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ALUNO: JOÃO VÍTOR MATIAS LEAL MATRÍCULA: 2015.0202808-5 MATÉRIA: PRÁTICA SIMULADA III - PENAL CAMPUS: SULACAP TURNO: SÁB/MANHÃ AVALIAÇÃO AV2 – PROVA 2020.2 – TURMA 3022 PROF.: GEISA SANTANA QUESTÃO. Túlio, nascido em 01/01/1996, primário, começa a namorar Joaquina, jovem que recém completou 15 anos. Logo após o início do namoro, ainda muito apaixonado, é surpreendido pela informação de que Joaquina estaria grávida de seu ex-namorado, o adolescente João, com quem mantivera relações sexuais. Joaquina demonstra toda a sua preocupação com a reação de seus pais diante desta gravidez quando tão jovem e, em desespero, solicita ajuda de Túlio para realizar um aborto. Diante disso, no dia 03/01/2014, em Porto Alegre, Túlio adquire remédio abortivo cuja venda era proibida sem prescrição médica e o entrega para a namorada, que, de imediato, passa a fazer uso dele. Joaquina, então, expele algo não identificado pela vagina, que ela acredita ser o feto. Os pais presenciam os fatos e levam a filha imediatamente ao hospital; em seguida, comparecem à Delegacia e narram o ocorrido. No hospital, foi informado pelos médicos que, na verdade, Joaquina possuía um cisto, mas nunca estivera grávida, e o que fora expelido não era um feto. Após investigação, no dia 20/01/2014, Túlio vem a ser denunciado pelo crime do Art. 126, caput, c/c. o Art. 14, inciso II, ambos do Código Penal, perante o juízo do Tribunal do Júri da Comarca de Porto Alegre/RS, não sendo oferecido qualquer instituto despenalizador, apesar do reclamo defensivo. A inicial acusatória foi recebida em 22/01/2014. Durante a instrução da primeira fase do procedimento especial, são ouvidas as testemunhas e Joaquina, assim como interrogado o réu, todos confirmando o ocorrido. As partes apresentaram alegações finais orais, e o juiz determinou a conclusão do feito para decisão. Antes de ser proferida decisão, mas após manifestação das partes em alegações finais, foram juntados aos autos o boletim de atendimento médico de Joaquina, no qual consta a informação de que ela não estivera grávida no momento dos fatos, a Folha de Antecedentes Criminais de Túlio sem outras anotações e um exame de corpo de delito, que indicava que o remédio utilizado não causara lesões na adolescente. Com a juntada da documentação, de imediato, sem a adoção de qualquer medida, o magistrado proferiu decisão de pronúncia nos termos da denúncia, sendo publicada na mesma data, qual seja, 18 de junho de 2018, segunda-feira, ocasião em que as partes foram intimadas. Considerando apenas as informações narradas, na condição de advogado(a) de Túlio, redija a peça jurídica cabível, diferente de habeas corpus, apresentando todas as teses jurídicas pertinentes. A peça deverá ser datada no último dia do prazo para interposição, considerando-se que todos os dias de segunda a sexta-feira são úteis em todo o país. RESPOSTA: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO TRIBUNAL DO JURÍ DA COMARCA DE PORTO ALEGRE/RS Processo nº TÚLIO, já qualificado nos autos da ação penal acima indicado, por seus procuradores, vem, a Vossa Excelência, com fulcro no art. 581 do Código de Processo Penal, propor RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Em face de decisão de pronúncia de Fls. tal, pelo qual pede, primeiramente, a retratação, nos termos das razões anexadas, com fundamento no art. 589 do CPP. Assim não sendo, requer o processamento e o encaminhamento do recurso, com as razões inclusas, ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Termos em que, Pede deferimento. Porto Alegre, 25 de junho de 2018. ADVOGADO OAB/RS nº EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE APELAÇÃO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL Recorrente: Túlio Processo n.º RAZÕES DO RECURSO Egrégio Tribunal de Justiça; Colenda Câmara; DA TEMPESTIVIDADE O presente recurso está tempestivo, pois interposto dentro do prazo legal, na medida em que a r. decisão foi publicada em 18 de Junho de 2018. Assim, o prazo iniciou-se em 19 de Junho de 2018 e terminará em 23 de Junho de 2018, porém considerando que dia 23 se trata de um sábado, o próximo dia útil e data fatal para interposição do presente recurso é 25 de Junho de 2018. BREVE SÍNTESE DOS FATOS A presente demanda trata-se de suposta prática de delito enquadrado no Art.126, caput c/c Art.14, II do CP, tais sejam provocar aborto com consentimento da gestante na modalidade tentada. Cumpre esclarecer que anteriormente a denúncia, o recorrente não possuía quaisquer ocorrência de anotação em sua Folha de Antecedentes Criminais e no decorrer da referida ação penal não lhe foram concedidos os tratamentos devidos como a presunção de inocência e o direito de qualquer instituto que pudesse reduzir sua eventual condenação. Ocorre que, conforme acostado aos autos nas Fls. tais à tais, restou comprovado que a suposta vítima nunca esteve grávida, conforme boletim de atendimento médico, bem como que a mesma não sofreu lesão alguma com a ingestão do remédio utilizado, conforme exame de corpo de delito. Ademais, ainda foram anexados aos autos a Folha de Antecedentes Criminais do recorrente sem outras anotações além do fato alegado em inicial acusatória recebida pelo Douto Juízo do Tribunal do Jurí de Porto Alegre, em 22 de Janeiro de 2014. Esclarece ainda que o recorrente à época do fato era menor de 21 anos de idade e Joaquina, suposta vítima, teria completado 15 anos antes do evento. Contudo atualmente a adolescente, ao tempo do fato, hoje é maior absolutamente capaz. Após, para a surpresa do recorrente, a ação obteve a decisão de pronúncia nos termos da denúncia oferecida, tendo o Magistrado se convencido da materialidade dos fatos e indícios apresentados pela autora, mesmo com as provas supervenientes. DO MÉRITO Ocorre que a referida decisão merece reparo, pois além de não considerar as provas trazidas aos autos, houve no presente caso a Prescrição da Pretensão Punitiva, ou extinção da punibilidade, nos termos do Código de Processo Penal: “Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:” [...] “IV - pela prescrição, decadência ou perempção;” (CP) c/c “Art. 109 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se:” [...] “V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois;” (CP) Tratando-se da suposta atitude criminosa, esta na modalidade tentada, a contagem da pretensão do Estado em punir o agente iniciou-se a partir do momento em que teria se cessado a prática do mesmo. Ademais, a decisão ainda não observou que no decurso da ação penal não foram oferecidas ao acusado, ora recorrente, nenhuma das garantias asseguradas pelo devido processo legal. Uma destas garantias é a possibilidade de redução de pena em razão da primariedade do réu e tendo em vista sua idade na data do fato. O Código Penal é claro ao legislar sobre o tema: “Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos.” (CP) A pena a ser aplicada, caso se comprovasse a acusação, deveria ser reduzida pela metade em razão da idade do agente ao tempo do fato, mas também deveria ter sua redução em até dois terços em razão de se enquadrar na modalidade tentada. “Art. 14 - Diz-se o crime:” [...] “II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.” “Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a doisterços.” (CP) Desta forma não procedeu o Juízo do Tribunal do Jurí de Porto Alegre, cuja decisão em momento algum ofereceu ao acusado, ainda que réu primário, qualquer das possibilidades de redução ou suspensão condicional do processo. Assim, considerando a pena prevista pelo tipo penal na acusação, prescreveu-se a pretensão punitiva em razão da decisão de pronúncia ocorrer mais de quatro anos após o oferecimento de denúncia, quando a pretensão deveria obedecer ao prazo de no máximo dois anos considerando as atenuantes. Apresentas as incoerências na decisão proferida nos autos, resta ao recorrente elucidar sobre as provas trazidas aos autos nas Fls. tais, sendo estas: o Laudo Médico que comprova que Joaquina nunca esteve grávida; o Exame de Corpo de Delito que comprova que o remédio utilizado não causou lesão alguma à adolescente, ao tempo do fato e hoje maior absolutamente capaz; e a Ficha de Antecedentes Criminais do recorrido sem outras anotações além da presente denúncia. A Norma Penal traz ainda em seus dispositivos a seguinte previsão: “Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.” (CP) Desta maneira, considerando que Joaquina jamais esteve grávida, o questionamento a ser feito é como poderia o recorrido ter provocado aborto com o consentimento da gestante. Portanto, tendo a denúncia o fundamento em crime na modalidade tentada, deverá ser considerado crime impossível uma vez que incorre em ineficácia absoluta conforme provas trazidas aos autos. DOS PEDIDOS Mediante o exposto, requer a V.Exa: I – Que seja recebido o presente Recurso em Sentido Estrito, com a imediata retratação por este Juízo, nos termos do Art. 589 do CPP; II - Seja dada vista dos autos ao Procurador-Geral, para parecer no prazo de dez dias; III - A total procedência do presente recurso para fins de que seja declarada nula a decisão impugnada, e ao final o recorrente seja absolvido em razão de se tratar de crime impossível, nos termo do Art.17 do Código Penal, tendo de ser retirada anotação de crime de sua Ficha de Antecedentes Criminais. IV – Caso não entenda pela absolvição do recorrente nos termos do pedido acima, requer a prescrição da pretensão punitiva com base nos Art.107, IV c/c Art.109, V do Código Penal e Art.115 c/c Art.14, II, §único também do Código Penal. Termos em que, Pede deferimento. Porto Alegre, 25 de junho de 2018. ADVOGADO OAB/RS nº
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