AÇÃO CIVIL PÚBLICA - seção 4 - NPJ constitucional

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EXCELENTÍSSIMO(A) Sr.(A) DR.(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ___a CÍVEL DA COMARCA DE CAICÓ - CEARÁ.
ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES UNIDOS DE CAICÓ, entidade civil de direito privado sem fins lucrativos, constituída em 01.12.2000, representada por seu presidente (estatuto em anexo), vem a este juízo, por sua advogada____________ in fine assinada (documento em anexo), inscrita na OAB ______, com escritório profissional à Rua ________________, (cidade) – (Estado), CEP__________, endereço eletrônico _________________, com fundamento no art. 129, III da Constituição Federal e na Lei nº 7.347/85, propor:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO LIMINAR
Em face de GUARARAPES ADM LTDA, pessoa jurídica de direito público, sediada à Rua_______________________________, nº____,bairro________, cidade____________, (Estado) e PREFEITURA MUNICIPAL DE CAICÓ, pessoa jurídica de direito público, sediada à Rua_______________________________, nº____,bairro________, Caicó, Ceará e pelos fundamentos de fato e de direito que se seguem:
I - DOS FATOS
No município de Caicó, Estado do Ceará localiza-se várias ruínas da época colonial portuguesa, as quais fazem parte do patrimônio histórico e cultural da cidade e entre elas e mais famosa “Colosseu”. 
O “Colosseu” é um ponto turístico de intensa visitação, que atrai turistas ao município. Este patrimônio é administrado pela empresa privada GUARARAPES ADM LTDA, a qual possui contrato vigente com a Prefeitura Municipal de Caicó.
Ocorre que desde o mês de setembro de 2017, a empresa tem deixado cumprir com a manutenção do local, o que tem levado a deterioração das ruínas, necessitando, portanto de sérios reparos.
A Prefeitura Municipal após oficiada a prestar informações e providências quanto a situação vivenciada, no dia 10.01.2018 informou que já havia diligenciado junto à empresa as providências cabíveis, mas que também não tinha obtido retorno. O prefeito também informou que em reunião com o responsável da referida empresa, lhe concedeu prazo para resolução do problema, porém o prazo decorreu sem cumprimento. 
O contrato firmado entre a Prefeitura e a empresa continua vigente mesmo com o descumprimento da contratação, sem que sejam tomadas as devidas providências para a revitalização do local, seja pela Prefeitura seja pela empresa privada responsável pela administração do local
II - DO DIREITO
1) DO CABIMENTO DA AÇÃO
A falta de manutenção e reparos no patrimônio histórico e cultural “Colosseu”, vem causando grave dano ao patrimônio histórico da cidade de Caicó, sendo este o objeto da presente ação, diante do qual, resta inquestionável o cabimento da presente ação, pois seu objeto encontra-se tutelado pela ação civil pública, nos termos da Lei 7.347/85, art. 1º, inciso III.
2) DA LEGITIMIDADE ATIVA 
Não há dúvidas de que ao caso em tela a parte autora possui legitimidade ativa para a propor ação civil pública, pois é uma associação constituída há 17 anos, fundada em 01.12.2000, que tem por objetivo resguardar direito difuso da população de Caicó, conforme Lei 7.374/85, art. 5º, inciso V, alínea “a” e “b”.
Nos autos encontra-se representada por seu presidente, conforme comprava-se pelo Estatuto em anexo.
 
3) DA LEGITIMIDADE PASSIVA
Conforme disciplina a Lei de Ação Civil Pública, poderão configurar no polo passivo, qualquer pessoa que cometa ato lesivo nos termos do art.1º, da referida lei, ou seja, nos presentes autos configura como sujeito passivo da ação a Empresa GUARARAPES ADM LTDA, bem como a Prefeitura Municipal de Caicó – Ceará, pelos fatos e razões a serem demonstrados.
4) FUNDAMENTAÇÃO DA AÇÃO 
Os interesses difusos são aqueles interesses metaindividuais ou transindividuais de natureza indivisível que devem ser sempre protegidos e tutelados pelo Poder Público.
Dentro desta definição enquadra-se o interesse da parte autora como também de todos os habitantes do Município de Caicó em conservar seu patrimônio histórico. 
A Constituição Federal menciona no art. 129, inciso III, os direitos transindividuais, entre eles os direitos fundamentais de 3º dimensão, ou seja, o direito a proteção do patrimônio público aqui vindicado.
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: 
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos. – grifei-
MM. Magistrado, é claro o desrespeito dos réus quanto ao direito difuso coletivo, restando a autora socorrer-se à intervenção do Poder Judiciário para assegurar a conservação do patrimônio histórico público a conservação da história da cidade de Caicó.
A proteção ao patrimônio histórico tem cunho constitucional, tratando a questão de forma minuciosa adotando a concepção de valor cultural de bens enquanto produto de cultura coletiva e tutelando a preservação do patrimônio cultural brasileiro, bem como impõe a repressão a danos e ameaças ao bem: 
"Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem: 
(...) 
V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. 
§ 1º O poder público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação
(...) § 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei." – grifei-
Infraconstitucionalmente, temos o Código de Defesa do Consumidor que estabelece, que a defesa coletiva será exercida quando se tratar de direitos difusos e direitos coletivos.
“Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. 
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: 
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; 
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; 
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum”.
Ou seja, a lei infranconstitucinal dispõe que se tratando de direitos transindividuais ou metaindividuais poderão estes serem pleiteados através de defesa coletiva, como no caso em concreto aqui apresentado.
A Lei n° 7.347/85, por sua vez disciplina a ação civil pública como ação pertinente que visa a responsabilização dos danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico, como disposto no art.1º, incisos III e VIII.
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
[...]
III - a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
[...]
VIII - ao patrimônio público e social.
O mesmo diploma legal deixa evidente o direito da autora na presente ação visando que os réus sejam condenados ao cumprimento da obrigação de fazer imediatamente as manutenções e reparos no referido patrimônio cultural aqui tratado, conforme dispõe em seu art.11:
“Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação da atividade nociva, sob pena de execução específica, ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou compatível, independentemente de requerimento do autor”. – grifei – 
MM. Magistrado aos réus cabe o dever dereparar os danos causados ao bem tutelado, SOB PENA DE MULTA em caso de descumprimento.
Vê-se, assim, que tanto o legislador constitucional quanto o infraconstitucional determinaram ao poder público o dever de zelar e manter o patrimônio público cultural e histórico seja ele um patrimônio por tombamento, Registro de bens culturais imateriais, inventário de proteção do patrimônio cultural ou por educação Patrimonial. O que sabemos e demonstramos nestes autos V. Exa é o descaso com que a empresa Guararapes responsável pela administração do referido patrimônio histórico de Caicó tem tido com tal bem, sendo este um patrimônio que conta a história de um povo que veio até esta localidade para colonizar, a história que ascendentes podem mostrar aos seus descendentes através destas construções.
Não menos culpa, carrega o Município de Caicó, diante de sua inércia quanto a manutenção, preservação e reparos necessários ao patrimônio histórico “Colosseu”, pois diante do descumprimento do contrato de prestação de serviços entre a empresa Privada para com o Município, poderia este ter realizado a encampação, ou seja, a retomada de forma coercitiva do serviço para a revitalização, reparos e manutenção do “ Colosseu” para si, e não o fez...
Devemos lembrar que como já mencionado o direito à preservação do patrimônio histórico e cultural de um povo está elencado pela Constituição Federal do Brasil, tratando-se de direito fundamental, restando configurada a violação ao direito, por parte da empresa Guararapes e da Prefeitura Municipal de Saúde por ser a titular no contrato público com a prestadora de serviços.
5) DO PEDIDO LIMINAR
Para a concessão de liminar devem concorrer dois requisitos legais, ou seja, o fumus boni juris e o periculum in mora (art. 7º, inc. II, da Lei 1.533/51).
O fumus boni juris insurge de toda a documentação trazida aos autos pela autora, comprobatórios da real situação que se encontra hoje o patrimônio histórico “Colosseu” devido ao descaso por parte da administradora Guararapes, bem como pelo do poder Público, demonstrando de forma inequívoca a necessidade da tutela para que imediatamente sejam obrigados os réus a FAZER manutenção e os reparos necessários a este inestimável patrimônio histórico pertencente ao povo de Caicó.
O periculum in mora está caracterizado pela necessidade premente da manutenção e reparos necessários para garantir a tradição, a história do povo português que colonizou Caicó. Liminar esta prevista pelo legislador conforme a Lei 7.347/85, art.12:
“Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo”.-grifei-
Ainda conforme o grande doutrinador Hely Lopes Meirelles destaca em sua obra:
“Se é certo que a liminar não deve ser prodigalizada pelo Judiciário, para não entravar a atividade normal da Administração, também não deve ser negada quando se verifiquem seus pressupostos legais, para não se tornar inútil o pronunciamento final a favor do impetrante. Casos há - e são frequentes – em que o tardio reconhecimento do direito do postulante enseja seu total aniquilamento. Em tais hipóteses, a medida liminar impõe-se como providência de política judiciária, deixada à prudente discrição do juiz”
As consequências do não deferimento da liminar poderão ainda maiores prejuízos ao patrimônio histórico e cultural “Colosseu”, visto que o mesmo necessita urgentemente de sérios reparos devido ao longo tempo em que a empresa Guararapes deixou de realizar as manutenções necessárias.
6) DAS PROVAS
A autora se compromete a produzir todas as provas necessárias à demanda.
7) DOS PEDIDOS 
Ante o exposto, requer a autora que Vossa Excelência digne-se a determinar:
a) a concessão de liminar, tendo em vista a gravidade e urgência do caso, determinando à empresa GUARARAPES ADM LTDA a obrigação de reparar os danos e realizar a manutenção e reparos ao patrimônio histórico “Colosseu”, sob pena de incorrer no crime previsto no artigo 330 do Código Penal; 
b) deferida a liminar sejam citados os réus, na pessoa de seus representantes legais nos moldes dos art. 246 e 248, ambos do CPC, para que apresente contestação, sob pena de revelia, conforme previsto no art. 344 também do CPC;
c) a dispensa do pagamento de custas e emolumentos de acordo com o art.18 da Lei 7.347/85.
d) A remessa dos autos ao Ministério Público, para apresentar parecer, nos termos do art. 5º, §1º, da Lei 7.347/85;
e) condenação da Prefeitura Municipal de Caicó, subsidiariamente, por ser a responsável pelo contrato com a empresa GUARARAPES ADM Ltda; 
f) Que seja julgado procedente o pedido inicial, determinando aos réus a obrigação de fazer, de manutenção e reparos necessários ao patrimônio cultural “Colosseu”
g) por fim, levando-se em consideração a omissão dos réus e antevendo a possibilidade destes, deixarem de cumprir as decisões judiciais proferidas na presente ação, requer, nos moldes do artigo 12, § 2º da Lei 7.347/85, aplicado subsidiariamente à espécie, seja imposta multa diária, em razão do descumprimento da decisão judicial.
Ressalvando-se, ainda, por ser evidente, a aplicação da legislação penal por crime de desobediência aos réus.
VALOR DA CAUSA
Aplica-se nesta ação o valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) diante do valor inestimável do bem tutelado.
Nestes Termos, Pede e Espera Deferimento;
Caicó, 5 de fevereiro de 2018.
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Assinatura do Advogado – OAB ......