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Intervenção Psicológica em Criança com Síndrome de Williams

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Intervenção:
A intervenção a seguir foi elaborada através de uma queixa da mãe de J P, um menino de 09 anos que possui Síndrome de Williams. J P foi diagnosticado ainda bebê através de um exame de sangue solicitado pelo pediatra, por ter nascido com baixo peso. Identificada a patologia, J P foi devidamente encaminhado a todos os tratamentos compatíveis com a síndrome e seguiu uma vida normal, dentro de suas limitações. 
O que levou a mãe de J P ao consultório psicológico foi uma alteração no comportamento do menino. É típico da Síndrome de Williams, um comportamento sociável e amável, mas a mãe relata que J P de duas semanas pra cá, tem relutado em ir para escola e quando vai, grita e chora muito, a ponto da mãe ter que ir busca-lo. 
A intervenção se iniciou com uma Anamnese, sendo esta uma entrevista que contem perguntas específicas sobre a queixa e o objeto da queixa, além de questões básicas como nome, sexo, idade, etc. Foi durante a anamnese que a mãe relatou problemas de comportamento de J P na escola e resistência em casa desde que se mudaram. O pai de J P havia sido promovido no trabalho, mas para isso, teriam que se mudar de cidade. Em comum acordo, ele e a mãe resolveram que seria melhor para a família, já que com condições mais favoráveis, poderiam colocar J P uma escola melhor e a cidade era relativamente mais tranquila, fator contribuinte para decisão. Para um entendimento completo da situação, compareci pessoalmente na escola e conversei com a professora. A mesma me relatou que nunca teve problemas com J P nos três meses em que iniciou seus trabalhos com ele, mas que foi ela mesma que havia relatado as mudanças para a mãe. A professora conta que o garoto passou a ser muito agressivo, chorava muito, gritava e só queria ficar perto dela, sem interesse em sair para brincar com as outras crianças nem mesmo nas atividades que mais gostava que era cantar. Suas notas haviam caído por consequência. 
	
Encerrada a entrevista com a professora, solicitei um contato direto com a criança. A mãe levou J P ao consultório e pude conhecê-lo pessoalmente. J P parecia realmente uma criança amável. Extremamente comunicativo, não se mostrou incomodado em conversar. Nosso primeiro contato percorreu sem grandes dificuldades. Enquanto conversávamos, observava seu comportamento e vi toda sua tranquilidade se esvair quando perguntei a ele sobre a escola. O olhar doce de J P deu lugar a uma irritada e estressada. Não conseguia tirar dele o que estava acontecendo, fora o fato de uma mudança repentina que por si só já é traumática o bastante para qualquer criança. Consegui que ele se acalmasse e solicitei o retorno em dois dias. 
A mãe de J P compareceu na data indicada. Ele estava mais calmo, conversava muito, mas ainda mostrava grande sinal de ansiedade, sintoma típico da síndrome. Durante a anamnese que realizei com a mãe e juntando com a entrevista da professora, elaborei uma forma especifica de trabalho com J P. É claro que não poderia tratar com ele da mesma forma que trato outras crianças, pois não estaria respeitando suas limitações. Sabendo disso, apliquei de forma lúdica um teste para medir sua inteligência. Os resultados obtidos não foram satisfatórios, pois J P apresentava irritabilidade, impossibilitando uma resposta fidedigna. Marquei um retorno para dois dias. 
J P compareceu a consulta marcada desta vez acompanhado pelo pai, permitindo-me concluir que o mesmo era presente na vida da criança e que isso não era uma possível questão a ser tratada. J P estava especialmente irritado e novamente apresentava sinais de estresse. O pai me contou que J P havia relutado muito naquela manha para ir à escola e na aula, a professora não teve pregresso. Solicitei que J P fizesse um desenho, imaginando-se na escola. A atividade até teve um sucesso, mas durou muito pouco. J P levantava, pedia para ir ao banheiro, chamava o pai que esperava do lado de fora. O pouco que desenhou e que conseguiu me explicar, J P desenhou muita criança, brinquedos como bola, corda, carrinho. Desenhou a professora junto com todos e se desenhou também, só que distante deles. Perguntei porque ele não estava junto com os amigos, ele me respondeu com choro e pediu pelo pai. Encerrei a seção e agendei novo retorno. 
O pai novamente o trouxe, no dia marcado, pois disse que queria estar presente neste momento do filho. J P havia se irritado novamente naquela manhã, se opondo a ir para escola. Tentei desta vez um novo recurso para prender sua atenção durante a consulta. Fiz uma nova pesquisa sobre a Síndrome de Williams, conversando com um amigo médico. Ele me deu uma dica de algo que pudesse funcionar. Levei para o consultório naquele dia, uma TV e um aparelho de DVD com microfone. Coloquei musicas e pedi que J P cantasse comigo. Finalmente pude ver J P se entregando ao atendimento. Ele cantou todas as musicas de que gostava, dançou. Por sua vontade, disse que queria fazer um novo desenho para mim. Deixei a musica tocando e lhe dei lápis de cor e papel. Terminado o desenho, J P indicou com o dedo, ele, eu, a professora e crianças ao redor dele. Fiquei feliz por ele estar perto de crianças novamente, mas algo me surpreendeu. Ele me disse que essas crianças que ele desenhara, eram seus amigos da outra escola e da rua que morava. Perguntei se ele sentia saudade de seus amigos, ao que me respondeu positivamente. 
Finda seção, marquei uma consulta com o pai e a mãe de JP. Expliquei à eles que J P estava mostrando um nível elevado de estresse, pois estava sentindo falta da sua escola anterior; das professoras e de seus amigos. A professora da antiga escola tinha uma formação diferenciada e sabia lhe dar com as limitações de J P sem grandes dificuldades. A nova escola, apesar de muito boa no que se refere ao ensino, não possuía professores especializados. Desta forma, J P se sentia desprotegido, já que tinha um grande apego com todos da antiga escola. Os pais não haviam percebido os motivos que levaram a mudança de comportamento de J P, pois ainda estavam no processo de mudança, cuidando de papeladas e afins, e acabaram por não perceber que isso estava afetando seu filho. 
Os pais de J P me pediram que marcasse uma reunião com a escola, pois queriam ajudar a instituição de alguma forma. Eles gostaram muito de como J P havia se desenvolvido em tão pouco tempo, vindo a decair por conta da saudade que sentiu de seus amigos da cidade onde morava. Nesta reunião estavam presentes os pais, a Diretora, a pedagoga, os professores e a psicóloga local. Sugeri atividades lúdicas de interação entre as crianças. 
A escola tinha um suporte para teatro e este foi instituído nas atividades. Musica, dança, oficina de artesanato entre outras atividades em que as crianças pudessem trabalhar juntas foram introduzidas ao currículo escolar e isso trouxe à escola um resultado positivo bem acima do esperado. 
Tempos depois recebi uma ligação da mãe de J P me dizendo da melhora em que o garoto demonstrou depois das consultas. A escola passou a ser referencia na cidade e isso trouxe mais crianças com outras síndromes e J P teve oportunidade de conhecer outra criança igual a ele.

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