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Fundamentos de Cinesiologia Aplicados à Educação Física Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Eric Leal Avigo Revisão Textual: Prof. Ms. Claudio Brites Introdução à Cinesiologia e Terminologia Básica do Movimento Humano • Introdução ao Estudo da Cinesiologia • Terminologia do Movimento Humano • Planos e Eixos de Movimento (Anatômicos) • Características Mecânicas do Movimento Humano · Conhecer o que vem a ser cinesiologia, bem como a conceituação e ter- minologia básica utilizada para a análise do movimento humano, além de relacionar tal conhecimento à sua área de atuação profissional. OBJETIVO DE APRENDIZADO Seja bem-vindo(a) às nossas discussões sobre crescimento e desenvolvimento humano aplicados à Educação Física! Saiba que esta Disciplina tem como propósito o estudo das alterações das estruturas e funções dos sistemas orgânicos decorrentes do crescimento e alterações do processo de maturação biológica, bem como os efeitos e im- portância da atividade física para a promoção dessas alterações nas várias faixas etárias ao longo do ciclo vital, e isso lhe oferecendo contato com as discussões mais recentes dessa área; além de lhe proporcionar momentos de leitura – textual e audiovisual – e reflexão sobre os temas que serão aqui dis- cutidos, contribuindo com sua formação continuada e trajetória profissional. Esta Disciplina está organizada em seis unidades, cujo eixo principal será as mudanças que ocorrem no ser desde a concepção até a morte, ou seja, que dê conta de: conceituar a terminologia utilizada; diferenciar idade cronológica e biológica e sua relação com crescimento; estudar os principais conceitos e teorias no estudo do desenvolvimento motor; aplicar conhecimentos adquiridos pensando nas possíveis intervenções do educador físico nas diferentes fases da vida, seja ainda na primeira infância, na infância, na adolescência, na vida adulta e no envelhecimento. Isso é o que você encontrará nas próximas unidades. Está preparado(a) para embarcar nesta viagem de estudos sobre o ciclo de vida do ser? ORIENTAÇÕES Introdução à Cinesiologia e Terminologia Básica do Movimento Humano Ademais, perceba que a Disciplina em ensino a distância pode ser realizada em qualquer lugar que você tenha acesso à internet e em qualquer horário. Dessa forma, normalmente com a correria do dia a dia não nos organizamos e deixamos para o último momento o acesso ao estudo, o que implicará no não aprofundamento do material trabalhado, ou ainda, na perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas. Assim, organize seus estudos de maneira que entrem em sua rotina. Por exem- plo, você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado ho- rário todos ou alguns dias e determinar como o “momento do estudo”. No material de cada unidade há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, assim como realize as atividades de sistematização, estas que lhe ajudarão a verificar o quanto absorveu do conteúdo: são questões objetivas que lhe pedirão resoluções coerentes ao apresentado no material da respectiva Unidade para, então, prepará-lo(a) à realização das respectivas avaliações. Tratando-se de atividades avaliativas, se houver dúvidas sobre a correta resposta, volte a consultar as videoaulas e leituras indicadas para sanar tais incertezas. Lembre-se: você é responsável pelo seu processo de estudo. Por isso, aproveite ao máximo esta vivência digital! 7 Contextualização Para iniciarmos esta Unidade, observe atentamente as imagens abaixo: Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images Você já parou para pensar como o movimento humano é diversificado? Sim, mesmo na realização de um mesmo movimento, duas pessoas provavelmente não realizarão os mesmos de forma idêntica. Se você tivesse que identificar algumas características do movimento de alguém, como você faria? Como você avaliaria o movimento humano, ainda mais o mesmo sendo tão diversificado? Em um salto, você avaliaria sua altura, distância? O tempo de voo? A força exercida para saltar, os músculos que foram recrutados para ser exercida tal força? A relação entre os segmentos, como os braços se movimentaram em relação às pernas, o quanto que o joelho flexionou? Sim, são muitas possibilidades! Suponhamos que você encontrou uma possibilidade que satisfaça seus objetivos, agora, como descrever sua análise? Quais termos utilizar? Já parou para pensar se cada um descrevesse um mesmo movimento com nomes diferentes? Como saberíamos se estamos ou não abordando os mesmos aspectos de um movimento? Como comparar com uma referência, se cada um descreve da maneira que prefere? É, você deve concordar que é necessária a utilização de termos-padrões para a descrição do movimento, assim como para diversos outros aspectos da vida. E o que a cinesiologia tem a ver com tudo isso?! Pois é, hora de mergulhar nos estudos e aprender um pouco mais sobre esse fenômeno tão importante para a vida de qualquer ser, o movimento, e conhecer, afinal, o que a cinesiologia tem a ver com o mesmo. 7 UNIDADE Introdução à Cinesiologia e Terminologia Básica do Movimento Humano Introdução ao Estudo da Cinesiologia É comum, à primeira vista, pelo menos por grande parte dos alunos, certo espanto ao se deparar com o nome cinesiologia. Isso se dá principalmente pelo desconhecimento desse termo que, apesar de seu significado relativamente simples, costuma trazer a denotação de algo difícil ou muito complexo de ser estudado. Simplificadamente, cinesiologia se refere ao estudo do movimento humano. Perceba que em uma definição ampla como essa, sem dúvida, caberia muita “coisa”, por exemplo, houve um tempo em que cursos de Educação Física recebiam esse nome ou, ainda, diversos departamentos das universidades eram nomeados dessa forma. Isso se dava porque, de maneira genérica, o termo cinesiologia é utilizado para descrever qualquer forma de avaliação do movimento humano, seja ela do ponto de vista anatômico, fisiológico, mecânico, ou até mesmo psicológico, pedagógico, filosófico, ou seja, bastava-se envolver o estudo do movimento humano para se utilizar tal conceito. Perceba então que, muitas vezes, ocorria o uso de um mesmo termo para disciplinas com conteúdos diferentes. De modo mais específico, o termo cinesiologia é utilizado quando se tem intenção de descrever o movimento humano, pautado em conhecimentos de três áreas principais: a Anatomia do aparelho locomotor; a Física, especificamente nos conceitos da Mecânica relacionados ao estudo das forças sobre partículas e sistemas mecânicos; e na Fisiologia neuromuscular. Biomecânica, em alguns casos, é tido como sinônimo de cinesiologia. Na verdade, biomecânica é um campo de estudo mais específico e se refere à utilização dos princípios da mecânica (ramo da Física) no estudo dos organismos vivos (ramo da Biologia). Apesar disso, em diferentes cursos de Graduação encontram-se disciplinas nomeadas como Cinesiologia, Biomecânica, Anatomia funcional que, de forma geral, abordam conteúdos muito semelhantes. Para nós, biomecânica faz parte do estudo em cinesiologia, quando nos preocupamos com a descrição do movimento levando em consideração as forças que atuam sobre ele, estamos nos referindo ao campo da biomecânica, o qual será um pouco melhor explorado ao longo das unidades. Importante! Cinesiologia é uma palavra derivada de dois verbos de origem grega: Kinein (cinesio-), que significa mover; e logos (-logia), que denota estudar. Logo, Cinesio-logia significa estudo do movimento, e você, estudante de Educação Física, não precisa se assustar, pois estará estudando seu objeto maior de atuação: o movimento. E o que é movimento? Pergunta esta que parece tão simples de ser respondida e, ao mesmotempo, faz com que pensemos bem antes de responder alguma coisa. Movimento pode ser entendido como o meio que utilizamos para interagir com o ambiente em que estamos inseridos. Uma pergunta um pouco complexa então pode ser feita: o que causa o movimento, especificamente o movimento humano? Ainda, por que os movimentos do ser humano são diferentes? O estudo do movimento e a descrição do mesmo nos permitirão responder perguntas como essas com mais propriedade. Mais uma vez, não se assuste com o termo cinesiologia, elimine qualquer pensamento negativo e aproveite para se aproximar ainda mais dos conhecimentos acerca do movimento humano. Trocando ideias... 8 9 Talvez, com base em seus estudos anteriores em Anatomia, a preocupação com a memorização, a tarefa árdua de guardar conceitos e palavras até que de certa forma complicadas, faça com que você se preocupe, até porque se na Anatomia se buscava aprender termos e conceitos, em cinesiologia precisamos entender a aplicação prática desses termos e conceitos no movimento humano. Por exemplo, você conhece a localização dos músculos braquial, bíceps braquial e tríceps braquial, sabe que os mesmos cruzam a articulação do cotovelo, envolvendo os segmentos braço e antebraço, os quais são formados pelos ossos úmero, rádio e ulna. Agora você deve compreender o papel desses músculos nos movimentos de flexão e extensão do cotovelo. Esse é apenas um exemplo básico de aplicação de seus conhecimentos em Anatomia para uma anatomia funcional, ou melhor, para o estudo da cinesiologia. Algumas dicas podem ser dadas para facilitarem a compreensão dos assuntos abordados nesta Disciplina. Primeiro, entenda que o corpo humano possui uma organização lógica, isso é claro, levando em consideração que assim como na maioria dos aspectos da vida, existem certas exceções que na maioria dos casos também possuirão certa lógica. Em segundo lugar, uma vez que se tenha boa compreensão da terminologia descritiva do movimento, uma vez que se entenda os conceitos tidos como “chaves”, a memorização estrita deixa de ser o principal aspecto. Por exemplo, se você souber os principais movimentos de uma articulação, o local aproximado de inserção de um músculo, sua configuração ou ângulo de tração, bem como qual superfície articular é abrangida pelo mesmo, você certamente saberá qual a ação específica desse mesmo músculo. No exemplo acima dado sobre os segmentos braço e antebraço, conhecendo os principais movimentos da articulação que liga esses segmentos, conhecendo os músculos que cruzam tal articulação, bem como sua região de inserção, fica fácil assimilar que os músculos braquial e bíceps braquial são os principais responsáveis pela flexão de cotovelo, uma vez que estão inseridos anteriormente, enquanto o tríceps braquial, inserido posteriormente, é o principal responsável pelo movimento de extensão do cotovelo. Perceba então que relembrar aspectos centrais de anatomia facilitará o entendimento das funções dos sistemas ósseo, articular e muscular na realização de dado movimento, não sendo o estudo da cinesiologia algo assim tão complicado ou desconhecido. Obviamente, exigirá certo comprometimento por sua parte, assim como no caso daquele que pratica exercícios físicos semanalmente para se obter melhores resultados, ou seja, deixar para estudar tudo de uma vez perto de uma prova não é o mais indicado. O esforço em estudar cinesiologia lhe permitirá, como futuro professor de Educação Física, compreender melhor os movimentos realizados por seus alunos, bem como favorecer sua atuação, por exemplo, entendendo o porquê da dificuldade de alguns alunos em realizar certos movimentos e quais dicas pode fornecer para facilitar a aprendizagem de habilidades motoras. O conhecimento das partes que compõem os movimentos favorece a compreensão do todo, bem como o que fazer para alcançar determinados objetivos de movimento. 9 UNIDADE Introdução à Cinesiologia e Terminologia Básica do Movimento Humano Iniciemos então nossos estudos, justamente entendendo um pouco mais da terminologia descritiva do movimento humano, a qual nos ajuda substituir o “decorar” pelo “entender” certos conceitos. Terminologia do Movimento Humano Vamos conversar um pouco mais sobre o movimento humano. Importante! Movimento engloba mudança de lugar, posição e/ou postura no espaço, algo que só é possível de ser identificado se relacionado a um ponto ou referência no ambiente. Importante! Essa referência pode ou não ser necessariamente externa, como a parede, a porta, o teto de uma sala, mas também interna, como a posição de um segmento corporal em relação a outro. Os movimentos são características comportamentais de um segmento corporal específico ou também de vários segmentos corporais atuando em conjunto. Importante! A partir de algumas características do movimento humano, podemos classificá-lo em tipos diferentes. Denomina-se movimento linear (ou de translação) o movimento ao longo de uma linha que pode ser reta (movimento retilíneo) ou curva (movimento curvilíneo), onde todas as partes do corpo envolvidas se movimentam na mesma direção e com a mesma velocidade. Já se atribui como movimento angular (ou de rotação) aquele que envolve a rotação ao redor de uma linha ou de um ponto central, ou seja, que possua um eixo de rotação. À combinação de movimentos lineares e angulares atribui-se como movimento geral. Importante! A seguir serão apresentados exemplos para esses três tipos de movimentos: Figura 1 – Exemplo de movimento linear: a trajetória da cabeça e do tronco de uma pessoa enquanto se desloca pelo espaço são exemplos de movimentos lineares retilíneos. O movimento do corpo de um paraquedista ou a trajetória de uma bola ilustram movimentos lineares curvilíneos Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images 10 11 Figura 2 – Exemplo de movimento angular: a maioria das articulações do corpo humano funciona como eixos de rotação. Um eixo externo ao corpo, como no caso de uma ginasta que se pendura em uma barra, ilustra também um movimento angular Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images Figura 3 – Exemplo de movimento geral: uma pessoa, quando corre, realiza movimentos angulares (como pode ser visto nas articulações do cotovelo, quadril e joelho) e também, como consequência, movimentos lineares (como na trajetória da cabeça e do tronco) Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images Os movimentos podem ser estudados e/ou avaliados a partir de duas abordagens principais: qualitativa e quantitativa. Importante! Quando se descreve o movimento com base na observação direta do mesmo, ou seja, uma análise visual e não numérica, tem-se uma análise qualitativa. Importante! São exemplos da observação da “qualidade” do movimento: pesado ou leve, bom ou ruim, alto ou baixo, curto ou longo, perto ou longe, muito ou pouco etc. Perceba que nesse tipo de avaliação encontra-se presente certa subjetividade, ou seja, refere-se à perspectiva que se tem cada avaliador sobre o movimento observado, a qual não corresponde necessariamente a todas pessoas, estas que costumam ter percepções diferentes do que se é longe ou perto, grande ou pequeno, ou ainda mais longe ou mais perto, muito grande ou muito pequeno etc. Tal percepção está relacionada à concepção que cada pessoa possui sobre essas características gerais do movimento, sendo assim, essa análise, apesar de em alguns casos se mostrar muito importante, torna-se subjetiva. 11 UNIDADE Introdução à Cinesiologia e Terminologia Básica do Movimento Humano Importante! Quando se descreve o movimento numericamente, ou seja, atribui-se um valor às características do mesmo, tem-se uma avaliação quantitativa do movimento. Importante! São exemplos da avaliação da “quantidade” do movimento: dez segundos, cem metros, cinco voltas, três gols, seis cestas, noventa graus etc. Perceba que nessa condição de avaliação elimina-se a subjetividade a partir de dados e/ou medidas obtidas do próprio movimento.Acerca disso, argumenta o pesquisador britânico físico e matemático William Thomsom, mais conhecido como Lorde Kelvin: “[...] se pudermos medir aquilo de que falamos e demonstrar por meio de números o resultado, conhecemos algo sobre o assunto; mas, se não o pudermos, nosso conhecimento é deficiente e insatisfatório”. Tal pensamento é compartilhado no meio científico, onde para comprovação de uma descoberta, utiliza-se, na maioria das vezes, de valores numéricos os quais justamente eliminarão a subjetividade. Em contrapartida, na ação diária de profissionais que atuam com o movimento humano, como o professor de Educação Física, a análise qualitativa está sempre presente, por exemplo, ao observar se uma criança utiliza os braços para dar impulsão em um salto. Tabela 1 – Exemplos de avaliação qualitativa e quantitativa do movimento humano Exemplos das abordagens de avaliação do movimento Qualitativo (análise pode ser subjetiva) Quantitativo (atribuição de um número) Lançamento, arremesso bom/ruim 25 metros, 10 passes, 5 cestas Chute, salto alto/baixo 30 metros, 6 gols, 90 centímetros Jogador, rebatedor rápido/lento 10 segundos, 30 minutos, 4 acertos Arremesso, chute forte/fraco 100 quilômetros por hora, 3 defesas Saque, passe longo/curto 2 pontos, 4 erros, 10 metros Correu muito/pouco 2.000 metros, 15 voltas, 2 horas Joelho, cotovelo flexionado/estendido 90 graus, 45 graus Feitas essas considerações inicias acerca dos três tipos de movimentos (linear, angular e geral), bem como as duas abordagens para análise dos mesmos (qualitativa e quantitativa), podemos avançar acerca de alguns termos e conceitos específicos para a descrição do movimento humano. Termos e Referências Anatômicas Quando se deseja descrever o movimento humano, geralmente se busca descrever como as partes do corpo se movimentaram umas em relação as outras e/ou, ainda, em relação a alguma referência externa ao corpo. Essas partes do corpo recebem o nome de segmentos corporais, os quais são definidos com base em como estão constituídos seus tecidos (ósseo, articular e muscular), em especial, como os ossos estão conectados entre as partes. 12 13 Por exemplo, braço é o segmento localizado entre o ombro e o cotovelo (formado pelo osso úmero), antebraço é o segmento localizado entre o cotovelo e o punho (formado pelos ossos rádio e ulna) e mão é o segmento conectado apenas ao punho (formado pelos ossos carpais, metacarpais e falanges dos dedos). Esses três segmentos (braço, antebraço e mão) formam o membro superior, sendo o corpo humano formado por dois desses membros, sendo um o membro superior direito e o outro, o membro superior esquerdo. Semelhantemente aos membros superiores, tem-se os dois membros inferiores (direito e esquerdo), sendo coxa o segmento localizado entre o quadril e o joelho (formado pelo osso fêmur), perna o segmento localizado entre o joelho e o tornozelo (formado pelos ossos tíbia e fíbula) e pé o segmento conectado apenas ao tornozelo (formado pelos ossos tarsais, metatarsais e falanges dos dedos). Importante! Os membros superiores e inferiores formam o esqueleto apendicular. Esses membros são tidos como as partes presas e/ou anexas às partes fi xas do corpo, as quais são pertencentes ao esqueleto axial. As partes fi xas do esqueleto axial nada mais são do que os segmentos cabeça (formado pelos ossos do crânio), pescoço (formado pelas vertebras cervicais) e tronco. Importante! Na verdade, o tronco pode ser subdivido por dois segmentos específicos: o tórax (formado pelas costelas, pelo externo e pelas vértebras torácicas) e o abdome (formado pelas vértebras lombares e contendo as vísceras abdominais). O esqueleto axial corresponde a cerca de 50% da massa corporal e, por serem as partes fixas do corpo, movimentam-se com maior lentidão quando comparadas às partes presas do esqueleto apendicular. Os segmentos do esqueleto apendicular são menores e mais rápidos à medida que se afastam do tronco, segmento no qual estão anexados. Cabeça Pescoço Tórax Abdome Braço Antebraço Mão Coxa Perna Pé Tronco Membros Superiores Membros Inferiores Figura 4 – Termos anatômicos: segmentos corporais Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images 13 UNIDADE Introdução à Cinesiologia e Terminologia Básica do Movimento Humano De forma geral, a maioria dos movimentos do corpo é angular. Movimentos angulares acontecem entre dois segmentos corporais que são adjacentes, ou seja, que estão conectados por um eixo de ligação. Movimentos angulares produzem movimentos lineares, por exemplo, quando uma pessoa caminha na rua, se pensarmos na trajetória de algum ponto específico do corpo, como a cabeça, observamos um movimento linear acontecendo. Entretanto, se nesse mesmo exemplo da caminhada, observarmos o movimento de segmentos adjacentes ligados por um eixo de rotação (articulação), como a coxa se movimentando em relação ao tronco, a perna se movimentando em relação à coxa, o pé em relação à perna, percebe-se que o quadril, joelho e tornozelo são as articulações responsáveis pelo movimento angular. Obviamente, o movimento do corpo como um todo é tido como um movimento geral, composto da combinação de movimentos angulares e lineares. Outro exemplo de movimento angular que produz movimento linear se dá em uma pessoa arremessando uma bola, sendo que a mesma utiliza seu membro superior realizando movimentos angulares para produzir uma trajetória curvilínea na bola que nada mais é que um exemplo de movimento linear. O ser humano está em constante movimento, estando sujeito a mudanças frequentes na posição do seu corpo. Essas mudanças na posição do corpo podem ser descritas de diferentes maneiras, como no movimento de um segmento em relação a outro, ou em relação à posição do mesmo no espaço em referência ao chão, teto ou qualquer outra referência externa como um objeto qualquer no ambiente, ou ainda a posição de um segmento em relação a ele mesmo, a posição que o mesmo se encontrava antes da realização do movimento. Pensemos no exemplo do arremesso dado anteriormente. Podemos descrever o movimento que acontece entre os segmentos mão e antebraço, antebraço e braço, braço e tronco etc. Podemos também descrever o movimento desses mesmos segmentos em relação ao ambiente externo, como na aproximação desses segmentos do chão, de alguma parede, outra pessoa que está por perto, na direção de um alvo que está próximo etc. Além desses exemplos, podemos descrever a mudança de posição dos segmentos em relação a eles mesmos, como o braço em relação ao próprio braço no instante anterior ao movimento. Perceba, assim, a importância de uma referência para descrição do movimento, sem uma referência é impossível descrever o movimento. A fim de se estabelecer um ponto de partida para a descrição dos movimentos corporais, foi estabelecida uma posição neutra e/ou comum que servisse de base para descrever a organização do corpo humano ou, ainda, relatar a localização das estruturas corporais independentemente do ambiente externo em que o ser está inserido. 14 15 Importante! Essa posição é conhecida como posição anatômica, sendo descrita como uma pessoa em pé, com o corpo ereto, com os olhos dirigidos para frente, os pés paralelos e ligeiramente afastados, os membros superiores pendentes ao lado do corpo e com as palmas das mãos voltadas para frente. Importante! Apesar dessa posição das mãos e antebraços não ser necessariamente a posição comum e/ou confortável, como no caso dos outros segmentos, ela facilita as descrições, possibilitando que as mesmas sejam acuradas. Uma outra posição de referência que também pode ser utilizada é a posição fundamental, a qual é praticamente igual a posição anatômica, com exceção justamente na posição das mãos, as quais devem ser posicionadas com as palmas voltadas para medialmente (para o corpo). Essa posição facilita a descrição de movimentos que envolvem a rotação dos membros superiores. (b)(a) Figura 5 – Posiçõesde referência: posição anatômica (a) e posição fundamental (b) Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images Além de posições de referência para o movimento, existem termos específicos para descrever a relação entre as partes do corpo ou a localização de um corpo e/ ou objeto externo, os quais vão, inclusive, servir para apontar a direção de um mo- vimento que está ocorrendo. Esses termos específicos são denominados, justamen- te, termos direcionais. A tabela a seguir resume alguns desses termos direcionais: 15 UNIDADE Introdução à Cinesiologia e Terminologia Básica do Movimento Humano Tabela 2 – Termos direcionais Termos direcionais Descrição Exemplo Superior (cranial) Direcionado e/ou próximo à cabeça (sinônimo de cranial em Zoologia), serve para descrição de uma parte que está acima de outra. A cabeça está superior ao tronco, e o tronco superior à coxa. Inferior (caudal) Ponto mais afastado em relação à cabeça (sinônimo de caudal em Zoologia), serve para descrição de uma parte que está abaixo de outra (contrário a superior). O tronco está inferior à cabeça, e a coxa inferior ao tronco. Anterior (ventral) Refere-se à frente do corpo (sinônimo de ventral em Zoologia), serve para descrição de uma parte que está localizada à frente de outra. O esterno é anterior à escapula. Posterior (dorsal) Refere-se ao dorso (parte detrás) do corpo (sinônimo de dorsal em Zoologia), serve para descrição de uma parte que está localizada atrás de outra (contrário à anterior). A escápula é posterior ao esterno. ddd Medial Voltado e/ou direcionado para linha média do corpo. A ulna está medial ao rádio. Lateral Voltado e/ou direcionado para longe da linha média do corpo (contrário a medial). O rádio está medial à ulna. Proximal Utilizado para descrever a localização dos membros superiores e inferiores. Proximal refere-se ao que está mais perto e/ou próximo do tronco. A coxa é proximal em relação à perna. O antebraço é proximal em relação à mão. Distal Utilizado para descrever a localização dos membros superiores e inferiores. Distal refere-se ao que está mais longe e/ou afastado do tronco (contrário à proximal). A perna é distal em relação à coxa. A mão é distal em relação ao antebraço. Superficial Referente ao que está direcionado à superfície das estruturas do corpo (para fora do corpo). O couro cabeludo é superficial ao crânio. Profundo Referente à profundidade, ao que está direcionado de forma contrária à superfície das estruturas do corpo (para dentro do corpo). Os músculos são profundos em relação à pele. Bilateral Leva em consideração os dois lados de um mesmo corpo (direito e esquerdo). No salto em distância realizar o movimento bilateral dos membros inferiores. Ipsilateral Leva em consideração apenas um dos lados de um mesmo corpo (direito ou esquerdo). Refere-se ao mesmo lado do corpo. O membro superior direito é ipsilateral ao membro inferior direito. Contralateral Leva em consideração a oposição entre os dois lados de um mesmo corpo (direito versus esquerdo), refere-se ao lado oposto. Na corrida, o membro superior direito se movimenta de forma contralateral ao membro superior esquerdo. Decúbito dorsal Utilizado para descrever a posição do corpo quando deitado. Decúbito dorsal refere-se ao dorso encostado na superfície em que se está deitado, com o ventre (abdome) direcionado para cima. O exercício abdominal pode ser iniciado em decúbito dorsal, ou seja, deitado com as costas e glúteo encostados no chão. Decúbito ventral Utilizado para descrever a posição do corpo quando deitado. Decúbito ventral refere-se ao ventre (abdome) encostado na superfície em que se está deitado, com o dorso (costas) direcionado para cima (contrário a decúbito dorsal). Os movimentos do nado crawl são realizados com o corpo em decúbito ventral, ou seja, deitado com a barriga para baixo. Movimentos Articulares Básicos Conforme já abordado, entre segmentos adjacentes, os quais estão conectados por uma articulação, ocorrem movimentos variados. Os movimentos que ocorrem nas articulações acontecem em diferentes direções, sendo que existem termos específicos que nomeiam esses movimentos de acordo com suas características. 16 17 A maioria dos movimentos do corpo humano ocorre nas articulações sinoviais, as quais são de um tipo de articulação denominado livremente móvel. Os tipos de articulações, suas estruturas, bem como a relação das mesmas com o movimento humano serão abordados com maiores detalhes ao longo desta Disciplina. Ao se analisar o movimento de ossos adjacentes em torno de um eixo articular, ou seja, observar os movimentos angulares que correm no corpo humano, pode- se dizer que se está estudando a osteocinemática. A osteocinemática se preocupa com os movimentos das articulações. Dentre os possíveis movimentos que podem ser observados nas articulações do corpo humano, pode-se classificar aqueles mais comuns entre as articulações de movimentos articulares básicos. Sendo assim, denominamos movimentos bá- sicos aqueles que ocorrem em combinações variadas na maioria das articulações do nosso corpo. Podemos resumi-los em seis tipos de movimentos, conforme listados a seguir: I Flexão: aproximação entre dois ossos (segmentos) adjacentes; II Extensão: afastamento entre dois ossos (segmentos) adjacentes; III Abdução: movimento para longe da linha média do corpo; IV Adução: movimento em direção à linha média do corpo; V Rotação lateral: movimento ao redor de um eixo longitudinal e para longe da linha média do corpo; VI Rotação medial: movimento ao redor de um eixo longitudinal e em direção à linha média do corpo. Movimentos como flexão e extensão podem ser facilmente observados nas articulações do cotovelo, quadril e joelho. No cotovelo observa-se flexão quando ocorre aproximação entre os segmentos braço e antebraço, e extensão no afastamento entre os mesmos, como ao retornar à posição anatômica. No quadril observa-se flexão na aproximação entre os segmentos tronco e coxa, seja no caso da coxa (direita ou esquerda) se movimentando em relação ao tronco, ou do tronco se movimentando em relação à coxa. Já a extensão se dá ao afastamento dos segmentos tronco e coxa, como ao retorno à posição anatômica. No joelho, diferentemente do cotovelo e do quadril, em que os movimentos acontecem anteriormente ao corpo (para frente), os movimentos de flexão e extensão acontecem posteriormente ao corpo (para trás), sendo a aproximação entre perna e coxa tida como flexão, e o afastamento entre esses segmentos, extensão, mais uma vez, como no retorno à posição anatômica. Perceba que enquanto o movimento de flexão pode indicar sair da posição anatômica, extensão é o movimento que acontece em direção ao retorno da posição anatômica. São também exemplos de flexão e extensão, respectivamente, aproximar e afastar a cabeça ao tórax, aproximar e afastar os dedos das mãos à palma da mão ou os dedos dos pés à sola do pé (na verdade, flexão e extensão também ocorrem entre as falanges dos dedos), ainda, aproximar ou afastar as mãos ao antebraço. 17 UNIDADE Introdução à Cinesiologia e Terminologia Básica do Movimento Humano Movimentos como abdução e adução também podem ser facilmente observados, no caso, nas articulações do ombro e do quadril. No ombro observa-se abdução quando ocorre o movimento do braço lateralmente para longe da linha média do corpo, e adução no movimento em direção à linha média do corpo, como ao retornar à posição anatômica. Similarmente, no quadril, observa-se abdução quando ocorre o movimento da coxa lateralmente para longe da linha média do corpo, e adução no movimento em direção à linha média do corpo, como ao retornar à posição anatômica. Como exceção, tem-se os movimentos dos dedos, no caso da mão, por exemplo, abdução que se dá ao afastamento dos dedos e adução à aproximação dos mesmos. Especificamente para o dedo médio (maior dedo da mão), não existe adução, mas somente abdução para direitaou para esquerda. Algo semelhante ocorre nos dedos dos pés, sendo no caso o segundo dedo do pé (geralmente o maior dos dedos) a situação específica de apenas abdução para direita ou para esquerda, não existindo adução. Os movimentos de rotação, tanto lateral como medial, ocorrem apenas para alguns segmentos do esqueleto apendicular, especificamente nas articulações ombro e quadril. Já no esqueleto axial, ocorrem também movimentos de rotação dos segmentos, entretanto, esses movimentos são denominados rotação para direita ou para esquerda. Isso é óbvio se pensarmos que possuímos membros direitos e esquerdos no esqueleto apendicular, os quais podem rodar em direção à linha média do corpo ou contrária a essa direção, diferentemente dos segmentos do esqueleto axial, que são centrais e por isso rotacionam ou para a direita, ou para a esquerda, como no caso da cabeça e do tronco. Quando a superfície anterior dos segmentos braço e coxa rotacionam para dentro do corpo, observa-se rotação medial, a qual também pode ser chamada de rotação interna. Quando a superfície anterior desses mesmos segmentos corporais rotacionam para fora do corpo, observa-se rotação lateral, a qual também pode ser chamada de rotação externa. Na posição anatômica, ombro e quadril já se encontram em rotação lateral. Implica dizer que rotação medial ocorre para além da posição anatômica, enquanto rotação lateral ocorre em direção ao retorno da posição anatômica. ExtensãoFlexão Abdução Adução Rotação lateral Rotação medial Figura 6 – Exemplos dos movimentos articulares básicos Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images 18 19 Movimentos Articulares Especiais Os movimentos articulares especiais são assim denominados justamente porque só ocorrem entre segmentos específicos do corpo humano. Muitos desses movimentos poderiam ser listados aqui, entretanto, apenas aqueles considerados mais relevantes serão sucintamente apontados. O primeiro que podemos destacar é o movimento de hiperextensão. Esse movimento é definido como a continuação da extensão para além da posição anatômica. De forma geral, podemos dizer que o ombro, o quadril e o pescoço são exemplos de articulações que podem ser hiperestendidas. Outro movimento importante é a circundução, que na verdade reflete da combinação de movimentos básicos até aqui já estudados. Circundução pode ser simplificadamente entendida como um desenho de um cone imaginário no espaço, através da combinação de quatro movimentos articulares: flexão, abdução, extensão e adução. Obviamente, todas articulações que apresentam esses quatro movimentos básicos podem realizar circundução, por exemplo, se uma pessoa movimenta seu ombro passando por esses quatro movimentos, enquanto a extremidade proximal do segmento braço desenha um pequeno círculo no espaço, a extremidade distal desenha um círculo ainda maior. Faça você mesmo um teste: faça a circundução de ombro mantendo seu cotovelo estendido, agora imagine o desenho formado por sua mão, não seria justamente um círculo? Circundução do braço Hiperextensão Figura 7 – Exemplos dos movimentos articulares especiais: hiperextensão (a) e circundução (b) Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images A partir do movimento básico flexão, alguns movimentos especiais foram definidos. Por exemplo, flexão radial e flexão ulnar são movimentos especiais do punho que acontecem por conta da aproximação de dois segmentos adjacentes (conforme a definição de flexão já abordada). No caso, flexão radial (ou desvio 19 UNIDADE Introdução à Cinesiologia e Terminologia Básica do Movimento Humano radial) refere-se à aproximação do polegar lateralmente em direção ao rádio (osso do antebraço). Já flexão ulnar (ou desvio ulnar) refere-se à aproximação do dedo mínimo (quinto dedo), conhecido como o “dedindo” da mão, lateralmente em direção à ulna (osso do antebraço). Os movimentos de flexão radial e flexão ulnar podem também ser denominados, respectivamente, abdução e adução. Isso fica evidente se pensarmos que na abdução (flexão radial) se tem o movimento para longe da linha média do corpo, onde partindo da posição anatômica a mão é direcionada lateralmente, e na adução (flexão ulnar) se tem o movimento em direção da linha média do corpo, onde partindo da posição anatômica a mão é direcionada medialmente. O termo flexão é outra vez utilizado para descrição do movimento do tronco e da cabeça para as laterais direita e esquerda. Flexão lateral direita refere- se ao movimento no pescoço lateral para a direita, aproximando os segmentos cabeça e tronco, ou ao movimento no quadril lateral para a direita, aproximando os segmentos tronco e coxa. Obviamente, flexão lateral esquerda refere-se ao movimento contrário do descrito para a direita, ou seja, refere-se ao movimento no pescoço ou no quadril lateral para a esquerda, movimentando a cabeça em relação ao tronco ou o tronco em relação à coxa. Os termos básicos abdução e adução também aparecem novamente quando se busca descrever um movimento específico do ombro e do quadril na horizontal, o qual não pode ser descrito a partir da posição anatômica, pois trata-se de um movimento combinado que exige um movimento anterior de flexão ou abdução dessas articulações. Assim, abdução horizontal refere-se a um movimento horizontal do ombro ou do quadril direcionando o braço ou a coxa para longe da linha média do corpo e adução horizontal refere-se a um movimento horizontal do ombro ou do quadril direcionando o braço ou o quadril para perto da linha média do corpo. Figura 8 – Exemplos dos movimentos articulares especiais Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images 20 21 Um movimento que frequentemente causa certa confusão de sua origem é a rotação de antebraço. Deve-se ter atenção para não confundir os movimentos básicos de rotação medial e lateral de ombro com os movimentos específicos de rotação do antebraço. Supinação e pronação são os termos específicos utilizados para descrição dos movimentos do cotovelo responsáveis pela rotação do antebraço. Supinação acontece quando a palma da mão está voltada anteriormente (para frente). Equivale dizer que na posição anatômica o antebraço (na verdade, uma articulação próxima ao cotovelo) encontra-se supinado. Pronação acontece quando a palma da mão está voltada posteriormente (para trás). Agora, equivale dizer que saindo da posição anatômica movimentando a palma da mão medialmente e/ou posteriormente, o antebraço encontra-se pronado. Com o cotovelo flexionado, a posição da palma da mão para cima ou para baixo refere-se, respectivamente, à supinação ou pronação. Figura 9 – Movimentos articulares especiais: supinação e pronação Fonte: Acervo do conteudista Os movimentos entre os segmentos perna e pé recebem nomenclaturas especiais. Dorsiflexão é o movimento no tornozelo de aproximação anterior entre os segmentos perna e pé, o que mantém a lógica utilizada até então para o termo básico flexão então outras vezes utilizado. Já para o movimento contrário à dorsiflexão, utiliza-se um termo que pode resultar em certa confusão caso não seja lhe dado a devida atenção. Flexão plantar é o movimento no tornozelo de afastamento anterior entre os segmentos perna e pé, algo nos lembra do termo básico extensão, ou ainda aproximação posterior entre o segmento perna e a planta (sola) do pé, algo nos lembra mais uma vez do termo básico flexão. A fim de evitar qualquer erro relacionado ao entendimento dos movimentos do tornozelo, de maior atenção a esses movimentos especiais que são comuns de serem confundidos. Dois outros movimentos especiais também ocorrem da região do tornozelo: inversão e eversão. Enquanto inversão é o movimento medial (para dentro) da planta do pé, o que seria algo como levantar a “borda interna do pé”, eversão é o movimento lateral (para fora) da planta do pé, o que seria algo como levantar a “borda externa do pé”. 21 UNIDADE Introdução à Cinesiologia e Terminologia Básica do Movimento Humano Figura 10 –Exemplos de movimentos articulares especiais Fonte: Acervo do conteudista Os últimos movimentos especiais a serem aqui descritos são resultados da in- teração de mais de uma articulação do corpo humano, onde existe movimentos lineares e/ou de deslize nas estruturas ósseas, detalhes que serão melhor abor- dados ao longo das próximas unidades de estudo. Por enquanto, digamos que os movimentos que serão descritos ocorrem no “complexo do ombro”, nome atribuído ao conjunto de articulações que pertencem a essa região do corpo. A referência para descrição dos movimentos corresponderá às escápulas, dois ossos triangulares localizados mais superficialmente na região posterior do tó- rax, simplificadamente, aqueles que você facilmente observa nas costas de uma pessoa que está com os membros superiores para trás. Elevação e depressão são, respectivamente, o movimento para cima e para baixo das escápulas, algo como aproximar e afastar os ombros da cabeça. Protração (também conhecida como protrusão) e retração (também conhecida como retrusão) são, respectivamente, o movimento de afastamento e aproximação das escápulas. Além desses movimentos, podem também ser observados os movimentos de rotação para cima (também conhecido como rotação lateral) e rotação para baixo (também conhecido como rotação medial) das escápulas, decorrentes do movimento de abdução e adução de ombro, respectivamente. Exemplos de movimentos articulares especiais: https://goo.gl/VwIpJT Ex pl or 22 23 Planos e Eixos de Movimento (Anatômicos) Em cinesiologia, o corpo humano é dividido por três planos cardinais, que correspondem a planos fixos e imaginários de referência que possibilitam a descrição dos movimentos nas três dimensões, ou seja, de forma tridimensional. Um plano é uma superfície bidimensional com orientação definida pelas coordenadas espaciais de três pontos distintos, não pertencentes à mesma linha. Calma! À primeira vista tais definições causam certo espanto por serem de certa forma difíceis de serem entendidas. Para facilitar sua compreensão, antes de mais nada, observe cuidadosamente a representação do corpo humano dividido pelos três planos anatômicos de referência: (1) plano sagital, (2) plano frontal e (3) plano transversal. Figura 12 – Planos anatômicos de referência Fonte: Wikimedia/commons O (1) plano sagital atravessa o corpo da parte anterior para posterior, dividindo o mesmo verticalmente em duas metades – direita e esquerda –, sendo as metades exatamente iguais. Já o (2) plano frontal atravessa o corpo de lado a lado, dividindo o mesmo verticalmente nas metades anterior e posterior, que também são exatamente iguais. Por último – e não menos importante –, o (3) plano transversal atravessa o corpo horizontalmente, separando o mesmo em metades iguais, sendo uma superior e outra, inferior. Para um indivíduo na posição anatômica, esses três planos cardinais que atravessam exatamente a linha média do corpo coincidem num ponto central do corpo humano, denominado centro de massa e/ou centro de gravidade, o qual será abordado com mais detalhes em outras unidades. Por agora, o importante a se des- tacar é que todos os movimentos corporais, básicos e especiais, são descritos a partir desses três planos de referência, sendo que cada articulação realizará movimentos específicos em um, dois ou nos três planos de movimento. 23 UNIDADE Introdução à Cinesiologia e Terminologia Básica do Movimento Humano Os segmentos corporais se movimentam ao redor de um eixo de rotação que passa através da articulação na qual estão inseridos. Lembrando que a maioria dos movimentos do corpo humano é angular, possuindo, assim, um eixo de rotação. Para cada plano anatômico existe um eixo imaginário correspondente e que é per- pendicular à orientação do mesmo, como que um eixo que permite a rotação de cada plano, a mesma lógica aplicada às articulações do corpo humano. O (1) eixo médio-lateral é perpendicular ao plano sagital. O (2) eixo anteroposterior é perpen- dicular ao plano frontal. Já no plano transverso, a rotação acontece por meio de um (3) eixo longitudinal (vertical). Assim, para cada plano de referência se tem as- sociado um eixo único de rotação que é sempre perpendicular ao respectivo plano. Importante! A melhor visualização de qualquer movimento é obtida quando o observador se posiciona perpendicularmente ao plano de movimento, pois nessa posição é possível visualizar o movimento ocorrendo ao longo de seu eixo de rotação. Tal consideração é muito importante, pensando na atuação do professor de Educação Física buscando o melhor posicionamento para que consiga melhor visualizar os movimentos realizados por seus alunos. Importante! É bem verdade que nem sempre os movimentos acontecem exatamente alinhados à orientação de um dos planos, ou seja, os movimentos não necessariamente são planos, mas isso não impede que os planos anatômicos sejam úteis para melhor descrição do movimento, até porque, na verdade, os movimentos em cada plano são determinados como que se acontecessem principalmente em um dos planos, seja no sagital, frontal ou transversal. Pode-se dizer que o melhor posicionamento para se observar movimentos que acontecem principalmente no plano sagital seja ao lado do corpo de quem os realiza. Já no plano frontal, o melhor posicionamento seria à frente ou atrás do corpo, obviamente, dependendo das principais características dos movimentos que se deseja observar. No caso do plano transversal, o melhor posicionamento para visualização seria acima ou abaixo do corpo de que executa os movimentos, algo que quase sempre não é possível de ser feito. Nessas condições, o ideal é que o observador “circule” a pessoa que se movimenta, procurando pela melhor condição de visualização do movimento. Tabela 3 – Planos, eixos e principais movimentos articulares Plano Eixo Movimentos articulares Sagital ML Flexão, extensãoFlexão plantar, dorsiflexão Frontal AP Abdução, adução Flexão radial, flexão ulnar Inversão, eversão Transversal Long. Rotação medial, rotação lateral Rotação para a direita e para a esquerda Supinação, pronação Abdução horizontal, adução horizontal 24 25 Características Mecânicas do Movimento Humano Importante! Podemos definir biomecânica como a área que se preocupa com o estudo das forças e de seus efeitos que atuam nos seres vivos, bem como as forças que são produzidas por esses. Importante! Inicialmente, assumimos a biomecânica como parte do estudo em cinesiologia, um campo de estudo mais específico que se refere à utilização dos princípios da mecânica, esta que é um ramo da Física, somado ao estudo dos organismos vivos, ramo da Biologia. Se nos atentarmos um pouco mais para a mecânica, podemos defini-la como a Ciência que se interessa pelos efeitos das forças ativas nos objetos. Os objetos pelos quais estamos interessados em nossa área de estudo são os humanos e os implementos que podem manipular no esporte, no exercício, e/ou na prática de atividade física. O estudo em mecânica pode ser subdividido em mecânica estática, a qual envolve os objetos em repouso ou que se movem em velocidade constante; e mecânica dinâmica, a qual envolve os objetos que estão em movimento acelerado. Na maioria das situações do movimento humano (se não todas), a mecânica dinâmica é a mais aplicável. Dentro da mecânica dinâmica ainda existem as subdivisões da cinética e da cinemática, campos os quais se referem a análises específicas dos movimentos. Importante! Cinética, simplificadamente, é a área da mecânica que se preocupa com as forças que causam ou tendem a causar mudanças no movimento, levando em consideração tanto forças internas como externas que atuam no ser humano. Já a cinemática se preocupa, principalmente, em descrever os movimentos em termos espaciais e temporais, sem necessariamente levar em consideração as forças que causam os movimentos. Importante! Posteriormente, os campos da cinética e da cinemática serão melhoresexplorados nas demais unidades. Por já, importa abordar algumas dessas definições básicas em biomecânica, além de estudarmos algumas características da mecânica do movimento humano. De maneira geral, a biomecânica nos permite descrever, analisar e/ou avaliar o movimento humano. Conforme já discutido, o movimento humano poder ser avaliado de forma qualitativa, preocupando-se principalmente em como os movi- 25 UNIDADE Introdução à Cinesiologia e Terminologia Básica do Movimento Humano mentos são realizados, ou seja, na qualidade que os mesmos são executados (bom, ruim, perto, longe, forte, fraco etc.), ou também de forma quantitativa, importan- do-se em atribuir números a partir de grandezas conhecidas e trazendo precisão às análises (20 m, 30 s, 100 km/h etc.). Entenda como grandeza tudo aquilo que pode ser medido e comparado com um padrão. Na mecânica, as principais gran- dezas físicas fundamentais utilizadas e medidas são comprimento, tempo e massa. Importante! As unidades de medidas dessas e de outras grandezas físicas são definidas pelo Sistema Internacional de unidades (SI), o qual foi justamente criado para sistematizar e padronizar as unidades de medidas, visando facilitar e uniformizar as medições em quase todo o mundo. Importante! Conheça o conversor de medidas acessando o seguinte link: https://goo.gl/G4L1qx Ex pl or Comprimento é a grandeza física usada para descrever a posição e/ou a mudança de posição de um objeto no espaço. A partir dessa grandeza torna-se possível definir dimensões importantes na Educa- ção Física, tais como tamanho do campo, da quadra, do gol ou de um alvo qualquer, altura da cesta, da rede, posicionamento de uma equipe etc. A partir dessa grandeza é possível obter dados importantes na avaliação, como as medidas antropométricas estatura (altura), comprimento e circunferências dos segmentos corporais etc. A uni- dade básica de comprimento estabelecida pelo SI é metro, simbolizado pela letra m. O sistema métrico é composto de números múltiplos de 10, sendo que outras unidades de medidas relacionadas podem ser utilizadas, como quilômetros (km), cen- tímetros (cm) e milímetros (mm), as quais, sem dúvida, você já deve ter ouvido falar. 1 km equivale a 1.000 m, 1 cm equivale a 0,01 m e 1 mm equivale a 0,001 m. Tempo é grandeza física utilizada para se descrever a sequência de eventos baseando-se em um referencial. Na verdade, mais que definido em palavras, tempo é algo melhor compreendido pela vivência: sem dúvida você entende ao que se refere o tempo, no seu dia a dia você utiliza um relógio, cumpre horários, evita atrasos, programa-se para realizar determinadas tarefas ao longo de um dia de 24 horas que passa independentemente da vontade de ser. Assim, tempo é absoluto e uniforme, existe indiferente à localização geográfica, transcorrendo em qualquer ocasião da mesma forma, não evoluindo nem mais depressa nem mais devagar. Em biomecânica, tempo é uma importante medida de desempenho, como definir quem vence uma corrida, definir o tempo de reação ou de movimento de uma pessoa, definir duração e intervalos 26 27 de um jogo etc. A unidade básica do tempo estabelecida pelo SI é segundo, simbolizado pela letra s. Existem outras unidades de medidas relacionadas a essa e que, sem dúvida, assim como para o sistema métrico, você já conhece. Por exemplo, 1 hora (h) equivale a 60 minutos (min) ou a 3.600 s, 1 min equivale a 60 s, 1 dia equivale a 24h etc. Com medidas de comprimento e tempo já se pode descrever o movimento. Por exemplo, você pode descrever a distância percorrida por um corredor, o tempo gasto pelo mesmo, bem como calcular outras variáveis (medidas) derivadas, tais como a velocidade ou a aceleração desse corredor. Entretanto, para se obter informações relacionadas às forças que atuam no movimento humano, no caso do exemplo do corredor, fazer considerações específicas como saber quantidade de força que esse corredor fez para acelerar seu corpo (aumentar sua velocidade de corrida), ou ainda num salto, saber a quantidade de força que uma pessoa deve ser exercer sobre o chão para alcançar determinada distância ou altura no salto, para se obter informações específicas como essas, uma terceira grandeza básica da mecânica, também muito importante, deve ser levada em consideração: a grandeza física massa. Massa é a quantidade de matéria que compõe um corpo. Podemos também dizer que massa é uma medida quantitativa de inércia. E você pode questionar: e o que é inércia? Simplificadamente, inércia é a propriedade do corpo de resistir a mudanças no seu movimento. Quanto maior a massa de um corpo, mais difícil será iniciar, parar ou alterar o movimento do mesmo, como ao mudar a direção e/ou velocidade. Massa é o que você visualiza no visor de uma balança quando deseja saber quanto “pesa”, que na verdade não é seu peso, mais sim sua massa corporal. Esse é um assunto que também voltará a ser abordado posteriormente. Cabe neste momento apenas destacar que a unidade básica da grandeza massa estabelecida pelo SI é quilogramas, simbolizado pelas letras kg. Assim como para comprimento e tempo, existem outras unidades de medidas relacionadas, as quais você provavelmente também já conheça. Por exemplo, 1 tonelada (t) equivale a 1.000 kg, 1 kg a 1.000 gramas (g) etc. Importante! Comprimento, tempo e massa são as grandezas físicas básicas da mecânica. Todas a demais grandezas físicas usadas na mecânica são derivadas a partir dessas três. Apesar disso, com comprimento e tempo já se pode descrever o movimento humano, isso é claro, sem levar em consideração as forças que causam o mesmo. As unidades de medida dessas três grandezas principais segundo o SI são: metros (m) para o comprimento; segundos (s) para o tempo; e quilogramas (kg) para a massa. Em Síntese 27 UNIDADE Introdução à Cinesiologia e Terminologia Básica do Movimento Humano Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Atlas Fotográfico de Anatomia COLICIGNO, P. R. C. et al. Atlas fotográfico de anatomia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. https://goo.gl/FuSRGj Manual de Cinesiologia Estrutural FLOYD, R. T. Manual de cinesiologia estrutural. 16. ed. Barueri, SP: Manole, 2011. https://goo.gl/yidius Livros Cinesiologia Clínica e Anatomia LIPPERT, L. S. Cinesiologia clínica e anatomia. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. Leitura Planeta Educação NOGUEIRA, F. Q. Weighs, measures and units. Planeta Educação. 2006. https://goo.gl/vprZrF 28 29 Referências HALL, S. J. Biomecânica básica. 5. ed. São Paulo: Manole, 2009. HAMILL, J.; KNUTZEN, K. Bases biomecânicas do movimento humano. 2. ed. Barueri, SP: Manole, 2008. MCGINNIS, P. M. Biomecânica do esporte e do exercício. Porto Alegre, RS: Artmed, 2015. 29
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