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Revista Científica UNAR (ISSN 1982-4920), Araras (SP), v.15, n.2, p.203-212, 2017. ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO NO ENSINO MÉDIO: RELATOS DA PRÁTICA PEDAGÓGICA NO ENSINO DE BIOLOGIA EM UMA ESCOLA PÚBLICA DE ARAPIRACA-AL JOSÉ GILMAR COSTA SANTOS1 MABEL ALENCAR DO NASCIMENTO ROCHA2 Resumo O estágio curricular supervisionado é uma etapa de formação prática que permite o contato do aluno-estagiário com a realidade da sala de aula. O presente estudo objetiva discorrer sobre a importância desse momento para a formação docente, trazendo observações de três estagiários da Universidade Estadual de Alagoas/UNEAL sobre a experiência vivenciada no ensino de Biologia em uma escola pública estadual de Arapiraca, Alagoas. Utiliza como procedimento metodológico a pesquisa bibliográfica e considerações acerca de relatos dos graduandos. Fica evidente a necessidade desse momento, que se caracteriza como essencial para uma formação consistente dos profissionais do magistério. Palavras-chave: Estágio curricular supervisionado. Formação prática. Ensino de Biologia. Abstract The curricular supervised traineeship is a stage of practical training that enables contact of the student-intern with the reality of the classroom. The study present aims to discuss about importance of this moment for docent training, bringing observations of three interns at the State University of Alagoas/UNEAL about the experience in teaching biology in a state public school of Arapiraca, Alagoas. Utilize like methodological procedures the literature study and considerations about reports of undergraduates. It is evident the need this moment, which is characterized as essential for a consistent training of professional teachers. Keywords: Curricular supervised traineeship. Practical training. Biology teaching. Introdução O professor é um profissional de grande relevância no contexto social e formação da cidadania, sendo essencial nos processos de mudanças das sociedades (MARANDINO, SEELES, FERREIRA, 2009). Dessa maneira, percebe-se a importância da formação desses profissionais. O Estágio Curricular Supervisionado é o momento através do qual o aluno-estagiário se depara com a realidade de sua futura profissão. No caso das licenciaturas, esta realidade é vivenciada através da prática de ensino em sala de aula. Como afirma Arnoni (2003), o estágio consiste em uma prática de formação composta de ações 1 Biólogo, Mestre em Biologia Parasitária e Graduando em Medicina pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Aracaju-SE. 2 Bióloga, Mestre em Pesquisa em Saúde. Docente do quadro efetivo na Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas – UNCISAL. Maceió-AL. SANTOS e ROCHA (2017) Revista Científica UNAR, v.15, n.2, 2017. 204 teóricas solicitadas pela prática pretendida que geram essas ações práticas. Em conformidade com os apontamentos de Francisco Junior, Peternele e Yamashita (2009), desde muito tempo a formação para o magistério é discutida frente aos seus variados aspectos: necessidades formativas, análise crítica da formação atual e as propostas de reestruturação curriculares. Em épocas passadas, a formação docente esteve voltada aos aspectos funcionais e operacionais para o ensino. Mas na atualidade a ênfase está na integração entre prática de ensino e prática social global, onde o professor deve ser crítico na análise de sua própria ação (LIMA, MÁRCIO, 2008). No desenvolvimento do estágio supervisionado, o aluno-estagiário procura obter resultados positivos no cumprimento dos requisitos acadêmicos propostos pelo professor – orientador da disciplina, que deve ter competência e legitimidade para acompanhar essa etapa da formação docente e articular atividades com os graduandos, desempenhando um trabalho satisfatório nessa aprendizagem profissional (LIMA, MARIA, 2008). De acordo com os dizeres de Azevedo e Hentschke (2005), a formação do professor considerando a sua ação prática-reflexiva valoriza a prática docente pelo conhecimento da ação. Além disso, o estágio é um ambiente: [...] apropriado onde o aluno estagiário treina o seu papel profissional, devendo caracterizar-se, portanto, numa dimensão de ensino-aprendizagem operacional, dinâmica, criativa, que proporcione oportunidades educativas que levem à reflexão dos modos de ação profissional e de sua intencionalidade, tornando o estagiário consciente de sua ação (BURIOLLA, 2006, p.11). Dentro dessa ótica, o professor prático e reflexivo constrói saberes sobre sua profissão e inova suas ações, trazendo oportunidades para a construção de estratégias e atitudes no sentido de alcançar melhores resultados na prática de ensino. Essa passagem na formação docente ainda possibilita a formação de um perfil profissional, haja vista que através dela o estagiário se conhece enquanto professor. Em outros termos, é nesse momento que é gerada a identidade do licenciando enquanto profissional do magistério (LIMA, MARIA, 2009). Ainda em consonância com os relatos dessa mesma autora (2009, p.198), a reflexão da prática de ensino se torna imprescindível em virtude de que “a sociedade moderna tem exigido dos trabalhadores da educação desempenhos cada vez mais qualificados e eficazes para conviver com as contradições e os problemas da sociedade, dita ‘globalizada’, que se refletem na escola”. Além disso, outro aspecto a se considerar durante essa prática docente diz respeito à articulação entre a teoria e a prática, resgatando e utilizando atividades experimentais aprendidas no curso de licenciatura. São estratégias que possibilitam a observação do desenrolar de aulas dessa natureza não mais de maneira teórica, mas através da vivência. Assim, o estagiário deve adaptar suas práticas de acordo com a realidade na qual a escola está inserida. Existe ainda a necessidade de planejamento das atividades a serem desenvolvidas. Dentro desse contexto, o planejamento se caracteriza como um instrumento que permite o alcance dos objetivos determinados para as aulas. Da mesma forma, planejar significa também uma atitude que evita a improvisação em sala de aula, já que o aluno-estagiário arquiteta o seu trabalho estabelecendo caminhos e metas. SANTOS e ROCHA (2017) Revista Científica UNAR, v.15, n.2, 2017. 205 Constituem aspectos a serem considerados em um planejamento: clareza, funcionalidade, objetividade e flexibilidade (MENEGOLLA, SANT’ANNA, 2005). A escola se organiza à sua maneira, desenvolvendo suas atividades corriqueiras e se posicionando diante das questões e desafios que surgem. Ademais, a sala de aula serve de âmbito de confronto entre os conhecimentos das disciplinas, conhecimentos do currículo e a cultura vivida por alunos e professores. Essa multiplicidade cultural presente na escola deve ser compreendida pelo estagiário para uma melhor consecução de suas atividades educacionais (LIMA, MARIA, 2008). Ensinar não se limita à simples transmissão de conteúdos, mas demanda medidas e ações formadoras que construam a cidadania. No entanto, existem situações inesperadas que surgem no momento das aulas. São problemas que o professor tem de resolver utilizando habilidades e saberes, como pode ser observado no discurso abaixo: A ação docente demanda articulação e mobilização de uma diversidade de saberes. O contexto da sala de aula não envolve somente o trabalho com os conteúdos de ensino, mas envolve relações interpessoais; implica a construção de habilidades para gestão da sala de aula, assim como, requer a mobilização de diferentes saberes diante das situações que surgem na sala de aula e que não são pré-determinadas, exigindo que o professor busque saídas para os problemas e conflitos que permeiam o ato de ensinar (FRISON et al., 2009). Isso demonstra que a familiarização com o cotidiano da vida profissional acontece através da prática de ensino, uma vez que o estagiandotem a oportunidade de enfrentar situações adversas em sala de aula, aprendendo a lidar com estas da melhor maneira, dentro de limites e possibilidades. Dessa forma, o professor estagiário adquire conhecimentos sobre a profissão refletindo sobre os acontecimentos da escola, analisando e buscando equacionar impasses que surgem no cotidiano da prática do magistério (NASCIMENTO, CAMPANI, 2008). Assim, a reflexão é “[...] como um caminho para o aprimoramento da prática e a formação dos professores, por ajudar a refazer o caminho trilhado possibilitando descobrir acertos e erros, e tentar construir novos rumos para a atuação, quando necessário” (MIZUKAMI, 2002, p.167 apud PEREIRA, BAPTISTA, 2009, p.03). Ao estagiar, o futuro professor passa a enxergar a educação com outro olhar, procurando entender a realidade da escola e o comportamento dos alunos, dos professores e dos profissionais que a compõem. Com isso faz uma nova leitura do ambiente (escola, sala de aula, comunidade), procurando meios para intervir positivamente (JANUÁRIO, 2008, p.03). Essa é uma das funcionalidades que o estágio representa para o futuro professor, que, enquanto aluno de um curso de licenciatura, deve estar compromissado com as suas tarefas, pois de nada adianta esse momento caso o aluno-estagiário não desenvolva as atividades requisitadas. Isso é percebido nas concepções de Januário (2008) quando este trata do fato de alguns alunos irem à escola apenas para recolher as assinaturas da direção e do professor da sala. SANTOS e ROCHA (2017) Revista Científica UNAR, v.15, n.2, 2017. 206 Nesse sentido, o presente estudo discorre sobre a importância desse momento para a formação docente através de observações de três estagiários da Universidade Estadual de Alagoas/UNEAL sobre a experiência vivenciada no ensino de Biologia em uma escola pública estadual de Arapiraca, Alagoas. Metodologia O estágio curricular supervisionado foi realizado na Escola Estadual Senador Rui Palmeira, localizada no município de Arapiraca, estado de Alagoas. Com mais de 2.200 alunos matriculados, esta unidade de ensino atende discentes das zonas rural e urbana, oferecendo as seguintes modalidades: Nível Fundamental (8º e 9º anos) e Nível Médio (1º ao 3º ano). A instituição funciona durante os turnos matutino, vespertino e noturno, e apresenta estrutura física adequada, haja vista que a escola possui salas de tamanhos proporcionais à quantidade de alunos comportada. A escola, que também é chamada de PREMEN por ter sido originada como Programa de Expansão e Melhoria do Ensino, possui 22 salas de aula, 01 diretoria geral, 01 diretoria adjunta, 01 coordenadoria, 01 secretaria, 01 biblioteca, 02 salas de vídeo, 01 laboratório de informática, 01 sala para os professores, 01 sala de reunião, 01 cozinha, 01 almoxarifado, 02 quadras de esporte, 02 pátios, sendo um coberto e o outro descoberto, 01 capela, bem como apresenta diversos recursos, como, por exemplo, 23 computadores, 02 retroprojetores, 04 DVDs, 03 televisores e 01 aparelho de som, que favorecem o ensino. Para o alcance dos objetivos propostos, foi realizado um estudo da literatura e referências bibliográficas para uma melhor compreensão da importância do assunto em questão, bem como são apresentados relatos de três graduandos em Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Alagoas, que discorrem sobre a experiência da prática de estágio no ensino médio. São análises das atividades desenvolvidas em sala de aula durante essa formação prática, onde são reveladas as expectativas, as principais dificuldades, enfim, a realidade do ensino de Biologia no nível médio em uma escola pública estadual. Neste estudo, tratamos os estagiários entrevistados como EST1, EST2 e EST3, o que significa estagiário 1, estagiário 2 e estagiário 3, respectivamente. Resultados e Discussão Vivências da prática de estágio: relatos no ensino de Biologia A prática de ensino constitui um momento de preparo, discussão e avaliação das atividades do estágio curricular, estas que permitem reflexões acerca da realidade da escola pública e promovem um trabalho crítico de formação (ARNONI, 2003). Nesse sentido, este estudo relata as principais menções de três estagiários no ensino de Biologia para o nível médio. Neste momento o estagiário se prepara para o exercício do magistério, que está cercado de situações críticas. São dilemas da profissão docente, onde o aluno estagiário pode esbarrar no contexto, que está marcado por situações de desgaste, cansaço e desilusão dos profissionais da educação. De acordo com Oliveira e Rezler (2006), “não se pode mudar o ensino sem que sejam consideradas as condições adversas que os professores enfrentam no âmbito do seu trabalho”. Enfim, os desafios da docência. Como já mencionado neste artigo, a profissão envolve mais do que o domínio dos conhecimentos específicos da disciplina ensinada, necessitando de saberes sobre a prática de ensino, que exige recursos SANTOS e ROCHA (2017) Revista Científica UNAR, v.15, n.2, 2017. 207 teóricos e metodológicos para a transmissão e compartilhamento dos saberes. Comumente, pelo fato de estarem em contato inicial com uma turma do nível médio, os licenciandos demonstram ansiedade e insegurança antes de ministrar suas aulas: Na primeira aula, a apreensão estava presente, não houve insegurança durante a aula, mas sim antes de entrar em sala (EST1). Eu estava um pouco insegura sobre o conteúdo e temerosa frente a essa nova experiência. Porém, as turmas eram boas e as aulas em ambas ocorreram de forma agradável (EST2). Ao lecionar a primeira aula, pude conhecer as turmas e apesar de estar um pouco nervosa no início, a aula transcorreu de forma agradável e segura, de modo que os alunos não perceberam o nervosismo do início e participaram da aula (EST3). Nas menções abaixo, percebe-se a presença da indisciplina em sala de aula: Em alguns momentos precisei reclamar do barulho ou conversas paralelas para poder prosseguir com a aula, mas eles sempre paravam; às vezes voltavam a conversar e buscava formas para prender a atenção deles (EST1). Em relação ao comportamento, às vezes as turmas estavam agitadas, mas faziam silêncio quando eu pedia e prestavam atenção na aula. Durante esse período usei várias metodologias de ensino. Trabalhei com aula expositiva, vídeos e debates em sala, buscando chamar a atenção deles sobre o assunto (EST2). Muitos dos alunos que frequentam o ensino médio não apresentam afinidades com a vida escolar, no entanto, são obrigados a frequentar aulas (CASTRO, 2008). Segundo Bini e Pabis (2008), a indisciplina pode estar associada à adolescência, onde as mudanças que ocorrem nesse período são expressas pela falta de interesse pelos assuntos abordados, bem como por meio de problemas de relacionamento com os colegas e com o próprio professor. Descrevendo essas modificações, pode- se observar o discurso abaixo: Nessa fase o indivíduo passa por sucessíveis transformações, sejam elas biológicas, culturais e sociais. Os atributos de direitos e responsabilidades devem ser adquiridos nessa faixa etária e assim permitindo a construção de sua identidade, das decisões e de suas ações e da capacidade de reflexão. Em suma, desenvolvendo sua autonomia, maturidade e cidadania. [...] Essas mudanças acarretam desordem nos processos de pensamento e também na formação da identidade. Ocorrem mudanças independentes da vontade do indivíduo, como a transformação corpo, a mudança intelectual e de seus interesses. Os adolescentes vivem em constante conflito, de um lado estão os valores familiares e de outro, os do grupo de convívio, que são, muitas vezes, contraditórios. Por vezes, se SANTOS e ROCHA (2017) Revista Científica UNAR, v.15, n.2, 2017. 208 exigem postura de adulto, e em outras situações preferem ser criança. Esses desequilíbrios e instabilidades podem ser considerados normais, pois faz parte deum processo de formação de sua identidade (PRADO, RODRIGUES, PASSOS, 2011, p.03). Isso pode contribuir para que o professor perca a autoridade em sala de aula. Nesse sentido, existe a necessidade da imposição de regras, porém, os alunos rejeitam por se considerarem autossuficientes para decidir o que devem ou não fazer (BINI, PABIS, 2008). O professor deve desenvolver atividades que promovam a motivação do aluno para reduzir os problemas de mau comportamento, pois assim o discente se ocupa com as atividades e encurta o tempo para que se envolva em atos que gerem indisciplina. Para isso, o professor precisa perceber as dificuldades e necessidades dos alunos e refletir sobre sua prática pedagógica, planejando atividades desafiadoras e motivadoras (ECCHELI, 2008). Ele precisa criar um ambiente agradável e estabelecer um melhor relacionamento com o alunado através do diálogo, mas que este não demonstre falta de domínio da turma, o que o aluno percebe facilmente, gerando mais indisciplina. Daí a importância da imponência do professor como autoridade e manter um ambiente digno de sala de aula, segundo Bini e Pabis (2008). Em outras palavras, é necessário que além de meios para chamar a atenção dos alunos para a aula, o professor imponha autoridade e exija obediência, no sentido de o aluno respeitar limites. A autoridade funciona como medida natural nas relações sociais, mas sem implicar violência e/ou outros meios externos de coerção. O respeito mútuo é conquistado através do diálogo, onde o aluno possa perceber a importância do seu comprometimento, ou seja, que ele entenda a importância de suas atitudes e que elas envolvem, além de outros fatores, dedicação e respeito (TARDELI, 2003). Os livros didáticos auxiliam o professor a planejar e desenvolver suas aulas, funcionando também como fonte bibliográfica. Dentre os recursos existentes ele é o mais utilizado, servindo como única referência para muitos docentes. No entanto, para enriquecer suas aulas alguns professores estabelecem uma interação pessoal e alternativa com o livro didático, deixando de lado parte dos textos e atividades (SILVEIRA JUNIOR, LIMA, MACHADO, 2012). Citando Saviani (2005, p. 13), Guedes e Schelbauer (2008) comentam sobre a importância de o professor ter conhecimento para separar o que é principal daquilo que é secundário na hora de definir os caminhos a serem seguidos, sabendo o que é fundamental/essencial para o desenvolvimento do seu trabalho docente. Sobre o uso do livro didático de Biologia durante as aulas, os registros dos estagiários podem ser observados a seguir: Apesar de utilizar o livro adotado pela escola para o prosseguimento das aulas, sempre procurei ampliar o referencial de estudo, utilizando outros livros de autorias diferentes. Além disso, o material dos alunos (livro didático) apresenta um excesso de informações ao tratar de cada conteúdo, não sendo direto ao definir os conceitos importantes, o que muitas vezes dificulta o entendimento do aluno em leitura prévia às discussões em sala de aula. Ainda, tratando dos compostos químicos essenciais ao funcionamento orgânico, o livro deixa de expor o conteúdo Vitaminas, que é um assunto de fundamental importância no cotidiano do aluno. Mas apesar SANTOS e ROCHA (2017) Revista Científica UNAR, v.15, n.2, 2017. 209 de não ser discutido no livro de Biologia, utilizei algumas aulas para a transmissão e discussão desse assunto (EST1). O livro usado pela escola era muito complexo e os alunos tinham muitas dificuldades para encontrar os conceitos, pois os textos traziam excesso de informações. Em função disso eu usava outros materiais didáticos com linguagem mais simples acessível (EST2). Considero que o conteúdo foi bem discutido, tendo em vista que não considerei suficiente o conteúdo do livro didático e busquei temas paralelos para que pudesse esclarecê-los quanto as suas dúvidas. Os conteúdos descritos no livro eram muito amplos, no entanto, não abordava os principais conceitos de forma direta, o que dificultava a aprendizagem do aluno, por isso utilizei outras referências bibliográficas e busquei levar para a sala textos mais objetivos e diretos com a finalidade de facilitar a compreensão dos alunos e pude perceber que minha estratégia foi válida já que os alunos tomavam nota dos termos dados e posteriormente afirmaram que foi mais fácil estudar para a prova através do conteúdo escrito por mim do que pelo livro didático (EST3). Esses relatos indicam que o professor deve ter autonomia para estabelecer modificações e incrementar suas aulas com um acervo bibliográfico amplo. O estágio permite o conhecimento da realidade de cada turma, favorecendo o estabelecimento de propósitos em conformidade com as necessidades dos alunos, o que guia a prática de ensino. Nesse contexto, o planejamento deve ser construído de acordo com os anseios da comunidade escolar, o que faz fundamentalmente relevante a seleção de conteúdos e a escolha de metodologias coerentes com as intenções educativas (MENEGOLLA, SANT’ANNA, 2005). Uma grande importância do estágio é a possibilidade do contato com professores, funcionários da escola e oportunidade de participar de momentos de enriquecimento profissional e colaboração para o desenvolvimento do papel social das instituições de ensino. Durante o estágio, participei do conselho de classe e do projeto Atuação das grandes empresas e órgãos públicos de Arapiraca no desenvolvimento sustentável, que foi desenvolvido com todos os alunos do ensino médio da escola (EST1). A menção abaixo diz respeito à correção realizada de atividades avaliativas: Durante a entrega de qualquer trabalho ou prova, corrigia e discutia com eles cada questão apontando os principais erros e a resposta correta e/ou que eu esperava deles, para que os alunos pudessem perceber onde erraram ou estavam equivocados (EST3). Nos comentários feitos após a prova dever-se-á esclarecer mais uma vez o sentido de cada questão. A maneira que as provas são elaboradas apresenta SANTOS e ROCHA (2017) Revista Científica UNAR, v.15, n.2, 2017. 210 consequências de grande alcance sobre o estudo dos alunos. Quando elas são feitas adequadamente e os professores se preocupam em fazer com que os alunos também entendam corretamente as intenções e métodos das mesmas, eles estudarão de forma correta. Caso isso não ocorra, o professor estará contribuindo para um esforço sem sentido, um estudo irracional. O docente deverá explicar ao aluno se este tratou o problema corretamente ou se ele estudou corretamente para o mesmo (AEBLI, 1982). Uma das turmas apresentava um aluno com necessidades especiais. Em reunião, os professores foram orientados pela coordenadora da escola sobre como trabalhar em sala de aula atendendo adequadamente esse aluno (EST1). O discurso acima revela uma realidade frequentemente encontrada em sala de aula: alunos que necessitam de atendimento diferenciado dos demais. O problema reside no fato de muitos cursos de licenciatura não apresentarem formação voltada para essa assistência diferenciada. De acordo com os dizeres de Silva (2010), para que haja a inclusão escolar não basta apenas inserir o aluno com necessidades educacionais especiais no sistema regular de ensino, é preciso um questionamento das posturas e práticas pedagógicas que estão sendo desenvolvidas no ambiente escolar. A autora, trazendo as concepções de Schaffner e Buswell (1999), defende ainda que para a inclusão escolar acontecer com êxito não basta apenas que alguns professores acreditem nela, mas que toda a comunidade escolar acredite e siga os seus princípios básicos, que envolvem democracia, igualdade e busca por uma educação de qualidade para todos os alunos atendidos na instituição. O comentário que segue resume um papel muito relevante do estágio, pois demonstra o aprendizado através da experiência, do contato com a profissão, enfim, mediante a prática docente:Estive presente apenas em turmas do 1º ano, mas quando terminei o estágio me senti preparado para encarar qualquer turma do ensino médio. Nas aulas acontecem situações inesperadas, como, por exemplo, questionamentos dos alunos sobre temas muito subjetivos e repletos de contradições como ‘A Origem da Vida’, onde o professor deve saber lidar com elas e respeitar a opinião de cada um. Durante e após cada aula verificava se estava adequada a maneira de tratar um assunto ou de como manter a turma interessada, para poder melhorar nas próximas aulas (EST1). Essa investigação também se configura como essencial pela possibilidade de o estagiário projetar o seu trabalho, avaliando os resultados, na intenção de favorecer o alunado na assimilação dos conteúdos discutidos em aula (FAZENDA, 2005). Em suma, nesta etapa do curso de licenciatura o discente mantém contato com a escola e seus diversos segmentos, conhecendo o seu ambiente de trabalho. Isso é de fundamental importância pelas possibilidades de aperfeiçoamento em uma formação experimental com eficiência, onde o licenciando coloca em prática os conteúdos aprendidos durante a formação superior e se insere no cotidiano escolar (PEREIRA, BAPTISTA, 2009). SANTOS e ROCHA (2017) Revista Científica UNAR, v.15, n.2, 2017. 211 Conclusão O estágio curricular supervisionado compreende uma etapa da formação para o magistério de grande importância para o aluno-estagiário, pois o mesmo se descobre professor, ou seja, no decorrer das aulas lecionadas percebe qual é o seu real papel enquanto educador e, a partir deste momento, se depara com diversas situações sociais e percebe sua influência sobre a sociedade na qual o alunado está inserido, vivendo momentos que antes conhecia apenas em teoria. Dessa forma, o estágio se caracteriza como um meio essencial para que se tenha uma formação consistente para o exercício do magistério no ensino de Biologia. Referências AEBLI, H. Prática de ensino. São Paulo: E.p.u - Editora Pedagógica e Universitária/Edusp: editora da USP, 1982. ARNONI, M. E. B. O estágio supervisionado na vida profissional dos professores de Ciências e de Biologia: um repensar da formação do educador. 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