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De batalhas a ballets

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UM PASSEIO POR MILÃO: DE BATALHAS A BALLETS
 Nina Vasconcelos Guimarães1
Resumo
 Neste artigo a autora apresenta uma visão abrangente da Escola de Milão, desde 
sua formação até o momento onde o Grupo original se dissolve, evidenciando o período 
dos três guias condutores de sessão. Prossegue enfatizando as idéias desenvolvidas 
por Boscolo e Cecchin após a década de 80 sobre o tempo, a irreverência e os 
preconceitos na prática clínica.
 Palavras-chave: princípios condutores; tempo; irreverência e preconceitos.
Abstract
 In this article the author presents a large vision of the Milan Approach, since the 
beggining until the moment when the original Group divided, highlighting the systemic 
guiding principles of the session. Continues emphasizing the ideas developed by 
Boscolo and Cecchin after 80s about timig, irriverence and prejudices in clinical 
practice.
 Key words: guiding principles; timing; irreverence and prejudices.
 
 
A Evolução do Grupo de Milão
 O Grupo de Milão iniciou os seus trabalhos na década de 70 adotando a abordagem 
psicanalítica às famílias, mesmo quando o problema era apresentado por apenas um de seus 
membros (o paciente identificado). Nessa época, um grupo de oito psiquiatras, conjuntamente a 
Boscolo, Cecchin e Selvini, tinham o propósito de tratar crianças com sérios distúrbios, incluindo 
seus familiares. Os resultados não foram promissores, embora as famílias continuassem a 
comparecer às sessões. Depois dessa fase, o Grupo sofreu influências do método adotado por 
Palo Alto e, em particular, pelo livro “Pragmática da Comunicação Humana” (Watzlawick, Beavin & 
Jackson, 1967), que seguia as idéias do antropólogo Gregory Bateson.
 1 Psicóloga, Terapeuta de Família, Mestra em Família na Sociedade Contemporânea (UcSal-
Ba). Professora e Supervisora dos cursos de Graduação e Pós-Graduação da Faculdade Ruy 
Barbosa (FRB – Salvador-Ba) e Diretora do Instituto Humanitas de pesquisa e intervenção em 
sistemas humanos (Salvador - Ba).
2
 O método de Palo Alto baseava-se, até então, no modelo sistêmico e na Cibernética de 1ª 
Ordem, que considerava o observador separado da realidade observada, embora incluísse o 
contexto relacional no qual o sintoma emergia. A terapia era oferecida a toda a família, mesmo que 
o problema fosse apresentado por apenas um de seus membros – o paciente identificado. Durante 
toda a década de 70, Selvini, Prata, Boscolo e Cecchin se separaram do grupo original, atendendo 
a uma média de duas famílias por dia. Antes da sessão, a equipe se reunia atrás de um espelho 
uni-direcional, onde formulava hipóteses a respeito dos dados obtidos previamente sobre a família 
(pré-sessão). Um casal de terapeutas prosseguia com a sessão até que fosse interrompida para 
serem discutidos com a equipe os fatos transcorridos no atendimento, em um intercâmbio de idéias 
(inter-sessão). Segundo Boscolo e Bertrando (1996a), a equipe tinha a função de formular uma 
hipótese sistêmica sobre a maneira como a família se organizava em torno do sintoma e de 
preparar uma intervenção final, “que consistia em uma reformulação, uma prescrição com uma 
tarefa que deviam realizar em casa, ou um ritual ...” (p. 86). Após a intervenção final, a equipe se 
reunia na pós-sessão para analisar os efeitos desta sobre a família e planejar a sessão 
subseqüente.
 O objetivo da terapia era eliminar os padrões rígidos de comportamentos disfuncionais dando 
espaço para que surgissem novas configurações mais saudáveis, por meio da conotação positiva2 
e dos rituais familiares3 . O livro “Paradoxo e Contraparadoxo” (Selvini Palazzoli, Boscolo e outros, 
1975), descreveu o trabalho realizado com quinze famílias, com um membro diagnosticado 
2 Conotação positiva é uma mensagem através da qual o terapeuta indica à família que o problema 
é lógico e significativo dentro de seu contexto, sugerindo um bom motivo para um comportamento 
negativo. (In Terapia Familiar Sistêmica de Milão, 1993).
3O ritual é um ato que vincula um significado simbólico com um aspecto formal definido: a 
sequência e a ordem dos atos são, ao menos, tão importantes quanto os significados expressos. 
Em culturas tradicionais o ritual é um conjunto de gestos socialmente prescritos que se vive com 
intensidade autêntica. Um dos tipos de rituais implica na repetição e assinala uma continuidade e 
regularidade no curso do tempo. Os rituais familiares perpetuam o sistema de crenças e de 
significados da família e consolidam seus vínculos com as gerações passadas, sendo transmitidos 
de uma família para outra, criando continuidade com relação ao passado, regulando o passar do 
tempo e condicionando a evolução futura. Os rituais familiares, além de introduzirem significados e 
emoções, introduzem comportamentos novos. O fato de que todos os familiares participam propicia 
a aparição de uma nova perspectiva de si mesmos e dos outros (In Boscolo & Bertrando, 1996b). 
3
esquizofrênico. Trabalhar com este tipo de família era como entrar em um labirinto, pois havia 
muita dificuldade para se chegar a hipóteses que fizessem sentido para os entes familiares e o 
resultado era um sentimento de confusão e frustração. Assim como para Bowen (1978),
 
o Grupo estudava os sintomas dentro de um jogo de três gerações. 
Neste jogo, o paciente identificado ocupava uma posição especial, de 
máxima desconformidade, com uma conseqüente sensação de incerteza 
e confusão. Para a compreensão do sintoma psicótico era fundamental a 
teoria do duplo vínculo (Bateson, Jackson & outros, 1956), baseada nos 
paradoxos resultantes da confusão dos níveis lógicos (Boscolo & 
Bertrando, 1996a, p. 87).
 O encontro terapêutico era descrito com uma terminologia influenciada pela Guerra Fria – 
“batalhas secretas”, “coalizões negadas”, “movimentos, “contra-ataques”, “táticas”, “jogadas” – com 
clientes e terapeutas sendo considerados adversários, embora o desafio à família fosse feito como 
em uma guerrilha, de forma indireta e camuflada. Vale ressaltar que este foi um período 
profundamente influenciado pela escola estratégica, cujo maior expoente era Jay Haley que muito 
explorou sobre questões relacionadas a hierarquia e poder nas relações familiares (Boscolo, 
Cecchin e outros, 1993).
 O terceiro momento de Milão corresponde ao período onde eles leram o livro do antropólogo 
Gregory Bateson “Passos para uma Mente Ecológica” (1972), o que permitiu a abertura para novos 
horizontes em torno de 1975. O conceito de mente como sistema e de sistema como mente, a 
noção de epistemologia cibernética e a introdução da semântica assumiram uma posição central 
que repercutiu em mudanças na prática clínica, favorecendo novas intervenções aos sistemas 
humanos. O desenvolvimento do questionamento circular foi um dos grandes responsáveis por tais 
mudanças. Foi o período de publicação do famoso artigo “Três Guias Condutores de uma Sessão: 
Formulação de Hipóteses, Circularidade e Neutralidade” (Selvini Palazzoli, Boscolo & outros, 
1980). Nesta produção, os autores tiveram como objetivo primário elaborar alguns princípios 
considerados fundamentais na condução de uma entrevista.
 O primeiro deles, a formulação de hipóteses, é um princípio que estabelece um ponto de 
partida para a investigação do terapeuta orientando suas idéias a respeito da família. Sua maior 
função consiste em levar para a família o inesperado, introduzir uma desordem ao sistema que lhe 
possibilite uma gama de novas informações e, conseqüentemente, uma mudança no mesmo. Ela 
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deve ser sistêmica, englobando todos os elementos de uma situação problema e a forma como 
eles se conectam, propondo uma explicação de suas relações, que não é nem verdadeira, nem 
falsa, mas sim um meio para a investigação. 
 Com a evolução das idéias de Milão a partir da Cibernéticade 2ª Ordem e do Construtivismo, 
a hipótese se tornou mais complexa e coletiva, na medida em que o terapeuta não a reduz a 
formulá-la apenas baseado em seus preconceitos, mas passa a considerar outros pontos de vista 
dos membros do sistema significativo ao redor do cliente – o trabalho, a escola, o bairro, as 
famílias de origem, etc. É importante avaliar sua utilidade e, durante as sessões, ir mudando para 
que o discurso seja enriquecido por pontuações diversas, além de evitar cair na “armadilha” da 
“hipótese verdadeira”, que introduz rigidez e paralisia ao discurso. Além disso, elas (as hipóteses) 
deixaram de pertencer à mente do terapeuta, como um constructo particular criado por ele, e 
passaram a fazer parte do contexto de interação de onde emergem, fruto da intersubjetividade. 
Boscolo e Bertrando (1996 a) afirmam que
as hipóteses emergem da interação recursiva entre terapeutas e 
clientes. Neste sentido, ser ‘realmente batesoniano’ significa não atribuí-
las nem ao terapeuta, nem ao cliente, mas a ambos [...] Nos anos 
Setenta a hipótese pertencia à mente do terapeuta, enquanto que hoje, 
ela pertence, sem sombra de dúvidas, ao contexto de interação (p. 90).
 
 A circularidade, por sua vez, consiste na capacidade de o terapeuta conduzir uma investigação 
com base no feed-back dado pela família a respeito de relacionamentos, diferença e mudança, 
fazendo-o pensar não em termos de fatos, mas sim de relações, verificando as suas hipóteses. A 
noção de circularidade permite que o terapeuta observe os integrantes do sistema familiar em um 
circuito relacional interligado e recursivo composto por padrões comportamentais vivenciados por 
seus membros. Nesse momento, questiona-se a linearidade dos eventos que ocorrem com uma 
família, uma vez que a “responsabilidade” do sintoma recai sobre o sistema em sua cadeia de 
interação circular, descartando a idéia de que um único membro da família possa ser visto como o 
problemático. O terapeuta é considerado como um técnico que pontua os “defeitos” familiares e 
aponta os recursos para que eles possam “regularizar” e funcionar a partir de um padrão mais 
equilibrado. Um de seus artifícios é o questionamento circular – um convite a um membro da 
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família a falar de outros dois membros em presença deles, favorecendo a metacomunicação, 
muitas vezes ausente em famílias disfuncionais.
 As perguntas ou questionamentos circulares – que não devem ser confundidas com o conceito 
de circularidade – situam cada membro da família como observador de pensamentos, emoções e 
comportamentos dos outro, criando, desta forma, na terapia, uma comunidade de observadores. 
Assim, a informação mediante as perguntas circulares é recursiva. Tanto a família como o 
terapeuta mudam constantemente sua própria compreensão diante das informações obtidas de 
outros membros. Elas foram sendo aprimoradas a tal ponto que passaram a ser consideradas 
verdadeiras intervenções, talvez uma das mais importantes para o terapeuta sistêmico.
 Por último, o princípio da neutralidade é um tipo de conduta estabelecida pelo terapeuta que 
diz respeito a não se aliar a nenhum membro em especial e não fazer nenhum julgamento sobre os 
comportamentos expressos na sessão. É o que permite ao terapeuta se manter em uma posição 
hierarquicamente superior sem implicações autoritárias. Como afirma Cecchin (1996), “a 
neutralidade pode ser entendida como uma metáfora para uma posição de ‘poder’ do terapeuta (p. 
219). Nesta época, o autor propôs uma “correção” para o termo estratégico de neutralidade, 
substituindo-o pela postura estética de curiosidade. Ao invés de buscar os “porquês” e as causas 
ligadas aos jogos de poder e controle, o terapeuta curioso se interessa pela qualidade estética de 
encaixes na interação. Adotar uma postura estética com relação ao estudo das interações significa 
enfatizar uma multiplicidade de padrões. Conforme defende Cecchin (1997), “enquanto há uma 
pluralidade de alternativas, somos capazes de nos manter em um estado de curiosidade” (p. 2). 
Ainda com relação à postura estética,
ela se baseia na noção de que cada sistema tem sua própria lógica de 
interação. Esta lógica não é nem boa nem má, nem certa, nem errada. 
Ela é simplesmente operativa. Dentro desta perspectiva nós respeitamos 
a integridade do sistema. E, recursivamente, nosso respeito pelo sistema 
amplia nossa curiosidade sobre idéias, comportamentos e eventos que 
participam da criação e manutenção da integridade do sistema (p. 3).
 Portanto, o autor (1996) diz que “a curiosidade é uma posição terapêutica que dá oportunidade 
para a construção de novas formas de ação e interpretação” (p. 220). Em 1987, Cecchin faz um re-
leitura do artigo original dos três guias condutores de sessão, tentando corrigir o conceito de 
neutralidade, convidando à curiosidade. Ele propõe descrever neutralidade como a criação de um 
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estado de curiosidade na mente de um terapeuta, permitindo explorações e invenções alternativas 
através de manobras que geram mais curiosidade. De maneira recursiva, neutralidade e 
curiosidade contextualizam uma à outra em um circuito que envolve diferenças, com um 
concomitante desapego a qualquer posição particular. 
 Outros autores (Tomm, 1984; Campbell, 1991) avançaram com relação às idéias originais 
sobre este princípio. Para eles, a neutralidade deve ser exercitada não apenas com as pessoas ou 
idéias presentes no sistema, mas também com as referentes às mudanças pré-estabelecidas pelo 
terapeuta. Tomm (1984 citado por Boscolo & Bertrando, 1996a) acredita que a posição correta do 
terapeuta é de se manter neutro com relação à própria mudança: “o terapeuta evita tomar uma 
posição clara a favor ou contra qualquer outro resultado específico em termos de 
comportamento.” (p. 92). Estes três guias de condução de sessão ampliam a capacidade do 
terapeuta de obter informações, relacioná-las e promover intervenções úteis à família. Assim, 
Boscolo, Cecchin e outros (1993) afirmam que “a elaboração de ‘hipóteses’ implicava em um 
processo de avaliação; o ‘questionamento circular’, em uma técnica de entrevista; e a 
‘neutralidade’, em uma postura básica do terapeuta”. (p. 24).
 No início da década de 80, a Equipe de Milão passou a incluir o sistema de observação no seu 
repertório, dando um passo importante em direção ao trabalho com famílias, uma vez que forçou o 
terapeuta a se incluir no sistema que operava. Diante dos pressupostos defendidos pela 
Cibernética de 2ª Ordem, a situação mudou – a impossibilidade de separar observador e 
observado – e o observador-terapeuta, não podendo mais ser neutro com relação a si mesmo, aos 
seus preconceitos e às suas idéias, passa a fazer parte do sistema, se posicionando nele a partir 
de suas próprias premissas. 
 Nessa época (1979), o Grupo de Milão se dividiu. Selvini Palazzoli e Prata continuaram suas 
pesquisas sobre família fora do Grupo, trabalhando com patologias raras, como anorexia e 
psicose, tentando “descobrir” possíveis organizações familiares (jogos) baseados em uma 
investigação de Primeira Ordem. Em 1983, Selvini, Cirillo, Mateo e Sorrentino formaram uma 
equipe que continuou a investigar tipologias familiares, cujos resultados foram publicados no livro 
“Jogos Psicóticos na Família” (1988).
 Boscolo e Cecchin começaram a dar cursos de formação sobre terapia familiar sistêmica a 
profissionais de diversos âmbitos, em sua maioria, em centros públicos. Assim, a investigação foi 
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transferida da família para a formação e para a terapia. Os papéis, por isso, passaram a ser mais 
complexos: por exemplo, um professor podia, em um determinado momento, assumir o papel de 
terapeuta, de professor e de supervisor. No início dos anos 80, os autores expandiram seus 
modelos de terapia, formação e supervisão pelos EUA e Europa, aplicando o “método de Milão” em 
consultas, seminários, encontros e work-shops.Alguns encontros pessoais foram extremamente 
marcantes para eles: com Maturana (1987), que deu um lugar central para o observador e refletiu 
sobre a autonomia das organizações de sistemas vivos e, conjuntamente a Varela (1980), afirma 
que a realidade emerge na linguagem através do consenso, influenciando, desta forma, a 
percepção que imperava até então, de que as operações instrutivas provocavam mudanças diretas 
no sistema vivo. Esta concepção foi descartada quando se admite que o sistema responde 
segundo a sua própria organização e conforme a sua história; com Von Foerster (1981), que 
introduziu o conceito de Cibernética de 2ª Ordem, incluindo o observador na descrição do 
observado e com Von Glasersfeld (1996), que abriu caminhos para os conceitos do Construtivismo 
Radical. Como conseqüência destes encontros, houve uma superação do marco de família para o 
de sistemas humanos mais amplos em interação. 
 A terapia, coerente com os princípios do Construtivismo e da Cibernética de 2ª Ordem, passou 
a privilegiar “o intercâmbio de informações, emoções e significados entre terapeutas e clientes; ou 
seja, mais o processo terapêutico do que a intervenção final” (Boscolo & Bertrando, 1996a, p. 
91-92). O terapeuta e a equipe começaram a levantar hipóteses sobre o sistema significativo 
relacionado ao problema apresentado, isto é, o sistema de relações entre as pessoas implicadas 
no problema (familiares de origem, escola, trabalho, profissionais envolvidos de centros de saúde a 
sanitários e o próprio terapeuta com suas premissas e seus preconceitos). O sistema significativo 
inclui todas as unidades que são ativadas na tentativa de aliviar os problemas trazidos para o 
terapeuta resolver. Assim, Boscolo, Cecchin e outros (1993) afirmam que
a visão de que a realidade é um constructo social e que nossas idéias 
sobre o mundo dependem do observador e que não são 
necessariamente acompanhadas por eventos e objetos ‘externos’, não é 
uma novidade, mas ganhou nova aceitação. Como resultado, idéias, 
crenças, mitos, valores, percepções, fantasias e outras produções 
‘internas’ saíram do exílio e estão cada vez mais em moda. (p. 33-34).
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 Boscolo e Cecchin (1993) sempre comentaram sobre as inúmeras influências que sofreram de 
Bateson e também de seus alunos, dos feed-backs que eles traziam de seus ambientes de 
trabalho. Como diz Boscolo (ibidem), “esta evolução conjunta entre formadores e estudantes leva-
nos a pensar em nós mesmos não como terapeutas familiares, mas como ‘consultores de 
sistemas’”. (p. 39). Desta forma, enquanto formadores, os mestres Boscolo e Cecchin não se 
reduziam a ensinar as técnicas, mas sim, uma maneira nova de ver e atuar – a epistemologia 
cibernética de Bateson. Os alunos deveriam permanecer atentos ao modelo de Milão, às técnicas 
aplicadas no Centro apenas como guias condutores que os permitisse adaptar às suas realidades 
contextuais, sem que consistissem em uma cópia mecânica do que aprendiam e representassem 
“marionetes milanesas”. A finalidade maior da formação era preparar o aluno para pensar e atuar 
de uma maneira sistêmica.
 Desta forma, o intercâmbio não ficou restrito a formadores e alunos, mas estendeu-se para 
outros modelos de terapia através das inúmeras viagens de Boscolo e Cecchin pelo mundo, ambos 
se debruçando sobre temas específicos que desenvolveram na década de 90: tempo e 
psicoterapia (Boscolo & Bertrando, 1993 org.; 1996b), Irreverência e Verdades e Preconceitos 
(Cecchin, Ray & Wendel, 1993; 1997). 
Novas Tendências da Escola de Milão
 A década de 90 para a Escola de Milão caracteriza-se pela continuidade do modelo sistêmico 
de derivação batesoniana, enriquecido pelas contribuições do Construtivismo, da Cibernética de 2ª 
Ordem e do Construcionismo Social, consideradas “lentes” privilegiadas do modelo de Milão, 
embora Boscolo e Cecchin incluíssem outras lentes, como a do tempo, da linguagem e da 
narrativa.
 A análise batesoniana permitiu ao modelo milanês superar a dicotomia, uma vez que está 
centrada na epistemologia cibernética baseada em circuitos recursivos que apresentam duas 
propostas de conexão entre observador e observado: para o Construtivismo, o indivíduo observa e 
constrói, e para o Construcionismo Social, “o observador e o observado são ao mesmo tempo 
‘construídos’ e construtores do contexto relacional e cultural em que existem” (Boscolo & 
Bertrando, 1996b p. 36).
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 Durante um determinado período, a Escola pensou em adotar uma outra teoria específica para 
a terapia individual que pudesse se acoplar à teoria sistêmica de família e casal, ou seja, criar um 
“repertório ideal” que suportasse o indivíduo e a complexidade intra-psiquíca, além do sistema 
relacional que o conecta a seus similares. Aos poucos a situação foi sendo esclarecida na medida 
em que Milão se permitiu sair da dicotomia indivíduo/família e psique/sistema. O terapeuta ficava 
livre para se posicionar de diferentes pontos de vista – de forma reducionista, a nível de padrões 
comportamentais, em nível das experiências ou em nível dos sintomas, etc. O fundamento é utilizar 
uma pluralidade de enfoques reducionistas sem perder de vista o enfoque holístico, onde a cada 
momento se trabalha com a inversão figura-fundo para adotar o holismo e o reducionismo, 
contrários ao extremismo. Assemelhar-se-ia a uma sinfônica onde alguns escolhem escutá-la como 
uma unidade ou como um conjunto de partes independentes, todas em harmonia entre si.
 O paradigma emergente da complexidade (Morin, 2003) permite uma visão e compreensão do 
mundo através de uma rede de teorias solicitadas pelo terapeuta a partir do caso e do momento 
em que o faz assumir uma perspectiva epigenética, que se constrói por acréscimo e não por 
negação do que existia antes. Trabalhar segundo a modalidade epigenética significa acreditar que 
cada mudança teórica ou prática está conectada ao tempo e às experiências precedentes que se 
mostraram úteis. Não se trata de uma modalidade de acúmulo de novas idéias baseadas em 
processos lineares causais, mas, ao invés disso, em um somatório de idéias no tempo, coerentes 
com uma visão sistêmica cibernética, onde conceitos e experiências se conectam recursivamente e 
em contínua evolução. É a partir desta visão que serão explorados os temas desenvolvidos por 
Cecchin e cols. (1993; 1997), sobre Irreverência e Preconceitos, e por Boscolo e Bertrando (1993; 
1996) sobre o Tempo e a Terapia Individual Sistêmica4.
 O tema da Irreverência Terapêutica, enquanto estratégia de sobrevivência, foi fruto da 
colaboração criativa de três terapeutas irreverentes de família: Cecchin, Ray e Wendel, que 
desafiaram os modelos e ideologias que encontraram em instituições, em relações inter-pessoais e 
em mentes de terapeutas.
4 Este tema foi previamente desenvolvido pela autora em co-parceria com Maria Goretti Mendes Cruz no 
artigo intitulado Dissonâncias na Terapia Individua Sistêmica publicado pela Revista Família e Comunidade 
vol.1 n.2 novembro de 2004 pelo NUFAC. Desta forma, qualquer interesse sobre o mesmo deverá ser 
encontrado no original, não sendo pretensão aborda-lo aqui.
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 A idéia de irreverência é uma das pedras angulares na evolução da teoria sistêmica elaborada 
pelo grupo originário da Escola de Milão, dando continuidade ao desenvolvimento dos conceitos de 
curiosidade e neutralidade. Consiste em uma postura mental de tipo reflexivo, que possibilita ao 
terapeuta agir sem ser iludido pelo controle, nunca se deixando seduzir por um único modelo. O 
terapeuta irreverente não se reduz a uma única teoria ou às regras impostas por seus clientes, por 
instituições e outros âmbitos onde trabalha. Ao invés disso, ele assume uma atitude irreverente que 
semeia confusão e incerteza no setting terapêutico, criando condições para que o cliente possa 
desenvolver modelos e pontos de vista diferentes, menos restritosdo que aqueles trazidos por ele 
no início da terapia. 
 Movendo-se entre modelos e mudando de opinião, a irreverência é uma espécie de 
elasticidade mental que nos permite abandonar idéias, hipóteses e convicções que em momentos 
anteriores eram consideradas “verdades”. No entanto, a irreverência é uma postura mental que só 
pode ser adotada depois de muito estudo e conhecimento. É apenas com a autonomia do saber, 
associada ao questionamento contínuo de suas crenças, convicções e esquemas pré-fixados, que 
o terapeuta e a família entram no circuito da irreverência.
 O segundo tema desenvolvido pelos autores diz respeito às verdades e preconceitos na 
prática clínica. Acreditando que a intervenção terapêutica depende do lugar onde se situa a pessoa 
que intervém – aquilo que um indivíduo diz e pensa depende da posição que ele ocupa no sistema 
de pertencimento – os autores afirmam ser imprescindível que o terapeuta tome consciência de 
seu mundo interno (valores, crenças, teorias e seus próprios preconceitos) para que possa assumir 
a responsabilidade por eles e utilizá-los na interação terapêutica (Cecchin & Cols., 1997). Assim 
definem preconceito como
uma série de fantasias, idéias, verdades assumidas, pressentimentos, 
noções, hipóteses, modelos, teorias, sentimentos pessoais, estados de 
ânimo e convicções camufladas: de fato, consiste em cada pensamento 
pré-existente que contribua, em um encontro com outros seres 
humanos, a formação do ponto de vista pessoal, das próprias 
percepções e ações. (p. 7).
 
 Os autores ressaltam não apenas a importância dos preconceitos dos terapeutas, mas 
também os dos clientes, uma vez que existem trocas entre eles de ações e expressões inspiradas 
e modeladas uns pelos outros. Logo, “o ‘coração’ da terapia não se constitui do conteúdo do 
preconceito, mas da relação dos preconceitos do cliente e do terapeuta” (Cecchin & Cols., 1997, p. 
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19). Ao citarem Rorty (1989) confirmam que “os preconceitos humanos são inevitáveis e se 
manifestam na linguagem”. (p. 7).
 Com a evolução da terapia familiar, e conseqüente interesse deslocado da pragmática para a 
semântica, o significado que as pessoas dão às suas experiências enquanto construções de 
realidades passou a ser considerado em primeiro plano. Desta forma, os preconceitos do terapeuta 
e do cliente, principalmente a relação estabelecida entre ambos, emerge do encontro terapêutico 
como um ponto de extrema relevância: “cada preconceito ou convicção merece ser examinado a 
fundo e submetido à revisão no contexto onde se encontra. Se um preconceito é isolado do 
contexto que lhe dá significado, a conversa é interrompida: o sistema (conversação, família, 
terapia, sociedade) se cristaliza” (Cecchin & Cols., 1997 p. 19). O terapeuta necessita reconhecer 
suas opiniões e ações e apresentá-las ao cliente não como verdades imutáveis, mas como 
construções pessoais derivadas de sua experiência de vida, que podem ser transformadas e 
utilizadas em prol da relação terapêutica. A arte de ensinar a terapia sistêmica requer o 
desenvolvimento de percursos inovadores que ajudem o terapeuta a perceber que suas idéias não 
são verdades abstratas, mas sim preconceitos derivados de sua experiência de vida, sujeitos as 
mudanças e úteis para a relação terapêutica. Quando os terapeutas se dão conta de seus próprios 
preconceitos e de que maneira eles podem vir a influenciar os outros (clientes, colegas, 
instituições, etc), torna-se mais fácil expressar os modelos, as hipóteses e técnicas como 
preconceitos e não como realidades incontestáveis a serem impostas. Cecchin e cols. (1997) 
confirmam a necessidade de considerar os preconceitos de acordo com uma ordem hierárquica, 
sendo importante “vê-los dentro do mesmo grupo, entre os indivíduos do grupo, no terapeuta, entre 
o terapeuta, seus colegas e a instituição e entre o terapeuta e o cliente.” (p. 17).
 Portanto, Cecchin e cols. (1993; 1997), influenciados pela visão novo-paradigmática, 
libertaram-se dos dogmas do profissionalismo tradicional ao proporem uma prática terapêutica 
irreverente, influenciada pelo espírito de curiosidade, pelo desejo, pela paixão, pela fantasia, pela 
invenção, pela criatividade e pela improvisação. Continuando nesta direção, os autores admitem 
duas condições, que recaem sobre o tema do preconceito: a primeira, de que o terapeuta é parte 
integrante do sistema que observa, e a segunda, que o terapeuta e a família criam uma realidade 
co-envolvente. Diante disso, eles abriram um campo de pesquisa referente aos valores e crenças 
12
tanto do terapeuta quanto da família, que denominaram preconceitos, e o quanto um influencia o 
outro, criando, desta forma, soluções imprevisíveis no contexto psicoterapêutico.
 Boscolo, por sua vez, resolveu aliar-se a Bertrando, em 1993, para aprofundar os estudos 
relacionados ao tempo. Apresentaram uma profunda investigação a respeito da dimensão temporal 
no funcionamento e na evolução de casais e famílias, ressaltando a distinção entre os tempos 
individual, social e cultural e o surgimento de dilemas, sofrimentos e patologias quando estas 
dimensões não estavam coordenadas. De acordo com eles (1996b), cada concepção temporal é 
verdadeira apenas se considerada no âmbito em que é descrita.
 Considerando o fator temporal como condição decisiva para o funcionamento familiar, os 
autores abordaram algumas das mudanças pelas quais este sistema passa como, por exemplo, o 
nascimento de um filho, a morte precoce de um ente familiar, a formatura do primogênito, etc. Além 
disso, enfatizaram alguns aspectos teórico-práticos de seus trabalhos: as vivências familiares ou 
do sistema terapêutico com respeito ao tempo, a utilização terapêutica dos rituais familiares, o 
tempo de duração das sessões e o intervalos entre elas.
 Os autores argumentaram ainda sobre o tempo e a mudança em psicoterapia. Segundo eles, 
o tempo necessário para que a terapia alcance as metas traçadas e se conclua depende da teoria 
utilizada pelo terapeuta – ela pode acelerar ou retardar a mudança. Os terapeutas orientados pela 
terapia breve tendem a criar um contexto terapêutico que facilita a conclusão da terapia em tempo 
limitado, enquanto que aqueles habituados à terapia de longa duração tendem a criar premissas 
para uma terapia prolongada e a observar sinais de melhora apenas após um longo período de 
trabalho. Cada teoria atribui um significado ao que se considera mudança terapêutica: algumas 
vêem como mudança de comportamento sintomático, outras, de premissas epistemológicas, 
outras, ainda, de conflitos inconscientes e, por fim, aquelas que acreditam em transformações na 
história do cliente.
 Uma outra questão desenvolvida pelos autores diz respeito à importância do terapeuta estar 
consciente do tempo e do ritmo da terapia: “a coordenação do tempo individual com o tempo do 
cliente, a ‘dança’ terapêutica, é um processo às vezes difícil... Naturalmente o terapeuta deverá 
estar consciente também da coordenação do tempo de seu cliente com aqueles de pessoas 
significativas que se conectam com ele” (Boscolo & Bertrando, 1996b p. 63).
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 Boscolo e Bertrando (1996a) analisaram também com profundidade a relação entre o 
observador e as três dimensões temporais – presente, passado e futuro – denominando-as de anel 
auto-reflexivo. Para eles, “presente, passado e futuro estão unidos em um único anel recursivo, 
onde cada tempo recebe seu significado a partir dos outros dois” (p. 101). A visão dos autores é a 
de estabelecer relações entre presente, passado e futuro, levando em consideração a variabilidade 
do horizonte temporal do cliente e suas possibilidades de evolução, embora considerando que a 
terapia sistêmica privilegia o tempo presente. Assim, dizem que
cada sistema tem uma história, um passado que contribui para definir os 
significados dos acontecimentos presentes;estes, por sua vez, definem 
o passado. Desta forma, cria-se um anel auto-reflexivo em que passado 
e presente se influenciam reciprocamente. O anel resulta mais complexo 
quando se leva em conta o futuro, que recebe o seu significado do 
passado e do presente e, por sua vez, influencia sobre eles: as 
expectativas, os planos, os projetos contribuem para dar um significado 
às ações presentes que, por sua vez, condicionam a seleção que a 
memória faz (o passado) (p. 100).
 É possível, portanto, sustentar que a terapia sistêmica ao estabelecer essa “dança” entre os 
tempos, utilizando hipóteses e questionamentos circulares, promove uma abertura de novos 
circuitos, idéias e perspectivas que geram novos mundos possíveis para o cliente. Os autores 
afirmam que “o nosso conhecimento do mundo exterior não é um simples reflexo de sua imagem, 
mas sim uma construção dinâmica do observador que compara o mundo ‘real’ com os mundos 
possíveis, introduzindo o tempo” (p. 103). Desta forma, a terapia não é apenas um contexto de 
aprendizagem, mas, acima de tudo, um contexto de deutero-aprendizagem (aprender a aprender).
Considerações Finais
 Percorrer os “corredores de Milão” apresentando esta “turnê” é comprovar o exercício da 
flexibilidade e pluralidade de opções que esta abordagem nos oferece. O modelo de Milão, ao 
adotar uma perspectiva epigenética, não se fixa a uma única teoria, pois apresenta uma série de 
horizontes que podem enriquecer a práxis.
 Inicialmente adotando o referencial psicanalítico, a Equipe logo percebeu a urgência de uma 
nova teoria que se adequasse às explicações dos fenômenos que ocorriam no interior do universo 
familiar. A abordagem sistêmica se impôs com excelência, ora assumindo uma postura de 
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Cibernética de 1ª Ordem, com terminologias bélicas de batalhas e manobras estratégicas, ora 
assumindo uma postura relacionada aos pressupostos de Cibernética de 2ª Ordem, incluindo a 
importância do observador, seus preconceitos e a linguagem como favorecedora de mundos 
possíveis, promovendo ao setting não mais uma guerra, e sim uma dança, um ballet repleto de 
diferentes coreografias a serem experimentadas pelo cliente. 
 Ao utilizar o modelo sistêmico, esta Escola exercita a criatividade e, sobretudo, oferece uma 
multiplicidade de soluções e caminhos a serem explorados. Para Milão, ser sistêmico significa
escutar ‘vozes’ dos nossos mestres e colegas mais inovadores, além das 
vozes da cultura [...] Um terapeuta sensível a estes aspectos [papéis 
sexuais, etnicidade, poder] pode se dar conta, estar mais consciente de 
seus preconceitos e das influências culturais que condicionam as suas 
descrições e explicações (Boscolo & Bertrando, 1996b p. 41).
 Ou ainda,
sermos capazes de sobreviver... às desilusões que confrontamos com as 
tragédias da vida. Devemos persistir sem perder a esperança, enxergar 
sempre os aspectos cômicos de situações absurdas e aparentemente 
impossíveis. Por isso, é importante alimentar nossa capacidade de nos 
entusiasmar e ganhar forças mesmo quando experimentamos o 
fracasso... [estas] são as nossas estratégias de sobrevivência. (Cecchin 
& cols. 1993 p. 93).
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Milão. Porto Alegre: Artes Médicas. 344 p.
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305 p. 
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realidad inventada. Barcelona: Gedisa. 41-61.
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