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Paper_PT6_Mendes_Silva_Barbosa_Omena (2)

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BIODIVERSIDADE, AGROECOLOGIA E A REINTRODUÇÃO DO PLANTIO DO ALGODÃO NO ASSENTAMENTO VIDA NOVA, MUNICÍPIO DE OURO BRANCO, ALAGOAS, BRASIL
ISADORA MARIA DIOCLECIO MENDES
Campus Sertão – Universidade Federal de Alagoas, Brasil. isadoraameendes@gmail.com
SILVANIA MONTEIRO DA SILVA 
Campus Sertão – Universidade Federal de Alagoas, Brasil.
 silvania.eco@gmail.com
LUCIANO CELSO BRANDÃO GUERREIRO BARBOSA
Campus Sertão – Universidade Federal de Alagoas, Brasil. luciano.barbosa@santana.ufal.br
ALCIDES JOSÉ DE OMENA NETO
Campus Sertão – Universidade Federal de Alagoas, Brasil. alcides.neto@santana.ufal.br 
Resumo
O plantio de algodão, entre os anos de 1930 e 1950, foi uma cultura agrícola importante para a Região do Semiárido Alagoano, principalmente, para o município de Ouro Branco, que tem esse nome derivado da cultura agrícola do algodão. Entretanto, pós década de 1980 está cultura produtiva foi entrando em colapso no Semiárido Alagoano derivado de múltiplos fatores. Este cenário gerou uma grave situação de vulnerabilidade socioeconômica e ambiental neste município. Contudo, em 2016 foi proposto o resgate da cultura produtiva do algodão no município de Ouro Branco, que tivesse como princípio a organização de um sistema produtivo alicerçado na gestão dos recursos naturais locais e em integração com outras culturas agrícolas que são desenvolvidas sob a lógica da agroecologia. Assim, este trabalho busca, de forma exploratória, verificar qual o papel da agroecologia para o processo de reintrodução da cultura do algodão no município de Ouro Branco, Alagoas, Brasil, bem como, para a melhoria das condições socioeconômicas dos agricultores familiares situados nesta localidade. Em sua execução foi realizada uma ampla revisão de literatura e efetuada entrevistas, utilizando questionário semiestruturado, a 17 famílias de agricultores assentadas no Assentamento Vida Nova, bem como, foram realizadas visitas de campo a área de produção. Concluiu-se, com pesquisa, que a agroecologia vem gerando novas perspectivas para a melhoria das condições socioeconômicas das 17 famílias de agricultores assentados, seja na produção de alimentos agroecológicos; seja no desenvolvimento de produtos à base do algodão que poderão adentrar, no futuro, os circuitos comerciais orgânicos e gerar uma renda adicional que será importante para a reprodução da família; seja na comercialização de produtos saudáveis na feira livre e nos mercados institucionais local. Além disso, parte destes alimentos são autoconsumidos pelas famílias, gerando uma melhoria na situação de segurança alimentar da família.
Palavras-chave: Agroecologia; Biodiversidade; Economia Solidária; Desenvolvimento Rural
Abstract
Cotton planting, between 1930 and 1950, was an important agricultural crop for the Alagoas Semiarid Region, mainly for the municipality of Ouro Branco, which has its name derived from the cotton agricultural crop. However, after the 1980s this productive culture was collapsing in the Alagoan Semiarid derived from multiple factors. This scenario generated a serious situation of socioeconomic and environmental vulnerability in this municipality. However, in 2016 it was proposed to rescue cotton production in the municipality of Ouro Branco, which had as its principle the organization of a production system based on the management of local natural resources and integration with other agricultural crops that are developed under the logic of agroecology. Thus, this paper seeks, in an exploratory way, to verify the role of agroecology for the reintroduction process of cotton culture in the municipality of Ouro Branco, Alagoas, Brazil, as well as for the improvement of the socioeconomic conditions of family farmers located in this locality. In its execution, a wide literature review was performed and interviews were conducted using a semi-structured questionnaire to 17 families of farmers settled in the Vida Nova settlement, as well as field visits to the production area. It was concluded, with research, that agroecology has been generating new perspectives for the improvement of the socioeconomic conditions of the 17 families of settled farmers, either in the production of agroecological foods; be it in the development of cotton-based products that will be able to enter organic trade circuits in the future and generate additional income that will be important for the reproduction of the family; be it in the marketing of healthy products in the open market and in the local institutional markets. In addition, some of these foods are self-consumed by families, leading to an improvement in the family's food security situation.
Key words: Agroecology; Biodiversity; Solidarity Economy; Rural Development
1. INTRODUÇÃO
O município de Ouro Branco está situado na Região do Semiárido Brasileiro, em sua parte localizada no estado de Alagoas. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2019, Ouro Branco, possui uma população estimada de 11.496 habitantes, sendo que a maior parte desta população se situa na zona rural. A economia deste município baliza-se no serviço público, tendo a prefeitura municipal como um agente importante, na agricultura e, em pequena parte, no comércio. 
Ouro Branco possui, apenas, 57 anos de existência, mas detém um valor histórico muito importante para Alagoas. 
O algodão foi a espécie vegetal que deu inspiração ao nome do município, devido sua importância econômica e cultural para o município de Ouro Branco. Isto, pois na época em que se “criava” a fartura de algodão em suas terras, está cultura proporcionava fonte de renda com grande margem de lucro, ainda se tornava marca histórica e cultural deste município.
Ao longo da história, o algodão passou por ascensão e declínio da produção e produtividade. No caso do município de Ouro Branco, o manejo historicamente pouco conservador das culturas no semiárido implicou em perdas importantes na qualidade do solo e produtividade nessa região, o que levou à busca de alternativas, e resultou no cultivo de outras plantas. 
Tratando ainda acerca da perca considerável na cultura do algodão, deve-se destacar que ao longo dos anos, alguns aspectos negativos foram influenciando a adesão ou continuidade do cultivo do algodão pelas famílias, pois a cultura do algodão, pelas suas características agronômicas de adequação às condições climáticas limitantes da região, o seu valor histórico-cultural e, principalmente, econômico, se estabeleceu e ganhou destaque na agricultura familiar no semiárido brasileiro. Entretanto, ao longo da história, o algodão passou por ascensão, crises e declínio da produção e da sua produtividade.
Em resumo, pode-se atribuir os motivos que levaram o declínio da produção de algodão: (i) práticas de agricultura familiar itinerante; (ii) manejo pouco conservador das culturas, ambos expostos anteriormente; (iii) políticas governamentais de baixos e variações de preço; (iv) ocorrências de secas extremas; e (v) advento e disseminação da praga do bicudo (Anthonomus grandis Boheman).
 Dentre estes, a falta de garantia de comercialização nas duas primeiras fases, ocorrência de pragas e dificuldades de conviver com elas, a mão de obra familiar reduzida a agricultores mais velhos, baixo retorno financeiro da agricultura e irregularidade climática. Porém, estes fatores não foram suficientes para o fim do plantio do algodão, em sua totalidade, mas o diminuiu acerca de 20% apenas, considerando toda a região.
Assim, este trabalho busca, de forma exploratória, verificar qual o papel da agroecologia para o processo de reintrodução da cultura do algodão no município de Ouro Branco, Alagoas, Brasil, bem como, para a melhoria das condições socioeconômicas dos agricultores familiares situados nesta localidade.
2. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
Para a realização desta pesquisa foi realizada uma ampla revisão de literatura e documental sobre o município de Ouro Branco e a produção de algodão, bem como, foi realizada pesquisa teórica sobre os fundamentos oriundos do sistema produtivoagroecológico. 
Foi ainda, realizada entrevistas, por meio de questionário semiestruturado, a 17 famílias de agricultores assentadas no Assentamento Vida Nova, localizado no Município de Ouro Branco, no estado de Alagoas, Brasil, que possui uma área de 330 hectares. Cabe salientar que o Assentamento foi dividido em 18 lotes, sendo 17 lotes com tamanho entre a 13 a 14 hectares e 01 lote de 2 hectares, onde existe uma área de reserva ambiental comunitária, local onde está situada uma fonte de água, recurso importantíssimo numa região onde a escassez de água inviabiliza, em alguns casos, a produção agrícola. Foram, ainda, realizadas visitas de campo a área de produção no Assentamento.
No que se refere à análise dos dados que foram coletados, este se utilizou de uma abordagem qualitativa para a realização das análises das informações obtidas via entrevista, com utilização de questionário semiestruturado, ora respondida via questões abertas. 
3. AGROECOLOGIA
Agroecologia caracteriza-se como uma forma de manejo agropecuário que se utiliza de práticas produtivas que primam pelo manejo diversificado de culturas e pela integração produtiva (produção agrícola e pecuária) nos estabelecimentos rurais, e não pela produção extensiva de apenas um tipo de cultura vegetal (monocultura) ou de apenas o manejo de um tipo de animal.
A diversificação e a integração produtiva são imprescindíveis para o desenvolvimento socioeconômico das famílias rurais, principalmente, as que possuem pequenos estabelecimentos rurais e/ou estão situados em localidades com restrições ecológicas que limitam o desenvolvimento produtivo.
Sendo assim, a agroecologia, por meio das práticas produtivas sustentáveis e adaptadas a realidade local e a singularidade da família rural, proporciona um tipo de manejo produtivo que gere um menor grau de degradação ecológica, pois ao se adotar uma lógica produtiva alicerçada na diversificação, cria-se um ambiente favorável a sustentabilidade dos estabelecimentos rurais familiares e a preservação/conservação da natureza local.
Neste sentido, a agroecologia se adequa perfeitamente a agricultura familiar, pois esta possui como característica a diversificação produtiva. Assim, para Tedesco (2006, p. 58) a agricultura familiar “[...] tem a capacidade de manejar os recursos materiais de modo sustentável, mantendo e até melhorando a biodiversidade dos agroecossistemas”. Além disso, Lemos (2006) mostra que a agroecologia tem o compromisso de respeitar os saberes locais, podendo até incorporar inovações tecnológicas, bem como, estabelecer uma estratégia sobre o desenvolvimento do território.
Tedesco (2006, p. 24), ainda, menciona que na agroecologia:
Pressupõe-se, além de uma série de outros elementos, restabelecer a lógica do respeito e do cuidado sobre a lógica da exploração; da cooperação sobre a competição; da solidariedade e da compaixão sobre o individualismo, da vida sobre a morte; representa a luta por um novo modelo de agricultura, uma nova concepção de alimentos e articula formas variadas, estratégicas e alternativas de consumo/ comercialização. 
Já Altieri (2012) relata que a agroecologia busca promover o desenvolvimento de novas metodologias, que são mais do que necessárias para uma agricultura, e que está à procura de um ambiente altamente sustentável, não obstante, altamente viável economicamente e que busca uma maior equidade social nos territórios rurais. O autor ainda traz que, quando se opta por utilizar-se dos princípios agroecológicos, deve-se levar em consideração que o principal desafio é minimizar os fatores externos e, se possível, gerá-los internamente, de maneira mais eficiente, por meio de estratégias mais condizentes com os agroecossistemas ora manejados.
Vale ressaltar também, que a produção agroecológica traz, além de benefícios econômicos e ambientais, a organização de uma paisagem mais bucólica para a região, que tende a proporcionar um maior nível de bem-estar para a população residente ou que se desloca para trabalhar ou contemplar a beleza proporcionada pela mesma. 
Além da paisagem, a agroecologia busca controlar insetos, ervas daninhas, fungos, etc. a partir de insumos naturais. Os defensivos naturais produzidos no âmbito da agroecologia são utilizados de forma a gerar baixíssimo impacto sobre o ambiente natural, ao tempo que não gera nenhum impacto sobre a saúde humana, diferente do que ocorre no modelo agrícola convencional, onde os insumos químicos sintéticos geram altos impactos sobre o ambiente natural e sobre a saúde humana.
Isto por sua vez, traz significativas melhorias para o sistema de produção, assim como, tende a gerar um maior bem-estar para a família rural agroecológica, além de proporcionar um ambiente que prima pelo equilíbrio ecossistêmico de seu estabelecimento rural e da natureza que o circunda. Assim, verifica-se que é indispensável, para um bom cultivo, o uso do manejo agroecológico.
O manejo dos roçados com o algodão agroecológico tem como base a diversidade de culturas, para isso, é necessário que os agricultores/as adotem as práticas agroecológicas, como: a conservação do solo, o uso de adubação e de sementes orgânicas, aplicação de biofertilizantes enriquecidos e caldas naturais, manejo ecológico de insetos, preparo do solo com tração animal, tratos culturais, capinas manual e capinas com bois de cultivadores, e colheita 100 % manual. Esse sistema de produção vem sendo aprimorado a cada ano, possibilitando o aumento na produção do algodão e das outras culturas do consórcio (AS-PTA, 2009).
 Por outro lado, mesmo sabendo dos benefícios encontrados com o uso correto dos fertilizantes agroecológicos, ainda há uma dificuldade por parte dos agricultores no que se refere ao bicudo, que estão atreladas ao algodão. Como Beltrão et al. (2009), acrescenta em seu discurso sobre o algodão agroecológico: 
A presença do bicudo nos algodoais do Nordeste, portanto, pode ser considerado um propulsor das alterações verificadas nos padrões de cultivo até então adotados. Á medida em que a praga se disseminou pelo Nordeste, as áreas com algodoeiro foram sendo deslocadas para outras regiões e as variedades de hábito semi-perene ou perene (principais cultivares plantadas nesta região) foram sendo gradualmente substituídas por outras de ciclo anual e com frutificação densa.
Desta forma, podemos atrelar o abandono das atividades agroecológicas no manejo do algodão, pela resistência de alguns produtores ao uso dos insumos agroecológicos. Pela forma acelerada que o bicudo se espalhou pelo Nordeste, chegando ao ponto de haver um desinteresse e desânimo na produção do algodão.
4. ALGODÃO E SUSTENTABILIDADE EM OURO BRANCO
O algodão já foi considerado um importante produto para a economia alagoana, tendo seu ápice entre os anos de 1930 e 1950. Vários municípios no estado de Alagoas participaram do processo de produção do algodão, sendo destacado aqui o município de Ouro Branco, que foi assim chamado devido à importância que o algodão deteve para o seu desenvolvimento.
A Secretaria do Estado de Alagoas, SEAGRI (Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Aquicultura), procurando trazer de volta a brancura dos inúmeros cultivos do algodão, ofereceu para o Assentamento Vida Nova, situado em uma região rural do município de Ouro Branco, algumas sementes experimentais para uma verificação técnica, tentando a reintrodução do algodão na região.
Logo depois de plantadas, os cultivadores ficaram fascinados em ver, não ainda uma vasta brancura de volta, mas em pequena proporção, foram atrás do Secretário do Município, e logo marcaram a visita técnica da secretaria do estado. 
No dia 29 de setembro de 2016 (quinta-feira), acontece a assembleia, onde o Secretário do Estado de Alagoas, Álvaro Machado, esclarece que não foi identificado nenhum problema sanitário e particularmente com a praga do bicudo, o algodão é uma cultura possível para o município de Ouro Branco. Agricultores e familiares presentes se sensibilizaram e se comprometeram em cuidar e fazer dá certo. O Secretario ainda evidenciaque o município de Ouro Branco economicamente necessita da agricultura e a reintrodução do plantio da cultura do algodão passa a ser uma possibilidade para integrar valor para as famílias dos produtores rurais. E diz ainda: “O algodão é mais uma fonte de renda e, seguramente, vai assegurar a fixação do trabalhador no campo”.
“Apesar da produção do algodão não ter tido um desenvolvimento esperado, em razão da forte estiagem e dos problemas com as pragas, devemos resgatar o plantio da cultura”, afirmou Vasconcelos, no decorrer da reunião com pequenos produtores, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e da Secretaria municipal de Agricultura de Ouro Branco.
Essa decisão do governo visa encorajar a agricultura familiar em uma possível insistência dos agricultores nas terras, aumento da renda, volta da produção e estimular a geração de emprego. Anteriormente eram 16 associações, e no mínimo 40% das terras eram com produção do algodão, conseguiam manter a família, as terras, e viviam tão bem que acharam até que não acabaria. Zé Maria, agricultor/produtor ressalta: 
Nós conseguimos sobreviver sem precisar de bolsa família, desses programas do governo, apenas o algodão nos sustentava, não precisávamos do dinheiro, trocávamos por muitos produtos para consumo. Ficava muito feliz em ver a altura do algodão naqueles carros de boi, e o quanto era prazeroso não depender de ninguém.
O Estado trouxe sementes para fazer a análise, as primeiras sementes de experimentos foram plantadas nas terras de Zé Maria, no dia 22 de junho de 2016, um dos associados e ex-presidente do Assentamento Vida Nova. Porém não apresentaram o que os agricultores podem fazer quando chegar à praga, as minhocas, etc. Um dos associados lamentou essa falha e disse: 
Nós tiramos muito tempo para plantar, mais daqui a um tempo já começa as lagartas prosseguir, temos que estudar um remédio para matar elas, se não tiver, ela mata o algodão. Eles deveriam trazer livros para estudar, eles não querem que nós passemos veneno, mas como vamos fazer quando vir às coisas matando e não saber como mata. Precisamos mesmo é de técnicos para nos ajudar, sabemos a prática, mas nos dias de hoje, algumas coisas não funcionam mais.
A falta de profissionais na área foram os maiores questionamentos dos cultivadores, eles declaram já perderem muitas produções, não do algodão, mas de outros produtos, principalmente de consumo. Mas apesar das dificuldades, os agricultores aceitaram, mesmo em meio aos desafios que vão aparecendo, manter a produção, e buscar melhoria para suas famílias através da mesma.
Atualmente, outras comunidades começaram a cultivar o algodão no município. Existem relatos de mais 3(três) assentamentos que estão plantando e estão conseguindo ter êxito na produção. O plantio só tende a crescer, fazendo uso da produção agro- ecologicamente e com maior cuidado em fazer o algodão se manter e não ter problemas em bicudos ou outras pragas. Porém, sabemos que a ajuda de técnicos é indispensável para manter viva a vontade de produzir com o mesmo êxito por anos. O município acompanha as terras em produção, faz capacitações e etc., mais o mesmo ainda é pobre em técnicos e isso pode dificultar o processo.
No último dia 26 de setembro de 2019, última visita feita ao assentamento Vida Nova, nos deparamos com uma realidade considerada ameaçadora para a continuidade da produção. A falta de chuva está fazendo o agricultor/produtor desanimar no cultivo e mais ainda, de esperança de um possível crescimento na produção do município. Enquanto de um lado a cultura começa a crescer com uma força considerada importante, do outro, a comunidade que deu incentivo aos demais, hoje sofre um impasse para continuidade do cultivo.
Associado a reintrodução da produção do algodão no município de Ouro Branco, há também a busca por parte de alguns agricultores familiares pela inserção da produção agroecológica, seja na produção do algodão, como para produzir alguns itens alimentícios como hortaliças, frutas, grãos, olerícolas e raízes. A produção de itens alimentícios poderia ser utilizada para o autoconsumo familiar e para o abastecimento alimentar local.
Isto, por sua vez, representa uma reestruturação do sistema produtivos manejados nos lotes dos agricultores assentados no Assentamento Vida Nova.
Deste modo, como ressalta Gliessman (2008), embora os produtores tenham uma perca de rendimentos nos lucros nos primeiros dois anos, grande parte deles permanece na agroecologia e com o desenvolvimento do processo de transição os produtores acabam por ter benefícios, tanto econômicos quanto ecológicos, devido à conversão. Parte do sucesso da transição depende quase que exclusivamente da capacidade do produtor em conseguir adotar práticas que diminuam a dependência externa de insumos. Está é a postura e perspectiva observada entre os agricultores assentados no Assentamento Vida Nova.
Por outro lado, como ressalta Santos (2015), a produção do algodão em consórcio, ou quaisquer outros cultivos, junto a outros produtos agroecológicos, traz benefícios ambientais e econômicos. Tal fato é importante para o Assentamento Vida Nova, uma vez que se encontra numa região com diversas limitantes ecológicas (Região do Semiárido Brasileiro) e que demanda ecotecnologias e práticas produtivas mais adaptadas as restrições de fatores de produção disponível e para a preservação/conservação impostas pela natureza. Neste sentido, 
Além dos ganhos econômicos e ambientais, o cultivo em consórcio estabeleceu uma nova forma de negociação da pluma.  O algodão, que antes era vendido a preços mínimos para atravessadores, hoje é exportado para a Europa a preços superiores aos praticados no mercado e com garantia de compra.  A negociação prévia com os compradores foi à alternativa encontrada para assegurar a produção (SANTOS, 2015).
4. RESGATE PRODUTIVO DO ALGODÃO E O POLICULTIVO EM OURO BRANCO- AL
Atualmente está mais evidente a necessidade de novas perspectivas para o verdadeiro desenvolvimento sustentável seja no âmbito social, econômico ou ambiental. As mudanças climáticas derivadas do capitalismo, impulsiona o consumo desenfreado que ocasiona alterações no clima, as ações interferem diretamente no meio ambiente e na qualidade de vida das gerações atuais e futuras.
Nesse contexto, as novas perspectivas precisam surgir nos diversos setores da economia, bem como no primeiro setor. Quando tratamos da temática em especial no semiárido alagoano é importante salientar que alguns projetos já estão sendo trabalhados dentro do contexto, assim como a participação do homem no campo. Conforme afirmam Araujo e Arruda (2011, p. 06):
[...] tem-se a participação conjunta de projetos regionais que atuam na Caatinga sertaneja visando à construção de mecanismos capazes de engendrar multiplicadores do processo produtivo inovador e sustentável, com ênfase em práticas nativas, produtos diferenciados, valorizando a cultura regional e preconizando pelo meio ambiente sadio e sustentável. A ação de Organizações Não-Governamentais, Fundações, Projetos e Associações aliados à iniciativa público-privada traz excelentes resultados no curto, médio e longo prazo.
O desenvolvimento regional é resultado de múltiplas ações que se complementam. Além disso, a localidade deve priorizar a renda e a riqueza local, fazendo uso das potencialidades para promover produtos ou serviços, viáveis e competitivos para concorrer nos mercados locais, regionais e outros. Por fim, é fundamental que o processo esteja em conciliação com a questão sustentável, que por sua vez também promove uma melhor qualidade de vida (BUARQUE, 2008).
Nesse contexto, quando tratamos do primeiro setor, podemos apontar como umas das formas para gerar renda e promover uma melhor qualidade de vida, a oferta de produtos do campo derivados especialmente da agroecologia. Segundo afirmam Caporal e Costabeber (2004, p.40):
A agricultura sustentável não é um simples modelo ou pacote para ser imposto aos agricultores, senão muito mais um processo de aprendizagem. E, como tal, pode ser entendidacomo uma meta, como um objetivo de chegada que trata de assegurar que todos os sistemas agrários cumpram certos princípios básicos para a sustentabilidade.
 Esse segmento, proporciona vários produtos a partir de uma lógica inversa e voltada a inserção do homem no campo, que por sua vez prioriza a produção a partir dos saberes das pessoas imersas no local, bem como a da produção de alimentos mais saudáveis. 
Além disso, dentro das características da agroecologia podemos pontuar a produção a partir da diversidade de culturas. Essa variável beneficia principalmente as regiões que apresentam uma vulnerabilidade socioeconômica, pois a partir da variedade é possível gerar renda nas variadas épocas do ano, respeitando o tempo de produção de cada cultura. Ainda assim, “Cultivos mistos garantem constante produção de alimentos e cobertura vegetal para proteção do solo, assegurando uma oferta regular e variada e, em conseqüência, uma dieta alimentar nutritiva e diversificada” (ALTIERI, 1988, p.37).
Nesse contexto, para o estabelecimento rural a agroecologia também promove um ambiente com menor grau de degradação, tendo em vista que diversas culturas contribuem para a sustentabilidade dos estabelecimentos, além disto, podemos pontuar outros benefícios. Conforme apresenta o Planeta Orgânico (2000-2017):
[...] através de seus diversos métodos (rotação e consorciação de culturas, controle biológico de pragas e doenças, integração entre pecuária e agricultura, uso de variedades naturalmente adaptadas às condições locais, entre outras), os sistemas agroecológicos podem contribuir para concretizarem um potencial ainda não explorado das áreas agrícolas: o de serem guardiãs da diversidade de espécies nativas [...].
Nessa perspectiva, ao tratar do cultivo do algodão, dentro dos termos anteriormente discutidos, nota-se a necessidade de algumas práticas produtivas. Porém, com o manejo adequado o sistema produtivo vai possibilitar posteriormente, um aumento na qualidade da produção e por consequência nas das culturas produzidas. 
O manejo dos roçados com o algodão agroecológico tem como base a diversidade de culturas, para isso, é necessário que os agricultores/as adotem as práticas agroecológicas, como: a conservação do solo, o uso de adubação e de sementes orgânicas, aplicação de biofertilizantes enriquecidos e caldas naturais, manejo ecológico de insetos, preparo do solo com tração animal, tratos culturais, capinas manual e capinas com bois de cultivadores, e colheita 100 % manual. Esse sistema de produção vem sendo aprimorado a cada ano, possibilitando o aumento na produção do algodão e das outras culturas do consórcio (AS-PTA, 2009).
A produção a partir da reintrodução do algodão no município de Ouro Branco, Alagoas, vêm adotando algumas práticas agroecológicas. Além do mais, a reintrodução promoveu também bases para a introdução no algodão agroecológico, logo, o segmento possivelmente entrara em outros mercados aumentando assim seu valor agregado.
 Além disso, com a prática de produzir a partir da diversidade de culturas, são produzidas na região além da produção de algodão: milho, feijão de corda, feijão de arranca, pimenta malagueta, goiaba, umbu, caju. Apesar da produção existente, a região apresenta outras potencialidades que posteriormente podem ser desenvolvidas.
Para tanto, é importante considerar que os resultados para a própria produção dependem de alguns fatores, tanto internos quanto externos. Se por um lado a produção depende muito do interesse dos produtores, da busca por conhecimentos dentre outras questões, por outro a produção também sofre alterações como a falta de auxílio técnico, clima ou até mesmo a própria conjuntura econômica. Contudo, vale salientar a necessidade dos próprios produtores fazerem uso de estratégias que minimizem os fatores anteriormente citados.
5. Conclusão
Diante do observado, durante a pesquisa, pode-se concluir que a reintrodução do algodão em Ouro Branco, consorciado com a introdução da lógica reprodutiva advinda da agroecologia, vem gerando novas perspectivas para a melhoria das condições socioeconômicas das 17 famílias de agricultores assentados, seja na produção de alimentos agroecológicos; seja no desenvolvimento de produtos à base do algodão que poderão adentrar, no futuro, os circuitos comerciais orgânicos e gerar uma renda adicional que será importante para a reprodução da família; seja na comercialização de produtos saudáveis na feira livre e nos mercados institucionais local. Além disso, parte destes alimentos são autoconsumidos pelas famílias, gerando uma melhoria na situação de segurança alimentar da família.
Portanto, mesmo que de forma exploratória, foi possível verificar que a agroecologia vem detendo um papel importante para o processo de reintrodução da cultura do algodão no município de Ouro Branco, Alagoas, Brasil, pois sua lógica reprodutiva atrelada aos princípios da sustentabilidade gera uma nova visão acerca da gestão dos recursos naturais locais, ora escassos, bem como numa gestão do sistema produtivo mais condizente a realidade dos assentados e de seus agroecossistemas.
Por outro lado, possibilita a organização de um ambiente propicio a nova lógica produtiva que, agora, contempla o autoconsumo dos produtos produzidos pelos assentados como algo importante para a reprodução da família.
Por fim, observou-se que está nova postura possibilita um ambiente favorável a melhoria das condições socioeconômicas dos agricultores familiares assentadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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_______. Agricultura: Bases Científicas Para Uma Agricultura Sustentável. São Paulo: Expressão Popular, 2012.
ALVES, Diego, 2017. "Dois Dedos de História" apresenta Ouro Branco. Disponivel em:https://www2.ifal.edu.br/campus/site/santana-noticias/pe-na-estrada-dois-dedos-de-historia-apresenta-ouro-branco, visto em 22 de setembro de 2019.
AS-PTA. Sistema produtivo de algodão agroecológico gera renda e cidadania aos agricultores familiares da Borborema. Paraíba, 2009. disponível em: http://aspta.org.br/2009/06/sistema-produtivo-de-algodao-agroecologico-gera-renda-e-cidadania-aos-agricultores-familiares-da-borborema/, visto em agosto de 2017.
ARAUJO, J. M.; ARRUDA, D. B. PRÁTICAS DE SUSTENTABILIDADE NO SEMIÁRIDO NORDESTINO: direito ao desenvolvimento econômico-sustentável. Veredas do Direito. Belo Horizonte, v.8, p.235-260, 2011.
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BUARQUE, Sérgio C. Construindo o desenvolvimento local sustentável: Metodologia de planejamento. Rio de Janeiro: Garamond, 2008.
CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. Agroecologia e extensão rural: contribuições para a promoção do desenvolvimento rural sustentável. Brasília: MDA/ SAF/DATER-IICA, 2004.
GLIESSMAN, S. R. Agroecologia: processos ecológicos em agricultura sustentável. 4. ed. Porto Alegre: Editora UFRGS, 2008.
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Lisboa/Oeira, 15 a 18 de outubro de 2019
APDEA, GPP e INIAV

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