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DESCRIÇÃO A relação obrigacional, seus elementos estruturantes, funções e principais classificações. PROPÓSITO Compreender a relação obrigacional, seus elementos e espécies é fundamental para o entendimento de toda a disciplina de obrigações, que é a base de todas as relações privadas patrimoniais. PREPARAÇÃO Antes de iniciar seu estudo, tenha em mãos o Código Civil. OBJETIVOS MÓDULO 1 Analisar a estrutura e a função da relação jurídica obrigacional MÓDULO 2 Distinguir os diferentes tipos de obrigações MÓDULO 3 Identificar obrigações civis, naturais e reais e seus efeitos INTRODUÇÃO A vida em sociedade pressupõe relações de diversas ordens, como familiares, de amizade, de mera cortesia, mas também relações especificamente reconhecidas e regulamentadas pelo ordenamento jurídico, como as contratuais, as empresariais, de vizinhança, de consumo etc. Essas últimas são guiadas e limitadas por uma ampla disciplina jurídica, cuja base é o Direito das Obrigações. Por isso que, no Código Civil de 2002, o Direito das Obrigações inaugura a parte especial, evidenciando que essa disciplina irá nortear os institutos que serão tratados na legislação, como os mais diversos direitos pessoais patrimoniais, seja mediante contratos, relações empresariais, direitos reais, direitos de família e sucessórios. Neste conteúdo, entenderemos a importância e a abrangência do Direito das Obrigações enquanto base para as diversas disciplinas. Veremos a estrutura e o conteúdo da relação obrigacional e apresentaremos as diferentes classificações das obrigações. Por fim, identificaremos as características das obrigações de naturezas jurídicas distintas, como obrigações naturais, reais e civis. MÓDULO 1 Analisar a estrutura e a função da relação jurídica obrigacional RELAÇÃO OBRIGACIONAL: SUJEITO ATIVO, PASSIVO, OBJETO E VÍNCULO DELIMITAÇÃO CONCEITUAL E CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS O termo obrigação, em uma perspectiva exclusivamente jurídica, pode ser compreendido em pelo menos dois sentidos: Em um sentido amplo e genérico, significa dever jurídico. Essa relação jurídica especial é disciplinada pelo Direito das Obrigações, sendo uma das matérias do Direito Civil, constante do Livro 1 da Parte Especial do Código Civil, e tem como objeto a regulamentação dos vínculos jurídicos patrimoniais entre pessoas, usualmente, apresentadas como credor e devedor. Já em um sentido estrito e mais técnico, designa uma relação jurídica especial. Essa acepção estrita é o nosso objeto de estudo e, sendo espécie do gênero “dever jurídico”, configura-se como um dever jurídico especial, cujo objeto é um dever de prestação. O DIREITO DAS OBRIGAÇÕES PODE SER COMPREENDIDO COMO UM CONJUNTO DE REGRAS E PRINCÍPIOS DISCIPLINADORES DAS RELAÇÕES ENTRE SUJEITOS DE DIREITO, LIGADOS ENTRE SI POR UM DETERMINADO VÍNCULO JURÍDICO EM TORNO DE UM OBJETO REPRESENTATIVO DE UM INTERESSE PATRIMONIAL. Foto: Shutterstock.com. Em linhas gerais, o Direito das Obrigações é a disciplina básica das relações entre pessoas sobre troca ou intercâmbio de bens, prestações de serviços, reparação de danos e cumprimento de deveres jurídicos gerais. Foto: Shutterstock.com. Certamente, se a relação de intercâmbio de bens configurar uma relação de consumo, por exemplo, teremos a atração da disciplina de Defesa do Consumidor, que incidirá juntamente com as normas gerais do Direito das Obrigações em uma relação de complementariedade, pois a relação de consumo é uma relação obrigacional especial. Foto: Shutterstock.com. Da mesma forma, podemos estar diante de uma relação trabalhista, empresarial ou mesmo familiar. Em todas essas e outras hipóteses, teremos o regramento jurídico básico ditado pelo Direito das Obrigações e as normas e regras especiais e incidentes sobre o caso. Tradicionalmente, a obrigação em sentido estrito, nosso objeto de estudo neste conteúdo, é definida como uma relação jurídica pessoal, transitória e de natureza patrimonial, que confere ao credor (Sujeito ativo ) o direito de exigir do devedor (Sujeito passivo) o cumprimento de determinada prestação. Nesse sentido, Orlando Gomes (2019) afirma que “a relação obrigacional é um vínculo jurídico entre duas partes, em virtude do qual uma delas fica adstrita a satisfazer uma prestação patrimonial de interesse da outra, que pode exigi-la, se não for cumprida espontaneamente, mediante agressão ao patrimônio do devedor”. Ainda em uma perspectiva tradicional, mas, destacando as características da relação jurídica obrigacional, Washington de Barros Monteiro (1982, p. 8) define obrigação como “a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor e cujo objeto consiste numa prestação pessoal, econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento através de seu patrimônio”. A partir dessas conceituações tradicionais, podemos identificar as principais características das obrigações: transitoriedade, pessoalidade e patrimonialidade. As relações obrigacionais nascem com o propósito de se extinguirem pelo seu próprio cumprimento, que é certo e determinado, daí o seu caráter transitório. A rigor, é contrário à natureza da relação obrigacional o propósito da perpetuidade, característica das relações proprietárias. Ademais, a transitoriedade encontra razão de ser nas demais características das obrigações. As relações obrigacionais estabelecem vínculos entre pessoas em torno de objetivos patrimoniais ou econômicos e, sendo assim, é razoável concluir que já nascem com a finalidade de extinção. Essas conceituações tradicionais são muito úteis para identificarmos os elementos essenciais da estrutura da relação obrigacional e as suas principais características, o que faremos a seguir. Mais à frente, será apresentada uma conceituação mais contemporânea e condizente com o nosso ordenamento jurídico atual. ESTRUTURA DA RELAÇÃO JURÍDICA OBRIGACIONAL E SEUS ELEMENTOS A RELAÇÃO OBRIGACIONAL E SEUS ELEMENTOS Acompanhe a especialista Fernanda Paes Leme nos oferecendo melhor compreensão sobre a estrutura e os elementos da relação obrigacional. A estrutura da relação jurídica obrigacional é composta por três elementos essenciais: elemento subjetivo, elemento objetivo e vínculo jurídico. ELEMENTO SUBJETIVO: CREDOR E DEVEDOR O elemento subjetivo da relação obrigacional é conformado pelas partes que figurarão nos polos ativo e passivo da relação. São os sujeitos ou titulares dos direitos e deveres jurídicos ali delimitados. A essencialidade do elemento subjetivo se justifica pelo fato de a relação obrigacional traduzir um vínculo pessoal. Inclusive, essa é uma das suas características principais: é uma relação entre pessoas. Foto: Shutterstock.com. Além disso, esse vínculo será sempre duplo, caracterizando a duplicidade subjetiva. A DUPLICIDADE SUBJETIVA SIGNIFICA QUE, OBRIGATORIAMENTE, A RELAÇÃO OBRIGACIONAL TERÁ DUAS PARTES OU DOIS POLOS SUBJETIVOS, REPRESENTATIVOS DAS FIGURAS DO CREDOR E DO DEVEDOR, AINDA QUE ESSAS FIGURAS NÃO SEJAM INDIVIDUALIZADAS OU IDENTIFICADAS NO MOMENTO DO SURGIMENTO DA OBRIGAÇÃO (DETERMINAÇÃO OU INDIVIDUALIZAÇÃO SUBJETIVA). Foto: Shutterstock.com. O credor é o sujeito ativo da relação e é aquele que tem o poder de exigir o cumprimento da prestação principal. Foto: Shutterstock.com. O devedor é o sujeito passivo a quem cabe o dever contraposto de cumprir a mesma prestação principal. COMENTÁRIO Concluímos, portanto, que a relação obrigacional congrega dois polos subjetivos representativos de centros de interesses específicos e que, tradicionalmente, são apresentados como crédito e débito. A duplicidade subjetiva é essencial, pois na eventualidade das figuras do credor e do devedor se confundirem, haverá, automaticamente, a extinção da obrigação (ver art. 381 do CC). De fato, se as características de credor e devedor se fundirem ou consolidarem na mesma pessoa, haverá impossibilidade lógica de sobrevivência da obrigação. A títulode ilustração: Imagem: Shutterstock.com. Suponha que a sociedade empresária Alfa, em razão de determinada obrigação contratual, era devedora da sociedade empresária Beta. Fato seguinte, a sociedade Alfa incorpora a sociedade empresária Beta, tornando-se, a partir de então credora e devedora. Imagem: Shutterstock.com. Imagem: Shutterstock.com. Consequentemente, a obrigação originária entre Alfa e Beta será extinta, pois as posições jurídicas de credor e devedor se consolidaram em Alfa após a incorporação. A determinação subjetiva é igualmente relevante, ainda que não precise, obrigatoriamente, ser consentânea ao nascimento da obrigação, admite-se a indeterminabilidade relativa e temporária dos sujeitos. Em outras palavras: não é essencial que a determinação dos sujeitos da relação obrigacional ocorra no surgimento ou nascimento da obrigação, podendo ocorrer em momento posterior, desde que antes da sua fase de execução. Confirmando essa possibilidade de indeterminabilidade relativa, o direito moderno reconhece a possibilidade de transmissão das obrigações por ato inter vivos ou por sucessão — este assunto não será estudado aqui, mas já nos indica a possibilidade de um ou ambos os elementos subjetivos da relação serem alterados, como regra (ver arts. 286, 299 e 346, CC). EXCEPCIONALMENTE, NÃO É POSSÍVEL A ALTERAÇÃO SUBJETIVA NA HIPÓTESE DE OBRIGAÇÃO PERSONALÍSSIMA, ISTO É, QUANDO A OBRIGAÇÃO SÓ PODE SER REALIZADA PELO PRÓPRIO DEVEDOR. A imprescindibilidade da determinação subjetiva se justifica pela necessidade de o devedor ter que saber a quem deve prestar (ver art. 308, CC), bem como pela necessidade de o credor saber de quem poderá exigir a prestação. Assim, ainda que os sujeitos possam ser indeterminados, tal indeterminação será sempre temporária, pois o cumprimento da obrigação requer a individualização dos sujeitos. Caso chegue o vencimento da obrigação sem que tal individualização ocorra, poderá o devedor, diante da sua incerteza e para salvaguardar-se, consignar o pagamento em juízo (ver arts. 334 a 345, CC), afinal, quem paga mal, paga duas vezes. Foto: Shutterstock.com. Por fim, é preciso distinguir a noção de partes e de sujeitos. A relação obrigacional exige dois polos ou duas partes, como já referido. Cada um desses polos — ativo e passivo — representa uma parte ou um centro de interesses, o que não se confunde com a ideia de sujeito. Isso porque em uma ou em ambas as partes poderemos ter uma pluralidade subjetiva. EXEMPLO Suponhamos um contrato de compra e venda de um imóvel, no qual Maria e Tereza figuram com vendedoras e João como comprador. Maria e Tereza, conjuntamente, ocupam o polo ativo dessa relação, são as credoras, ao passo que João ocupa o polo passivo, é o devedor do preço. A pluralidade subjetiva pode ser verificada em um ou em ambos os polos da relação obrigacional. Quando isso ocorre, é necessário observar algumas peculiaridades da relação com vistas à sua adequada qualificação, que serão objeto de estudo adiante. ELEMENTO OBJETIVO: A PRESTAÇÃO PRINCIPAL E OS DEVERES ANEXOS O elemento objetivo ou o objeto da relação obrigacional é a prestação que, ao mesmo tempo, representa o dever principal do devedor e o direito do credor devido àquele vínculo estabelecido, em decorrência do exercício da autonomia, da incidência da lei ou da prática de um ato ilícito. O objeto da relação deve observar, como não poderia deixar de ser, os requisitos de validade estabelecidos no art. 104 do Código Civil. Assim, o objeto de qualquer relação jurídico obrigacional deve ser lícito, possível e determinado ou determinável. Além desses requisitos gerais de validade, em razão das especificidades do Direito das Obrigações, o objeto há de ser patrimonial. Foto: Shutterstock.com. A patrimonialidade da prestação ou do objeto da relação obrigacional perfaz uma das características essenciais da própria obrigação e implica que a prestação principal seja economicamente apreciável. É importante destacar que a patrimonialidade não depende da natureza do interesse perseguido pelas partes, mas sim do fato de a prestação principal ser suscetível de avaliação econômica. Ainda, a apreciação econômica pode existir já no nascimento da obrigação ou ser superveniente. A título de exemplo: Foto: Shutterstock.com. Suponha que João, adimplente com o seu plano de saúde, procura atendimento médico-hospitalar para a realização de determinado procedimento cuja cobertura estava prevista no contrato. No entanto, o plano de saúde não autoriza a realização, configurando hipótese de recusa imotivada. Foto: Shutterstock.com. Foto: Shutterstock.com. Suponhamos ainda que, em razão da recusa, o estado de saúde de João se agrave substancialmente. Embora o interesse de João fosse a preservação da sua saúde e integridade física, interesse para o qual não há equivalente pecuniário, a prestação principal do contrato celebrado entre as partes é passível de avaliação econômica. Mais ainda, movida ação indenizatória em face do plano de saúde e preenchidos todos os requisitos para configuração da responsabilidade civil, será possível chegar ao valor da reparação na fase de liquidação de sentença, mesmo que tal indicação não tivesse sido deduzida com precisão no momento da propositura da ação. É justamente a característica da patrimonialidade da prestação que permite distinguir a obrigação do dever. COMENTÁRIO Como veremos no módulo 3 deste conteúdo, há situações que não configuram obrigação em sentido estrito, mesmo que tenham caráter de dever, sendo a patrimonialidade o principal critério distintivo. Destaca-se que o conteúdo ou elemento objetivo da obrigação abarca o débito e a sua responsabilidade, que podem estar relacionados ao mesmo sujeito ou a pessoas distintas. Mas, em um ou outro caso, compõem o objeto da relação jurídica obrigacional, delimitada pelo vínculo jurídico, objeto do próximo item deste módulo. Portanto, o elemento objetivo da obrigação, isto é, a prestação, pode ser dividido em dois elementos: o débito e a responsabilidade. O débito corresponde ao que efetivamente é devido pelo sujeito passivo (devedor ) . A responsabilidade diz respeito às consequências de eventual inadimplemento. O titular do débito é aquele obrigado ao cumprimento da prestação principal, ou seja, é o devedor. A responsabilidade, por sua vez, verifica- se quando do inadimplemento da obrigação, sendo, logo, um dever sucedâneo à configuração do inadimplemento e podendo estar a cargo do devedor ou de terceira pessoa, como será visto no módulo 3. O objeto da relação jurídica, em uma perspectiva dinâmica e contemporânea, engloba a prestação principal e os deveres anexos, como será adiante apresentado. A incorporação dos deveres anexos, em razão da incidência do princípio da boa-fé objetiva, ocasionou uma complexificação objetiva da relação obrigacional e, mais do que isso, impôs a apreciação dinâmica dessa relação. VÍNCULO JURÍDICO O vínculo jurídico é a ligação jurídica entre os polos da relação em torno daquele objeto específico e é o elemento que justifica a possibilidade de o credor exigir do devedor a prestação principal, objeto da obrigação. A origem do vínculo jurídico coincide com a própria fonte da obrigação, ou seja, com o seu fato gerador, que pode ser: A própria lei O exercício da autonomia privada pela celebração de negócios jurídicos A prática de um ato ilícito O vínculo jurídico tradicionalmente se traduz na efetiva relação de poder/dever, inerente à relação entre credor e devedor. Essa ideia remonta à concepção tradicional do próprio vínculo obrigacional e, apesar da necessária releitura que será apresentada, ainda é relevante e verdadeira. Afinal, é o vínculo jurídico que une os polos da relação e que congrega as situações jurídicas subjetivas titularizadas pelos sujeitos daquela mesma relação. Foto: Shutterstock.com. A função essencial do vínculo jurídico está relacionada à própriaeficácia da obrigação, pois esse liame ou vínculo entre os polos da relação é o delimitador da eficácia subjetiva da obrigação e nos permite responder à importante indagação consubstanciada em “de quem posso exigir o cumprimento”. Em outras palavras, o vínculo jurídico indica e é delimitador da eficácia subjetiva de qualquer relação obrigacional, individualizando o credor e o devedor. Exemplificando: Foto: Shutterstock.com. Imaginemos a situação em que Ana, casada com João, contrai um empréstimo com Mário, obrigando-se à restituição do valor principal acrescido dos juros contratualmente estabelecidos no prazo de sessenta dias. Foto: Shutterstock.com. Vencido o contrato e diante do inadimplemento, pode Mário exigir o pagamento do marido de Ana? Certamente, não, pois o vínculo jurídico une Ana e Mário, sendo o marido de Ana um terceiro estranho à relação contratual. O VÍNCULO JURÍDICO REFORÇA, PORTANTO, A RELATIVIDADE DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS. Destaca-se ainda que é essencial para delimitação subjetiva dos efeitos das obrigações em geral, visto que, em uma perspectiva tradicional, o vínculo jurídico é traduzido na própria exigibilidade do crédito, relacionando-se, então, com a noção estática e rígida da obrigação, pautada na sujeição do devedor à vontade do credor. A RELAÇÃO OBRIGACIONAL EM UMA PERSPECTIVA DINÂMICA Após estudarmos o conceito tradicional de obrigação, suas características e elementos, passaremos a uma análise da relação obrigacional em uma perspectiva dinâmica e funcional. O Direito está sempre em evolução e, nesse ritmo, mudanças necessárias ocorrem mesmo nas áreas tradicionais, como a do Direito das Obrigações, cuja origem remonta ao Direito Romano. Contemporaneamente, em razão da incidência da axiologia constitucional, o Direito das Obrigações foi e é objeto de constante evolução, sobretudo em razão da incidência de princípios modernos (em contraposição aos princípios clássicos), além de uma nova postura hermenêutica adotada para a interpretação e a concretização das relações privadas. Nessa perspectiva, a relação obrigacional vem sendo reexaminada à luz de valores solidários e equânimes, que identificam o vínculo como um processo que se executa diante das circunstâncias e elementos multifacetados e dinâmicos aplicáveis à determinada obrigação em particular. Emerge, assim, a noção de obrigação como processo, cuja proposta essencial é destacar os aspectos dinâmicos de uma relação obrigacional “como algo que se encadeia e se desdobra em direção ao adimplemento” (SILVA, 2006, p. 17), que é a finalidade da obrigação nascida para se extinguir, como sabemos. Foto: Shutterstock.com. Atrelado à tal concepção, a complexidade das obrigações também impõe na atualidade a identificação de deveres anexos, como os deveres de probidade, lealdade e confiança, derivados da boa-fé objetiva, isto é, de um padrão comportamental desejável que seja observado pelos sujeitos inseridos na relação obrigacional. Em meio a essa evolução, observa-se que a complexidade trazida pela obrigação não se esgota no entendimento de que o adimplemento se dá com o mero pagamento do devedor ao credor. Na prática, durante o lapso entre a formalização e a extinção da obrigação, diversas situações são delineadas, acarretando alterações, modificações e a própria extinção sob formas não conjecturadas. RESUMINDO Em síntese, pode-se compreender a relação jurídica obrigacional como um processo dinâmico, no qual credor e devedor, unidos por um vínculo jurídico, atuam conjuntamente em prol do atingimento da finalidade econômica e social do interesse que os une, titularizando direitos, deveres e um complexo de situações jurídicas variadas, próprias à prestação principal, mas também derivadas dos deveres impostos pela boa-fé objetiva. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. JOÃO CELEBRA CONTRATO DE EMPRÉSTIMO DE CERTA QUANTIA COM SEU FILHO E ÚNICO HERDEIRO, PEDRO. ANTES DA DATA ESTIPULADA PARA O PAGAMENTO, JOÃO VEM A ÓBITO E, CONSEQUENTEMENTE, DÁ-SE A ABERTURA DA SUCESSÃO, NA QUAL PEDRO, ATÉ ENTÃO, DEVEDOR, ASSUME A POSIÇÃO DE HERDEIRO, GARANTINDO POR TÍTULO SUCESSÓRIO OS DIREITOS PATRIMONIAIS DO SEU FALECIDO PAI. QUAL É A CONSEQUÊNCIA JURÍDICA DO FATO SUPERVENIENTE, MORTE DE JOÃO, PARA A RELAÇÃO OBRIGACIONAL DE EMPRÉSTIMO PREVIAMENTE ESTABELECIDA ENTRE JOÃO E PEDRO? A) A nulidade da obrigação de empréstimo, pois, desde o início, seria vedado a João celebrar tal negócio jurídico com seu filho. B) A extinção da relação obrigacional de empréstimo, pois Pedro se torna credor e devedor. C) Pedro passa a estar obrigado a transferir sua dívida ao espólio deixado por seu pai. D) Ao serem avaliados os valores da herança, no que tange à parte de Pedro, seu respectivo valor deve ser debitado em razão da obrigação acordada com o pai e não adimplida. E) Para além da obrigação de restituir o valor da obrigação ao espólio de seu pai, Pedro deverá arcar com perdas e danos, em razão de sua inadimplência. 2. EM UM ACIDENTE DE TRÂNSITO, CARLOS ATROPELOU UMA TRANSEUNTE, MARIA, CAUSANDO-LHE SÉRIOS DANOS FÍSICOS. EM DECORRÊNCIA DO FATO, MARIA PRETENDE AJUIZAR AÇÃO INDENIZATÓRIA EM FACE DE CARLOS. NO ENTANTO, ELA AINDA ESTÁ SOB TRATAMENTO MÉDICO, NÃO TENDO COMO PRECISAR, NO MOMENTO DO AJUIZAMENTO DA AÇÃO, O VALOR DA CAUSA, SEJA EM RAZÃO DOS DANOS MATERIAIS AINDA NÃO APURADOS, SEJA EM RAZÃO DOS DANOS MORAIS PRETENDIDOS. DIANTE DO CENÁRIO DESCRITO, É CORRETO AFIRMAR QUE A) em razão da imprecisão de Maria, quando da propositura da ação, dos efeitos oriundos do acidente, a obrigação de Carlos em reparar o dano não envolverá os danos permanentes da lesão. B) a obrigação de reparar o dano por parte de Carlos não poderá ser formalizada, pois não há o elemento de determinabilidade dos efeitos oriundos do acidente. C) Carlos estará obrigado a reparar os danos permanentes de Maria, ainda que não quantificados em um primeiro momento, tendo em vista que, mesmo não sendo determinado, o objeto é determinável, pois a vítima ainda estava em tratamento. D) Carlos estará obrigado a reparar todo e qualquer dano de Maria pelos efeitos do acidente, apenas até o momento do trânsito em julgado da ação de indenização proposta. E) a ausência de previsibilidade dos efeitos dos danos causados à Maria desnaturaliza a relação obrigacional, pois não há obrigação permanente, somente transitória. GABARITO 1. João celebra contrato de empréstimo de certa quantia com seu filho e único herdeiro, Pedro. Antes da data estipulada para o pagamento, João vem a óbito e, consequentemente, dá-se a abertura da sucessão, na qual Pedro, até então, devedor, assume a posição de herdeiro, garantindo por título sucessório os direitos patrimoniais do seu falecido pai. Qual é a consequência jurídica do fato superveniente, morte de João, para a relação obrigacional de empréstimo previamente estabelecida entre João e Pedro? A alternativa "B " está correta. A partir do momento em que Pedro é o único herdeiro de seu pai João, agora falecido, a obrigação firmada entre os dois passa a girar sobre um único sujeito, levando à extinção da obrigação. 2. Em um acidente de trânsito, Carlos atropelou uma transeunte, Maria, causando-lhe sérios danos físicos. Em decorrência do fato, Maria pretende ajuizar ação indenizatória em face de Carlos. No entanto, ela ainda está sob tratamento médico, não tendo como precisar, no momento do ajuizamento da ação, o valor da causa, seja em razão dos danos materiais ainda não apurados, seja em razão dos danos morais pretendidos. Diante do cenário descrito, é correto afirmar que A alternativa "C " está correta. Apesar da falta de determinação quanto aos danos causados à Maria no momento da formação da relação obrigacional, Carlos estará obrigado a repará-la, pois admite-se o objeto determinável, in casu, decorrente do acidente de responsabilidade de Carlos. MÓDULO 2 Distinguir os diferentes tipos de obrigações CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES A partir de uma análise mais detida dosseus elementos estruturais e das especificidades do seu objeto, as obrigações recebem algumas classificações. Do ponto de vista prático, tais classificações são úteis, pois permitem a adequada atração da disciplina jurídica específica em relação às características das obrigações. Inclusive, o legislador civil adotou expressamente algumas das classificações que serão aqui apresentadas e instituiu normas específicas a partir delas. De forma geral, as obrigações podem ser simples ou complexas em relação ao elemento subjetivo. As obrigações subjetivamente complexas ainda podem ser classificadas em solidárias ou em indivisíveis. Atentando para o seu objeto, as obrigações serão sempre complexas, pois, além da prestação principal, existem os deveres anexos. Considerando a prestação principal apenas, as obrigações são ainda classificadas em várias modalidades obrigacionais. Há ainda a possibilidade de classificações quanto a outros elementos acidentais, que, uma vez presentes, tornam a obrigação em condicional ou a termo; em principal ou acessória, por exemplo. Por fim, mostra-se de grande relevância prática a classificação das obrigações em relação às responsabilidades, quando as obrigações são classificadas como de meio ou de resultado. Diante de tantas possibilidades classificatórias, nos concentraremos naquelas mais importantes, considerando ainda os demais conteúdos que serão disponibilizados. CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES QUANTO AO ELEMENTO SUBJETIVO Como visto no módulo anterior, o elemento subjetivo da relação obrigacional corresponde aos polos ativo e passivo da relação, sendo que a duplicidade e a determinabilidade subjetivas são requisitos estruturais para a própria existência da relação. Também foi referido que cada um desses polos pode ser composto por um ou mais sujeitos e é justamente a partir da observação dessa composição que as obrigações são subjetivamente classificadas em simples ou complexas/plurais. Uma vez identificada a pluralidade subjetiva em algum ou em ambos os polos, as obrigações serão classificadas em divisíveis, indivisíveis ou solidárias. OBRIGAÇÕES SIMPLES E COMPLEXAS/PLURAIS As obrigações serão simples no que tange o seu elemento subjetivo sempre que apresentarem apenas um sujeito ativo e um sujeito passivo, e serão subjetivamente complexas ou plurais quando apresentarem pluralidade em um ou em ambos os polos da relação. Foto: Shutterstock.com. Temos que uma compra e venda de um imóvel será subjetivamente simples se figurarem um comprador e um vendedor Foto: Shutterstock.com. Assim como será subjetivamente complexa na eventualidade de figurarem dois ou mais sujeitos no polo ativo, na qualidade de vendedores e/ou dois ou mais sujeitos no polo passivo, na qualidade de compradores. A unicidade ou a simplicidade subjetiva atrai a regra geral da indivisibilidade da prestação principal, prevista no art. 314 do Código Civil e determina que “ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou”. Por outro lado, a pluralidade subjetiva impõe uma análise mais detida e pormenorizada da relação, a fim de identificar como se relacionam entre si os sujeitos integrantes de cada um dos polos ou centros de interesses e como se relacionam com a contraparte e respondem pela obrigação. Foto: Shutterstock.com. Voltando ao exemplo da compra e venda de imóvel, Suponhamos que Paula e Lia tenham firmado contrato de compra e venda de um imóvel, na qualidade de compradoras, com Diogo e Gabriel, na qualidade de vendedores. Vencida a obrigação, poderia Diogo exigir o valor total do pagamento de Lia? Lia estaria obrigada a pagar e a obrigação estaria quitada se ela assim o fizesse? Ou, poderia Lia afirmar, com segurança jurídica e sem risco de eventual responsabilização, que só é devedora de metade do valor, recusando-se ao pagamento da integralidade? Por outro lado, se Lia e Paula efetuassem o pagamento integral do imóvel a Diogo, poderia Gabriel exigir delas novo pagamento? As classificações das obrigações quanto ao seu elemento subjetivo têm por finalidade responder a essas e outras possíveis indagações. Assim, diante da pluralidade subjetiva, há de se verificar se a obrigação é divisível ou fracionária; indivisível ou solidária. OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS/FRACIONÁRIAS E INDIVISÍVEIS A classificação das obrigações em divisíveis/fracionárias ou em indivisíveis pressupõe a pluralidade subjetiva, pois, se a obrigação for subjetivamente simples — só possuir um sujeito no polo ativo e um sujeito no polo passivo —, a obrigação será indivisível, qualquer que seja o seu objeto, em decorrência do princípio da unidade da prestação. No entanto, havendo pluralidade subjetiva em qualquer dos polos, a atenção voltará para o objeto da prestação, que indicará a divisibilidade ou a indivisibilidade. Da leitura conjunta dos arts. 257 e 258 do Código Civil, concluímos que: Será divisível a obrigação que tiver mais de um devedor ou mais de um credor e cujo objeto seja passível de divisão. Por sua vez, será indivisível se, havendo pluralidade subjetiva, o objeto da obrigação não for suscetível de divisão. ATENÇÃO Ressalta-se que o parâmetro definidor da divisibilidade ou indivisibilidade da obrigação será a prestação e a sua possibilidade física ou natural, econômica ou jurídica de divisão, como previsto no art. 258 do Código Civil, em harmonia com os arts. 87 e 88 do mesmo diploma. O legislador estabeleceu como regra a divisibilidade das obrigações (ver art. 257, CC) e, excepcionalmente, a indivisibilidade, diante da impossibilidade física ou natural, econômica ou jurídica da divisão (ver art. 258, CC). A identificação da divisibilidade ou não da obrigação tem consequências práticas importantes. Isto é, conforme art. 257 do Código Civil, sendo divisível, a prestação “presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores”. Consequentemente, havendo pluralidade subjetiva em uma obrigação divisível, cada credor tem direito à sua quota, da mesma forma que cada devedor só responde pela sua quota, desonerando-se com o pagamento desta. Já, se a obrigação for indivisível, cada devedor responderá por toda a dívida, assim como cada credor fará jus a todo o crédito. OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS A classificação como solidária também pressupõe a multiplicidade de sujeitos da obrigação em um ou em ambos os polos e impacta diretamente a execução da obrigação: havendo solidariedade, ambos os credores têm direito de receber a integralidade da prestação, assim como todos os devedores são obrigados pelo todo. A solidariedade será ativa quando houver pluralidade de credores. A solidariedade será passiva quando houver pluralidade de devedores. É possível existir solidariedade em ambos os polos da relação. A solidariedade não diz respeito ao objeto da obrigação, mas derivada de uma fonte que pode ser a lei ou a vontade das partes, posto que a solidariedade nunca será presumida. Assim, haverá solidariedade obrigacional quando, em decorrência da lei ou da vontade das partes, todos os credores tiverem direito à integralidade do crédito e todos os devedores forem obrigados pela totalidade da dívida (ver art. 264, CC). AFIRMAR QUE A SOLIDARIEDADE NUNCA SERÁ PRESUMIDA SIGNIFICA DIZER QUE, SE DIANTE DA PLURALIDADE SUBJETIVA INEXISTIR FONTE ESPECÍFICA PARA A SOLIDARIEDADE, ESTA RESTARÁ AFASTADA E, CONSEQUENTEMENTE, A ATENÇÃO RETORNARÁ PARA O OBJETO DA PRESTAÇÃO COM VISTAS A IDENTIFICAR EVENTUAL DIVISIBILIDADE OU INDIVISIBILIDADE DA OBRIGAÇÃO. CLASSIFICAÇÕES DAS OBRIGAÇÕES Vamos entender um pouco mais sobre as obrigações nos aprofundando quanto ao elemento objetivo? Assista ao vídeo abaixo. CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES QUANTO AO ELEMENTO OBJETIVO Tradicionalmente, as obrigações eram classificadas em relação ao objeto, considerando tão somente a prestação principal em simples ou complexas, sendoa complexidade objetiva resultante da cumulatividade ou da alternatividade, além das classificações baseadas nas modalidades de obrigações. Entende-se, no entanto, que toda relação obrigacional é objetivamente complexa quando observados todos os elementos que a compõem e que ganham relevância em concreto. Ademais, na contemporaneidade, toda obrigação é objetivamente complexa em virtude de compreender, para além da prestação principal, deveres anexos decorrentes da boa-fé objetiva. Sem descuidar das classificações tradicionais, adotaremos a premissa de que toda relação obrigacional é estrutural e funcionalmente complexa. COMPLEXIDADE OBJETIVA A análise estrutural da relação jurídica obrigacional, atenta aos elementos que compõem o seu objeto, pode ser concentrada apenas no vínculo entre o credor e o devedor, considerando somente a prestação principal, ou pode ser mais abrangente, observando todos os elementos que compõem a relação, ultrapassando os limites estreitos da prestação principal. A título de ilustração: Uma compra e venda pode ser avaliada a partir da perspectiva estreita de que o vendedor pode exigir o preço e o comprador pode exigir a entrega da coisa. Ou pode ser compreendida de forma sistêmica e, em sua particular complexidade, incluindo todos os demais direitos, faculdades, ônus e pretensões inerentes à obrigação. Esta última nos parece ser a forma mais adequada de encarar uma relação obrigacional, porque, vista somente em sua simplicidade (crédito versus débito), não corresponde ao que encontramos na vida real. A compra e venda deixa de ser vista como pagamento do preço e entrega da coisa para abranger, além desses elementos, a responsabilidade por vícios ocultos, pela evicção, pela perda da coisa, abarcando ainda, possivelmente, direito de arrependimento, direito de preferência, entre tantas outras situações jurídicas subjetivas. Imagem: Shutterstock.com. De forma semelhante, um contrato de locação de imóvel, por exemplo, em sua simplicidade estrutural, representa um vínculo entre locador e locatário, em decorrência do qual o locador tem a obrigação principal de ceder o uso do bem e o locatário de pagar o aluguel. Já em sua complexidade, para além das prestações principais, pode incluir o dever de respeitar as normas estabelecidas na convenção de condomínio, se for o caso; o dever de pagar os impostos incidentes sobre o imóvel; o dever de conservação do bem etc. De fato, a relação obrigacional é complexa, envolvendo, além dos direitos subjetivos e seus correspondentes deveres jurídicos, direitos protestativos, ônus jurídicos, expectativas de direito, enfim, outras situações jurídicas. Em atenção a essas, usualmente, as obrigações (ou prestações) são classificadas em principais ou primárias, em secundárias ou instrumentais. Além disso, mesmo para as relações aparentemente simples, a complexidade objetiva impõe-se em virtude de compreender, para além da prestação principal, deveres anexos decorrentes da boa-fé objetiva. Foto: Shutterstock.com. As obrigações ditas principais ou primárias são assim denominadas por serem dirigidas à realização das prestações específicas e predeterminadas no momento constitutivo do vínculo. Seria o pagamento do aluguel no caso da locação ou do preço em caso de compra e venda. Foto: Shutterstock.com. Já as prestações secundárias ou instrumentais seriam servientes à realização das principais. Foto: Shutterstock.com. As anexas seriam derivadas da cláusula geral de boa-fé objetiva, perfazendo os deveres de conduta. Em um contrato de importação de determinada mercadoria, por exemplo, as prestações principais seriam o pagamento do preço e a entrega da coisa. Como prestação secundária ou instrumental, seria possível citar a autorização para o ingresso do bem no mercado nacional e, dentre os deveres anexos, estaria o dever de informação. OBRIGAÇÕES CUMULATIVAS E ALTERNATIVAS As obrigações objetivamente complexas em razão da multiplicidade de prestações podem ser classificadas também em cumulativas ou conjuntivas ou em alternativas ou disjuntivas. Trata-se de classificação tradicional e atenta apenas à composição da prestação principal. Nas obrigações cumulativas ou conjuntivas, a prestação é composta por dois ou mais objetos e a satisfação ou adimplemento depende do cumprimento integral, pois as obrigações são somadas. A obrigação cumulativa pode ser de dar, de fazer ou de não fazer e, em qualquer hipótese, o cumprimento deverá ser integral sob pena de configurar o inadimplemento. Suponha que um determinado artista celebre um contrato de cessão de imagem para figurar em campanha publicitária de determinado produto em mídias sociais e para comparecer ao evento de lançamento do mesmo produto. Caso ele participe da campanha publicitária, mas não compareça ao evento, terá inadimplido parcialmente o contrato. Foto: Shutterstock.com. A obrigação alternativa ou disjuntiva, por sua vez, é caracterizada pelo fato de o seu adimplemento depender do cumprimento de apenas uma das prestações. Suponhamos que o mesmo artista tenha celebrado um outro contrato, obrigando-se a comparecer ao evento de lançamento de um determinado produto ou de postar uma foto em suas redes sociais recomendando o mesmo produto. Nesse exemplo, estaria o artista exonerado se realizasse uma ou outra prestação. Foto: Shutterstock.com. Como se pode perceber, nas obrigações alternativas, há uma indeterminação relativa quanto ao objeto. Assim, necessariamente e antes da execução, haverá a escolha ou a concentração, que vem a ser a indicação da prestação que será cumprida. OBRIGAÇÕES DE MEIO E DE RESULTADO A classificação das obrigações em relação à responsabilidade dos obrigados se mostrou bastante útil para apreciação, no caso concreto, de eventual adimplemento ou inadimplemento da obrigação. SEGUNDO ESSA CLASSIFICAÇÃO, EM UMA OBRIGAÇÃO DE MEIO, O DEVEDOR SE OBRIGA A EMPREGAR OS MELHORES ESFORÇOS PARA ATINGIR DETERMINADO OBJETIVO, AO PASSO QUE, EM UMA OBRIGAÇÃO DE RESULTADO, O DEVEDOR SE OBRIGA A ATINGIR UM RESULTADO ESPECÍFICO. Consequentemente, o não atingimento do resultado em uma obrigação desse gênero gera a presunção de culpa, pois só se considera adimplida a prestação com a efetiva produção do resultado prometido. Assim, cabe ao devedor o ônus de afastar a presunção de culpa e desconfigurar o inadimplemento. Já na obrigação de meio, o não atingimento do resultado não tem, por si só, o condão de atrair a presunção de culpa. Para que tal presunção seja configurada, depende da demonstração da falta de diligência e empenho nos esforços direcionados ao resultado. Assim, em uma obrigação dessa natureza, o devedor só será responsável se, independentemente do resultado, for demonstrada a total ausência do comportamento exigido, e cabe ao credor comprovar essa ausência. Foto: Shutterstock.com. Exemplo usual de obrigação de meio é a do médico, o qual se obriga, via de regra, a empreender os melhores esforços e técnicas na prestação dos seus serviços, visando o bem-estar e a saúde do paciente, mas não assumindo obrigação de alcançar a cura de certa doença, por exemplo. Foto: Shutterstock.com. Já no caso de cirurgias estéticas, o posicionamento majoritário na jurisprudência é de que o médico assume uma obrigação de resultado, pois não é razoável supor que alguém se submeta a um procedimento cirúrgico eletivo e com finalidade embelezadora sem a perspectiva desse resultado. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. EM UM CONTRATO DE LOCAÇÃO, MARCELO ALUGA SEU ESQUI AQUÁTICO PARA ANA, ISABELA E PAULA PASSAREM UM FINAL DE SEMANA NA REGIÃO DOS LAGOS NO RIO DE JANEIRO. ENCERRADO O PRAZO CONTRATUAL, MARCELO, ALÉM DE NÃO RECEBER SEU ESQUI AQUÁTICO, TAMBÉM NÃO RECEBE O DEVIDO PAGAMENTO. DIANTE DESSE CENÁRIO, MARCELO A) poderá exigir o pagamento de Ana, Isabela e Paula, mas somente poderá exigir o pagamento ao equivalente de um terço de cada uma. B) deverá ingressar com ações indenizatórias em apartado,exigindo a proporção de um terço de cada uma individualmente. C) deverá obrigatoriamente acionar as três partes para que cheguem a um acordo entre elas sobre quem deverá pagar. D) deverá obrigatoriamente acionar as três partes em ação própria, devendo-as figurar em litisconsórcio passivo. E) poderá, a seu critério, exigir o pagamento a qualquer uma das partes, total ou parcialmente, da dívida comum a todas. 2. AMANDA, CÉLEBRE AMAZONA, DECIDE ADQUIRIR UM NOVO CAVALO PARA REALIZAÇÃO DE UMA COMPETIÇÃO DE EQUITAÇÃO EM SUA CIDADE LOCAL. ASSIM, FIRMA CONTRATO DE COMPRA E VENDA COM JORGE E LUÍS, PROPRIETÁRIOS DE UM JOVEM CAVALO. REALIZADA A TRANSMISSÃO DO VALOR DEVIDO, JORGE E LUÍS NÃO TRANSFEREM A AMANDA O EQUINO NO PRAZO ACORDADO. DIANTE DA CIRCUNSTÂNCIA DE SE TRATAR DE OBRIGAÇÃO INDIVISÍVEL, AMANDA PODERÁ A) escolher apenas entre Jorge ou Luís a exigência do cumprimento da obrigação. B) exigir a entrega do cavalo de qualquer um, em razão de ambos estarem obrigados à coisa suscetível de avaliação econômica. C) requerer necessariamente o cumprimento às duas partes simultaneamente, por estarem obrigados à entrega de objeto indivisível. D) ingressar somente com ação de litisconsórcio passivo, em razão da indivisibilidade da obrigação. E) demandar o cumprimento de apenas uma das partes, autorizando a parte demandada a exigir a prestação pecuniária na proporção que entender devida à outra parte. GABARITO 1. Em um contrato de locação, Marcelo aluga seu esqui aquático para Ana, Isabela e Paula passarem um final de semana na Região dos Lagos no Rio de Janeiro. Encerrado o prazo contratual, Marcelo, além de não receber seu esqui aquático, também não recebe o devido pagamento. Diante desse cenário, Marcelo A alternativa "E " está correta. De acordo com o expresso comando legal do art. 275, quando se trata de obrigações complexas subjetivas, em relação aos sujeitos passivos, o credor pode requerer o cumprimento da obrigação em face de qualquer uma das partes, a seu critério, total ou parcialmente. Isso ocorre porque trata-se de obrigação indivisível. 2. Amanda, célebre amazona, decide adquirir um novo cavalo para realização de uma competição de equitação em sua cidade local. Assim, firma contrato de compra e venda com Jorge e Luís, proprietários de um jovem cavalo. Realizada a transmissão do valor devido, Jorge e Luís não transferem a Amanda o equino no prazo acordado. Diante da circunstância de se tratar de obrigação indivisível, Amanda poderá A alternativa "B " está correta. Em se tratando de obrigações complexas — com pluralidade de devedores — indivisíveis, compete ao credor exigir o cumprimento a qualquer uma das partes, pois todas estão obrigadas pela dívida toda, em razão da patrimonialidade das obrigações. MÓDULO 3 Identificar obrigações civis, naturais e reais e seus efeitos OBRIGAÇÕES NATURAIS, REAIS E CIVIS Como já referido, em uma perspectiva exclusivamente jurídica, o termo obrigação pode ser compreendido em sentido amplo, significando dever jurídico, ou em sentido estrito, quando empregado para indicar tecnicamente a especial relação jurídica obrigacional, a obrigação civil. COMENTÁRIO Os módulos anteriores dedicaram-se ao tratamento de aspectos selecionados da obrigação em sentido estrito, com destaque para sua estrutura, função, características e algumas espécies. Neste módulo, vamos concentrar na compreensão e na distinção entre outras obrigações reconhecidas pelo nosso ordenamento jurídico, as obrigações naturais e as obrigações reais. Retornamos, portanto, para a ideia de obrigação jurídica, enquanto gênero, para destacar as características e as especificidades das obrigações naturais e das obrigações reais em contraposição às obrigações civis. RELEMBRANDO Como visto anteriormente, as obrigações civis são estruturalmente conformadas por três elementos essenciais: elemento subjetivo, elemento objetivo e vínculo jurídico. Cada um desses elementos possui especificidades próprias, e a união de todos esses elementos permite o estabelecimento da relação jurídica obrigacional, formando a obrigação civil. Veremos a seguir que é justamente a alteração nesses elementos, mais precisamente, a falta de um deles, que descaracterizará a obrigação civil e configurará a espécie obrigação natural ou obrigação real. OBRIGAÇÕES NATURAIS OBRIGAÇÕES NATURAIS Antes de iniciarmos o tópico, vamos acompanhar a especialista conceituando obrigações naturais, sua juridicidade, seus efeitos e se são exigíveis. Em sentido amplo ou geral, o termo obrigação pode ser compreendido como dever jurídico. Tal concepção ampla abarca os diversos tipos de obrigações jurídicas, civis, naturais e reais. As obrigações naturais ou imperfeitas são aquelas nas quais há um dever de prestar que não é exigível em razão da falta de coercibilidade. Entretanto, possui relevância e reconhecimento jurídico, posto que o seu cumprimento voluntário é reconhecido e tutelado pelo Direito. Foto: Shutterstock.com. EXEMPLO Podemos pensar em uma obrigação prescrita. Haverá o dever de prestar, mas não haverá mais a exigibilidade. Assim, o credor não poderá utilizar mais os meios coercitivos estatais para exigir a satisfação do seu crédito. No entanto, caso o devedor efetue voluntariamente o pagamento, não restará configurado o enriquecimento sem causa do credor, posto que o pagamento era devido e possuía título jurídico para tal, assim como não poderá o credor exigir a restituição, posto que o pagamento foi devido. A JURIDICIDADE DA OBRIGAÇÃO NATURAL E SEUS EFEITOS PRÁTICOS A juridicidade das obrigações naturais é evidenciada pelo fato de que o seu cumprimento voluntário é reconhecido e tutelado pelo ordenamento jurídico para impedir sua repetição e para proteção de terceiros. A peculiaridade dessa juridicidade está no fato de que a proteção jurídica da obrigação natural nasce após a sua extinção. Os pagamentos de dívida prescrita (ver art. 882, CC) , de obrigação ou de dívida de jogo (ver art. 814, CC) , por exemplo, não permitem a repetição. Ainda como exemplo do reconhecimento da juridicidade da obrigação natural, temos a vedação expressa à revogação por ingratidão de doação feita em cumprimento de obrigação natural (ver art. 564, III, CC) . Foto: Shutterstock.com. O reconhecimento da juridicidade da obrigação natural opera ainda importante função em prol da proteção de terceiros, consistente na inoponibilidade de pagamento de obrigação natural contra terceiros que possam ser prejudicados. COMENTÁRIO Por terceiro, compreende-se pessoa que não integra a relação jurídica em discussão — no caso, a obrigação natural —, mas que, em razão de integrar outra relação jurídica na qual também figura como sujeito passivo, o devedor da obrigação natural sofre prejuízos com o cumprimento voluntário da obrigação natural. A proteção dos terceiros prejudicados por cumprimento de obrigação natural se opera, por exemplo, com a equiparação do pagamento voluntário aos atos gratuitos, passíveis de impugnação por ação pauliana (ver art. 158, CC ) ou de outras ações subrrogatórias (ver art. 346, CC) . A INEXIGIBILIDADE DA OBRIGAÇÃO NATURAL As obrigações naturais são despidas da coercibilidade, impedindo a exigibilidade do seu cumprimento. Portanto, embora tenham caráter de dever de prestar, não configuram uma obrigação jurídica e, exatamente por isso, são também denominadas por obrigações imperfeitas ou degeneradas. RELEMBRANDO No módulo 1, apresentamos o elemento objetivo da obrigação civil e destacamos que o objeto da relação jurídica obrigacional deveria preencher alguns requisitos, dentre eles, o da patrimonialidade. Além disso, ressaltamos que esse mesmo elemento objetivo compreendia o débito (shuld) e a responsabilidade (haftung). A peculiaridade da obrigação natural — e também o seu caráter distintivo da obrigação civil — é justamente a ausência da responsabilidade (haftung), que surge com o inadimplemento da obrigação. É, portanto, um dever sucedâneoà configuração do inadimplemento. Nas obrigações naturais ou imperfeitas, o débito não está atrelado à responsabilidade, seja do próprio devedor ou de um terceiro que a tenha assumido. Assim, apesar da existência do débito, esse não é mais exigível, o que significa dizer que não há responsabilidade pelo seu não cumprimento. Importante destacar que, em uma obrigação civil, o débito e a responsabilidade podem não recair sobre a mesma pessoa, e isso não caracteriza uma obrigação natural. A rigor, é perfeitamente possível que os elementos débito e responsabilidade incidam sobre pessoas diferentes, pois a garantia pelo cumprimento de determinada obrigação pode ter sido assumida por terceiro, alheio à relação obrigação. Por exemplo, é o caso do fiador. Nesses cenários, ainda que o terceiro não seja obrigado pelo débito, ele responde com seu patrimônio por eventual inadimplemento e resta configurada uma obrigação civil. Foto: Shutterstock.com. RESUMINDO Em síntese, a obrigação natural é aquela em que existe um débito sem a responsabilidade (de qualquer agente) e na qual se verifica o cumprimento ou reconhecimento voluntário por parte do devedor, mas sem a configuração de mera liberalidade, posto que o débito existe. OBRIGAÇÕES REAIS As obrigações reais são também denominadas por obrigações propter rem, ob rem ou ambulatórias. A especificidade das obrigações reais é a vinculação de uma pessoa em decorrência de uma situação dessa mesma pessoa com um bem ou uma coisa. São obrigações que recaem sobre uma pessoa em razão da titularidade de um direito real. Assim, o fundamento das obrigações reais é um direito real. AS OBRIGAÇÕES REAIS SÃO, POR ISSO, ACESSÓRIAS DE DIREITOS REAIS: IMPÕEM AO PROPRIETÁRIO DE ALGUM DIREITO REAL SOBRE O BEM (PROPRIEDADE, POSSE OU OUTRO DIREITO REAL DE GOZO) UM DEVER DE PRESTAR OU UMA OBRIGAÇÃO EM DECORRÊNCIA DESSA MESMA TITULARIDADE E CUJO FUNDAMENTO PRINCIPAL REPOUSA NA NECESSIDADE DE HARMONIZAÇÃO DO EXERCÍCIO DE DOIS OU MAIS DIREITOS REAIS INCIDENTES SOBRE A MESMA COISA OU SOBRE COISA VIZINHA. A estrutura da relação jurídica de uma obrigação real é a mesma de uma obrigação civil. Naquela, teremos credor e devedor, o objeto que será a prestação específica de dar ou de fazer, e o vínculo jurídico que será determinado pela titularidade da coisa. EXEMPLO Configura uma obrigação real o dever do proprietário (devedor) de pagar ao possuidor de boa-fé (credor) as benfeitorias necessárias e úteis realizadas na coisa durante a posse (art. 1219, CC), cabendo ainda o direito de retenção da coisa enquanto não for satisfeito o crédito. Figura jurídica próxima à da obrigação real, mas sem com ela se confundir, é a da situação de ônus reais, que representa um conjunto de deveres a prestar acessórios aos direitos reais, configurando um encargo derivado do direito real. Assim como as obrigações reais, os ônus reais são acessórios e atrelados a um direito real. A distinção, embora sutil, é importante: ÔNUS REAIS Os ônus reais aderem à coisa, e o devedor será aquele que for o titular do direito real principal, independentemente do momento da constituição da dívida, respondendo, portanto, inclusive por débitos anteriores. Isso ocorre na obrigação de pagar os impostos cujo fato gerador seja a propriedade, como o caso do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). OBRIGAÇÕES REAIS Já as obrigações reais são devidas a partir do momento de sua constituição, e a responsabilidade é daquele que era o seu titular no momento da ocorrência do fato gerador. A primeira providência a ser tomada antes da aquisição de um imóvel, por exemplo, é a verificação de toda a sua documentação, incluindo as certidões de ônus reais e a existência ou não de débito condominial, por exemplo. Tal preocupação se justifica em razão da natureza real dessas obrigações, seja para a correta indicação da responsabilidade, no caso de obrigações reais, seja porque, no caso dos ônus reais, ainda que a dívida tenha sido constituída antes da aquisição do bem, a obrigação recairá sobre o titular, inclusive sob pena de perda do próprio bem. javascript:void(0) javascript:void(0) Foto: Shutterstock.com. A título de ilustração: O direito condominial expressamente impõe obrigações reais. Nesse sentido, os condôminos concorrem proporcionalmente com as obrigações de despesas intrínsecas à coisa (ver art. 1.315, CC), assim como o adquirente de unidade em condomínio edilício responde pelos débitos existentes em relação ao condomínio, incluindo aqueles constituídos antes da transferência de titularidade (ver art. 1.345, CC). Porém, sendo a dívida de condomínio uma obrigação real, poderá o adquirente acionar o antigo proprietário para cobrar os valores de dívida anterior à transmissão da propriedade (ver art. 502, CC). VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. APÓS ENCONTRAR SUCESSIVAS COBRANÇAS DO BANCO X COM RELAÇÃO A UMA ANTIGA DÍVIDA, OTÁVIO ENTENDE QUE É MELHOR QUITÁ-LAS APÓS CONSEGUIR TER UMA MELHORA EM SUA SITUAÇÃO FINANCEIRA. APÓS A REALIZAÇÃO DO PAGAMENTO, OTÁVIO DECIDE REFLETIR UM POUCO MAIS ACERCA DE SUAS DÍVIDAS E CHEGA À CONCLUSÃO DE QUE ESTAVAM PRESCRITAS HÁ PELO MENOS DOIS ANOS. IRRESIGNADO, OTÁVIO DECIDE RECLAMAR A DEVOLUÇÃO DO DINHEIRO. DIANTE DESSE CENÁRIO, É POSSÍVEL CONCLUIR QUE A) Otávio poderá reaver seu dinheiro, pois a dívida estava prescrita, desnaturalizando qualquer relação obrigacional. B) Otávio não poderá reaver seu dinheiro, pois o prazo prescricional é inferior a dez anos. C) Otávio poderá reaver seu dinheiro, pois o Banco X agiu de má-fé ao ter aceitado o recebimento do dinheiro. D) Otávio não poderá reaver seu dinheiro, pois não há repetibilidade de dívida prescrita. E) Otávio poderá reaver seu dinheiro, pois se trata de obrigação natural, sem força coercitiva da ordem jurídica. 2. EM UM PRÉDIO RESIDENCIAL LOCALIZADO NA ZONA SUL DO RIO DE JANEIRO, APÓS FORTE VENTANIA, AS VIDRAÇAS DO CORREDOR DO 7º ANDAR FORAM VERGASTADAS DESTRUINDO VASOS E OUTROS OBJETOS QUE ESTAVAM ALI PRESENTES. COMO APENAS CARLOS POSSUÍA APARTAMENTO COM VISTA PARA O MAR, OS VIZINHOS ENTENDERAM QUE A OBRIGAÇÃO LIGADA À RESTAURAÇÃO CABERIA A SOMENTE ELE, NÃO SENDO JUSTO EXIGIR DOS DEMAIS. NESSE CENÁRIO, CARLOS A) deve anuir com a observação dos vizinhos, pois, ainda que não tenha agido com culpa ou dolo, trata-se de um ônus relativo à sua unidade imobiliária. B) deve assumir a integralidade da obrigação, podendo requisitar posteriormente eventual desconto na quota de seu condomínio. C) não deve acatar o pleito dos vizinhos, pois os condôminos concorrem com as despesas pela conservação, à sua proporção devida. D) deve pagar com pelo menos metade das despesas e exigir que o síndico demande dos demais condôminos os outros 50%. E) não deve acatar o pleito dos vizinhos, pois como se trata de evento de força maior, a obrigação pelas despesas deverá ser arcada pela prefeitura. GABARITO 1. Após encontrar sucessivas cobranças do Banco X com relação a uma antiga dívida, Otávio entende que é melhor quitá-las após conseguir ter uma melhora em sua situação financeira. Após a realização do pagamento, Otávio decide refletir um pouco mais acerca de suas dívidas e chega à conclusão de que estavam prescritas há pelo menos dois anos. Irresignado, Otávio decide reclamar a devolução do dinheiro. Diante desse cenário, é possível concluir que A alternativa "D " está correta. Em razão da prescrição da dívida, ainda que seja uma obrigação natural, por isso, desvinculada de força jurídica, uma vez paga voluntariamente pelo devedor, há efetiva irrepetibilidade dos valores pagos, nos termos do art. 882 do Código Civil. 2. Em um prédio residencial localizado na Zona Sul do Rio de Janeiro, após forte ventania, as vidraças do corredor do 7º andar foram vergastadas destruindo vasos e outros objetos que estavam ali presentes. Como apenas Carlos possuía apartamento com vista para o mar, os vizinhos entenderam que a obrigação ligada à restauração caberia a somente ele, não sendo justo exigir dos demais.Nesse cenário, Carlos A alternativa "C " está correta. Por se tratar de obrigação pela conservação do condomínio, todos os condôminos concorrem com a obrigação de conservar a coisa, dentro de suas respectivas proporções, devendo suportar o ônus a que estiverem sujeitos, nos termos do art. 1.315 do Código Civil. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Como vimos, a obrigação jurídica configura um especial dever jurídico, o dever de prestar, assumindo, portanto, função basilar de todas as relações privadas patrimoniais, o que indica a sua grande relevância jurídica. Destacamos os elementos estruturantes da relação e as suas características, bem como a função da relação obrigacional. Apesar do entendimento de que todo o fenômeno jurídico deva ser compreendido e tratado em sua integralidade, reconhece-se que as classificações exercem importante função metodológica, pois facilitam a compreensão do tema e a sua sistematização. Nessa perspectiva, apresentamos as principais classificações das obrigações, utilizando como parâmetro os seus elementos essenciais e destacando as suas peculiaridades e efeitos principais. Nesse contexto, foram ressaltadas as distinções entre obrigações de meio e de resultado e as implicações para fins de responsabilidade civil. Sobre as obrigações naturais, destacou-se a ausência de coercibilidade, o que a descaracteriza como obrigação civil. As obrigações reais, por sua vez, têm a especificidade de serem acessórias a um direito real, o qual também é o seu fato gerador. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS GOMES, O. Obrigações. E-book. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. GONÇALVES, C. R. Direito Civil brasileiro: teoria geral das obrigações. v. 2. E-book. São Paulo: Saraiva, 2019. KONDER, C. N.; RENTERÍA, P. A funcionalização das relações obrigacionais: interesse do credor e patrimonialidade da prestação. Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, 2012. Consultado na internet em: 24 jun. 2021. MIRAGEM, B. Direito Civil: Direito das Obrigações. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2021. E-book. MONTEIRO, W. de B. Curso de Direito Civil. v. 3. São Paulo: Saraiva, 1982. RIZZARDO, A. Direitos das Obrigações. 9. ed. E-book. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2018. SILVA, C. V. do C. e. A obrigação como processo. Rio de Janeiro: FGV, 2006. STOLZE, P.; FILHO, R. P. Novo curso de Direito Civil: obrigações. v. 2. E-book. São Paulo: Saraiva, 2019. TARTUCE, F. Direito Civil: Direito das Obrigações e responsabilidade civil. v. 2. E-book. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2021. TEPEDINO, G. Fundamentos do Direito Civil: obrigações. v. 2. E-book. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2020. EXPLORE+ Para se aprofundar no Direito das Obrigações estudo neste conteúdo, leia: O artigo As obrigações e os contratos, de Ruy Rosado Aguiar Júnior, publicado na Revista CEJ em 1999 O livro Instituições de Direito Civil – Volume 2, de Caio Mário da Silva Pereira, publicado pela Editora Forense em 2013. O livro Código Civil Interpretado conforme a Constituição da República: parte geral e obrigações (arts. 1º a 420) – Volume 1, de Gustavo Tepedino, Heloisa Helena Barboza e Maria Celina Bodin de Moraes, publicado pela Editora Renovar em 2007. CONTEUDISTA Fernanda Paes Leme Peyneau Rito
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