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CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 1 de 146 DIREITO AMBIENTAL Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes advogado – OAB/MG 85.659 marcioml@netsite.com.br marcioml1979@gmail.com Uberlândia-MG. mailto:marcioml@netsite.com.br mailto:marcioml1979@gmail.com CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 2 de 146 SUMÁRIO 01. A QUESTÃO AMBIENTAL E AS CONDIÇÕES ÉTICAS SOBRE O MEIO AMBIENTE.....................................................................................03 02. MEIO AMBIENTE E DIREITO AMBIENTAL......................................12 03. A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL........................................14 04. COMPETÊNCIAS CONSTITUCIONAIS AMBIENTAIS.....................23 05. PRINCÍPIOS SETORIAIS.........................................................................26 06. A POLÍTICA AMBIENTAL E O SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE.................................................................................................31 07. O ZONEAMENTO AMBIENTAL............................................................37 08. O PODER DE POLÍCIA, O LICENCIAMENTO E OS ESTUDOS AMBIENTAIS.............................................................................................41 09. ESPAÇOS TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROTEGIDOS......59 10. AGROTÓXICOS.......................................................................................114 11. RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS............122 12. INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS AMBIENTAIS...........................129 13. RESPONSABILIDADE CRIMINAL AMBIENTAL............................133 14. ORDEM ECONÔMICA, MEIO AMBIENTE E TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL.............................................................................................134 15. MEIO AMBIENTE DO TRABALHO....................................................135 16. ÁGUAS.......................................................................................................140 REFERÊNCIAS........................................................................................146 CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 3 de 146 01. A QUESTÃO AMBIENTAL E AS CONDIÇÕES ÉTICAS SOBRE O MEIO AMBIENTE 01.1 A crise ambiental A importância da proteção ambiental (pelo Poder Público e pela coletividade) aumenta na medida em que a destruição do MA, especialmente o natural, também aumenta irracionalmente. A partir da década de 60, leis começam a ser editadas nesse sentido (Ex: antigo Código Florestal – Lei 4.771/65 e a Lei 6.938/81 – PNMA). Marco mundial > conferência de Estocolmo (ONU – 1972 > posição retrógrada do Brasil à época, em busca de desenvolvimento econômico a qualquer custo). Conferência de Estocolmo Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. ONU primeira a organizar um tratado ambiental A conferência de Estocolmo, realizada entre os dias 5 a 16 de junho de 1972 foi a primeira atitude mundial em tentar organizar as relações de Homem e Meio Ambiente. Na capital da Suécia, Estocolmo, a sociedade científica já detectava graves problemas futuros por razão da poluição atmosférica provocada pelas indústrias. Índice • 1 Histórico • 2 Reação dos países • 3 Ver também • 4 Referências Bibliograficas Histórico Os países no mesmo século pensavam que o meio ambiente era uma fonte inesgotável, e que toda ação de aproveitamento da natureza fosse infinita. Para tanto, problemas foram surgindo, como secamento de lagos e rios, o efeito da inversão térmica e as ilhas de calor. http://pt.wikipedia.org/wiki/ONU http://pt.wikipedia.org/wiki/1972 http://pt.wikipedia.org/wiki/Su%C3%A9cia http://pt.wikipedia.org/wiki/Estocolmo http://pt.wikipedia.org/wiki/Confer%C3%AAncia_de_Estocolmo#Hist.C3.B3rico http://pt.wikipedia.org/wiki/Confer%C3%AAncia_de_Estocolmo#Rea.C3.A7.C3.A3o_dos_pa.C3.ADses http://pt.wikipedia.org/wiki/Confer%C3%AAncia_de_Estocolmo#Ver_tamb.C3.A9m http://pt.wikipedia.org/wiki/Confer%C3%AAncia_de_Estocolmo#Refer.C3.AAncias_Bibliograficas http://pt.wikipedia.org/wiki/Invers%C3%A3o_t%C3%A9rmica http://pt.wikipedia.org/wiki/Ilhas_de_calor CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 4 de 146 Tendo em vista esses problemas, era necessário organizar uma convenção no qual países se propunham a ajudar um ao outro a fazer uma parcela de ajuda ao mundo. Foi então quando a ONU decidiu inaugurar a Primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente. Reação dos países A decisão de ajudar a natureza foi proposta primeiramente pelos EUA com liderança do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). A decisão foi imediatamente contestada pelos países subdesenvolvidos que tinham a base econômica unicamente na industrialização. Era necessário as atividades como em um jogo de xadrez de indústrias para o país se desenvolver e melhorar a sua situação socioeconômica. Foi a partir disto que os debates começaram e findaram uma possível forma de acordo. O apelo para o "Desenvolvimento a qualquer custo" foi a base para uma não negociação do 1º acordo programado pela ONU. Em virtude desse impasse, a conferência ficou marcada pela disputa do “desenvolvimento zero”, defendido pelos países desenvolvidos; e o “desenvolvimento a qualquer custo”, defendido pelas nações subdesenvolvidas. Na conferência de Estocolmo foram abordados os temas como a chuva ácida e o controle da poluição do ar. As discussões contaram com a presença de 113 países e mais 400 instituições governamentais e não governamentais. Após longos discursos e apresentações de pesquisas, foi concebido um importante documento relacionado aos temas ambientais, de preservação e uso dos recursos naturais, isso em esfera global. Essa conferência foi muito importante, pois pela primeira vez o mundo se direcionou para o volume da população absoluta global, a poluição atmosférica e a intensa exploração dos recursos naturais. Ver também • O acordo que remete a falha da Conferência de Estocolmo: O relatório Brundtland • Acordos que ainda vigoram: Tratado de kyoto e Protocolo de Montreal Referências Bibliograficas • Vesentini, J. Willian - A geografia do mundo industrializado. Vol. único. • Genebaldo Freire Dias - Educação Ambiental, Princípios e Práticas ,1993 1992 – ECO-92 ou Rio-92 (CNUMAD – Conferência das Nações Unidas sobre MA e Desenvolvimento): aprovou-se a Declaração do Rio, com 27 princípios ambientais e a http://pt.wikipedia.org/wiki/Relat%C3%B3rio_Brundtland http://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_kyoto http://pt.wikipedia.org/wiki/Protocolo_de_Montreal CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 5 de 146 Agenda 21 (instrumento não vinculante com metas, sem natureza de tratado, mas com autoridade ética local e mundial). O homem não tem o poder de ditar as leis da natureza, mas tem de respeitá-las, sob pena de sofrer a “legítima defesa natural”. O crescimento econômico não pode ser ilimitado, já que os recursos dos quais depende não o é. O Fundo Mundial para a Natureza já divulgou que o homem já consome 20% mais do que o planeta pode repor; ou seja, o Planeta Terra se tornou uma bomba-relógio, com as gerações presentes exterminando o que seria das futuras. Obviamente, o capitalismo e o consumo de massa se tornou fator decisivo nesta equação, onde grande parte da população tem mais do que precisa para viver dignamente, enquanto outra passanecessidade. Assim, a intensificação das ações do Poder Público na área ambiental é fundamental: ➢ Políticas regulatórias: normas jurídicas ambientais; ➢ Políticas estruturadoras: intervenções diretas na proteção (Ex: UCs); ➢ Políticas indutoras: fomento de condutas pró MA (Ex: extrafiscalidade) Abramos, aqui, breve parênteses para discorrermos sobre políticas indutoras e extrafiscalidade: ORDEM ECONÔMICA, MEIO AMBIENTE E TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL Introdução O poder de tributar pode e deve servir como instrumento de proteção ambiental > tributos verdes / tributação ambiental. A redução ou aumento da carga tributária pode servir de estímulo a condutas favoráveis à proteção ao MA e, de outro lado, inibição da poluição. Atuação indireta > destinação dos recursos tributários em prol do MA, como ocorre na CIDE-combustível (parcela dos recursos financia projetos ambientais). Quais espécies de tributos podem desenvolver função ambiental? Heleno Taveira Tôrres (posição restritiva) > IPTU progressivo, taxas, CIDEs, compensações financeiras, medidas administrativas de isenções e outros ao atendimento de regras de natureza ambiental. CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 6 de 146 Posição ampliativa > também impostos, observada a competência tributária. A ordem econômica e a relação entre o direito ambiental e o direito econômico Estado capitalista > livre iniciativa como regra, independentemente de autorização > art. 170 CF. Desta forma, o Estado, em regra, apenas atuará como agente normativo e regulador > agências. Exceção > art. 173 CF (regime de monopólio ou concorrência). As atividades poluidoras estão entre aquelas que necessitam de autorização > art. 10 da Lei 6.938/81 > principal mecanismo: licenciamento ambiental. Art. 170 CF > consagra a proteção ao meio ambiente, inclusive autorizando tratamento diferenciado > art. 9º, V da Lei 6.938/81. A questão é lógica > sendo a tecnologia limpa cara, o Estado precisa intervir barateando os custos > menor tributação, linhas de créditos específicas, subsídios, etc. Nesse sentido, já previa o art. 9º, VIII da Lei 6.938/81. Claramente, muitas normas ambientais possuem feição econômica > Direito Ambiental Econômico > junção de ambos os ramos. O desenvolvimento econômico, fundamental a qualquer nação, tem de passar pela sustentabilidade > tem que ser filtrado pelo direito ambiental. A fiscalidade, a parafiscalidade e a extrafiscalidade a serviço da proteção do MA Finalidade fiscal > custeio do Estado e suas funções. Finalidade para ou extrafiscal > atribuição da titularidade de tributos a pessoas diversas do estado, que os arrecadam em benefício das próprias finalidades. Ex: Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental - TCFA – União > capacidade tributária ativa do IBAMA, com utilização afetada ao controle e fiscalização ambiental. Função extrafiscal ou regulatória > arrecadação como instrumento de fomento ou inibição de condutas para a consecução de algum interesse público. CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 7 de 146 Ex: o Estado do AM adotou hipóteses de extrafiscalidaade na incidência de ICMS e IPVA, a fim de incentivar atividades que reduzam a poluição (Ex: ICMS reduzido para biodisgestores, biodiesel, geração de energia limpa, etc); IPVA reduzido para veículos com mínima emissão de poluentes, etc. ITR progressivo > alíquotas que visam a desestimular terras improdutivas; áreas de preservação permanente e reserva legal, de interesse ecológico, de servidão ambiental/florestal, cobertas por floretas nativas, etc. também não são tributadas. IPTU, conforme os ditames do plano diretor > também pode ser instrumento extrafiscal (por mais que seja tributo predominantemente fiscal). IPI – a União ainda não implementou política ambiental atrelada a este imposto; mas deverá fazê-lo, o que seria muito bom; contudo, há um exemplo: redução de IPI da linha branca (maior para os eletrodomésticos selo A do INMETRO, ou seja, os que consomem menos > essa aplicação deveria ser definitiva...). A contribuição SAT (1, 2, 3%), incidente sobre a contribuição previdenciária de 20% devida pelas empresas também tem como destinação tutelar o MA do trabalho. Tais alíquotas podem ser alteradas pra mais ou menos, conforme risco e estatísticas de acidentes de trabalho. O novo CFLO (Lei 12.6451/12) também previu instrumentos de proteção atrelados à tributação ambiental > art. 41, II, c e f. Além disso > Programa de Apoio e Incentivo à Conservação do MA > dedução da base de cálculo do IR do proprietário ou possuidor de imóvel rural, de parte dos gastos efetuados com a recomposição das Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito cujo desmatamento seja anterior a julho de 2008. Tal programa ainda estabelece diferenciação para empresas que industrializem ou comercializem produtos originários de propriedades ou posses rurais que cumpram os padrões e limites estabelecido no novo CFLO, ou estejam em processo de cumpri-los. A extrafiscalidade como instrumento de realização dos princípios ambientais A extrafiscalidade é uma boa ferramenta para se efetivar inúmeros princípios ambientais: ➢ Desenvolvimento sustentável > tributação menor para que os adotarem tecnologias e fizerem investimentos sustentáveis ➢ Prevenção > menor taxação e incentivos para os que adotarem medidas de prevenção (risco certo); CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 8 de 146 ➢ Precaução > menor taxação e incentivos para os que adotarem medidas de precaução (risco incerto); ➢ Poluidor-pagador > internalização de todos os custos da atividade > tributação majorada aos maiores poluidores; ➢ Função socioambiental da propriedade > O ITR e o IPTU progressivos cumprem bem tal função. O princípio da capacidade contributiva como limitador da extrafiscalidade ambiental Art. 145, §1º CF > limitação ao poder de tributar > isonomia. A extrafiscalidade ambiental deve ser balizada pela capacidade contributiva (gradação dos impostos). Apesar de ser limitação destinada aos impostos, o STF já estendeu a mesma à taxa cobrada pela CVM e à COSIP. A releitura do princípio da estrita legalidade Hoje, a legislação é amplamente feita e complementada por atos do Executivo. Assim, não se deve mais exigir que uma norma tributária esgote os aspectos constituintes de um tributo ambiental, sob pena de se inviabilizar sua aplicabilidade. Logo, é crescente a delegação regulamentar a fim de fechar o conteúdo dos tipos legais em todos os ramos jurídicos ambiental, mesmo na seara penal, em que muitos crimes ambientais previstos na Lei 9.605/98 carecem de complemento(s) para o seu fechamento, classificando-se como normas penais em branco normalmente heterogêneas, em decorrência do caráter concretista e inter/trans/multidisciplinar do estudo do MA. Assim, não se deve afastar a legalidade estrita, mas interpreta-la conforme o direito fundamental ao MA ecologicamente equilibrado > claro, os regulamentos devem guardar consonância com as leis que os fundamentam, sob pena de invalidade. Ex: uma lei que cria uma taxa de fiscalização ambiental, não pode listar exaustivamente o rol de atividades que devem ser fiscalizadas, sob pena de ter de ser alterada frequentemente, já que frequentemente novas atividades, ações humanas e tecnologias surgem; assim, um regulamento executivo poderia listar tais atividades > visão mais ampliada do princípio dalegalidade, o que é salutar e necessário à dinâmica do direito ambiental. CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 9 de 146 A adoção de critérios ambientais pelos Estados no repasse de parcela da arrecadação do ICMS dos municípios (“ICMS ecológico”) ICMS – repartição tributária > vide art. 157, parágrafo único CF. Então, dentro das cotas municipais do ICMS, o repasse de até ¼ do produto da arrecadação será distribuído conforme dispuser a legislação estadual, de acordo om o que foi facultado pela CF. Em 1991, Lei Estadual do PR foi pioneira em se valer de parte deste percentual (no caso, 5%, quando poderia ter chegado a 25%, ou seja, ¼) para determinar que os municípios paranaenses com unidades de conservação ambiental e mananciais de abastecimento público, receberiam mais recursos. Essa medida foi fundamental para o aumento de espaços territoriais protegidos naquele nos municípios daquele Estado. Hoje, SP, MG, RO, RS também já adotam o “ICMS ecológico”, cada um com critérios próprios. 01.2 O antropocentrismo, o ecocentrismo e o biocentrismo Culturalmente, salvo as linhas teocêntricas ainda adotadas por muitos países (notadamente orientais), o Direito é tradicionalmente informado por uma visão antropocêntrica, ou seja, o homem é o ser que está no centro do Universo, sendo que todo o restante gira ao seu redor. Por essa linha, a proteção ambiental serve ao homem (como se este não fosse integralmente do meio ambiente e os recursos não fossem bens tuteláveis por si sós). O antropocentrismo valoriza a natureza como instrumento para fins humanos (agrícola, industrial, medicinal). Uma nova visão vem ganhando força e influenciando as legislações mundiais; dentre as perspectivas filosóficas, destacam-se o ecocentrismo e o biocentrismo. ANTÓNIO ALMEIDA: no ecocentrismo, o homem se coloca como parte do MA, limitando suas atividades, dando prioridade ao equilíbrio ecossistemático. LUIZ REGIS PRADO: a doutrina aventa correntes de pensamento que têm respectivamente o ser humano ou o ambiente como eixo gravitacional, estabelecendo entre eles relações de maior ou de menor aproximação. São elas: a) Ecocêntrica absoluta: o MA deve ser preservado independentemente de qualquer interesse humano; CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 10 de 146 b) Antropocêntrica absoluta: o MA não pode ser considerado bem jurídico penal; sua proteção está vinculada ao ser humano; c) Antropocêntrica moderada ou relativa (concepção ecológico-antropocêntrica): o ambiente é protegido como bem jurídico-penal autônomo e de caráter relativamente antropocêntrico. É classificado como tal – dotado de autonomia sistemática – conquanto objeto jurídico de proteção penal, mas se vincula de modo indireto a interesses individuais (teoria pessoal relativa). Para o biocentrismo, conforme as lições de Peter Singer, sustenta-se a existência de valor nos demais seres vivos, independentemente da existência do homem, notadamente os mais complexos, a exemplo dos mamíferos, pois são seres sencientes (têm percepção, como dor e prazer). Por essa linha, a vida é considerada um fenômeno único, com valor intrínseco, e não instrumental, considerando-se os seres vivos não integrantes da raça humana. Nesse sentido, nasceu a defesa dos direitos dos animais, notadamente os sencientes e autoconscientes. 1978, Bruxelas, Declaração Universal dos Direitos dos Animais > UNESCO (prevê, inclusive, o biocídio). No Brasil, animais não humanos são objetos e não sujeitos de direitos, protegendo-se os mesmo contra atos de crueldade (regime jurídico especial). Ex: Lei 9.605/98, art. 32. Notícia de 2010: “Suíça faz referendo para decidir se animais têm direito a advogado” http://www.espacovital.com.br/noticia_ler.php?id=17556. Critério de diferenciação pelo estilo de alimentação humana, entre as 3 teorias: ➢ Antropocentrismo e ecocentrismo: favoráveis ao consumo humano de animais, mas por razões diversas: a primeira, pela liberdade e bem-estar do homem; a segunda, pela natureza carnívora do homem (necessidade); ➢ Biocentrismo: defende o consumo apenas de vegetais e derivados de animal (como ovo, leite, etc), pelo direito à vida dos animais não racionais e vedação ao seu sofrimento. A Constituição do Equador de 2008 previu a natureza como sujeito de direito (Capítulo VII), tema que subverte integralmente a tradicional teoria geral do direito desde os primórdios. http://www.espacovital.org/index.php?pag=2&sub=1&cod=165. 01.3 As concepções éticas ambientais na CF/88 http://www.espacovital.com.br/noticia_ler.php?id=17556 http://www.espacovital.org/index.php?pag=2&sub=1&cod=165 CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 11 de 146 A CF/88 adotou o antropocentrismo, mitigado por doses de biocentrismo e de ecocentrismo, o que acentua o dialeticismo constitucional. Art. 225, caput CF > carga antropocêntrica §1º, VII > linhas eco e biocêntricas. ANTÔNIO HERMAN BENJAMIN: “Em outras palavras, o constituinte desenhou um regime de direitos de filiação antropocêntrica temporalmente mitigada (com titularidade conferida também às gerações futuras), atrelado, de modo surpreendente, a um feixe de obrigações com beneficiários que vão além, muito além, da reduzida esfera daquilo que se chama de humanidade. Se é certo que não se chega, pela via direta, a atribuir direito à natureza, o legislador constitucional não hesitou em nela reconhecer valor intrínseco, estatuindo deveres a serem cobrados dos sujeitos-humanos em favor dos elementos bióticos e abióticos que compõem as bases da vida, de uma forma ou de outra, o paradigma do homem como prius é irreversivelmente trincado”. • Para os biocentristas, a expressão “todos” ultrapassa o homem e abarca todos os seres vivos. • O STF proibiu a “farra do boi” e as brigas de galo com base nestes dispositivo. Vide RE 153.531 e ADI 1.856/MC. O STJ proibiu o uso de gás asfixiante no extermínio de animais como última medida (REsp 1.155.916). CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 12 de 146 02. MEIO AMBIENTE E DIREITO AMBIENTAL 02.1 Definição de meio ambiente Pela definição do Aurélio, MA é expressão redundante, bastante pronunciar “ambiente”. Definição legal > art. 3º, I da Lei 6.938/81. Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; Há leis estaduais que também definem meio ambiente. Ex: Art. 5º, I da Lei Baiana n. 10.431/06. Art. 5º - Para os fins desta Lei, entende-se por: I - meio ambiente: a totalidade dos elementos e condições que, em sua complexidade de ordem física, química, biológica, socioeconômica e cultural, e em suas inter-relações, dão suporte a todas as formas de vida e determinam sua existência, manutenção e propagação, abrangendo o ambiente natural e o artificial; Porquanto seja boa a definição baiana, não convém que cada Estado trace a sua, já que a competência para normas gerais é da União (afinal, os elementos bióticos e abióticos sempre serão os mesmos). Aliás, o CONAMA também já melhor definiu MA, também incluindo o patrimônio cultural e artificial (Anexo I, XII, Res. 306/02). 02.2 Espécies de meio ambiente O MA, em sentido amplo, é gênero, que abarcao MA Natural, Cultural e Artificial (daí a crítica ao conceito da lei federal, o qual enfatiza tão somente o elemento biológico). Não há estrita uniformidade doutrinária sobre a questão, havendo autores que citam o MA do trabalho e o MA genético (o quais também poderia ser incluídos nos MAs artificial e natural, respectivamente); contudo, o STF já reconheceu a existência do MA do trabalho (respeita-se quando há condições dignas de trabalho, segurança, EPIs, etc). CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 13 de 146 Aos que admitem o MA genético como meio autônomo, trata-se de meio composto pelos organismos vivos do planeta Terra, que formam a sua diversidade biológica (Celso Antônio Pacheco Fiorillo e Terence Trennepohl). Assim, “direito ecológico” não deve ser tomado como sinônimo de “direito ambiental”, por ser (aquela) expressão que abarca somente o meio natural. 02.3 Definição, autonomia e objetivo do direito ambiental Direito ambiental: ramo do direito público composto por princípios e regras que regulam as condutas humanas que afetem, potencialmente ou efetivamente, direta ou indiretamente, o meio ambiente, quer o natural, o cultural ou o artificial. Objetivos: art. 170, VI CF. É ramo com autonomia didática própria (princípios próprios). Apesar da já existência de leis anteriores (antigo Código Florestal, de Pesca, Lei de Proteção à Fauna, etc), este ramo nasce no Brasil com a edição da Lei 6.938/81, que institui a PNMA e o SISNAMA, como meio de implementá-la. Antes, apenas existiam normas setoriais, e não um sistema harmônico. Trata-se de “disciplina transversal”, pois traspassa vários outros ramos, estabelecendo relações com os mesmos. Ex: art. 1.228, §1º CC, Lei 8.666/93, Poder de Polícia da AP, Direito Constitucional (arts. 215, 216 e 225 CF – à exemplo de outras nações, o direito ambiental foi constitucionalizado), Direito Tributário > “tributação ecológica” (Ex: isenção de ITR para espaços especialmente protegidos, Direito Econômico (princípio do art. 170) > existem instrumentos de intervenção estatal na economia, incluindo instrumentos econômicos de efetivação da Política Nacional do MA, como seguro, servidão, concessão ambiental > recursos ambientais também são recursos econômicos. O licenciamento é um condicionante da livre iniciativa; direito processual civil (ações coletivas); direito do consumidor (regulação dos danos ao consumidor e ao MA); direito previdenciário (conceitos de extrativismo e pesca são buscado na legislação ambiental, para fins de enquadramento do segurado especial da Previdência Social). CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 14 de 146 03. A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL 03.1 Introdução A legislação nacional carece de codificação (há inúmeras leis esparsas, várias anteriores à CF/88, de recepcionalidade ou vigência duvidosa). Além disso, a legislação ambiental é marcada por grandiosa gama de normas secundárias (resoluções, atos normativos de todas as esferas > “poluição regulamentar” Edis Milaré). Veja abaixo os diplomas normativos fundamentais à compreensão do direito ambiental. 03.2 Meio ambiente cultural ➢ CF/88, arts. 215 e 216; ➢ Lei 12.343/10 (Plano Nacional da Cultura); ➢ DL 25/37 (Lei Geral do Tombamento); ➢ D 3.551/00 (Registro dos Bens Imateriais). 03.3 Meio ambiente natural ➢ CF/88, art. 225; ➢ LC 140/11 (regula as competências ambientais comuns entre as entidades políticas); ➢ Lei 6.938/81 (PNMA); ➢ Lei 5.197/67 (Proteção à Fauna); ➢ Lei 9.433/97 (PN Recursos Hídricos); ➢ Lei 9.605/98 (Crimes e Infrações Ambientais); ➢ Lei 9.985/00 (Sistema Nacional das Unidades de Conservação); ➢ MP 2.186-16/01 (Regulamenta a Convenção da Diversidade Biológica e dispõe sobre o conhecimento tradicional associado ao patrimônio genético); ➢ Lei 11.105/05 (Biossegurança); ➢ Lei 11.284/06 (Gestão de Florestas Públicas); ➢ Lei 11.428/06 (Bioma Mata Atlântica); ➢ Lei 11.959/09 (Política Nacional e Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca – revogou quase que por completo o Código de Pesca DL 221/67); ➢ Lei 12.187/09 (Política Nacional de Mudança do Clima); ➢ Lei 12.305/10 (Política Nacional de Resíduos Sólidos); ➢ Lei 12.651/12 (Novo Código Florestal); ➢ Resolução 237/97 – CONAMA (Licenciamento Ambiental); CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 15 de 146 ➢ Resolução 01/86 – CONAMA (EIA-RIMA); ➢ Resolução 09/87 – CONAMA (audiência pública em EIA-RIMA). 03.4 Meio ambiente artificial ➢ CF/88, art. 182; ➢ Lei 10.257/01 (Estatuto da Cidade). 03.5 Direito intertemporal ambiental Obviamente, lei nova não pode retroagir para afetar ato jurídico perfeito e direito adquirido; contudo, a interpretação de tais garantias não é pacífica. Ex: majoração da reserva legal amazônica de 50 para 80%, pela MP 2.166-67/2001 > os proprietários que já haviam desmatado 50 de suas propriedades, têm direito adquirido? Não... não há incorporação idônea ao patrimônio particular, ante a indisponibilidade da preservação ambiental e seu caráter não pecuniário > não há direito adquirido de poluir (TRF AC 289198 de 2007). Ver Súmula 282/STF. Esta também é a posição do STJ (REsp 948.921), de Edis Milaré e Antônio Herman Benjamin (ministro relator do referido acórdão) > pela indisponibilidade do bem e do interesse público (e das futuras gerações) > obrigação propter rem. 03.6 A constitucionalização do direito ambiental no Brasil e o nascimento do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado Após a CNUMA, Estocolmo, 1972, houve uma tendência em se positivar o direito ambiental nas constituições nacionais. Esse é um fenômeno analítico das constituições, sobretudo no que tange os direitos sociais e segurança jurídico-ambiental. Logo, começaram a nascer as “constituições verdes” (Portugal-1976, Espanha-1978, as quais influenciaram a redação do artigo 225 da CF/88. Há traços comuns entre todas elas, com mínimas variações: a) Compreensão sistêmica e legalmente autônoma do direito ambiental; b) Compromisso ético de não empobrecer a Terra e sua biodiversidade; c) Estimulação da atualização do direito de propriedade; CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 16 de 146 d) Opção por processos decisórios abertos, transparentes e democráticos; e) Implementação de normas constitucionais ambientais e instrumentos de efetivação. Hoje, no Brasil, a base do direito ambiental é constitucional (direito constitucional ambiental): ➢ Competências legislativas: art. 22, IV, XII e XXVI, 24, VI, VII e VIII, e 30, I e II; ➢ Competências administrativas: art. 23, III, IV, VI, VII e XII; ➢ Ordem econômica ambiental: Art. 170, VI; ➢ Meio ambiente artificial: art. 182; ➢ Meio ambiente cultural: art. 215-216; ➢ Meio ambiente natural: art. 225; ➢ Além de outras normas esparsas. A constitucionalização do direito ambiental leva a claros benefícios (Antônio Herman Benjamin): ➢ Substancialmente: dever constitucional de não degradar; base do regime de explorabilidade limitada e condicionada; a ecologização da propriedade e da sua função social; a proteção ambiental como direito fundamental (3ª dimensão); a legitimação constitucional da função estatal reguladora; a redução da discricionariedade administrativa e a ampliação da participação pública. ➢ Formalmente: máxima preeminência (superioridade) e proeminência (perceptibilidade) dos direitos;deveres e princípios ambientais; a segurança normativa; a substituição do paradigma da legalidade ambiental para a constitucionalidade ambiental; o controle de constitucionalidade da lei e o reforço exegético pró-ambiente das normas infraconstitucionais. O bem ambiental é autônomo, imaterial e de natureza difusa, transcendendo a tradicional classificação de bens públicos e privados. O MA ecologicamente equilibrado foi afetado ao uso comum do povo, não podendo ser desafetado. O direito ao MA ecologicamente equilibrado é formal e substancialmente constitucional. Como direito fundamental que é, possui as seguintes características: ➢ Historicidade; ➢ Universalidade; ➢ Irrenunciabilidade; ➢ Inalienabilidade ➢ Limitabilidade; ➢ Imprescritibilidade > a reparação ambiental não prescreve. CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 17 de 146 Além disso, pode-se falar em vedação ao retrocesso ecológico (a legislação deve ser cada dia mais protetiva). Pode se falar também em mínimo existencial ecológico, sem o qual ninguém pode viver dignamente. Ainda, deveres ambientais podem ser criados por normas secundárias (desde que haja fundamento de validade constitucional, na aplicação direta do direito fundamental ao MA ecologicamente equilibrado) > ADPF 101. Tal direito fundamental deve ser efetivado com ações positivas e negativas pelo Poder Público e pela coletividade > desenvolvimento sustentável / crescimento econômico sem comprometer a preservação ambiental. O MA ecologicamente está presente em suas dimensões: ➢ Objetiva: diretrizes ambientais a todos; irradiação às relações privadas / princípios constitucionais; eficácia vinculante aos 03 Poderes da República e entre particulares > eficácias dirigente, irradiante e horizontal. ➢ Subjetiva: faz nascer direito prestacional positivo e negativo ao MA ecologicamente equilibrado > todos são credores e devedores. Nem todas as noções congregam de tal feição subjetiva (na Alemanha, existe apenas do direito do MA e não o direito ao MA, como lembrado por Canotilho). MA ecologicamente equilibrado é termo aberto, flexível conforme o espaço e o tempo, sendo objeto de análise também das ciências naturais. Outrossim, é fomentado por uma série de medidas de controle: licenciamento, zoneamento, unidades de conservação, estudos de impacto, dever de não degradação, recuperação, etc. > instrumentos que viabilizam a saída qualidade de vida > direito fundamental saúde. Art. 225 CF > influência do art. 66 da Lei Portuguesa. Caput > dever genérico; Incisos do §1º > deveres específicos do Poder Público (o STF já definiu sua aplicabilidade imediata); §§2º e 3º > deveres específicos ao Poder Público e coletividade; §4º > reconhecimento de biomas como patrimônio nacional > proteção especial > não converteu tais bens públicos em bens públicos na acepção tradicional, tendo sido esquecidos o Cerrado e a Caatinga, ainda alvos de histórica discriminação estética. CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 18 de 146 Art. 215 CF > meio ambiente cultural > garantia de acesso à cultura > plano nacional de cultura (Lei 13.343/12). Art. 216 CF > patrimônio cultural brasileiro > exemplificativo do acervo. §1º > lista exemplificativa de instrumentos de proteção ao patrimônio cultural brasileiro. Constitucionalização do direito ambiental > regulação > efetivação > crescimento sustentável. 03.7 Hermenêutica jurídica ambiental e a interpretação constitucional das normas ambientais Interpretação não se confunde com hermenêutica, sendo esta o precedente lógico da interpretação. CARLOS MAXIMILIANO: enquanto hermenêutica jurídica tem por objeto o estudo dos processos e métodos de interpretação, fixando-os e sistematizando-os, a interpretação é a aplicação dos métodos buscando o sentido e o alcance da lei. Duas atenções especiais devem ser dadas no âmbito da interpretação das normas ambientais: ➢ Normas anteriores à CF/88 > deverão ser materialmente compatíveis com a CF/88 > recepção; ➢ Atos regulamentares > não podem criar direitos e deveres, salvo se fundados em lei ou diretamente na CF > competência legislativa (arts. 22, 24 e 30 da CF). A título de exemplo, o art. 226 da CF Baiana é formalmente inconstitucional, por vedar instalação de usina nuclear em seu território (tal norma é de competência da União); é também materialmente inconstitucional, em face do art. 225, §6º da CF. A análise de fundamento de validade do ato regulamentar também é indispensável > o art. 3º, XI da Res. CONAMA 303/2002 foi tido por ilegal pelo TRF5, por criar as dunas como área de preservação permanente, criando nova hipótese não prevista no antigo CFLO. Assim, deve-se prestigiar o princípio da interpretação conforme a constituição, quando a norma analisada for passível de mais de uma interpretação. Ex: Art. 2º, I da Lei 6.938/81, conforme o art. 225 CF > MA como patrimônio público, não como propriedade das PJs de direito público, mas de uso comum do povo, de titularidade difusa, com feição imaterial e não patrimonial. CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 19 de 146 Ao revés, o art. 8º, VI da Lei 6.938/81 > privativamente não foi recepcionada. Ainda, outra norma de grande valia é o Princípio da Máxima Efetividade ou da Interpretação Efetiva, que informa a hermenêutica constitucional > máxima efetividade aos direitos fundamentais; tal princípio também pode/deve ser aplicado em escala infraconstitucional. O STJ, em inúmeras decisões, tem imprimido tal princípio: http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=97483 Princípios de interpretação ajudam o STJ a fundamentar decisões na área ambiental Em busca de soluções justas e constitucionalmente adequadas para as causas jurídicas nas quais intervém, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem recorrido à aplicação de importantes princípios do Direito Ambiental, dando-lhes uma interpretação mais integrativa e atual. “São os princípios que servem de critério básico e inafastável para a exata inteligência e interpretação de todas as normas que compõem o sistema jurídico ambiental, condição indispensável para a boa aplicação do Direito nessa área”, defende o ministro Herman Benjamin, uma das maiores autoridades do STJ no ramo ambiental. Além de dar suporte na resolução dos conflitos normativos que chegam ao Tribunal, essa “hermenêutica jurídica esverdeada”, na definição do especialista José Rubens Morato Leite, pós- doutor em Direito Ambiental e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), tem possibilitado mais transparência e objetividade no processo decisório, conferindo maior legitimidade às argumentações judiciais proferidas. Veja, a seguir, alguns dos princípios que a jurisprudência do STJ tem acatado ao fundamentar decisões na área ambiental. Princípio da solidariedade Princípio-base do moderno Direito Ambiental, pressupõe a ampliação do conceito de “proteção da vida” como fundamento para a constituição de novos direitos. Para tanto, impõe o reconhecimento de que a vida humana que se protege no texto constitucional não é apenas a vida atual, nem é somente a vida humana. Tudo está inserido no conjunto global dos interesses e direitos das gerações presentes e futuras de todas as espécies vivas na Terra. Princípio da precaução Preconiza que as ações positivas em favor do meio ambiente devem ser tomadas mesmo sem evidência científica absoluta de perigo de dano grave e irreversível. A precaução, assim, é anterior à própriamanifestação do perigo, garantindo margem de segurança da linha de risco, em prol da sustentabilidade. Nos casos em que há conhecimento prévio das lesões que determinada atividade pode causar no ambiente, aplica-se outro princípio: o da prevenção. Princípio da responsabilidade Sua premissa básica é: quem causa dano ao meio ambiente deve por ele responder, ficando sujeito a sanções cíveis, penais ou administrativas. É aplicado como corolário da gestão antecipatória do risco ambiental, já que, sem possibilidade de reparação do dano, as ações de precaução e prevenção teriam pouca ou nenhuma utilidade. A responsabilização supõe o reconhecimento de uma nova face da responsabilidade civil em matéria ambiental: trata-se de reparar prevenindo. Princípio do mínimo existencial ecológico http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=97483 CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 20 de 146 Postula que, por trás da garantia constitucional do mínimo existencial, subjaz a idéia de que a dignidade da pessoa humana está intrinsecamente relacionada à qualidade ambiental. Ao conferir dimensão ecológica ao núcleo normativo, assenta a premissa de que não existe patamar mínimo de bem-estar sem respeito ao direito fundamental do meio ambiente sadio. Princípio da proibição do retrocesso ecológico Pressupõe que a salvaguarda do meio ambiente tem caráter irretroativo: não pode admitir o recuo para níveis de proteção inferiores aos anteriormente consagrados, a menos que as circunstâncias de fato sejam significativamente alteradas. Essa argumentação busca estabelecer um piso mínimo de proteção ambiental, para além do qual devem rumar as futuras medidas normativas de tutela, impondo limites a impulsos revisionistas da legislação. A boa interpretação do direito ambiental exige também noções de conhecimento das ciências naturais. Ademais, não se pode interpretar extensivamente normas que permitam, excepcionalmente, atividade poluidora (Ex: art. 27 do antigo CFLO – Lei 4.771/65) > restrição ao uso de fogo a todas as formas de vegetação, sejam permanentes ou renováveis. Ver Resp 1.000.731 (queimadas por usinas, em face da Política Nacional de Mudança do Clima) > hermenêutica jurídica específica para o Direito Ambiental. in dubio pro ambiente > sempre que possível, o intérprete deve privilegiar o significado do enunciado normativo que mais seja favorável ao meio ambiente (José Rubens Morato Leite e Germana Belchior, fundando-se na doutrina de Canotilho). Demais disso, os princípios informadores do dirieto ambiental serão sempre aplicados pelo exegeta. Um ato ilegal praticado contra o MA nao se convalida pelo decurso do tempo, devendo ser combatido, mesmo que gere uma situaçao consolidada > a Teoria do Fato Consumado nao se aplica ao Direito Ambiental (RE 609.748). 03.8 Histórico das principais leis ambientais do Brasil (www.STJ.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=9 7547) Linha do tempo: um breve resumo da evolução da legislação ambiental no Brasil Tema cada dia mais relevante no universo jurídico, o Direito Ambiental é também resultado, no Brasil, de importantes fatores históricos, alguns deles anteriores à própria independência do país. Nem sempre relevantes na sua aparência, alguns deles foram essenciais para o desenvolvimento dessa temática, como o surgimento de importantes leis de natureza ecológica. Confira, abaixo, um breve resumo de como se deu a evolução da legislação ambiental brasileira. 1605 Surge a primeira lei de cunho ambiental no País: o Regimento do Pau-Brasil, voltado à proteção das florestas. http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=97547 http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=97547 CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 21 de 146 1797 Carta régia afirma a necessidade de proteção a rios, nascentes e encostas, que passam a ser declarados propriedades da Coroa. 1799 É criado o Regimento de Cortes de Madeiras, cujo teor estabelece rigorosas regras para a derrubada de árvores. 1850 É promulgada a Lei n° 601/1850, primeira Lei de Terras do Brasil. Ela disciplina a ocupação do solo e estabelece sanções para atividades predatórias. 1911 É expedido o Decreto nº 8.843, que cria a primeira reserva florestal do Brasil, no antigo Território do Acre. 1916 Surge o Código Civil Brasileiro, que elenca várias disposições de natureza ecológica. A maioria, no entanto, reflete uma visão patrimonial, de cunho individualista. 1934 São sancionados o Código Florestal, que impõe limites ao exercício do direito de propriedade, e o Código de Águas. Eles contêm o embrião do que viria a constituir, décadas depois, a atual legislação ambiental brasileira. 1964 É promulgada a Lei 4.504, que trata do Estatuto da Terra. A lei surge como resposta a reivindicações de movimentos sociais, que exigiam mudanças estruturais na propriedade e no uso da terra no Brasil. 1965 Passa a vigorar uma nova versão do Código Florestal, ampliando políticas de proteção e conservação da flora. Inovador, estabelece a proteção das áreas de preservação permanente. 1967 São editados os Códigos de Caça, de Pesca e de Mineração, bem como a Lei de Proteção à Fauna. Uma nova Constituição atribui à União competência para legislar sobre jazidas, florestas, caça, pesca e águas, cabendo aos Estados tratar de matéria florestal. 1975 Inicia-se o controle da poluição provocada por atividades industriais. Por meio do Decreto-Lei 1.413, empresas poluidoras ficam obrigadas a prevenir e corrigir os prejuízos da contaminação do meio ambiente. 1977 É promulgada a Lei 6.453, que estabelece a responsabilidade civil em casos de danos provenientes de atividades nucleares. 1981 É editada a Lei 6.938, que estabelece a Política Nacional de Meio Ambiente. A lei inova ao apresentar o meio ambiente como objeto específico de proteção. 1985 É editada a Lei 7.347, que disciplina a ação civil pública como instrumento processual específico para a defesa do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos. 1988 É promulgada a Constituição de 1988, a primeira a dedicar capítulo específico ao meio ambiente. Avançada, impõe ao Poder Público e à coletividade, em seu art. 225, o dever de defender e preservar o meio ambiente para as gerações presentes e futuras. 1991 O Brasil passa a dispor da Lei de Política Agrícola (Lei 8.171). Com um capítulo especialmente dedicado à proteção ambiental, o texto obriga o proprietário rural a recompor sua propriedade com reserva florestal obrigatória. CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 22 de 146 1998 É publicada a Lei 9.605, que dispõe sobre crimes ambientais. A lei prevê sanções penais e administrativas para condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. 2000 Surge a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Lei nº 9.985/00), que prevê mecanismos para a defesa dos ecossistemas naturais e de preservação dos recursos naturais neles contidos. 2001 É sancionado o Estatuto das Cidades (Lei 10.257), que dota o ente municipal de mecanismos visando permitir que seu desenvolvimento não ocorra em detrimento do meio ambiente. ➢ 2011: LC 140; ➢ 2012: Novo Código Florestal. CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 23 de 146 04. COMPETÊNCIAS CONSTITUCIONAIS AMBIENTAIS 04.1 Federalismo de cooperação Federalismode cooperação triconômico > art. 18 CF > competências materiais exclusivas e privativas e legislativas concorrentes e comuns. Apesar da autonomia, o federalismo brasileiro centrífugo colocou nas mãos da União a grande parcela das competências material e legiferante. Técnica > enumeração das competências da União e Municípios, com remanescentes aos Estados > nem sempre a divisão é estanque, pois há competências comuns, concorrentes e privativas (possibilidade de delegação – art. 22, parágrafo único). 04.2 Competências materiais ambientais Art. 23, III, IV, VI, VII e XI CF > competência comum. Era comum disputas políticas e econômicas norteadas às vezes por interesses públicos secundários entre os entes, com relação ao exercício da competência material comum, sobretudo com relação ao licenciamento ambiental de atividades lesivas ao meio ambiente, ante a ausência de LC prevista no parágrafo único do art. 23. Ocorre que foi recentemente publicada a LC 140/11, cujo texto sofreu algumas alterações no Senado, sem que voltasse para nova análise da Câmara, o que pode lhe causar a inconstitucionalidade formal, mormente porque as modificações não se limitam apenas a melhorar a redação do projeto, e sim inovaram em termos legislativos (ver notícia publicada no sítio do Senado em 26.10.11). Deveras, a LC cumpre o preceito do parágrafo único do art. 23 CF, fixando normas comuns para a cooperação entre os entes. A gestão ambiental é de todos os entes e da sociedade > AP e CNMA (assento para membros da sociedade civil organizada). Desenvolvimento sustentável > redução de desigualdades sociais > dignidade humana. O que se espera da lei? Cooperação, eficiência e harmonia entre os entes, evitando-se conflitos de competência positivo e negativo entre os mesmos, especialmente no que tange licenciamentos ambientais. CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 24 de 146 Instrumentos de cooperação na LC > consórcios públicos (Lei 11.107/05) – cria nova PJ, convênios e acordos de cooperação técnica (estes, sem necessidade de criação de nova PJ), inclusive por prazos indeterminados. Fundos públicos e privados > Fundo Nacional do MA (Lei 7.797/89) > desenvolvimento de projetos. Os entes poderão delegar as suas atribuições ambientais a outros, ou a mera execução de ações administrativas, o que normalmente se opera pela celebração de convênios > art. 5º da LC. Há, ainda, a previsão de formação de Comissões, para deliberar sobre a competência para a promoção do licenciamento ambiental, nas hipóteses da lei > são importantes instrumentos de cooperação institucional: Comissão Tripartite Nacional Será formulada, paritariamente, por representantes dos Poderes Executivos da União, dos Estados, do DF e dos Municípios, com o objetivo de fomentar a gestão ambiental compartilhada e descentralizada entre os entes federativos. Comissões Tripartites Estaduais Será formulada, paritariamente, por representantes dos Poderes Executivos da União, dos Estados e dos Municípios, com o objetivo de fomentar a gestão ambiental compartilhada e descentralizada entre os entes federativos. Comissão Bipartite do DF Será formulada, paritariamente, por representantes dos Poderes Executivos da União e do DF, com o objetivo de fomentar a gestão ambiental compartilhada e descentralizada entre os entes federativos. O detalhamento da composição das Comissões será definido em ato regulamentar (funcionamento, organização > regimento interno). Art. 7º - competências da União Art. 8º - competência estadual Art. 9º - competência municipal DF – cumula competências dos Estados e Municípios. A LC não tem eficácia retroativa. OBS: determinadas competências materiais restaram reservadas exclusivamente à União > Art. 21, IX, XVIII, XIX, XX e XXIII CF. Ainda > competência material dos Municípios > art. 30 VIII. CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 25 de 146 04.3 Competências legislativas ambientais Face o interesse comum, em regra, a competência é concorrente (União normas gerais e Estados e DF normas específicas para suas regiões e localidades) > art. 24, VI, VII e VIII CF. Art. 24, §3º > competência suplementar dos entes. Municípios > art. 30, I e II CF. Sobre a temática > REsp. 29.299/94, ADI/MC 2.396/01. Segundo o STF, o MA do trabalho está fora da competência legislativa concorrente (ADI/MC 1.893/98). O STF também pronunciou a inconstitucionalidade de lei do RS sobre transgênicos, que mandou observar a legislação federal em matéria de sua competência, o que importou em quebra da autonomia estadual. Lembre-se que não há hierarquia entre leis federais, estaduais, distritais e municipais > muitas vezes, a verificação da invasão ou não de competência é questão tormentosa (o que pode ser, na prática, peculiaridade regional, local, etc?). Em regra, lei federal não pode adentrar às especificidades regionais e locais e norma estadual não pode regular preceito geral. Normalmente, não há inconstitucionalidade se lei estadual ou municipal restringir ainda mais a federal, protegendo mais o MA. MAS, em alguns casos, pode até ser que a lei estadual, mesmo mais restrita, seja inconstitucional; foi o que houve no MS, quando uma lei estadual proibiu em absoluto a extração de amianto crisotila (branco), cuja extração é permitida por lei federal > ADI 2.396. A decisão recebeu críticas de parte da doutrina (Paulo Affonso Leme Machado) > “por que a melhor palavra final tem que ser sempre da União??” Concordamos com a crítica; no caso, o MS deveria ter sim competência para restringir por absoluto referida extração mineral, sobretudo por questão de saúde pública. Contudo, em decisão posterior, em caso similar (ADI 3.937-SP), o STF reviu seu posicionamento (caso: lei paulista que veda a utilização de quaisquer produtos que contenham amianto > suspensão da eficácia da lei pelo Min. Marco Aurélio em sede liminar > Plenário não referenda liminar, indicando que a lei estadual era sim legítima). CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 26 de 146 Contudo, mais uma vez > ADPF 234 retrocede o entendimento > o plenário deferiu cautelar para determinar a suspensão da eficácia das interdições ao transporte de amianto praticado pelas empesas associadas à Associação Nacional do Transporte de Cargas, quando fundamentadas em descumprimento da norma contida no art. 1º da lei paulista, sob o fundamento de que cabe à União legislar privativamente sobre transporte e sobre comércio interestadual e internacional. Outrossim, há sérios problemas, quando normas estaduais flexibilizam normas federais, afrouxando a proteção ambiental, como ocorreu com o código florestal de SC. Ainda, não se esqueça que para alguns temas, a competência legislativa é privativa mesmo da União > art. 22, IV, XII, XXVI CF. Especificamente sobre as águas, a questão também é complexa, pois nem todo domínio de águas pertence à União; assim, Estados e DF também poderiam legislar. CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 27 de 146 05. PRINCÍPIOS SETORIAIS 5.1 Definição, funções e tensão Conforme Luís Roberto Barroso, com o advento do pós-positivismo, os princípios passaram de meras fontes de integração a espécie de normas jurídicas, dotados, portanto de conteúdo normativo. São normas com menor densidadenormativa e que são sopesadas com outras no caso concreto (proporcionalidade), de modo que nenhum princípio é absoluto. São mais abstratos que as regras, pela condição de standards e função morfogenética. Em que peses inexistir hierarquia entre princípios e regras, os primeiros são axiologicamente superiores, possuindo funções dimensional ou morfogenética (os princípios são fundamentos das regras), interpretativa, limitadora integrativa. As regras valem ou não (tudo ou nada!); os princípios pesam mais ou menos. Em relação aos princípios ambientais, a Lei 11.428/09, que regula o Bioma Mata Atlântica, traz expressamente uma série deles! Da mesma forma, a Lei 12.187/09, que aprovo a Política Nacional sobre Mudança do Clima. Também o art. 6º da Lei 12.305/10,que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Em direito ambiental, não há uniformidade sobre a lista de princípios e seus conteúdos. Exporemos o núcleo dos principais. 5.2 Tabela dos princípios ambientais Princípios Ambientais Conteúdo Prevenção É preciso que o ente ambiental faça o poluidor reduzir ou eliminar os danos ambientais, pois estes normalmente são irreversíveis em espécie. Este princípio trabalha com o risco certo, pois já há base científica, uma vez que o empreendimento é amplamente conhecido. Precaução Se determinado empreendimento puder causar danos ambientais, contudo inexiste certeza científica quanto aos efetivos danos e sua extensão, mas há base científica razoável fundada em juízo de probabilidade não remoto da CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 28 de 146 sua potencial ocorrência, o empreendedor deverá ser compelido a adotar medidas de precaução para elidir ou reduzir os riscos ambientais para a população (in dubio pro natura). Há risco incerto ou duvidoso. Desenvolvimento sustentável Decorre de uma ponderação que deverá ser feita casuisticamente entre o direito fundamental ao desenvolvimento econômico e do direito à preservação ambiental. É aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de existência digna das gerações futuras. Aplica-se aos recursos naturais renováveis. Poluidor-pagador Deve o poluidor responder pelos custos sociais da degradação causada por sua atividade impactante, devendo-se agregar esse valor no custo produtivo da atividade, para evitar que se privatizem os lucros e se socializem os prejuízos. Usuário-pagador As pessoas que utilizam recursos naturais devem pagar pela sua utilização, mesmo que não haja poluição, a exemplo do uso da água. Cooperação entre os povos Tendo em vista que o MA não conhece fronteiras políticas, sendo a terra um grande ecossistema, a única forma de preservá-la é a cooperação entre as nações, mormente por meio dos tratados internacionais, para se ter uma tutela global ambiental. Solidariedade intergeracional As atuais gerações devem preservar o MA e adotar políticas ambientais para a presente e as futuras gerações, não podendo utilizar os recursos ambientais de maneira irracional de modo que prive seus descendentes do seu desfrute. Natureza pública da proteção ambiental É dever irrenunciável do Poder Público e da coletividade promover a proteção do MA, por ser bem difuso, indispensável à vida humana sadia. Participação comunitária As pessoas têm o direito de participar da formação da decisão ambiental, existindo vários instrumentos nesse sentido, como a audiência pública no EIA-RIMA. Função socioambiental da propriedade Um dos requisitos para que a propriedade rural alcance a sua função social é o respeito à legislação ambiental (art. 186, II CF), bem como a propriedade urbana, pois o plano diretor deverá necessariamente considerar a preservação ambiental, a exemplo da instituição de áreas verdes. Informação Independentemente de demonstração de interesse específico, qualquer indivíduo terá acesso às informações dos órgãos ambientais, ressalvado o sigilo industrial e preservados os direitos autorais. Limite Explicita o dever estatal de editar padrões máximos de poluição a fim de manter o equilíbrio ambiental. CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 29 de 146 Protetor-recebedor É necessária a criação de benefícios em favor daqueles que protegem o MA com o desiderato de fomentar e premiar essas iniciativas. Vedação ao retrocesso ecológico É defeso o recuo dos patamares legais de proteção ambiental, salvo temporariamente em situações calamitosas. Responsabilidade comum, mas diferenciada Todas as nações são responsáveis pelo controle da poluição e a busca da sustentabilidade, mas os países mais poluidores deverão adotar as medidas mais drásticas. Gestão ambiental descentralizada, democrática e eficiente As competências ambientais são repartidas por todos os entes federativos, que deverão cooperar harmonicamente na sua eficiente realização, contando com o apoio da sociedade, que deverá participar ativamente da gestão ambiental. 5.3 Outros 11 princípios ambientais A relação de princípios é mais ou menos extensa, conforme o autor: ➢ Princípio do direito ao MA equilibrado: Paulo Affonso Leme Machado (art. 225 CF); ➢ Princípio do direito à sadia qualidade de vida: Paulo Affonso Leme Machado (art. 225 c/c 5º CF); ➢ Princípio da reparação: Paulo Affonso Leme Machado (art. 14, § 1º Lei 6.938/81) > tal princípio já foi reconhecido pelo TRF1 – AC 2006.41.00.002874-8); ➢ Princípio da correção, prioritariamente na fonte: é preferível designar o princípio anterior desta forma, conforme art. 174, item 2 do Tratado que instituiu a Comunidade Europeia (ressalta-se o caráter preventivo e não o repressivo); ➢ Princípio da integração: Alexandra Aragão > analisando o estatuto europeu (que possui caráter global), prega uma política comunitária; ➢ Princípio do nível elevado de proteção: Alexandra Aragão > prega também a existência de um patamar mínimo de proteção ambiental entre os países europeus; ➢ Princípio do progresso ecológico: Alexandra Aragão > cria obrigação estatal de constantemente revisar a legislação ambiental a fim de mantê-la atualizada; ➢ Princípio do mínimo existencial ecológico: http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=97483 Princípio do mínimo existencial ecológico http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=97483 CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 30 de 146 Postula que, por trás da garantia constitucional do mínimo existencial, subjaz a idéia de que a dignidade da pessoa humana está intrinsecamente relacionada à qualidade ambiental. Ao conferir dimensão ecológica ao núcleo normativo, assenta a premissa de que não existe patamar mínimo de bem-estar sem respeito ao direito fundamental do meio ambiente sadio. ➢ Princípio da ubiquidade: Celso Antônio Pacheco Fiorillo > “o objeto de proteção do MA, localizado no epicentro dos direitos humanos, deve ser levado em consideração toda vez que uma política, atuação, legislação sobre qualquer tema, atividade, obra, etc. tiver que ser criada e desenvolvida”. De fato, a ubiquidade é a qualidade do que está em toda a parte, a onipresença; assim o direito fundamental ao MA ecologicamente equilibrado deverá sempre nortear as ações dos 3 Poderes; ➢ Princípio do equilíbrio: Paulo de Bessa Antunes > “os indicadores da política ambiental e do direito ambiental devem pesar as consequências previsíveis da adoção de uma determinada medida, de forma que esta posa ser útil à comunidade e não importargravames excessivos aos ecossistemas e à vida humana”. ➢ Princípio da boa-fé objetiva, na esfera ambiental: o STJ já aplicou tal princípio especificamente na seara ambiental, a fim de impedir uma indenização em ação de desapropriação indireta (REsp 573.806). CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 31 de 146 06. A POLÍTICA AMBIENTAL E O SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 06.1 Princípios Criada ainda no período da ditadura pela Lei 6.938/81, regulamentada pelo D. 99.274/90, a PNMA tem como objetivo geral a preservação, a melhoria e a recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, com os seus princípios arrolados no art. 2º. Atualmente, a lei precisa ser interpretada em conjunto com a LC 140/11, que regulamenta o art. 23, parágrafo único da CF, trazendo novo regime de competências materiais. Conceito de MA > art. 2º, I > patrimônio público e não bem público de pessoa jurídica pública > interesse de toda a coletividade na preservação ambiental. Lei 9.795/99 > Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA: processo por meio do qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente. Além do SISNAMA, instituições de ensino públicas e privadas, além de organizações não governamentais têm o dever de executar a PNEA. Art. 4º da Lei 9.795/99 > princípios da PNEA. Art. 5º da Lei 9.795/99 > objetivos fundamentais da PNEA. A regulamentação foi realizada pelo D. 4.281/02, tendo sido criado o órgão gestor da PNEA, conforme art. 14 da Lei da PNEA. Infelizmente, o art. 10, §1º da Lei 9.795/99 vedou a implantação da educação ambiental como disciplina específica no currículo de ensino > será tema meramente transversal. Ainda houve a previsão de educação ambiental não formal > ações e práticas educativas voltadas à coletividade e à sua organização na defesa do MA. 06.2 Objetivos específicos Art. 4º da Lei 6.938/81 > lista de objetivos específicos da PNMA (veja que o legislador já plantava na lei brasileira a ideia do desenvolvimento sustentável (economia + preservação). O inciso VII também já previu o princípio do poluidor-pagador e do usuário-pagador! CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 32 de 146 06.3 Instrumentos Instrumentos de realização da PNMA > art. 9º da Lei 6.938/81: ➢ Estabelecimento de padrões de qualidade ambiental > no que concerne ao controle da qualidade do ar e da água, veremos em tópico separado; tal instrumento, amparado em medições técnicas é fundamental para manter o equilíbrio ambiental e a saúde humana; compete ao CONAMA estabelecer padrões relativos ao controle (vista ao uso racional dos recursos, sobretudo os hídricos; poluição do ar, com índices para medição de poluentes emitidos por veículos, embarcações, aeronaves, etc.); Ex: Res. CONAMA 03/90 (padrões de qualidade do ar); os Estados e municípios também pode editar regras de padrão de qualidade, com vistas a atender interesses regionais e locais; ➢ Zoneamento, avaliações de impacto ambiental e licenciamento > dadas as suas importâncias, tais instrumentos serão visto separadamente mais adiante; ➢ Pesquisas para se criarem tecnologias que reduzam ou eliminem a poluição > Ex: fontes limpas de energia, como a eólica e a solar > art. 170. VI CF; ➢ Criação de espaços especialmente protegidos > Ex: unidades de conservação, APPs, áreas verdes urbanas, áreas de uso restrito e a reserva florestal legal, os quais serão estudados mais adiante > art. 225, §1º, III CF; ➢ SINIMA – Sistema Nacional de Informações sobre o MA – regulamentado pelo D 99.247/90, art. 11, II > compete ao MMA coordenar a troca de informações entre as entidades e órgãos que compõem o SISNAMA. Ver www.mma.gov.br/sinima. > art. 7º, VIII da LC 140/2011 (inclusive, esta norma passou a prever o Sistema Municipal de Informações sobre o MA). Ainda, o novo COFLO (Lei 12.651/12) criou o CAR – Cadastro Ambiental Rural, no âmbito do SINIMA > trata-se de registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento, devendo a inscrição ser feita preferencialmente por órgão ambiental municipal ou estadual. A inscrição no CAR deverá ser requerida em até 01 ano da sua criação para todas as propriedades e posses rurais brasileiras, podendo esse prazo ser prorrogado apenas uma vez, por igual período, por decreto do Chefe do Executivo. Contudo, o cadastramento não será considerado título para fins de reconhecimento do direito de propriedade ou posse, tampouco elimina a necessidade de inscrição no Cadastro Nacional de Imóveis rurais de que trata o art. 2º da Lei 10.267/01. http://www.mma.gov.br/sinima CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 33 de 146 ➢ Cadastro Técnico Federal de Atividades e instrumentos de Defesa Ambiental > art. 17, I da Lei 6.938/81; ➢ Imposição de penalidades disciplinares ou compensatórias > natureza repressiva, corolário do poder de polícia ambiental, em decorrência do cometimento de ilícito administrativo-ambiental, sendo objeto de estudo apartado; ➢ Relatório de Qualidade do MA – RQMA > a ser divulgado anualmente pelo IBAMA, ainda não foi implementado; dará conhecimento amplo à sociedade sobre as condições ambientais gerais do Brasil, necessitando ser efetivado, além de servir de lastro para a formulação de políticas públicas ambientais; ➢ Garantia da prestação de informações relativas ao MA > decorre diretamente do princípio da publicidade e da informação, que lastreia a atuação da administração pública, presumindo-se a legitimidade das solicitações das pessoas físicas e jurídicas brasileiras (melhor interpretação do art. 6º, §3º da Lei 6.938/81 – conforme a CF). Nesse sentido > Lei 10.650/03 (deve o SISNAMA disponibilizar ao público o acesso aos processos administrativos na esfera federal, independentemente de comprovação de interesse específico); OBS: a Lei 9.051/95, que regulamenta em geral a emissão de certidões pelo Poder Público, fica afastada. Ver art. 4º da Lei 10.650/03; ➢ Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras de recursos ambientais > gerido pelo IBAMA (art. 17, II da Lei 6.938/1, com regulamentação pelas Instruções Normativas 10/01 e 37/04). O art. 37 do novo COFLO também cita tal cadastro para atividade de comércio de plantas vivas e outros produtos; ➢ Instrumentos econômicos > “e outros” (rol aberto); é medida crescente no mundo, ao lado da tradicional regulação estatal direta; trata-se de medidas estatais que visam estimular condutas favoráveis à redução da poluição e inibir posturas lesivas ao MA: a) Concessão florestal: será estudada em tópico separado; b) Servidão ambiental: regulada no art. 9º-A da Lei 6.938/81 (com redação dada pelo novo COFLO, que também inseriu os arts. 9º-B e 9º-C); é espécie de servidão administrativa, com natureza de direito real sobre coisa alheia, devendo, destarte, ser registrada imobiliariamente, em que o proprietário renuncia de maneira permanente ou temporária, total ou parcialmente, ao uso, exploração e supressão dos recursos naturais do prédio rústico. Deve ser instituída por instrumento público ou privado ou por termo administrativo firmado com o SISNAMA (art. 9º-A), comaverbação na matrícula; prazo mínimo da servidão: 15 anos (novidade da lei); veda-se a servidão em APPs e RLs, as quais já possuem regime de proteção próprios; o regime de proteção deve ser, ao menos, o mesmo da RL, vedando-se a supressão vegetal (salvo manejo sustentável). A servidão florestal do antigo COFLO foi substituída pela servidão ambiental, com novo regime. Da mesma CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 34 de 146 forma, veda-se a alteração da destinação da área durante a servidão, em caso de desmembramento, transmissão ou retificação da área. O detentor da servidão pode aliená-la, cedê-la ou transferi-la, total ou parcialmente, por prazo determinado ou em definitivo, devendo o contrato ser averbado na matrícula do imóvel. A servidão poderá ser gratuita ou onerosa, podendo limitar o uso de toda a propriedade ou parte dela > existe interesse econômico de um proprietário imobiliário de instituir servidão onerosa no seu imóvel para favorecer terceiro (detentor da servidão) para que este compense a reserva legal no seu imóvel rural que não possua os percentuais mínimos (conforme ainda veremos). c) Seguro ambiental: facilita a reparação de danos ao MA; seguindo a tendência de outros países, aos poucos vem sendo utilizado no Brasil, como já oferta a Unibanco AIG Seguros (recentemente adquirida pela Itaú Seguros). Há, no Congresso, o Projeto de Lei n. 2.313/2003, o qual objetiva tornar a contratação de tal seguro obrigatória para determinadas atividades; ainda sem previsão de aprovação. A Lei 12.305/10 (PNRS), regulamentada pelo D 7.404/10, em seu art. 40, prevê que o órgão ambiental pode exigir a contratação do seguro em tela, para determinadas atividades. ➢ Rol aberto: outros instrumentos econômicos podem ser considerados, como a instituição de tributos ou concessão de subsídios fiscais que favoreçam a sustentabilidade ambiental. Nesse sentido > art. 4º, IV LC 140/11 (fundos públicos e privados). 06.4 O Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) ÓRGÃO SUPERIOR: CONSELHO DE GOVERNO Com a função de assessorar o Presidente da República na formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais para o meio ambiente e os recursos ambientais. ÓRGÃO CONSULTIVO E DELIBERATIVO: CONAMA Com a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida: ➢ Estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e critérios para o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, a ser concedido pelos Estados e supervisionado pelo IBAMA; CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 35 de 146 ➢ Determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das possíveis consequências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem assim a entidades privadas, as informações indispensáveis para apreciação dos estudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de significativa degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas patrimônio nacional; ➢ Homologar acordos visando à transformação de penalidades pecuniários na obrigação de executar medidas de interesse para a proteção ambiental; ➢ Determinar, mediante representação do IBAMA, a perda ou restrição de benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou condicional, e a perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; ➢ Estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle da poluição por veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante audiência dos Ministérios competentes; ➢ Estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos. ÓRGÃO CENTRAL: MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (antiga Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República) Com a finalidade de planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a política nacional e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente. ÓRGÃO EXECUTOR: IBAMA Com a finalidade de executar e fazer executar, como órgão federal, a política e diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente. OBS: a despeito da ausência de previsão expressa no art. 6º, da Lei 6.938/81, o art. 3º, IV, do D. 99.274/90, alterado pelo D. 6.792/09, inseriu o Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade como executor do SISNAMA. CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 36 de 146 ÓRGÃOS SECCIONAIS: ESTADUAIS E DO DF Os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental. ÓRGÃOS LOCAIS: MUNICIPAIS Os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental, nas suas respectivas jurisdições. CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 37 de 146 07. O ZONEAMENTO AMBIENTAL 07.1 Considerações iniciais Também denominado zoneamento ecológico-econômico (ZEE), é um dos instrumentos para a efetivação da PNMA (art, 9º da Lei 6.938/81), regulamentado pelo D 4.297/02, que traça o perfil desta importante ferramenta para o planejamento ambiental, ainda que pouco usada pelo Poder Público. Trata-se de “repartição” do solo em zonas para o melhor interesse na preservação ambiental e no uso sustentável dos recursos minerais. Conforme previsão regulamentar, o ZEE observa vários princípios ambientais. Art. 13, §2º NCF > prazo para elaboração e aprovação do ZEE. Lei ou decreto? A CF não fala; contudo, melhor que o legislativo participe, inclusive com consultas públicas. O Decreto 4.297/02 fala em “processo legislativo” para alteração do zoneamento. Nas esferas estadual, distrital, municipal, o instrumento normativo adequado irá depender de cada previsão. Paulo Affonso Leme Machado destaca a inexistência de determinação da via normativa, sendo questão de relevo. 07.2 Definição Art. 2º do Decreto 4.297/02. Ex: se o zoneamento ambiental vedar a instalação de determinada indústria química em zona onde a empresa deseje operar, é defesa a concessão de licença de operação ambiental nessa área, nos termos do art. 20, do regulamento, não sendo possível, inclusive, a concessão de crédito oficial. 07.3 Objetivo geral Art. 3º do Decreto 4.297/02. Deverão ser consideradas no ZEE a importância ecológica, as limitações e as fragilidades dos ecossistemas, estabelecendo-se vedações, restrições e alternativas de exploração do território e determinando-se, quando for o caso, inclusive a relocalização de atividades incompatíveis com suas diretrizes gerais. CURSO DE DIREITO Prof. Msc. Márcio Marçal Lopes – Direito Ambiental Página 38 de 146 07.4 Competência para a realização Art. 6º do Decreto 4.297/02 > Poder Público Federal. Note-se
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