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Argumentação e Retórica na Linguagem

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Língua Portuguesa - Maria Alice / Maisa Barbosa - UNIGRAN
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Aula 08
LINGUAGEM E ARGUMENTAÇÃO
Caro(a) Aluno(a),
 
Você sabe que a retórica, que tem como objeto de estudo a argumentação, foi tratada 
desde a antigüidade greco-romana?
Pois bem, desacreditada, posteriormente, por limitar-se à classificação de figuras de 
estilo, perde seu espaço e só reaparece no trabalho Tratado da Argumentação – A Nova Retórica 
de Perelman e Tyteca (1999).
Os autores mostram que a argumentação não deve ser vista como uma maneira usada 
para transmitir a verdade ou a lógica, mas como o uso de técnicas discursivas que visam à adesão 
dos espíritos e, por isso mesmo, pressupõem a existência de um caráter intelectual (op. Cit.: 16). 
Para isso, esclarecem: é preciso ter cautela de não praticar a dialética com qualquer interlocutor, 
sendo fundamental fazer parte de um mesmo meio, relacionar-se socialmente, facilitando, assim, 
a condução para o contato dos espíritos. Para argumentar, faz-se necessário valorizar a adesão 
do interlocutor por seu raciocínio, por sua condução lógica ao contra-argumentar ou concordar.
Língua Portuguesa - Maria Alice / Maisa Barbosa - UNIGRAN
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Desde Aristóteles, a linguagem é concebida como instrumento de argumentação. A 
argumentação desenvolve-se no plano da palavra, quer oral quer escrita, e a linguagem é a 
matéria e o instrumento dela.
Perelman e Tyteca afirmam não ser a linguagem, simplesmente, um meio de comunicação, 
mas também um meio de persuadir. Sabe-se que todas as pessoas têm uma ideologia e torna-se 
inevitável sua manifestação por meio do discurso, pois ele reflete o pensamento dos indivíduos. 
Todo discurso é, então, argumentativo.
Ducrot (1976) também defende em sua tese a idéia de que a argumentatividade não se 
soma ao uso lingüístico, mas se instaura à medida em que se domina a linguagem. Pela linguagem 
e na linguagem, é que se constrói a interação com o sujeito.
De acordo com Perelman e Tyteca, são elementos essenciais da argumentação 
um locutor, um auditório e um fim. O locutor é o apresentador do discurso, o auditório é a quem 
se destina a argumentação e o fim é a adesão a uma tese ou o acréscimo de intensidade de adesão.
São três os tipos de auditórios aos quais se permite avaliar a natureza convincente 
da argumentação, segundo os referidos autores: o universal, do qual fazem parte, ao menos, 
os homens considerados adultos e normais, ou “toda a humanidade”; o particular, que se faz por 
meio de diálogo, quando o sujeito dirige-se a um único interlocutor (que pode ser representado, 
também, por um grupo com características ou interesses específicos em comum); e o constituído 
pelo próprio locutor que se manifesta no diário com anotações pessoais ou no monólogo, quando 
justifica para si os seus atos.
Em resumo, constata-se que, somente a partir do segundo quartel do século XX, por 
intermédio da Nova Retórica, é que foi restabelecida a importância da argumentação, que se viu 
reduzida durante um longo período como a arte de expressar-se bem.
Etmologicamente, convencer quer dizer “vencer junto com o outro” e não vencer contra 
o outro, como muitas pessoas pensam. Segundo Abreu (2002, p.25), “convencer é saber gerenciar 
informação, é falar à razão do outro, demonstrando, provando.”
Ao convencer o nosso interlocutor/auditório, levamo-lo a pensar da mesma maneira que 
nós, o que não significa que fará aquilo que queremos que ele realize. Persuadir, diferentemente, 
significa fazer o outro realizar o que desejamos que ele faça, ou seja, sensibilizar o outro para 
que aja. Persuadir é, então, falar à emoção do outro.
Como exemplo, podemos citar a situação de um filho que não gosta de estudar. Ao 
entender a recomendação dos pais - que o estudo é importante para seu futuro - é verdadeira, 
significa que houve o convencimento, que foi sensibilizado racionalmente. 
A persuasão, no entanto, só se realizará se o filho modificar sua postura, seu 
comportamento em relação aos estudos, cumprindo suas tarefas escolares.
Vale ressaltar, ainda, que um indivíduo pode já estar persuadido a realizar “alguma coisa” 
e precisar ser convencido, bastando, para isso, que ocorra um pequeno empurrão por meio de 
sua consciência ou da de outro indivíduo.
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Para finalizar, caro(a) aluno(a), precisamos, agora, de acordo com Abreu (2002, 
p.37) entender as quatro condições para uma argumentação eficaz. São elas:
1. Ter uma tese definida e conhecer para que tipo de problema ela é resposta;
2. Ter uma linguagem adequada para o interlocutor/auditório,ou seja, o emissor 
necessita adaptar-se às condições intelectuais e sociais do(s) receptor(res);
3. Ter um contato positivo com o auditório, sabendo gerenciar essa relação de forma 
que haja respeito, bom humor e sinceridade;
4. Agir de forma ética, cuidando para que a argumentação não se torne um 
processo de manipulação.
Percebe, agora, por que a argumentação é considerada, pelo referido autor, como 
“a arte de argumentar”?
Leia, a seguir, o texto abaixo, fragmento extraído de um vídeo exibido na Casa 
de Detenção de São Paulo, para ensinar aos detentos formas de prevenção contra a 
Aids, seguido de uma análise:
FIORIN José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Lições de texto: leitura e 
redação. São Paulo: Ática, 2004. p. 281-284. 
Aqui é bandido: Plínio Marcos. Atenção, malandrage! Eu num vô pedir nada, vô te 
dá um alô! Te liga aí: Aids é uma praga que rói até os mais fortes, e rói devagarinho. Deixa o 
corpo sem defesa contra a doença. Quem pegá essa praga está ralado de verde e amarelo, de 
primeiro ao quinto, e sem vaselina. Num tem dotô que dê jeito, nem reza brava, nem choro, nem 
vela, nem aí, Jesus. Pegou Aids, foi pro brejo! Agora sente o aroma da perpétua: Aids pega pelo 
esperma e pelo sangue, entendeu?, pelo esperma e pelo sangue! (Pausa)
Eu num tô te dando esse alô pra te assombrá, então se toca! Não é porque tu tá na 
tranca que virou anjo. Muito pelo contrário, cana dura deixa o cara ruim! Mas é preciso que 
cada um se cuide, ninguém pode valê pra ninguém nesse negócio de Aids. Então, já viu: transá, 
só de acordo com o parceiro, e de camisinha! (Pausa)
Agora, tu aí que é metido a esculacha os outros, metido a ganhá o companheiro na 
força bruta, na congesta! Pará com isso, tu vai acabá empesteado! Aids num toma conhecimento 
de macheza, pega pra lá, pega pra cá, pega em home, pega em bicha, pega em mulhé, pega em 
roçadeira! Pra essa peste num tem bom! Quem bobeia fica premiado. E fica um tempão sem sabê. 
Daí, o mais malandro, no dia da visita, recebe mamão com açúcar da família e manda pra casa a 
Aids! E num é isto que tu qué, né, vago mestre? Então te cuida. Sexo, só com camisinha. (Pausa)
Quem descobre que pego a doença se sente no prejuízo e quer ir à forra, passando pros 
outros. (Pausa) Sexo, só com camisinha!Num tem escolha, transá, só com camisinha. 
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Quanto a tu, mais chegado ao pico, eu tô sabendo que ninguém corta o vício só por 
ordem da chefia. Mas escuta bem, vago mestre, a seringa é o canal pra Aids. No desespero, 
tu não se toca, num vê, num qué nem sabê que, às vezes, a seringa vem até com um pingo de 
sangue, e tu mete ela direto em ti. Às vezes, ela parece que vem limpona, e vem com a praga. 
E tu, na afobação, mete ela direto na veia. Aí tu dança. Tu, que se diz mais tu, mas que diz 
que num pode agüenta a transa sem pico, se cuida. Quem gosta tu é tu mesmo. (Pausa) E a 
farinha que tu cheira, e a erva que tu barrufa enfraquece o corpo e deixa tu chué da cabeça e 
dos peitos. E aí tu fica moleza pro Aids! Mas o pico é o canal direto pra essa praga que está aí. 
Então, malandro, se cobre. Quem gosta de tu é tu mesmo. A saúde é como a liberdade. A gente 
dá valor pra ela quando já era!
Vídeo exibido na Casa de Detenção de São Paulo. Agência: Adag; Realização: TV Cultura, 1988. 
Esse texto, falado por Plínio Marcos, trata o problema da Aids de maneirarealista, sem qualquer idealização. Pretende ele levar os presos a usar camisinha em 
todas as relações sexuais, a não ter relações sem consentimento do parceiro e a não usar 
droga injetável. Para isso, compara a saúde à liberdade. Faz isso porque a liberdade é o 
bem mais prezado por aqueles que dela estão privados. Equiparando a saúde à liberdade, 
quer alertar para a necessidade de preservar aquela que, ao contrário desta, ainda não 
está perdida. O texto dá uma informação básica: que a transmissão do vírus da Aids se 
faz por meio do esperma e do sangue. No entanto, o que importa no texto é persuadir 
os presidiários a adotar meios de prevenção. Quais são os recursos de que se vale o 
enunciador para realizar a persuasão? Procura identificar-se com seus destinatários, 
para que sua mensagem se torne confiável para eles. Como faz isso? Em primeiro 
lugar, apresentando-se como um deles, como um bandido. Em seguida, tratando-os com 
vocativos que os marginais empregam entre si: malandrage, malandro, vago mestre. Em 
terceiro, usando a linguagem com que estão habituados: variante não culta, em sua modalidade 
oral (observe, por exemplo, a omissão do r nas formas verbais: ganha, valê, qué, transa etc.); 
substituição da expressão não é por né; uso de formas populares de pronúncia (num, em vez de 
não, dotô, mulhé, vô, tá); inadequação no uso das formas pronominais (ora o interlocutor é tratado 
por tu, ora por você) e da concordância verbal (sujeito de segunda pessoa e verbo na terceira: tu 
não se toca, tu cheira etc.); utilização das formas pronominais retas em função de complemento 
(gosta de tu); uso do termo Aids como masculino (o Aids); e gíria da marginalidade (congesta, 
pico, tranca, ganha na força bruta, barrufa etc.). 
A partir desse texto, podemos pensar o que é realmente argumentação. Normalmente, 
pensa-se que comunicar é simplesmente transmitir informações. A teoria da comunicação diz 
que, para haver um ato comunicativo, é preciso que seis fatores intervenham: o emissor (aquele 
que produz a mensagem), o receptor (aquele a quem a mensagem é transmitida), a mensagem 
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(elemento material, por exemplo, um conjunto de sons, que veicula um conjunto de informações), 
o código (sistema lingüístico, por exemplo, uma língua, ou seja, conjunto de regras que permite 
produzir uma mensagem), o canal (conjunto de meios sensoriais ou materiais pelos quais a 
mensagem é transmitida, por exemplo, o canal auditivo, o telefone), e o referente (situação a 
que a mensagem remete). No entanto, simplifica ela excessivamente o ato de comunicação, pois 
concebe o emissor e o receptor pura e simplesmente como pólos neutros que devem produzir, 
receber e compreender a mensagem. 
As coisas são mais complicadas no ato comunicativo. Há uma diferença bem marcada 
entre comunicação recebida e comunicação assumida. Como comunicar é agir sobre o outro, 
quando se comunica não se visa somente a que o receptor receba e compreenda a mensagem, 
mas também a que a aceite, ou seja, a que creia nela e que faça o que nela se propõe. Comunicar 
não é, pois, somente um fazer saber, mas também um fazer crer e um fazer fazer. A aceitação 
depende de uma série de fatores: emoções, sentimentos, valores, ideologia, visão de mundo, 
convicções políticas etc. A persuasão é então o ato de levar o outro a aceitar o que está sempre 
dito, pois só quando ele o fizer a comunicação será eficaz. 
E, então, entenderam, com esse exemplo, o que é argumentação?
A Eficácia de uma Argumentação
Caro(a) aluno(a),
Você tem conhecimento de que o texto do tipo argumentativo é o mais usado no 
nosso cotidiano? Em função disso, vamos comentar um pouco sobre o assunto.
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Observe: 
Argumentar
Arg = fazer brilhar.
Arguto = que tem a inteligência brilhante.
Argentum = prata.
Argumento = aquilo que faz brilhar uma idéia.
Segundo Jakobson (1971) todo ato de l inguagem tem uma dimensão 
argumentativa, seja em:
a) sentido strito = explícito.
b) Sentido lato = implícito.
Todo texto é persuasivo. Para convencer o leitor, o produtor de texto faz uso de 
vários recursos argumentativos que se apóiam nos princípios da lógica formal e nos princípios 
da lógica da língua.
Argumentação “é qualquer tipo de procedimento usado pelo produtor do texto com 
vistas a levar o leitor a dar sua adesão às teses defendidas pelo texto.”
Vejamos, então, que o texto argumentativo tem o objetivo de fazer crer/fazer fazer. 
É comum em textos publicitários, peças jurídicas e matérias opinativas, sendo a superestrutura 
composta das seguintes categorias: 
TESE – (PREMISSAS) – ARGUMENTOS – (CONTRA – ARGUMENTOS) –
(SÍNTESE) – CONCLUSÃO (= NOVA TESE).
Faz-se necessário esclarecermos que nem sempre os textos argumentativos 
apresentam todas essas categorias e exatamente na ordem apresentada. Para que você 
entenda a referida superestrutura, far-se-á, a seguir, uma explicação de cada uma dessas 
categorias:
Tese: proposição que se expõe para ser defendida.
Premissa: princípio de um sistema dedutível ou fato reconhecível.
Argumento: [Do lat. Argumentu]. Recurso de linguagem que torna uma coisa mais 
desejável que outra. De acordo com o Novo Dicionário Aurélio, raciocínio pelo qual se tira uma 
conseqüência ou dedução.
O argumento não representa a verdade, mas leva o interlocutor/auditório a “tornar uma 
coisa mais desejável que a outra”. Trata-se de um recurso de linguagem utilizado para levar o 
outro a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o que está sendo transmitido, 
conforme afirma Platão& Fiorin (2004, p.221).
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Retomando, finalmente, o argumento é um procedimento lingüístico que objetiva levar 
o receptor a ser convencido, isto é, a crer no que está sendo dito, assim como a ser persuadido, 
ou seja, a realizar o que é recomendado. O que o texto apresenta passa a ser percebido como o 
real, a verdade.
Contra – Argumento: argumento que contradiz o(s) argumento(s) que defende(m) a tese.
Síntese: resumo; exposição abreviação de uma sucessão de acontecimentos ou situações 
expostas; breve visão global. 
Conclusão: ato de concluir uma idéia, um pensamento; término; fim; fechamento. Pode 
indicar uma nova tese.
Leia, a seguir, um texto argumentativo, retirado de uma revista semanal.
LUFT, Lia. A educação possível. In: Revista Veja. São Paulo. Editora Abril. Edição 
2012, ano 40, n 23, 13 de junho de 2007.
Educação é algo bem mais amplo do que escola. Começa em casa, onde precisam 
ser dadas as primeiras informações sobre o mundo (com crianças também se conversa!), 
noções de postura e compostura, respeito, limites. Continua na vida pública, nem 
sempre um espetáculo muito edificante, na qual vemos políticos concedendo-se um bom 
aumento em cima dos seus já polpudos ganhos, enquanto professores recebem salários 
escrachadamente humilhantes, e artistas fazendo propaganda de bebida num momento 
em que médicos, pais e responsáveis lutam com a dependência química de milhares de 
jovens. Quem é público, mesmo que não queira, é modelo: artistas, líderes, autoridades. 
Não precisa ser hipócrita nem bancar o santarrão, mas precisa ter consciência de que 
seus atos repercutem, e muito.
Estamos tristemente carentes de bons modelos, e o sucesso da visita do papa 
também fala disso: além do fator religião, milhares foram em busca de uma figura paternal 
admirável, que lhes desse esperança de que retidão, dignidade, incorruptibilidade, ainda 
existem.
Mas vamos à educação nas escolas: o que é educar? Como deveria ser uma boa 
escola? Como se forma e se mantém um professor eficiente, como se preparam crianças 
e adolescentes para este mundo competitivo onde todos têm direito de construir sua 
vida e desenvolver sua personalidade?
É bem mais simples do que todas as teorias confusas e projetos inúteis que se 
nos apresentam. Não sou contra colocarem um computadorem cada sala de aula neste 
reino das utopias, desde que, muito mais e acima disso, saibamos ensinar aos alunos 
o mais elementar, que independe de computadores, sua autoridade, seu entusiasmo e 
seus objetivos claros. A educação benevolente e frouxa que hoje predomina nas casas 
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e escolas prejudica mais do que uma sala de aula com teto e chão furados e livros aos 
frangalhos. Estudar não é brincar, é trabalho. Para brincar temos o pátio e o bar da 
escola, a casa.
Sair do primeiro grau tendo alguma consciência de si, dos outros, da comunidade 
onde se vive, conseguindo contar, ler, escrever e falar bem (não dá para esquecer isso, 
gente!) e com naturalidade, para se informar e expor seu pensamento, é um objetivo 
fantástico. As outras matérias, incluindo as artísticas, só terão valor se o aluno souber 
raciocinar, avaliar, escolher e se comunicar dentro dos limites de sua idade.
No segundo grau, que encaminha para a universidade ou para algum curso 
técnico superior, o leque de conhecimentos deve aumentar. Mas não adianta saber 
história ou geografia americana, africana ou chinesa sem conhecer bem a nossa, nem 
falar vários idiomas se nem sequer dominamos o nosso. Quer dizer, não conseguimos 
nem nos colocar como indivíduos em nosso grupo nem saber o que acontece, nem 
argumentar, aceitar ou recusar em nosso próprio benefício, realizando todas as coisas 
que constituem o termo tão em voga e tão mal aplicado: “cidadania”.
O chamado terceiro grau, a universidade, incluindo conhecimentos 
especializados, tem seu fundamento eficaz nos dois primeiros. Ou tudo acabará no que 
vemos: universitários que não sabem ler e compreender um texto simples, muito menos 
escrever de forma coerente. Universitários, portanto, incapazes de ter um pensamento 
independente e de aprender qualquer matéria, sem sequer saber se conduzir. Profissionais 
competindo por trabalho, inseguros e atordoados, logo, frustrados.
Sou de uma família de professores universitários. Fui por dez anos titular de 
lingüística em uma faculdade particular. Meu desgosto pela profissão – que depois 
abandonei, embora gostasse do contato com os alunos – deveu-se em parte à minha 
dificuldade de me enquadrar (ah, as chatíssimas e inócuas reuniões de departamento, 
o caderno de chamado, o ridículo, as notas...) e em parte ao desalento. Já nos anos 70 
recebíamos na universidade jovens que mal conseguiam articular frases coerentes, muito 
menos escrevê-las. Jovens que não sabiam raciocinar nem argumentar, portanto incapazes 
de assimilar e discutir teorias. Não tinham cultura nem base alguma, e ainda assim faziam 
a faculdade, alguns com sacrifício, deixando-me culpada quando os tinha de reprovar.
Em tudo isso, estamos melancolicamente atrasados. Dizem que nossa economia 
floresce, mas a cultura, senhores, que inclui a educação (ou vice-versa, como queiram...), 
anda mirrada a murcha. Mais uma vez, corrigir isso pode ser muito simples. Basta 
vontade real. Infelizmente, isso depende dos políticos, depende dos governos. Depende 
de cada um de nós, que os escolhemos e sustentamos.
Achou interessante o texto de Lia Luft? Conseguiu constatar as principais categorias 
presentes no texto argumentativo?
Língua Portuguesa - Maria Alice / Maisa Barbosa - UNIGRAN
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Responda para você:
1. Qual a tese?
2. Quais os argumentos empregados para levar o interlocutor a crer naquilo que está 
sendo dito, a aceitar como verdadeiro o que está sendo transmitido, conforme 
explicam Platão & Fiorin (2004, p. 221)?
3. Qual a conclusão para a tese apresentada pela autora?
4. Você conseguiu verificar outras categorias constates na superestrutura de um texto 
argumentativo? Quais?
Lembre-se de que para escrevermos um texto, faz-se necessário termos informações e 
só adquirimos conhecimentos sobre qualquer assunto se realizarmos leituras. Ninguém escreve 
sem ter informações, sem realizar um diálogo entre vários textos lidos. Somente assim, seremos 
capazes de mostrar a nossa voz num texto em que as idéias fluam, progridam e os argumentos 
sejam consistentes.
Que tal ler, agora, um editorial, um gênero jornalístico, em que se defende uma idéia, 
uma tese?
Com Ciência – SBPC/Labjor. Disponível em: http://www.comciencia.br/comciencia/
handler.php?section=8&edicao=13&id=105. Acesso realizado em: 31/07/2007 às 22 horas.
EDITORIAL 
AIDS: Fazer ou Fazer 
Por Carlos Vogt 
 
Os números da Aids no mundo são alarmantes e, se considerada a geografia da extrema 
pobreza e a incidência gritante da doença na paisagem árida dessa desolação, há países inteiros 
e quase continentes na iminência de uma catástrofe sem limites da saúde pública. 
Desde 1981, quando foi reconhecida pelo Centro para o Diagnóstico de Doenças, de 
Atlanta, nos EUA, a doença vem se espalhando do modo célere e com eficácia mortal: são cerca 
de 45 milhões de pessoas infectadas no mundo, com uma concentração de 95% em países pobres 
e em desenvolvimento. 
No Brasil, em decorrência de políticas públicas focadas na questão e de medidas 
governamentais acertadas e oportunas, quer na prevenção, quer no tratamento medicamentoso 
da doença, a situação tem-se mostrado estabilizada, ainda que em níveis elevados e sempre 
preocupantes. 
Língua Portuguesa - Maria Alice / Maisa Barbosa - UNIGRAN
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São cerca de 400 mil casos registrados no país com uma distribuição de 2/3 
para os homens e 1/3 para as mulheres, com dados que mostram que, num gênero e 
noutro, a maior causa da transmissão da doença tem origem nas relações sexuais. Dados 
de 2002 apontavam que esta era a situação para 58% dos casos masculinos e 86.2% 
dos casos femininos. Para os homens, 25% eram de relações heterossexuais, 21.7%, 
homossexuais e 11.4%, bissexuais. Os casos ligados a drogas injetáveis eram de 23.4% para 
os homens e de 12.4% para as mulheres.
Com o desenvolvimento dos coquetéis para tratamento da Aids e com acesso 
ainda restrito das populações mais pobres e esses medicamentos, a epidemia, na medida 
de seu crescimento, foi acentuando os contornos sociais de sua incidência, traçando 
no mundo globalizado dos já dele excluídos mais um predicado complexo de exclusão 
estigmatizada, misturando aspectos étnicos/raciais, miséria estrutural e um processo 
de feminização da doença, por todos os títulos preocupantes, não fosse apenas o da 
acentuação de sua transmissão materno-infantil. 
Os esforços nacionais e internacionais são grandes no combate à epidemia 
da Aids, mas os seus resultados continuam ainda menos rápidos do que a velocidade 
com que a doença se espalha. 
As medidas educacionais e preventivas têm de ser tomadas e implantadas com 
rapidez maior se se quiser a sua eficácia; o acesso aos medicamentos de última geração 
precisa ser socializado com a mesma urgência e velocidade; a responsabilidade dos ricos 
pelos mais pobres não pode ser escamoteada ou ideologizada em declarações inócuas 
e vazias de ações efetivas. No caso da Aids é fazer ou fazer. Não há outra alternativa, 
a não ser compactuar com um dos maiores desastres sociais de que se terá notícia na 
história recente da humanidade e da vida no planeta.
Achou interessante o texto? Concordou com a tese do autor?
Faça o mesmo questionamento realizado em relação ao texto de Lutf (2007) a fim 
de melhor reconhecer o processo argumentativo. Não precisa enviar.
Para completarmos nossa aula, observe os gêneros textuais jornalísticos 
opinativos, pois é interessante você conhecê-los.
EDITORIAL – WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/
Editorial. Acesso realizado em 31/07/2007 às 22 horas.
EDITORIAL
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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Os editoriais são textos de um jornal em que o conteúdo expressa a opinião da empresa, 
da direção ou da equipe de redação, sem a obrigação de se ater a nenhuma imparcialidade ou 
objetividade. Geralmente, grandes jornais reservam um espaço predeterminados para os editoriaisem duas ou mais colunas logo nas primeiras páginas internas. Os boxes (quadros) dos editoriais 
são normalmente demarcados com uma borda ou tipologia diferente para marcar claramente que 
aquele texto é opinativo, e não informativo. Editoriais maiores e mais analíticos são chamados 
de artigos de fundo.
O profissional da redação encarregado de redigir os editoriais é chamado de editorialista.
A opinião de um veículo, entretanto, não é expressada exclusivamente nos editoriais, 
mas também na forma como organiza os assuntos publicados, pela qualidade e quantidade que 
atribui a cada um (no processo de Edição jornalística). Em casos em que as próprias matérias 
do jornal são imbuídas de uma carga opinativa forte, mas não chegam a ser separados como 
editoriais, diz-se que é Jornalismo de Opinião.
Linha editorial
A linha editorial é uma política predeterminada pela direção do veículo de 
comunicação ou pela diretoria da empresa que determina “a lógica pela qual a empresa 
jornalística enxerga o mundo; ela indica seus valores, aponta seus paradigmas e influencia 
decisivamente na construção de sua mensagem”1.
A linha editorial orienta o modo como cada texto será redigido, define que termos podem 
ou não devem ser usados e qual a hierarquia que cada tema terá na edição final (seja em páginas 
do meio impresso ou na ordem de apresentação do telejornal ou radiojornal).
Artigos e artiguetes
Grande parte dos jornais impressos (e também digitais) reserva uma página 
ou um espaço para a publicação de artigos opinativos por personalidades, especialistas ou 
convidados que tenham um comentário ou uma opinião relevante a expressar. Muitas vezes a 
página de artigos é editada ao lado da página editorial, quando não na mesma. Em TV e rádio, 
esta prática é mais rara.
Outro espaço dedicado a textos opinativos, embora não de conteúdo editorial e raramente 
de teor jornalístico, são as Colunas e Críticas.
Além da página de editoriais principal, alguns veículos impressos optam por inserir 
ainda as chamadas notas editoriais em outras páginas, geralmente ao lado da matéria que trata do 
assunto opinado. Em alguns jornais, esta prática também é apelidada de artiguete ou nota picles.
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Cartas do Leitor
Um espaço comum para expressar a opinião do público do veículo é a seção das 
cartas do leitor. O jornal seleciona, entre as cartas recebidas, algumas que tenham opinião 
bem argumentada (e, claro, um bom texto) para publicar e registrar, por amostragem, o 
pensamento dos leitores. Certas vezes, existe a preocupação de contrabalançar e equilibrar 
as opiniões, escolhendo sempre idéias opostas. Na maioria das edições, porém, jornalistas 
selecionam cartas que sejam alinhadas com as posições do veículo.
Esse tipo de prática foi facilitada após a adoção do correio eletrônico.
Charge
As charges, caricaturas e ilustrações editoriais são um meio visual e extremamente 
eloqüente de expressar opiniões, geralmente por meio de técnicas de humor.

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