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UNIDADE III- TIPOLOGIAS DOS TEXTOS LITERÁRIOS FÁBULAS Gêneros e subgêneros A autora Nelly Novaes Coelho classifica os gêneros como: poesia, ficção e teatro. Segundo a autora: “Gênero (ou forma geradora) é a expressão estética de determinada experiência humana de caráter universal: a vivência lírica (o eu mergulhado em suas próprias emoções), cuja expressão essencial é a poesia; a vivência épica (o eu em relação com o outro, com o mundo social), cuja expressão natural é a prosa, a ficção, e a vivência dramática (o eu entregue ao espetáculo da vida, no qual ele próprio é personagem) cuja expressão básica é o diálogo, a representação, isto é, o teatro.” (NOVAES, 2002, p. 2) Formas simples de ficção “...determinadas narrativas que, há milênios, surgiram anonimamente e passaram a circular entre os povos da Antiguidade, transformando-se com o tempo no que hoje conhecemos como tradição popular” (COELHO, 2000, p.164) Foi absorvida por diferentes povos e se tornou tradição folclórica. Criança (leitor especial): seres em formação. Literatura: caráter pedagógico e lúdico. Para Novaes são formas simples (criação espontânea): Fábula, apólogo, alegoria, mito, lenda, conto maravilhoso, conto de fada, conto exemplar, conto jocoso. Para a autora a LIJ pertence ao gênero ficção. A autora acentua o caráter pedagógico a LIJ. Algumas breves considerações sobre a tipologia e o gênero O narrativo é um modo de organização textual. Elementos da narrativa: situação inicial, conflito, clímax e desfecho. Espaço, tempo, foco narrativo, personagens O gênero é uma ação social que se constrói por meio do discurso materializado em texto. 5 Fábulas Fábula (contar, dizer algo, na origem grega). “É a narrativa (de natureza simbólica) de uma situação vivida por animais que alude a situação humana e tem por objetivo transmitir certa moralidade. Foi a primeira espécie de narrativa a aparecer. As fábulas Nasceu no Oriente e foi reinventada no Ocidente pelo grego Esopo (séc. VI a.C). Fabulista e contador de história. Vamos ver uma fábula de Esopo? A cigarra e a formiga A cigarra passou o verão cantando, enquanto a formiga juntava seus grãos. Quando chegou o inverno, a cigarra veio à casa da formiga para pedir que lhe desse o que comer. A formiga então perguntou a ela: — E o que é que você fez durante todo o verão? — Durante o verão eu cantei — disse a cigarra. E a formiga respondeu:— Muito bem, pois agora dance! MORAL DA HISTÓRIA: Trabalhemos para nos livrarmos do suplício da cigarra, e não aturarmos a zombaria das formigas. Tradução de Ruth Rocha das fábulas de Esopo. Elementos da narrativa e reflexões Narrador: observador, em 3ª pessoa. Personagens: representam duas posturas opostas perante a vida: a dos esforçados e a dos preguiçosos. Tempo: passado e indicado pelas estações do ano, verão e inverno. Espaço: natureza. São narrativas marcadas por exageros, exatamente para transmitirem uma mensagem clara, podemos alegar que a Formiga assumiu uma postura egoísta e poderia ter sido mais solidária. A fábula persiste depois de séculos porque com a Cigarra aprendemos uma lição fundamental para todos os seres: precisamos ser independentes e responsáveis por nós mesmos. Até nos momentos em que temos vontade de simplesmente descansar e aproveitar a vida, é necessário pensar no futuro e batalhar por ele. Jean de La Fontaine XVII: fábulas de Jean de La Fontaine apropriadas para criança (editadas entre 1668 e 1694); Reinventou as fábulas a partir do modelo latino (Fedro), grego e oriental e introduziu esse gênero definitivamente no Ocidente. Algumas fábulas escritas e reescritas por ele são A Lebre e a Tartaruga, O Homem, A Cegonha e a Raposa, O Menino e a Mula, A cigarra e a Formiga, O Leão e o Rato, e O Carvalho e o Caniço, a Raposa e a Uva. Misturou fábulas, apólogos, parábolas, alegorias, contos exemplares. Personagens simbólicas, metafóricas. Jean de La Fontaine Na introdução de sua primeira edição de Fábulas ele diz: "Sirvo-me de animais para instruir os homens. Procuro tornar o vício ridículo por não poder atacá-lo com braço de Hércules. Algumas vezes oponho, através de uma dupla imagem, o vício à virtude, a tolice ao bom senso... Uma moral nua provoca o tédio. O conto faz passar o preceito com ele; nessa espécie de fingimento, é preciso instruir e agradar, pois contar por contar me parece de pouca monta." A cigarra e a formiga, de La Fontaine Tendo a cigarra em cantigas Passado todo o verão Achou-se em penúria extrema Na tormentosa estação. Não lhe restando migalha Que trincasse, a tagarela Foi valer-se da formiga, Que morava perto dela. Rogou-lhe que lhe emprestasse, Pois tinha riqueza e brilho, Algum grão com que manter-se Até voltar o aceso estio. - "Amiga", diz a cigarra, - "Prometo, à fé d'animal, Pagar-vos antes d'agosto Os juros e o principal." A formiga nunca empresta, Nunca dá, por isso junta. - "No verão em que lidavas?" À pedinte ela pergunta. Responde a outra: - "Eu cantava Noite e dia, a toda a hora." - "Oh! bravo!", torna a formiga. - "Cantavas? Pois dança agora!" Quais as diferenças entre a fábula de Esopo e de La Fontaine? Esopo: fábula escrita em prosa, menos detalhes. La Fontaine: fábula escrita em verso, explora as rimas, mas não altera as personagens, tempo, espaço, enredo e nem o narrador. A moral fica inserida nas entrelinhas do texto. Na versão de La Fontaine: presença de argumentos da Cigarra para conseguir o solicitado e ironia da formiga, ressaltando-se o seu lado mais egoísta. A fábula da Cigarra e a Formiga, por exemplo, ensina as crianças a se prepararem para o que pode acontecer. Uma releitura moderna da fábula Sem barra – (versão poética de José Paulo Paes) Enquanto a formiga Carrega a comida Para o formigueiro, A cigarra canta, Canta o dia inteiro. A formiga é só trabalho. A cigarra é só cantiga. . Mas sem a cantiga da cigarra que distrai da fadiga, seria uma barra o trabalho da formiga. – José Paulo Paes, em “Poemas para brincar”. São Paulo: Ática, 1989. Referências NOVAES, Nelly Coelho. Capítulo 4 da Parte 2. In: Literatura Infantil: teoria, análise e didática. São Paulo: Moderna, 2000.