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4ºAula Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, vocês serão capazes de: • entender o que é uma política pública e qual sua atuação na área educacional; • conhecer os primeiros documentos que dispuseram sobre a educação de surdos, dentro de uma concepção de Educação Especial; • identificar as propostas educacionais implementadas pela Política Nacional, para o atendimento ao aluno surdo. Políticas Públicas e propostas educacionais: garantias de acesso e qualidade de educação à comunidade surda Olá! Na aula anterior, conhecemos as principais propostas educacionais, para escolarização de alunos surdos, ao longo dos tempos. Tais propostas basearam-se nas concepções de surdez que evidenciavam a deficiência, a falha que “necessitava voltar ao normal”. Como a “normalidade” nunca foi alcançada pelos surdos, por muito tempo permaneceram isolados e marginalizados, principalmente pela família. Porém, fundamentados em uma nova filosofia educacional, no reconhecimento da língua de sinais e as novas concepções sobre o sujeito surdo, a Política Nacional de Educação Especial implementa as práticas pedagógicas, nos espaços escolares, na perspectiva da inclusão escolar. Veremos como as políticas são fomentadas e quais as verdadeiras garantias para os alunos surdos brasileiros. Boa leitura! Boa aula! 26Libras - Língua Brasileira de Sinais Seções de estudo 1 – Políticas Públicas Educacionais 2 – Educação de Surdos na Educação Especial: primeiros passos 3 – Propostas Educacionais 1 – Políticas públicas educacionais Considera-se importante iniciar essa discussão salientando que as pesquisas no campo das políticas públicas tem se mostrado essenciais na atualidade, pois as Leis e Documentos oficiais são instrumentos de luta para efetivação dos direitos de cada cidadão. Além disso, os textos legais representam a política, apesar de não a serem de fato; eles devem ser entendidos como dimensão de um processo contínuo “cujo locus de poder está constantemente mudando” (SHIROMA et. al, 2005, p. 433). A luta da comunidade surda cresce a cada dia, propondo discussões embasadas nas leituras e interpretações dos documentos legais e oficiais que dispõe da educação de surdos. Todos os argumentos, mesmo que a maioria da população não tenha conhecimento, são formulados a partir de todo o escopo legal que rege a nossa sociedade. Conforme Cury (2002, p.246): O contorno legal indica os direitos, os deveres, as proibições, as possibilidades e os limites de atuação, enfi m: regras. Tudo isso possui enorme impacto no cotidiano das pessoas, mesmo que nem sempre elas estejam conscientes de todas as suas implicações e conseqüências. Assim, apesar de ter claro que a análise de uma fonte legal é apenas um instrumento para interpretação, enfatiza- se que há nesse processo de desvelamento algo que se torna essencial para as discussões sociais e da educação: a leitura das “linhas e entrelinhas”, que possibilitam melhor entendimento do movimento social. Mas, o que é uma política pública? Entende-se por política pública uma ação do Estado que se materializa através das administrações governamentais, ou seja, é o “Estado implantando um projeto de governo, através de programas, de ações voltadas para setores específicos da sociedade” (HOFLING, 2001, p. 31). Isto é, significa o “Estado em ação”. Uma das formas de ação do Estado é através da implantação de políticas sociais. Conforme Hofling (2001), as políticas sociais são: [...] ações que determinam o padrão de proteção social implementado pelo Estado, voltadas, em princípio, para a redistribuição dos benefícios sociais visando a diminuição das desigualdades estruturais produzidas pelo desenvolvimento socioeconômico (HOFLING, 2001, p. 31). Entre as políticas sociais, situa-se a política educacional. Garcia (2007, p. 132) salienta que “[...] pensar a política educacional implica pensar práticas sociais vividas por sujeitos concretos que representam forças sociais diferenciadas e em luta constante”. Além disso, a autora destaca que: [...] as políticas educacionais se constituem em meio a processos cujos contornos são dados pelos discursos, pelas teorias, pelas ações e estratégias, pelos recursos fi nanceiros, pelos compromissos e interesses pessoais e institucionais, enfi m, por uma trama de relações e signifi cados que podem ser apreendidos, analisados e discutidos (GARCIA, 2007, p.133). Dessa forma, a política educacional, como uma política pública de corte social, é um conjunto de intencionalidades. A educação de pessoas surdas é pensada no bojo da discussão das políticas públicas educacionais, a partir das propostas feitas para a Educação Especial, ou seja, a surdez tem sido refletida no país através da implementação de políticas públicas em Educação Especial, que é uma modalidade de educação escolar, constituinte da política educacional. Nessa discussão, que envolve a educação de todas as pessoas com necessidades educacionais especiais, a proposta central para a educação do aluno surdo é que a mesma seja realizada no ensino regular, a partir dos princípios da educação inclusiva. A proposta de educação inclusiva diz respeito a uma escola de qualidade para todos. Uma escola que não segregue, não rotule e não expulse seus alunos, mas assuma e atenda a diversidade de características de seu alunado. É, portanto, um processo de transformação da escola; um (re) fazer educacional que supõe reflexões aprofundadas sobre a formação de professores, a participação da comunidade escolar (alunos, professores, funcionários, família), os processos pedagógicos, as metodologias de ensino, enfim... refere-se à organização do espaço escolar de forma a atender todos e a todas as diferenças. Especialmente, para atender o surdo, os pressupostos inclusivos orientam para que essa educação seja realizada a partir da perspectiva bilíngue de ensino, em que a Língua de Sinais seja entendida como primeira língua e a Língua Portuguesa como segunda Língua, na modalidade escrita. O objetivo da educação bilíngue é que a criança surda possa ter um desenvolvimento cognitivo-linguístico equivalente ao verificado na criança ouvinte. Assim, a Língua de Sinais, no ambiente escolar, deve ser valorizada. Mas, para se chegar a esse “cenário educacional bilíngue” várias conquistas legais aconteceram. É importante conhecê-las. 2 – Educação de surdos na educação especial: primeiros passos A primeira Lei que indica a educação de todas as pessoas com deficiência no ensino regular é a Constituição Federal de 1988, que salienta em seu artigo 208 que é dever do Estado a garantia de “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”. A partir da Constituição Federal e, considerando sua importância no país, muitas outras Leis e demais instrumentos legais passam a salientar a garantia de se educar a todas as pessoas, independente de quaisquer condições, na rede regular 27 de ensino. É o caso, por exemplo, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei º 9.394/1996. Com relação ao surdo, destaca-se um importante Documento internacional: a Declaração de Salamanca, que discute sobre “os princípios, a política e a prática em Educação Especial”, por ser o primeiro Documento que orienta para a utilização da linguagem de signos como meio de comunicação dos alunos surdos, ou seja, no caso do Brasil, a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Faz-se necessário destacar que a partir do momento que se inicia a discussão sobre a inserção da LIBRAS no ambiente escolar, caminha-se para um novo entendimento sobre o aluno surdo, pois até então esse aluno era compreendido como um deficiente auditivo, que tem uma limitação, uma perda, um problema biológico e que, portanto, precisa de ajudar técnicas para aprender, como a amplificação sonora. Isto é, entendia-se que a educação precisava compensar a surdez de alguma forma, para que esse alunose aproximasse o máximo possível do padrão de “normalidade”. Isso era feito através da oralização. Com a utilização da LIBRAS e reivindicações das pessoas surdas em todo o país por seus direitos, o próprio conceito de surdez se modifica. Esse aluno passa a ser visto como pertencente a uma minoria linguística, alguém que se forma e se constitui diferentemente do ouvinte, pela apreensão do mundo a partir de experiências visuais. Duas Legislações mostram a mudança de entendimento sobre a surdez e, a partir disso, a proposta educacional se apresenta com novas perspectivas. Trata-se do Parecer nº 17/2001 e a Resolução nº 2/2001, que instituem as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Nos dois Documentos o surdo é citado como “pessoa que apresenta dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos”. Esse novo conceito retira esse aluno do grupo dos considerados deficientes pelo Documento, pois os deficientes ficam citados no primeiro grupo de alunos, os que tem dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares. A partir dessa perspectiva conceitual, os Documentos supracitados (Parecer nº 17/2001 e a Resolução nº 2/2001), orientam que a educação desse aluno seja realizada no ensino regular, a partir da utilização da LIBRAS. Para tanto, enfatizam que as escolas tenham serviços de apoio pedagógico especializado. No caso do aluno surdo, trata-se do professor intérprete. Conforme o Parecer nº 17/2001, a utilização de linguagens e códigos aplicáveis se apresenta como uma forma diferenciada de ensino que possibilita ao surdo o acesso ao currículo. Segundo esse mesmo Documento, o professor intérprete é um profissional especializado para “apoiar alunos surdos, surdos-cegos e outros que apresentem sérios comprometimentos de comunicação e sinalização” (BRASIL, 2001a, p. 23). Uma outra possibilidade viável de atendimento ao aluno surdo indicada é a sala de recursos, que deve complementar ou suplementar o currículo, utilizando equipamentos e materiais específicos. Além disso, as salas de recursos também devem realizar uma avaliação pedagógica diferenciada, a partir do processo de ensino e aprendizagem e dar condições para reflexão, ação e elaboração teórica da educação inclusiva. Para o professor que trabalhar em sala de recursos com alunos surdos, recomenda-se que além do curso de Letras e Linguística, haja uma complementação de estudos ou cursos de Pós-graduação sobre o ensino de línguas: Língua Portuguesa e Língua Brasileira de Sinais. Outra questão que precisa ser evidenciada refere-se ao início desse atendimento. Conforme a Resolução nº 2/2001, que atende claramente às orientações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996), o início do atendimento escolar a qualquer aluno com necessidades especiais fica garantido desde a Educação Infantil, isto é, desde o início da escolarização desse aluno. Enfim, as Leis e Documentos oficiais orientam que o aluno surdo esteja regularmente matriculado no ensino regular, com o acompanhamento de um professor intérprete e frequente a sala de recursos quando dela precisar, como por exemplo, para aprender a própria Língua de Sinais. Todavia, até então o Brasil não havia ainda oficializado a LIBRAS como a Língua de comunicação e mediação da aprendizagem do surdo. Isso acontece em 2002, com a promulgação da Lei nº 10.436/2002, que é regulamentada pelo Decreto nº 5.626/2005. Esses dois Documentos oficiais modificam ainda mais a proposta educacional para o aluno surdo. Faz-se necessário conhecê-los de perto. * Lei nº 10.436/2002: • Reconhece a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS – como meio legal de comunicação e expressão dos surdos; • Define a LIBRAS como um sistema de linguístico de natureza visual- motora, estrutura gramatical própria, capaz de transmitir ideias e fatos; • Orienta para que os sistemas de ensino estaduais, municipais e do Distrito Federal incluam nos cursos de formação de Educação Especial, Fanoaudiologia e Magistério, o ensino da LIBRAS; • Salienta que a LIBRAS não substitui a modalidade escrita da Língua Portuguesa. * Decreto nº 5.626/2005: • Regulamenta a Lei nº 10.436/2002; • Define pessoa surda como aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiência visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da LIBRAS; • Ressalta a inclusão da LIBRAS como disciplina escolar obrigatória, definindo os cursos de Magistério todos os cursos de Licenciatura, o curso Normal Superior, o curso de Pedagogia e o curso de Educação Especial. Para os outros cursos, a LIBRAS é indicada como disciplina optativa; • Indica que a formação de docentes para o ensino da LIBRAS deve ser realizada em nível superior, e deve priorizar as pessoas surdas; • Estabelece que o ensino da modalidade escrita da Língua Portuguesa, como segunda Língua para as pessoas surdas, deve ser incluído como disciplina curricular nos cursos de formação de professores para a Educação Infantil e os primeiros anos do Ensino Fundamental, bem como nos cursos de Licenciatura em Letras/Língua Portuguesa; • Salienta que as instituições de ensino devem garantir às pessoas surdas, obrigatoriamente, acesso à comunicação, à informação e à educação nos processos seletivos, nas atividades e conteúdos curriculares desenvolvidos em todos os níveis, etapas e modalidades da educação, desde a Educação Infantil até o Ensino Superior; 28Libras - Língua Brasileira de Sinais • Determina que as escolas devem ser providas de quatro profissionais distintos: professor de LIBRAS, tradutor e intérprete de LIBRAS – Língua Portuguesa, professor para o ensino da Língua Portuguesa como segunda Língua e professor regente com conhecimento acerca da singularidade linguística manifestada pelos alunos surdos; • Garante o atendimento às necessidades educacionais dos surdos nas salas de aula e em salas de recursos, em turno contrário ao da escolarização; • Enfatiza sobre a adoção de mecanismos de avaliação coerentes com o aprendizado de segunda Língua, na correção das provas escritas, valorizando o aspecto semântico; • Dispõe que a modalidade oral da Língua Portuguesa deve ser oferecida em turno distinto ao da escolarização, apenas para os alunos ou pais que fizerem essa opção; • Observa que os alunos têm direito ao atendimento educacional especializado para o desenvolvimento de complementação curricular, com utilização de equipamentos e tecnologias de informação; • Orienta sobre a importância de proporcionar aos professores acesso à literatura e informações sobre a especificidade linguística do aluno surdo. Enfim, como se pode observar, esses dois Documentos enfatizam, centralmente, a utilização da LIBRAS de forma efetiva no espaço escolar. Claro que não é apenas a utilização da LIBRAS que garantirá uma educação de qualidade ao aluno surdo, pois qualquer proposta de escolarização envolve muito mais do que a comunicação, como: metodologias de ensino específicas, avaliação coerente, professores preparados para trabalharem com a diversidade, comunidade escolar envolvida, família presente no cotidiano escolar, dentre outros aspectos. Todavia, o entendimento da LIBRAS como essencial no processo de inclusão e a garantia de sua utilização significaram mudanças essenciais no âmbito escolar. Por fim, considera-se importante destacar a proposta governamental que tem se colocado no país na atualidade para todas as pessoas com necessidades especiais. Refere-se ao atendimento educacional especializado. 3 – Propostas educacionais No ano de 2008, foi amplamente discutida no Brasil uma nova Política Nacional de Educação Especial. Essa proposta apresenta a inclusão como base norteadora do trabalho escolar e, nesse sentido, a Educação Especial passa a estar a serviço da inclusão, oferecendo serviços de atendimentoeducacional especializado. Essa mudança no cenário das políticas públicas influenciou também a educação do aluno surdo. Em setembro de 2008 foi publicado o Decreto nº 6.571, que dispõe exatamente sobre o atendimento educacional especializado, definido pelo texto legal como o conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente, prestado de forma complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular. A partir de então o MEC se empenhou em produzir materiais para distribuir nas escolas, organizar cursos de capacitação, dentre outras ações, para socializar a proposta desse atendimento, conhecido como AEE (atendimento educacional especializado), visando que esse atendimento esteja disponível nas escolas a partir de 2010. O material produzido foi dividido por áreas, contendo nesse compêndio, um livro específico para a pessoa com surdez. Conforme esse material, o AEE para os alunos com surdez numa proposta inclusiva, deve acontecer em três momentos didáticos específicos, que serão organizados em um período adicional às horas diárias de estudo: 1. Momento de atendimento educacional especializado em LIBRAS na escola comum, em que os conhecimentos produzidos na escola são explicados em LIBRAS por um professor, sendo o mesmo preferencialmente surdo. Este trabalho deve ser realizado diariamente. 2. Momento de atendimento educacional especializado para o ensino de LIBRAS na escola comum, em que os alunos com surdez terão aula de LIBRAS, favorecendo o conhecimento e a aquisição de termos científicos. Este trabalho deve ser realizado preferencialmente por um professor e/ou instrutor de LIBRAS e deve ser planejado de acordo com o diagnóstico do conhecimento que o aluno tem da LIBRAS. 3. Momento do atendimento educacional especializado para o ensino da Língua Portuguesa, em que são trabalhadas as especificidades dessa Língua para pessoas com surdez. Este trabalho deve ser realizado todos os dias, por um professor de Língua Portuguesa, planejado a partir do diagnóstico do conhecimento que o aluno tem da Língua Portuguesa. O AEE deve, portanto, ser um trabalho de parceria entre o professor que ministra aulas de LIBRAS, professor da classe comum e professor de Língua Portuguesa. Os alunos, dessa forma, são observados por todos os profissionais que trabalham com ele, devendo ser focalizados os seguintes aspectos: sociabilidade, cognição, linguagem, afetividade, motricidade, aptidões, interesses, habilidades e talentos (Damazio, 2007, p. 39). Essa é, portanto, a proposta atual do MEC para promover a efetiva inclusão do aluno surdo no ensino regular. Considera- se importante destacar, ainda, algumas ações que foram e/ ou tem sido operacionalizadas através da SEESP (Secretaria Nacional de Educação Especial) que tratam diretamente da questão da surdez. São elas: • O Programa “Interiorizando LIBRAS”, que apoia o processo de formação continuada de professores, instrutores e intérpretes de LIBRAS para atuarem na educação dos surdos, visando garantir a sua singularidade linguística. • O Centro de Formação de profissionais de educação e de atendimento às pessoas com surdez (CAS), que tem por objetivo dar apoio educacional aos sistemas de ensino para atendimento aos alunos surdos, formar profissionais da educação e ofertar atendimento educacional especializado às pessoas com surdez. • O curso de graduação em Letras/LIBRAS, implementado pelo MEC na modalidade à distância, em parceria com a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). • A realização dos Exames de Proficiência em Libras e de Tradução e Interpretação em Libras/Língua Portuguesa (Prolibras), que se configura em um Programa de certificação nacional de duas categorias de profissionais: os usuários da LIBRAS interessados em ser docentes da LIBRAS nos cursos de formação de professores e de Fonoaudiologia e os tradutores e intérpretes da LIBRAS interessados em exercer essa função. • O apoio ao Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), que 29 é considerado pela SEESP como um centro de referência nacional na área da surdez por subsidiar a Política Nacional de Educação por meio da produção, do desenvolvimento e da divulgação de conhecimentos científicos e tecnológicos que promovam e assegurem o desenvolvimento da pessoa surda. Além disso, o INES desenvolve formação de profissionais, elabora documentos técnicos-científicos, promove Seminários e Fóruns permanentes e, ainda, presta assessoria técnica nas áreas de prevenção, audiologia, fonoaudiologia, orientação familiar e informática educativa. Em 2005, foi criado no INES o primeiro Curso de Educação Superior Bilíngue Libras/Português para os anos iniciais do Ensino Fundamental e Educação Infantil. O objetivo deste curso é formar educadores para atuar na educação bilíngue de alunos surdos. Além dessas ações e Programas, a SEESP ainda destaca a distribuição de Dicionários Trilingues (LIBRAS/Língua Portuguesa/Inglês) e a distribuição de CD-Rom’s com a coleção de dez clássicos da Literatura em LIBRAS/Língua Portuguesa, para alunos surdos da Educação Infantil e primeiros anos do Ensino Fundamental. Esses Programas e ações demonstram que existe uma iniciativa da SEESP em promover melhores condições de atendimento aos alunos surdos na rede regular de ensino. Entretanto, desafios ainda existem e tem se tornado cada vez mais prementes. Um deles refere-se à efetivação da proposta bilíngue de ensino. Sabe-se que nessa proposta deve se priorizar a Língua de Sinais no processo ensino aprendizagem e a partir dela direcionar o ensino da segunda Língua. Todavia, a operacionalização dessa prerrogativa no cotidiano escolar não se dá de forma tranquila, pois todos os “atores” da escola devem estar cientes do que essa proposta significa e contribuírem para que a efetivação da mesma, o que nem sempre acontece. Outro desafio refere-se ao papel do professor intérprete. Acredita-se erroneamente que a presença do intérprete na rede regular de ensino resolverá todos os problemas que dizem respeito à escolarização do aluno surdo. Será que esse profissional garante o acesso ao currículo? E quanto à avaliação do processo ensino aprendizagem? E as relações entre ele, os professores e demais colegas que não dominam a Língua de Sinais? Parece preocupante acreditar que apenas a inserção desse profissional na escola garantirá qualidade no ensino ao surdo, sem considerar todos os outros aspectos administrativos e pedagógicos que envolvem qualquer processo de escolarização. Segundo Lacerda (2006, p. 176): [...] a presença do intérprete não é sufi ciente para uma inclusão satisfatória, sendo necessária uma série de outras providências para que este aluno possa ser atendido adequadamente: adequação curricular, aspectos didáticos e metodológicos, conhecimentos sobre a surdez e sobre a língua de sinais, entre outros. Por fim, uma outra questão que se considera desafiadora é a organização do espaço escolar e das práticas pedagógicas para a inclusão do aluno surdo no ensino regular. Lacerda (2006, p. 177) aponta que o aluno surdo está inserido em um ambiente pensado e organizado para alunos ouvintes. Essa realidade precisa ser modificada para que esse aluno se sinta pertencente ao espaço escolar, pois o pertencimento é uma das características principais da proposta de educação inclusiva. Para além do acesso e da eliminação das barreiras de comunicação, faz-se central pensar na qualidade do ensino direcionado à esse aluno e na função/significado que a escola tem assumido para ele. Além disso, é preciso destacar que o surdo precisa ser mais “ouvido” em suas necessidades e perspectivas; é essa proposta, dita inclusiva, que esse aluno acredita ser a melhor pra ele, diante de suas peculiaridades? Entende-se que os grupos de surdos em todo o país tem muito a dizer sobre seu próprio processo de escolarização. Esse passo é central para as discussões das políticaspúblicas brasileiras. Nesse sentido, salienta-se que apesar das várias iniciativas governamentais na tentativa de viabilizar uma educação de fato inclusiva para o aluno surdo, iniciativas essas traduzidas em políticas públicas, entende-se que muitos caminhos ainda precisam ser percorridos para a efetivação/implementação de uma educação de qualidade para todos, incluindo as pessoas surdas. Retomando a aula 1 – Políticas Públicas Educacionais 2 – Educação de Surdos na Educação Especial: primeiros passos 3 – Propostas Educacionais 1 – Políticas Públicas Educacionais Iniciamos os estudos desta aula, Políticas Públicas Educacionais, conceituando política pública e entendendo como se fazem políticas públicas educacionais. Situamos as discussões, relacionadas à surdez, no contexto das políticas educacionais: quais as concepções, os interesses de Estado e a perspectiva inclusiva, que também conceituamos. 2 – Educação de Surdos na Educação Especial: primeiros passos Passamos, então, á análise dos documentos oficiais, em Educação de Surdos na Educação Especial: primeiros passos, para conhecer qual a definição de pessoa surda para quem dirigesse o atendimento. Seguimos com os principais marcos legais que implementaram a educação de surdos e suas disposições para o atendimento e formação de profissionais: Lei 10.436/2002 e Decreto 5626/2005. 3 – Propostas Educacionais Enfim, com esta seção intitulada Propostas Educacionais, saber os caminhos percorridos até chegarmos às propostas mais atuais na escolarização de surdos, através da nova Política Educacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, divulgada pelo MEC em 2008. 30Libras - Língua Brasileira de Sinais Política Educacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, 2008. Disponível em: http://portal.mec. gov.br/seesp/arquivos/pdf/politica.pdf DAMÁZIO, M. F. M. Atendimento Educacional Especializado: pessoa com surdez. São Paulo: MEC/SEESP, 2007. 52 p. DECLARAÇÃO DE SALAMANCA E LINHAS DE AÇÕES SOBRE NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS. Sobre princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais, de 7 a 10 de junho de 1994. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/>. Acesso em: 26 abr. 2012. Vale a pena Vale a pena ler Minhas anotações
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