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Resumo: Filme Tempos Modernos

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OS TEMPOS MODERNOS DE CHARLES CHAPLIN
João Bosco Ferreira Brandão (Universidade Federal de Goiás)
 A CARLITO
 Carlos Drummond de Andrade
Velho Chaplin:
as crianças do mundo te saúdam.
Não adiantou te esconderes na casa de areia do setenta anos
 refletida no lago suíço.
Nem trocares tua roupa e sapatos heróicos
pela comum indumentária mundial.
Um guri te descobre e dia: Carlito
C A R L I T O – ressoa o coro em primavera.
Homens apressados estancam. E readquirem-se.
Estavas enrolado neles como bola de gude de quinze cores,
concentração do lúdico infinito.
Pulas intato da algibeira.
Uma guerra e outra guerra não bastaram
para secar em nós a eterna linfa
em que, peixe, modulas teu bailado.
O filme de 16 milímetros entra em casa
por um dia alugado
e com ele a graça de existir
mesmo entre os equívocos, o medo, a solicitude mais solita.
Agora é confidencial o seu ensino,
pessoa por pessoa, 
ternura por ternura,
e desligado de ti e da rede internacional de cinemas,
o mito cresce.
O mito cresce, Chaplin, a nossos olhos
feridos do pesadelo cotidiano.
O mundo vai acabar pela mão dos homens?
A vida renega a vida?
Não restará ninguém para pregar
o último rabo de papel na túnica do rei?
Ninguém para recordar
que houve pelas estradas um errante poeta desengonçado,
a todos resumindo em seu despojamento?
Perguntas suspensas no céu cortado
de pressentimentos e foguetes
cedem à maior pergunta
que o homem dirige às estrelas.
Velho Chaplin, a vida está apenas alvorecendo
e as crianças do mundo te saúdam.
(Poesia transcrita do livro Lição de Coisas, 1962)
“...para oprimir uma classe é preciso poder garantir-lhe condições tais que lhe 
permitam pelo menos uma existência de escravo”. (Karl Marx, Manifesto do 
Partido Comunista)
 “Tempos Modernos” foi produzido, dirigido, escrito e estrelado por Charles 
Chaplin em 1936. Neste filme, Chaplin retrata a situação do proletariado americano 
pós-grande depressão de 1929. Numa obra cheia de reviravoltas o diretor expõe seu 
ponto de vista em relação à economia, à vida das classes trabalhadoras e a opressão da 
sociedade de consumo. Este foi o filme de transição do cinema mudo para o falado (o 
filme tem a trilha sonora composta pelo próprio Chaplin, mas as personagens principais 
não falam). E também foi a última vez em que a personagem Carlitos apareceu nas 
telas. 
Em 1927 o filme “O cantor de jazz” estreou nos cinemas. O que parecia ser 
somente mais um musical como tantos outros que eram produzidos naquela época 
trouxe uma inovação inimaginável que arrebatou as platéias do mundo todo: o som. A 
novidade que encantou os espectadores também decretou a pena capital para os filmes 
mudos. Estes que sempre fizeram parte do dia-a-dia das pessoas desde que os irmãos 
Lumiére primeiro apresentaram sua invenção, tornando-se uma das maiores fontes de 
entretenimento e de renda principalmente nos Estados Unidos, tinham que agora se 
adaptar a essa inovação tecnológica. Todos os grandes comediantes seguiram a corrente, 
os irmãos Marx, Harold Lloyd, Buster Keaton e Laurel e Hardy. Menos um. Charles 
Spencer Chaplin.
Charles Chaplin nasceu na Inglaterra e desde que pös os pés nos Estados Unidos 
tornou-se um dos maiores fenömenos da comédia no cinema que ainda engatinhava. 
Chaplin criou um personagem que conseguiu a empatia de todos que assistiam as suas 
aventuras. O pequeno vagabundo representava a sociedade enfrentando as autoridades, 
pregando em seu silêncio mensagens de igualdade, buscando a felicidade na forma de 
um amor impossível ou simplesmente em um simples prato de comida. Carlitos que 
nunca havia dito uma única palavra agora estava num grande dilema: falar ou não falar. 
De início, Chaplin considerava um ponto fora de questão. Se o personagem falasse, 
morreria. Mas o seu gënio criativo fez com que na última aparição nas telas do 
personagem mais querido do cinema ele falasse e ao mesmo tempo não dissesse nada. O 
filme em questão era “Tempos Moderno” (Modern Times, 1936), um filme de transição 
dentro da carreira do diretor.
 O projeto iniciou-se em 1934. Chaplin que normalmente não se utilizava de 
roteiros (o filme era escrito durante as próprias filmagens) decide primeiramente 
finalizá-lo e depois iniciar as mesmas. Toda produção durou dois anos e este entrou em 
cartaz em 1936, no início de fevereiro. Como de costume, Chaplin dirigiu, produziu, 
atuou, escreveu o roteiro e compôs a trilha sonora. A idéia da criação da estória surgiu 
em uma viagem a Europa onde Chaplin estava lançando o filme “Luzes da cidade” (City 
Lights, 1931). Após várias conversas com políticos, dentre eles Winston Churchill, ele 
volta para a América com fortes impressões a respeito da situação política do velho 
continente, pois naquele momento crises se refletiam por todo mundo capitalista, 
contribuindo para o fortalecimento do nazifascismo europeu. Já em casa fica sabendo da 
atual situação nas fábricas de automóveis de Detroit e de como jovens após quatro anos 
de trabalho acabavam tendo crises nervosas. Descobre também que cada vez mais os 
camponeses estavam buscando a vida na cidade, deixando o campo atrás de 
oportunidades nos grandes centros urbanos. Diante de tal realidade o governo presidido 
por H. Hoover, a quem os trabalhadores apelidaram de "presidente da fome", procurou 
auxiliar as grandes empresas capitalistas, representadas por industriais e banqueiros, 
nada fazendo, contudo, para reduzir o grau de miséria das camadas populares. Nos 
Estados Unidos em 1932 era eleito pelo Partido Democrático o presidente Franklin 
Delano Roosevelt, um hábil e flexível político que anunciou um "novo curso" na 
administração do país, o chamado “New Deal”. A prioridade do plano era recuperar a 
economia abalada pela crise combatendo seu principal problema social: o desemprego. 
“Tempos Modernos fala sobre a busca da felicidade...” Esta é uma das frases que 
abrem o filme. No mundo capitalista, retratado pelo filme, a vida é regida pelo relógio 
onde o descanso é cronometrado, onde não passamos de números. Tal impressão é 
confirmada pelos títulos provisórios: “As massas” e “54632”, ambos retratando de 
forma contundente a realidade do trabalho operário massificador e impessoal da época 
que ainda persiste nos dias atuais. Os títulos previamente descartados eram ainda mais 
explícitos neste aspecto. Homens sem identidade, homens tratados como números. 
Como os personagens de Huxley, sem emoções; simples engrenagens na indústria que 
não pode parar, que tem prazos para cumprir. 
Chaplin já havia retratado esta busca em filmes anteriores. Em “A Busca do 
Ouro” (The Gold Rush, 1925) temos a história do garimpeiro que quer encontrar ouro 
no Alaska, pois este é a chance de não mais passar fome, a felicidade se encontra neste 
caso ligada à estabilidade financeira. Em “Luzes da Cidade” temos o homem que vive 
nas metrópoles, oprimido, sem emprego, sem futuro. Ele vë em uma florista cega uma 
esperança. Em “Tempos Modernos” o homem tem seu emprego, mas é explorado e só 
resta a ele fugir desta realidade opressora buscando a felicidade no campo idealizado, 
em uma bucólica vida de simplicidade, retratada no filme através da imaginação dos 
personagens que criam uma imagem do paraíso onde existe casa e comida, sempre ao 
alcance das mãos. Esta imagem idealizada estava muito distante da realidade, pois o 
campo foi o primeiro a sentir os efeitos da grande crise de 1929. O próprio Marx já 
havia escrito em seu Manifesto “A burguesia submeteu o campo à cidade. Criou 
grandes centros urbanos; aumentou prodigiosamente a população das cidades em 
relação à dos campos e, com isso, arrancou uma grande parte da população do 
embrutecimento da vida rural”. A primeira expressãoda crise ocorre no campo, na 
medida em que as exportações diminuíam, os grandes proprietários não conseguiam 
saldar as dívidas realizadas no período da euforia, (situação atualmente comum também 
em nosso país), e assim eram forçados a pagar altas taxas para armazenar seus grãos, 
acumulando dívidas que os levaram, em massa, à falência. No momento da produção da 
película, os Estados Unidos estavam ainda em processo de recuperação. 
Em um filme que retrata a exploração do homem pela indústria (algo que ele 
próprio havia criado) nada mais pertinente do que iniciar com um relógio. O relógio é o 
abre-alas do desfile de situações e reviroltas extremamente pertinentes em seu momento 
histórico. Carlitos aparece pela primeira vez apertando parafusos, num emprego 
repetitivo e automatizado onde ninguém precisa pensar, não há tempo para isso. Os 
intervalos de descanso são descontados do salário e até para ir ao banheiro os 
empregados “batem o ponto”, pois a empresa não paga pelos momentos em que os 
operários não estão em seus postos. Dentro do banheiro a imagem do chefe aparece em 
uma grande tela mostrando sua grandeza e importäncia diante da pequenez e 
insignificância do trabalhador. 
Ainda em seu início o filme traz uma intrigante fusão de imagens: um grande 
grupo de ovelhas caminhando que se transformam em operários a caminho do trabalho. 
Com esta metáfora Chaplin expõe a dura realidade vivida pelos trabalhadores desta 
época, pessoas sem sonhos, perspectivas, ou mesmo poder de pensar ou decidir, fazendo 
e agindo automaticamente. Discute-se hoje em nossas faculdades a fragmentação do 
ensino, a demasiada especialização. Chaplin já retratava em 1936 este fato dentro do 
mercado de trabalho. Carlitos e seus companheiros exercem um trabalho repetitivo e 
extenuante, onde cada um faz um mesmo movimento continuamente (apertar parafusos, 
martelar chapas, entre outros). Esta repetição é criticada de forma irônica quando a 
personagem sofre um “surto” e repete o mesmo ato (de apertar parafusos) nas mais 
diferentes e esdrúxulas situações. Esta especialização também faz com que a 
personagem tenha uma grande dificuldade de conseguir outro emprego, tendo em vista a 
sua limitação profissional. Karl Marx não estava errado ao afirmar que a especialização 
é uma das molas mestras da sociedade capitalista.
 Além da automatização humana, Chaplin também critica a super exploração do 
trabalhador na cena do teste da máquina de alimentação automática. A idéia era a de 
alimentar o operário permitindo que ele continuasse a trabalhar sem parar. Carlitos é a 
cobaia e o teste dá errado. O absurdo da cena a torna cômica, mas sem os exageros, a 
idéia seria muito bem vinda no mundo capitalista. Durante o teste a máquina tenta 
alimentá-lo com parafusos. Ele não engole parafusos, mas é engolido pela máquina 
numa antológica sequëncia cheia de significados. A máquina criada pelo homem para 
facilitar a sua vida, para dar a ele a chance de ter mais momentos de lazer, de estar mais 
próximo de sua família agora o está consumindo. A ganäncia, a busca pelo lucro cada 
vez maior torna as pessoas insensíveis diante de seu próximo e a máquina então engole 
o homem, a sua dignidade e até a sua própria vontade de viver.
A esquerda aplaudiu de pé esta sequëncia e Chaplin chegou a ser taxado de 
comunista por alguns críticos. Durante o Macarthismo, Chaplin foi taxado de ser 
comunista e de realizar atividades anti-norteamericanas. McCarthy era o responsável 
pelas subcomissões de investigação do Senado, que realizavam uma caça às bruxas no 
meio artístico, intelectual e sindical do país. Essa perseguição atinge cerca de seis 
milhões de norte-americanos) tudo o que fizesse menção ou insinuação ao comunismo 
seria perseguido com veemência. Um outro momento no filme que trouxe esta idéia foi 
a cena da bandeira. No filme, Chaplin caminha pelas ruas e pega uma bandeira 
vermelha. Enquanto ele balança a bandeira para avisar ao dono que acabou de perdê-la 
surge atrás dele uma manifestação de trabalhadores e forma-se um quadro em que 
Carlitos empunhando sua bandeira vermelha passa a ser aos olhos da polícia o líder 
daquela manifestação. E acaba sendo preso por isso. Este fato retrata uma realidade da 
época, pois o movimento operário cresceu consideravelmente nos anos de 1934 a 1940, 
estiveram em greve mais de oito milhões de trabalhadores. Pressionado pela 
mobilização operária, o Congresso aprovou uma lei que reconhecia o direito de 
associação dos trabalhadores e de celebração de contratos coletivos de trabalho com os 
empresários.
 Em uma entrevista coletiva o ator recebeu uma saraivada de perguntas tais como: 
“Por que não se naturaliza americano?”; “É verdade que você tem simpatia pela 
Rússia?”; “Que pensa de Stalin?”; “Você é simpatizante comunista?” A estas 
indagações Chaplin respondeu: “Não penso que se deva dividir as pessoas em 
categorias segundo as suas opiniões. Isto conduz ao fascismo. Por minha parte não 
pertenço a nenhum partido político. A vida tornou-se demasiado técnica e cada um de 
nós deveria andar sempre com um guia das regras de etiqueta no bolso. Por que agora 
basta descer um passeio com o pé esquerdo para ser tido como comunista.” Chaplin 
nunca assumiu em vida ser comunista. “Sou humanista” disse ele. Mas em março de 
1935 quando participou da chamada Liga Antifascista de Hollywood muitos tiveram 
certeza de suas tendências. Chaplin chegou a projetar “Tempos Modernos” ainda em 
andamento para uma delegação de cineastas russos. E até chegou a modificar o final do 
filme após uma conversa com seus colegas soviéticos. Naquele momento a luta de 
classes se radicalizou, crescendo a consciência política e organização do operariado, 
onde o Partido Comunista, apesar de pequeno, conseguiu mobilizar importantes setores 
da classe trabalhadora. Chaplin acabou por sem querer se tornar um símbolo. O próprio 
diretor em seu livro “Minha vida” (1964) escreveu: “Antes de haver a estréia de 
“Tempos Modernos” alguns colunistas escreveram que, segundo certos rumores, o filme 
era comunizante. Creio que isto resultou de já ter aparecido na imprensa um resumo da 
estória. Todavia, os críticos de tendência liberal acharam que a película não era nem a 
favor do comunismo nem contra e que eu, como se costuma dizer estava montado na 
cerca”. 
O desemprego é mostrado de uma maneira realisticamente cruel. Após o surto e a 
prisão, Carlitos não consegue se adaptar em nenhum novo emprego. Tal situação chega 
ao extremo do mesmo buscar a volta a prisão como a única forma de resolver seus 
principais problemas: a falta de emprego e a fome. Em apenas três anos após a crise de 
1929, a produção industrial norte-americana reduziu-se pela metade. A falência atingiu 
cerca de 130 mil estabelecimentos e 10 mil bancos. As mercadorias que não tinham 
compradores eram literalmente destruídas, ao mesmo tempo em que milhões de pessoas 
passavam fome. O desemprego era de tal modo intenso no país (17 milhões de 
desempregados) que para combatê-lo foi reduzida a semana de trabalho e realizadas 
inúmeras obras públicas, que absorviam a mão-de-obra ociosa, recuperando 
paulatinamente os níveis de produção e consumo anteriores à crise. Apesar do 
empresariado não ter concordado com o elevado grau de interferência do Estado em 
seus negócios, não se pode negar que essas medidas, promovidas pelo Presidente 
Roosevelt visavam salvar o próprio sistema capitalista, o que acabou possibilitando sua 
reeleição em duas ocasiões.
 Além de Carlitos, outra personagem de importância dentro da trama é o da jovem 
pobre e órfã de mãe, vivida por Paulette Godard. Ela vive nas ruas atrás decomida para 
ajudar a alimentar a sua família já que seu pai está desempregado. Durante uma 
manifestação o pai acaba por morrer, complicando ainda mais a situação da garota que 
tem que fugir das autoridades para não ter que passar a viver em um orfanato. 
Carlitos vive em um período conturbado da história mundial. Chaplin não poderia 
deixar essa chance passar. Ele que sempre mostrou preocupação em relação aos temas 
sociais tratados em seus filmes, sempre conciliando a comédia à crítica social. 
Após várias desventuras a jovem e o vagabundo conseguem emprego em um bar. 
Ela como dançarina e ele como garçom. Carlitos não consegue exercer de forma 
adequada suas funções. Para conseguir manter o emprego ele deve também cantar. A 
personagem jamais havia dito uma palavra, desde a sua criação, nesta cena ele canta 
sem pronunciar palavras inteligíveis, criando um vocabulário de sons para contar a 
história de um casal em um passeio de automóvel. Desta forma Chaplin entra na era do 
cinema falado e mantém a integridade de seu personagem mudo. Com este artifício ele 
nos mostra como é possível se utilizar das novas tecnologias, mantendo-se fiel a seus 
valores. 
Em sua ultima cena o filme reforça a idéia da busca pela felicidade e esperança de 
alcançá-la. A garota desanimada quer desistir de tudo, mas seu companheiro a estimula 
e o filme termina com ambos caminhando em uma estrada. Temos um autor cheio de 
expectativas positivas quanto à possibilidade da humanidade trilhar melhores caminhos. 
O filme foi lançado sem grande sucesso, e chegou a dar prejuízo. Somente mais 
tarde tornou-se um clássico na história do cinema. Este filme é altamente considerado 
dentro da carreira de Chaplin, seu tema musical, Smile, tornou-se conhecido no mundo 
inteiro. Em setembro de 1989 o governo americano o incluiu em uma lista dos 25 filmes 
irretocáveis, e considerados objetos de “eterna preservação”. 
Chaplin teve problemas no lançamento de seu filme na Alemanha nazista. Em 18 
de fevereiro de 1936 o jornal Manchester Guardian trouxe a notícia que o filme foi 
banido da Alemanha. Os alemães tinham dúvida a respeito da “pureza ariana” de 
Chaplin e já não aceitavam que seus antigos filmes fossem novamente exibidos. Além 
disso, os alemães ainda consideravam que o filme tinha uma certa tendëncia comunista 
e por isso seria inaceitável. Outros jornais como o Daily Telegraph e o Daily Herald 
sugeriram respectivamente que sua origem judia e a similaridade entre o bigode de 
Carlitos e o de Hitler eram demais para o povo alemão. Mussolini seguiu Hitler, mas o 
filme acabou sendo exibido na Itália. Com o “Grande Ditador” (The Great Dictator, 
1940) Chaplin confirmou sua posição antinazista sendo um dos primeiros grandes 
artistas a tomar uma posição em relação a Hitler e seus aliados. Por incrível que pareça, 
Hitler chegou a assistir “O Grande Ditador” duas vezes e segundo testemunhas, se 
divertiu muito. 
Ainda na edição, Chaplin decidiu por deixar de fora uma cena muito interessante, 
que também está presente no excelente documentário produzido pela Thames Television 
intitulado “The Unknown Chaplin”. Ele foi transmitido na BBC no início de 1983. 
Nela, Carlitos se depara com um semáforo para pedestres e não consegue atravessar a 
rua. Um guarda tenta ajudá-lo, mas acaba assustando Carlitos que decide seguir por 
outro caminho.Esta cena deixa transparecer muito mais do que a simples ação de não 
conseguir atravessar a rua pela personagem. Ele está tentando se adaptar a aquela nova 
realidade. É uma novidade. Temos o homem que busca se encontrar naquela nova 
sociedade automatizada, temos o próprio Chaplin tentando encontrar o seu lugar 
naquele novo momento em que o cinema vivia nos anos 30.
“Tempos Modernos” marcou a história do cinema seja como retrato de um 
período conturbado na história da humanidade, seja como comédia de transição de um 
dos maiores realizadores da sétima arte no mundo. É uma película que devemos assistir, 
nos divertir e também refletir com ela. No final do filme Chaplin demonstra esperança 
no homem e nos caminhos que ele quer seguir, assumindo uma posição a favor da 
humanidade e de seus sonhos. Talvez ele nem imaginasse que poucos anos depois a 
segunda grande guerra mundial explodiria matando milhões de pessoas. E alguém tinha 
de assumir uma posição. Chaplin a assumiu quando produziu “O grande ditador”. Mas 
isso é outra história. 
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
CHAPLIN, C. Minha Vida. 10 ed. Rio de Janeiro: José Olympio. 1964. 510 p.
ENCICLOPÉDIA BRASILEIRA. Macarthismo. 2004. Disponível em: 
<http://geocities.yahoo.com.br/vinicrashbr/historia/geral/marcarthismo.htm>. Acesso 
em: 20 out. 2004. 
MARX, K. e ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. 1848. Disponível em: 
<http://www.culturabrasil.org/manifestocomunista.htm> Acesso em: 16 ago. 2007.
MILTON, J. Chaplin: contraditório vagabundo. São Paulo: Ática. 1997. 509 p.
MITCHELL, G. The Chaplin Encyclopedia. London: B.T.Batsford. 1997. 288 p. 
MODERN times. Produção, roteiro e direção de Charles Chaplin. Holywood
PAIVA, M.W. Chaplin por ele mesmo. São Paulo: Martin Claret. 158 p.
RIAMBAU, E. Os Grandes Filmes de Chaplin: Tempos Modernos. Barcelona: 
Ediciones Altaya. 1997. p. 27-38.
VEJA. Charles Chaplin (1889-1977). São Paulo: Editora Abril. 4 de janeiro de 1978. 
p. 62-66.
http://www.culturabrasil.org/manifestocomunista.htm
http://geocities.yahoo.com.br/vinicrashbr/historia/geral/marcarthismo.htm

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