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CHOQUES INTRODUÇÃO O choque é a via final comum para os vários eventos clínicos potencialmente letais, incluindo embolia pulmonar, sepse, exsanguinação, queimaduras ou até traumas. Ou seja, independente da causa que leva a um quadro de choque, é caracterizado por hipotensão sistêmica, devido a redução do débito cardíaco ou pela redução efetiva do volume sanguíneo circulante em que as principais consequências são diminuição da perfusão tecidual e consequente hipóxia celular. Inicialmente, o choque é uma lesão reversível nas células mesmo em um quadro de hipóxia e baixa perfusão, no entanto, se esse quadro persistir pode levar a lesões celulares irreversíveis e frequentemente fatais. O índice de mortalidade chega a 20%, sendo o primeiro lugar entre as causas de óbitos nas unidades de terapia intensiva. Os choques tem aumentado de incidência nos últimos anos por conta das melhorias fornecidas a pacientes em estados graves como hipovolemia, queimaduras, traumas e hemorragias graves, permitindo que o quadro evolua para um quadro de choques, já que o paciente morria antes mesmo de ter um choque. Outra causa para o aumento da incidência é o aumento de indivíduos sujeitos a imunossupressão por diversos motivos, permitindo que mais microrganismos afetem o organismo do paciente levando um quadro de choque séptico, por exemplo. TIPOS DE CHOQUES Os choques podem ser subdivididos em duas categorias conforme as causas principais que levam a hipóxia e queda da perfusão sanguínea: os choques hipodinâmicos e os choques hiperdinâmicos. Os choques hipodinâmicos são aqueles caracterizados por um aumento da resistência vascular periférica e queda no débito cardíaco, como o próprio nome já diz, ocorre uma queda no fornecimento de sangue aos tecidos devido ao aumento de “barreiras” como a RVP e queda do DC. Os principais choques hipodinâmicos são: o choque cardiogênico como o próprio nome já diz, é um choque que ocorre no coração devido a falência da bomba do miocárdio que diminui acentuadamente o débito cardíaco podendo ser causado por IAM, ICC, arritmias, cardiopatias valvares, tamponamento cardíaco ou obstrução das vias de saída como é o caso da embolia pulmonar. Outro tipo de choque é o choque obstrutivo caracterizado por um baixo debito cardíaco devido a obstrução do fluxo sanguíneo como em casos de hipertensão, pneumotórax hipertensivo, TEP e tamponamento cardíaco. Outro tipo de choque é o choque hipovolêmico como o próprio nome já diz, é um quadro de hipovolemia ou seja baixo volume de sangue disponível que vem por resultar uma queda no débito cardíaco. A perda excessiva de sangue pode ocorrer por inúmeros fatores como traumas, hemorragias graves, queimaduras severas e até casos graves de desidratação devido à perda de liquido e sangue mais espesso. A outra classe de choques são os choques hiperdinâmicos antagônicos aos choques hipodinâmicos caracterizados por um aumento do débito cardíaco e diminuição da RVP, ou seja, possui mais sangue sendo ejetado na circulação mas por algum motivo patológico ainda sim leva a um quadro de queda da perfusão e hipóxia celular. Nesse tipo de choque, denominado de choque distributivo ocorre uma vasodilatação seguida de acumulo sanguíneo periférico como um componente de uma reação imunológica sistêmica, uma infecção bacteriana ou fúngica. Os principais representantes dessa classe de choques são o choque séptico caracterizado por uma infecção sistêmica generalizada que em casos mais graves podem levar a queda do débito cardíaco, o choque anafilático causado pelo aumento da permeabilidade vascular devido a hipersensibilização provocada pela IgE e o choque neurogênico devido alguma lesão medular, além de disfunções na suprarrenal. EM RESUMO Os choques são um contrabalanceamento de dois parâmetros importantes, os mesmos da pressão arterial, o débito cardíaco e a resistência vascular periférica sempre antagonistas entre si, quando um aumenta o outro diminui e vice-versa. O primeiro tipo de choque é aquele denominado de hipodinâmico caracterizado pelo aumento da RVP e queda do DC. São exemplos: o choque hipovolêmico que constitui na queda do volume sanguíneo circulante por causa de hemorragias, o choque cardiogênico marcado pela falência da bomba cardíaca por inúmeras causas como IAM, cardiopatias e arritmias (coração treme e não expulsa o sangue), o choque obstrutivo caracterizado pela obstrução do fluxo sanguíneo por aumento de pressão arterial, pulmonar, entre outras que evitam que o sangue chegue ou saia do coração, reduzindo o débito. O segundo tipo de choque é o choque hiperdinâmico caracterizado pelo aumento do débito cardíaco e queda da RVP, o que em primeiro momento parece antagônico devido a definição de choque, mas que é causado pela presença de infecções ou lesões que fazem com que tenha o acúmulo periférico de sangue. ESTÁGIOS DO CHOQUE Como já se sabe, o choque é caracterizado por um quadro de diminuição da perfusão sanguínea para os tecidos que levam a um posterior quadro de hipóxia celular. Porém, mais especificamente em choques hipovolêmicos existem três fases de progressão do choque até atingir quadros extremamente graves de lesões irreversíveis fatais. O estágio inicial do choque é caracterizado por uma fase não progressiva ou compensatória em que apesar da deficiência circulatória, o organismo consegue compensar esse déficit a partir de mecanismos compensatório neuro- humorais. Alguns exemplos são barorreflexos, ativação do sistema RAA, ativação do hormônio antidiurético (ADH), maior ativação simpática que irá provocar taquicardia, vasoconstrição periférica e cutânea para “afastar” o sangue da pele e levar mais sangue aos órgãos vitais como coração e cérebro. Portanto, nessa fase inicial denominada de fase não progressiva, as complicações não progridem graças aos mecanismos compensatórios, mantendo a perfusão sanguínea dos órgãos vitais. Caso os problemas bases não forem corrigidos, entramos na fase progressiva do choque em que quadros de baixa perfusão começam a se sobressair, assim como a hipóxia tecidual disseminada, a queda dos níveis de oxigênio fazem com que a respiração aeróbica seja substituída pela glicólise anaeróbica e começam a acumular ácido lático nos tecidos, levando a um quadro de queda do PH e acidose tecidual, além de desiquilíbrio metabólico. Nesse momento, os órgãos vitais começam a falecer, e a hipóxia disseminada toma conta do organismo. Por fim, caso ainda os problemas não sejam corrigidos entramos na última e mais crítica fase: lesões irreversíveis no organismo. Nesse instante, ocorre liberação de enzima lissosomal degradando as células internamente, os miócitos vão a falência por conta do processo isquêmico agravado, problemas funcionais nas mitocôndrias e até isquemia generalizada param a bomba cardíaca e os rins levando falência múltipla de órgãos e consequentemente a morte do paciente por choque (hipovolêmico). LESÕES IRREVERSÍVEIS As lesões irreversíveis e seus respectivos mecanismos são fundamentais para entender o motivo da falência celular em quadros de hipóxia prolongado. A primeira lesão se relaciona diretamente com a produção de ATP celular, em um quadro de hipóxia ocorre uma queda no suprimento sanguíneo e consequentemente no aporte de oxigênio para as células. Nesse momento, as células substituem a respiração aeróbica por uma respiração anaeróbica com a quebra da glicose (glicólise). No entanto, a via anaeróbica apresenta uma saldo final muito menor que a via aeróbica quanto a moléculas de ATP geradas, com isso, começa a faltar energia para as células. Na tentativa de economizar energia, a células suspende o funcionamento das bombas de sódio e potássio, fazendo com que tenha o acumulo de sódio no interior, causando um desequilíbrio iônico e osmótico, e assim, maior volume de agua entra na célula, levando a tumefação celular.Somado ao acúmulo interno de agua, ocorre como já dito, o acúmulo de ácido lático (produto da glicólise) que leva a diminuição do PH e a um quadro de acidose celular, fazendo com que inúmeras enzimas tenham sua atividade diminuída já que o PH é essencial para manutenção da atividade enzimática. Os danos nas membranas mitocondriais e lissosomais fazem com que a célula perda proteínas e fosfolipídios até atingir a necrose celular. Outra alteração é o aumento das concentrações de cálcio intracelular, primeiramente pelas lesões nos retículos endoplasmáticos responsáveis por armazenar cálcio e posteriormente pela falência da bomba de cálcio devido a depleção do ATP que permite o maior influxo de cálcio para as células. O aumento da concentração de cálcio leva a ativação de inúmeras enzimas prejudiciais como as proteases, as endonucleases, fosfolipases que degradam absolutamente tudo que encontram pela frente, levando a morte celular. E por fim, as disfunções mitocondriais promovidas pela entrada do cálcio e ativação das enzimas degradadoras já citadas anteriormente levam a problemas nas paredes mitocondriais, aumentando a permeabilidade e liberando as caspases (indutoras de apoptose) para o meio intracelular. Além de promover inúmeros problemas na fosforilação por conta da acidose provocada pela queda do PH. A célula entra em necrose e morre. Algumas alterações nucleares são encontradas ainda como a picnose que representa a condensação nuclear, a cariorrexe que é a fragmentação nuclear e a cariólise que representa a dissolução do núcleo. Ou seja, quando a célula entra em necrose, o núcleo passa por algumas modificações. Primeiramente ele diminui de tamanho e fica mais denso, posteriormente começa a se fragmentar e aproximar-se do envoltório nuclear e por fim, sofre digestão. É importante observar ainda que as células possivelmente hepatócitos representados na imagem começam a perder citoplasma também. É possível identificar essa perda a partir das manchinhas rosadas separadas dos núcleos que também estão sofrendo um processo de lise. CHOQUE HIPOVOLÊMICO O choque hipovolêmico é um choque hipodinâmico que se inicia por algum tipo de trauma que pode levar a quadros de hemorragia ou exsanguinação, fazendo com que o volume sanguíneo diminua abruptamente, assim como a perfusão tecidual e leve ao aparecimento de quadros graves de hipóxia. Ao ocorrer o trauma e consequente perda de volume de sangue na circulação, ocorre uma diminuição também do retorno venoso, queda pressão venosa e com isso menos sangue chega ao coração (queda da pré-carga) levando a diminuição do débito cardíaco. O coração a fim de compensar a diminuição do volume sanguíneo, aumenta a FC a partir de um quadro de taquicardia reflexa na tentativa de manter a perfusão e a pressão arterial media do organismo. A sobrecarga pode levar a um quadro de isquemia muito comum em choques, consequentemente ao aparecimento de arritmias, IAM e ICC. A pele também é afetada devido ao “desvio” da circulação para os órgãos vitais causado pela vasoconstrição periférica na tentativa de manter a perfusão desses órgãos. Clinicamente pode ser diagnosticado ao observar as extremidades frias, a pele cianótica e pálida. O cérebro começa a ser afetado, já que dificilmente os vasos cerebrais sofrem uma dilatação como os outros vasos, a perfusão cerebral diminui abruptamente fazendo com que o indivíduo apresente queda nos níveis de consciência e estabilidade mental. Os rins, assim como o coração e muitos outros órgãos sofrem com o processo isquêmico grave causado pelo trauma inicial e perde excessiva de sangue, levando a um quadro de falência renal e oligúria (redução importante do volume urinário). Além de como já citado, o aumento na produção de ácido lático fazem com que o sangue torna-se mais ácido e prejudique a função de inúmeras enzimas do organismo, além de proporcionar a ativação de vários mecanismos cardíacos e neuro-humorais que tentem controlar a acidose a partir dos quimiorreceptores e que podem piorar o quadro de choque hipovolêmico. CHOQUE CARDIOGÊNICO O choque cardiogênico é caracterizado por problemas na bomba cardíaca especificamente. Pode ser causado por inúmeros fatores como arritmias ventriculares, disfunção valvar, cardiopatias como IAM e hipertrofia cardíaca que levam ao quadro de queda da perfusão e aparecimento de hipóxia tecidual, assim como todo choque. Problemas na bomba cardíaca levam inicialmente ao represamento de sangue venoso, aumentando a pressão venosa e também a pressão jugular (clinicamente é possível perceber cardiopatias através de um jugular mais avantajada). O represamento de sangue leva ao aumento da pré-carga provocando hipertrofia das paredes do coração, principalmente do ventrículo esquerdo. Na tentativa de compensar a baixa perfusão, o coração aumenta a FC (taquicardia reflexa) prejudicando ainda mais o musculo já que não há energia suficiente para os movimentos dos miócitos. Com a progressão da isquemia coronariana resultado da falência da bomba, o coração começa a entrar em um processo de infarto do miocárdio caracterizado na clínica com elevação do segmento ST e dor precordial intensa na região retroesternal. Os outros problemas comum de um processo isquêmico e de todo choque também ocorre: as extremidades ficam frias, o cérebro começa a sofrer com a hipóxia, tendo diminuição do estado de consciência do paciente, os rins começam a sofrer com a isquemia até entrarem em um quadro de falência renal e oligúria. CHOQUE DISTRIBUTIVO O choque distributivo é um choque hiperdinâmico em que ocorre a diminuição da resistência vascular periférica e aumento do débito cardíaco. Esse tipo de choque é então caracterizado principalmente por uma vasodilatação de maneira sistêmica (por isso a RVP irá diminuir). São inúmeras as causas que podem levar a vasodilatação sistêmica e aumento da permeabilidades vascular como a pancreatite que posteriormente faz com que apareçam quadros de anafilaxia e sepse que são os dois principais tipos de choque distributivos. Diferente dos outros choque já citados, nesse caso clinicamente o paciente encontra-se com as extremidades quentes por conta da vasodilatação periférica. São inúmeras outras causas que podem levar ao aparecer do choque distributivo como drogas vasodilatadoras, insuficiência hepática, insuficiência adrenal e também um CHOQUE NEUROGÊNICO. O choque neurogênico é importante pois envolve lesões nos nervos cervicais ou torácicos que conduzem os neurônios do sistema nervoso autônomo simpático, logo, com a depleção do sistema simpático por conta da destruição dos nervos não ocorre uma vasoconstrição periférica como nos outros choques. Além disso, o nervo vagal começa a ter uma função predominante que leva a um quadro bastante comum nesse choque que é a bradicardia ou diminuição de FC. Observar também que devido a vasodilatação sistêmica a pressão arterial media sofre uma queda acentuada, assim como o retorno venoso e a pressão na veia jugular também torna-se diminuída, trazendo consequências para o coração. Ao ser instalado um quadro de choque distributivo, os efeitos finais são os mesmo com exceção das extremidade frias, que agora encontram-se quentes. O coração sofre com o processo isquêmico e devido à queda de RVS tenta compensar aumentando a FC (taquicardia reflexa) e só piora o quadro de isquêmica miocárdica, os rins sofrem também com a queda na perfusão e hipóxia podendo ocorrer falência renal. O cérebro começa a receber menos sangue e oxigênio, levando a problemas nos níveis de consciência do paciente e o acumulo de ácido lático e um quadro de acidose sanguínea se estabelece. CHOQUE ANAFILÁTICO O choque anafilático é um tipo de choque hiperdinâmico caracterizado por uma vasodilatação e aumento também da permeabilidade vascular, o que faz com que apesar de maior quantidadede sangue na circulação devido ao aumento do DC e queda na PVC, com o aumento da permeabilidade vascular é como se mais sangue fosse ser absorvido pelos tecidos, retirando mais sangue da circulação sistêmica em si e levando ao quadro de queda da perfusão e hipóxia tecidual. O choque anafilático é gerado por uma reação imune do organismo a antígenos invasores. Ao entrar um antígeno no organismo, ele entra em contato com as células apresentadoras de antígenos que podem ser tanto células dentríticas, macrófagos ou neutrófilos que irão apresentar o antígeno para as outras células do sistema imune como os linfócitos B. Os linfócitos B são responsáveis por reconhecer as células invasoras, estimular novas células a gerarem uma resposta imune, tanto novas células B como linfócitos do tipo T, neutrófilos, basófilos ou eosinófilos dependendo do tipo de antígeno encontrado. Os linfócitos T vão liberar imunoglobulinas do tipo E ou IgE que permanecerão nos macrófagos ou nos basófilos para quando entrar em contato novamente com esse antígeno o organismo já expresse uma resposta rápida e eficiente. Ao entrar em contato novamente com o antígeno, as moléculas de IgE se ligam ao agente invasor e gera uma serie de respostas inflamatórias como liberação de histamina e outros mediadores que irão promover uma vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular, além de estimular a secreção de inúmeros mediadores inflamatórios. Caso essa reação anafilática seja muito exacerbada e de maneira sistêmica faz com que ocorra o choque anafilático hiperdinâmico extremamente grave assim como todo choque e que deve ser tratado imediatamente pelos profissionais de saúde a fim de evitar progressão. Reações alérgicas severas como ingestão de alimentos não permitidos, alergias a medicamentos ou picada de insetos podem desencadear uma reação anafilática e levar a um quadro gravíssimo de choque anafilático com problemas na garganta, fechamento das vias respiratórias machas avermelhadas, inchaço da boca e olhos, além de prurido intenso em todo o corpo. A reação anafilática é também conhecida como um tipo de reação de hipersensibilidade do tipo I (ainda existem mais quatros tipos de reação de hipersensibilidade). CHOQUE SÉPTICO Apesar dos avanços médicos durante as últimas décadas, o choque séptico continua a ser um problema clínico atemorizante. O choque séptico mata 20% de suas vítimas, é responsável por mais de 200.000 mortes anualmente nos Estados Unidos, além de ser a causa número um de mortalidade em unidades de terapia intensiva. A incidência é crescente, ironicamente, em parte devido ao melhor suporte de vida para pacientes em estado crítico, assim como ao aumento de procedimentos invasivos e ao número cada vez maior de pacientes imunocomprometidos (por quimioterapia, imunossupressão ou infecção por HIV). No choque séptico, a dilatação arterial e venosa sistêmicas leva à hipoperfusão tecidual, ainda que o débito cardíaco seja preservado ou até inicialmente aumentado. A diminuição do tônus vascular está associada à ativação celular endotelial disseminada, muitas vezes deflagrando um estado hipercoagulável que se manifesta como coagulação intravascular disseminada. Além disso, o choque séptico está associado a perturbações do metabolismo que suprimem diretamente as funções celular e tecidual. O efeito líquido dessas anormalidades é hipoperfusão e disfunção de múltiplos órgãos. Basicamente o choque séptico se inicia com a entrada de microrganismos como bactérias gram positivas, bactérias gram negativas e fungos principalmente. Ao entrar no organismo são reconhecidos pelos componentes da imunidade inata como macrófagos, neutrófilos e células dentríticas através dos PAMPs e iniciam a liberação de inúmeras citocinas e mediadores inflamatórios que irão aumentar a permeabilidade vascular, causas dilatação dos vasos arteriais e venosos, ativar interleucinas (IL-1 e TNF) e ativar fatores endoteliais, pró-coagulantes e plaquetários. Ao ocorrer a ativação de todos esses fatores um grande processo inflamatório é estabelecido e faz com que a perfusão sanguínea diminua devido a dilatação sistêmica dos vasos e aumento da permeabilidade, levando a um quadro de hipóxia e, em casos mais graves de diminuição consequente do DC. CHOQUE NEUROGÊNICO O choque neurogênico é caracterizado por lesões medulares por diversas causas distintas como lesões na própria coluna vertebral que venha a comprimir a região medular. Sabe-se que o sistema simpático possui inervação exclusivamente medular, enquanto o nervoso parassimpático possui inervação medular e no tronco encefálico também. Lesões medulares portanto podem provocar uma queda na influência simpática no organismo, fazendo com que o sistema parassimpático tenha uma excitabilidade muito maior que o simpático. Assim sendo, ocorre uma dilatação periférica sistêmica, diminuição da RVP, além de bradicardia ao contrário da taquicardia que seria essencial nesse caso para tentar compensar a queda da RVP e a vasodilatação sistêmica. O nervo vago ou estimulação vagal torna-se exacerbada e o sistema parassimpático predomina totalmente sobre o sistema simpático levando a um quadro de queda da perfusão já que o coração está bradicárdico, a RVP está diminuída assim como o DC, levando ao aparecimento do quadro de hipóxia e isquemia dos órgãos vitais e logo a um choque neurogênico causado pela desregulação entre a atividade simpática e parassimpática no organismo. CHOQUE NEUROGÊNICO X CHOQUE ESPINHAL É importante diferenciar os dois tipos de choque que aparentemente parecem a mesma coisa mas não são os mesmos choques, ainda que constituem lesões medulares e pode ocorrer de pacientes possuírem os dois choques simultaneamente. O choque neurogênico é um choque com consequências hemodinâmicas graves como bradicardia, vasodilatação, queda da pressão arterial, queda no DC e RVP, queda da inervação simpática e aumento da inervação do sistema nervoso parassimpático, principalmente pela via vagal do nervo X. Ou seja, o choque neurogênico promove um desequilíbrio autonômico com consequências hemodinâ- micas. Já o choque espinhal também é causado por uma lesão medular, porém não possui alterações hemodinâmicas como o choque neurogênico. É popularmente conhecido como “lesão na medula que causou paraplegia”. Ou seja, os efeitos do choque medular são efeitos motores como a paraplegia e tetraplegia dependendo do local lesionado, perda de sensibilidade, perda de reflexos e movimentos, entre inúmeros outros efeitos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E ACHADOS São inúmeras a transformações que pode-se encontrar em casos de isquemia e hipóxia nos órgãos vitais e tecidos de todo o organismo. Os rins são um dos órgãos mais afetados durante um quadro de choque, é perceptível a presença de locais de hemorragia (mais escuros), além de ficar difícil de separar as regiões cortical e medular que em rins saudáveis são mais bem delimitadas também. A falência renal é um dos achados clínicos mais comuns em quadros de choques. É possível identificar também no achado histológico a presença de necrose tubular aguda, em que se identifica na imagem a presença de pedaços de citoplasma soltos representados pelas “manchinhas” soltas na lamina evidenciando as lesões renais muito comuns em choques. A glândula adrenal também sofre com processos comuns de hemorragia e necrose devido a hipóxia e isquemia já que principalmente em quadros de choque séptico, a adrenal tenta liberar cortisol e para isso precisa de um elevado suprimento sanguíneo que não ocorre, levando a falência desse órgão. O pulmão é outro órgão bastante afetado quando se trata de choques, podendo aparecer um quadro de CIVD ou Coagulação IntraVascular Disseminada principalmente em casos de choque séptico já que a sepse ativa os fatores endoteliais plaquetários e pró-coagulantesque podem levar a formação de trombos. Na imagem é possível identificar os trombos nos círculos, regiões mais escuras em alguns pontos específicos do pulmão. No achado histológico pulmonar é possível observar a formação do trombo composto por redes de fibrinas em evidencia na imagem como esse círculo gigante e mais arroxeado que as outras estruturas. Existem casos em que se pode observar também hemorragia, com a presença de hemácias em volta, em um tom mais vermelho roseado. Nesse outro achado histológico é possível identificar o trombo em artérias glomerulares indicados pela seta, é exatamente um local onde não apresenta nenhum tipo de núcleo basófilo (mais arroxeado). Nesse achado histológico do cérebro é possível notar os neurônios isquêmicos que estão sofrendo uma espécie de “infarto cerebral”. Esses neurônios se apresentam mais avermelhados que o restante dos outros neurônios (na porção superior esquerda da imagem). Os neurônios mais arroxeados são neurônios ainda saudáveis. TRATAMENTO DE CHOQUES O tratamento constitui uso de antibióticos, hidratação, uso de vasopressores, melhorar suporte ventilatório, melhorar suporte sanguíneo, medição do débito urinário, entre outras medidas conforme for a progressão do choque e o tipo de choque. É sempre importante combater a causa inicial do choque, antes de combater os problemas essencialmente nos órgãos vitais. Existem vários tratamentos distintos da sepse e dos choques, assim como várias formas de diagnostico também. Um exame laboratorial que chama a atenção é o exame do Aumento do Lactato que indica, como o próprio nome já diz, se há níveis elevados de lactato no sangue.
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