristãos, a exemplo da comparação do caso da paciente “Madeleine” com Santa Teresa de Ávila, concluindo assim que “sob uma falsa consciência mística existia um caso de psicastenia ou seja, de uma neurose-obsessivo-compulsiva.” (Ávila, 2010, p.22). Conclusão Antes de concluirmos este capítulo, é importante lembrar que no cotidiano da vida, é comum escutamos o termo psicologia. Parece até que qualquer um entende um pouco sobre isso. Usamos o termo psicologia, no nosso cotidiano, com vários sentidos. Por exemplo, quando em nossa igreja ou vida ministerial nos deparamos com pessoas “comuns”, capazes de ouvir nossos problemas, dizemos que ele tem "psicologia" para entender as pessoas. Será essa a psicologia dos psicólogos? Certamente não. Essa psicologia, usada no cotidiano pelas pessoas em geral, é denominada de psicologia do senso comum. Mas nem por isso deixa de ser uma psicologia. O que estamos querendo dizer é que as pessoas, normalmente, têm um domínio, mesmo que pequeno da psicologia científi ca. Encerraremos com este pequeno vídeo onde trataremos de apresentar a Psicologia científi ca além da exposição da relação ciência/senso comum. | Psicologia da Religião | FTSA22 4. Terminologias Quando imergimos em nossos estudos acadêmicos, descobrimos um mundo diferente, cheio de novos conceitos, novas teorias, novas técnicas, metodologias e novas terminologias. O que muitos de nós não sabe é que nesse novo mundo há uma área de estudos que tem nas terminologias de cada ciência o seu objeto central de análise. De modo mais claro, falar de terminologias é falar de um conjunto de termos particulares utilizados por uma ciência específi ca. Ao longo da história da Psicologia da Religião muitos conceitos e termos técnico-científi cos foram sendo implementados, alguns à primeira vista pareciam ter o mesmo sentido, o mesmo signifi cado, outros se cruzavam em correntes similares embora representassem coisas diferentes, outros por falta de conhecimento avançado por parte de quem os aplicava foram mal colocados, outros interpretados equivocadamente, ou seja, em meio a essa diversidade de terminologias empregadas para designar o campo da psicologia que investiga o fenômeno religioso é que nos encontramos até os dias de hoje. Partindo desse contexto é que os autores Esperandio&Freitas (2017) dedicaram suas pesquisas nessa área, a fi m de tentar nos esclarecer as diferenças entre terminologias como: psicologia religiosa, psicologia da religião, espiritualidade, psicologia e religião, religiosidade, religião, dentre outros. Como foi possível observar anteriormente, ao longo da história da Psicologia da Religião, muitos estudiosos se destacaram sendo que de 1890 a 1920 aconteceu um movimento intelectual em torno da questão religiosa a partir das lentes da psicologia. Os precursores deste campo, mesmo de forma empírica-experimental, enxergavam na religião um objeto propício ao estudo científi co embora aconteça, até os dias atuais, um grande empasse entre o que é religioso e o que é secular, empasse este que gerado por confl itos advindos da negação das origens da psicologia ancoradas no cristianismo ocidental. Portanto, antes de passarmos à segunda unidade da disciplina, o que 23Psicologia da Religião | FTSA | faremos é situá-los nesse universo de terminologias para que vocês possam entender com mais propriedade como se deu a construção dessa ciência e mais que isso, para que, como pesquisadores, compreendam melhor como delimitar o tema, o objeto e a metodologia adequada para cada sub área ou área afi m que envolve os temas da psicologia e da religião. Saiba mais! [...] foi William James (1842-1910) quem fi cou conhecido como principal pioneiro em Psicologia da Religião. Publicou, em 1902, sua clássica obra The varieties of the religious experience (As variedades da experiência religiosa), resultantes de suas Conferências Gifford em 1896, e com uma abordagem pragmática de extensos e variados escritos e depoimentos religiosos. Nesta obra, James ressalta a distinção entre religião pessoal e religião institucional, tomando apenas a primeira como objeto de interesse psicológico, e que é, então, defi nida como “os sentimentos, atos e experiências de indivíduos em sua solidão, na medida em que se sintam relacionados com o que quer que possam considerar divino” (JAMES, 1902/1995, p. 31 e 32). Segundo sua perspectiva, o que realmente importa não é propriamente a falsidade ou veracidade da experiência religiosa vivida pelo indivíduo, mas sim o que ela signifi ca para ele e os frutos disso em sua vida (p.64). Outros pioneiros, por sua vez, intitularam suas obras, textos ou artigos com o termo psicologia acompanhado do adjetivo religiosa, como são os casos, por exemplo, de Theodore Flournoy (1854-1920), que publicou, em 1902, nos Archives de Psychologie, artigo intitulado Les principes de la psychologie religieuse (Princípios da psicologia religiosa) e, em 1903, suas Observations de psychologie religieuse (Observações de psicologia religiosa); ou ainda de James Leuba, que, em 1904, publica em L’année psychologique o artigo intitulado La psychologie religieuse (A psicologia religiosa). Mesmo cunhando a psicologia com este adjetivo, Flournoy propunha que o estudo psicológico da experiência religiosa deveria se dar por meio do que chamou de “exclusão metodológica do transcendente”, ou seja, de modo a não se pronunciar sobre a realidade ontológica de Deus ou de qualquer entidade a que se atribua a divindade, o sagrado, o numinoso, | Psicologia da Religião | FTSA24 ou outra dimensão que esteja para além da experiência humana. Na mesma linha, também Leuba (1904) tomava como objeto da chamada “psicologia religiosa” justamente a experiência religiosa tal como se dá na vida do indivíduo, não tomando como focos de investigação científi ca fatos supostamente objetivos ou sobrenaturais da religião ela mesma (p.64). [...] a partir da terceira década do séc. XX, a Psicologia da Religião não deixa de existir, mas perde em reconhecimento acadêmico científi co, mantendo-se frequentemente na marginal. Sob infl uência principalmente da Freud, Marx e Nietzsche, no contexto dos processos de secularização, a Psicologia da Religião passa a abordar seu próprio objeto com desconfi ança e suspeita. Ou seja, o religioso passa a ser escrutinizado e abordado pela perspectiva do sintoma, dos processos psicopatológicos e/ou associado ao obscurantismo. [...] As novas categorias “seculares” opõem-se às chamadas categorias “religiosas” do self, cercando-as de suspeitas e desconfi anças.Com isso, deslegitima a experiência religiosa — mesmo aquela que é vivida pelas pessoas como sendo de cunho genuinamente espiritual — ao trazer para o âmbito do psíquico tudo aquilo que, a rigor, do ponto de vista epistemológico, deveria ser deixado no âmbito teológico. Por outro lado, as “categorias religiosas” dentro da psicologia, embora não deixem de existir, acabam sendo marginalizadas, consideradas “menores”, “não científi cas” e epistemologicamente frágeis, porque adentram o universo da teologia. Afi nal, muitas delas também se pronunciam acerca da realidade ontológica do transcendente, mesmo que positivamente e também de modo indireto, no seu esforço de qualifi car a experiência vivida pelas pessoas como genuinamente religiosas. O impasse decorrente desta dicotomia, alimentada no seio da própria psicologia, acaba redundando em grande silenciamento acerca do assunto durante a formação profi ssional, como foi experimentado por gerações sucessivas de psicólogos formados a partir de meados do séc. XIX até às últimas décadas do século XX. E a ansiedade que acompanha este impasse, que era bem menos pronunciado entre os pioneiros deste campo, faz com que na contemporaneidade, mesmo que ainda mais conhecido como Psicologia da Religião, ele seja 25Psicologia da Religião | FTSA | frequentemente renomeado. Deste modo, este campo foi e tem sido, ainda hoje, com frequência reconceituado como “psicologia religiosa”, outras vezes como “estudos psicológicos e religiosos”, ou, mais recentemente, como “psicologia da espiritualidade”. Na esteira deste movimento que acompanha os processos de secularização, esta última nasce supostamente fundada numa divergência em relação à referência institucionalizada com que se costuma revestir o termo religião (p.65-66). ESPERANDIO, M.R.G. FREITAS, M.H. Psicologia da religião no Brasil. Curitiba, Editora Juruá, 2017. Exercício de Fixação - 04 Uma das competências vista nesta unidade foi a de conhecer a defi nição da Psicologia da Religião. Ao falar sobre a Psicologia da Religião, o autor Carrette (2012, p. 21-54) afi rma o seguinte: “A psicologia da religião é, de certo modo, a brilhante arte do cirurgião que corta os tendões que ligam o imanente ao transcendente, é a separação entre observação humana e especulação metafísica, entre dados empíricos e concepção fi losófi ca”. Diante do exposto, das alternativas abaixo, qual delas diz respeito ao sentido fi gurativo de “uma cirurgia” para considerar a Psicologia da Religião? (a) A Psicologia da Religião promove a distância entre o Criador e a Criatura. (b) A Psicologia da Religião explica o sentido da linguagem somente na experiência religiosa. (c) A Psicologia da Religião esclarece acerca da comunicação do divino com o ser humano. (d) A Psicologia da Religião relaciona a Sociologia com a Teologia. (e) A Psic. da Religião concede aos teólogos o signifi cado do mito e do rito. | Psicologia da Religião | FTSA26 GLOSSÁRIO De acordo com o dicionário online de português: IMANENTE: que faz parte de maneira inseparável da essência de um ser ou de um objeto; inerente. TRANSCENDENTE: que excede ou vai além da natureza física, concreta das coisas; metafísico: divindades transcendentes. De acordo com alguns autores contemporâneos, nessas últimas décadas as diferenciações entre religião e espiritualidade tornou-se parte de um debate profundo entre os pesquisadores interessados no fenômeno religioso sendo que, as discussões na área da psicologia resultaram até na mudança de nome na Associação Americana de Psicologia (APA) de Psicologia da Religião para Psicologia da Religião e da Espiritualidade. Contudo, a tendência à polarização entre os termos espiritualidade e religião ou religiosidade tem sido repensada, apesar de que muitos autores reconheçam que há aspectos positivos em defi nir de forma bastante precisa as terminologias, a integralidade entre os termos é algo latente. Esperandio&Freitas (2017) ao compilar artigos de diversos autores brasileiros que atuam na área da Psicologia da Religião, apresentam uma fi gura síntese elaborada pelos pesquisadores Freitas e Vilela (2017, p.97) a fi m de integrar as contribuições de diversos autores que tem investido nesta direção (p.69). Concepção de religiosidade Fonte: Reproduzido de Freitas e Vilela, 2017, p. 97. Nosso foco aqui não é aprofundar nessas terminologias e seus aspectos diferenciadores, apenas dar a conhecer que no campo da pesquisa em Psicologia da Religião no Brasil, estudos atualizados asseguram que a religião e a religiosidade estão relacionadas à referência ao transcendente, sendo que na religião, a resposta para o sentido da vida 27Psicologia da Religião | FTSA | é compartilhada e institucionalizada, enquanto que na espiritualidade a ênfase é na busca de sentido, que não necessariamente coincide com a busca religiosa, ou seja, há na espiritualidade a possibilidade de que a resposta para a demanda existencial do ser humano advenha de outra fonte, já que a pessoa pode por si só, se denominar arreligioso. GLOSSÁRIO De acordo com o dicionário online de português: RELIGIÃO: está relacionada ao transcendente e responde ao sentido da vida de forma compartilhada e institucionalizada. ESPIRITUALIDADE: não necessariamente coincide com a busca religiosa, a resposta para a demanda existencial do ser humano pode advir de outra fonte que não seja necessariamente a religião. Exercício de aplicação - 05 Considere o texto a seguir, escrito em contexto da experiência religiosa cristã. A fé exerce uma infl uência, ou até mesmo dominação, sobre cada um de nós, por causa da adesão feita a Jesus Cristo. Deve- se considerá-la como o carisma (dom) cuja força induz todos os fi éis à compreensão da promessa, ao exercício da obediência e ao cumprimento da missão. A fé, mais que qualquer outro dom, é o fi o condutor de energia divina para todos os receptores da esperança na volta do Ressuscitado, da variedade de serviços prestados ao socorro integral da vida humana, e, graciosamente, da ação redentora de toda a criação. A fé cristã é dinâmica e está sempre em constante movimento. Ela não deve ser um conteúdo de especulação, de dogmatismos insalubres, de pregações inférteis, de populismo sem oposição e de preferências teológicas. A fé cristã é um serviço gratuito às pessoas que necessitam da graça de Deus para compreender o amor, a salvação e a esperança. Todos os que | Psicologia da Religião | FTSA28 congregam com este sentimento submetem-se obedientemente à carismatização do Espírito, e, consequentemente, contribuem para a renovação da fé (ECP, Serviço carismático, 2017). Baseando-se no contexto da fé cristã, é possível admitir que a função da Psicologia da Religião é descrever e entender o desenvolvimento da religiosidade das pessoas a partir das experiências individuais e coletivas que as condicionam como comportamento. Diante disto, indique a alternativa que entende a fé cristã como comportamento: (a) A fé cristã é objeto de consumo dos fi éis e por isto deve ser especulada em todos os sentidos, inclusive nas mídias sociais. (b) A fé cristã é a única que dá sentido e signifi cado ao fenômeno religioso. (c) A fé cristã só pode ser exercida nas dimensões da atuação eclesiástica. (d) A fé cristã é um mito, que passa de geração em geração. (e) A fé cristã é o ingrediente que possibilita aos fi éis reinterpretar a experiência da vida humana. Conclusão Encerramos essa unidade esperançosos de que vocês tenham compreendido um pouco sobre as origens da Psicologia da Religião e seu diálogo interdisciplinar com a Teologia, das terminologias empregadas nesse território e da aplicabilidade dos conteúdos em vossos contextos, nos vemos na próxima unidade! Referências ÁVILA, A.B. Para conhecer a psicologia da religião. São Paulo: Editora Loyola, 2010. CALVANI, Carlos. E. Teologia da arte: espiritualidade, igreja e cultura a partir de Paul Tillich. São Paulo: Ed. Fonte Editorial;Ed. Paulinas, 2010. ESPERANDIO, M.R.G. FREITAS, M.H. Psicologia da religião no Brasil. 29Psicologia da Religião | FTSA | Curitiba: Editora Juruá, 2017. FREUD, S. O homem Moisés e a religião monoteísta. Trad. de Renato Zwick. Porto Alegre: Editora LP&M, 2014. JAMES, W. Variedades da Experiência Religiosa: um estudo sobre a natureza humana, São Paulo: Editora Cultrix, 1991. STARBUCK, E.D., The psychology of religion, an empirical study of the growth of religious consciousness. London, W. Scott.1899. Webgrafi a A&E, Television Networks. Disponível em: <https://www.history.com/ topics/immigration/history-of-quakerism IBGE, Agência de Notícias. Disponível em: <https://agenciadenoticias. ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/ releases/14244-asi-censo-2010-numero-de-catolicos-cai-e-aumenta-o- de-evangelicos-espiritas-e-sem-religiao>. Acesso em: 02 agosto 2018. O STATISTA, Portal das estatísticas. Disponível em: <https://www.statista. com/chart/4189/which-nationalities-consider-religion-most-important>. Acesso em: 02 agosto 2018. | Psicologia da Religião | FTSA30 Unidade II - Cenários e perspectivas da psicologia da religião 1. Psicologia da Religião em perspectiva global Introdução Essa unidade vai tratar sobre os cenários e perspectivas da Psicologia da Religião. Para tanto, nossa proposta pedagógica é conduzi-los ao estudo da psicologia do comportamento religioso a partir das percepções globais e locais. Nosso desejo é que ao término dessa unidade, você consiga cumprir com os seguintes objetivos: Objetivos da unidade II 1. Elucidar a Psicologia da Religião em perspectiva global; 2. Analisar como opera o sistema de sentido, a crença e o conhecimento; 3. Aclarar sobre a Psicologia da Religião no Brasil; 4. Exercer o enfoque etnopsicológico em Psicologia da Religião. Ao contrário do que muitos estudiosos afi rmaram, a religião não desapareceu, se observarmos a religião a partir do estudo dos processos psicológicos na religiosidade, percebemos que ela está bem presente em vários contextos e acontecimentos globais que acabam afetando o comportamento de grande maioria dos habitantes da terra. O episódio de 11 de setembro é a prova mais evidente que conhecemos, data onde aconteceram os atentados terroristas realizados pela Al-Qaeda contra as Torres Gêmeas e contra o Pentágono. Nesse atentado, os fundamentalistas islâmicos sequestraram aviões comerciais e lançaram- nos contra os alvos citados, resultando em milhares de mortos. O atentado de 11 de setembro foi organizado por membros da Al-Qaeda durante anos e inserido dentro do conceito de jihad (ideia de guerra santa que faz parte da religião islâmica e que é explorada pelos grupos fundamentalistas). O ataque foi muito bem planejado e usou 19 terroristas para sequestrar os aviões comerciais e cumprir seus propósitos. 31Psicologia da Religião | FTSA | O cenário de 11 de setembro mostrou que a religião não pode mais ser ignorada e que a análise do comportamento humano a partir das lentes da psicologia da religião deve partir de uma perspectiva global já que, sempre e quando tragédias dessa natureza acontecem na esfera global, a religião imediatamente volta à vida pública em muitos países ocidentais onde a fé havia sido relegada na esfera privada. Saiba mais! O termo "jihadista" é usado frequentemente no meio acadêmico ocidental, sobretudo depois dos ataques de 11 de setembro de 2001 para diferenciar os muçulmanos sunitas que não se comportam violentamente dos que são violentos. Os jihadistas entendem que a luta violenta é necessária para erradicar obstáculos para a restauração da lei de Deus na Terra e para defender a comunidade muçulmana, conhecida como umma, contra infi éis e apóstatas (pessoas que deixaram a religião). Muitos muçulmanos não usam o termo "jihadista" porque eles acreditam que se trata de uma associação incorreta entre um conceito religioso nobre e a violência ilegítima, portanto, eles preferem o termo "pervertidos" para fazer referência aos muçulmanos que apresentam comportamentos violentos pois se desviaram dos ensinamentos religiosos. BBC NEWS, Brasil. O que é o jihadismo? Disponível em: https://www. bbc.com/portuguese/noticias/2014/12/141211_jihadismo_entenda_cc Acesso em: 10.08 2018. Exercício de reflexão - 06 No podcast anterior, escutamos a afi rmação do antropólogo Scott Atran, ao comentar sobre o comportamento dos jovens terroristas do 11 de setembro. Atran fez a seguinte análise: “Esses jovens, nesse estágio da vida estão buscando ter um signifi cado, amigos, glória e aventura", afi rmando então que "As ideologias radicais falam a essas necessidades." Refl etindo a partir da fé cristã, como responder à busca pelo sentido da vida de muitos jovens que anelam encontrar um signifi cado para sua existência? 1. Psicologia da | Psicologia da Religião | FTSA32 1. Religião em perspectiva global No estudo do comportamento humano encontramos a religiosidade, e não há dúvida que a pesquisa sobre os fatores religiosos em psicologia advém de uma necessidade conjunta de solucionar problemas desde uma perspectiva individual, cultura, territorial e sobretudo global, portanto, considerado esta lógica, Raymond F. Paloutzian elencou 4 pontos importantes que, segundo o autor, são os pontos-chave para uma melhor compreensão global do tema: (1) As evidências e um instantâneo de uma psicologia da religião atual e globalizada. (2) Uma explicação das questões enraizadas no que a religião, religiosidade e espiritualidade são ou não são como um destaque a conceitos como o do “sagrado” são imprescindíveis para fi ns de conhecimento psicológico. (3) Uma argumentação sobre a razão de conceituar a psicologia da religião em termos de investigação da psicologia de sistemas de signifi cados pode ajudar a sintetizar os nossos conhecimentos e clarifi car a razão por que é um erro confundir crença com conhecimento. (4) Uma explicação do motivo pelo qual a investigação nesta área pode se aplicar bem mais à psicologia multinivelar bem como à psicologia interdisciplinar e multicultural (ESPERANDIO, M.R.G. FREITAS, M.H. Psicologia da religião no Brasil. Curitiba, Editora Juruá, 2017. p.26-27). GLOSSÁRIO: SAGRADO - (do termo latino sacratu) refere-se a algo que merece veneração ou respeito religioso por ter uma associação com uma divindade ou com objetos considerados divinos. [1] FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1536. Dar atenção aos processos envolvidos na religiosidade, tendo em vista que o comportamento humano está ligado a ela, seja para o bem, seja para o mal, é de suma importância. Em psicologia, a relação do 33Psicologia da Religião | FTSA | ser humano com o sagrado, que coaduna com aquilo que chamamos de experiência religiosa, faz referência à experiencia da realidade, da presença e da atividade de um Ser Supremo, do Sagrado, ou de Deus, ou seja, a experiência religiosa é a resposta primária do indivíduo, em termos cognitivos e emocionais, a qualquer coisa que ele considere divina, sendo então essa experiência a base das práticas religiosas. Neste sentido, a experiência religiosa refere-se ao encontro momentâneo ou na totalidade de vida com Deus de um indivíduo e suas práticas religiosas podendo o tipo ou o conteúdo destas experiências variar muito, sendo a presença ou a experiência do Divino o elemento que defi ne ou delimita a experiência religiosa. Exercício de fi xação - 07 Para fi ns de conhecimento psicológico, alguns conceitos como “sagrado” e “experiência religiosa” merecem destaque, portanto, desde as lentes da psicologia, qual das alternativas abaixo faz referência à experiência religiosa? (a) A experiência religiosa é a resposta do imaginário social em termos cognitivos e emocionais à cultura do sagrado. (b) A experiência religiosa é, em termos cognitivos e emocionais, qualquer coisa que o ser humano considere profano. (c)A experiência religiosa é a resposta primária do indivíduo, em termos cognitivos e emocionais, a qualquer coisa que ele considere divina, sendo então essa experiência a base das práticas religiosas. (d) A experiência religiosa não é a base das práticas religiosas. (e) A experiência religiosa responde de forma global a qualquer expressão do divino, sendo os fatores culturais os que se sobrepõe à cognição e emoção. | Psicologia da Religião | FTSA34 GLOSSÁRIO 1. Cognição: é uma expressão que está relacionada com o processo de aquisição de conhecimento. A cognição envolve fatores diversos como o pensamento, a linguagem, a percepção, a memória, o raciocínio etc., que fazem parte do desenvolvimento intelectual. 2. Emoção: é uma resposta do nosso organismo diante de um estímulo externo. As relações com os demais ou os acontecimentos que nos rodeiam causam um impacto, do qual é traduzido em algum tipo de emoção. 1.1. Religião em conceito psicológico Alguns autores afi rmam que a religião é um conceito cultural complexo e não um conceito psicológico, portanto, outras áreas do saber como a Antropologia, a História até conseguem defi nir religião, mas para que se consiga captar os processos psicológicos importantes para a construção de um conceito que explique a religiosidade como um comportamento humano é algo que ainda não está defi nido para fi ns de conhecimento psicológico. O psicólogo Malony (1980) talvez seja o pesquisador que mais conseguiu exemplifi car de forma afi rmativa a religião ao dizer que “A religião pode ser Deus, o País ou Yale!”. Segundo os psicólogos Esperandio e Freitas (2017), não há acordo nos vários campos acadêmicos sobre a defi nição de religião, a saber: [...] alguns afi rmam que a essência da religião é a crença em um deus ou outros agentes sobrenaturais, a prática de rituais ou uma experiência especial relacionada ao divino, mas os estudiosos das ciências da religião testaram essas ideias por cerca de cem anos, e falharam (ESPERANDIO, M.R.G. FREITAS, M.H. Psicologia da religião no Brasil. Curitiba, Editora Juruá, 2017. p.30) 35Psicologia da Religião | FTSA | 1.2. Espiritualidade em conceito psicológico Embora muitas pessoas façam confusão entre espiritualidade e religião, afi rmando até que a primeira substitui a segunda, recentemente o conceito de espiritualidade passou a fazer referência a uma ampla gama de crenças e práticas, sendo que algumas podem ou não incluir crenças em estados ou entidades de outro mundo. Saiba mais! A espiritualidade pode ser defi nida como uma "propensão humana a buscar signifi cado para a vida por meio de conceitos que transcendem o tangível, à procura de um sentido de conexão com algo maior que si próprio". A espiritualidade pode ou não estar ligada a uma vivência religiosa. Segundo diversas confi ssões religiosas, a espiritualidade traduz o modo de viver característico de um crente que busca alcançar a plenitude da sua relação com o transcendental. Cada doutrina religiosa comporta uma dimensão específi ca a esta descrição geral; mas, no aspecto religioso, pode- se traduzir a espiritualidade como uma dimensão do homem, como um ser naturalmente religioso, e que constitui, de modo temático ou implícito, a sua mais profunda essência e aspiração. Alguns autores, porém, defendem a existência de uma espiritualidade inclusive em meio ao ateísmo. André Comte-Sponville fala de uma "espiritualidade sem Deus" no sentido de uma abertura para o ilimitado, um reconhecimento de sermos seres relativos, mas abertos para o absoluto. Seria o reconhecimento da dimensão misteriosa e ilimitada da existência, que não precisaria passar por alguma explicação religiosa; uma experiência que vai além do intelecto. GUIMARÃES, Helio P., AVEZUM, Álvaro. O impacto da espiritualidade na saúde física. 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rpc/v34s1/ a12v34s1.pdf Acesso em:15/10/2018. | Psicologia da Religião | FTSA36 1.3. Sagrado em conceito psicológico No conceito popular, o Novo dicionário da língua portuguesa refere-se a palavra sagrado como algo que merece veneração ou respeito religioso por ter uma associação com uma divindade ou com objetos considerados divinos, não obstante, nosso foco de interesse ao falar sobre o conceito psicológico de sagrado é ressaltar a experiência com o sagrado como algo fundamental na vida das pessoas; compreendendo que se fosse necessário renunciarmos a ela, a vida se tornaria limitada da experiência de viver o eu de forma mais profunda. A experiência subjetiva com o sagrado é relacional, portanto, ao encobrir de objetividade a relação, o ser humano acaba trilhando um caminho difi cultoso para que o sagrado surja e, para reverter essa situação, precisará sair da sua ilusão de segurança e se permitir aventurar pelo mistério, e assim, a relação com o sagrado será estabelecida pela pessoa em sua totalidade. O austríaco Martin Buber, em sua obra Eu e Tu, ao falar sobre a relação entre o ser humano e o sagrado, afi rma que não se trata de uma dependência da criatura perante o criador, mas de uma relação que oferece reciprocidade. A continuação, veremos uma breve resenha sobre o clássico Eu e Tu. BREVE RESENHA Martin Buber nasceu na cidade de Viena, Áustria, em 8 de fevereiro de 1878. Ao morar com seus avós paternos em Lemberg, na Galícia, e doutor em Filosofi a pela Universidade de Berlim. Em 1923 foi professor na Universidade de Frankfurt, sendo destituído do cargo em 1933 pelos nazistas. Em 1938 ensinou Sociologia na Universidade Hebraica de Jerusalém. Aos 60 anos, Buber já se encontrava com um arcabouço teórico enriquecedor, aprofundando-se em diversas áreas, como: estudos sobre a Bíblia, estudos políticos, sociológicos e fi losófi cos. Entre as suas infl uências, encontram-se alguns fi lósofos como Immanuel Kant, Soren Kierkegaard e Friedrich 37Psicologia da Religião | FTSA | Nietzsche. Martin Buber faleceu aos 87 anos na data 13 de junho de 1965. O livro “Eu e Tu” foi publicado em 1923, no período em que residiu na Alemanha, considerado sua obra mais densa e que possibilita fundamentar as obras posteriores. A fi losofi a do diálogo (EU E TU) é o ponto central de toda a sua refl exão, motivado principalmente pelo Hassidismo. Nota-se que o seu pensamento e a sua refl exão estão indissociáveis com a práxis. Na primeira parte da obra, o autor ressalta que não existe o Eu por si mesmo, mas, o Eu das palavras-princípio EuTu e Eu-Isso. Na segunda parte do livro o autor afi rma que de forma alguma o outro (Tu) deve se tornar um objeto (Isso). É evidente que a fi losofi a de Martin Buber (2001, p. 84) busca principalmente na segunda parte de “Eu e Tu”, apresentar a fi nalidade da existência humana fundamentada na práxis, fazendo-se necessária a presença do espírito tanto na vida pessoal do ser humano, quanto na vida coletiva. Todavia, o autor deixa claro que não deve ser essa espiritualidade debilitada que vemos atualmente, mas, a verdadeira “[...] essência do espírito, a faculdade de dizer Tu”. Na terceira parte do livro “Eu e Tu”, Buber esclarece que todas as relações se concretizam em um Tu eterno. Ressalta também, que possuímos um Tu inato, onde se consuma inteiramente no diálogo com o Tu, que, por sua vez, de forma alguma vem a se tornar um Isso. Os homens constantemente buscam o seu Tu eterno sob diversos nomes. Em relação a isso, Buber esclarece que é errôneo apontar um nome correto para Deus, pois, todos que invocam a Deus, independente do nome utilizado, buscam sempre o mesmo Tu eterno. Destaca também, que não apenas se fala sobre Deus, mas, se conversa com Ele. Por fi m, Buber salienta que diálogo entre a criatura e o criador não se trata de uma dependência da criatura perante o criador, mas de uma relação que oferece reciprocidade, em que assim como a criatura necessita do criador, o criador necessita da criatura. BUBER, Martin. Eu e Tu. Tradução do alemão, introdução e notas por Newton Aquiles Von Zuben.10. ed. São Paulo: Centauro, 2001. | Psicologia da Religião | FTSA38 2. Sistema de sentido, crença e conhecimento 2.1. Sentido Já sabemos que a necessidade de transcendência, de espiritualidade ou de sentido é comum nos seres humanos. Alguns autores recorrem à etimologia da palavra “sentido” para explicar o uso dos termos espiritualidade ou transcendência. Etimologicamente a palavra sentido origina-se do latim sensus, que remete à percepção, signifi cado, sentimento, ou ao verbo sentire que signifi ca perceber, sentir ou saber. Embora os termos sentido e signifi cado sejam entendidos como sinônimos, os autores Tolfo e Piccinini (2007, p. 40) diferenciam sentido de signifi cado, defi nindo signifi cado como a representação social que algo executado tem para quem o executa e sentido como o valor que o que foi feito possui para o indivíduo no âmbito pessoal, sua satisfação e autorrealização. Glossário SIGNIFICADO: representação social que algo executado tem para quem o executa. SENTIDO: valor que o que foi feito possui para o indivíduo no âmbito pessoal, sua satisfação e autorrealização. Um dos autores que escreveu sobre a busca de sentido do ser humano foi o psiquiatra Viktor Emil Frankl, austríaco, fundador da escola da Logoterapia, que explora o sentido existencial do indivíduo e a dimensão espiritual da existência. Em seu livro A Busca do Homem por Sentido (publicado pela primeira vez em 1946), Frankl fala sobre as experiências que teve como interno de um campo de concentração. O psiquiatra descreveu seu método psicoterapêutico para encontrar sentido em todas as formas de existência e, a partir do sentido, uma razão para seguir vivendo. Em suas próprias palavras "O ser 39Psicologia da Religião | FTSA | humano, por força de sua dimensão espiritual, pode encontrar sentido em cada situação da vida e dar-lhe uma resposta adequada”. É certo que os ser humano possui a necessidade de estar em meio àquela tensão estabelecida entre ele mesmo (de um lado) e o sentido que ele deve realizar (do outro). É óbvio que o ser humano não procura as tensões pelas tensões, mas, em particular, procura mais realizações que confi ram sentido à sua existência. Portanto, o sentido da vida é entendido como aquilo "que se tenciona, seja por uma pessoa que me pergunta algo, seja por uma situação que encerra uma pergunta e clama por resposta" (Frankl, 2011, p. 81). Quando o ser humano é poupado de tensões ele acaba criando uma tensão, a ponto de se expor a situações estressantes, mesmo que momentâneas, a exemplo da situação de stress pontual produzido pelo o esporte. Exercício de aplicação - 08 Em seu livro A Busca do Homem por Sentido da Vida, Frankl (1946) afi rmou com suas próprias palavras que: [...] o ser humano, por força de sua dimensão espiritual, pode encontrar sentido em cada situação da vida e dar-lhe uma resposta adequada”. De acordo com as palavras de Frankl, como colocar em prática a força da nossa dimensão espiritual em meio às tensões do dia a dia? (a) buscando controlar as situações de stress que aparecem. (b) orando com mais frequência. (c) realizando trabalhos sociais. (d) procurando mais realizações que confi ram sentido à sua existência. (e) identifi cando quais as necessidades do cotidiano que precisam de prioridade. | Psicologia da Religião | FTSA40 Para compreender melhor sobre o sentido da vida à luz de Victor Frankal, convido vocês a assistirem um fragmento de uma entrevista feita com o médico psiquiatra austríaco, fundador da escola da logoterapia, que explora o sentido existencial do indivíduo e a dimensão espiritual da existência a partir de seus estudos. É certo que os processos de construção de sentidos são muitas das vezes automáticos, ou seja, poucas são as vezes que se tem consciência disso, porém, é importante que não façamos confusão entre a necessidade de fazer sentido com uma necessidade de sentido pois o argumento de que as pessoas necessitam construir sentidos se baseia no princípio de que os seres humanos necessitam de um sistema de sentido compreensível que funcione bem tanto no nível psicológico quanto no nível biológico. Ao conceituar os sistemas de sentido, Park (2010, 2013) afi rma que os sistemas de sentido são: [...] amplas molduras mediante as quais as pessoas atentam e percebem estímulos; organizam os seus comportamentos; conceituam a si mesmas, os outros e as relações interpessoais; relembram o passado; e imaginam e antecipam o futuro. Por fi m, dado a importância e essencialidade do sistema de sentido em satisfazer demandas específi cas do ser humano como o controle, o domínio, a coerência, a identidade, as respostas existenciais e as orientações para o comportamento, se faz necessário que o sistema de sentido funcione adequadamente para um funcionamento humano saudável. 41Psicologia da Religião | FTSA | 2.2. Crença A crença é algo que se desenvolve na maioria das vezes durante e infância e que, durante o decorrer da vida, vai sendo reafi rmada. As crenças podem ser negativas ou positivas, sendo que uma pessoa pode acreditar que ela é forte ou fraca, que ela é capaz etc. As crenças positivas podem ser mantidas por bastante tempo, salvo quando uma afl ição psicológica traga à tona as crenças negativas originadas em algum momento da infância da pessoa. As crenças negativas normalmente estão associadas ao desamparo e ao fato de não ser amado/a, são conclusões desenvolvidas em situações traumáticas, a exemplo de uma criança que foi violentada pelo pai, esta pode concluir que isto aconteceu porque ela é uma criança má, e assim acaba mantendo a crença durante toda vida mesmo que na idade adulta entenda que adultos não devem espancar crianças. Esse tipo de situação implica na autoestima do ser humano, já que nem sempre a crença é algo percebido conscientemente. Para compreender um pouco melhor sobre o que é a crença, o vídeo a seguir tratará de apresentar de forma simples e objetiva o que se entende por crença a partir das lentes da psicologia. Com relação a crença e o sentido, é afi rmativo dizer que a crença é um sentido que foi produzido, o processo de crer é o processo de dar sentido a uma informação. Portanto, uma crença é o que há na mente humana a partir do momento em que os processos do sistema de sentido produziram alguma coisa. Outra característica peculiar das crenças é que elas não são estáticas, elas fl uem e podem atingir a mudança em algum outro lugar no sistema. Sendo assim, a partir de uma análise psicológica, é viável compreender os processos de crença e não a crença em si. | Psicologia da Religião | FTSA42 Saiba mais! As pessoas acreditam no que elas afi rmam conhecer. Como exemplos, as pessoas podem aceitar como “conhecimento que Jesus ressuscitou dos mortos, que Maomé ouviu lá falar a ele e dentro de uma caverna por vinte anos, que Moisés ouviu Deus falar de um arbusto em chamas mas não queimava, ou que Deus não existe e não há nada além deste mundo material. Mas elas não conhecem estas coisas - embora possam numa delas a ponto de morrer por ela. Se este ponto é ou não tido como uma afronta às crenças pessoais e talvez profundas de alguém, é crucial entender a diferença entre crer e saber. A ilustração a seguir pode esclarecer a diferença e o porquê da sua importância. Não há distorção dos fatos se alguém diz “tive um sonho esta noite em que eu tinha uma imagem mental de alguém e a voz de alguém que disse ser o anjo Gabriel. Então agora eu creio que Gabriel falou comigo. Uma declaração estruturada dessa forma é acurada; rotula uma crença relativa à memória de um evento mental enquanto criança não enquanto fato e não enquanto conhecimento, No entanto, se a frase tivesse acrescentado [...] então agora eu sei o que Deus quer que eu faça porque o anjo me disse [...] o valor da verdade dessa declaração teria mudado. Já não é preciso ou confi ável se por “saber” o falante pretende que alguém mais esteja obrigado ou deva pensara mesma coisa que pensa o falante. Neste caso o que é “conhecido” é apenas do espaço privado. É algo que não é transmissível a ninguém mais; assim, ninguém é obrigado a aceitá-lo como válido e estar a ele vinculado. A única coisa que alguém mais sabe é “isso é o que a outra pessoa diz”. A lição para nós é assegurar que destrinchemos com cuidado as alegações do conhecimento das pessoas. Sejamos meticulosamente claros acerca do processo de crer versus ter conhecimento. A diferença é muito importante - para cada pessoa individualmente e para todas as pessoas em toda a parte, especialmente em circunstâncias em que uma pessoa alega ter conhecimento de Deus e visa impô-lo a outra pessoa ou a todas as outras pessoas (p.37-38). ESPERANDIO, M.R.G. FREITAS, M.H. Psicologia da religião no Brasil. Curitiba, Editora Juruá, 2017. 43Psicologia da Religião | FTSA | 2.3. Conhecimento O conceito de conhecimento abrange diversas esferas tais como: o mundo dos negócios, as ciências, a educação, a política e a religião, de sorte que seja impossível ignorar a essência fi losófi ca existente por trás do termo. Para entender o conceito de conhecimento e como ele está presente em diferentes áreas da vida de qualquer pessoa, é importante identifi car a origem da palavra. Conhecimento é um termo que vem do latim cognoscere e signifi ca o ato ou efeito de conhecer. Também podemos chamar de conhecimento o processo pelo qual os seres humanos adquirem um saber intelectual ou a consciência que cada indivíduo tem da sua própria existência, além disso, refere-se a conhecer ou conhecimento, a relação entre indivíduos que, embora não tenham laços de amizade, mantêm contatos sociais Conforme já citado anteriormente, a essência fi losófi ca do conceito de conhecimento foi desenvolvida pelo fi lósofo Platão, discípulo de Sócrates, para ele, o conhecimento se conceitua como o conjunto de informações adquiridas por meio de um processo de aprendizagem ou experiência. Pode que muitos de vocês estejam se perguntando o porquê de fazermos alusão à fi losofi a se nosso foco é a análise do fenômeno religioso a partir das lentes da psicologia? A resposta é simples e já foi tratada na primeira unidade, porém sempre é bom recordar que a psicologia não surgiu diretamente como uma ciência, ela começou como um ramo da fi losofi a e continuou por cerca de 2000 anos antes de emergir como uma ciência. O termo psicologia foi encontrado pela primeira vez em livros fi losófi cos do século XIV. Ao contrário das crenças e opiniões, o conhecimento é aquilo que é essencialmente verdadeiro (episteme). Seguindo com Platão, o conhecimento se difere das crenças e opiniões precisamente porque estas tendem a ignorar a verdadeira realidade. O fi lósofo entende que a crença e a opinião são baseadas em observações prováveis ou aparentes e que o conhecimento não ignora o real. | Psicologia da Religião | FTSA44 Glossário: Conhecimento: aquilo que é essencialmente verdadeiro; difere das crenças e opiniões porque estas tendem a ignorar a verdadeira realidade. 3. PR em perspectiva brasileira 3.1. Precursores Na unidade I tratamos de compreender que Psicologia da Religião consiste no estudo do comportamento religioso, isto é, do comportamento que se refere a um objeto transcendente, denominado “Deus” na cultura ocidental, sendo que esse comportamento pode ser de aceitação ou de rejeição do objeto transcendente, e esse objeto pode receber diversas outras denominações, além da predominante na cultura do ocidente. É importante não somente conhecer a PR em términos globais, portanto, nossa tentativa neste capítulo é aproximá-los à história e contribuições da PR no Brasil, já que esta completou recentemente 60 anos, se tomarmos como início o artigo do padre Antal Benkö escrito em 1956, publicado na Revista de Psicologia Normal e Patológica cujo título foi Um ensaio de exame psicológico de seminaristas. Pe. Benkö foi um sacerdote jesuíta e um dos responsáveis pela fundação do Departamento de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. O padre Antonius Benkö (nome de Batismo Antal Benkö) nasceu em 1920 em Parks, na Hungria. Em 1944, iniciou o curso de Licenciatura em Teologia em Szeged, onde fi cou até 1946, concluindo-o em 1948 na Pontifícia Universidade Gregoriana, 45Psicologia da Religião | FTSA | em Roma. Foi ordenado sacerdote em 1947. De 1949 a 1951 cursou Licenciatura em Psicologia, concluindo com o trabalho sobre o teste de Szondi, na Universidade Católica de Louvain. Ness mesma Universidade concluiu a Licenciatura em Filosofi a em 1950 e fez doutorado em Psicologia Aplicada, investigando o exame psicológico dos candidatos à vida sacerdotal (1954). Fixou-se no Brasil em 1954, passando a lecionar na Faculdade de Filosofi a Nossa Senhora Medianeira, em Nova Friburgo, até 1959. Entre 1958 e 1959, fez pós- doutorado na Universidade Loyola, em Chicago e na Universidade de Fordham, Nova Iorque. Em 1957, Padre Benkö passou a dirigir o Instituto de Psicologia Aplicada (IPA) a convite do Reitor da PUC-RJ, Pe. Alonso, com o objetivo de reformulá-lo. O curso de Psicologia da Santa Casa acabou sendo transferido para o Campus da Gávea. Sua estrutura e duração foram modifi cadas e introduzida a disciplina de Psicanálise, com o nome de Psicologia Profunda. Em 1960 criou o Centro de Orientação Psicopedagógica (COPP), origem do atual serviço de Psicologia Aplicada. Foi Vice-Presidente (1964) e Presidente (1967) da Associação Brasileira de Psicologia Aplicada. De março a outubro de 1966, lecionou na Universidade de Brasília. Em 1966, deixou a direção do IPA. Em 1975 foi para a Áustria, renunciando à cidadania brasileira adquirida em 1959, para naturalizar-se austríaco. Desde 1996 lecionava na Universidade Católica Pázmány Peter, em Budapest. A revista de Psicologia Normal e Patológica foi o principal veículo de seus escritos no Brasil. A Prof. Vera Candau, do Departamento de Educação da PUC-Rio, recorda que “o Padre Benkö foi uma pessoa muito especial. Sereno, atencioso e com uma visão de futuro, foi fundamental para a Pós-graduação em Ciências humanas da PUC”. O Padre Antonius Benkö teve mais de 20 livros e artigos publicados. Faleceu em 24 de novembro de 2013 em Budapest, na Hungria, aos 93 anos. Dispponível em: http://www.archivioradiovaticana.va/storico/2013/11/27/faleceu_aos_93_anos_ pe_benk%C3%B6,_co-respons%C3%A1vel_pela_funda%C3%A7%C3%A3o_do_ depto/bra-750592 | Psicologia da Religião | FTSA46 3.2. Início das pesquisas Em se tratando de publicações e pesquisas feitas no Brasil no campo da PR, um estudo realizado de 2001 a 2005, pretendeu examinar a produção em PR analisando 25 periódicos científi cos conseguindo verifi car quais foram as tendências da pesquisa em PR no Brasil. A primeira delas é o número ascendente de estudos publicados, com exceção da década de 1970. A segunda é a constante multiplicidade de temas específi cos em PR. A terceira é a predominância, na temática, da discussão conceitual. A quarta é o emprego progressivamente mais disciplinado das teorias psicológicas e a última, o crescente rigor metodológico das pesquisas publicadas. O gráfi co a seguir, apresenta a frequência dos artigos publicados até 2005. A PR no Brasil surgiu infl uenciada pelos europeus. Profi ssionais da área médica e da psicologia foram os que dirigiram em 1950, em São Paulo, o Departamento de Psicologia da Religião da PUC, sendo o médico italiano Enzo Azzi da PUC quem fez o convite ao psicólogo holandês Theo van Kolck para levar a cabo o departamento na PUC Rio. 47Psicologia da Religião | FTSA | Em 1950 também se criou a Associação de Psicologia Religiosa, que, embora fosse uma associação de psicologia religiosa, acorpava psicólogos, médicos, antropólogos e sacerdotes, sob a direção do psicólogo holandês Theo van Kolck. Na década de 1960 foram organizados pela associação algumas reuniões que tratavam temas sobre a estrutura da personalidade
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