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HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA INTRODUÇÃO · Hipertensão arterial (HA) é condição clínica multifatorial caracterizada por elevação sustentada dos níveis pressóricos ≥ 140 e/ou 90 mmHg. · Frequentemente se associa a distúrbios metabólicos, alterações funcionais e/ou estruturais de órgãos-alvo, sendo agravada pela presença de outros fatores de risco (FR). · A hipertensão depende diretamente do débico cardíaco e da resistência vascular periférica. · Cardiopatia hipertensiva causa o aumento do volume cardíaco, de modo que diminua a hipertensão. · A resistência vascular periférica (RVP) tende a aumentar ao longo da idade com a deposição de colágeno; em jovens, esta pode se alterar por superprodução de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina). A RVP pode decrescer em choque séptico/endotóxico ou cardiogênico. FATORES DE RISCO · Idade: há uma associação linear e contínua segundo a qual quanto mais longevo, maior o risco; · Sexo e etnia: mulheres e negros possuem mais propensão a desenvolverem hipertensão arterial sistêmica; · Excesso de peso e obesidade; · Alta ingestão de sódio: o consumo diário do brasileiro está em torno de 4,7g, sendo o recomendado 2g. · Alta ingestão de álcool: doses de 30-40g de álcool/dia em mulheres e acima de 30g em homens é suficiente para elevar consideravelmente o risco de hipertensão; · Sedentarismo: há uma associação significativa entre sedentarismo e maior prevalência de HAS; · Fatores socioeconômicos: adultos com menor escolaridade apresentaram a maior prevalência de HA autorreferida; · Genética: estudos ressaltam a presença de polimorfismos genéticos ligados à colonização. EPIDEMIOLOGIA · A hipertensão arterial é um problema de saúde pública no mundo todo. Segundo a OMS, mais de um bilhão de pessoas em todo mundo são hipertensas e cerca de 4 em 10 adultos maiores de 25 anos tem hipertensão. · Devido à maior prevalência de obesidade e o envelhecimento populacional, estima-se que um terço da população tenha hipertensão até 2025. · Atualmente, 54% dos AVC’s e 47% de isquemias cardíacas são consequência da pressão arterial elevada. FISIOPATOLOGIA · Em cerca de 90% dos pacientes com pressão arterial elevada não tem uma única causa reversível, por isso o termo Hipertensão Primária. Entretanto, a maioria desses pacientes apresenta comportamentos como consumo excessivo de calorias, sal, álcool e falta de atividade física, o que contribui para a hipertensão. · Abaixo lista-se os principais mecanismos fisiopatológicos atualmente identificados que estão envolvidos na gênese da hipertensão arterial: · Sistema Nervoso Autônomo Simpático (SNAS) · Sistema Renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) · Possui a função de manter a perfusão sistêmica tecidual; · Em situações de emergência, a sinalização renal, via células justaglomerulares, produz a angiotensina, que é convertida em angiotensinogênio, a qual pode ser convertida em angiotensina I, e catalisada pela ECA (enzima convertora de angiotensina I produzida no pulmão) em angiotensina II. · A angiotensina II provoca o aumento da pressão arterial: · Aumenta a reabsorção tubular de sódio e, consequentemente, de água; · Promover a vasoconstrição; · Produção de hormônio antidiurético (ADH) na hipófise e aldosterona na suprarrenal. · Caso a angiotensina II se conecte ao receptor AT1, ocasionará a vasoconstrição, caso ela se conecte ao receptor AT2, haverá vasodilatação. · Fármacos bloqueadores do receptor de angiotensina (BRA’s) são bastante utilizados. FATORES RELACIONADOS À GÊNESE HIPERTENSIVA · Aumento da atividade do SNA simpático; · Aumento da produção de hormônios que retém sódio; · Aumento da produção de vasoconstritores; · Ingesta aumentada de sal (> 5g ao dia); · Ingestão inadequada de potássio e cálcio; · Maior ou inapropriada secreção de renina, levando ao aumento da produção de angiotensina II e aldosterona; · Deficiência de vasodilatadores tais como prostaciclinas, óxido nítrico e peptídeos natriuréticos; · Anormalidades na RVP, como lesões microvasculares renais, com aumento de angiotensina II e aldosterona; · Deficiência de vasodilatadores tais como prostaciclinas, óxido nítrico e peptídeos natriuréticos; · Anormalidades nos vasos de resistência, incluindo lesões seletivas na microvasculatura renal. MEDIÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL · Condições adequadas: · Posição sentada; · Pernas descruzadas; · Braços semifletidos ao nível do coração; · Bexiga vazia; · Esfigmomanômetro adequado. · No consultório ou albulatorialmente: · Recomenda-se, pelo menos, a medição da PA a cada dois anos para adultos com PA ≤ 120/80 mmHg, e anualmente para aqueles com PA > 120/80 mmHg e < 140/90 mmHg. · Hipotensão ortostática deve ser suspeitada em idosos, diabéticos e em uso de anti-hipertensivos. · Fora do consultório ou do ambiente ambulatorial: · A PA fora do consultório pode ser obtida através da medição residencial da pressão arterial (MRPA), com protocolo específico, ou da monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA) de 24 horas. DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO · A avaliação inicial do paciente com hipertensão inclui história clínica e exame físico para confirmar a elevação da pressão arterial e identificar os fatores de risco associados, alguma possível causa secundária e avaliar o risco cardiovascular. · Cerca de 90% dos pacientes são assintomáticos. Alguns podem apresentar cefaleia e tontura, que nem sempre estão associados a HAS. · É fundamental a pesquisa de lesão de órgãos alvo (LOA), como os rins, os vasos e o coração e pesquisa de causas secundárias da hipertensão arterial. · Classificação: EXAMES COMPLEMENTARES · Os exames complementares são fundamentais para a avaliação do paciente hipertenso, sobretudo aqueles com maior risco de lesão de órgão alvo. Os principais exames que devem ser solicitados de acordo com historia e exame físico são: · Sumário de urina; · Potássio plasmático; · Creatinina sérica; · Glicemia de jejum; · Colesterol total e frações; · Ácido úrico plasmático; · Eletrocardiograma; · Hemoglobina e hematócritos. FATORES DE RISCO ADICIONAIS EM CENÁRIO DE HIPERTENSÃO · Sexo masculino; · Idade; · Homens ≥ 55 anos ou mulheres ≥ 65 anos · História de DCV prematura em parentes de 1º grau · Homens < 55 anos ou mulheres < 65 anos · Tabagismo · Dislipidemia · Colesterol total > 190 mg/dl e/ou · LDL-colesterol > 115 mg/dl e/ou · HDL-colesterol < 40 mg/dl nos homens ou < 46 mg/dl nas mulheres e/ou · Triglicerídeos > 150 mg/dl · Resistência à insulina · Glicemia plasmática em jejum: 100-125 mg/dl · Teste oral de tolerância à glicose: 140-199 mg/dl em 2 horas · Hemoglobina glicada: 5,7 – 6,4% · Obesidade · IMC ≥ 30 kg/m2 · CA ≥ 102 cm nos homens ou ≥88 cm nas mulheres ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO · O risco cardiovascular deve ser avaliado em todo paciente hipertenso, pois auxilia na decisão terapêutica e no prognóstico. A estratificação do risco CV no hipertenso pode ser baseada em duas estratégias diferentes: · 1ª: o objetivo da é determinar o risco diretamente relacionado à hipertensão. Nesse caso, a classificação depende dos níveis da PA, dos fatores de risco associados, das lesões em órgãos alvo e da presença de DCV ou doença renal. · 2ª: o objetivo é determinar o risco de um indivíduo desenvolver DCV em geral nos próximos 10 anos. Embora essa forma de avaliação não seja específica para o paciente hipertenso, pois pode ser realizada em qualquer indivíduo entre 30 e 74 anos, vale ressaltar que a HA é o principal fator de risco cardiovascular. TRATAMENTO · O tratamento do paciente hipertenso inclui medidas não medicamentosas e uso de anti-hipertensivos, a fim de reduzir a PA e prevenir lesão de órgão alvo. · A decisão terapêutica deve ser baseada no nível da PA, presença de fatores de risco, lesão de órgão alvo ou doença cardiovascular. · A terapia não farmacológica deve ser tentada por 3 meses nos hipertensos com risco baixo e 6 meses nos hipertensos com risco moderado. · É preconizado iniciar o tratamento farmacológico nos casos de falta de adesão ou piora dos níveis pressóricos. · Hipertensos estágio 2 e 3 e/ou de alto risco· Pacientes com PA maior ou igual a 160/100 mmHg e/ou portadores de risco cardiovascular alto, mesmo no estágio 1 devem iniciar imediatamente o tratamento medicamentosos associado ao não medicamentoso. · PA de 130-139/85-89 mmHg · Nesses pacientes é preconizado o tratamento não medicamentoso. · O tratamento medicamentoso deve ser considerado nesses pacientes com história prévia de doença cerebrovascular ou com risco cardiovascular alto. · Hipertensos idosos · O mecanismo do aumento da PA mais comum nos idosos é o enrijecimento da parede arterial dos grandes vasos, condição comum nas idades avançadas. · Recomenda-se o inicio do tratamento farmacológico em idosos a partir de PAS ≥ 140 mmHg, desde que seja avaliado as condições gerais do indivíduo. · Nos pacientes com 80 anos ou mais, o limite para o inicio da terapia farmacológica aumenta para PAS ≥ 160 mmHg. TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO · Essa terapia envolve o controle ponderal, medidas nutricionais (controle do consumo de sódio, alimentação com fibras, ácidos graxos insaturados, oleaginosas, laticínios e etc), prática de atividade física, cessação do tabagismo, redução do consumo de álcool e controle do estresse. · Recomendado na quase totalidade dos casos. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO · Ação anti-hipertensiva: efeitos natriuréticos com diminuição do volume extracelular e redução da resistência vascular periférica. · Efeitos adversos: fraqueza, câimbras, hipovolemia, disfunção erétil, hipopotassemia, aumento do ácido úrico. · Dar preferência a diuréticos tiazídicos/similares (clortalidona, hidroclorotiazida e indapamida) em doses baixas. · Usar os diuréticos de alça (furosemida e bumetanida) em casos de insuficiência renal e edema. · Poupadores de potássio (espironolactona e amilorida) são usados em associação com tiazídicos. · Agonistas alfa de ação central: · Ação anti-hipertensiva: estímulo de receptores alfa 2 que estão envolvidos nos mecanismos simpatoinibitórios. Diminuem a atividade simpática e o reflexo dos barorreceptores contribuindo para bradicardia relativa; reduz níveis plasmáticos de renina e retêm fluidos. · Representantes: metildopa, clonidina, guanabenzo, monoxidina e rilmenidina. · Efeitos adversos: sonolência, sedação, boca seca, fadiga, hipotensão postural e disfunção erétil. Metildopa pode provocar reações autoimunes como febre, galactorreia e disfunção hepática. Clonidina apresenta maior risco de efeito rebote com descontinuação. · Observações: uso de clonidina pode ser favorável em casos de hipertensão associada a síndrome das pernas inquietas, retirada de opioides, diarreia associada a neuropatia diabética. · Beta-bloqueadores: · Ação anti-hipertensiva: diminuição do DC e secreção de renina com readaptação dos barorreceptores e diminuição das catecolaminas. · Representantes: propranolol (não seletivo), atenolol, metoprolol, carvedilol. · Efeitos adversos: broncoespasmo, bradicardia, vasoconstrição periférica, insônia, pesadelos, depressão psíquica, astenia e disfunção sexual. · Observações: os BB de primeira e segunda geração são contraindicados nos pacientes com asma, DPOC e bloqueio atrioventricular de 2 e 3º grau. · Alfa-bloqueadores: · Ação anti-hipertensiva: antagonistas competitivos dos receptores alfa 1 pós-sinápticos levando a redução da RVP e do DC · Representantes: doxazosina, prazosina e terazosina. · Efeitos adversos: hipotensão sintomática na primeira dose, incontinência urinária. · Observações: efeito hipotensor discreto, usado em associação. · Vasodilatadores diretos: · Ação anti-hipertensiva: atuam diretamente relaxando a musculatura lisa arterial e levando a redução da RVP. · Representantes: hidralazina e minoxidil · Efeitos adversos: cefaléia, taquicardia reflexa e reação lúpus like. · Observações: Hirsutismo com monoxidil ocorre em cerca de 80% dos pacientes. · Bloqueadores dos canais de cálcio: · Ação anti-hipertensiva: redução da RVP devido a redução do cálcio intracelular. Existem 2 classes: · BCC di-idropiridínicos: efeito vasodilatador predominante, com mínima interferência na frequência e na função sistólica, sendo, por isso, mais frequentemente usados como anti-hipertensivos. · BCC não di-idropiridínicos: menor efeito vasodilatador, e podem ser bradicardizantes e antiarrítmicos, o que restringe seu uso a alguns casos específicos · Representantes: BCC di-idropiridínicos (amlodipino, nifedipino, felodipino, nitrendipino, manidipino, lercanidipino, levanlodipino, lacidipino isradipino, nisoldipino, nimodipino). Não di-idropiridínicos (verapamil e diltiazem). · Efeitos adversos: edema maleolar, cefaléia, rubor facial, hipertrofia gengival. · Observações: em geral são usados como uma alternativa aos BB’s. · Inibidores da ECA: · Ação anti-hipertensiva: a inibição da enzima conversora de angiotensina I, impedindo a transformação de angiotensina I em angiotensina II, de ação vasoconstritora. · Representantes: captopril, enalapril, ramipril, lisinopril. · Efeitos adversos: tosse seca, elevação da uréia e creatinina, hipopotassemia em pacientes com insuficiência renal e diabéticos. · Observações: retardam o declínio da função renal em pacientes com nefropatia diabética ou de outras etiologias. Seu uso é contraindicado na gravidez. · Bloqueadores da angiotensina: · Ação anti-hipertensiva: antagonizam a ação da angiotensina II por meio do bloqueio específico dos receptores AT1, responsáveis pelas ações vasoconstritoras, proliferativas e estimuladoras da liberação de aldosterona, próprias da angiotensina I · Representantes: losartana, valsartana, candesartrana, telmisartrana. · Efeitos adversos: são incomuns. Exantema raramente observado. · Observações: contraindicado na gravidez. · Inibidores diretos da renina: · Ação anti-hipertensiva: clínico, promove a inibição direta da ação da renina com consequente diminuição da formação de angiotensina II. · Representante: alisquireno. · Efeitos adversos: rash cutâneo, diarréia, tosse. · Observações: contraindicado na gravidez. METAS A SEREM ALCANÇADAS · Hipertensos estágios 1 e 2 com risco cardiovascular baixo e moderado e a partir de hipertensos estágio 3: · A meta preconizada é de manter a pressão alterial abaixo de 140/90 mmHg; · Hipertensos estágios 1 e 2 com risco CV alto: · A meta preconizada é de manter a pressão arterial abaixo de 130/80 mmHg*; * Para pacientes com doenças coronarianas, a PA não deve ficar < 120/70 mmHg, particularmente com a diastólica abaixo de 60 mmHg pelo risco de hipoperfusão coronariana, lesão miocárdica e eventos cardiovasculares REFERÊNCIAS: · Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Volume 107, Nº 3, Supl. 3, Setembro 2016. · GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, Dennis. Cecil Medicina Interna. 24. ed. Saunders Elsevier, 2012. · Clínica Médica FMUSP, volume 2: doenças cardiovasculares, doenças respiratórias, emergências e terapia intensiva. – 2 ed. – Barueri, SP: Manole, 2016. · SANARMED. Hipertensão Arterial Sistêmica. Disponível em: https://www.sanarmed.com/hipertensao-arterial-sistemica-resumo-completo-mapa-mental. Acesso em: 29 set. 2020. Luiz Gerson Gonçalves Neto – Medicina – 2020.2
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