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DireitoAmbientalUna_20180903155102

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CURSO DE DIREITO 
 Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental 
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DIREITO AMBIENTAL 
 
Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes 
advogado – OAB/MG 85.659 
marcioml@netsite.com.br 
marcioml1979@gmail.com 
Uberlândia-MG. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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SUMÁRIO 
 
 
 
01. A QUESTÃO AMBIENTAL E AS CONDIÇÕES ÉTICAS SOBRE O 
MEIO AMBIENTE.....................................................................................03 
 
02. MEIO AMBIENTE E DIREITO AMBIENTAL......................................12 
 
03. A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL........................................14 
 
04. COMPETÊNCIAS CONSTITUCIONAIS AMBIENTAIS.....................23 
 
05. PRINCÍPIOS SETORIAIS.........................................................................26 
 
06. A POLÍTICA AMBIENTAL E O SISTEMA NACIONAL DO MEIO 
AMBIENTE.................................................................................................31 
 
07. O ZONEAMENTO AMBIENTAL............................................................37 
 
08. O PODER DE POLÍCIA, O LICENCIAMENTO E OS ESTUDOS 
AMBIENTAIS.............................................................................................41 
 
09. ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS......59 
 
10. AGROTÓXICOS.......................................................................................114 
 
11. RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS............122 
 
12. INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS...........................129 
 
13. RESPONSABILIDADE CRIMINAL AMBIENTAL............................133 
 
14. ORDEM ECONÔMICA, MEIO AMBIENTE E TRIBUTAÇÃO 
AMBIENTAL.............................................................................................134 
 
15. MEIO AMBIENTE DO TRABALHO....................................................135 
 
16. ÁGUAS.......................................................................................................140 
 
 REFERÊNCIAS........................................................................................146 
 
 
 
 
 
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01. A QUESTÃO AMBIENTAL E AS CONDIÇÕES ÉTICAS SOBRE O MEIO 
AMBIENTE 
 
 
01.1 A crise ambiental 
 
 
A importância da proteção ambiental (pelo Poder Público e pela coletividade) aumenta 
na medida em que a destruição do MA, especialmente o natural, também aumenta 
irracionalmente. 
 
A partir da década de 60, leis começam a ser editadas nesse sentido (Ex: antigo Código 
Florestal – Lei 4.771/65 e a Lei 6.938/81 – PNMA). 
 
Marco mundial > conferência de Estocolmo (ONU – 1972 > posição retrógrada do Brasil 
à época, em busca de desenvolvimento econômico a qualquer custo). 
 
Conferência de Estocolmo 
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. 
ONU primeira a organizar um tratado ambiental 
A conferência de Estocolmo, realizada entre os dias 5 a 16 de junho de 1972 
foi a primeira atitude mundial em tentar organizar as relações de Homem e 
Meio Ambiente. Na capital da Suécia, Estocolmo, a sociedade científica já 
detectava graves problemas futuros por razão da poluição atmosférica 
provocada pelas indústrias. 
Índice 
• 1 Histórico 
• 2 Reação dos países 
• 3 Ver também 
• 4 Referências Bibliograficas 
Histórico 
Os países no mesmo século pensavam que o meio ambiente era uma fonte 
inesgotável, e que toda ação de aproveitamento da natureza fosse infinita. Para 
tanto, problemas foram surgindo, como secamento de lagos e rios, o efeito da 
inversão térmica e as ilhas de calor. 
http://pt.wikipedia.org/wiki/ONU
http://pt.wikipedia.org/wiki/1972
http://pt.wikipedia.org/wiki/Su%C3%A9cia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Estocolmo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Confer%C3%AAncia_de_Estocolmo#Hist.C3.B3rico
http://pt.wikipedia.org/wiki/Confer%C3%AAncia_de_Estocolmo#Rea.C3.A7.C3.A3o_dos_pa.C3.ADses
http://pt.wikipedia.org/wiki/Confer%C3%AAncia_de_Estocolmo#Ver_tamb.C3.A9m
http://pt.wikipedia.org/wiki/Confer%C3%AAncia_de_Estocolmo#Refer.C3.AAncias_Bibliograficas
http://pt.wikipedia.org/wiki/Invers%C3%A3o_t%C3%A9rmica
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ilhas_de_calor
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Tendo em vista esses problemas, era necessário organizar uma convenção no 
qual países se propunham a ajudar um ao outro a fazer uma parcela de ajuda 
ao mundo. Foi então quando a ONU decidiu inaugurar a Primeira 
Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente. 
Reação dos países 
A decisão de ajudar a natureza foi proposta primeiramente pelos EUA com 
liderança do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). 
A decisão foi imediatamente contestada pelos países subdesenvolvidos que 
tinham a base econômica unicamente na industrialização. Era necessário as 
atividades como em um jogo de xadrez de indústrias para o país se 
desenvolver e melhorar a sua situação socioeconômica. 
Foi a partir disto que os debates começaram e findaram uma possível forma 
de acordo. O apelo para o "Desenvolvimento a qualquer custo" foi a base 
para uma não negociação do 1º acordo programado pela ONU. 
Em virtude desse impasse, a conferência ficou marcada pela disputa do 
“desenvolvimento zero”, defendido pelos países desenvolvidos; e o 
“desenvolvimento a qualquer custo”, defendido pelas nações 
subdesenvolvidas. 
Na conferência de Estocolmo foram abordados os temas como a chuva ácida 
e o controle da poluição do ar. As discussões contaram com a presença de 113 
países e mais 400 instituições governamentais e não governamentais. 
Após longos discursos e apresentações de pesquisas, foi concebido um 
importante documento relacionado aos temas ambientais, de preservação e 
uso dos recursos naturais, isso em esfera global. Essa conferência foi muito 
importante, pois pela primeira vez o mundo se direcionou para o volume da 
população absoluta global, a poluição atmosférica e a intensa exploração dos 
recursos naturais. 
Ver também 
• O acordo que remete a falha da Conferência de Estocolmo: O relatório Brundtland 
• Acordos que ainda vigoram: Tratado de kyoto e Protocolo de Montreal 
Referências Bibliograficas 
• Vesentini, J. Willian - A geografia do mundo industrializado. Vol. único. 
• Genebaldo Freire Dias - Educação Ambiental, Princípios e Práticas ,1993 
 
1992 – ECO-92 ou Rio-92 (CNUMAD – Conferência das Nações Unidas sobre MA e 
Desenvolvimento): aprovou-se a Declaração do Rio, com 27 princípios ambientais e a 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Relat%C3%B3rio_Brundtland
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_kyoto
http://pt.wikipedia.org/wiki/Protocolo_de_Montreal
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Agenda 21 (instrumento não vinculante com metas, sem natureza de tratado, mas com 
autoridade ética local e mundial). 
 
O homem não tem o poder de ditar as leis da natureza, mas tem de respeitá-las, sob pena 
de sofrer a “legítima defesa natural”. 
 
O crescimento econômico não pode ser ilimitado, já que os recursos dos quais depende 
não o é. 
 
O Fundo Mundial para a Natureza já divulgou que o homem já consome 20% mais do 
que o planeta pode repor; ou seja, o Planeta Terra se tornou uma bomba-relógio, com as 
gerações presentes exterminando o que seria das futuras. 
 
Obviamente, o capitalismo e o consumo de massa se tornou fator decisivo nesta equação, 
onde grande parte da população tem mais do que precisa para viver dignamente, enquanto 
outra passanecessidade. 
 
Assim, a intensificação das ações do Poder Público na área ambiental é fundamental: 
 
➢ Políticas regulatórias: normas jurídicas ambientais; 
➢ Políticas estruturadoras: intervenções diretas na proteção (Ex: UCs); 
➢ Políticas indutoras: fomento de condutas pró MA (Ex: extrafiscalidade) 
 
Abramos, aqui, breve parênteses para discorrermos sobre políticas indutoras e 
extrafiscalidade: 
 
 
 
ORDEM ECONÔMICA, MEIO AMBIENTE E TRIBUTAÇÃO 
AMBIENTAL 
 
Introdução 
 
 
O poder de tributar pode e deve servir como instrumento de proteção 
ambiental > tributos verdes / tributação ambiental. 
 
A redução ou aumento da carga tributária pode servir de estímulo a condutas 
favoráveis à proteção ao MA e, de outro lado, inibição da poluição. 
 
Atuação indireta > destinação dos recursos tributários em prol do MA, como 
ocorre na CIDE-combustível (parcela dos recursos financia projetos 
ambientais). 
 
Quais espécies de tributos podem desenvolver função ambiental? 
 
Heleno Taveira Tôrres (posição restritiva) > IPTU progressivo, taxas, CIDEs, 
compensações financeiras, medidas administrativas de isenções e outros ao 
atendimento de regras de natureza ambiental. 
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Posição ampliativa > também impostos, observada a competência tributária. 
 
 
A ordem econômica e a relação entre o direito ambiental e o direito 
econômico 
 
 
Estado capitalista > livre iniciativa como regra, independentemente de 
autorização > art. 170 CF. 
 
Desta forma, o Estado, em regra, apenas atuará como agente normativo e 
regulador > agências. 
 
Exceção > art. 173 CF (regime de monopólio ou concorrência). 
 
As atividades poluidoras estão entre aquelas que necessitam de autorização > 
art. 10 da Lei 6.938/81 > principal mecanismo: licenciamento ambiental. 
 
Art. 170 CF > consagra a proteção ao meio ambiente, inclusive autorizando 
tratamento diferenciado > art. 9º, V da Lei 6.938/81. 
 
A questão é lógica > sendo a tecnologia limpa cara, o Estado precisa intervir 
barateando os custos > menor tributação, linhas de créditos específicas, 
subsídios, etc. 
 
Nesse sentido, já previa o art. 9º, VIII da Lei 6.938/81. 
 
Claramente, muitas normas ambientais possuem feição econômica > Direito 
Ambiental Econômico > junção de ambos os ramos. 
 
O desenvolvimento econômico, fundamental a qualquer nação, tem de passar 
pela sustentabilidade > tem que ser filtrado pelo direito ambiental. 
 
 
A fiscalidade, a parafiscalidade e a extrafiscalidade a serviço da proteção 
do MA 
 
 
Finalidade fiscal > custeio do Estado e suas funções. 
 
Finalidade para ou extrafiscal > atribuição da titularidade de tributos a pessoas 
diversas do estado, que os arrecadam em benefício das próprias finalidades. 
Ex: Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental - TCFA – União > capacidade 
tributária ativa do IBAMA, com utilização afetada ao controle e fiscalização 
ambiental. 
 
Função extrafiscal ou regulatória > arrecadação como instrumento de fomento 
ou inibição de condutas para a consecução de algum interesse público. 
 
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Ex: o Estado do AM adotou hipóteses de extrafiscalidaade na incidência de 
ICMS e IPVA, a fim de incentivar atividades que reduzam a poluição (Ex: 
ICMS reduzido para biodisgestores, biodiesel, geração de energia limpa, etc); 
IPVA reduzido para veículos com mínima emissão de poluentes, etc. 
 
ITR progressivo > alíquotas que visam a desestimular terras improdutivas; 
áreas de preservação permanente e reserva legal, de interesse ecológico, de 
servidão ambiental/florestal, cobertas por floretas nativas, etc. também não 
são tributadas. 
 
IPTU, conforme os ditames do plano diretor > também pode ser instrumento 
extrafiscal (por mais que seja tributo predominantemente fiscal). 
 
IPI – a União ainda não implementou política ambiental atrelada a este 
imposto; mas deverá fazê-lo, o que seria muito bom; contudo, há um exemplo: 
redução de IPI da linha branca (maior para os eletrodomésticos selo A do 
INMETRO, ou seja, os que consomem menos > essa aplicação deveria ser 
definitiva...). 
 
A contribuição SAT (1, 2, 3%), incidente sobre a contribuição previdenciária 
de 20% devida pelas empresas também tem como destinação tutelar o MA do 
trabalho. Tais alíquotas podem ser alteradas pra mais ou menos, conforme 
risco e estatísticas de acidentes de trabalho. 
 
O novo CFLO (Lei 12.6451/12) também previu instrumentos de proteção 
atrelados à tributação ambiental > art. 41, II, c e f. 
 
Além disso > Programa de Apoio e Incentivo à Conservação do MA > 
dedução da base de cálculo do IR do proprietário ou possuidor de imóvel rural, 
de parte dos gastos efetuados com a recomposição das Áreas de Preservação 
Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito cujo desmatamento seja 
anterior a julho de 2008. 
 
Tal programa ainda estabelece diferenciação para empresas que 
industrializem ou comercializem produtos originários de propriedades ou 
posses rurais que cumpram os padrões e limites estabelecido no novo CFLO, 
ou estejam em processo de cumpri-los. 
 
 
A extrafiscalidade como instrumento de realização dos princípios 
ambientais 
 
 
A extrafiscalidade é uma boa ferramenta para se efetivar inúmeros princípios 
ambientais: 
 
➢ Desenvolvimento sustentável > tributação menor para que os adotarem 
tecnologias e fizerem investimentos sustentáveis 
➢ Prevenção > menor taxação e incentivos para os que adotarem medidas de 
prevenção (risco certo); 
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➢ Precaução > menor taxação e incentivos para os que adotarem medidas de 
precaução (risco incerto); 
➢ Poluidor-pagador > internalização de todos os custos da atividade > tributação 
majorada aos maiores poluidores; 
➢ Função socioambiental da propriedade > 
 
O ITR e o IPTU progressivos cumprem bem tal função. 
 
 
O princípio da capacidade contributiva como limitador da 
extrafiscalidade ambiental 
 
 
Art. 145, §1º CF > limitação ao poder de tributar > isonomia. 
 
A extrafiscalidade ambiental deve ser balizada pela capacidade contributiva 
(gradação dos impostos). 
 
Apesar de ser limitação destinada aos impostos, o STF já estendeu a mesma à 
taxa cobrada pela CVM e à COSIP. 
 
 
A releitura do princípio da estrita legalidade 
 
 
Hoje, a legislação é amplamente feita e complementada por atos do Executivo. 
 
Assim, não se deve mais exigir que uma norma tributária esgote os aspectos 
constituintes de um tributo ambiental, sob pena de se inviabilizar sua 
aplicabilidade. 
 
Logo, é crescente a delegação regulamentar a fim de fechar o conteúdo dos 
tipos legais em todos os ramos jurídicos ambiental, mesmo na seara penal, em 
que muitos crimes ambientais previstos na Lei 9.605/98 carecem de 
complemento(s) para o seu fechamento, classificando-se como normas penais 
em branco normalmente heterogêneas, em decorrência do caráter concretista 
e inter/trans/multidisciplinar do estudo do MA. 
 
Assim, não se deve afastar a legalidade estrita, mas interpreta-la conforme o 
direito fundamental ao MA ecologicamente equilibrado > claro, os 
regulamentos devem guardar consonância com as leis que os fundamentam, 
sob pena de invalidade. 
 
Ex: uma lei que cria uma taxa de fiscalização ambiental, não pode listar 
exaustivamente o rol de atividades que devem ser fiscalizadas, sob pena de ter 
de ser alterada frequentemente, já que frequentemente novas atividades, ações 
humanas e tecnologias surgem; assim, um regulamento executivo poderia 
listar tais atividades > visão mais ampliada do princípio dalegalidade, o que 
é salutar e necessário à dinâmica do direito ambiental. 
 
 
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A adoção de critérios ambientais pelos Estados no repasse de parcela da 
arrecadação do ICMS dos municípios (“ICMS ecológico”) 
 
 
ICMS – repartição tributária > vide art. 157, parágrafo único CF. 
 
Então, dentro das cotas municipais do ICMS, o repasse de até ¼ do produto 
da arrecadação será distribuído conforme dispuser a legislação estadual, de 
acordo om o que foi facultado pela CF. 
 
Em 1991, Lei Estadual do PR foi pioneira em se valer de parte deste percentual 
(no caso, 5%, quando poderia ter chegado a 25%, ou seja, ¼) para determinar 
que os municípios paranaenses com unidades de conservação ambiental e 
mananciais de abastecimento público, receberiam mais recursos. Essa medida 
foi fundamental para o aumento de espaços territoriais protegidos naquele nos 
municípios daquele Estado. 
 
Hoje, SP, MG, RO, RS também já adotam o “ICMS ecológico”, cada um com 
critérios próprios. 
 
 
 
01.2 O antropocentrismo, o ecocentrismo e o biocentrismo 
 
 
Culturalmente, salvo as linhas teocêntricas ainda adotadas por muitos países 
(notadamente orientais), o Direito é tradicionalmente informado por uma visão 
antropocêntrica, ou seja, o homem é o ser que está no centro do Universo, sendo que todo 
o restante gira ao seu redor. 
 
Por essa linha, a proteção ambiental serve ao homem (como se este não fosse 
integralmente do meio ambiente e os recursos não fossem bens tuteláveis por si sós). 
 
O antropocentrismo valoriza a natureza como instrumento para fins humanos (agrícola, 
industrial, medicinal). 
 
Uma nova visão vem ganhando força e influenciando as legislações mundiais; dentre as 
perspectivas filosóficas, destacam-se o ecocentrismo e o biocentrismo. 
 
ANTÓNIO ALMEIDA: no ecocentrismo, o homem se coloca como parte do MA, 
limitando suas atividades, dando prioridade ao equilíbrio ecossistemático. 
 
LUIZ REGIS PRADO: a doutrina aventa correntes de pensamento que têm 
respectivamente o ser humano ou o ambiente como eixo gravitacional, estabelecendo 
entre eles relações de maior ou de menor aproximação. São elas: 
 
a) Ecocêntrica absoluta: o MA deve ser preservado independentemente de qualquer 
interesse humano; 
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b) Antropocêntrica absoluta: o MA não pode ser considerado bem jurídico penal; sua 
proteção está vinculada ao ser humano; 
 
c) Antropocêntrica moderada ou relativa (concepção ecológico-antropocêntrica): o 
ambiente é protegido como bem jurídico-penal autônomo e de caráter 
relativamente antropocêntrico. É classificado como tal – dotado de autonomia 
sistemática – conquanto objeto jurídico de proteção penal, mas se vincula de modo 
indireto a interesses individuais (teoria pessoal relativa). 
 
Para o biocentrismo, conforme as lições de Peter Singer, sustenta-se a existência de valor 
nos demais seres vivos, independentemente da existência do homem, notadamente os 
mais complexos, a exemplo dos mamíferos, pois são seres sencientes (têm percepção, 
como dor e prazer). 
 
Por essa linha, a vida é considerada um fenômeno único, com valor intrínseco, e não 
instrumental, considerando-se os seres vivos não integrantes da raça humana. 
 
Nesse sentido, nasceu a defesa dos direitos dos animais, notadamente os sencientes e 
autoconscientes. 
 
1978, Bruxelas, Declaração Universal dos Direitos dos Animais > UNESCO (prevê, 
inclusive, o biocídio). 
 
No Brasil, animais não humanos são objetos e não sujeitos de direitos, protegendo-se os 
mesmo contra atos de crueldade (regime jurídico especial). Ex: Lei 9.605/98, art. 32. 
 
Notícia de 2010: “Suíça faz referendo para decidir se animais têm direito a advogado” 
http://www.espacovital.com.br/noticia_ler.php?id=17556. 
 
Critério de diferenciação pelo estilo de alimentação humana, entre as 3 teorias: 
 
➢ Antropocentrismo e ecocentrismo: favoráveis ao consumo humano de animais, 
mas por razões diversas: a primeira, pela liberdade e bem-estar do homem; a 
segunda, pela natureza carnívora do homem (necessidade); 
 
➢ Biocentrismo: defende o consumo apenas de vegetais e derivados de animal 
(como ovo, leite, etc), pelo direito à vida dos animais não racionais e vedação ao 
seu sofrimento. 
 
A Constituição do Equador de 2008 previu a natureza como sujeito de direito (Capítulo 
VII), tema que subverte integralmente a tradicional teoria geral do direito desde os 
primórdios. http://www.espacovital.org/index.php?pag=2&sub=1&cod=165. 
 
 
01.3 As concepções éticas ambientais na CF/88 
http://www.espacovital.com.br/noticia_ler.php?id=17556
http://www.espacovital.org/index.php?pag=2&sub=1&cod=165
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A CF/88 adotou o antropocentrismo, mitigado por doses de biocentrismo e de 
ecocentrismo, o que acentua o dialeticismo constitucional. 
 
Art. 225, caput CF > carga antropocêntrica 
 
§1º, VII > linhas eco e biocêntricas. 
 
ANTÔNIO HERMAN BENJAMIN: “Em outras palavras, o constituinte desenhou um 
regime de direitos de filiação antropocêntrica temporalmente mitigada (com titularidade 
conferida também às gerações futuras), atrelado, de modo surpreendente, a um feixe de 
obrigações com beneficiários que vão além, muito além, da reduzida esfera daquilo que 
se chama de humanidade. Se é certo que não se chega, pela via direta, a atribuir direito 
à natureza, o legislador constitucional não hesitou em nela reconhecer valor intrínseco, 
estatuindo deveres a serem cobrados dos sujeitos-humanos em favor dos elementos 
bióticos e abióticos que compõem as bases da vida, de uma forma ou de outra, o 
paradigma do homem como prius é irreversivelmente trincado”. 
 
• Para os biocentristas, a expressão “todos” ultrapassa o homem e abarca todos os 
seres vivos. 
• O STF proibiu a “farra do boi” e as brigas de galo com base nestes dispositivo. 
Vide RE 153.531 e ADI 1.856/MC. O STJ proibiu o uso de gás asfixiante no 
extermínio de animais como última medida (REsp 1.155.916). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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02. MEIO AMBIENTE E DIREITO AMBIENTAL 
 
 
02.1 Definição de meio ambiente 
 
Pela definição do Aurélio, MA é expressão redundante, bastante pronunciar “ambiente”. 
 
Definição legal > art. 3º, I da Lei 6.938/81. 
 
Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: 
 
I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e 
interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e 
rege a vida em todas as suas formas; 
 
Há leis estaduais que também definem meio ambiente. Ex: Art. 5º, I da Lei Baiana n. 
10.431/06. 
 
Art. 5º - Para os fins desta Lei, entende-se por: 
I - meio ambiente: a totalidade dos elementos e condições que, em 
sua complexidade de ordem física, química, biológica, socioeconômica 
e cultural, e em suas inter-relações, dão suporte a todas as formas de 
vida e determinam sua existência, manutenção e propagação, 
abrangendo o ambiente natural e o artificial; 
 
Porquanto seja boa a definição baiana, não convém que cada Estado trace a sua, já que a 
competência para normas gerais é da União (afinal, os elementos bióticos e abióticos 
sempre serão os mesmos). 
 
Aliás, o CONAMA também já melhor definiu MA, também incluindo o patrimônio 
cultural e artificial (Anexo I, XII, Res. 306/02). 
 
 
02.2 Espécies de meio ambiente 
 
O MA, em sentido amplo, é gênero, que abarcao MA Natural, Cultural e Artificial (daí a 
crítica ao conceito da lei federal, o qual enfatiza tão somente o elemento biológico). 
 
Não há estrita uniformidade doutrinária sobre a questão, havendo autores que citam o MA 
do trabalho e o MA genético (o quais também poderia ser incluídos nos MAs artificial e 
natural, respectivamente); contudo, o STF já reconheceu a existência do MA do trabalho 
(respeita-se quando há condições dignas de trabalho, segurança, EPIs, etc). 
 
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Aos que admitem o MA genético como meio autônomo, trata-se de meio composto pelos 
organismos vivos do planeta Terra, que formam a sua diversidade biológica (Celso 
Antônio Pacheco Fiorillo e Terence Trennepohl). 
 
Assim, “direito ecológico” não deve ser tomado como sinônimo de “direito ambiental”, 
por ser (aquela) expressão que abarca somente o meio natural. 
 
 
02.3 Definição, autonomia e objetivo do direito ambiental 
 
Direito ambiental: ramo do direito público composto por princípios e regras que regulam 
as condutas humanas que afetem, potencialmente ou efetivamente, direta ou 
indiretamente, o meio ambiente, quer o natural, o cultural ou o artificial. 
 
Objetivos: art. 170, VI CF. 
 
É ramo com autonomia didática própria (princípios próprios). 
 
Apesar da já existência de leis anteriores (antigo Código Florestal, de Pesca, Lei de 
Proteção à Fauna, etc), este ramo nasce no Brasil com a edição da Lei 6.938/81, que 
institui a PNMA e o SISNAMA, como meio de implementá-la. 
 
Antes, apenas existiam normas setoriais, e não um sistema harmônico. 
 
Trata-se de “disciplina transversal”, pois traspassa vários outros ramos, estabelecendo 
relações com os mesmos. Ex: art. 1.228, §1º CC, Lei 8.666/93, Poder de Polícia da AP, 
Direito Constitucional (arts. 215, 216 e 225 CF – à exemplo de outras nações, o direito 
ambiental foi constitucionalizado), Direito Tributário > “tributação ecológica” (Ex: 
isenção de ITR para espaços especialmente protegidos, Direito Econômico (princípio do 
art. 170) > existem instrumentos de intervenção estatal na economia, incluindo 
instrumentos econômicos de efetivação da Política Nacional do MA, como seguro, 
servidão, concessão ambiental > recursos ambientais também são recursos econômicos. 
O licenciamento é um condicionante da livre iniciativa; direito processual civil (ações 
coletivas); direito do consumidor (regulação dos danos ao consumidor e ao MA); direito 
previdenciário (conceitos de extrativismo e pesca são buscado na legislação ambiental, 
para fins de enquadramento do segurado especial da Previdência Social). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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03. A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL 
 
 
03.1 Introdução 
 
 
A legislação nacional carece de codificação (há inúmeras leis esparsas, várias anteriores 
à CF/88, de recepcionalidade ou vigência duvidosa). 
 
Além disso, a legislação ambiental é marcada por grandiosa gama de normas secundárias 
(resoluções, atos normativos de todas as esferas > “poluição regulamentar” Edis Milaré). 
 
Veja abaixo os diplomas normativos fundamentais à compreensão do direito ambiental. 
 
 
03.2 Meio ambiente cultural 
 
 
➢ CF/88, arts. 215 e 216; 
➢ Lei 12.343/10 (Plano Nacional da Cultura); 
➢ DL 25/37 (Lei Geral do Tombamento); 
➢ D 3.551/00 (Registro dos Bens Imateriais). 
 
 
03.3 Meio ambiente natural 
 
 
➢ CF/88, art. 225; 
➢ LC 140/11 (regula as competências ambientais comuns entre as entidades 
políticas); 
➢ Lei 6.938/81 (PNMA); 
➢ Lei 5.197/67 (Proteção à Fauna); 
➢ Lei 9.433/97 (PN Recursos Hídricos); 
➢ Lei 9.605/98 (Crimes e Infrações Ambientais); 
➢ Lei 9.985/00 (Sistema Nacional das Unidades de Conservação); 
➢ MP 2.186-16/01 (Regulamenta a Convenção da Diversidade Biológica e dispõe 
sobre o conhecimento tradicional associado ao patrimônio genético); 
➢ Lei 11.105/05 (Biossegurança); 
➢ Lei 11.284/06 (Gestão de Florestas Públicas); 
➢ Lei 11.428/06 (Bioma Mata Atlântica); 
➢ Lei 11.959/09 (Política Nacional e Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura 
e da Pesca – revogou quase que por completo o Código de Pesca DL 221/67); 
➢ Lei 12.187/09 (Política Nacional de Mudança do Clima); 
➢ Lei 12.305/10 (Política Nacional de Resíduos Sólidos); 
➢ Lei 12.651/12 (Novo Código Florestal); 
➢ Resolução 237/97 – CONAMA (Licenciamento Ambiental); 
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➢ Resolução 01/86 – CONAMA (EIA-RIMA); 
➢ Resolução 09/87 – CONAMA (audiência pública em EIA-RIMA). 
 
 
03.4 Meio ambiente artificial 
 
 
➢ CF/88, art. 182; 
➢ Lei 10.257/01 (Estatuto da Cidade). 
 
 
03.5 Direito intertemporal ambiental 
 
 
Obviamente, lei nova não pode retroagir para afetar ato jurídico perfeito e direito 
adquirido; contudo, a interpretação de tais garantias não é pacífica. 
 
Ex: majoração da reserva legal amazônica de 50 para 80%, pela MP 2.166-67/2001 > os 
proprietários que já haviam desmatado 50 de suas propriedades, têm direito adquirido? 
 
Não... não há incorporação idônea ao patrimônio particular, ante a indisponibilidade da 
preservação ambiental e seu caráter não pecuniário > não há direito adquirido de poluir 
(TRF AC 289198 de 2007). Ver Súmula 282/STF. 
 
Esta também é a posição do STJ (REsp 948.921), de Edis Milaré e Antônio Herman 
Benjamin (ministro relator do referido acórdão) > pela indisponibilidade do bem e do 
interesse público (e das futuras gerações) > obrigação propter rem. 
 
 
03.6 A constitucionalização do direito ambiental no Brasil e o nascimento do 
direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado 
 
 
Após a CNUMA, Estocolmo, 1972, houve uma tendência em se positivar o direito 
ambiental nas constituições nacionais. 
 
Esse é um fenômeno analítico das constituições, sobretudo no que tange os direitos sociais 
e segurança jurídico-ambiental. 
 
Logo, começaram a nascer as “constituições verdes” (Portugal-1976, Espanha-1978, as 
quais influenciaram a redação do artigo 225 da CF/88. 
 
Há traços comuns entre todas elas, com mínimas variações: 
 
a) Compreensão sistêmica e legalmente autônoma do direito ambiental; 
b) Compromisso ético de não empobrecer a Terra e sua biodiversidade; 
c) Estimulação da atualização do direito de propriedade; 
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d) Opção por processos decisórios abertos, transparentes e democráticos; 
e) Implementação de normas constitucionais ambientais e instrumentos de 
efetivação. 
 
Hoje, no Brasil, a base do direito ambiental é constitucional (direito constitucional 
ambiental): 
 
➢ Competências legislativas: art. 22, IV, XII e XXVI, 24, VI, VII e VIII, e 30, I e 
II; 
➢ Competências administrativas: art. 23, III, IV, VI, VII e XII; 
➢ Ordem econômica ambiental: Art. 170, VI; 
➢ Meio ambiente artificial: art. 182; 
➢ Meio ambiente cultural: art. 215-216; 
➢ Meio ambiente natural: art. 225; 
➢ Além de outras normas esparsas. 
 
A constitucionalização do direito ambiental leva a claros benefícios (Antônio Herman 
Benjamin): 
 
➢ Substancialmente: dever constitucional de não degradar; base do regime de 
explorabilidade limitada e condicionada; a ecologização da propriedade e da sua 
função social; a proteção ambiental como direito fundamental (3ª dimensão); a 
legitimação constitucional da função estatal reguladora; a redução da 
discricionariedade administrativa e a ampliação da participação pública. 
 
➢ Formalmente: máxima preeminência (superioridade) e proeminência 
(perceptibilidade) dos direitos;deveres e princípios ambientais; a segurança 
normativa; a substituição do paradigma da legalidade ambiental para a 
constitucionalidade ambiental; o controle de constitucionalidade da lei e o reforço 
exegético pró-ambiente das normas infraconstitucionais. 
 
O bem ambiental é autônomo, imaterial e de natureza difusa, transcendendo a tradicional 
classificação de bens públicos e privados. 
 
O MA ecologicamente equilibrado foi afetado ao uso comum do povo, não podendo ser 
desafetado. 
 
O direito ao MA ecologicamente equilibrado é formal e substancialmente constitucional. 
 
Como direito fundamental que é, possui as seguintes características: 
 
➢ Historicidade; 
➢ Universalidade; 
➢ Irrenunciabilidade; 
➢ Inalienabilidade 
➢ Limitabilidade; 
➢ Imprescritibilidade > a reparação ambiental não prescreve. 
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Além disso, pode-se falar em vedação ao retrocesso ecológico (a legislação deve ser cada 
dia mais protetiva). 
 
Pode se falar também em mínimo existencial ecológico, sem o qual ninguém pode viver 
dignamente. 
 
Ainda, deveres ambientais podem ser criados por normas secundárias (desde que haja 
fundamento de validade constitucional, na aplicação direta do direito fundamental ao MA 
ecologicamente equilibrado) > ADPF 101. 
 
Tal direito fundamental deve ser efetivado com ações positivas e negativas pelo Poder 
Público e pela coletividade > desenvolvimento sustentável / crescimento econômico sem 
comprometer a preservação ambiental. 
 
O MA ecologicamente está presente em suas dimensões: 
 
➢ Objetiva: diretrizes ambientais a todos; irradiação às relações privadas / princípios 
constitucionais; eficácia vinculante aos 03 Poderes da República e entre 
particulares > eficácias dirigente, irradiante e horizontal. 
 
➢ Subjetiva: faz nascer direito prestacional positivo e negativo ao MA 
ecologicamente equilibrado > todos são credores e devedores. Nem todas as 
noções congregam de tal feição subjetiva (na Alemanha, existe apenas do direito 
do MA e não o direito ao MA, como lembrado por Canotilho). 
 
MA ecologicamente equilibrado é termo aberto, flexível conforme o espaço e o tempo, 
sendo objeto de análise também das ciências naturais. 
 
Outrossim, é fomentado por uma série de medidas de controle: licenciamento, 
zoneamento, unidades de conservação, estudos de impacto, dever de não degradação, 
recuperação, etc. > instrumentos que viabilizam a saída qualidade de vida > direito 
fundamental saúde. 
 
Art. 225 CF > influência do art. 66 da Lei Portuguesa. 
 
Caput > dever genérico; 
 
Incisos do §1º > deveres específicos do Poder Público (o STF já definiu sua aplicabilidade 
imediata); 
 
§§2º e 3º > deveres específicos ao Poder Público e coletividade; 
 
§4º > reconhecimento de biomas como patrimônio nacional > proteção especial > não 
converteu tais bens públicos em bens públicos na acepção tradicional, tendo sido 
esquecidos o Cerrado e a Caatinga, ainda alvos de histórica discriminação estética. 
 
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Art. 215 CF > meio ambiente cultural > garantia de acesso à cultura > plano nacional de 
cultura (Lei 13.343/12). 
 
Art. 216 CF > patrimônio cultural brasileiro > exemplificativo do acervo. 
 
§1º > lista exemplificativa de instrumentos de proteção ao patrimônio cultural brasileiro. 
 
Constitucionalização do direito ambiental > regulação > efetivação > crescimento 
sustentável. 
 
 
03.7 Hermenêutica jurídica ambiental e a interpretação constitucional das 
normas ambientais 
 
 
Interpretação não se confunde com hermenêutica, sendo esta o precedente lógico da 
interpretação. 
 
CARLOS MAXIMILIANO: enquanto hermenêutica jurídica tem por objeto o estudo dos 
processos e métodos de interpretação, fixando-os e sistematizando-os, a interpretação é a 
aplicação dos métodos buscando o sentido e o alcance da lei. 
 
Duas atenções especiais devem ser dadas no âmbito da interpretação das normas 
ambientais: 
 
➢ Normas anteriores à CF/88 > deverão ser materialmente compatíveis com a 
CF/88 > recepção; 
 
➢ Atos regulamentares > não podem criar direitos e deveres, salvo se fundados 
em lei ou diretamente na CF > competência legislativa (arts. 22, 24 e 30 da 
CF). 
 
A título de exemplo, o art. 226 da CF Baiana é formalmente inconstitucional, por vedar 
instalação de usina nuclear em seu território (tal norma é de competência da União); é 
também materialmente inconstitucional, em face do art. 225, §6º da CF. 
 
A análise de fundamento de validade do ato regulamentar também é indispensável > o 
art. 3º, XI da Res. CONAMA 303/2002 foi tido por ilegal pelo TRF5, por criar as dunas 
como área de preservação permanente, criando nova hipótese não prevista no antigo 
CFLO. 
 
Assim, deve-se prestigiar o princípio da interpretação conforme a constituição, quando 
a norma analisada for passível de mais de uma interpretação. Ex: Art. 2º, I da Lei 
6.938/81, conforme o art. 225 CF > MA como patrimônio público, não como propriedade 
das PJs de direito público, mas de uso comum do povo, de titularidade difusa, com feição 
imaterial e não patrimonial. 
 
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Ao revés, o art. 8º, VI da Lei 6.938/81 > privativamente não foi recepcionada. 
 
Ainda, outra norma de grande valia é o Princípio da Máxima Efetividade ou da 
Interpretação Efetiva, que informa a hermenêutica constitucional > máxima efetividade 
aos direitos fundamentais; tal princípio também pode/deve ser aplicado em escala 
infraconstitucional. 
 
O STJ, em inúmeras decisões, tem imprimido tal princípio: 
 
http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=97483 
 
Princípios de interpretação ajudam o STJ a fundamentar decisões na área ambiental 
Em busca de soluções justas e constitucionalmente adequadas para as causas jurídicas nas quais 
intervém, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem recorrido à aplicação de importantes princípios 
do Direito Ambiental, dando-lhes uma interpretação mais integrativa e atual. 
 
“São os princípios que servem de critério básico e inafastável para a exata inteligência e 
interpretação de todas as normas que compõem o sistema jurídico ambiental, condição 
indispensável para a boa aplicação do Direito nessa área”, defende o ministro Herman Benjamin, 
uma das maiores autoridades do STJ no ramo ambiental. 
 
Além de dar suporte na resolução dos conflitos normativos que chegam ao Tribunal, essa 
“hermenêutica jurídica esverdeada”, na definição do especialista José Rubens Morato Leite, pós-
doutor em Direito Ambiental e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), tem 
possibilitado mais transparência e objetividade no processo decisório, conferindo maior legitimidade 
às argumentações judiciais proferidas. 
 
Veja, a seguir, alguns dos princípios que a jurisprudência do STJ tem acatado ao fundamentar 
decisões na área ambiental. 
 
Princípio da solidariedade 
Princípio-base do moderno Direito Ambiental, pressupõe a ampliação do conceito de “proteção da 
vida” como fundamento para a constituição de novos direitos. Para tanto, impõe o reconhecimento 
de que a vida humana que se protege no texto constitucional não é apenas a vida atual, nem é 
somente a vida humana. Tudo está inserido no conjunto global dos interesses e direitos das gerações 
presentes e futuras de todas as espécies vivas na Terra. 
Princípio da precaução 
Preconiza que as ações positivas em favor do meio ambiente devem ser tomadas mesmo sem 
evidência científica absoluta de perigo de dano grave e irreversível. A precaução, assim, é anterior 
à própriamanifestação do perigo, garantindo margem de segurança da linha de risco, em prol da 
sustentabilidade. Nos casos em que há conhecimento prévio das lesões que determinada atividade 
pode causar no ambiente, aplica-se outro princípio: o da prevenção. 
Princípio da responsabilidade 
Sua premissa básica é: quem causa dano ao meio ambiente deve por ele responder, ficando sujeito 
a sanções cíveis, penais ou administrativas. É aplicado como corolário da gestão antecipatória do 
risco ambiental, já que, sem possibilidade de reparação do dano, as ações de precaução e prevenção 
teriam pouca ou nenhuma utilidade. A responsabilização supõe o reconhecimento de uma nova face 
da responsabilidade civil em matéria ambiental: trata-se de reparar prevenindo. 
Princípio do mínimo existencial ecológico 
http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=97483
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Postula que, por trás da garantia constitucional do mínimo existencial, subjaz a idéia de que a 
dignidade da pessoa humana está intrinsecamente relacionada à qualidade ambiental. Ao conferir 
dimensão ecológica ao núcleo normativo, assenta a premissa de que não existe patamar mínimo de 
bem-estar sem respeito ao direito fundamental do meio ambiente sadio. 
Princípio da proibição do retrocesso ecológico 
Pressupõe que a salvaguarda do meio ambiente tem caráter irretroativo: não pode admitir o recuo 
para níveis de proteção inferiores aos anteriormente consagrados, a menos que as circunstâncias 
de fato sejam significativamente alteradas. Essa argumentação busca estabelecer um piso mínimo 
de proteção ambiental, para além do qual devem rumar as futuras medidas normativas de tutela, 
impondo limites a impulsos revisionistas da legislação. 
A boa interpretação do direito ambiental exige também noções de conhecimento das 
ciências naturais. 
 
Ademais, não se pode interpretar extensivamente normas que permitam, 
excepcionalmente, atividade poluidora (Ex: art. 27 do antigo CFLO – Lei 4.771/65) > 
restrição ao uso de fogo a todas as formas de vegetação, sejam permanentes ou 
renováveis. 
 
Ver Resp 1.000.731 (queimadas por usinas, em face da Política Nacional de Mudança do 
Clima) > hermenêutica jurídica específica para o Direito Ambiental. 
 
in dubio pro ambiente > sempre que possível, o intérprete deve privilegiar o significado 
do enunciado normativo que mais seja favorável ao meio ambiente (José Rubens Morato 
Leite e Germana Belchior, fundando-se na doutrina de Canotilho). 
 
Demais disso, os princípios informadores do dirieto ambiental serão sempre aplicados 
pelo exegeta. 
 
Um ato ilegal praticado contra o MA nao se convalida pelo decurso do tempo, devendo 
ser combatido, mesmo que gere uma situaçao consolidada > a Teoria do Fato Consumado 
nao se aplica ao Direito Ambiental (RE 609.748). 
 
 
03.8 Histórico das principais leis ambientais do Brasil 
(www.STJ.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=9
7547) 
 
Linha do tempo: um breve resumo da evolução da legislação ambiental no Brasil 
 
Tema cada dia mais relevante no universo jurídico, o Direito Ambiental é também resultado, no 
Brasil, de importantes fatores históricos, alguns deles anteriores à própria independência do país. 
Nem sempre relevantes na sua aparência, alguns deles foram essenciais para o desenvolvimento 
dessa temática, como o surgimento de importantes leis de natureza ecológica. Confira, abaixo, um 
breve resumo de como se deu a evolução da legislação ambiental brasileira. 
 
1605 
Surge a primeira lei de cunho ambiental no País: o Regimento do Pau-Brasil, voltado à proteção das 
florestas. 
http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=97547
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1797 
Carta régia afirma a necessidade de proteção a rios, nascentes e encostas, que passam a ser 
declarados propriedades da Coroa. 
1799 
É criado o Regimento de Cortes de Madeiras, cujo teor estabelece rigorosas regras para a derrubada 
de árvores. 
1850 
É promulgada a Lei n° 601/1850, primeira Lei de Terras do Brasil. Ela disciplina a ocupação do solo 
e estabelece sanções para atividades predatórias. 
1911 
É expedido o Decreto nº 8.843, que cria a primeira reserva florestal do Brasil, no antigo Território 
do Acre. 
1916 
Surge o Código Civil Brasileiro, que elenca várias disposições de natureza ecológica. A maioria, no 
entanto, reflete uma visão patrimonial, de cunho individualista. 
1934 
São sancionados o Código Florestal, que impõe limites ao exercício do direito de propriedade, e o 
Código de Águas. Eles contêm o embrião do que viria a constituir, décadas depois, a atual legislação 
ambiental brasileira. 
1964 
É promulgada a Lei 4.504, que trata do Estatuto da Terra. A lei surge como resposta a reivindicações 
de movimentos sociais, que exigiam mudanças estruturais na propriedade e no uso da terra no 
Brasil. 
1965 
Passa a vigorar uma nova versão do Código Florestal, ampliando políticas de proteção e conservação 
da flora. Inovador, estabelece a proteção das áreas de preservação permanente. 
 
1967 
São editados os Códigos de Caça, de Pesca e de Mineração, bem como a Lei de Proteção à Fauna. 
Uma nova Constituição atribui à União competência para legislar sobre jazidas, florestas, caça, pesca 
e águas, cabendo aos Estados tratar de matéria florestal. 
1975 
Inicia-se o controle da poluição provocada por atividades industriais. Por meio do Decreto-Lei 1.413, 
empresas poluidoras ficam obrigadas a prevenir e corrigir os prejuízos da contaminação do meio 
ambiente. 
1977 
É promulgada a Lei 6.453, que estabelece a responsabilidade civil em casos de danos provenientes 
de atividades nucleares. 
1981 
É editada a Lei 6.938, que estabelece a Política Nacional de Meio Ambiente. A lei inova ao apresentar 
o meio ambiente como objeto específico de proteção. 
1985 
É editada a Lei 7.347, que disciplina a ação civil pública como instrumento processual específico 
para a defesa do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos. 
1988 
É promulgada a Constituição de 1988, a primeira a dedicar capítulo específico ao meio ambiente. 
Avançada, impõe ao Poder Público e à coletividade, em seu art. 225, o dever de defender e preservar 
o meio ambiente para as gerações presentes e futuras. 
1991 
O Brasil passa a dispor da Lei de Política Agrícola (Lei 8.171). Com um capítulo especialmente 
dedicado à proteção ambiental, o texto obriga o proprietário rural a recompor sua propriedade com 
reserva florestal obrigatória. 
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1998 
É publicada a Lei 9.605, que dispõe sobre crimes ambientais. A lei prevê sanções penais e 
administrativas para condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. 
2000 
Surge a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Lei nº 9.985/00), que prevê 
mecanismos para a defesa dos ecossistemas naturais e de preservação dos recursos naturais neles 
contidos. 
2001 
É sancionado o Estatuto das Cidades (Lei 10.257), que dota o ente municipal de mecanismos visando 
permitir que seu desenvolvimento não ocorra em detrimento do meio ambiente. 
 
➢ 2011: LC 140; 
 
➢ 2012: Novo Código Florestal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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04. COMPETÊNCIAS CONSTITUCIONAIS AMBIENTAIS 
 
 
04.1 Federalismo de cooperação 
 
 
Federalismode cooperação triconômico > art. 18 CF > competências materiais exclusivas 
e privativas e legislativas concorrentes e comuns. 
 
Apesar da autonomia, o federalismo brasileiro centrífugo colocou nas mãos da União a 
grande parcela das competências material e legiferante. 
 
Técnica > enumeração das competências da União e Municípios, com remanescentes aos 
Estados > nem sempre a divisão é estanque, pois há competências comuns, concorrentes 
e privativas (possibilidade de delegação – art. 22, parágrafo único). 
 
 
04.2 Competências materiais ambientais 
 
Art. 23, III, IV, VI, VII e XI CF > competência comum. 
 
Era comum disputas políticas e econômicas norteadas às vezes por interesses públicos 
secundários entre os entes, com relação ao exercício da competência material comum, 
sobretudo com relação ao licenciamento ambiental de atividades lesivas ao meio 
ambiente, ante a ausência de LC prevista no parágrafo único do art. 23. 
 
Ocorre que foi recentemente publicada a LC 140/11, cujo texto sofreu algumas alterações 
no Senado, sem que voltasse para nova análise da Câmara, o que pode lhe causar a 
inconstitucionalidade formal, mormente porque as modificações não se limitam apenas a 
melhorar a redação do projeto, e sim inovaram em termos legislativos (ver notícia 
publicada no sítio do Senado em 26.10.11). 
 
Deveras, a LC cumpre o preceito do parágrafo único do art. 23 CF, fixando normas 
comuns para a cooperação entre os entes. 
 
A gestão ambiental é de todos os entes e da sociedade > AP e CNMA (assento para 
membros da sociedade civil organizada). 
 
Desenvolvimento sustentável > redução de desigualdades sociais > dignidade humana. 
 
O que se espera da lei? Cooperação, eficiência e harmonia entre os entes, evitando-se 
conflitos de competência positivo e negativo entre os mesmos, especialmente no que 
tange licenciamentos ambientais. 
 
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Instrumentos de cooperação na LC > consórcios públicos (Lei 11.107/05) – cria nova PJ, 
convênios e acordos de cooperação técnica (estes, sem necessidade de criação de nova 
PJ), inclusive por prazos indeterminados. 
 
Fundos públicos e privados > Fundo Nacional do MA (Lei 7.797/89) > desenvolvimento 
de projetos. 
 
Os entes poderão delegar as suas atribuições ambientais a outros, ou a mera execução de 
ações administrativas, o que normalmente se opera pela celebração de convênios > art. 5º 
da LC. 
 
Há, ainda, a previsão de formação de Comissões, para deliberar sobre a competência para 
a promoção do licenciamento ambiental, nas hipóteses da lei > são importantes 
instrumentos de cooperação institucional: 
 
Comissão Tripartite Nacional Será formulada, paritariamente, por representantes 
dos Poderes Executivos da União, dos Estados, do 
DF e dos Municípios, com o objetivo de fomentar a 
gestão ambiental compartilhada e descentralizada 
entre os entes federativos. 
Comissões Tripartites Estaduais Será formulada, paritariamente, por representantes 
dos Poderes Executivos da União, dos Estados e dos 
Municípios, com o objetivo de fomentar a gestão 
ambiental compartilhada e descentralizada entre os 
entes federativos. 
Comissão Bipartite do DF Será formulada, paritariamente, por representantes 
dos Poderes Executivos da União e do DF, com o 
objetivo de fomentar a gestão ambiental 
compartilhada e descentralizada entre os entes 
federativos. 
 
O detalhamento da composição das Comissões será definido em ato regulamentar 
(funcionamento, organização > regimento interno). 
 
Art. 7º - competências da União 
Art. 8º - competência estadual 
Art. 9º - competência municipal 
DF – cumula competências dos Estados e Municípios. 
 
A LC não tem eficácia retroativa. 
 
OBS: determinadas competências materiais restaram reservadas exclusivamente à 
União > Art. 21, IX, XVIII, XIX, XX e XXIII CF. 
 
Ainda > competência material dos Municípios > art. 30 VIII. 
 
 
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04.3 Competências legislativas ambientais 
 
Face o interesse comum, em regra, a competência é concorrente (União normas gerais e 
Estados e DF normas específicas para suas regiões e localidades) > art. 24, VI, VII e VIII 
CF. 
 
Art. 24, §3º > competência suplementar dos entes. 
 
Municípios > art. 30, I e II CF. 
 
Sobre a temática > REsp. 29.299/94, ADI/MC 2.396/01. 
 
Segundo o STF, o MA do trabalho está fora da competência legislativa concorrente 
(ADI/MC 1.893/98). 
 
O STF também pronunciou a inconstitucionalidade de lei do RS sobre transgênicos, que 
mandou observar a legislação federal em matéria de sua competência, o que importou em 
quebra da autonomia estadual. 
 
Lembre-se que não há hierarquia entre leis federais, estaduais, distritais e municipais > 
muitas vezes, a verificação da invasão ou não de competência é questão tormentosa (o 
que pode ser, na prática, peculiaridade regional, local, etc?). 
 
Em regra, lei federal não pode adentrar às especificidades regionais e locais e norma 
estadual não pode regular preceito geral. 
 
Normalmente, não há inconstitucionalidade se lei estadual ou municipal restringir ainda 
mais a federal, protegendo mais o MA. 
 
MAS, em alguns casos, pode até ser que a lei estadual, mesmo mais restrita, seja 
inconstitucional; foi o que houve no MS, quando uma lei estadual proibiu em absoluto a 
extração de amianto crisotila (branco), cuja extração é permitida por lei federal > ADI 
2.396. 
 
A decisão recebeu críticas de parte da doutrina (Paulo Affonso Leme Machado) > “por 
que a melhor palavra final tem que ser sempre da União??” 
 
Concordamos com a crítica; no caso, o MS deveria ter sim competência para restringir 
por absoluto referida extração mineral, sobretudo por questão de saúde pública. 
 
Contudo, em decisão posterior, em caso similar (ADI 3.937-SP), o STF reviu seu 
posicionamento (caso: lei paulista que veda a utilização de quaisquer produtos que 
contenham amianto > suspensão da eficácia da lei pelo Min. Marco Aurélio em sede 
liminar > Plenário não referenda liminar, indicando que a lei estadual era sim legítima). 
 
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Contudo, mais uma vez > ADPF 234 retrocede o entendimento > o plenário deferiu 
cautelar para determinar a suspensão da eficácia das interdições ao transporte de amianto 
praticado pelas empesas associadas à Associação Nacional do Transporte de Cargas, 
quando fundamentadas em descumprimento da norma contida no art. 1º da lei paulista, 
sob o fundamento de que cabe à União legislar privativamente sobre transporte e sobre 
comércio interestadual e internacional. 
 
Outrossim, há sérios problemas, quando normas estaduais flexibilizam normas federais, 
afrouxando a proteção ambiental, como ocorreu com o código florestal de SC. 
 
Ainda, não se esqueça que para alguns temas, a competência legislativa é privativa mesmo 
da União > art. 22, IV, XII, XXVI CF. 
 
Especificamente sobre as águas, a questão também é complexa, pois nem todo domínio 
de águas pertence à União; assim, Estados e DF também poderiam legislar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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05. PRINCÍPIOS SETORIAIS 
 
 
5.1 Definição, funções e tensão 
 
 
Conforme Luís Roberto Barroso, com o advento do pós-positivismo, os princípios 
passaram de meras fontes de integração a espécie de normas jurídicas, dotados, portanto 
de conteúdo normativo. 
 
São normas com menor densidadenormativa e que são sopesadas com outras no caso 
concreto (proporcionalidade), de modo que nenhum princípio é absoluto. 
 
São mais abstratos que as regras, pela condição de standards e função morfogenética. Em 
que peses inexistir hierarquia entre princípios e regras, os primeiros são axiologicamente 
superiores, possuindo funções dimensional ou morfogenética (os princípios são 
fundamentos das regras), interpretativa, limitadora integrativa. 
 
As regras valem ou não (tudo ou nada!); os princípios pesam mais ou menos. 
 
Em relação aos princípios ambientais, a Lei 11.428/09, que regula o Bioma Mata 
Atlântica, traz expressamente uma série deles! 
 
Da mesma forma, a Lei 12.187/09, que aprovo a Política Nacional sobre Mudança do 
Clima. 
 
Também o art. 6º da Lei 12.305/10,que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos. 
 
Em direito ambiental, não há uniformidade sobre a lista de princípios e seus conteúdos. 
Exporemos o núcleo dos principais. 
 
 
5.2 Tabela dos princípios ambientais 
 
 
Princípios Ambientais 
 
Conteúdo 
Prevenção É preciso que o ente ambiental faça o poluidor reduzir ou 
eliminar os danos ambientais, pois estes normalmente são 
irreversíveis em espécie. Este princípio trabalha com o 
risco certo, pois já há base científica, uma vez que o 
empreendimento é amplamente conhecido. 
Precaução Se determinado empreendimento puder causar danos 
ambientais, contudo inexiste certeza científica quanto aos 
efetivos danos e sua extensão, mas há base científica 
razoável fundada em juízo de probabilidade não remoto da 
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sua potencial ocorrência, o empreendedor deverá ser 
compelido a adotar medidas de precaução para elidir ou 
reduzir os riscos ambientais para a população (in dubio pro 
natura). Há risco incerto ou duvidoso. 
Desenvolvimento 
sustentável 
Decorre de uma ponderação que deverá ser feita 
casuisticamente entre o direito fundamental ao 
desenvolvimento econômico e do direito à preservação 
ambiental. É aquele que atende às necessidades do presente 
sem comprometer a possibilidade de existência digna das 
gerações futuras. Aplica-se aos recursos naturais 
renováveis. 
Poluidor-pagador Deve o poluidor responder pelos custos sociais da 
degradação causada por sua atividade impactante, 
devendo-se agregar esse valor no custo produtivo da 
atividade, para evitar que se privatizem os lucros e se 
socializem os prejuízos. 
Usuário-pagador As pessoas que utilizam recursos naturais devem pagar pela 
sua utilização, mesmo que não haja poluição, a exemplo do 
uso da água. 
Cooperação entre os 
povos 
Tendo em vista que o MA não conhece fronteiras políticas, 
sendo a terra um grande ecossistema, a única forma de 
preservá-la é a cooperação entre as nações, mormente por 
meio dos tratados internacionais, para se ter uma tutela 
global ambiental. 
Solidariedade 
intergeracional 
As atuais gerações devem preservar o MA e adotar políticas 
ambientais para a presente e as futuras gerações, não 
podendo utilizar os recursos ambientais de maneira 
irracional de modo que prive seus descendentes do seu 
desfrute. 
Natureza pública da 
proteção ambiental 
É dever irrenunciável do Poder Público e da coletividade 
promover a proteção do MA, por ser bem difuso, 
indispensável à vida humana sadia. 
Participação 
comunitária 
As pessoas têm o direito de participar da formação da 
decisão ambiental, existindo vários instrumentos nesse 
sentido, como a audiência pública no EIA-RIMA. 
Função 
socioambiental da 
propriedade 
Um dos requisitos para que a propriedade rural alcance a sua 
função social é o respeito à legislação ambiental (art. 186, II 
CF), bem como a propriedade urbana, pois o plano diretor 
deverá necessariamente considerar a preservação ambiental, 
a exemplo da instituição de áreas verdes. 
Informação Independentemente de demonstração de interesse específico, 
qualquer indivíduo terá acesso às informações dos órgãos 
ambientais, ressalvado o sigilo industrial e preservados os 
direitos autorais. 
Limite Explicita o dever estatal de editar padrões máximos de 
poluição a fim de manter o equilíbrio ambiental. 
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Protetor-recebedor É necessária a criação de benefícios em favor daqueles que 
protegem o MA com o desiderato de fomentar e premiar 
essas iniciativas. 
Vedação ao retrocesso 
ecológico 
É defeso o recuo dos patamares legais de proteção ambiental, 
salvo temporariamente em situações calamitosas. 
Responsabilidade 
comum, mas 
diferenciada 
Todas as nações são responsáveis pelo controle da poluição 
e a busca da sustentabilidade, mas os países mais poluidores 
deverão adotar as medidas mais drásticas. 
Gestão ambiental 
descentralizada, 
democrática e 
eficiente 
As competências ambientais são repartidas por todos os 
entes federativos, que deverão cooperar harmonicamente na 
sua eficiente realização, contando com o apoio da sociedade, 
que deverá participar ativamente da gestão ambiental. 
 
 
5.3 Outros 11 princípios ambientais 
 
 
A relação de princípios é mais ou menos extensa, conforme o autor: 
 
➢ Princípio do direito ao MA equilibrado: Paulo Affonso Leme Machado (art. 225 
CF); 
 
➢ Princípio do direito à sadia qualidade de vida: Paulo Affonso Leme Machado (art. 
225 c/c 5º CF); 
 
➢ Princípio da reparação: Paulo Affonso Leme Machado (art. 14, § 1º Lei 6.938/81) 
> tal princípio já foi reconhecido pelo TRF1 – AC 2006.41.00.002874-8); 
 
➢ Princípio da correção, prioritariamente na fonte: é preferível designar o princípio 
anterior desta forma, conforme art. 174, item 2 do Tratado que instituiu a 
Comunidade Europeia (ressalta-se o caráter preventivo e não o repressivo); 
 
➢ Princípio da integração: Alexandra Aragão > analisando o estatuto europeu (que 
possui caráter global), prega uma política comunitária; 
 
➢ Princípio do nível elevado de proteção: Alexandra Aragão > prega também a 
existência de um patamar mínimo de proteção ambiental entre os países europeus; 
 
➢ Princípio do progresso ecológico: Alexandra Aragão > cria obrigação estatal de 
constantemente revisar a legislação ambiental a fim de mantê-la atualizada; 
 
➢ Princípio do mínimo existencial ecológico: 
 
http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=97483 
Princípio do mínimo existencial ecológico 
http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=97483
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Postula que, por trás da garantia constitucional do mínimo existencial, subjaz a idéia de que a 
dignidade da pessoa humana está intrinsecamente relacionada à qualidade ambiental. Ao conferir 
dimensão ecológica ao núcleo normativo, assenta a premissa de que não existe patamar mínimo de 
bem-estar sem respeito ao direito fundamental do meio ambiente sadio. 
 
➢ Princípio da ubiquidade: Celso Antônio Pacheco Fiorillo > “o objeto de proteção 
do MA, localizado no epicentro dos direitos humanos, deve ser levado em 
consideração toda vez que uma política, atuação, legislação sobre qualquer tema, 
atividade, obra, etc. tiver que ser criada e desenvolvida”. De fato, a ubiquidade é 
a qualidade do que está em toda a parte, a onipresença; assim o direito 
fundamental ao MA ecologicamente equilibrado deverá sempre nortear as ações 
dos 3 Poderes; 
 
➢ Princípio do equilíbrio: Paulo de Bessa Antunes > “os indicadores da política 
ambiental e do direito ambiental devem pesar as consequências previsíveis da 
adoção de uma determinada medida, de forma que esta posa ser útil à comunidade 
e não importargravames excessivos aos ecossistemas e à vida humana”. 
 
➢ Princípio da boa-fé objetiva, na esfera ambiental: o STJ já aplicou tal princípio 
especificamente na seara ambiental, a fim de impedir uma indenização em ação 
de desapropriação indireta (REsp 573.806). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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06. A POLÍTICA AMBIENTAL E O SISTEMA NACIONAL DO MEIO 
AMBIENTE 
 
 
06.1 Princípios 
 
 
Criada ainda no período da ditadura pela Lei 6.938/81, regulamentada pelo D. 99.274/90, 
a PNMA tem como objetivo geral a preservação, a melhoria e a recuperação da qualidade 
ambiental propícia à vida, com os seus princípios arrolados no art. 2º. 
 
Atualmente, a lei precisa ser interpretada em conjunto com a LC 140/11, que regulamenta 
o art. 23, parágrafo único da CF, trazendo novo regime de competências materiais. 
 
Conceito de MA > art. 2º, I > patrimônio público e não bem público de pessoa jurídica 
pública > interesse de toda a coletividade na preservação ambiental. 
 
Lei 9.795/99 > Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA: processo por meio do 
qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, 
atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente. 
 
Além do SISNAMA, instituições de ensino públicas e privadas, além de organizações 
não governamentais têm o dever de executar a PNEA. 
 
Art. 4º da Lei 9.795/99 > princípios da PNEA. 
 
Art. 5º da Lei 9.795/99 > objetivos fundamentais da PNEA. 
 
A regulamentação foi realizada pelo D. 4.281/02, tendo sido criado o órgão gestor da 
PNEA, conforme art. 14 da Lei da PNEA. 
 
Infelizmente, o art. 10, §1º da Lei 9.795/99 vedou a implantação da educação ambiental 
como disciplina específica no currículo de ensino > será tema meramente transversal. 
 
Ainda houve a previsão de educação ambiental não formal > ações e práticas educativas 
voltadas à coletividade e à sua organização na defesa do MA. 
 
 
06.2 Objetivos específicos 
 
 
Art. 4º da Lei 6.938/81 > lista de objetivos específicos da PNMA (veja que o legislador 
já plantava na lei brasileira a ideia do desenvolvimento sustentável (economia + 
preservação). 
 
O inciso VII também já previu o princípio do poluidor-pagador e do usuário-pagador! 
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06.3 Instrumentos 
 
 
Instrumentos de realização da PNMA > art. 9º da Lei 6.938/81: 
 
➢ Estabelecimento de padrões de qualidade ambiental > no que concerne ao controle 
da qualidade do ar e da água, veremos em tópico separado; tal instrumento, 
amparado em medições técnicas é fundamental para manter o equilíbrio ambiental 
e a saúde humana; compete ao CONAMA estabelecer padrões relativos ao 
controle (vista ao uso racional dos recursos, sobretudo os hídricos; poluição do ar, 
com índices para medição de poluentes emitidos por veículos, embarcações, 
aeronaves, etc.); Ex: Res. CONAMA 03/90 (padrões de qualidade do ar); os 
Estados e municípios também pode editar regras de padrão de qualidade, com 
vistas a atender interesses regionais e locais; 
 
➢ Zoneamento, avaliações de impacto ambiental e licenciamento > dadas as suas 
importâncias, tais instrumentos serão visto separadamente mais adiante; 
 
➢ Pesquisas para se criarem tecnologias que reduzam ou eliminem a poluição > Ex: 
fontes limpas de energia, como a eólica e a solar > art. 170. VI CF; 
 
➢ Criação de espaços especialmente protegidos > Ex: unidades de conservação, 
APPs, áreas verdes urbanas, áreas de uso restrito e a reserva florestal legal, os 
quais serão estudados mais adiante > art. 225, §1º, III CF; 
 
➢ SINIMA – Sistema Nacional de Informações sobre o MA – regulamentado pelo 
D 99.247/90, art. 11, II > compete ao MMA coordenar a troca de informações 
entre as entidades e órgãos que compõem o SISNAMA. Ver 
www.mma.gov.br/sinima. > art. 7º, VIII da LC 140/2011 (inclusive, esta norma 
passou a prever o Sistema Municipal de Informações sobre o MA). Ainda, o novo 
COFLO (Lei 12.651/12) criou o CAR – Cadastro Ambiental Rural, no âmbito do 
SINIMA > trata-se de registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório 
para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações 
ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para 
controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao 
desmatamento, devendo a inscrição ser feita preferencialmente por órgão 
ambiental municipal ou estadual. A inscrição no CAR deverá ser requerida em até 
01 ano da sua criação para todas as propriedades e posses rurais brasileiras, 
podendo esse prazo ser prorrogado apenas uma vez, por igual período, por decreto 
do Chefe do Executivo. Contudo, o cadastramento não será considerado título 
para fins de reconhecimento do direito de propriedade ou posse, tampouco elimina 
a necessidade de inscrição no Cadastro Nacional de Imóveis rurais de que trata o 
art. 2º da Lei 10.267/01. 
 
http://www.mma.gov.br/sinima
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➢ Cadastro Técnico Federal de Atividades e instrumentos de Defesa Ambiental > 
art. 17, I da Lei 6.938/81; 
 
➢ Imposição de penalidades disciplinares ou compensatórias > natureza repressiva, 
corolário do poder de polícia ambiental, em decorrência do cometimento de ilícito 
administrativo-ambiental, sendo objeto de estudo apartado; 
 
➢ Relatório de Qualidade do MA – RQMA > a ser divulgado anualmente pelo 
IBAMA, ainda não foi implementado; dará conhecimento amplo à sociedade 
sobre as condições ambientais gerais do Brasil, necessitando ser efetivado, além 
de servir de lastro para a formulação de políticas públicas ambientais; 
 
➢ Garantia da prestação de informações relativas ao MA > decorre diretamente do 
princípio da publicidade e da informação, que lastreia a atuação da administração 
pública, presumindo-se a legitimidade das solicitações das pessoas físicas e 
jurídicas brasileiras (melhor interpretação do art. 6º, §3º da Lei 6.938/81 – 
conforme a CF). Nesse sentido > Lei 10.650/03 (deve o SISNAMA disponibilizar 
ao público o acesso aos processos administrativos na esfera federal, 
independentemente de comprovação de interesse específico); OBS: a Lei 
9.051/95, que regulamenta em geral a emissão de certidões pelo Poder Público, 
fica afastada. Ver art. 4º da Lei 10.650/03; 
 
➢ Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou 
utilizadoras de recursos ambientais > gerido pelo IBAMA (art. 17, II da Lei 
6.938/1, com regulamentação pelas Instruções Normativas 10/01 e 37/04). O art. 
37 do novo COFLO também cita tal cadastro para atividade de comércio de 
plantas vivas e outros produtos; 
 
➢ Instrumentos econômicos > “e outros” (rol aberto); é medida crescente no mundo, 
ao lado da tradicional regulação estatal direta; trata-se de medidas estatais que 
visam estimular condutas favoráveis à redução da poluição e inibir posturas 
lesivas ao MA: 
 
a) Concessão florestal: será estudada em tópico separado; 
 
b) Servidão ambiental: regulada no art. 9º-A da Lei 6.938/81 (com redação dada pelo 
novo COFLO, que também inseriu os arts. 9º-B e 9º-C); é espécie de servidão 
administrativa, com natureza de direito real sobre coisa alheia, devendo, destarte, 
ser registrada imobiliariamente, em que o proprietário renuncia de maneira 
permanente ou temporária, total ou parcialmente, ao uso, exploração e supressão 
dos recursos naturais do prédio rústico. Deve ser instituída por instrumento 
público ou privado ou por termo administrativo firmado com o SISNAMA (art. 
9º-A), comaverbação na matrícula; prazo mínimo da servidão: 15 anos (novidade 
da lei); veda-se a servidão em APPs e RLs, as quais já possuem regime de proteção 
próprios; o regime de proteção deve ser, ao menos, o mesmo da RL, vedando-se 
a supressão vegetal (salvo manejo sustentável). A servidão florestal do antigo 
COFLO foi substituída pela servidão ambiental, com novo regime. Da mesma 
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forma, veda-se a alteração da destinação da área durante a servidão, em caso de 
desmembramento, transmissão ou retificação da área. O detentor da servidão pode 
aliená-la, cedê-la ou transferi-la, total ou parcialmente, por prazo determinado ou 
em definitivo, devendo o contrato ser averbado na matrícula do imóvel. A servidão 
poderá ser gratuita ou onerosa, podendo limitar o uso de toda a propriedade ou 
parte dela > existe interesse econômico de um proprietário imobiliário de instituir 
servidão onerosa no seu imóvel para favorecer terceiro (detentor da servidão) para 
que este compense a reserva legal no seu imóvel rural que não possua os 
percentuais mínimos (conforme ainda veremos). 
 
c) Seguro ambiental: facilita a reparação de danos ao MA; seguindo a tendência de 
outros países, aos poucos vem sendo utilizado no Brasil, como já oferta a 
Unibanco AIG Seguros (recentemente adquirida pela Itaú Seguros). Há, no 
Congresso, o Projeto de Lei n. 2.313/2003, o qual objetiva tornar a contratação de 
tal seguro obrigatória para determinadas atividades; ainda sem previsão de 
aprovação. A Lei 12.305/10 (PNRS), regulamentada pelo D 7.404/10, em seu art. 
40, prevê que o órgão ambiental pode exigir a contratação do seguro em tela, para 
determinadas atividades. 
 
➢ Rol aberto: outros instrumentos econômicos podem ser considerados, como a 
instituição de tributos ou concessão de subsídios fiscais que favoreçam a 
sustentabilidade ambiental. Nesse sentido > art. 4º, IV LC 140/11 (fundos 
públicos e privados). 
 
 
06.4 O Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) 
 
 
ÓRGÃO SUPERIOR: CONSELHO 
DE GOVERNO 
Com a função de assessorar o Presidente da 
República na formulação da política nacional 
e nas diretrizes governamentais para o meio 
ambiente e os recursos ambientais. 
ÓRGÃO CONSULTIVO E 
DELIBERATIVO: CONAMA 
Com a finalidade de assessorar, estudar e 
propor ao Conselho de Governo, diretrizes de 
políticas governamentais para o meio 
ambiente e os recursos naturais e deliberar, no 
âmbito de sua competência, sobre normas e 
padrões compatíveis com o meio ambiente 
ecologicamente equilibrado e essencial à sadia 
qualidade de vida: 
➢ Estabelecer, mediante proposta do 
IBAMA, normas e critérios para o 
licenciamento de atividades efetiva ou 
potencialmente poluidoras, a ser 
concedido pelos Estados e supervisionado 
pelo IBAMA; 
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➢ Determinar, quando julgar necessário, a 
realização de estudos das alternativas e das 
possíveis consequências ambientais de 
projetos públicos ou privados, requisitando 
aos órgãos federais, estaduais e 
municipais, bem assim a entidades 
privadas, as informações indispensáveis 
para apreciação dos estudos de impacto 
ambiental, e respectivos relatórios, no caso 
de obras ou atividades de significativa 
degradação ambiental, especialmente nas 
áreas consideradas patrimônio nacional; 
➢ Homologar acordos visando à 
transformação de penalidades pecuniários 
na obrigação de executar medidas de 
interesse para a proteção ambiental; 
➢ Determinar, mediante representação do 
IBAMA, a perda ou restrição de benefícios 
fiscais concedidos pelo Poder Público, em 
caráter geral ou condicional, e a perda ou 
suspensão de participação em linhas de 
financiamento em estabelecimentos 
oficiais de crédito; 
➢ Estabelecer, privativamente, normas e 
padrões nacionais de controle da poluição 
por veículos automotores, aeronaves e 
embarcações, mediante audiência dos 
Ministérios competentes; 
➢ Estabelecer normas, critérios e padrões 
relativos ao controle e à manutenção da 
qualidade do meio ambiente com vistas ao 
uso racional dos recursos ambientais, 
principalmente os hídricos. 
ÓRGÃO CENTRAL: MINISTÉRIO 
DO MEIO AMBIENTE (antiga 
Secretaria do Meio Ambiente da 
Presidência da República) 
Com a finalidade de planejar, coordenar, 
supervisionar e controlar, como órgão federal, 
a política nacional e as diretrizes 
governamentais fixadas para o meio ambiente. 
ÓRGÃO EXECUTOR: IBAMA Com a finalidade de executar e fazer executar, 
como órgão federal, a política e diretrizes 
governamentais fixadas para o meio ambiente. 
OBS: a despeito da ausência de previsão 
expressa no art. 6º, da Lei 6.938/81, o art. 3º, 
IV, do D. 99.274/90, alterado pelo D. 
6.792/09, inseriu o Instituto Chico Mendes de 
Conservação e Biodiversidade como executor 
do SISNAMA. 
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ÓRGÃOS SECCIONAIS: 
ESTADUAIS E DO DF 
Os órgãos ou entidades estaduais responsáveis 
pela execução de programas, projetos e pelo 
controle e fiscalização de atividades capazes 
de provocar a degradação ambiental. 
ÓRGÃOS LOCAIS: MUNICIPAIS Os órgãos ou entidades municipais, 
responsáveis pelo controle e fiscalização de 
atividades capazes de provocar a degradação 
ambiental, nas suas respectivas jurisdições. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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07. O ZONEAMENTO AMBIENTAL 
 
 
07.1 Considerações iniciais 
Também denominado zoneamento ecológico-econômico (ZEE), é um dos instrumentos 
para a efetivação da PNMA (art, 9º da Lei 6.938/81), regulamentado pelo D 4.297/02, 
que traça o perfil desta importante ferramenta para o planejamento ambiental, ainda que 
pouco usada pelo Poder Público. Trata-se de “repartição” do solo em zonas para o melhor 
interesse na preservação ambiental e no uso sustentável dos recursos minerais. 
 
Conforme previsão regulamentar, o ZEE observa vários princípios ambientais. 
 
Art. 13, §2º NCF > prazo para elaboração e aprovação do ZEE. 
 
Lei ou decreto? A CF não fala; contudo, melhor que o legislativo participe, inclusive com 
consultas públicas. 
 
O Decreto 4.297/02 fala em “processo legislativo” para alteração do zoneamento. 
 
Nas esferas estadual, distrital, municipal, o instrumento normativo adequado irá depender 
de cada previsão. 
 
Paulo Affonso Leme Machado destaca a inexistência de determinação da via normativa, 
sendo questão de relevo. 
 
 
07.2 Definição 
Art. 2º do Decreto 4.297/02. 
 
Ex: se o zoneamento ambiental vedar a instalação de determinada indústria química em 
zona onde a empresa deseje operar, é defesa a concessão de licença de operação ambiental 
nessa área, nos termos do art. 20, do regulamento, não sendo possível, inclusive, a 
concessão de crédito oficial. 
 
 
07.3 Objetivo geral 
 
 
Art. 3º do Decreto 4.297/02. 
 
Deverão ser consideradas no ZEE a importância ecológica, as limitações e as fragilidades 
dos ecossistemas, estabelecendo-se vedações, restrições e alternativas de exploração do 
território e determinando-se, quando for o caso, inclusive a relocalização de atividades 
incompatíveis com suas diretrizes gerais. 
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07.4 Competência para a realização 
 
 
Art. 6º do Decreto 4.297/02 > Poder Público Federal. 
 
Note-se

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