Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
4ºAula Racismo e Pluridade Cultural Nesta aula vamos debater alguns dados da situação do racismo no Brasil, abordando a pluralidade cultural e as legislações que obrigam a escola a incluir nos seus currículos conteúdos que dizem respeito à cultura afro-brasileira e indígena. Vamos também compreender o que é racismo e a situação atual no Brasil, conhecer a legislação que aborda o assunto e entender a importância da pluralidade cultural no contexto educacional. Boa aula! Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • compreender o teor e a importância da Lei 10.639/2003 para a atuação do professor em sala de aula perante as mudanças no currículo oficial que prevê o ensino da história e cultura afro-brasileira; • definir o conceito de ações afirmativas. • identificar quais são as ações afirmativas referentes à diversidade cultural e racial; • compreender a contextualização histórica do continente africano; • identificar e reconhecer as línguas africanas no Brasil e o seu contexto educacional; • promover um conhecimento sobre a música, dança, esporte e artesanato africano. 24Relações Étnico-Raciais na Educação (Diversidade e Educação Indígena) 1 - O perfil da discriminação racial no brasil 2 - Mas, o que é etnia? 3 - A legislação 4 - Reflexões sobre a lei 10.639/2003 5 - Educação para todos: políticas de ação afirmativa Seções de estudo O tema Discriminação racial e de gênero ainda aparece como assunto esquecido, que não precisa e não deve ser tratado. 1 - O perfil da discriminação racial no Brasil Nos momentos históricos que o Brasil passa durante toda nossa história, pensamos que os negros e os índios entre outras comunidades da diversidade cultural lutam pela descriminação e toda a luta que passaram por anos, e que até hoje ainda perpetua por conta das questões sociais impregnadas em nosso meio social.. E com isso, sempre estamos em constante busca e desenvolvendo atividades e premissas para a melhoria de toda essa aculturação que deve ser pensada e não somente combatida. A discriminação visa um olhar dos sujeitos que tende a ser combatida para que muitos possam se ver como integrantes em nossa sociedade. Disfarçado, o racismo ainda é a forma mais clara de discriminação na sociedade brasileira, apesar de o brasileiro não admitir seu preconceito. “A emoção das pessoas, o sentimento inferior delas é que é racista. Quando racionalizam, elas não se reconhecem assim, não identificam em suas atitudes componentes de discriminação”, analisa Alcione Araújo, escritora e dramatista, citada por Bazé Lima (2010 p. 83). O brasileiro tem dificuldade de assumir o seu racismo devido ao processo de convivência cordial que distorce o conflito. Devido a isso, por estar dissimulado, é difícil de ser combatido. O ato de descriminação deve ser repensado e não desenvolvido de maneira distinta, deve-se agregar as partes e não lutar de forma parcial. As práticas do racismo são diversas e se apresentam de diversas formas. Por meio das estatísticas sobre escolaridade, mercado de trabalho, criminalidade, presença nas artes e outros, pode-se perceber o problema na prática. A discriminação dá-se de duas formas: direta ou indireta. Diz-se discriminação direta a adoção de regras gerais que estabelecem distinções através de proibições. É o preconceito expressado de maneira clara como, por exemplo, dar tratamento desigual, ou mesmo negar direitos a um indivíduo ou grupo determinado. Já a discriminação indireta está relacionada a ações neutras, mas que de alguma forma ainda leva a essa ação negativa em massa em nosso Brasil. É espantosa a naturalidade com que as pessoas — mesmo as públicas, dotadas de cargos importantes da sociedade, e as pessoas mais esclarecidas — manifestam seus preconceitos. Elas parecem não perceber o que estão fazendo e como colaboram para a internalização do preconceito, já que suas falas são tidas como verdade. Discriminados e marginalizados, o negro e o índio perante a sociedade tem uma imagem de desqualificado, incapaz, impondo-se lhe a restrição do mercado de trabalho. Em posições aquém da merecida, sofre com maior intensidade a situação socioeconômica intensa do desemprego, marcado pelo estigma de ser preto ou pardo. Todo o processo independente do que possa ser discutido leva a reflexão e a conscientização das partes, em especial no que competem as políticas públicas que visam a melhoria de todo o processo de apoio legal. Mas precisamos ter a opinião de que sempre devem-se melhorar as demandas sobre questões sociais e emergentes em sociedade. A sociedade deve se conscientizar que a luta não é somente de um grupo ou etnia, mas sim de toda a população que necessita de respeito e dignidade para viver em uma sociedade. Os esforços para a mudança organizacional também estão levando em conta a necessidade de abordar, discutir e ampliar a nossa reflexão sobre o tema. No enfoque sobre relações raciais, a maioria das pessoas trabalha com suas experiências de vida e com seu senso comum. Assim a discriminação não é muito bem entendida, muito menos se sabe como se manifesta; daí o brasileiro afirmar que há racismo e discriminação na sociedade, mas, individualmente, ter dificuldade de afirmar atitudes e práticas racistas. Portanto, há um preconceito em se reconhecer que há preconceitos — quem discrimina é sempre “o outro”. Além disso, todos discriminam ou são discriminados de alguma forma. As respostas têm de ser procuradas nos que discriminam, não nas vítimas ou nos discriminados, que sofrem muitas arbitrariedades, sob os mais mesquinhos pretextos. Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=imagem+sobre+racismo&newwind ow=1&safe=active&client=firefox-b&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ved=0ahUKEwi O5dyB3LbUAhWHvJAKHY0EDsMQsAQIJg&biw=1366&bih=631#imgrc=4q4wNN-003_fUM:>. 2 - Mas, o que é etnia? Durante muito tempo, fomos acostumados a classificar pessoas usando categorias baseadas na cor da pele, na textura do cabelo, nos traços físicos, etc. Assim, criou-se o senso comum das três raças distintas: amarela, negra e branca. O conceito de raça, segundo o Dicionário Aurélio (1986, p. 1442), é um “conjunto de indivíduos cujos caracteres somáticos, tais como cor da pele, a conformação do crânio e do rosto, o tipo de cabelo, etc., são semelhantes e se transmitem por hereditariedade, embora variem de indivíduo para indivíduo”. 25 O que significa tratar os “diferentes” enquanto “iguais”? 3 - A Legislação 4 - Reflexões sobre a lei 10.639/2003 CONCEITO Etnia é “um grupo biológico e culturalmente homogêneo” (DICIONÁRIO AURÉLIO, 1986, p.733). Assim, etnia pode ser usada de forma isoladamente para classificar ou determinar os humanos, pois as culturas não são estáticas nem puras. Por estarmos envolvidos e culturalmente falando em algum momento vamos agregar mais de uma cultura, pois somos de uma sociedade com tanta diversidade. Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=imagem+sobre+racismo&newwin- dow=1&safe=active&client=firefox-b&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ved=0ahUKE- wiO5dyB3LbUAhWHvJAKHY0EDsMQsAQIJg&biw=1366&bih=631#newwindow=1&safe=acti- ve&tbm=isch&q=tipos+de+etnias&imgrc=buqHXHeuFtSJzM>. Inserida, então, nesse mar de diversas culturas, resolvemos adotar a terminologia étnico-racial, uma vez que tais conceitos já fazem parte da cultura brasileira. Como medida de valorização dessa pluralidade cultural o governo brasileiro instituiu uma legislação que obriga a escola a incluir no conteúdo a história e cultura afro-brasileira e indígena. A Lei 11.645, de 10 de março de 2008, obriga o ensino da história e da cultura indígena e afro-brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio, particulares e públicas do Brasil Alei altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n. 9394 de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. A Lei 11.645 incluino currículo oficial da rede de ensino a temática “História e Cultura Afro-brasileira e Indígena”. Isso quer dizer que o ensino da História Brasileira deverá considerar e relatar as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação da população brasileira, em especial as matrizes indígena, africana e europeia. A Lei representa a intenção do governo brasileiro de reparar o tratamento de exclusão recebido pelos povos africano e indígena ao longo do tempo, com o objetivo de combater a ideia etnocêntrica de que existe um único modelo civilizatório que inferioriza a diferença. Nota-se o desafio que a lei imprime, pois para que seja funcional é preciso que ela interaja com o currículo. Então colocamos em discussão: a escola está preparada para isso? Esta é a mola mestra na formação do perfil de um professor que se compromete a combater o racismo, o preconceito e a discriminação, os quais não produzem nenhum benefício para a escola ou a sociedade. Ao adotarmos uma postura combativa, percebemos que estamos lutando contra algo que, na maior parte das vezes, encontra-se mascarado atrás de valores historicamente cultivados e normas sociais devidamente estabelecidas. Elas influenciam o agir e o pensar da etnia dominante sobre a etnia dominada. Ainda hoje, muitos profissionais não compreendem a importância que caracteriza o encontro de diferentes etnias por acreditarem que, ao não promoverem ações discriminatórias, elas não existam. Caso a discriminação aconteça, pensam que quanto mais salientarmos, mais discriminação estaremos gerando. Tal ideologia deve ser modificada, pois a sua permanência significa não dar voz ao aluno negro, índio, asiático e outros, e estigmatizar o preconceito. 4.1 - Tratando o “diferente” de maneira diferente Historicamente a sociedade brasileira vem tratando os diferentes enquanto iguais, e, o que se vê de fato é a permanência das grandes desigualdades sócias raciais. Mas como ocorre isso? Ou melhor, por que problematizar a igualdade na diferença, se tudo que se busca é uma sociedade igualitária? E mais, qual é a validade desse questionamento no atual contexto brasileiro? Trazer o diálogo dos diferentes enquanto desiguais para, aí sim, buscarmos de fato a igualdade implica em entender que a diferença tem a ver com possibilidades, ou seja, com as condições de acesso aos recursos materiais da sociedade, e não com identidade. Então, como contextualizar a partir do olhar da complexidade que nos impõe a nova agenda de discussões culturais, de modo a provocar rupturas nos valores hegemonizados pelo culturalismo, as discussões emergentes a partir do atravessamento do discurso da diversidade sociocultural brasileira? É nessa busca de possibilidades que trago a Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que altera a Lei 9.394/1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, que em seu Art. 26-A, no caput § 1º do conteúdo programático, inclui o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil, neste momento intelectual e político efervescente do qual emergem reflexões e ações paradoxais que expõem e propõem o quanto de efervescência e paradoxalidade constitui e institui o que chamamos de realidade. Aos termos consciência ou ciência dessa realidade, permite-nos salientar que o povo brasileiro é constituído de uma diversidade e pluralidade que nos torna singular. Essas questões devem ser repensadas, pois cada povo tem sua forma de representatividade em meio as 26Relações Étnico-Raciais na Educação (Diversidade e Educação Indígena) diversidades e singularidades culturais. E com isso pensa-se que a heterogeneidade é uma característica viva em todos que estão envolvidos no processo cultural. Com isso, podemos observar o que apresenta a Lei 10.639, com a perspectiva de trabalhar na formação de professores para a diversidade étnico-racial, significa não apenas possibilitar o aprendizado de uma cultura que é baseada na oral, mas a constituição da interdisciplinaridade dos conhecimentos da história e da cultura do negro no Brasil. Pensar na formação docente como mecanismo de dar conta da demanda trazida pela Lei 10.639 pressupõe, antes de tudo, descrever de que “lugar” e “olhar” falamos, ou seja, implica em dizer que em nome da diversidade étnico-racial é preciso adotar nova postura frente ao processo educacional. Ao analisar qual concepção está presente e se impõe ao sujeito social histórico, como nos diz Brandão (1986), de um lugar Generalizante (com uma posição social abstrata) como o historicamente definido, ou Significativo no qual damos atenção aos seus sentimentos, pensamentos, expectativas e a sua realidade. Segundo, ainda, Brandão, a prática educacional catequética do passado que destrói na vida, na consciência e na cultura, a diferença do outro de “mim”, necessita ser abolida, porque ela é responsável pela cristianização do índio, pelo batismo do negro e pela opressão das mulheres. Necessita- se pensar em um processo educacional que resinifique a cultura e a identidade das diversas culturas. A educação, longe de ser uma prática desinteressada e neutra, é um importante instrumento de reprodução social que impõe ao educando o modo de pensar considerado correto, a maneira “científica”, “racional”, “verdadeira” de se entender e explicar a sociedade, a família, o trabalho, o poder, bem como os modelos sociais de comportamento. 4.2 - Ainda sobre a Legislação A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional define como finalidade da educação básica, “desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”. Culminado a isso, a Lei 10.639 de janeiro de 2003, que em seus artigos 26- A, 79-A e 79- B, institui nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, a obrigatoriedade do ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. E ainda, os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileira. A formação de professores para dar conta da implementação desta Lei, se dá no contexto atual do estabelecimento de um conjunto de Políticas Públicas de Ações Afirmativas para população afrodescendente e indígena, através do protagonismo central do Programa Diversidade na Universidade do Ministério da Educação (2001), da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República - SEPPIR (2003), da Fundação Cultural Palmares do Ministério da Cultura - FCP/Minc 1998 - Governo Fernando Henrique Cardoso, do Conselho Nacional de Combate à Discriminação da Secretaria Especial de Direitos Humanos do Ministério da Justiça - CNCD/SEDH/MJ (2001). Essa configuração política de políticas encontra sua história nos vários tratados internacionais de Direitos Humanos, assinados pelos governos brasileiros desde 1944 com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e as Convenções Internacionais Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, de 1969, que introduz o princípio da discriminação positiva (consignado na atual Constituição brasileira) sustentando: → o dever do estado de erradicar a marginalização e as desigualdades; → o estabelecimento de prestações positivas em prol da promoção e integração de segmentos desfavorecidos e → a prescrição da discriminação justa para compensar a desigualdade de oportunidade ou fomentar setores considerados prioritários. Também encontrasua história tanto na ação e organização das entidades e grupos do Movimento Negro, quanto nas pesquisas e reflexões acadêmicas sobre as questões étnico- racial, estas tendo como fundamento teórico-metodológico tanto as inspirações e aspirações vivenciado pela população negra. Segundo Kuenzer (1998) “as novas bases materiais que caracterizam a produção (reestruturação produtiva), a economia (globalização) e a política (neoliberal) trazem profundas implicações para a educação deste século”, pois cada projeto corresponde as suas demandas de formação de intelectuais, tanto dirigentes quanto trabalhadores como um todo coerente. Aos educadores cabe, dada a especificidade de sua função, fazer a leitura e a necessária análise deste projeto pedagógico em curso, de modo a tomar por base as circunstâncias concretas, participar da organização coletiva em busca da construção de alternativas que articulem a educação aos demais processos de desenvolvimento e consolidação de relações sociais verdadeiramente democráticas. 5 - Educação para todos: políticas de ação afirmativa O artigo acima mencionado, autoria de Dircenara dos Santos Sange, tem como foco apresentar uma discussão atual a respeito do tema das ações afirmativas como políticas públicas. Essa temática vem se inscrevendo na agenda nacional de maneira definitiva no que tange os negros brasileiros: da Lei Federal 10.639/03, dos programas de cotas nas Instituições de Ensino Superior, na reserva de vagas para afrodescendentes nos concursos públicos, nos NEAB’s (Núcleos de Educação Afro-brasileiras), entre outros. No entanto, precisamos ainda comprovar com as pesquisas realizadas pelos órgãos oficiais o abismo social existente entre brancos e negros na nação brasileira. A diferença é revelada através dos dados, ficando evidente quais os indivíduos que estão situados nos piores percentuais na escola, no mercado de Doutoranda e Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Especialista em Gestão Educacional – UFSM, Pes- quisadora do TRAMSE (Trabalho, Movimentos Sociais e Educação) e Conselheira da Organização de Mulheres Negras – Maria Mulher. 27 trabalho, nas condições básicas de vida. Com base nas pesquisas que apresentam a discrepância nos números entre os brasileiros, percebemos a necessidade de meios que possibilitem erradicar ou minimizar as desigualdades existentes entre os cidadãos. Para tanto, as políticas de ações afirmativas seria uma das possibilidades para mudar esse quadro. Mais especificamente, no aspecto educacional, a partir do ano de 2003, temos a Lei Federal assinada pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que traz a História e Cultura Afro- brasileira e Africana e as Relações Raciais como obrigatoriedade nas escolas brasileiras. Para finalizar essa introdução, apresento os aspectos que serão abordados neste artigo: começo trazendo alguns percentuais das pesquisas na área educacional. Após, situo as políticas de ação afirmativa no cenário mundial. Continuando, trago o conceito de ação afirmativa, e no término desse trabalho, abordo a Lei 10.639 e as possibilidades que esta oferece pela primeira vez na história da educação brasileira. 5.1 - Conhecendo a realidade dos dados O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra, em números, uma retrospectiva feita na década de 90 do século passado, com a categoria cor no Brasil. A população brasileira compõe-se de 54% de brancos e 45% de não brancos, ou negros (somando-se pretos e pardos), (Brasil, Ministério do Planejamento e Orçamento, 2000). Cabe ressaltar que houve uma mudança significativa nessa afirmação, visto que os indivíduos ao se declararem segundo a sua cor ou raça têm demonstrado um outro olhar, de 1993 a 2003 nas pesquisas realizadas. A população que se declarara branca sofreu redução de 2%, passando de 54,3% para 52,1%, enquanto os percentuais de pretos (de 5,1% para 5,9%) e pardos (de 40% para 41,4%) cresceram. No Nordeste, a participação de pretos passou de 5,2% para 6,4% no período. No Sul, essa proporção passou de 3% para 3,7% e, no Centro-Oeste, de 2,8% para 4,5%. Os pardos também tiveram aumento: no Sudeste, sua proporção, que era de 27,7% em 1993, subiu para 30,3%; no Sul, de 12,1% para 13,4%; e no Centro-Oeste, de 48,9% para 51,8%. Esses dados apontam o aumento do número de negros se autodeclarando como tal, e mais precisamente na região sul do país o quadro fica assim constituído: 3,7% para pretos e 13,4% para pardos, totalizando 17,1% de negros ou não brancos. Com base nos dados nacionais, destaco a área educacional como foco do estudo. Quando consideramos a taxa de analfabetismo, a dos negros é de 16,9% e a dos brancos é de apenas 7,1%. Segundo o Censo de 2000, dados sobre nível de instrução por raça revelam: 18% dos pretos e 14,5% dos pardos estudaram por menos de um ano na vida contra 7,5% dos brancos e 6% dos amarelos. Entre aqueles que estudaram mais de 11 anos, os brancos são 25% e os amarelos 47%, os pretos apenas 11% e os pardos 12%. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) destaca no seu Informativo nº 88 de 11 de maio de 2005 a pesquisa realizada pelo Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 2003) / IBGE menciona que: pretos e pardos, na faixa etária de 15 a 17 anos, que não concluíram o ensino fundamental somam 63,6%, enquanto os brancos e amarelos na mesma faixa são 37,8%. Na faixa seguinte – de 18 a 24 anos – na mesma situação de desvantagem na escolarização: há 44,3% de pretos e pardos contra 23,1% de brancos e amarelos. Partindo do pressuposto de que a população de 15 anos ou mais que não concluiu o ensino fundamental é predominantemente pobre, é razoável supor que pretos e pardos pobres estão em pior situação do que os brancos e amarelos pobres. Nesse ponto do texto cumpre destacar os percentuais que revelam a questão não sendo simplesmente de classe social, mas também de cunho racial: Em 1999, entre as famílias brancas pobres, vemos que 21% das crianças de 7 anos não frequentam a escola, enquanto que esse valor é de 30,5% entre as famílias negras pobres. Analisando a população brasileira como um todo, constatamos que apenas 20,4% dos alunos de 15 anos conseguem finalizar esse nível de ensino. Quando consideramos essas informações sob o recorte racial, observamos que 29,2% dos brancos completam o ensino fundamental e apenas 11,5% dos negros chegam a este resultado. Após essa breve contextualização de dados estatísticos confirmando a desigualdade entre brancos e negros na educação e na sociedade de maneira geral, passo a discutir as políticas de ação afirmativa como uma forma de superação desse quadro. 5.2 – Política de ação afirmativa, algumas referências Esta parte do texto situa os primórdios da ação afirmativa como sendo uma política já implantada em outros países e, no caso brasileiro, estamos começando a reclamar essa possibilidade. Em 1963, nos Estados Unidos, no governo de John Kennedy, já existiam políticas de ação afirmativa nas universidades. No Brasil tivemos a Lei do Boi de 1968 que dizia: “Os estabelecimentos de ensino médio agrícola e as escolas superiores de agricultura e veterinária, mantidas pela União, reservarão anualmente, de preferência, cinquenta por cento de suas vagas a candidatos agricultores ou filhos destes, proprietários ou não de terras, que residam com suas famílias na zona rural, e trinta por cento a agricultores ou filhos destes, proprietários ou não de terras, que residam em cidades ou vilas que não possuam estabelecimentos de ensino médio” (Gomes, 2003, p. 17). Temos também as leis que garantem uma cota mínima de 30% de mulheres entre os candidatos de cada partido político para eleições em qualquer nível da federação. Verificam-se políticas de ação de afirmativa nos concursos públicos: no município de Porto Alegre, Viamão, Bagé, Caxias do Sul(esses são do Estado do Rio Grande do Sul), entre outros no restante do país. Existem quatorze universidades públicas que implementaram cotas até o momento, são: Universidade de Brasília, Universidade Federal do Paraná, Universidade Federal de São Paulo, Universidade Federal de 28Relações Étnico-Raciais na Educação (Diversidade e Educação Indígena) Juiz de Fora, Universidade Federal de Alagoas, Universidade Federl da Bahia, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Universidade Estadual da Bahia, Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Universidade Estadual Amazonas, Universidade Estadual de Londrina, Universidade Estadual de Mato Grosso, Universidade Estadual Montes Claros. 5.3 - Conceituando as políticas de ações afirmativas Dando continuidade a respeito das discussões sobre ações afirmativas, não podemos perder de vista os conceitos que são atribuídos a essas políticas. Nos casos citados acima se pode entender como políticas de ação afirmativa porque são emanadas do poder estatal. Quero enfatizar dois conceitos que se complementam e que caminham na mesma linha. Guimarães (1999, p. 153) define a ação afirmativa como “programas voltados para acesso de membros de minorias raciais, étnicas, sexuais ou religiosas a escolas, contratos públicos e postos de trabalho”. Outro conceito que converge neste olhar ajudando-nos a entender as ações afirmativas, conforme Joaquim B. Gomes (2005): “podem ser definidas como um conjunto de políticas públicas e privadas de caráter compulsório, facultativo ou voluntário, concebidas com vistas ao combate à discriminação racial, de gênero, por deficiência física e de origem nacional, bem como para corrigir ou mitigar os efeitos presentes da discriminação praticada no passado, tendo por objetivo a concretização do ideal de efetiva igualdade de acesso a bens fundamentais como educação e o emprego”. Com base nos conceitos entende-se a Lei Federal 10.639/03, por meio da obrigatoriedade da temática de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, como uma política em que as escolas tanto públicas quanto privadas devem fazer cumprir as letras da lei. Essa Lei é fruto das lutas há tempos reclamadas pelo Movimento Negro Brasileiro para que a história do povo negro na formação e construção da nação viesse a ser estudada pela comunidade escolar. 5.4 - Novos horizontes – política de ação afirmativa através da lei 10.639/03 Desde o dia 9 janeiro de 2003 foi promulgada a Lei Federal 10.639 que altera a Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”. A lei 9.394 passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79- A e 79-B: Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. § 1º. O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. § 2º. Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro- Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileira. Art. 79-A. (Vetado); Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra”. Depois de feita a explicitação do que diz a lei, destaco rapidamente ainda o artigo 79-A que foi vetado e que tratava em seu conteúdo de um item fundamental para que a lei fosse realmente apropriada pelo corpo docente das escolas: a formação de professores. Nesse sentido, gostaria apenas de fazer uma reflexão que merece talvez, um outro artigo, porque justamente onde deveria haver o comprometimento das instâncias governamentais na formação dos professores com relação à lei o artigo é vetado? Seguindo na legislação, o Conselho Nacional de Educação (CNE/CPResolução 1/2004) institui: Art.1º A presente Resolução institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico- Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro- Brasileira e Africana, a serem observadas pelas instituições de ensino, que atuam nos níveis e modalidades da Educação Brasileira e, em especial, por instituições que desenvolvem programas de formação inicial e continuidade de professores. Com isso, as secretarias de educação e os cursos de formação de professores estão comprometidos a abordarem o assunto de maneira responsável para que a lei seja adequadamente implementada nas escolas de todo o país. A educadora Jeruse Romão em entrevista ao Jornal Irohin destaca seis desafios para implementação da Lei. Um deles diz respeito justamente à formação de professores e sua preocupação com o assunto: “Estamos escrevendo um capítulo sem precedentes na história da educação do país. Um capítulo em que os excluídos retornam à escola para ensinar/ educar o sistema que os exclui. [...] recomendo que as organizações negras brasileiras com excelência no tema de educação se conveniem com os sistemas de educação formais e certifiquem estes [...]”. Dessa forma, não podemos tratar esta Lei como um curso/ oficina/seminário de tantas horas depois ser esquecida pelas escolas. A Lei deve ser abordada na escola durante todo o ano, e não somente em novembro (mês que reflete o Dia Nacional da Consciência Negra). Deve estar incluída no currículo, no projeto político-pedagógico, nas reuniões de formação de professores e outros espaços que for possível o tema ser discutido, inclusive na sala de aula pensando numa educação para todos, que não exclua o ALUNO NEGRO. Disponível em: <https://arquivopublicors.wordpress.com/2011/11/11/votacao-concurso- cultural-dia-nacional-da-consciencia-negra/imagem-blog-projeto-cultura-afro-3/>. 29 Retomando a aula Parece que estamos indo bem. Então, para encerrar essa aula, vamos recordar: 1 – O perfil da discriminação racial no Brasil Diz-se discriminação direta a adoção de regras gerais que estabelecem distinções através de proibições. É o preconceito expressado de maneira clara como, por exemplo, dar tratamento desigual ou mesmo negar direitos a um indivíduo ou grupo determinado. A discriminação indireta está internamente relacionada com situações aparentemente neutras, mas que criam desigualdades em relação a outrem. Essa última maneira de preconceito é a mais comum no Brasil 2 - Mas, o que é etnia? O conceito de raça, segundo o Dicionário Aurélio (1986, p. 1442), é um “conjunto de indivíduos cujos caracteres somáticos, tais como cor da pele, a conformação do crânio e do rosto, o tipo de cabelo, etc., são semelhantes e se transmitem por hereditariedade, embora variem de indivíduo para indivíduo”. 3 - A Legislação A Lei 11.645, de 10 de março de 2008, obriga o ensino da história e da cultura indígena e afro-brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio, particulares e públicas no Brasil, e inclui no currículo oficial da rede de ensino a temática “História e Cultura Afro-brasileira e Indígena”. 4 - Reflexões sobre a lei 10.639/2003 4.1 - Tratando o “Diferente” de maneira diferente 4.2 - Ainda sobre legislação A formação de professores para dar conta da implementação desta Lei, se dá no contexto atual do estabelecimento de um conjunto de Políticas Públicas de Ações Afirmativas para população afrodescendente e indígena. Vale a pena Vale a pena ler BENTO, Maria Aparecida Silva. Cidadania em preto e branco: discutindo as relações raciais. 3. ed. São Paulo: Editora Ática, 2003. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Identidade e etnia: a construção da pessoae resistência cultural. São Paulo: Brasiliense, 1986. BRASIL. Ministério da Educação - Reforma da Educação Superior - Reafirmando princípios e consolidando diretrizes da reforma da educação superior - Documento II, 2004. HERNANDEZ, Leila Leite. A África em sala de aula. São Paulo: Selo Negro, 2005. Vale a pena assistir A VIDA EM PRETO E BRANCO Ficha Técnica / Título Original: Pleasantville / Gênero: Drama / Tempo de Duração: 108 minutos / Ano de Lançamento (EUA): 1998 / Direção: Gary Ross. UM GRITO DE LIBERDADE Ficha Técnica / Título original: “Cry Freedom” / Inglaterra, 1987, 157 / minutos. Direção: Richard Attenborough. Minhas anotações
Compartilhar