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1. Conhecer o manejo inicial de um paciente politraumatizado. 2. Diferenciar os tipos de hemorragia em traumatismos corporais abertos e fechados. 3. Identificar os tipos de choque. 4. Entender o conceito, fisiopatologia (ênfase nos fenômenos circulatórios compensatórios), manifestação clínica e manejo do paciente com choque hemorrágico. 5. Citar os parâmetros clínicos que auxiliam na identificação da gravidade do choque hemorrágico e sua relação com a resposta volêmica. 6. Definir hemoderivados e como são empregados na prática clínica. 7. Descrever os mecanismos vasculares envolvidos na formação e dissolução de coágulos (hemostasia e coagulação), bem como suas manifestações clínicas (CIVD). 8. Compreender o uso de vacina antipneumocócica intra-hospitalar após o trauma. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- OBJETIVO 1 ⑦ ADVANCED TRAUMA LIFE SUPPORT - ATLS * CONCEITO: ao tratar pacientes feridos, os médicos avaliam rapidamente as lesões e instituem a terapia de preservação da vida. Como o momento é crucial, uma abordagem sistemática que possa ser aplicada com rapidez e precisão é essencial. Essa abordagem, denominada “avaliação inicial”, inclui os seguintes elementos: (1) Preparação (2) Triagem (3) Exame Primário (4) Reanimação (5) Medidas Auxiliares ao Exame Primário e à Reanimação (6) Exame Secundário (7) Medidas Auxiliares ao Exame Secundário (8) Reavaliação e Monitoração continuas após Reanimação (9) Cuidados Definitivos PREPARAÇÃO * CONCEITO: ocorre em dois ambientes clínicos diferentes: no campo e no hospital. Primeiro, durante a fase pré-hospitalar, os eventos são coordenados com os médicos do hospital de recepção. Em segundo lugar, durante a fase hospitalar, os preparativos são feitos para facilitar a ressuscitação de pacientes com trauma rápido. FASE PRÉ-HOSPITALAR: antes da abordagem da vítima, é importante sinalizar a via pública, para que os cuidados com o paciente ocorram em um ambiente seguro. Na abordagem inicial deve ser dada ênfase à manutenção da via aérea, ao controle da hemorragia externa, à imobilização do doente em uma prancha longa, e então, realizar o transporte imediato ao hospital apropriado mais próximo. Informações a respeito da hora em que ocorreu o acidente e suas circunstâncias, assim como os mecanismos do trauma, são essenciais para a equipe hospitalar que receberá o paciente. FASE HOSPITALAR: o planejamento antecipado à chegada do doente traumatizado é essencial. A sala de reanimação deve estar em temperatura ambiente, com equipamentos disponíveis testados e soluções para reanimação (RL) aquecidas. Todo o pessoal que está em contato com o doente deve estar protegido com EPIs. TRIAGEM * CONCEITO: A triagem envolve a classificação dos doentes de acordo com o tipo de tratamento necessário e os recursos disponíveis. Existem dois tipos de situações de triagem: MÚLTIPLAS VÍTIMAS: o número de doentes e a gravidade das lesões não excedem a capacidade de atendimento do hospital. Com isso, os doentes com risco de vida iminente e os doentes com traumatismos multissistêmicos serão atendidos primeiro. VÍTIMAS EM MASSA: o número de doentes e a gravidade das lesões excedem a capacidade de atendimento da instituição e da equipe. Com isso, os doentes com maiores possibilidades de sobrevida, cujo atendimento implique menor gasto de tempo, de equipamentos, de recursos e de pessoal, serão atendidos primeiro. * PROTOCOLO DE MÚLTIPLAS VÍTIMAS – S.T.A.R.T.: (simples triagem e rápido tratamento) método simples, que se baseia na avaliação rápida (60 segundos) da respiração, circulação e nível de consciência, dividindo as vítimas em quatro prioridades e utiliza cartões coloridos para definir cada uma das prioridades. A Prioridade de Atendimento às Vítimas obedece a seguinte ordem: VERMELHO: apresentam risco imediato de vida - respiração somente após manobras de abertura de vias aéreas ou taquipneia (FR ≥ 30irpm). Necessitam de algum tratamento médico antes do transporte ao hospital, que deve ser rápido e diretamente para o setor cirúrgico. AMARELO: não apresentam risco de vida imediato, mas necessitam de algum tratamento local enquanto aguardam o transporte para o hospital. VERDE: vítimas com capacidade de andar, não necessitam de tratamento médico ou transporte imediato, possuindo apenas lesões sem risco de vida. PRETO: óbito ou não possuem chances de sobreviver (não apresentam esforço respiratório mesmo após manobras simples de abertura das vias aéreas). RESPIRAÇÃO - AVALIAR A FR E A QUALIDADE DA RESPIRAÇÃO Se a vítima não respira: checar a presença de corpos estranhos em vias aéreas, remover próteses dentárias, dentes soltos e alinhar a cabeça, cuidando da coluna cervical. Não inicia esforço respiratório após essas medidas: Cartão preto Inicia esforço respiratório: Cartão vermelho FR ≥ 30irpm: Cartão vermelho FR < 30irpm: Segue para avaliação da perfusão PERFUSÃO - AVALIAÇÃO DO ENCHIMENTO CAPILAR É O MELHOR MÉTODO, ATRAVÉS DA PRESSÃO SOB LEITO UNGUEAL OU LÁBIOS > 2s - sinal de perfusão lenta: Cartão vermelho < 2s - segue para avaliação do nível de consciência NÍVEL DE CONSCIÊNCIA - APENAS PARA AS VÍTIMAS QUE ESTÃO C/ RESPIRAÇÃO E PERFUSÃO ADEQUADAS Responde a comandos simples: Cartão amarelo Não responde a comandos simples: Cartão vermelho AVALIAÇÃO PRIMÁRIA * CONCEITO: avaliação primária rápida, reanimação das funções vitais, uma avaliação secundária mais pormenorizada e, finalmente, o início do tratamento definitivo. Esse processo constitui o ABCDE dos cuidados do doente traumatizado e identifica as condições que implicam risco à vida através da seguinte sequência: A. Airway – Avaliação das vias aéreas com proteção da coluna cervical B. Breathing – Ventilação e respiração C. Circulation – Circulação com controle da hemorragia D. Disability – Disfunção, estado neurológico E. Exposition – Exposição e controle do ambiente: despir completamente o doente, mas prevenindo a hipotermia. * AIRWAY - MANUTENÇÃO DA VIA AÉREA COM PROTEÇÃO DA COLUNA CERVICAL: a via aérea deve ser avaliada em primeiro lugar para assegurar a sua permeabilidade. Deve-se identificar sinais de obstrução, aspiração e inspeção para a presença de corpos estranhos e fraturas faciais, que podem resultar em obstrução da via aérea. Deve-se tomar muito cuidado para evitar a movimentação excessiva da coluna cervical. Para isso é preciso colocar o colar cervical e então, realizar as manobras de permeabilidade da via aérea, que incluem a manobra de elevação do mento ou de tração da mandíbula. Se o paciente consegue comunicar-se verbalmente, é pouco provável que a obstrução da via aérea represente um risco imediato. Doentes com trauma cranioencefálico grave e rebaixamento do nível de consciência ou portadores de um escore na Escala de Coma de Glasgow ≤ 8 habitualmente exigem intubação. Nesse caso, os membros da equipe devem realizar estabilização manual da coluna cervical, pois a vítima não deve estar usando colar cervical. Alguns indivíduos ainda necessitam de acesso definitivo às vias aéreas, que pode ser através da Cricotireoidostomia cirúrgica ou Traqueostomia. Podem ser feitos RX de coluna cervical para confirmar ou excluir a presença da lesão, após o tratamento das lesões com risco imediato ou potencial à vida. Obs.1: considere lesão de coluna cervical em todo paciente com traumatismos multissistêmicos, especialmente nos que apresentem nível de consciência alterado ou traumatismo fechado acima da clavícula. Obs.2: Agora é permitido o uso de videolaringoscopia para intubação * BREATHING - VENTILAÇÃO E RESPIRAÇÃO: exponha o pescoço e o tórax do paciente. Realizar ausculta para garantir o fluxo de gás nos pulmões. A inspeção e a palpaçãopodem detectar lesões na parede torácica. A percussão do tórax também pode identificar anormalidades. As lesões que prejudicam significativamente a ventilação a curto prazo incluem pneumotórax hipertensivo, hemotórax maciço, pneumotórax aberto e lesões bronquiais ou traqueias. Como o pneumotórax hipertensivo compromete a ventilação e a circulação de forma dramática e aguda, a descompressão torácica deve ocorrer imediatamente quando suspeitada por avaliação clínica. Cada paciente lesado deve receber oxigênio suplementar. Use um oxímetro de pulso para monitorar a saturação de oxigênio, além de um ECG contínuo. Pneumotórax simples, hemotórax simples, costelas fraturadas, tórax instável e contusão pulmonar podem comprometer a ventilação em menor grau e geralmente são identificados durante a pesquisa secundária. FICAR ATENTO ÀS ARMADILHAS (AMEAÇADORA À VIDA): - PNEUMOTÓRAX HIPERTENSIVO: desvio de traqueia com ou sem turgência de jugular: Toracocentese – agulha calibrosa no 5º espaço intercostal na linha axilar média/anterior ou mini toracotomia. - PNEUMOTÓRAX ABERTO: lesão com diâmetro superior ao do brônquio fonte (ferida aspirativa): Fazer curativo de 3 pontas. - HEMOTÓRAX MACIÇO: macicez à percussão: Drenagem do tórax no 5-6 EIC sobre a linha axilar anterior ou média em selo d´água. - LESÃO DA ÁRVORE TRAQUEOBRONQUICA: passar o tubo pela lesão. Obs.: na 10ª ed. Tórax instável entra como lesão potencialmente ameaçadora e NÃO ameaçadora à vida. * CIRCULATION - CIRCULAÇÃO COM CONTROLE DA HEMORRAGIA: ACESSO VENOSO: na presença de instabilidade hemodinâmica, a reposição volêmica deve ser feita através de 1 acesso periférico com cateter de calibre médio (n.18). Na ausência de acesso periférico, recomenda-se a punção de acessos venosos profundos calibrosos (veia femoral, jugular interna ou subclávia) ou dissecção de veia safena. Independente do acesso, amostras de sangue devem ser colhidas para avaliação laboratorial (incluindo teste de gravidez), gasometria, nível de lactato e testes toxicológicos. VOLUME SANGUÍNEO E DÉBITO CARDÍACO: a identificação e a parada da hemorragia são passos cruciais na avaliação e tratamento desses doentes. Uma vez descartado o pneumotórax hipertensivo como causa de choque, a hipotensão em doentes traumatizados deve ser considerada hipovolêmica até prova em contrário. Os elementos clínicos que oferecem informações importantes dentro de poucos segundos são: - Nível de consciência: quando o volume sanguíneo está diminuído, a perfusão cerebral pode estar criticamente prejudicada, resultando em alteração do nível de consciência. - Cor da pele: coloração acinzentada da face e pele esbranquiçada em extremidades indicam hipovolemia. - Pulso: um pulso central de fácil acesso (femoral ou carotídeo) deve ser examinado bilateralmente para se avaliar sua qualidade, frequência e regularidade. Pulso rápido e filiforme é um sinal de hipovolemia. Uma frequência irregular costuma ser um alerta para uma potencial disfunção cardíaca. HEMORRAGIA: identificar se a fonte de hemorragia é externa ou interna. A hemorragia externa significativa deve ser tratada com compressão direta sobre o ferimento. Os torniquetes são efetivos na exsanguinação de extremidades, mas podem causar lesão isquêmica e devem ser utilizados quando a compressão direta não for efetiva. As principais áreas de hemorragia interna são tórax, abdome, retroperitônio, bacia e ossos longos. A fonte de sangramento pode ser identificada por exame físico, RX de tórax, pelve ou FAST. O tratamento pode incluir descompressão do tórax, compressão da pelve, uso de imobilizadores e intervenção cirúrgica. HIPOTENSÃO OU CHOQUE: a hipotensão arterial sistólica só é identificada com perda de cerca de 30% da volemia. Nos pacientes hipotensos ou chocados, o volume de líquido aquecido deve ser administrado o mais rápido possível. A dose empregada é cerca de 1 a 2L no adulto. A solução preferida é a de RL aquecido a 39ºC. A avaliação da reposição volêmica é feita observando-se os seguintes parâmetros: débito urinário, nível de consciência, perfusão periférica e valores do lactato e déficit de bases. DROGA ANTIFIBRINOLÍTICO: administrar ácido tranexâmico, inclusive pré-hospitalar se indicado. ARMADILHA: - TAMPONAMENTO CARDÍACO: Turgência jugular + bulhas cardíacas abafadas + pulso paradoxal = tríade de Beeck: Realizar pericardiocentese c/ agulha longa de peridural no espaço xifo-costal dirigida para o ombro E. * DISABILITY - DISFUNÇÃO NEUROLÓGICA: uma avaliação neurológica rápida estabelece o nível de consciência e o tamanho e reação pupilar do paciente; identifica a presença de sinais lateralizantes; e determina o nível de lesão medular, se presente, através da ECG. Uma diminuição no nível de consciência do paciente pode indicar diminuição da oxigenação e/ou perfusão cerebral, ou pode ser causada por lesão cerebral direta. Hipoglicemia, álcool, narcóticos e outras drogas também podem alterar o nível de consciência do paciente. Até que se prove o contrário, sempre presuma que as mudanças no nível de consciência resultam de lesões no sistema nervoso central. ABERTURA OCULAR RESPOSTA MOTORA RESPOSTA VERBAL Espontânea Estímulo verbal Estímulo à pressão (doloroso) Ausente 4 3 2 1 Obedece a comandos Localiza estímulo à pressão (doloroso) Retira membro à pressão (dor) Flexão anormal (decorticação) Extensão anormal (descerebração) Ausente 6 5 4 3 2 1 Orientado Confusa Palavra inapropriadas Palavras incompreensíveis Ausente 5 4 3 2 1 Obs.: No Glasgow o que mudou é que não pode mais causar dor e sim pressão (região ungueal, músculo trapézio e supra-orbital) como estímulo, mas o escore é o mesmo. * EXPOSITION - EXPOSIÇÃO E CONTROLE DO AMBIENTE: o doente deve ser totalmente despido, usualmente cortando as roupas para facilitar o exame e avaliação completos. Depois de retirar a roupa do doente e completar a avaliação, o doente deve ser coberto com cobertores aquecidos ou algum dispositivo de aquecimento externo para prevenir a ocorrência de hipotermia na sala de trauma. Os fluidos intravenosos devem ser aquecidos antes de administrados e o ambiente deve ser mantido aquecido. O mais importante é garantir a temperatura corporal do doente e não o conforto da equipe de atendimento. Lembrar de examinar o dorso e alinhar as fraturas. REANIMAÇÃO * CONCEITO: envolve o acesso às vias aéreas, a ventilação adequada e a infusão de fluidos no combate a hipovolemia e ao choque. O exame primário tem que ser interrompido temporariamente para que o processo de reanimação ocorra. A reanimação também segue a sequência ABC e ocorre simultaneamente com a avaliação. * MEDIDAS AUXILIARES À AVALIAÇÃO PRIMÁRIA E À REANIMAÇÃO: as medidas auxiliares incluem a monitoração eletrocardiográfica (arritmias podem indicar trauma cardíaco contuso), a cateterização urinária (monitorização do débito urinário, que deve ser de 0,5 ml/kg/h em adultos) e gástrica (descompressão do estômago), além de outras monitorações, como frequência respiratória, gasometria, oximetria de pulso e pressão arterial; e exames radiológicos (coluna cervical lateral, tórax AP e bacia panorâmica). Considerar necessidade de usar o E-FAST. Obs.1: na 10ª edição do ATLS o lavado peritoneal diagnóstico LPD ficou para segundo plano e no FAST entrou mais uma janela para o tórax (E-FAST = FAST estendido). Obs.2: considerar a necessidade de transferência do doente e não postergar. AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA * CONCEITO: não começa até que a pesquisa primária (ABCDE) seja concluída, os esforços de ressuscitação estejam em andamento e a melhora da vitalidade do paciente foi demonstrada. A pesquisa secundária é uma história completa e exame físico, incluindo a reavaliação de todos os sinais vitais. Cada região do corpo é completamente examinada. O potencial para perder uma lesão ou não avaliar o significado de uma lesão é grande, especialmente em pacientes quenão respondem ou são instáveis. Deve-se investigar a história do mecanismo do trauma através da sigla "AMPLA": - Alergia, - Medicamentos de uso habitual, - Passado médico/Prenhez, - Líquidos e alimentos ingeridos recentemente, - Ambiente e eventos relacionados ao trauma. * MEDIDAS AUXILIARES À AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA: testes diagnósticos especializados para identificar lesões específicas: RX adicionais da coluna e das extremidades; TC de crânio, tórax, abdome e coluna; urografia excretora e arteriografia; angiografia; USG-transesofágica; broncoscopia; esofagoscopia; videolaparóscopia diagnóstica em pacientes com trauma penetrantes abdominais; e outros procedimentos diagnósticos. REAVALIAÇÃO * CONCEITO: os pacientes com trauma devem ser reavaliados constantemente para garantir que as novas descobertas não sejam negligenciadas. A monitorização contínua dos sinais vitais, gasometria arterial, monitorização do CO2, SaO2 e débito urinário (0,5mL/kg/h) é essencial. O alívio da dor intensa é importante. Lesões musculoesqueléticas, produzem dor e ansiedade. A analgesia eficaz geralmente requer opiáceos ou ansiolíticos IV. TRATAMENTO DEFINITIVO * CONCEITO: deve ser realizado após a identificação das lesões, da resolução dos problemas e dos resultados laboratoriais e de exames complementares. Sempre que as necessidades de tratamento excederem a capacidade da instituição receptora, a transferência é considerada. As diretrizes de transferência inter-hospitalar ajudarão a determinar quais pacientes requerem o nível mais alto de atendimento ao trauma, e levam em consideração o estado fisiológico do paciente, a lesão anatômica evidente, os mecanismos de lesão, as doenças concomitantes e outros fatores que podem alterar o prognóstico. A instalação local apropriada mais próxima é escolhida. FONTE: Advanced Trauma Life Support – ATLS. Student Course Manual. 10ªed. 2018. Cap. 01, pág. 02. S.T.A.R.T.: Manual do Atendimento Pré-Hospitalar – SIATE/CBP. OBJETIVO 2 Hemorragias graves não tratadas ocasionam o desenvolvimento do estado de choque e morte. Hemorragias lentas e crônicas (por exemplo, através de uma úlcera) causam anemia (ou seja, quantidade baixa de glóbulos vermelhos). Em um adulto, o volume sanguíneo é de 7% do seu peso corporal. Há duas classes de hemorragia, sendo a primeira caracterizada pela perda de 15% da volemia e normalmente sem sintomas. Já a segunda pela perda de 15% a 30% da volemia. Quando há uma perda de sangue, são liberados plaquetas, hemácias e fibrinas para pausar a hemorragia. As plaquetas se modificam tornando pontiagudas para se juntar as fibrinas e formar um tampão. É o extravasamento de sangue dos vasos sanguíneos através de uma ruptura nas suas paredes. A hemorragia pode ser classificada em: 1. Externa - visível porque extravasa para o meio ambiente; 2. Interna - o sangue extravasa para o interior do próprio corpo, dentro dos tecidos ou cavidades naturais. Conforme o tipo de vaso sanguíneo lesado, considera-se a hemorragia mais ou menos grave: 1. Hemorragia arterial – perda de sangue de uma artéria. O sangue é de coloração viva, vermelho claro e derramado em jato, conforme o batimento cardíaco. Geralmente é rápida e de difícil controle. 2. Hemorragia venosa – perda de sangue por uma veia. Sangramento de coloração vermelho-escuro, em fluxo contínuo, sob baixa pressão. Considerada grave se a veia comprometida for de grosso calibre. 3. Hemorragia capilar – sangramento por um leito capilar. Flui de diminutos vasos da ferida. De coloração avermelhada, menos vivo que o arterial, é facilmente controlado. SINAIS E SINTOMAS DE HEMORRAGIA A hemorragia externa é facilmente reconhecida por ser visível. Geralmente o sangue se exterioriza por algum ferimento ou orifício natural do corpo (boca, nariz, ânus, vagina). A hemorragia interna não se exterioriza, sendo difícil, muitas vezes, identificar o local da perda de sangue. Sinais que levam a suspeitar de hemorragia interna: 1. Mecanismo de lesão – os traumas por contusão são as principais causas de hemorragia interna (acidentes de trânsito, quedas, chutes e explosões). 2. Sinais de fratura de pelve e ossos longos (braço, fêmur) – o extravasamento de sangue nos tecidos moles ao redor da fratura pode provocar hemorragias severas. 3. Rigidez de abdômen. 4. Área extensa de contusão (equimose) na superfície do corpo. 5. Ferida penetrante em crânio, tórax ou abdome. QUADRO CLÍNICO Varia com a quantidade perdida de sangue, velocidade do sangramento, estado prévio de saúde e idade do acidentado. 1. Quantidade de sangue perdido (Quadro IX): Quanto maior a quantidade perdida, mais graves serão as hemorragias. Geralmente a perda de sangue não pode ser medida, mas pode ser estimada através da avaliação do acidentado (sinais de choque compensado ou descompensado). 2. Velocidade: Quanto mais rápida as hemorragias, menos eficientes são os mecanismos compensatórios do organismo. Um indivíduo pode suportar uma perda de um litro de sangue, que ocorre em período de horas, mas não tolera esta mesma perda se ela ocorrer em minutos. Não pode ser medida, mas pode ser estimada através de dados clínicos do acidentado. A hemorragia arterial é menos frequente, mas é mais grave e precisa de atendimento imediato para sua contenção e controle. A hemorragia venosa é a que ocorre com maior frequência, mas é de controle mais fácil, pois o sangue sai com menor pressão e mais lentamente. As hemorragias podem se constituir em condições extremamente graves. Muitas hemorragias pequenas podem ser contidas e controladas por compressão direta na própria ferida, e curativo compressivo. Uma hemorragia grande não controlada, especialmente se for uma hemorragia arterial, pode levar o acidentado à morte em menos de 5 minutos, devido à redução do volume intravascular e hipoxia cerebral (anemia aguda). A hemorragia nem sempre é visível, podendo estar oculta pela roupa ou posição do acidentado, por exemplo, uso de roupas grossas, onde a absorção do sangue é completa ou hemorragias causadas por ferimentos nas costas quando o acidentado estiver deitada de costas. Algumas fraturas, especialmente as de bacia e fêmur podem produzir hemorragias internas graves e estado de choque. Observar extremidades com deformidades e dolorosas e estabilidade pélvica. A distensão abdominal com dor após traumatismo deve sugerir hemorragia interna. Algumas hemorragias internas podem se exteriorizar, por vezes hemorragias do tórax produzem hemoptise. O sangramento do esôfago, estômago e duodeno podem se exteriorizar através da hematêmese (vômito com sangue), ou dependendo do volume, através também de melena (evacuação de sangue). Tem basicamente duas causas, espontânea ou traumática. No caso da espontânea, geralmente é o sinal de alarme de uma doença grave. A hemorragia causada por traumatismo é a mais comum nos ambientes de trabalho, e dependendo da sua intensidade e localização, o mais indicado é levar o acidentado a um hospital, porém em certos casos pode-se ajudar o acidentado, tomando atitudes específicas. Em casos particulares, um método que pode vir a ser temporariamente eficaz é o método do ponto de pressão. A técnica do ponto de pressão consiste em comprimir a artéria lesada contra o osso mais próximo, para diminuir a afluência de sangue na região do ferimento. Hemorragia Interna É um extravasamento de sangue internamente, sendo assim não visível, podendo ser provocada por diversos motivos. Geralmente é precedido de um trauma fechado, que causou uma compressão forte sem que exista uma lesão externa, como a compressão do tórax em acidentes automobilísticos e fraturas na pelve. Embora na hemorragia interna o sangue não saia do corpo é uma situação de risco que compromete a circulação, porém é difícil de se identificar imediatamente. Os casos de hemorragia interna são também de muitagravidade, devido ao grau de dificuldade de sua identificação por quem está socorrendo. Suspeitar de hemorragia interna se o acidentado estiver envolvido em: ou objetos rígidos. dispensar socorro, é importante observar os seguintes sintomas: ante). Palidez intensa e mucosas descoradas. Sede acentuada. Apreensão e medo. Vertigens. Náuseas. Vômito de sangue. Calafrios. Estado de choque. Confusão mental e agitação. "Abdômen em tábua" (duro não compressível). Dispnéia (rápida e superficial). Desmaio. Hemorragia Externa Quando a hemorragia é externa pode-se, facilmente, notar a sua presença, pela exteriorização de sangue. Sua quantidade e intensidade depende do tipo de vaso afetado, e se é uma região do corpo com muitos vasos. Por exemplo, cortes no couro cabeludo causam mais sangramento, mesmo sendo pequenos, pois é uma região muito vascularizada. Na hemorragia externa o sangramento é evidente. Pode ser classificada em hemorragia arterial quando o sangue é vermelho vivo, pois é rico em oxigênio e a perda de sangue é rápida pela ação do coração e a pressão nas artérias dificultando a formação de um coágulo devido a velocidade do fluxo. No sangramento arterial, a coagulação pode requerer 10 minutos ou mais para coagular. Também pode ser classificada em hemorragia venosa quando o sangue flui em um fluxo regular, sendo de cor mais escura devido ser pobre em oxigênio. As veias quando lesadas, têm tendência de contrair-se. E por último em hemorragia capilar, caracterizada pelo o fluxo lento e pode ser identificado em cortes ou arranhões superficiais. O sangue flui de uma rede de capilares e quanto maior a área lesada, maior o risco de infecções. A maneira mais usada para controlar uma hemorragia externa é por meio da compressão direta. A compressão direta pode ser feita com gaze ou tecido limpo e seco sobre o ferimento e manter compressão firme e direta sobre o local por no mínimo 10 minutos. Também pode se utilizar uma bandagem de pressão sobre um curativo no local do ferimento. Pode ser associada com elevação do membro ou região de origem do sangramento acima do nível do coração, mas somente em casos que não há objetos cravados no local e descarte da possibilidade de fratura e deslocamento. OBJETIVO 3 – Tipos de choque CHOQUE: estado de hipoperfusão tecidual e hipóxia celular por desbalanço entre a oferta e o consumo de oxigênio - pode ocorrer por uma disfunção celular e mitocondrial – incapacidade dos tecidos de usar o oxigênio de forma adequada: perfusão inadequada é responsável por dano celular que causa má distribuição do fluxo sanguíneo, comprometendo ainda mais a perfusão celular e levando à falência de múltiplos órgãos (FMO) e morte. queimaduras ex-tensos, embolia pulmonar e sepse. o choque se caracteriza por hipoperfusão sistêmica dos tecidos; pode ser causado por diminuição do débito cardíaco ou do volume sanguíneo circulante efetivo. comprometimento da perfusão tecidual e a hipóxia celular. irreversível que muitas vezes se comprova fatal. ETIOLOGIAS Hipovolêmico (16%) – hemorrágico e não hemorrágico. Cardiogênico (16%) - queda do débito cardíaco; perda da capacidade contrátil do coração Distributivo – queda da resistência vascular sistêmica - séptico (62%) - não séptico (4%) Obstrutivo (2%) – extra cardíaco . SINAIS E SINTOMAS Hipotensão - pressão arterial média (PAM) < 60 mmHg em pessoas anteriormente normotensas. Taquicardia. Oligúria Alteração do estado mental. Pele fria e pegajosa – tempo de enchimento capilar/ Mottiling Score (começa na ponta do joelho). CHOQUE HIPOVOLÊMICO Acontece pela redução do volume intravascular (pré-carga reduzida) que, por sua vez, reduz o DC. m pele pálida, fria, úmida, taquicardica, diminuição do pulso venoso julgular, diminuição do débito urinário e alteração do estado mental. leve a moderada e diminuição do débito cardiaco, a RVS aumenta sensivelmente, e inicia-se a produção de lactato. ocorre uma lesão tecidual suficiente para que a adequada reposição de volume não seja mais efetiva na reversão do choque; isto é, o choque é irreversível. zes e quantidades similares de depleção de volume são mais bem toleradas. Hemorrágico: existem várias causas de choque hemorrágico, sendo o mais comum o trauma contuso ou penetrante, seguido por hemorragia varicosa e úlcera péptica. Causas menos comuns incluem hemorragia intraoperatória e pós- operatória, aneurisma aórtico abdominal roto e iatrogênica. Não hemorrágico: volume intravascular reduzido de perda de fluidos que não sangue. A depleção de volume pela perda de sódio e água pode ocorrer a partir de vários sítios anatômicos, como perdas gastrointestinais, perdas de pele e perdas renais. CHOQUE CARDIOGÊNICO Choque cardiogênico é causado por patologias cardíacas que levem à falência da bomba e à redução do débito cardíaco (DC). iogênico resulta da falência do coração como bomba, como resultado de alterações miocárdicas, valvares ou estruturais. volume sistólico e PAM estão diminuídos. Cardiomiopatia. Arrítmica: tanto taquiarritmias atriais e ventriculares quanto as bradiarritmias podem induzir hipotensão. Mecânica: insuficiência valvar aórtica ou mitral grave, defeitos valvares agudos, como a ruptura de um músculo papilar ou de cordoalhas tendíneas, dissecção retrógrada da aorta ascendente, ruptura aguda do septo intraventricular, mixomas atriais e ruptura do aneurisma da parede livre ventricular são causas de choque cardiogênico. CHOQUE DISTRIBUTIVO venoso que se origina da resposta imune sisêmica à infecção microbiana. lesão da medula espinhal (choque neurogênico). choque anafilático resulta de vasodilatação sistêmica e aumento da permeabilidade vascular que é deflagrado por uma reação de hipersensibilidade mediada por imunoglobulina E. Nesse caso, o débito cardíaco encontra-se preservado, dado que não há qualquer problema nem com a bomba cardíaca, nem com o volume circulante de sangue. É importante observar que o choque distributivo é a única modalidade de choque em que ocorre vasodilatação. SÉPTICO de morte. lactato (> 2 mmol/L) apesar da ressuscitação fluida adequada. É o tipo mais comum de choque distributivo e tem mortalidade estimada em 40-50%. para o corpo do que a própria infecção: São justamente esses casos que nós chamamos de Sepse. Toda vez que um microrganismo antigênico invade nosso corpo, ele vai ser exposto aos mecanismos imunológicos inatos e adquiridos que terão o objetivo de nos proteger. resposta imunológica se dá de forma exacerbada e isso também traz prejuízos. infecção - normalmente no trato respiratório, mas também é comum que seja no urinário ou no digestório - e, a partir daí, inicia uma produção exacerbada de mediadores pró- inflamatórios. TNF-α e a IL-1, que estão muito associadas ao desenvolvimento de Sepse. prostaciclinas, tromboxanos, leucotrienos, óxido nítrico, fator de ativação plaquetária (PAF), entre outros. paciente. processo infeccioso que, mesmo que localizado, provoca uma reação inflamatória generalizada. - o que também é característico da Sepse. morte celular. cardiovascular e o respiratório. CHOQUE NEUROGÊNICO edular. medular. a durar em torno de 24 horas após a lesão. falência cardíaca (tipo stunning) e falência de mecanismos de manutenção de tônus vascular. CHOQUE ANAFILÁTICO acometimento sistêmico e potencialmente fatal. o IgE ou IgG provoca sua ligação cruzada e ativação de mastócitos ou macrófagos → ocorre secreção de histamina e de fator ativador de plaquetas (PAF) - promovem ativação de células vasculares. dilatador óxido nítrico (NO) e à liberação de outras citocinas → Aumento da permeabilidade vascular, perda do controle normal de fluxo, perda do controle habitualde tônus vascular. Queda de pressão arterial: ocorre aumento do débito cardíaco inicialmente graças à dilatação arteriolar, queda da resistência vascular sistêmica, aumento da frequência cardíaca e algum aumento do débito cardíaco. - pela venodilatação maciça e extravasamento de fluidos para o espaço extravascular, causando perda do enchimento ventricular (pré-carga). diminuída → surge hiperlactatemia. CHOQUE OBSTRUTIVO Choque obstrutivo é causado principalmente por causas extracardíacas que culminam em insuficiência cardíaca. tamponamento pericárdico e a pericardite constritiva prejudicam o enchimento diastólico do ventrículo direito. embolia pulmonar maciça pode resultar em choque devido a um grande aumento da pós-carga de ventrículo direito. bito cardíaco, volume sistólico e PAM. pneumotórax hipertensivo pode levar ao choque obstrutivo por ser uma situação aguda de aumento da pressão intratorácica. Neste caso as grandes veias podem sofrer pressão em sua superfície externa diminuindo seu calibre em trechos sensíveis. tamponamento cardíaco é outra causa de choque obstrutivo. Neste caso, por algum motivo, ocorre um acúmulo de líquido entre as lâminas parietal e visceral do pericárdio seroso do coração. tromboembolismo pulmonar também causa choque obstrutivo. A existência de um trombo na circulação venosa, normalmente em membros inferiores, pode ser o ponto de partida para a ocorrência deste choque. O atrito entre o trombo e o fluxo sanguíneo acaba por destacar pequenos êmbolos. Esses êmbolos seguem para o coração direito, ganham as artérias pulmonares e chegam aos capilares pulmonares. O pequeno calibre destes vasos faz com que os êmbolos fiquem estacionados, formando microtrombos e obstruindo os capilares pulmonares. Caso esse fenômeno ocorresse com poucos capilares pulmonares, não haveria maiores repercussões. No entanto, isso ocorre com milhares deles. Com a rede capilar significativamente obstruída, não há quantidade considerável de sangue para retornar ao coração. CHOQUE HEMORRÁGICO -se choque como o estado de má perfusão tecidual, cuja etiologia é diversa, sendo o tipo hemorrágico o mais comum em pacientes vítimas de trauma. infusão de fluidos é um dos tratamentos fundamentais para estabilização hemodinâmica, entretanto a expansão volêmica excessiva pode causar complicações graves para o paciente crítico, como congestão sistêmica e pulmonar, cor pulmonale, edema intestinal, injúria renal e - consequentemente - aumento da morbidade e da mortalidade. (1) hemorrágico, em virtude de perdas sanguíneas para o meio externo - com óbvia manifestação da perda sanguínea - ou para o meio interno (hemotórax, hemorragia digestiva, hemoperitônio - p. ex.); ou (2) não-hemorrágico, por perda de fluido acelular para o meio externo (vômitos, diarreia, diurese osmótica) ou por transferência de fluidos para o meio extravascular (edemas, derrames cavitários). A hemorragia é a maior causa de morte potencialmente prevenível após um trauma, em cuja fase aguda deve-se priorizar a interrupção do sangramento. Quando a perda volêmica é persistente e não manejada adequadamente, pode haver progressão para o choque hemorrágico, estado patológico em que há queda do volume intravascular e da oferta de oxigênio Nessa circunstância, a fim de se prevenirem hipóxia, inflamação e disfunção orgânica, utilizam-se expansores plasmáticos, vasopressores e hemocomponentes para garantir oferta tecidual de oxigênio, prevenir e tratar coagulopatias. perda de volume intravascular, levando a uma oferta inadequada de oxigênio e nutrientes necessários à função celular normal. A hemorragia é a principal causa de choque em doentes de trauma. intensivos polivalentes. OBETIVO 4 E 5 – CHOQUE HEMORRAGICO Define-se choque como o estado de má perfusao tecidual, cuja etiologia é diversa, sendo o tipo hemorrágico o mais comum em pacientes vítimas de trauma. Nesse caso, a infusao de fluidos é um dos tratamentos fundamentais para estabilizaçao hemodinâmica, entretanto a expansao volêmica excessiva pode causar complicaçoes graves para o paciente crítico, como congestao sistêmica e pulmonar, cor pulmonale, edema intestinal, injúria renal e - consequentemente - aumento da morbidade e da mortalidade. Portanto, a quantidade ideal de fluidos a ser infundida deve ser avaliada individualmente, e dispositivos avançados de monitorizaçao podem ser úteis nesses casos. O choque hipovolêmico pode ser: (1) hemorrágico, em virtude de perdas sanguíneas para o meio externo - com óbvia manifestaçao da perda sanguínea - ou para o meio interno (hemotórax, hemorragia digestiva, hemoperitônio - p. ex.); ou (2) nao-hemorrágico, por perda de fluido acelular para o meio externo (vômitos, diarreia, diurese osmótica) ou por transferência de fluidos para o meio extravascular (edemas, derrames cavitários). A hemorragia é a maior causa de morte potencialmente prevenível após um trauma, em cuja fase aguda deve-se priorizar a interrupçao do sangramento. Quando a perda volêmica é persistente e nao manejada adequadamente, pode haver progressao para o choque hemorrágico, estado patológico em que há queda do volume intravascular e da oferta de oxigênio. Nessa circunstância, a fim de se prevenirem hipóxia, inflamaçao e disfunçao orgânica, utilizam-se expansores plasmáticos, vasopressores e hemocomponentes para garantir oferta tecidual de oxigênio, prevenir e tratar coagulopatias. O choque hemorrágico é definido como uma condição de diminuição da perfusão sanguínea de órgãos vitais por perda de volume intravascular, levando a uma oferta inadequada de oxigênio e nutrientes necessários à função celular normal. A hemorragia é a principal causa de choque em doentes de trauma. Atualmente, o choque é uma das principais causas de mortalidade e morbilidade em unidades de cuidados intensivos polivalentes. Os mecanismos fisiológicos para manutenção do volume intravascular e perfusão fazem da hipovolemia e choque hemorrágico um desafio clínico. Alterações no volume de sangue desencadeiam mecanismos compensatórios sistêmicos que levam o doente a apresentar-se aparentemente euvolemico. Cabe ao médico avaliar se o doente está com preenchimento vascular adequado. Mesmo o médico mais experiente pode não avaliar corretamente sinais subtis de hipovolemia. O reconhecimento nos seus estadios iniciais pode ser difícil, mas se reconhecido, oferece aos médicos a possibilidade de restaurar precocemente a perfusão dos vários órgãos, melhorando de forma considerável o prognóstico. Assumindo uma função cardíaca normal, a tensão arterial pode ser vista como um continuum dinâmico entre o volume intravascular e a resistência vascular sistêmica. Esta relação é inversamente proporcional: se o volume intravascular diminui, o tônus vascular aumenta (vasoconstrição) para manter uma perfusão adequada. Esta é a capacidade do organismo compensar um estado hipovolemico, o que cria um grande desafio quando tentamos reconhecer uma hemorragia. O doente mantém-se euvolêmico e com sinais vitais normais até que os mecanismos de compensação se esgotem. Em geral, doentes jovens previamente saudáveis que apresentam taquicardia e hipotensão leve estão em risco de perder os seus mecanismos compensatórios e entrar em choque profundo caso a terapia não seja iniciada. Os idosos muitas vezes estão polimedicados o que afeta negativamente a resposta hemodinâmica. A procura de sinais de hipoperfusão é crucial para uma terapêutica precoce. Idealmente, o choque deve ser reconhecido antes de se desenvolver hipotensão persistente. Em doentes com hipovolemia, o objectivo da monitorização hemodinâmica é obter uma visão da perfusão tecidular, desde o débito cardíaco até à resistência vascular periférica, passando pela resistência vascular pulmonar, shunt pulmonar e extracção de oxigénio pelos tecidos, o que incluia monitorização com o catéter de Swan Ganz ou, mais recentemente, por monitorização não invasiva como é o caso do “PiCCO”. Alterações nestas variáveis desencadeiam mecanismos compensatórios e refletem a ativação da cascata do processo inflamatório. A introdução de equipamentos de monitorização em estruturas vitais como o cérebro ou o coração acarreta riscos pela exposição do doente a potenciais traumas, infecções nosocomiais e aumento da morbilidade. Foram então desenvolvidos métodos indiretos e não invasivos de monitorização dos parâmetros fisiológicos. Estes métodos representam com precisão as funções dos vários sistemas fisiológicos. Tipicamente, a perfusão é avaliada pela monitorização da tensão arterial. A oxigenação dos tecidos é dependente de uma perfusão adequada e da tensão arterial. No entanto, uma tensão arterial normal nem sempre traduz uma perfusão adequada. Medidas como a frequência cardíaca, tensão arterial, débito urinário e pressão venosa central são simples e rápidas de monitorizar mas, usadas individualmente são inadequadas pois avaliam apenas um aspecto do volume intravascular. No entanto, a avaliação pelo shock index é mais fidedigna pois integra a frequência cardíaca e a tensão arterial sistólica. Existem estudos que apoiam o seu uso e como é fácil de aplicar, o shock index é uma mais-valia na prática clínica. O tratamento do choque hemorrágico engloba a abordagem da causa e a reposição de fluidos intravenosos de acordo com a gravidade do choque. Se estivermos perante uma hemorragia ativa, o tratamento cirúrgico é obrigatório o mais depressa possível para controlar a fonte de hemorragia. A falta de um diagnóstico específico não deve atrasar o início da reanimação. Os fluidos intravenosos usados atualmente são os colóides, cristalóides, sangue, derivados do sangue e seus substitutos. O objetivo é manter o volume circulante de modo a não comprometer a oxigenação dos tecidos. Uma terapêutica tardia conduz a uma vasoconstrição continuada com isquemia e desvio do metabolismo aeróbio para anaeróbio. O tratamento com cristalóides intravenosos e transfusão maciça de glóbulos vermelhos aumenta o risco de coagulopatia por diluição de plaquetas e fatores da coagulação. Glóbulos vermelhos, plasma e plaquetas são os componentes chave de um protocolo de transfusão maciça. Alguns autores defendem o suplemento com crioprecipitado e factor recombinante VIIa. Mais de um terço dos doentes têm evidências de coagulopatia aquando da admissão hospitalar. Convencionalmente, a fluidoterapia é administrada por via intravenosa. A via intraóssea é uma alternativa quando a punção venosa não é viável. A eficácia da reanimação pode ser avaliada pela monitorização seriada do débito urinário, equilíbrio ácido-base e níveis de lactato. Quando a fluidoterapia não é suficiente para estabilizar os doentes, pode recorrer-se ao uso de fármacos vasopressores. A dopamina e noradrenalina são vasopressores de primeira linha, no entanto o prognóstico é mais favorável quando a noradrenalina é usada. Epidemiologia O cenário da I Guerra Mundial (1914-1918) ofereceu alguns dos avanços mais importantes no tratamento do choque hemorrágico secundário a traumas. Os dados relativos à relação entre o tempo decorrido após as lesões e o início do tratamento (conceito de “hora de ouro”) demonstraram que os soldados que tiveram assistência na primeira hora após o trauma tiveram uma taxa de mortalidade de 10%, enquanto naqueles que receberam tratamento nas primeiras 8 horas após trauma a taxa de mortalidade rondava os 75%. Desde a I Guerra Mundial que foi demonstrado que o atendimento precoce dos militares de guerra era o ponto-chave para contrariar as elevadas taxas de mortalidade em combates. Com base no conceito da “hora de ouro”, a precocidade no atendimento durante a II Guerra Mundial (1939-1345) diminuiu a taxa de mortalidade global para os 21%. Pela primeira vez, foi introduzido durante a Guerra da Coreia (1950-1953) o “Hospital Cirúrgico Móvel do Exército” que possibilitou grandes avanços durante o atendimento aos militares no local de combate, reduzindo a taxa de mortalidade para 12%. Os desenvolvimentos sucessivos e a investigação da fisiopatologia e tratamento adequado do choque hemorrágico durante a Guerra do Vietnam (1959-1975) levaram a uma diminuição da taxa de mortalidade para os 3,9%. Durante os períodos de guerra, foram estabelecidas algumas correlações entre manifestações pulmonares e episódios prolongados de hipotensão ou mesmo choque hemorrágico, em soldados feridos em batalha. Durante a I Guerra Mundial foi descrito o colapso pulmonar maciço; na II guerra, o pulmão encharcado; na guerra da Coreia, a atelectasia congestiva; e na guerra do Vietnam, o pulmão de choque (pulmão de Da Nang). Estas entidades descritas com diferentes nomes em períodos diferentes tinham em comum a sua sequência evolutiva. Foi na Guerra do Vietnam que se deu o início da exaustiva investigação sobre o choque hemorrágico com a primeira descrição do pulmão de choque, que viria mais tarde a ser designado de síndrome de dificuldade respiratória do adulto (SDRA). Foi somente em 1967 que Ashbaugh e seus colaboradores descreveram cuidadosamente a SDRA, caracterizada por insuficiência respiratória aguda com hipoxemia progressiva grave, refratária à oxigenoterapia, associada a infiltrados pulmonares bilaterais e diminuição da complacência pulmonar, um quadro que se instala horas após a agressão de um pulmão previamente normal. Atualmente, a hemorragia é a causa mais comum de choque em doentes de trauma. A maioria das mortes por hemorragia ocorre nas primeiras 6 horas após lesão. Isto verifica-se porque os doentes não têm assistência no local do acidente, a sua transferência para uma unidade hospitalar é tardia ou porque apresentam hemorragia incontrolável por alterações da coagulação, mesmo em doentes politransfundidos. Hemorragia é a causa maior de mortalidade após ferimento e é responsável por 30 – 40% das mortes em trauma. Mais de metade dessas mortes ocorrem durante o período préhospitalar. A principal causa de morte em traumas civis e militares é o choque hemorrágico. Muitas dessas mortes podem ser prevenidas. O trauma é a principal causa de morte até aos 44 anos. O choque hemorrágico e exsanguinação são responsáveis por um grande número dessas mortes, que representam mais de 80% das mortes no bloco operatório e cerca de 50% das mortes nas primeiras 24 horas. O choque hemorrágico ocupa o segundo lugar nas causas de morte após trauma. O primeiro lugar corresponde às lesões neurológicas, principalmente quando implicam um traumatismo crânioencefálico ou vértebro-medular alto; Na assistência tardia, a hemorragia ativa é complicada pela conhecida “tríade letal” de coagulopatia, hipotermia e acidose que aumenta significativamente a mortalidade e morbilidade. Hemorragia não controlada e coagulopatia continuam a ser causas importantes de morte em trauma. Fisiopatologia FISIOlOGIA CARDÍACA BÁSICA débito cardíaco é definido como o volume de sangue bombeado pelo coração a cada minuto e é determinado pelo produto da frequência cardíaca e do volume sistólico. DC: FC x VS ção cardíaca é determinado pela pré- carga, contratilidade miocárdica e pós-carga. pré-carga expressa o volume de retorno venoso para o coração e é determinada pela capacitância venosa, pelo estado da volemia e pela diferença entre a pressão venosa sistêmica média e a pressão do átrio direito. consequência, reduz o retorno venoso. volume sanguíneo venoso que volta para o coração determina o comprimento das fibras musculares miocárdicas depois do enchimento ventricular, no fim da diástole. pós-carga é a resistência vascular sistêmica (periférica) ou, em palavras mais simples, a resistência ao fluxo anterógrado de sangue. FISIOPATOLOGIA DA PERDA SANGUÍNEA -se em mecanismo de compensação:progressiva vasoconstrição da circulação cutânea, muscular e visceral para preservar o fluxo sanguíneo aos rins, coração e cérebro. -se por meio de um aumento da frequência cardíaca na tentativa de preservar o débito cardíaco. , a taquicardia representa o sinal circulatório mensurável mais precoce do choque. liberação de catecolaminas endógenas aumenta a resistência vascular periférica. diastólica aumenta e a pressão de pulso se reduz, embora tais alterações não resultem em aumentos significativos da perfusão orgânica. vasoativas são liberados na circulação durante os estados de choque, dentre os quais a histamina, a bradicinina, as betaendorfinas e uma cascata de prostanoides e de outras citocinas. microcirculação e na permeabilidade vascular. retorno venoso na fase inicial do choque hemorrágico é preservado em algum grau pelo mecanismo de compensação pela redistribuição do volume sanguíneo no sistema venoso, fato este que não contribui para modificar a pressão venosa sistêmica média. fusão a órgãos-chave é o restabelecimento do retorno venoso ao normal, através da localização e interrupção do foco de sangramento e de reposição volêmica apropriada. as células que são perfundidas e oxigenadas inadequadamente ficam privadas de substratos essenciais para o metabolismo aeróbico e para a produção de energia. anaeróbico, que leva à formação de ácido lático e ao desenvolvimento de acidose metabólica. -trifosfato (ATP) for inadequada, a membrana celular perde a capacidade de manter a sua integridade e o gradiente elétrico normal desaparece. -inflamatórios como óxido nítrico sintetase (iNOS), fator de necrose tumoral (TNF) e outras citocinas são liberados, propiciando um cenário de dano orgânico final e subsequente disfunção de múltiplos órgãos e sistemas. Se o processo não for revertido, o dano celular progride, podendo ocorrer alterações na permeabilidade endotelial, edema tecidual adicional e morte celular. agia e hipoperfusão, aumentando potencialmente o volume de fluido necessário para a reanimação. A administração de quantidades apropriadas de soluções eletrolíticas isotônicas e sangue ajuda a combater tal processo. oxigenação e ventilação adequadas e reposição apropriada de fluidos bem como a interrupção da hemorragia. tratamento inicial do choque é direcionado no sentido de restabelecer a perfusão celular e orgânica com sangue adequadamente oxigenado. o o controle da hemorragia e o restabelecimento do volume circulante adequado. RESPOSTAS SISTÊMICAS A HEMORRAGIA AGUDA diminuição do retorno venoso, reduzindo o volume diastólico final (pré- carga). ção da pré-carga diminui o comprimento das fibras musculares do miocárdio, o que reduz a sua contratilidade e diminui o débito cardíaco. à hemorragia é a formação de um coágulo no local de sangramento. -se a redistribuição do fluxo sanguíneo, com diminuição da circulação em órgãos menos vitais como os rins, intestino e pele, preservando a circulação em órgãos prioritários como o coração, cérebro, pulmões e o músculo esquelético. respiração anaeróbia e acumulação de lactato. a diminuição do débito cardíaco e posteriormente, da pressão de pulso. barorreceptores do arco aórtico, aurícula esquerda e corpo carotídeo. nte e o centro vasomotor da medula. Catecolaminas libertadas pelo SNS eferente vão estimular os receptores adrenérgicos. Estes receptores desencadeiam estímulos simpáticos para o coração e outros órgãos, que respondem por vasoconstrição, aumento da resistência vascular periférica e do cronotropismo e ionotropismo cardíaco, com o objetivo de aumentar a pressão de perfusão. hipovolemia, a taxa de filtração glomerular diminui e as células do aparelho justaglomerular da arteríola aferente libertam renina. renina ativa o sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) cuja função principal é produzir angiotensina II, um potente vasoconstritor que atua diretamente no músculo liso vascular, promovendo a retenção de sódio e água libertação de neurotransmissores do SNS. reabsorção de fluidos. aumentam o débito cardíaco e mantêm uma pressão de perfusão adequada. débito urinário diminui ligeiramente e a sede aumenta, mantendo assim o volume circulante. taquipneia e hipotensão. hormônio adrenocorticotrófica, epinefrina e norepinefrina que melhoram os mecanismos compensatórios. -endócrinas ocorre como resposta a estímulos simpáticos. -dependente e em alguns casos demora mais de 24 horas a ocorrer. durante a hipovolemia grave. hipóxia e o aumento da ventilação é fundamental para compensar a acidose metabólica. de microembolias e vasoconstrição pulmonar. fluxo hepático e a isquemia ocorre da zona periportal para a zona centrolobular, levando a necrose centrolobular quando o choque se torna irreversível. e de glutamina nos hepatócitos pericentrais e de ureia nos hepatócitos periportais, aumentando os níveis de amônia no plasma. perfusão podem causar necrose tubular aguda e eventualmente, insuficiência renal. A disfunção renal diminui a excreção de ureia e aumenta a concentração plasmática de amônia na veia renal. usão e vasoconstrição. cerebral. disfunção cardíaca, que por sua vez diminui a circulação cerebral. originando vasodilatação e aumento da permeabilidade capilar. travascular disseminada surge por disfunção hematológica. O trauma/hemorragia desencadeia a ativação do processo inflamatório com libertação de mediadores químicos que incluem catecolaminas, cininas, ativação de monócitos, produção de radicais livres de oxigênio, formação de fator ativador das plaquetas (PAF, platelets activating factor). Todas estas respostas sistêmicas vão culminar na perda de consciência, coma e finalmente a morte SINAIS E SINTOMAS relativamente insensível e inespecífico, noutros apresenta-se de um modo quase óbvio com palidez cutânea, pulso filiforme e hemorragia visível. velocidade da perda sanguínea e diminuição de volume, da duração do tempo de hemorragia, dos antecedentes clínicos do doente e presença de processos patológicos concomitantes. taquicardia, hipotensão, oligúria, extremidades frias, pulso periférico fraco, diminuição da pressão de pulso (< 25 mmHg), atraso no enchimento capilar (> 2 segundos) e estado mental alterado. odem estar presentes em doentes com hipovolemia: 1. Relacionados com a depleção de volume. 2. Relacionados com o tipo de fluido perdido. 3. Relacionados com os distúrbios eletrolíticos e ácido-base associados. volume estão principalmente relacionados com a diminuição da perfusão tecidual. lassidão, fatigabilidade fácil, sede, cãibras musculares e tonturas. dor abdominal, dor torácica ou letargia e confusão devido a isquemia mesentérica, coronária ou cerebral, respectivamente. cluem fraqueza muscular devido a hipo ou hipercaliemia, poliúria e polidipsia devido a hiperglicemia ou hipercaliemia grave e letargia, confusão, convulsões e coma devido a hipo ou hipernatremia ou hiperglicemia. emia, há aumento da atividade simpática que se caracteriza por taquicardia, frio, sudorese, extremidades úmidas, cianose, diminuição do débito urinário, agitação e confusão mental. a perda aguda de peso. CLASSIFICAÇÃO porcentagem da perda aguda de sangue. hemorragia classe I é exemplificada pela condição do doador de uma unidade de sangue. hemorragia classe II é representada pela hemorragia não complicada, mas na qual é necessária a reposição de cristaloides. hemorragia classe III é um estado hemorrágico mais complicado no qual é necessária a reposição de, no mínimo, cristaloides e, possivelmente, de sangue. hemorragia classe IV deve ser considerada como um evento pré-terminal, no qual, a menos que medidas terapêuticas muito agressivas sejam adotadas, o doente morrerá dentro de minutos. da hemorragiae a reposição com solução balanceada deve ser iniciada precocemente, tão logo se tornem suspeitos ou aparentes sinais e sintomas de perda sanguínea - não quando a pressão arterial se reduza ou não possa ser aferida. sitam de sangue. Hemorragia Classe I - Perda de até 15% do Volume Sanguíneo. Os sintomas clínicos da perda volêmica na classe I de hemorragia são mínimos. Em situações não complicadas, ocorre taquicardia leve. Não ocorrem alterações mensuráveis na pressão arterial, na pressão de pulso ou na frequência respiratória. Desse modo, em doentes saudáveis, essa perda volêmica não exige reposição, porque o preenchimento capilar e outros mecanismos de compensação restabelecem o volume circulatório em 24 horas, geralmente sem a necessidade de transfusão sanguínea. Hemorragia Classe II - Perda de 15% a 30% do Volume Sanguíneo. Em um homem de 70 kg, a perda volêmica representa de 750 a 1.500 mL de sangue. Os sintomas clínicos incluem taquicardia (frequência cardíaca acima de 100 no adulto), taquipneia e diminuição da pressão; esse último sinal está primariamente relacionado à elevação do componente diastólico decorrente do aumento de nível de catecolaminas circulantes. Esses agentes produzem um aumento no tônus e na resistência vascular periférica. A pressão sistólica muda pouco no início do choque hemorrágico; portanto, é mais importante avaliar a pressão de pulso que a pressão sistólica. Outros achados clínicos pertinentes a esse grau de perda sanguínea incluem alterações sutis do sistema nervoso central, como ansiedade, medo ou hostilidade. Apesar das significativas alterações cardiovasculares e da perda significativa de sangue, a diurese está pouco alterada. O débito urinário é usualmente de 20 a 30 mL/h no adulto. Perdas hidroeletrolíticas concomitantes podem agravar a manifestação clínica da hemorragia classe II. Alguns desses doentes acabam necessitando de transfusão sanguínea, mas podem ser estabilizados inicialmente pela reposição de soluções cristaloides. Hemorragia Classe III - Perda de 30% a 40% do Volume Sanguíneo. A perda de sangue na hemorragia classe III (aproximadamente 1.500 a 2.000 mL no adulto) pode ser devastadora. Os doentes quase sempre apresentam os sinais clássicos de perfusão inadequada, incluindo taquicardia acentuada, taquipneia, alterações significativas do estado mental e queda mensurável da pressão sistólica. Em casos não complicados, esse é o menor volume de perda sanguínea que provoca queda consistente da pressão sistólica. Doentes com esse grau de perda sanguínea quase sempre requerem transfusão. Entretanto, a prioridade no tratamento inicial é interromper a hemorragia por meio da realização de cirurgia de emergência ou embolização se necessário. Muitos doentes nessa categoria vão requerer concentrado de hemácias e produtos sanguíneos para a reanimação no intuito de reverter o estado de choque. A decisão de transfusão de sangue é baseada na resposta do doente à reposição líquida inicial. Hemorragia Classe IV - Perda de Mais de 40% do Volume Sanguíneo. Esse grau de exsanguinação nas hemorragias grau IV é uma ameaça imediata à vida. Os sintomas incluem taquicardia acentuada, diminuição significativa da pressão sistólica e presença de pressão do pulso muito pinçada (ou de pressão diastólica não mensurável). O débito urinário é desprezível e o nível de consciência está notadamente deprimido. A pele está fria e pálida. Tais doentes usualmente exigem transfusão rápida e intervenção cirúrgica imediata. Essa decisão é baseada na resposta do doente às medidas de tratamento inicial descritas neste capítulo. Perdas volêmicas superiores a 50% determinam inconsciência, diminuição da pressão de pulso e da pressão sanguínea. ALTERAÇÕES NOS PARÂMETROS LABORATORIAIS uma variedade de alterações na composição do sangue e urina. HEMATÓCRITO E CONCENTRAÇÃO DE HEMOGLOBINA moglobina ocorrem de acordo com a perda de sangue e a reposição de fluidos. isovolemica. concentração de hemoglobina, enquanto na anemia isovolemica a diminuição da concentração de hemoglobina pode ocorrer com valores normais ou até aumentados de volume de sangue. ber fluidoterapia intravenosa. ESTUDOS DA COAGULAÇÃO E CONTAGEM DE PLAQUETAS admissão no serviço de urgência hospitalar e que está associada a um aumento três vezes superior na mortalidade. OSMOLARIDADE URINÁRIA dicada por doenças renais, diurese osmótica, fármacos diuréticos e diabetes insípida central ou nefrogénica. da osmolaridade urinária. ssim, a osmolaridade urinária alta é coerente com hipovolemia mas um valor relativamente normal não a exclui. CONCENTRAÇÃO PLASMÁTICA DE UREIA E CREATININA com a taxa de filtração glomerular. concentração plasmática de creatinina é uma estimativa mais confiável da taxa de filtração glomerular pois é produzida de forma constante pelo músculo esquelético e não é reabsorvida nos túbulos renais. ste valor pode estar aumentado na hipovolemia devido ao aumento da reabsorção de ureia ligada passivamente à reabsorção de sódio e água. filtração glomerular e não for tratada. CONCENTRAÇÃO PLASMÁTICA DE SÓDIO E POTÁSSIO está associada a hiponatremia. EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE ar normal mas a acidose metabólica pode ocorrer por aumento da concentração de lactato e consequente diminuição de bicarbonato. arterial de oxigênio e dióxido de carbono, concentração plasmática de bicarbonato e excesso de base. mantiver sem terapêutica. TRATAMENTO l objetivo é parar a hemorragia e restaurar o volume de sangue circulante. exame físico ou alterações dos parâmetros laboratoriais. valiação rápida da possível fonte hemorrágica é essencial quando se suspeita que está na origem da instabilidade hemodinâmica. hipovolémico. luidos intravenosos como colóides, cristalóides ou derivados do sangue pode salvar a vida destes doentes. baixas de hemoglobina. a tardia conduz a isquemia e consequente hipóxia tecidular com desvio do metabolismo aeróbio para anaeróbio. de órgãos. erar qual o tipo de fluido mais apropriado, em que quantidade, a sua taxa de infusão, os end- points da reanimação e, eventualmente, o uso de fármacos vasopressores. e (20 mL/kg em doentes pediátricos) associados ou não a soluções colóides, numa tentativa de reposição da volemia. a cardíaca, frequência respiratória, pressão venosa central, débito urinário, estado mental e perfusão periférica muitas vezes são suficientes para guiar a reanimação, embora o estudo gasométrico permita ter uma ideia do estado do equilíbrio ácido-base bem como da lactacidemia, sendo esta um indicador importante do metabolismo periférico. dilucional. principalmente se a causa for uma hemorragia externa. como um único compartimento, no qual as alterações da concentração de hemoglobina ocorrem de acordo com a perda de sangue e a reposição de fluidos. inicialmente constante. Abordagem inicial A B C D E ESTRATÉGIAS DE REANIMAÇÃO Durante conflitos como a I e II Guerras Mundiais e guerra do Vietnam, a chave para a sobrevivência foi a reposição do volume intravascular o mais rapidamente possível. O conceito de “hora de ouro” era o período de tempo permitido para o médico reverter o choque e evitar danos nos vários órgãos. No entanto, os dados mais recentes focam-se também na questão prática da fluidoterapia agressiva. Vários estudos documentaram uma exacerbação na perda de sangue e aumento da mortalidade quando a reanimação normaliza rapidamente a tensão arterial antes do controle da hemorragia. Tal fato é explicado pela ruptura precoce do coágulo formado no local da hemorragia, hipotermia, diluição dos fatores da coagulação e disfunção plaquetária, o que levou à discussão sobre a abordagem mais adequada para a reanimação. Neste estudo, a reanimação hipotensiva com cristalóides foi benéfica comparativamentecom controles não reanimados. Na fase pré-hospitalar ou em ambientes adversos, quando o esfigmomanómetro não está disponível, a reanimação hipotensiva pode ser obtida através da infusão lenta de cristalóides, que mostrou uma recuperação mais rápida da função imune mediada por células que foi suprimida pela hemorragia e uma redução de danos nos órgãos e na mortalidade. RESTAURAÇÃO DO VOLUME INTRAVASCULAR Gerações de médicos foram treinadas para reverter o choque na “hora de ouro”, preservando a função dos vários órgãos e evitando a morte. Em 1964 Shires e colaboradores demonstraram experimentalmente que cristalóides (lactato de Ringer ou soro fisiológico) e sangue foram necessários para restaurar a perfusão. Demonstraram ainda a insuficiência das bombas Na+ /K+ ATPase, que condiciona a entrada de sódio e água para dentro das células. A insuficiência dessas bombas resulta já da diminuição do ATP intracelular na sequência das alterações da microcirculação e consequente hipoxémia. Durante a guerra do Vietnam, vários trabalhos suportaram a estratégia 3:1 na reposição do volume com cristalóides isotónicos pois pensava-se que grandes volumes de cristalóides aumentavam a sobrevivência através da reposição do volume intravascular e intersticial. Dados experimentais mostraram aumento da incidência de acidose metabólica hiperclorémica e da mortalidade com solução salina normal, levando ao surgimento do lactato de Ringer como o fluido cristalóide de escolha para a reanimação na era após o Vietnam. Nas décadas seguintes, o Advanced Trauma Life Support (ATLS) standardizou a infusão rápida de 2 litros de lactato de Ringer na presença de sinais de choque hemorrágico. No entanto, a era pós Vietnam também ficou marcada pela preocupação crescente com o edema tecidular resultante de grandes volumes infundidos durante a reanimação e com a lesão pulmonar aguda devida ao aumento da taxa de filtração nos capilares pulmonares e inflamação pulmonar consequente, que vem a ser designada de Síndrome de Dificuldade Respiratória do Adulto (SDRA). Nas décadas a seguir, foram descobertos outros efeitos prejudiciais da infusão de grandes volumes de cristalóides, incluindo aumento do volume intersticial no intestino e coração, efusão pericárdica, síndrome do compartimento abdominal e das extremidades em membros ilesos. Uma revisão recente refere também distúrbios na função celular, metabólica e imune subjacentes a esses efeitos deletérios. A preocupação com as consequências da infusão de grandes volumes de cristalóides levou ao interesse em fluidos hipertónicos e hiperoncóticos como alternativas. Os colóides como o hetastarch e albumina, aumentam a pressão oncótica do plasma enquanto os cristalóides a diminuem. Alguns estudos mostraram menor incidência de edema pulmonar em doentes tratados com colóides, comparativamente com cristalóides, enquanto outros não evidenciaram essa diferença. Experiências em animais obtiveram outros benefícios dos colóides comparativamente com cristalóides, como restauração mais rápida da perfusão tecidular, melhoria na oferta de oxigénio e redução da lesão intestinal e pulmonar. No início dos anos 80 começam a ser exploradas soluções hipertónicas com o objetivo de encontrar uma alternativa à infusão de grandes volumes de cristalóides. A solução salina hipertónica expande rapidamente o volume plasmático com menor quantidade de fluido necessária, quando comparada com soluções cristalóides. No final da década de 80, uma solução salina hipertónica e hiperoncótica (com hetastarch e dextrano) foi considerada o fluido ideal, particularmente na fase pré-hospitalar. Em 2008, uma triagem pré-hospitalar comparou a solução de hetastarch-dextrano com o soro fisiológico convencional e concluiu que a taxa de mortalidade precoce é maior na primeira, pelo que não é a opção ideal. Apesar de todos os esforços, um fluido que restaure o volume vascular e a microcirculação com poucos ou nenhuns efeitos adversos não existe. Atualmente, o fluido ideal para reanimação não está definido. Com base nos dados disponíveis até ao momento, Santry e Alam (2010) afirmam que o lactato de Ringer parece ser a escolha mais razoável porque induz pouca resposta inflamatória e disfunção imune, causa menos anormalidades eletrolíticas, tem boa relação custo-benefício e está facilmente disponível para uso clínico. Na perspectiva do American College of Surgeons (2008), o lactato de Ringer e a solução salina normal são ambas opções de primeira linha. Este tipo de fluidos prevê uma expansão intravascular transitória e ainda estabiliza o volume vascular, substituindo as perdas de fluido para os espaços intersticial e intracelular. Um fluido alternativo é solução salina hipertónica, embora não haja evidências na literatura actual de vantagens na sobrevivência. Convencionalmente, a fluidoterapia é administrada por via intravenosa. No entanto, a via intra-óssea é adequada em todas as idades e está especialmente indicada em doentes com difícil acesso intravenoso ou colapso cardiovascular como pode ocorrer em doentes com choque hemorrágico. Os locais anatómicos ideais para infusão são a tíbia proximal medial, cabeça do úmero e manúbrio do esterno. 1. CRISTALÓIDES O American College of Surgeons (2008) recomenda o lactato de Ringer e a solução salina normal como escolhas de primeira linha para o tratamento inicial do choque hemorrágico não controlado. A solução salina normal, também designada soro fisiológico, levanta preocupações relativamente à indução de acidose metabólica hiperclorémica. O Lactato de Ringer pode originar alcalose metabólica devido à conversão de lactato em bicarbonato mas isto não parece ter consequências clínicas. 2. COLÓIDES Colóides são substâncias de alto peso molecular como a albumina, dextrano (polissacarídeo à base de glicose) e hetastarch (6% de hidroxietilamido em 0,9% de NaCl) que aumentam a pressão oncótica do plasma. Podem ser administradas para aumentar o volume circulatório. Como os colóides ficam limitados ao espaço vascular, a expansão do volume plasmático ocorre de forma mais rápida. Os colóides mantêm o volume intravascular sem causar edema tecidular mas estão associados a risco aumentado de coagulopatia, disfunção renal e acidose metabólica hiperclorémica. Como não há hipoalbuminémia dilucional, o risco de desenvolver edema pulmonar é menor. No entanto, vários estudos e meta-análises não demonstraram esses benefícios teóricos pelo que o Colégio Americano de Cirurgiões não recomenda o uso de albumina como fluido de reanimação. 3. SOLUÇÃO SALINA HIPERTÓNICA A solução salina hipertónica (NaCl a 7%) pode ser benéfica através do movimento osmótico do fluido intersticial para dentro do espaço vascular e pela modulação da resposta inflamatória à lesão. Há evidências de que poderá ser eficaz em doentes com traumatismo crânio-encefálico fechado mas a US Food and Drug Administration não autorizou o seu uso durante a reanimação. Poucos estudos demonstraram os seus benefícios mesmo nos doentes em que pareciam mais prováveis, como o caso de doentes com traumatismo craniano, pelo que não há interesse em continuar com o papel da solução salina hipertónica durante a reanimação em choque hemorrágico. O American College of Surgeons (2008) apresenta a solução salina hipertónica como uma alternativa às soluções electrolíticas isotónicas (lactato de Ringer e solução salina normal), apesar de não haver evidências na literatura actual sobre o seu benefício na sobrevida. 4. QUANDO TRANSFUNDIR? Quando iniciar uma transfusão de sangue continua a ser uma importante questão sem resposta e muitas vezes depende da situação clínica. O uso de sangue e hemoderivados é necessário quando a perda estimada de sangue ultrapassa 30% do volume de sangue total (hemorragia classe III). No entanto, determinar este valor é extremamente difícil durante uma hemorragiaaguda devido à hemodiluição produzida pela fluidoterapia. Apesar das fórmulas propostas para estimar a perda de sangue, o uso de sangue como fluido de reanimação contínua empírico. Actualmente, um doente hipotenso com evidência de hemorragia e que não responda aos cristalóides iniciais, deve ser tratado com sangue e hemoderivados. Felizmente, menos de 5% dos doentes admitidos nos hospitais vão exigir uma transfusão maciça (10 ou mais unidades de glóbulos vermelhos nas primeiras 24 horas) 5. PRODUTOS DERIVADOS DO SANGUE Produtos derivados do sangue são utilizados para restaurar o volume circulante, substituir os fatores da coagulação e aumentar a capacidade de transporte de oxigênio. Os glóbulos vermelhos são os hemoderivados mais utilizados. Cada unidade tem uma semi-vida média de 40 dias. No entanto, quando administrados sem outros componentes do sangue não simulam o que o doente perde durante a hemorragia. O número de unidades transfundidas (hemodiluição crescente) e a sua idade (maior número de células não viáveis) estão relacionadas diretamente com a mortalidade. O seu uso é recomendado para manter um hematócrito superior a 30%, o que geralmente acontece com a reposição inicial de cristalóides. Por exemplo, a transfusão é imediatamente necessária quando a exsanguinação é iminente. Duas unidades de glóbulos vermelhos devem ser administradas se o doente não melhorar após 2 ou 3 litros iniciais de cristalóides. Plasma fresco congelado está disponível para transfusão desde 1941 e como o nome indica, está congelado a -30ºC. Cada unidade de 200 mL é descongelada em banho-maria a 37ºC e fica disponível para uso. É aceitável manter o plasma descongelado a 4ºC durante 24 horas pois o seu conteúdo hemostático é preservado. Após as 24 horas prevê-se que haja diminuição do conteúdo hemostático. Após 5 dias, os factores da coagulação diminuem, principalmente o factor V e VIII. A administração de plasma fresco congelado ajuda a reverter ou prevenir a coagulopatia através do fornecimento de uma fonte de fatores da coagulação que repõe o défice de fatores endógenos provocado por hemorragia, hemodiluição e coagulopatia de consumo. Plaquetas e/ou plasma fresco congelado devem ser administrados em doentes com contagem de plaquetas inferior a 10 000 μL, transfusão de glóbulos vermelhos superior a 6 unidades ou que tenham provas da coagulação anormais. De igual modo, deve ser monitorizada a concentração de cálcio no doente politransfundido. Um dos maiores centros de trauma dos Estados Unidos recomenda a transfusão de 6 unidades de plasma fresco congelado e uma unidade de plaquetas após a transfusão de 6 unidades de glóbulos vermelhos. 6. FACTORES DA COAGULAÇÃO Não existem dados claros quanto à transfusão de fatores da coagulação em doentes que necessitam de transfusão maciça. A monitorização das provas da coagulação deve ser frequente, com particular incidência na protrombinémia, INR (Relação Normalizada Internacional), D-Dímeros, fibrinogénio e no caso de politraumatizados graves pode ser importante a avaliação do respectivo tromboelastograma. AVALIAÇÃO DA REANIMAÇÃO E PERFUSÃO Os sinais e sintomas de uma perfusão inadequada que são usados para diagnosticar o choque hemorrágico são também usados para determinar a resposta dos doentes à terapêutica. O regresso ao normal da tensão arterial, pressão de pulso e frequência cardíaca são sinais que sugerem a restauração de uma perfusão normal. No entanto, estas observações não nos dão informação sobre a perfusão dos órgãos. O volume do débito urinário é um indicador razoável da perfusão renal; volumes normais de urina geralmente implicam um fluxo sanguíneo renal adequado, desde que não haja administração de agentes diuréticos. Por estas razões, o débito urinário é uns dos primeiros indicadores da resposta do doente à reanimação. A reposição de volume para uma reanimação adequada produz um débito urinário de aproximadamente 0,5 mL/kg/h em adultos. Doentes numa fase precoce do choque hipovolemico podem apresentar alcalose respiratória devida à taquipneia. A alcalose respiratória é frequentemente seguida de uma acidose metabólica na fase inicial do choque, e geralmente não requer tratamento. A acidose metabólica severa desenvolve-se no choque de longa duração ou choque severo. A persistência da acidose é causada por uma reanimação inadequada ou por hemorragia contínua e deve ser tratada com fluidos, sangue ou considerar uma intervenção cirúrgica para controlo da hemorragia. O défice de base e/ou lactato pode ser usado para determinar a presença e gravidade do choque. Medições seriadas desses parâmetros são usadas para monitorização da resposta à terapêutica. O bicarbonato de sódio não deve ser usado por rotina para tratamento da acidose metabólica secundária ao choque hipovolêmico. DECISÕES TERAPÊUTICAS BASEADAS NA RESPOSTA À REANIMAÇÃO INICIAL TERAPÊUTICA FARMACOLÓGICA 1. DOPAMINA VERSUS NORADRENALINA A administração de fluidos é a estratégia terapêutica de primeira linha mas muitas vezes é insuficiente para estabilizar os doentes, pelo que os agentes adrenérgicos podem ser necessários para corrigir a hipotensão. Dentro destes, a dopamina (2-10 μg/kg/min) e noradrenalina (0,05-0,5 μg/kg/min) são agentes vasopressores de primeira linha no tratamento do choque. No entanto, há uma contínua controvérsia sobre qual dos fármacos é superior. Os vasopressores não corrigem o problema de base e podem agravar ainda mais a hipoperfusão tecidular. Ambos actuam nos receptores alfa-adrenérgicos e beta-adrenérgicos mas com diferente intensidade. A acção alfa-adrenérgica aumenta o tónus vascular mas diminui o débito cardíaco e o fluxo sanguíneo regional, especialmente no território renal, esplâncnico e cutâneo. Os efeitos beta-adrenérgicos ajudam a manter o fluxo sanguíneo e aumentam a perfusão esplâncnica graças aos efeitos ionotrópico e cronotrópico positivos. A actividade beta-adrenérgica pode ter efeitos adversos como aumento do metabolismo celular e imunossupressão. Em doses baixas (< 5 μg/kg/min), a dopamina também estimula os receptores dopaminérgicos, resultando num aumento proporcional da perfusão renal, mesentérica, esplâncnica, coronária e cerebral e pode facilitar a resolução do edema pulmonar. No entanto, também há efeitos adversos como diminuição dos níveis de prolactina e hormona do crescimento por alteração funcional do eixo hipotálamo-hipófise. Doses mais elevadas estimulam os receptores β, levando a aumento da resistência vascular sistémica, o que pode neutralizar os efeitos ao nível dos receptores dopaminérgicos. Ambas têm efeitos diferentes no rim, circulação esplâncnica e eixo hipotálamohipófise e as implicações clínicas dessas diferenças ainda permanecem incertas. 77 Num estudo desenvolvido por Paolo (2010) que compara um grupo de doentes tratados com dopamina e outro com noradrenalina em dosagens semelhantes, as alterações na tensão arterial média ao longo do tempo foram semelhantes em ambos os grupos. Não houve diferença significativa entre os grupos relativamente à quantidade total de fluidos infundida, apesar do grupo tratado com dopamina ter recebido maior volume nas primeiras 24 horas. O débito urinário foi significativamente maior nas primeiras 24 horas no grupo da dopamina mas esta diferença desapareceu ao longo dos dias, o que levou a um balanço hídrico semelhante em ambos os grupos. O aumento na frequência cardíaca foi maior no grupo tratado com dopamina, que tem igualmente um efeito ionotrópico positivo. As alterações na pressão venosa central, saturação venosa de oxigénio e lactato sérico foram semelhantes em ambos os grupos. Dopamina foi associada a maior número de episódios de arritmias, especialmente fibrilhação auricular. Não houve diferenças entre os grupos no que diz respeito a outros efeitos adversos. Não houve diferença entre os grupos no que diz respeito
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