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História e Cultura afro-brasileira Profª: Rosário Parte 2 Movimento Negro O movimento negro começou a surgir no Brasil durante o período da escravidão. Para defender-se das violências e injustiças praticadas pelos senhores, os negros escravizados se uniram para buscar formas de resistência. Ao longo dos anos, o movimento negro se fortaleceu e foi responsável por diversas conquistas desta comunidade, que por séculos foi injustiçada e cujos reflexos das políticas escravocratas ainda são visíveis na sociedade atual. O movimento negro é um fenômeno utilizado em forma de diferentes organizações para reivindicar direitos para a população negra que sofre com o racismo na sociedade. Na maioria dos países onde os negros foram escravizados houve sempre uma tentativa de mudar a situação aos quais estavam submetidos. Atualmente, o movimento negro é plural e reúne além das pautas como o combate ao racismo, diferentes vertentes como o feminismo, a luta pelos direitos LGBT e tolerância religiosa. História do movimento negro O movimento negro no Brasil surge, ainda de forma precária e clandestina, durante o período escravagista. Grandes personagens se insurgiram contra o sistema e impulsionaram o movimento. Dentre eles, um dos mais conhecidos é Zumbi dos Palmares (líder do Quilombo dos Palmares). Vale lembrar que os escravizados utilizavam-se da quilombagem (fuga para os quilombos e outros tipos de protestos) e do bandoleirismo (guerrilha contra povoados e viajantes) para rebelar-se contra a escravidão. Ainda no mesmo período, o Movimento Liberal Abolicionista passa a ganhar força, desenvolvendo a ideia de fim da escravidão e comércio de escravos. Como resultado, foi promulgada, em 13 de Maio de 1888, a Lei Áurea, encerrando o longo período escravagista. A população negra inicia então um novo desafio: a luta contra o preconceito e desigualdade social. O movimento negro após a abolição da escravatura Ao final do século XIX e durante uma grande parte do século XX, circulam jornais e revistas voltados aos negros. Os periódicos são fundados por associações dos mais diversos tipos, desde carnavalescas, até literárias. As publicações começam com o intuito de discutir a vida da população negra em geral e promover assuntos interessantes à época. Porém, esses periódicos acabaram se tornando meios de denúncia de atos praticados contra os negros, das dificuldades desse grupo no período pós-escravagista, da desigualdade social entre negros e brancos e das restrições sofridas em decorrência do preconceito racial. O agrupamento de todas as publicações passou a ser conhecido como Imprensa Negra Paulista. Dentro deste mesmo período, em 1931, é fundada a Frente Negra Brasileira. Esse movimento viria a se transformar em partido político, extinto com os demais na criação do Estado Novo. Década de 60 Nesta época, o movimento negro brasileiro é influenciado pela luta dos Direitos Civis nos Estados Unidos. Temos figuras emblemáticas como o reverendo Martin Luther King, que defende a inclusão do negro através da resistência pacífica. O lema "Black is Beautiful" valorizava a estética negra em detrimento do modelo branco. Dessa forma, os negros e as negras param de alisar os cabelos, vestem-se com motivos africanos e passam a realçar seu fenótipo ao invés de escondê-los. Tudo isso influenciará a moda e a percepção que os negros brasileiros tinham de si mesmos também. Por outro lado, líderes como Malcon X e o movimento dos "Panteras Negras" propunham o uso da violência como meio para alcançar mais participação na sociedade americana. Martin Luther King Malcon X Panteras Negras O que o movimento negro busca hoje? Após a abolição, os negros passaram a habitar guetos e comunidades, como forma de proteção, e em razão da falta de oportunidades. Entre as reivindicações do movimento negro hoje em dia está a compensação por todos os anos de trabalho forçado e à falta de inclusão social após esse período; a falta de políticas públicas destinadas a maior presença do negro no mercado de trabalho e nos campos educacionais. Também, a efetiva aplicabilidade das leis que buscam a criminalização do racismo e a plena aceitação e respeito à cultura e herança histórica. No ano de 2003 é instituída a Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial (SEPIR) que tinha como missão promover mecanismos de inclusão social para a população negra. Uma das bandeiras do movimento negro era a aprovação das cotas raciais em instituições de ensino federais que já vinha sendo aplicada em alguns estados. Além da consagração, em nível federal, da Leis de Cotas, o movimento negro nunca foi tão plural. Baseando-se na questão do combate ao racismo, outras discussões foram abertas como a do preconceito à mulher negra, ao homossexual negro, ao/a trans negro, etc. Igualmente, surgem novas discussões como a "apropriação cultural", o "embranquecimento" e a cristianização de tradições afro-brasileiras como a capoeira e o acarajé, que fazem os movimentos negros continuarem alertas para suas demandas. Outra discussão importante é o genocídio da população negra, especialmente os jovens, que são o alvo constante das batidas policiais. Novas lideranças e intelectuais têm surgido como resultado da Lei de Cotas. Dente elas, podemos citar Djamila Ribeiro, Núbia Moreira e a vereadora carioca Marielle Franco (PSOL/RJ), brutalmente assassinada por causa de suas lutas políticas em março de 2018. Cotas Raciais consiste na prática de reservar uma parte de vagas do ensino público ou de trabalho para indivíduos de um mesmo grupo étnico desfavorecido. As cotas foram usadas por diversos países a fim de corrigir desigualdades étnicas e socioeconômicas. Da mesma forma, elas fazem parte de políticas afirmativas que visam dar oportunidade as minorias que historicamente sofreram algum prejuízo durante a formação de um Estado. Esta ação também é chamada de “discriminação positiva”. A expressão une dois termos contraditórios, pois toda discriminação prejudica o indivíduo. No entanto, o termo é empregado para descrever quando se privilegia um determinado grupo racial, cultural, étnico, com cotas e mecanismos de ascensão social com o objetivo de integrá-lo à sociedade. Cotas Raciais Argumentos A aprovação de cotas raciais provocou - e ainda provoca - um intenso debate na sociedade brasileira. Selecionamos alguns dos argumentos a favor e contra desta questão: A Favor •O curso universitário é um dos que mais favorece a ascensão social e a maioria dos alunos das universidades brasileiras são estudantes brancos. •O Brasil tem uma dívida histórica com a população negra por conta da escravidão. •Ajuda a promover a diversidade étnica em profissões que são ocupadas tradicionalmente por brancos. •Dá exemplo para que outros jovens negros e indígenas sintam-se motivados para ingressar na universidade. •Como as cotas raciais promovem a convivência entre vários grupos étnicos, isto ajuda a diminuir o racismo. Contra •Os cotistas roubam a vaga daqueles que não foram contemplados por este sistema. •Muitos não se sentem responsáveis por aquilo que aconteceu no passado. •As cotas dariam mais chances para os negros, pois eles não precisam estudar para passar no Vestibular. •As cotas vão contra a meritocracia(significa que todo indivíduo é capaz de prosperar somente com suas capacidades sem precisar da ajuda da sociedade, Estado ou família) e favorecem o racismo, ao invés de suprimi- lo. •O sistema de cotas fará cair a qualidade do ensino superior. Sistema de Cotas Raciais Em agosto de 2012, o governo federal sancionou a Lei nº 12.711/2012, popularmente conhecida como Lei de Cotas. Nesta lei está prevista que 50% das vagas das instituições de ensino superior federal são para estudantes que cursaram o Ensino Médio em escolas públicas. A lei federal funciona da seguinte maneira. Tomemos como exemplo uma universidade federal que oferece 32 vagaspara o curso de Comunicação Social. Dessas, 16 vagas estarão reservadas para as cotas. Dentro dessas 16 vagas, 50% - ou seja 8 vagas - deverá ser destinado a alunos que tenham a renda familiar bruta igual ou inferior a um salário mínimo per capita. Também dentro desses 50%, estão reservadas aos alunos que tenham renda superior a um salário mínimo per capita. As outras 8 vagas, devem estar reservadas a portadores de deficiência física, negros e indígenas (proporcional à população de cada estado). Com este mecanismo, segundo os dados divulgados pelo Ministério de Educação (MEC), o número de negros cursando o ensino superior saltou de 3%, em 1997, para 19,8%, em 2013. O sistema de cotas está crescendo de acordo com o MEC (Ministério da Educação): em 2013, 50.937 vagas foram preenchidas por negros, e em 2014, o número subiu para 60.731. Trabalho escravo contemporâneo O trabalho escravo é uma grave violação de direitos humanos que restringe a liberdade do indivíduo e atenta contra a sua dignidade. O fenômeno é distinto da escravidão dos períodos colonial e imperial, quando as vítimas eram presas a correntes e açoitadas no pelourinho. Hoje, o trabalho escravo é um crime expresso no Código Penal e pode ser constatado a partir de qualquer um dos seguintes elementos: trabalho forçado, jornada exaustiva, servidão por dívida e condições degradantes. Artigo 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalhando, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: Pena- reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência. § 1º. Nas mesmas penas incorre quem: I- cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho; II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. § 2º. A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: I – contra a criança ou adolescente; II – por motivo de preconceito de raça, cor etnia, religião ou origem. O trabalho escravo não é caracterizado por meras infrações trabalhistas. Ele é um crime contra a dignidade humana. Numa relação de trabalho, a constatação de qualquer um desses elementos é suficiente para configurar trabalho escravo: TRABALHO FORÇADO: O indivíduo é obrigado a se submeter a condições de trabalho em que é explorado, sem possibilidade de deixar o local seja por causa de dívidas, seja por ameaça e violências física ou psicológica. Em alguns casos, o trabalhador se encontra em local de difícil acesso, isolado geograficamente. JORNADA EXAUSTIVA: Expediente desgastante que vai além de horas extras e coloca em risco a integridade física do trabalhador, já que o intervalo entre as jornadas é insuficiente para a reposição de energia. Há casos em que o descanso semanal não é respeitado. Assim, o trabalhador também fica impedido de manter vida social e familiar. SERVIDÃO POR DÍVIDA: Fabricação de dívidas ilegais referentes a gastos com transporte, alimentação, aluguel e ferramentas de trabalho. Esses itens são cobrados de forma abusiva e descontados do salário do trabalhador, que permanece cerceado por uma dívida fraudulenta. Em muitos casos, todo o seu salário é simplesmente retido, assim como os seus documentos pessoais. CONDIÇÕES DEGRADANTES: Um conjunto de elementos irregulares que caracterizam a precariedade do trabalho e das condições de vida sob a qual o trabalhador é submetido, atentando contra a sua dignidade. Ex: alojamento precário (em alguns casos vivem em barraco de lona em chão de terra), falta de assistência médica (quando adoecem ou se machuca não recebem tratamento);péssima alimentação (a quantidade de comida é insuficiente para renovar as forças); falta de saneamento básico e água potável ; maus tratos e violência (humilhação e uso da violência para intimidar, castigos e punições); Elementos que colaboram para cercear a liberdade do trabalhador: retenção de salário ( o empregador diz que o salário só será pago no final da empreitada); isolamento geográfico ( os locais de trabalhos são distantes da cidade ou de difícil acesso); retenção de documentos (para impedir a fuga e a denuncia) O governo federal brasileiro assumiu a existência do trabalho escravo contemporâneo perante o país e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 1995. Assim, o Brasil se tornou uma das primeiras nações do mundo a reconhecer oficialmente a ocorrência do problema em seu território. De 1995 até 2016, mais de 52 mil trabalhadores foram libertados de situações análogas a de escravidão em atividades nas zonas rural e urbana. No Brasil, 95% das pessoas submetidas ao trabalho escravo rural são homens. As atividades para as quais esse tipo de mão de obra é utilizado exigem força física, por isso os aliciadores buscam principalmente homens e jovens. Os dados oficiais do Programa Seguro- Desemprego registrados de 2003 a 2018 indicam que, entre os trabalhadores libertados, 70% são analfabetos ou não concluíram nem o 5º ano do Ensino Fundamental. Os trabalhadores rurais libertados são, em sua maioria, migrantes internos, que deixaram suas casas com destino à região de expansão agrícola e se empregaram em atividades como a pecuária, a produção de carvão, o desmatamento e o cultivo de cana-de-açúcar, soja, algodão e outras lavouras. Já no meio urbano, desde de 2010 têm crescido o número de trabalhadores escravizados em setores como a confecção têxtil, os quais são, em sua maioria, migrantes internacionais oriundos de países da América Latina, como Bolívia, Paraguai e Peru. Nesse período também foram registrados casos recorrentes na construção civil, com libertações de migrantes internos. O recente fluxo de haitianos e venezuelanos para o Brasil também já tem reverberado em libertações de trabalhadores desses países em território nacional. No geral, os migrantes saem de suas cidades e países atraídos por falsas promessas de trabalho, ou migram forçadamente por causa de sua precariedade socioeconômica. Com o objetivo de erradicar o trabalho escravo, o Estado brasileiro tem historicamente centrado esforços na repressão ao crime, dedicando-se a medidas como a fiscalização de propriedades privadas e a punição administrativa e econômica daqueles que empregam trabalhadores sob essas condições. Ainda que essas ações sejam fundamentais para libertar os trabalhadores e sancionar os responsáveis, elas são insuficientes para erradicar a prática do trabalho escravo. A erradicação do trabalho escravo deve passar também pela criação de políticas públicas articuladas que contemplem a assistência à vítima e a prevenção ao problema, de forma que os trabalhadores possam se desvincular da situação de exploração à qual estão ou podem estar submetidos. Dentre as políticas de prevenção, estão as ações afirmativas no âmbito da Educação. Com esse tipo de iniciativa, realizado por meio da construção de processos formativos, divulgação de informações e promoção de debates sobre trabalho escravo, as comunidades alcançadas se tornam preparadas para enfrentar o problema e denunciar práticas exploratórias. Preconceito O preconceito é um juízo de valor criado sem razão objetiva e que se manifesta por meio da intolerância. Geralmente ele envolve o rechaço à condição social, nacionalidade, orientação sexual, etnia, maneira de falar ou de se vestir de um indivíduo ou grupo social. O preconceito surge por meio do julgamento nocivo que se faz sobre as diferenças entre as pessoas. Esse tipo de atitude é muito prejudicial à sociedade, visto que gera desentendimentos, intrigas, ódio, etc. Definição de Preconceito Preconceito é um pré-julgamento - literalmente, "pré-conceito" - uma concepçãoque já existe sem que haja fundamentação científica para tal opinião. Em outras palavras, o preconceito é criado a partir de crenças e superstições que, por vezes, sustentam o ódio ou repúdio a determinado grupo. Os indivíduos mais preconceituosos cresceram em contextos onde o preconceito era manifestado por atitudes discriminatórias. Assim, eles carregam determinadas ideologias geradas por uma base irracional. Preconceito no Brasil O preconceito no Brasil tem sido um tema extremamente discutido, visto o aumento da violência no país a certos segmentos sociais nas últimas décadas. Ainda que seja polêmico para muitos, faz-se necessário colocá-lo na pauta central dos assuntos debatidos pela sociedade. Sabe-se que a desigualdade social no Brasil é enorme. Esse problema tem gerado diversos tipos de preconceitos que envolvem a cor, o gênero e a renda. Infelizmente, é comum ver atos discriminatórios no país, cujo resultado são diversos crimes de ódio e aversão. Essa falta de tolerância com o outro tem crescido exponencialmente no território nacional e, portanto, faz-se necessário punir os preconceituosos para que essas atitudes sejam erradicadas. Tipos de Preconceito Atualmente é comum falar dos diversos tipos de preconceito. Os mais frequentes são: Preconceito Social: é um tipo de preconceito relacionado com a classe social, ou seja, está baseado no poder aquisitivo e padrão de vida dos indivíduos, sendo classificada basicamente em: ricos e pobres. Preconceito Racial: gerado pelas diferenças étnicas (racismo) Preconceito Religioso: gerado pela diferença de crenças Preconceito Linguístico: gerado pelas diferenças linguísticas. Preconceito Cultural: gerado pelas diferenças culturais (etnocentrismo e xenofobia) Preconceito Sexual: gerado pelas diferenças sexuais (sexismo e homofobia) Discriminação É denominada discriminação toda a atitude que exclui, separa e inferioriza pessoas tendo como base ideias preconceituosas.Esse tipo de violência geralmente é praticado contra as classes sociais baixas, população negra, população LGBT, obesos, nordestinos, pessoas de outras etnias e religiões, além de demais grupos sociais. Muitas vezes a discriminação é vista como sendo a mesma coisa que o preconceito. De fato, os dois termos estão relacionados. Entretanto, consideramos preconceito uma atitude mais ligada a aspectos psicológicos e mentais. A pessoa preconceituosa tem opiniões infundadas, estruturadas em ideias pré-concebidas e fruto da ignorância. Já a discriminação social é algo mais concreto, uma atitude de segregação ou tratamento diferenciado, inferiorizando um indivíduo ou grupo de indivíduos. Assim, toda discriminação surge a partir de um preconceito e algumas são consideradas crimes, podendo ser punidas judicialmente. Racismo O Racismo é um tipo de preconceito associado às raças, às etnias ou às características físicas. As pessoas denominadas racistas baseiam-se na ideologia da superioridade. Em outras palavras, esse tipo de preconceito assinala que algumas raças ou etnias são superiores às outras, seja pela cor da pele, pensamentos, opiniões, crenças, inteligência, cultura ou caráter. Podemos comprovar o racismo manifestado em muitos momentos da história como formas de dominação, por exemplo: a escravidão, o apartheid, o holocausto, o colonialismo, o imperialismo, o branqueamento enfatizado por muitos ditadores, dentre outros. Note que, na maioria das vezes, o racismo associa-se tão somente ao preconceito contra os negros, todavia, as atitudes racistas são contra qualquer raça ou etnia, sejam negros, asiáticos, brancos, índios, etc. Tipos de racismo Preconceito e discriminação racial ou crime de ódio racial Nessa forma direta de racismo, um indivíduo ou grupo manifesta-se de forma violenta física ou verbalmente contra outros indivíduos ou grupos por conta da etnia, raça ou cor, bem como nega acesso a serviços básicos (ou não) e a locais pelos mesmos motivos. Nesse caso, a lei 7716, de 1989, do Código Penal brasileiro prevê punições a quem praticar tal crime. Racismo institucional De maneira menos direta, o racismo institucional é a manifestação de preconceito por parte de instituições públicas ou privadas, do Estado e das leis que, de forma indireta, promovem a exclusão ou o preconceito racial. Podemos tomar como exemplo as formas de abordagem de policiais contra negros, que tendem a ser mais agressivas. Isso pode ser observado nos casos de Charlottesville, na Virgínia (EUA), quando após sucessivos assassinatos de negros desarmados e inocentes por parte de policiais brancos, que alegavam o estrito cumprimento do dever, a população local revoltou-se e promoveu uma série de protestos. Racismo estrutural De maneira ainda mais branda e por muito tempo imperceptível, essa forma de racismo tende a ser ainda mais perigosa por ser de difícil percepção. Trata-se de um conjunto de práticas, hábitos, situações e falas embutido em nossos costumes e que promove, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial. Podemos tomar como exemplos duas situações: 1. O acesso de negros e indígenas a locais que foram, por muito tempo, espaços exclusivos da elite, como universidades. O número de negros que tinham acesso aos cursos superiores de Medicina no Brasil antes das leis de cotas era ínfimo, ao passo que a população negra estava relacionada, em sua maioria, à falta de acesso à escolaridade, à pobreza e à exclusão social. 2. Falas e hábitos pejorativos incorporados ao nosso cotidiano tendem a reforçar essa forma de racismo, visto que promovem a exclusão e o preconceito mesmo que indiretamente. Essa forma de racismo manifesta-se quando usamos expressões racistas, mesmo que por desconhecimento de sua origem, como a palavra “denegrir”. Também acontece quando fazemos piadas que associam negros e indígenas a situações vexatórias, degradantes ou criminosas ou quando desconfiamos da índole de alguém por sua cor de pele. Outra forma de racismo estrutural muito praticado, mesmo sem intenção ofensiva, é a adoção de eufemismos para se referir a negros ou pretos, como as palavras “moreno” e “pessoa de cor”. Essa atitude evidencia um desconforto das pessoas, em geral, ao utilizar as palavras “negro” ou “preto” pelo estigma social que a população negra recebeu ao longo dos anos. Porém, ser negro ou preto não é motivo de vergonha, pelo contrário, deve ser encarado como motivo de orgulho, o que derruba a necessidade de se “suavizar” as denominações étnicas com eufemismos. Causas do racismo A discriminação pela origem pode ser reportada desde a Antiguidade, quando povos gregos e latinos classificavam os estrangeiros como bárbaros. A origem da designação do preconceito de raça, em específico, é mais nova, tendo sido alavancada nos séculos XVI e XVII pela expansão marítima e colonização do continente americano. O domínio do “novo mundo” (assim chamado pelos europeus), o genocídio dos povos nativos e a escravização sistêmica de povos africanos geraram um movimento de tentativa de justificação de tais relações de poder por uma suposta hierarquia das raças. Os europeus consideravam, em sua visão eurocêntrica, que povos de origem europeia nata seriam mais inteligentes e capazes para dominar e prosperar, enquanto os negros e indígenas foram, por muitas vezes, considerados animais. No século XIX, com o impulso positivista sobre as ciências, teorias científicas racistas surgiram para tentar hierarquizar as raças e provar a superioridade da raça branca pura. Surgiu também no século XIX um estudo baseado na antropologia, na fisiologia e na psicologia chamado de craniometria ou craniologia. Tal estudo consistia em retirar medidas de crânios de indivíduos e comparar as medidas com dados como propensão à violência e coeficientes de inteligência. Hoje em dia, contudo, os estudos sérios tanto com embasamento sociológico e psicológico quanto com embasamento genéticonão dão mais crédito às teorias racistas do século passado. O nazismo alemão e entidades como a Klu Klux Klan, nos Estados Unidos, utilizaram e utilizam essas teorias raciais ultrapassadas para justificar a supremacia da raça branca. No Brasil, as causas do racismo podem ser associadas, principalmente, à longa escravização de povos de origem africana e a tardia abolição da escravidão, que foi feita de maneira irresponsável, pois não se preocupou em inserir os escravos libertos na educação e no mercado de trabalho, resultando em um sistema de marginalização que perdura até hoje. A Ku Klux Klan é uma organização terrorista que surgiu nos Estados Unidos, na virada de 1865 para 1866, logo após a Guerra Civil Americana. Esse grupo foi criado para promover os ideais do supremacismo branco, ideais racistas que promovem a segregação e o ódio contra negros. O grupo surgiu com o intuito de atacar negros e defensores dos direitos civis para os afro-americanos. O Klan, como é chamado, foi responsável por cometer atos violentos, como incêndio de casas habitadas por afro-americanos, espancamentos, enforcamentos etc. Seus membros utilizavam capuzes e uma vestimenta branca e tinham como símbolo uma cruz. Em suas reuniões e ataques, também incendiavam cruzes.
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