Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIREITOS HUMANOS 1 | P á g i n a SUMÁRIO Aula 1 – A Condição Humana e Abordagens Histórico-Culturais dos Direitos Humanos .......... 3 1. A Dignidade da Pessoa Humana ......................................................................................... 3 2. Como Surgiu a Ideia dos Direitos Humanos? ..................................................................... 4 3. O que é Cidadania? ............................................................................................................. 5 4. O Policial Militar como Sujeito de Direitos Humanos ......................................................... 6 5. Conclusão ............................................................................................................................ 7 Exercícios ................................................................................................................................... 8 Aula 2 – Normas Internacionais e Leis Internas ........................................................................ 9 1. Conceituações e Diferenças ................................................................................................ 9 2. Estudos dos Principais Tratados e Demais Instrumentos Globais Referentes aos Direitos Humanos ................................................................................................................................. 11 3. Conclusão .......................................................................................................................... 13 1. Conduta Ética e Legal na Aplicação da Lei ........................................................................ 15 1. Praticidade Fundamentada na Normativa Internacional de Direitos Humanos e nas Leis Internas, no que Concerne ao Exercício da Função Policial Militar. ....................................... 23 Aula 5 – Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e Armas de Fogo pelos Responsáveis pela Aplicação da Lei (PBUFAF). Princípios 15 ao 24 e Reuniões, Manifestações e Protestos 30 1. Praticidade Fundamentada na Normativa Internacional de Direitos Humanos e nas Leis Internas, no que Concerne ao Exercício da Função Policial Militar. ....................................... 30 2. Reunião, Manifestação Popular e Protesto. ..................................................................... 32 Exercícios ................................................................................................................................. 42 Aula 6 – A Convenção Contra Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes - Tratados Internacionais e demais Instrumentos. .......................................... 43 1. A Convenção Contra Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes. ........................................................................................................................... 43 2. Breve Histórico .................................................................................................................. 45 3. Conclusão .......................................................................................................................... 46 Aula 7 – Discriminação e Violência a Grupos Minoritários em Situação de Risco Pessoal e Vulnerabilidade. ................................................................................................................ 48 1. O Que é Grupo de Minoria e Grupo Vulnerável? ............................................................. 48 4. Conclusão .......................................................................................................................... 58 Aula 8 – Discriminação e Violência a Grupos Minoritários em Situação de Risco Pessoal e Vulnerabilidade/ Gênero, Pessoas Com Deficiências Físicas e Sofrimento Mental, População em Situação de Rua e Orientação Sexual. ........................................................................... 60 file:///C:/Users/divens05/Desktop/Candido%20-%20Leis%20especiais/DIREITOS%20HUMANOS%20revisado.doc%23_Toc485721933 DIREITOS HUMANOS 2 | P á g i n a 5 - Generalização ..................................................................................................................... 69 6. Conclusão .......................................................................................................................... 70 Exercícios ................................................................................................................................. 71 Aula 9 – Fundamentos para uma Abordagem e Busca Pessoal. Princípios Relacionados à Captura, Detenção e Prisão. ............................................................................................... 73 1. Fundamentos para uma Abordagem e Busca Pessoal. ..................................................... 73 2. Captura, Detenção e Prisão .............................................................................................. 74 3. O Cárcere no Brasil - Uma Grande Dívida para com a Sociedade ..................................... 76 4. Conclusão .......................................................................................................................... 77 Aula 10 – O Cárcere - Significado Sociológico do Cárcere. .................................................... 78 1. Como Entender o Cárcere? ............................................................................................... 78 REFERÊNCIAS........................................................................................................................83 BALESTRERI,Ricardo Brisola. Direitos Humanos: Coisa de Polícia – Passo Fundo-RS, CAPEC, Paster Editora, 1998. ......................................................................................................... 83 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo.36. Ed., rev. E atual. São Paulo: Malheiros, 2013. .................................................................................................... 83 file:///C:/Users/divens05/Desktop/Candido%20-%20Leis%20especiais/DIREITOS%20HUMANOS%20revisado.doc%23_Toc485721944 DIREITOS HUMANOS 3 | P á g i n a Aula 1 – A Condição Humana e Abordagens Histórico-Culturais dos Direitos Humanos Ampliar a sua sensibilidade para a questão da dignidade da pessoa humana, como fundamentos do Estado Democrático de Direito em que se constitui a República Federativa do Brasil; Reconhecer a responsabilidade pelo outro como base para uma sociedade verdadeiramente humana; Informar-se sobre a origem e o desenvolvimento histórico do Direito Internacional dos Direitos Humanos, as vertentes da proteção internacional da dignidade da pessoa humana, suas características e seus instrumentos de proteção em nível nacional e internacional; Relacionar tais conceitos e princípios com a atividade do profissional de segurança pública; 1. A Dignidade da Pessoa Humana O conceito de dignidade da pessoa humana é central para a problemática dos direitos humanos. Falar dessa questão é inseparável de uma reflexão sobre o alcance e o sentido da ideia de pessoa. Trata-se de pensar o conceito de pessoa a partir de duas contribuições importantes: a de Boécio (480 – 524) e a de Boaventura de Bagnoregio (1217 – 1274). Enquanto na definição de Boécio – talvez a mais conhecida e privilegiada – o homem se caracteriza como substância racional, em Boaventura essa ênfase é para a dimensão relacional da criatura humana. Dizer pessoa humana é falar de um ser de relação, que ganha sentido quando estabelece e vive em constante relação com outros homens; é, portanto, falar de uma criatura que somente alcança a sua plenitude numa vida de relação com o outro. O fato de ser pessoa (desde sempre relação com o outro) expressa, segundo Boaventura, a própria noção de dignidade.―A dignidade é atributo intrínseco, da essência, da pessoa humana, único ser que compreende um valor interno, superior a qualquer preço, que não admite substituição equivalente. Assim a dignidade entranha e se confunde com a própria natureza do ser humano‖. (SILVA, 1998, pág. 91) AO FINAL DESTA AULA, VOCÊ DEVERÁ: DIREITOS HUMANOS 4 | P á g i n a Nesse sentido, toda violência pode ser entendida como uma forma de violação da dignidade humana, porque redutora do outro a si mesmo. 2. Como Surgiu a Ideia dos Direitos Humanos? Alguns pesquisadores afirmam que tal origem, filosoficamente, está sustentada pelo direito natural, ou seja, aquele que ―nasce de Deus‖. Por questões religiosas, argumentam que Direitos Humanos existem, desde o início do mundo, desde a criação do homem. O ―Cilindro de Ciro‖, atribuído ao rei CIRO II, Persa, 539 AC, também figura como dos mais remotos, descoberto em 1879 e traduzido pela ONU em 1971. Configura-se num documento firmado após a conquista da Babilônia em que consagra a liberdade de religião e a abolição da escravatura, tido como a primeira declaração de Direitos Humanos, onde a população de escravos, à época, era constituída de prisioneiros de guerra. A evolução histórica da proteção dos direitos fundamentais da pessoa humana é uma conquista que busca limitar e controlar os abusos cometidos pelo Estado e de suas autoridades constituídas em favor da pessoa humana. São ideais que com o passar dos tempos foram se legitimando a partir de tratados e instrumentos internacionais e também a legislação nacional. O direito internacional é constituído pelas normas jurídicas internacionais que regulam as leis dos Estados, o funcionamento de instituições ou organizações internacionais e a relação entre elas, e a relação delas com o Estado e os indivíduos. Os acordos e tratados internacionais, as convenções, as emendas e os protocolos fazem parte deste ramo do direito e regula muitos aspectos das relações internacionais e inclui regras sobre os direitos territoriais dos Estados (relativas à: terra, mar e espaço aéreo), proteção do meio ambiente, comércio internacional, uso da força pelos Estados, o Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH) e o Direito Internacional Humanitário (DIH). O Direito Internacional Humanitário (DIH) e o Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH) são dois conjuntos de normas distintos que, no entanto se complementam. Ambos se ocupam da proteção da vida, da saúde e da dignidade das pessoas. O DIH se aplica a situações de conflito armado, enquanto o DIDH está vigente em todo momento, tanto em tempo de paz como de guerra. DIREITOS HUMANOS 5 | P á g i n a O Direito Internacional Humanitário (DIH) está contido nas Convenções de Genebra e de Haia, os Protocolos Adicionais, um conjunto de tratados que regulamentam os métodos e meios de guerra – por exemplo, tratados que proíbem o emprego de armas químicas, biológicas, laser cegantes e minas terrestres, além do Direito Consuetudinário. O Direito Internacional dos Direitos Humanos é mais amplo e, ao contrário do DIH, é composto também por tratados regionais, além de tratados internacionais relativos aos direitos humanos como, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, e os tratados que se referem à prevenção e à punição da tortura e outras práticas cruéis, desumanas ou degradantes, à eliminação da discriminação racial e da discriminação contra as mulheres, e aos direitos da criança. O surgimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos (DIDH) tem seu fundamento marcado a partir da Segunda Guerra Mundial, onde as atrocidades cometidas durante o nazismo foi o fato histórico impulsionador decisivo da consolidação do Direito Internacional dos Direitos Humanos. A internacionalização dos direitos humanos constitui, assim, um movimento extremamente recente na história, que configura o esforço de reconstrução dos direitos humanos, como paradigma e referencial ético a orientar a ordem internacional contemporânea, é um ramo do direito internacional público, criado para proteger a vida, a saúde, e a dignidade dos indivíduos. O DIDH está fundamentado na DUDH - Declaração Universal dos Direitos Humanos - 1948, normativa internacional por nós a ser estudada no decorrer deste curso, bem como compreender qual sua relação com a atividade policial. 3. O que é Cidadania? Podemos entender cidadania como o verdadeiro alicerce para a concretização dos direitos humanos, ou seja: O amplo conjunto de direitos e obrigações da pessoa, sob a vigência do Estado Democrático de Direito. Para concretização da cidadania, no Brasil, o poder público deverá promover para todas as pessoas os Direitos: a) Civis: onde os princípios de liberdade, opinião, expressão e de pensamento são definidos pelo Estado como imprescindíveis; DIREITOS HUMANOS 6 | P á g i n a b) Políticos: onde o cidadão tem o direito de votar e ser votado; c) Sociais: onde o bem estar econômico e social, contemplados pela segurança e demais políticas sociais básicas, apresenta qualidade de vida saudável. 3.1 Cidadania e Direitos Humanos Cidadania -Assim, entendemos que cidadania é adoção humana de valores políticos, sociais e civis na formatação interna e soberana de uma Nação. Por exemplo, a cidadania no Brasil pode ser diferenciada da cidadania Argentina, que pode estar diferenciada da cidadania no Chile e assim adiante. Direitos Humanos - É a adoção valorativa humanística na formatação Internacional com consistência contratual entre grupo ou conjunto de Nações, através de tratados, declarações, acordos, convenções e outros instrumentos normativos. Como definir Polícia no atual contexto sociopolítico? Ousamos definir como: Um instituto técnico do Estado Democrático de Direito, com ideias e ações educativas, preventivas e correcionais na construção e consolidação de uma sociedade cidadã, livre, pacífica, justa e solidária. 4. O Policial Militar como Sujeito de Direitos Humanos Ricardo Balestreri apresenta no texto: ―Direitos Humanos: Coisa de Polícia‖ que o policial é antes de tudo um cidadão, e na cidadania deve nutrir sua razão de ser. Imana- se, assim, a todos os membros da comunidade em direitos e deveres. Não existe dualidade ou antagonismo entre uma ―sociedade civil‖ e outra ―sociedade policial‖. Nesse sentido o policial possui sem distinção a garantia de todos os direitos civis, políticos e sociais. A sua condição de funcionário do Estado responsável por cumprir a lei não elimina sua condição de cidadão. Balestreri conceitua o agente de Segurança Pública como um cidadão qualificado que representa o Estado, em seu contato mais imediato com a população, o qual porta a singular permissão para o uso da força e das armas, no âmbito da lei. Dessa forma, a fim de não incorrer em nenhuma violação de direitos junto à sociedade, torna-se imprescindível agir em consonância as leis, normas e tratados internacionais dos direitos humanos. DIREITOS HUMANOS 7 | P á g i n a O Policial, no exercício de sua cidadania, tem o direito de ser bem assistido pelo Estado, estar bem equipado, preparado e ter boas condições de trabalho refletindo, assim, a imagem da Instituição e de seu País. O Policial Militar, inequivocamente, é sujeito de Direitos Humanos; respeitar e conceber sua cidadania são fundamentos imprescindíveis para o crescimento de todos. Ainda, pela normativa internacional de Direitos Humanos, o Estado tem obrigações fundamentais para a formação continuada do Policial Militar, onde observaremos mais adiante quando trataremos dos Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei (PBUFAF). No estudo da normativa internacional fica claramente evidenciadoque o Policial Militar é sujeito de Direitos Humanos, cabendo ao Estado promover sua execução nos parâmetros internacionais contratados, preservando individualidades e fortalecendo, profissionalmente, capacidades física, psicológica, intelectual e social. 5. Conclusão O princípio da dignidade da pessoa humana implica na compreensão do valor singular do homem, enquanto membro da família humana, como um ser capaz de dirigir seus atos de acordo com a sua razão e aberto a viver em comunidade uma vida de relação com os demais homens. A filosofia dos Direitos humanos não surgiu de qualquer pretensão para se defender pessoas ou grupos envolvidos com o crime. A prática de Direitos Humanos deve contemplar todas as pessoas, independentemente de religião, nacionalidade, raça, profissão, sexo, opinião, idade, etc. O País que não prima pelos Direitos Humanos de todos perde credibilidade frente à comunidade internacional, principalmente nas relações comerciais. O Poder Público, quando não prima pelos Direitos Humanos, perde o respeito da sociedade nacional e internacional; Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei que desrespeitam os Direitos Humanos são responsabilizados legalmente e contribuem para o enfraquecimento da imagem de toda a Corporação. DIREITOS HUMANOS 8 | P á g i n a Exercícios Para a Unidade posterior, dias antes da aula, o aluno deverá ler a Declaração Universal Dos Direitos Humanos, como forma de preparo para melhor entendimento dos valores inseridos na mencionada normativa internacional. A DUDH consta no anexo da apostila. SAIBA MAIS... Para exercitar. Assista e, posteriormente, debata sobre o conteúdo do documentário ―Nós que aqui estamos por vós esperamos‖, de Marcelo Masagão (72 min., 1999). Trata-se de uma breve história do século XX em imagens, som e silêncio. A música é de Win Mertens. Inspira-se na obra ―A era dos extremos‖, de Eric Hobsbawm e no texto ―O mal-estar da civilização‖, de Sigmund Freud. O documentário recebeu vários prêmios no Brasil e no mundo, entre eles o do festival de cinema de Gramado (2000). DIREITOS HUMANOS 9 | P á g i n a Aula 2 – Normas Internacionais e Leis Internas Ao final desta aula você será capaz de: Conceituar normas internacionais e leis internas, suas diferenças e importância nas relações multinacionais; Conhecer os principais tratados e demais instrumentos globais referentes aos Direitos Humanos; Analisar, de modo crítico e construtivo, a relação protetiva dos Direitos Humanos e a prática profissional do Policial Militar; Refletir sobre a ―prevalência dos Direitos Humanos‖, valores e violações citados no bojo da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1. Conceituações e Diferenças 1.1 Normas Internacionais e Leis Internas - Desmistificação dos Direitos Humanos como Dimensão Exclusiva da Área Jurídico-Legalista. A Normativa Internacional contempla um conjunto de acordos na ONU, entre Países envolvidos, assumindo, assim, diversas nomenclaturas. As denominações mais usuais são: tratados, acordos, convenções, princípios, protocolos, regras mínimas e outros. Tratado: É a formalização escrita de interesses comuns entre dois ou mais sujeitos de direito internacional, visando produzir efeitos contratuais juridicamente garantidos. Constitui o exercício por onde os Países contratados firmam direitos e obrigações entre os membros participantes. A norma internacional deve apresentar formalidade, teor definido, regido pelo Direito Internacional e as partes contratantes devem ser, necessariamente, pessoas jurídicas de Direito Internacional Público. Em termos estritamente jurídicos, pode-se argumentar que somente os tratados ratificados ou que foram aderidos pelos Estados-membros têm caráter jurídico obrigatório. Entretanto, de acordo com as Nações Unidas (1997, p. 26), não se deve menosprezar o valor das diversas declarações, diretrizes e regras mínimas. AO FINAL DESTA AULA, VOCÊ DEVERÁ: DIREITOS HUMANOS 10 | P á g i n a O Tratado, inserido na normativa internacional, gera compromisso jurídico perante o Direito Internacional e o Direito Interno. Ou seja: se não se cumprir o tratado, há a possibilidade de serem aplicadas sanções internacionais e de consequências de acordo com o direito do próprio país. Ainda, Tratados Internacionais são instrumentos formais ou escritos que organizações internacionais e/ou países elaboram com a finalidade de buscar convencimento na ordem jurídica internacional para as questões abordadas. Quando o Brasil celebra um tratado com outros Países, efetivamente, faz acordo que gera a obrigatoriedade na adoção, no direito, e no valor moral de se assumir um compromisso no direito internacional. O Brasil, fazendo parte da ONU, adquire respeito internacional e, ao incorporar os tratados no âmbito do Direito Interno, firma compromisso com a comunidade mundial na preservação da espécie humana. A Normativa Internacional tem poder moral nas relações internacionais. 1.2 Leis Internas As Leis Internas têm poder coercitivo (a lei impõe e caso não seja cumprida, poderá haver penalidade corpórea). As leis são dotadas de imperatividade, ou seja, emitem um comando, prescrevendo como os indivíduos devem se conduzir na vida comunitária e, em caso de violação, comina pena aos infratores. Quando um cidadão, qualquer que seja sua nacionalidade, raça, sexo, crença, idade ou profissão, sofre atentado ou violação em sua vida, liberdade, integridade física, psicológica e outros, a lei comina pena aos seus autores. 1.3 O Interesse do Brasil no Direito Internacional O Brasil, como qualquer outro País, não é autossuficiente em seus recursos econômicos ou independente em sua relação de cooperação com os demais Países. O crescimento sócio-político-financeiro dos brasileiros depende diretamente de sua credibilidade internacional. A imagem do País está diretamente ligada à “prevalência dos Direitos Humanos”. Negá-la é, sobretudo, concorrer para dificultar a complexa relação internacional. DIREITOS HUMANOS 11 | P á g i n a 2. Estudos dos Principais Tratados e Demais Instrumentos Globais Referentes aos Direitos Humanos Durante o estudo da disciplina DIREITOS HUMANOS, possibilitaremos a discussão dos principais valores inseridos nos Instrumentos Internacionais de Direitos Humanos relacionados à atividade policial, a saber: a. Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH); b. Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei (CCEAL); c. Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei; d. Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes; e. Conjunto de Princípios para a Proteção de Todas as Pessoas sujeitas a qualquer forma de Detenção ou Prisão. Na presente unidade, abordaremos a Declaração Universal Dos Direitos Humanos e, nas seguintes, os demais documentos internacionais. 2.1 Declaração Universal dos Direitos Humanos • Proclamada e adotada pela ONU, Assembleia Geral, em 10 de dezembro de 1948, através da resolução 217 A (III), em Paris. A DUDH não é um Tratado Internacional, por sua própria nomenclatura, trata-se de DECLARAÇÃO. • Constitui-se de norma declaratória dos direitos de preservação da espécie humana, universalmente reconhecida. • É um verdadeiro marco na filosofia humanística de orientação e interpretação dos princípios consagrados na Carta da ONU. A DUDH passou a ser entendida como instrumento altamente importante para a defesa da civilidade de todos, com evidência clara no respeito à vida, liberdade e afins. A normativa internacional considera que, à época, “estaria havendo total desrespeito e até desprezo pelos direitos do homem” com progressão para atos de barbárie e ultraje da dignidadehumana. DIREITOS HUMANOS 12 | P á g i n a Assim, a Declaração nascia como forma essencial de ruptura nas costumeiras versões aplicadas de tirania e opressão como escravagista fonte de domínio do homem pelo homem. Os comentários da civilizatória Declaração chama a atenção de que ―... algo determinante para mudanças haveria de ser feito para que o homem, mais tarde, não contemplasse a rebelião como única solução para livrar-se do terror”. A Declaração Universal dos Direitos Humanos dispõe que ―[...] os direitos do homem sejam protegidos pelo império da lei‖ [...] e suas aplicações veiculadas pela multidisciplinaridade. Partindo destes princípios, podemos destacar alguns artigos, com maior pertinência para a Segurança Pública, de forma sucinta: • Art. 1º - Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidades e em direitos. São dotadas de razão e de consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade. • Art. 2º - [...] capacidade para exercer direitos e liberdades sem distinção de qualquer espécie [...]; • Art. 3º - [...] direito à vida, liberdade e segurança pessoal; • Art. 4º - [...] proibição, em todas as suas formas, da Escravidão e tráfico de escravos; • Art. 5º. – [...] proibição da tortura e de tratamento cruel desumano ou degradante; • Art. 6º. - O homem reconhecido como pessoa, legalmente; • Art. 7º. – Todos são iguais perante a lei [...] (Princípio da igualdade ou da isonomia); • Art. 8º. – Direito aos Tribunais competentes, com isenção. • Art. 9º. - proibição da prisão arbitrária; • Art.10º. - Direito a um julgamento imparcial; • Art.11º. - Presunção de inocência (O Estado garantirá a inocência até que se prove a culpa); • Art.12º. – Direito a não receber ataques a sua honra ou reputação; • Art.13º. – Direito de liberdade de locomoção; • Art.17º. – Direito de propriedade; • Art. 18º. – Direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; • Art. 19º. - Direito à liberdade de opinião e expressão; DIREITOS HUMANOS 13 | P á g i n a • Art. 20º. – Direito à liberdade de reunião e associação pacíficas; • Art. 22º. – Direito à segurança social, econômica e cultural indispensáveis ao seu desenvolvimento e dignidade; a) Valores Valores como igualdade, fraternidade, presunção da inocência, propriedade, privacidade, liberdade de pensamento, opinião, consciência e religião, segurança social, esforço nacional pela cooperação internacional, direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à dignidade humana e ao livre desenvolvimento de sua personalidade, são elementos constitutivos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Nota-se que o Brasil, na Constituição de 05 Out. 1988, incluiu em seu bojo os valores acima estudados, principalmente no Art. 5º, como Direitos e Garantias Fundamentais. Assim, passou a resgatar credibilidade internacional como membro da ONU. b) Violações Ações como escravagismo, tortura e prisão ilegal são tratadas como violações da dignidade humana. As leis brasileiras passaram a tratar esses atos de forma específica, cominando penas aos transgressores, todavia acreditamos que, apenas o conhecimento da lei e punições não constituam motivações determinantes para que tais violações não ocorram. 3. Conclusão O Brasil, perante a comunidade internacional, a partir de 1988, ao promulgar a Carta Constitucional, deixou claro que adoção e apoio aos tratados significariam bem mais que agregar ―letras mortas‖. A fluidez da civilidade clama por andarmos com os próprios pés, com realidade, independência e soberania, sobretudo comprometidas no resgate de valores e correções de violações, que ainda nos assolam. Hoje, tratados internacionais e leis internas completam-se, em favor da preservação da espécie humana perante o Estado Democrático de Direito; contudo, no plano fático o caminho é pedregoso, porém transponível. Normativa Internacional e Leis Internas são imperiosas para a introjeção de seus valores através da Educação de nosso povo. DIREITOS HUMANOS 14 | P á g i n a A Carta magna é sábia em manter acesas as discussões sobre seus princípios em nossas escolas. A Constituição Federal, em seu art. 5º, passou a adotar vários princípios contemplados na Normativa Internacional e, assim, resgatou credibilidade e possibilidades de avançarmos como País civilizado. SAIBA MAIS... A íntegra da ―Declaração Universal dos Direitos Humanos‖ consta desta Apostila, nos Anexos. Ainda, no site www.dhnet.gov.br e outros poderão encontrar informações sobre a Comissão interamericana e a Corte internacional de Direitos Humanos. http://www.dhnet.gov.br/ DIREITOS HUMANOS 15 | P á g i n a Aula 3 – Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei; Conduta Ética e Legal na Aplicação da Lei. Ao final desta aula você será capaz de: Demonstrar a relação entre a cidadania do profissional da área de segurança pública e o fortalecimento da sua identidade social, profissional e institucional; Reconhecer a inserção dos Direitos Humanos como Política Pública no Brasil e a inclusão na Política Nacional de Segurança Pública; Reconhecer e debater os princípios constitucionais e as normas de Direitos Humanos que regem a atividade do profissional da área de segurança pública; Correlacionar os instrumentos normativos dos Direitos Humanos com a atividade policial. 1. Conduta Ética e Legal na Aplicação da Lei A conduta do Policial Militar deverá estar pautada no Estado Democrático de Direito, com enfoque moral e ético centrado nos valores da cidadania, na promoção e defesa dos Direitos Humanos. Esses valores éticos, legais, morais e emocionais devem estar presentes em toda sua vida profissional e pessoal. Como representante do Estado, ao Policial Militar cabe o exercício exemplar em todas as suas ações, diante da sociedade em que é partícipe. ÉTICA – (Ethikos) Palavra de origem grega, cujo significado pertence ao (ethos), ou seja, "bom costume", ―com caráter‖, ―bons hábitos‖ etc. LEGAL – Estado Democrático de Direitos, ou seja, em conformidade com as leis vigentes, aprovadas no Congresso e sancionadas pelo chefe do poder Executivo, todos escolhidos pelo povo. Estudiosos assinalam que Ética e moral podem ser diferenciados. Moral tem fundamentos em valores na obediência a costumes e hábitos criados. Ética fundamenta as ações morais especificamente pela razão, ou seja, pela racionalidade humana. No que tange ao Emocional, o Policial Militar tem o Direito de estar equipado apropriadamente e possuir um treinamento condizente com as suas atividades de forma eficaz e contínua, possuir condições dignas de trabalho e ter a preocupação institucional pelo seu bem estar físico, psicológico e social, para que possa desempenhar de maneira equilibrada, consciente e coerente as suas atividades policiais. AO FINAL DESTA AULA, VOCÊ DEVERÁ: DIREITOS HUMANOS 16 | P á g i n a No conjunto de matérias elencadas para a formação do Policial Militar encontramos o ―Controle de estresse‖ e ―Ética‖, onde serão ministrados assuntos valorosos por profissionais competentes. 1.1 Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei (CCEAL) e Conduta Ética e Legal na Aplicação da Lei Abaixo, na íntegra, o ―Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei (CCEAL); Conduta Ética e Legal na Aplicação da Lei”. Resolução 34/169 da Assembleia Geral das Nações Unidas em 17 de dezembro de 1979. Artigo 1 - Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem cumprir, a todo o momento, o dever que a lei lhes impõe, servindo a comunidade e protegendo todas as pessoas contra atos ilegais, em conformidade com o elevado grau de responsabilidade que a sua profissão requer. Comentário:A. A expressão «funcionários responsáveis pela aplicação da lei» inclui todos os agentes da lei, quer nomeados, quer eleitos, que exerçam poderes de polícia, especialmente poderes de prisão ou detenção. B. Nos países onde os poderes policiais são exercidos por autoridades militares, quer em uniforme, quer não, ou por forças de segurança do Estado, a definição dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei incluirá os funcionários de tais serviços. C. O serviço à comunidade deve incluir, em particular, a prestação de serviços de assistência aos membros da comunidade que, por razões de ordem pessoal, econômica, social e outras emergências, necessitam de ajuda imediata. D. A presente disposição visa, não só todos os atos violentos, destruidores e prejudiciais, mas também a totalidade dos atos proibidos pela legislação penal. É igualmente aplicável à conduta de pessoas não susceptíveis de incorrerem em responsabilidade criminal. Artigo 2. - No cumprimento do seu dever, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem respeitar e proteger a dignidade humana, manter e apoiar os direitos fundamentais de todas as pessoas. Comentário: A. Os direitos do homem em questão são identificados e protegidos pelo direito nacional e internacional. De entre os instrumentos internacionais relevantes contam-se a DIREITOS HUMANOS 17 | P á g i n a Declaração Universal dos Direitos Humano, o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, a Declaração sobre a Proteção de Todas as Pessoas contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, a Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, a Convenção Internacional sobre a Supressão e Punição do Crime de Apartheid, a Convenção sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, as Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos, e a Convenção de Viena sobre Relações Consulares. B. Os comentários nacionais a esta cláusula devem indicar as provisões regionais ou nacionais que definem e protegem estes direitos. Artigo 3 - Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem empregar a força quando tal se afigure estritamente necessário e na medida exigida para o cumprimento do seu dever. Comentário: A. Esta disposição salienta que o emprego da força por parte dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei deve ser excepcional. Embora admita que estes funcionários possam estar autorizados a utilizar a força na medida em que tal seja razoavelmente considerado como necessário, tendo em conta as circunstâncias, para a prevenção de um crime ou para deter ou ajudar à detenção legal de delinquentes ou de suspeitos, qualquer uso da força fora deste contexto não é permitido. B. A lei nacional restringe normalmente o emprego da força pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei, de acordo com o princípio da proporcionalidade. Deve-se entender que tais princípios nacionais de proporcionalidade devem ser respeitados na interpretação desta disposição. A presente disposição não deve ser em nenhum caso, interpretada no sentido da autorização do emprego da força em desproporção com o legítimo objetivo a atingir. C. O emprego de armas de fogo é considerado uma medida extrema. Devem fazer-se todos os esforços no sentido de excluir a utilização de armas de fogo, especialmente contra as crianças. Em geral, não deverão utilizar-se armas de fogo, exceto quando um suspeito ofereça resistência armada, ou quando, de qualquer forma coloque em perigo vidas alheias e não haja suficientes medidas menos extremas para dominá-lo ou deter. Cada vez que uma arma de fogo for disparada, deverá informar-se prontamente às autoridades competentes. DIREITOS HUMANOS 18 | P á g i n a Artigo 4 - As informações de natureza confidencial em poder dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem ser mantidas em segredo, a não ser que o cumprimento do dever ou as necessidades da justiça estritamente exijam outro comportamento. Comentário: A. Devido à natureza dos seus deveres, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei obtêm informações que podem relacionar-se com a vida particular de outras pessoas ou ser potencialmente prejudiciais aos seus interesses e especialmente à sua reputação. Deve-se ter a máxima cautela na salvaguarda e utilização dessas informações as quais só devem ser divulgadas no desempenho do dever ou no interesse. Qualquer divulgação dessas informações para outros fins é totalmente abusiva. Artigo 5 - Nenhum funcionário responsável pela aplicação da lei pode infligir, instigar ou tolerar qualquer ato de tortura ou qualquer outra pena ou tratamento cruel, desumano ou degradante, nem invocar ordens superiores ou circunstanciais excepcionais, tais como o estado de guerra ou uma ameaça à segurança nacional, instabilidade política interna ou qualquer outra emergência pública como justificação para torturas ou outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Comentário: A. Esta proibição decorre da Declaração sobre a Proteção de Todas as Pessoas contra a Tortura e outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adotada pela Assembleia Geral, de acordo com a qual: «tal ato é uma ofensa contra a dignidade humana e será condenado como uma negação aos propósitos da Carta das Nações Unidas e como uma violação aos direitos e liberdades fundamentais afirmados na Declaração Universal dos Direitos do Homem (e noutros instrumentos internacionais sobre os direitos do homem)». B. A Declaração define tortura da seguinte forma: Tortura significa qualquer ato pelo qual uma dor violenta ou sofrimento físico ou mental é imposto intencionalmente a uma pessoa por um funcionário público, ou por sua instigação, com objetivos tais como obter dela ou de uma terceira pessoa informação ou confissão, puni-la por um ato que tenha cometido ou se supõe tenha cometido, ou intimidá-la a ela ou a outras pessoas. “Não se considera tortura a dor ou sofrimento apenas resultante, inerente ou consequência de sanções legítimas, na medida em que sejam compatíveis com as Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos”. DIREITOS HUMANOS 19 | P á g i n a C. A expressão «penas ou tratamento cruéis, desumanos ou degradantes» não foi definida pela Assembleia Geral, mas deve ser interpretada de forma a abranger uma proteção tão ampla quanto possível contra abusos, quer físico quer mental. Artigo 6 - Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem assegurar a proteção da saúde das pessoas à sua guarda e, em especial, devem tomar medidas imediatas para assegurar a prestação de cuidados médicos sempre que tal seja necessário. Comentário: A. «Cuidados Médicos», significando serviços prestados por qualquer pessoal médico, incluindo médicos diplomados e paramédicos, devem ser assegurados quando necessários ou solicitados. B. Embora o pessoal médico esteja geralmente adstrito aos serviços de aplicação da lei, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem tomar em consideração a opinião de tal pessoal, quando este recomendar que deva proporcionar-se à pessoa detida tratamento adequado, através ou em colaboração com pessoal médico não adstrito aos serviços de aplicação da lei. C. Subentende-se que os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem assegurar também cuidados médicos às vítimas de violação da lei ou de acidentes que dela decorram. Artigo 7 - Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem cometer qualquer ato de corrupção. Devem, igualmente, opor se rigorosamente e combater todos os atos desta índole. Comentários: A. Qualquer ato de corrupção, tal como qualquer outro abuso de autoridade, é incompatível com a profissão de funcionário responsável pela aplicação da lei. A lei deve ser aplicada na íntegra em relaçãoa qualquer funcionário que cometa um ato de corrupção, dado que os Governos não podem esperar aplicar a lei aos cidadãos se não a puderem ou quiserem aplicar aos seus próprios agentes e dentro dos seus próprios organismos. B. Embora a definição de corrupção incumba a sujeição à legislação nacional, devem entender-se como incluindo tanto a execução ou a omissão de um ato, praticado pelo responsável, no desempenho das suas funções ou com estes relacionados, em virtude de DIREITOS HUMANOS 20 | P á g i n a ofertas, promessas ou vantagens, pedidas ou aceitos, como a aceitação ilícita destas, uma vez a ação cometida ou omitida. C. A expressão «ato de corrupção», anteriormente referida, deve ser entendida no sentido de abranger tentativas de corrupção. Artigo 8 - Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem respeitar a lei e o presente Código. Devem, também, na medida das suas possibilidades, evitar e opor- se vigorosamente a quaisquer violações da lei ou do Código. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei que tiverem motivos para acreditar que se produziu ou irá produzir uma violação deste Código, devem comunicar o fato aos seus superiores e, se necessário, a outras autoridades com poderes de controle ou de reparação competentes. Comentários: A. Este Código será observado sempre que tenha sido incorporado na legislação ou na prática nacionais. Se a legislação ou a prática contiverem disposições mais limitativas do que as do atual Código, devem observar-se essas disposições mais limitativas. B. O presente artigo procura preservar o equilíbrio entre a necessidade de disciplina interna do organismo do qual, em larga escala, depende a segurança pública, por um lado, e a necessidade de, por outro lado, tomar medidas em caso de violações dos direitos humanos básicos. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem informar das violações os seus superiores hierárquicos e tomar medidas legítimas sem respeitar a via hierárquica somente quando não houver outros meios disponíveis ou eficazes. Subentende-se que os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem sofrer sanções administrativas ou de outra natureza pelo fato de terem comunicado que se produziu ou que está prestes a produzir-se uma violação deste Código. C. A expressão «autoridade com poderes de controle e de reparação competentes» refere-se a qualquer autoridade ou organismo existente ao abrigo da legislação nacional, quer esteja integrado nos organismos de aplicação da lei quer seja independente destes, com poderes estatutários, consuetudinários ou outros para examinarem reclamações e queixas resultantes de violações deste Código. D. Nalguns países pode considerar-se que os meios de comunicação social («mass media») desempenham funções de controle, análogas às descritas na alínea anterior. Consequentemente, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei poderão como DIREITOS HUMANOS 21 | P á g i n a último recurso e com respeito pelas leis e costumes do seu país e pelo disposto no artigo 4 do presente Código, levar as violações à atenção da opinião pública através dos meios de comunicação social. E. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei que cumpram as disposições deste Código merecem o respeito, o total apoio e a colaboração da comunidade em que exercem as suas funções, do organismo de aplicação da lei no qual servem e dos demais funcionários responsáveis pela aplicação da lei. ACONTECEU... GLOBO.COM 04/12/2014 07h19 – Policial Militar pode ser expulso após tirar fotos com cinco jovens nuas em viatura. Identidades do policial e das jovens ainda são desconhecidas. Policial pode responder a processo administrativo exoneratório, diz Polícia Militar. Policial pode ser expulso após tirar fotos com jovens nuas em viatura (Foto: Reprodução) Fotos que mostram um grupo de mulheres posando nuas e seminuas ao lado de um policial e sobre uma viatura da Polícia Militar Ambiental começaram a circular pelas redes sociais na noite desta quarta-feira (3). De acordo com informações da polícia, apesar de o veículo estar parcialmente coberto, ele foi identificado e faz parte de uma região que compreende o litoral e a Grande São Paulo. Segundo a polícia, as identidades do policial e das jovens ainda são desconhecidas, assim como a localização exata do veículo. Nas imagens, é possível ver cinco jovens nuas fazendo diversas poses em cima de um pick-up e acompanhadas de um policial militar fardado. A placa da viatura está coberta com um pano, assim como outros detalhes, mas os artifícios não são suficientes para descaracterizar o veículo oficial. O G1 entrou em contato com o setor de comunicação da Polícia Militar e enviou as fotos para a corporação, que ainda não tem conhecimento de onde exatamente as imagens foram registradas. Por meio de nota, a Polícia Militar afirma que tomou ciência dos fatos e que irá apurá-los com o máximo rigor. O policial militar, sendo identificado, irá responder a um processo administrativo exoneratório, que poderá acarretar em sua expulsão da instituição. Observe que: Ao que parece, a conduta ética e moral do possível policial militar, ainda não identificado, será objeto de apuração pela Corregedoria de Polícia Militar de São Paulo, o que poderá concorrer para sua expulsão. Ao envolver identidade, viatura e uniforme, publicamente, em situação vexatória, desmoralizante e vulgar, o autor deixou claro o completo despreparo para o exercício da profissão, ferindo o pundonor Policial Militar. DIREITOS HUMANOS 22 | P á g i n a SAIBA MAIS... No anexo desta Apostila, estamos deixando a íntegra do CCEAL, com: - Princípios Orientadores para a aplicação Efetiva do Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis Pela Aplicação da Lei, adotados pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas na sua resolução 1989/61, de 24 de Maio de 1989. I. Aplicação do Código II. Implementação do Código - NÍVEL NACIONAL - NÍVEL INTERNACIONAL DIREITOS HUMANOS 23 | P á g i n a Aula 4 – Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e Armas de Fogo pelos Responsáveis pela Aplicação da Lei (PBUFAF). Ao final desta aula você será capaz de: Refletir sobre o servir e proteger em se tratando da Defesa Social para a orientação de suas atividades policiais; Demonstrar a relação entre a cidadania do profissional da área de Segurança Pública e o fortalecimento da sua identidade social, profissional e institucional; Reconhecer a inserção dos Direitos Humanos como Política Pública no Brasil e a inclusão na Política Nacional de Segurança Pública; Reconhecer e debater os princípios constitucionais e as normas dos Direitos Humanos que regem a atividade do profissional da área de Segurança Pública; Conhecer parâmetros legais sobre o uso da força e de armas na operacionalidade do Policial Militar. 1. Praticidade Fundamentada na Normativa Internacional de Direitos Humanos e nas Leis Internas, no que Concerne ao Exercício da Função Policial Militar. O exercício profissional responsável pela aplicação da lei constitui altíssima relevância para a Segurança Pública e, em decorrência, para o crescimento de pessoas e instituições. Não há sociedade evolutiva sem segurança, e sua oferta inadequada interfere na qualidade de vida da população, em todos os níveis. O apuro técnico na formação continuada e a constante revisão nas condições de trabalho dos Policiais Militares devem ser temas constantes na agenda dos chefes, diretores e comandantes. A Normativa internacional da ONU (Organização das Nações Unidas), em que o Brasil é membro, prevê, ainda, a responsabilidade dos Governantes para com a Vida e a Liberdade de todos. A ameaça contra a vida e à Segurança dosPoliciais é considerada ―[...] uma ameaça à estabilidade da sociedade no seu todo‖. Policial ameaçado, agredido, violado em seus direitos configura Crime contra os Estados Democráticos de Direito e a inarredável DEMOCRACIA. O ―Papel do Policial Militar‖, na sociedade, por relevância social e empenho na manutenção da ordem e segurança pública de todos, requer das autoridades constituídas, viabilidade e imposição nas qualificações, formação e conduta dos mesmos. AO FINAL DESTA AULA, VOCÊ DEVERÁ: DIREITOS HUMANOS 24 | P á g i n a Em situação de conflito, com evidente ameaça de integridade física, própria ou de outrem, o Policial terá a obrigação funcional de atuar. Neste mister, o uso da força e arma de fogo, se houver necessidade, deverão ocorrer dentro dos chamados ―meios necessários‖ para conter a agressão, ou seja, ―[...] funcionários só podem utilizar a força quando for estritamente necessário e somente na medida exigida para o desempenho das suas funções‖. O uso da força e de armas de fogo por Policiais Militares é restrito ao respeito aos ―Direitos do Homem‖, já que a vida constitui o mais elementar e inalienável bem, defendido pela normativa Internacional da ONU, em que somos membros e devemos ―atenção particular‖, bem como às leis internas do País. Consta na Normativa Internacional, ainda que ―Os Governos devem ter em conta os Princípios Básicos a seguir enunciados, que foram formulados tendo em vista auxiliar os Estados membros a garantirem e a promoverem o verdadeiro papel dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei, a observá-los no quadro das respectivas legislação e prática nacionais e a submetê-los à atenção dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei, bem como de outras pessoas como os juízes, os magistrados do Ministério Público, os advogados, os representantes do poder executivo e do poder legislativo e o público em geral‖. 1.1 Princípios Básicos Sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei DISPOSIÇÕES GERAIS PRINCÍPIO 1 Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem adotar e aplicar regras sobre a utilização da força e de armas de fogo contra as pessoas, por parte dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei. Ao elaborarem essas regras, os Governos e os organismos de aplicação da lei devem manter, sob permanente avaliação as questões éticas ligadas à utilização da força e de armas de fogo. PRINCÍPIO 2 Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem desenvolver um leque de meios tão amplos quanto possível e habilitar os funcionários responsáveis pela aplicação da lei com diversos tipos de armas e de munições, que permitam uma DIREITOS HUMANOS 25 | P á g i n a utilização diferenciada da força e das armas de fogo. Para o efeito, deveriam ser desenvolvidas armas neutralizadoras não letais, para uso nas situações apropriadas, tendo em vista limitar de modo crescente o recurso a meios que possam causar a morte ou lesões corporais. Para o mesmo efeito, deveria também ser possível dotar os funcionários responsáveis pela aplicação da lei de equipamentos defensivos, tais como escudos, viseiras, coletes antibalas e veículos blindados, a fim de se reduzir a necessidade de utilização de qualquer tipo de armas. PRINCÍPIO 3 O desenvolvimento e utilização de armas neutralizadoras não letais deveria ser objeto de uma avaliação cuidadosa, a fim de reduzir ao mínimo os riscos com relação a terceiros, e a utilização dessas armas deveria ser submetida a um controlo estrito. PRINCÍPIO 4 Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei, no exercício das suas funções, devem, na medida do possível, recorrer a meios não violentos antes de utilizarem a força ou armas de fogo. Só poderão recorrer à força ou a armas de fogo se outros meios se mostrarem ineficazes ou não permitirem alcançar o resultado desejado. PRINCÍPIO 5 Sempre que o uso legítimo da força ou de armas de fogo seja indispensável, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem: A. Utilizá-las com moderação e a sua ação deve ser proporcional à gravidade da infração e ao objetivo legítimo a alcançar; B. Esforçar-se por reduzirem ao mínimo os danos e lesões e respeitarem e preservarem a vida humana;·. C. Assegurar a prestação de assistência e socorros médicos às pessoas feridas ou afetadas, tão rapidamente quanto possível; D. Assegurar a comunicação da ocorrência à família ou pessoas próximas da pessoa ferida ou afetada, tão rapidamente quanto possível. PRINCÍPIO 6 Sempre que da utilização da força ou de armas de fogo pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei resultem lesões ou a morte, os responsáveis farão um relatório da ocorrência aos seus superiores, de acordo com o princípio 22. DIREITOS HUMANOS 26 | P á g i n a PRINCÍPIO 7 Os Governos devem garantir que a utilização arbitrária ou abusiva da força ou de armas de fogo pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei seja punida como infracção penal, nos termos da legislação nacional. PRINCÍPIO 8 Nenhuma circunstância excepcional, tal como a instabilidade política interna ou o estado de emergência, pode ser invocada para justificar uma derrogação dos presentes Princípios Básicos. PRINCÍPIO 9 Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem fazer uso de armas de fogo contra pessoas, salvo em caso de legítima defesa, defesa de terceiros contra perigo iminente de morte ou lesão grave, para prevenir um crime particularmente grave, que ameace vidas humanas, para proceder à detenção de pessoa que represente essa ameaça e que resista à autoridade, ou impedir a sua fuga, e somente quando medidas menos extremas se mostrem insuficientes para alcançarem aqueles objetivos. Em qualquer caso, só devem recorrer intencionalmente à utilização letal de armas de fogo quando isso seja estritamente indispensável para proteger vidas humanas. PRINCÍPIO 10 Nas circunstâncias referidas no princípio 9, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem identificar-se como tal e fazer uma advertência clara da sua intenção de utilizarem armas de fogo, deixando um prazo suficiente para que o aviso possa ser respeitado, exceto se esse modo de proceder colocar indevidamente em risco a segurança daqueles responsáveis implicar um perigo de morte ou lesão grave para outras pessoas ou se mostrar manifestamente inadequado ou inútil, tendo em conta as circunstâncias do caso. PRINCÍPIO 11 As normas e regulamentações relativas à utilização de armas de fogo pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem incluir diretrizes que: A. Especifiquem as circunstâncias nas quais os funcionários responsáveis pela aplicação da lei sejam autorizados a transportar armas de fogo e prescrevam os tipos de armas de fogo e munições autorizados; B. Garantam que as armas de fogo sejam utilizadas apenas nas circunstâncias adequadas e de modo a reduzir ao mínimo o risco de danos inúteis; DIREITOS HUMANOS 27 | P á g i n a C. Proíbam a utilização de armas de fogo e de munições que provoquem lesões desnecessárias ou representem um risco injustificado; D. Regulamentem o controle, armazenamento e distribuição de armas de fogo e prevejam nomeadamente procedimentos de acordo com os quais os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devam prestar contas de todas as armas e munições que lhes sejam distribuídas; E. Prevejam as advertências a efetuar, sendo caso disso, se houver utilização de armas de fogo; F. Prevejam um sistema de relatórios de ocorrência, sempre que os funcionários responsáveis pela aplicação da lei utilizem armas de fogo no exercício das suas funções. MANUTENÇÃO DA ORDEM EM CASO DE REUNIÕES ILEGAIS PRINCÍPIO 12 Dado que a todos é garantido o direito de participação em reuniões lícitas e pacíficas, de acordocom os princípios enunciados na Declaração Universal dos Direitos do Homem e no Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, os Governos e os serviços e funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem reconhecer que a força e as armas de fogo só podem ser utilizadas de acordo com os princípios 13 e 14. PRINCÍPIO 13 Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem esforçar-se por dispersar as reuniões ilegais, mas não violentas sem recurso à força e, quando isso não for possível, limitar a utilização da força ao estritamente necessário. PRINCÍPIO 14 Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem utilizar armas de fogo para dispersarem reuniões violentas se não for possível recorrer a meios menos perigosos, e somente nos limites do estritamente necessário. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem utilizar armas de fogo nesses casos, salvo nas condições estipuladas no princípio 9. DIREITOS HUMANOS 28 | P á g i n a ACONTECEU... O GLOBO/COM Agências Internacionais - Procurador geral, Eric Holder, apresentou plano de reformas no treinamento na força policial da cidade. Eric Holder. Procurador geral anunciou plano de reformas no treinamento da polícia de Cleveland - MARK WILSON / AFP CLEVELAND, Ohio — Policiais de Cleveland usam força excessiva e desnecessária com frequência, são mal treinados em técnicas de abordagem e uso de armas de fogo, e colocam a população e seus companheiros de trabalho em perigo com atitudes inconsequentes, afirmou o departamento americano de Justiça em um relatório apresentado nesta quinta-feira pelo procurador geral Eric Holder. O departamento e o prefeito de Cleveland, Frank Jackson, assinaram um acordo nesta quinta se comprometendo a trabalhar juntos e buscar um monitor indicado por um tribunal para supervisionar as reformas no sistema policial da cidade. O departamento concluiu que um padrão de uso da força inconsequente e excessivo tem sido repetido pelos policiais, e expressaram preocupações com as práticas de busca e apreensão da polícia local. O relatório afirma ainda que os frequentes abusos de direitos civis são decorrentes de táticas mal assimiladas, treinamento inadequado e pouca supervisão e prestação de contas. ―Vimos muitos incidentes em que policiais balearam alguém acidentalmente, seja por que dispararam suas armas por acidente ou porque alvejaram as pessoas erradas‖, diz o relatório, que afirma que o uso excessivo da força gerou uma aura de desconfiança sobre a polícia de Cleveland, especialmente entre as comunidades negras. As investigações foram motivadas por casos de bastante destaque, como a morte de dois suspeitos desarmados que foram depois que policiais dispararam 137 tiros contra um carro durante uma perseguição, em novembro de 2012. Na semana passada, centenas de pessoas fecharam uma autoestrada em protesto à morte de um menino negro de 12 anos, morto por um policial branco quando brincava em um parque com uma arma de brinquedo. SAIBA MAIS... Em anexo, o aluno poderá encontrar a Portaria Interministerial No- 4.226, de 31 de dezembro de 2010, a qual mantém disciplinada a forma adequada de uso da força e de armas de fogo com devido controle pelo Estado. DIREITOS HUMANOS 29 | P á g i n a ACONTECEU... A Prefeitura e o Departamento de Justiça irão negociar um acordo que será enviado a um juiz federal detalhando as reformas, que incluirão a nomeação de um monitor independente. Um comunicado assinado por Jackson, pela Vice Procuradora geral, Vanita Gupta, e pelo procurador do Norte de Ohio, Steven Dettelbach afirma que o prefeito, o diretor de segurança da cidade e o chefe da polícia local “manterão autoridade absoluta” para conduzir a força policial de Cleveland. O relatório foi anunciado num momento em que os Estados Unidos vivem um clima de tensão em várias cidades, após casos de vítimas negras desarmadas mortas por policiais brancos, principalmente em Nova York e Ferguson, no Missouri. Observe que: O mundo moderno não suporta mais conviver com a barbárie no uso da força e armas de fogo. Pressões e tomadas de posição pela sociedade organizada para treinamento adequado de policiais ocorrem em todo mundo. A matéria acima é vasta em tal comprovação. No Brasil, a Senasp publicou a Portaria Interministerial No- 4.226, de 31 de dezembro de 2010, para treinamento e controle no uso da força e armas de fogo. Recentemente, um Oficial da PMERJ foi condenado e excluído da corporação por atirar num veículo particular em fuga e baleado uma Oficial do quadro de saúde das Forças Armadas que, em decorrência, veio a óbito. DIREITOS HUMANOS 30 | P á g i n a Aula 5 – Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e Armas de Fogo pelos Responsáveis pela Aplicação da Lei (PBUFAF). Princípios 15 ao 24 e Reuniões, Manifestações e Protestos Ao final desta aula você será capaz de: Reconhecer e debater os princípios constitucionais e as normas dos Direitos Humanos que regem a atividade do profissional da área de Segurança Pública; Conhecer parâmetros legais sobre uso da força e de armas de fogo na operacionalidade do Policial Militar e por ocasião de reuniões, manifestações e protestos. 1. Praticidade Fundamentada na Normativa Internacional de Direitos Humanos e nas Leis Internas, no que Concerne ao Exercício da Função Policial Militar. MANUTENÇÃO DA ORDEM ENTRE PESSOAS DETIDAS OU PRESAS PRINCÍPIO 15 Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem utilizar a força na relação com pessoas detidas ou presas, exceto se isso for indispensável para a manutenção da segurança e da ordem nos Estabelecimentos penitenciários, ou quando a segurança das pessoas esteja ameaçada. PRINCÍPIO 16 Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem utilizar armas de fogo na relação com pessoas detidas ou presas, exceto em caso de legítima defesa ou para defesa de terceiros contra perigo iminente de morte ou lesão grave, ou quando essa utilização for indispensável para impedir a evasão de pessoa detida ou presa representando o risco referido no princípio 9. PRINCÍPIO 17 Os princípios precedentes entendem-se sem prejuízo dos direitos, deveres e responsabilidades dos funcionários dos estabelecimentos penitenciários, tal como são enunciados nas Regras Mínimas para o Tratamento de Presos, em particular as regras 33, 34 e 54. HABILITAÇÕES, FORMAÇÃO E ACONSELHAMENTO. AO FINAL DESTA AULA, VOCÊ DEVERÁ: DIREITOS HUMANOS 31 | P á g i n a PRINCÍPIO 18 Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem garantir que todos os funcionários responsáveis pela aplicação da lei sejam selecionados de acordo com procedimentos adequados, possuam as qualidades morais e aptidões psicológicas e físicas exigidas para o bom desempenho das suas funções e recebam uma formação profissional contínua e completa. Deve ser submetida à reapreciação periódica a sua capacidade para continuarem a desempenhar essas funções. PRINCÍPIO 19 Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem garantir que todos os funcionários responsáveis pela aplicação da lei recebam formação e sejam submetidos a testes de acordo com normas de avaliação adequadas sobre a utilização da força. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei que devam transportar armas de fogo deveriam ser apenas autorizados a fazê-lo após recebimento de formação especial para a sua utilização. PRINCÍPIO 20 Na formação dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei, os Governos e os organismos de aplicação da lei devem conceder uma atenção particular às questões de ética policial e de direitos do homem, em particular no âmbito da investigação, aos meios de evitar a utilização da força ou de armas de fogo, incluindo a resoluçãopacífica de conflitos, ao conhecimento do comportamento de multidões e aos métodos de persuasão, de negociação e mediação, bem como aos meios técnicos, tendo em vista limitar a utilização da força ou de armas de fogo. Os organismos de aplicação da lei deveriam rever o seu programa de formação e procedimentos operacionais, em função de incidentes concretos. PRINCÍPIO 21 Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem garantir aconselhamento psicológico aos funcionários responsáveis pela aplicação da lei envolvidos em situações em que sejam utilizadas a força e armas de fogo. PROCEDIMENTOS DE COMUNICAÇÃO HIERÁRQUICA E DE INQUÉRITO PRINCÍPIO 22 Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem estabelecer procedimentos adequados de comunicação hierárquica e de inquérito para os incidentes referidos nos princípios 6 e 11. Para os incidentes que sejam objetos de relatório por DIREITOS HUMANOS 32 | P á g i n a força dos presentes Princípios, os Governos e os organismos de aplicação da lei devem garantir a possibilidade de um efetivo procedimento de controle e que Autoridades independentes (administrativas ou do Ministério Público), possam exercer a sua jurisdição nas condições adequadas. Em caso de morte, lesão grave, ou outra consequência grave, deve ser enviado de imediato um relatório detalhado às autoridades competentes encarregadas do inquérito administrativo ou do controle judiciário. PRINCÍPIO 23 As pessoas contra as quais sejam utilizadas a força ou armas de fogo ou os seus representantes autorizados devem ter acesso a um processo independente, em particular um processo judicial. Em caso de morte dessas pessoas, a presente disposição aplica-se às pessoas a seu cargo. PRINCÍPIO 24 Os Governos e organismos de aplicação da lei devem garantir que os funcionários superiores sejam responsabilizados se, sabendo ou devendo saber que os funcionários sob as suas ordens utilizam ou utilizaram ilicitamente a força ou armas de fogo, não tomaram as medidas ao seu alcance para impedirem, fazerem cessar ou comunicarem este abuso. PRINCÍPIO 25 Os Governos e organismos responsáveis pela aplicação da lei devem garantir que nenhuma sanção penal ou disciplinar seja tomada contra funcionários responsáveis pela aplicação da lei que, de acordo como o Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei e com os presentes Princípios Básicos, recusem cumprir uma ordem de utilização da força ou armas de fogo ou denunciem essa utilização por outros funcionários. PRINCÍPIO 26 A obediência a ordens superiores não pode ser invocada como meio de defesa se os responsáveis pela aplicação da lei sabiam que a ordem de utilização da força ou de armas de fogo de que resultaram a morte ou lesões graves era manifestamente ilegal e se tinham uma possibilidade razoável de recusar cumpri-la. Em qualquer caso, também existe responsabilidade da parte do superior que proferiu a ordem ilegal. 2. Reunião, Manifestação Popular e Protesto. 2.1 - Conceituação: DIREITOS HUMANOS 33 | P á g i n a É a mobilização ativista de um grupo de pessoas com a finalidade de obter do poder público ou privado competente, ações efetivas para conquista das reivindicações manifestas por seus representantes, de formas pacífica e legal. 2.2 – Considerações Gerais: Reuniões, Manifestações ou Protestos, normalmente, são articulados na forma de concentração em locais predeterminados ou passeatas, com carros de som, cânticos de ordem, panfletos, cartazes e exaltação de palavras de ordem evidenciando interesses comuns dirigidos aos Poderes Público e/ou Privado. Tais manifestações procuram, ainda, chamar a atenção dos setores de imprensa e da opinião pública em geral para tornarem sensibilizantes as causas reivindicatórias que defendem. 2.3 - A Legalidade das Reuniões, Manifestações e Protestos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (10 dez 1948), em seu artigo 20, acentua que “Todo homem tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas”. A Constituição da República Federativa do Brasil em seu Título II, Dos Direitos e Garantias Fundamentais, Capítulo I dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, art. 5º, inciso XVI: Prevê: "Artigo 5º, inciso XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente". Assim: 1- Reuniões pacíficas, protestos ou manifestações fazem parte do Estado Democrático de Direito Brasileiro, com reforço da normativa internacional. 2- Reuniões pacíficas, protestos ou manifestações estão embasados no conceito filosófico constitucional, Direitos e Garantias Fundamentais, ―liberdade de opinião e de expressão‖ onde clarifica que, “É livre a manifestação popular”. As Polícias Militares brasileiras têm a responsabilidade de proteger manifestações legais e pacíficas e, consequentemente, proteger seus cidadãos participantes; exercendo o ―poder de polícia‖ (Emana do Estado) com fundamentos nos pressupostos dos direitos fundamentais consagrados na Constituição Federal. DIREITOS HUMANOS 34 | P á g i n a Nesse contexto, é um direito legal a liberdade de articulação, reunião e manifestação política para expor publicamente suas reivindicações, desde que ocorra de forma pacífica, Assim, qualquer prisão, por motivo de reunião, protesto ou manifestação, configura: 1- Prisão Ilegal: Art. 5º LXI, CRFB: "Ninguém será preso, senão em flagrante delito, ou ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente". 2- Abuso de Autoridade: Lei nº 4.898, De 9 de Dezembro de 1965. Art. 3º. Constitui Abuso de Autoridade Qualquer Atentado: a) À liberdade de locomoção; b) À liberdade de associação; c) Ao direito de reunião; d) À incolumidade física do indivíduo. 2.4 - Conclusão: Pela Legislação brasileira e a normativa internacional, as manifestações Públicas constituem o exercício da Cidadania e os Direitos Humanos de todos, respectivamente. O ato de reunir, protestar e manifestar não tem especificidade criminosa pelas leis Brasileiras, a qual está apoiada na normativa internacional da Organização das Nações Unidas, em que o Brasil é membro. 2.5- A Ilegalidade nas Manifestações. A manifestação pública é parte de todo sistema democrático, todavia quando grupos ou pessoas, armadas ou desarmadas, adotam práticas criminosas, passam a ser alvo de abordagem policial de forma Preventiva e Correcional. Abusos e crimes devem ser evitados e corrigidos pelo Estado para garantia da própria Democracia. A manifestação toma conotação ilegal e abusiva, quando ocorrem: DIREITOS HUMANOS 35 | P á g i n a a) Piquete - Impedimento da ―Liberdade de ir e vir‖, de forma violenta ou ameaçadora contra trabalhadores que não querem aderir a uma manifestação grevista da forma ilegal pretendida. b) Desobediência - Interrupção de via pública desorganizando o tráfego com incêndio de pneus e outros objetos ou, ainda, colocação de material em via pública que impeçam a passagem de outrem. c) Atentado ao pudor Público Desfile ou passeata de pessoas nuas ou com exposição de partes íntimas ao Público. d) Crime de Dano Provocar incêndio, danificar com prejuízo ao patrimônio Público ou Privado. e) Crime contra pessoa - Agressão, tentativa e homicídio de pessoas com posse ou uso de quaisquer armas (de fogo, brancas, pedras, bastões, tacos e similares), ou explosivo cuja potencialidade possa causar ferimentos ou morte. f) Conflito de Direitos. Falta de aviso prévio à autoridade policial, 48 horas de antecedência, gerando conflito com o direito constitucional de outra reunião anteriormente convocada eavisada à autoridade policial. 2.6 - Preparo Técnico do Policial Militar, Responsabilidades do Estado e Ativismo Cidadão. O Policial Militar: O policial deverá manter-se sereno, em grupo, e enfrentar as dificuldades com resiliência, firmeza e profissionalismo, comandado por graduado ou Oficial, dentro das normas técnicas de controle fundamentadas no Estado Democrático de Direito. Estado: - O vandalismo provoca acirramento e estresse, por tal o Estado tem a obrigação de bem treinar, preparar e dotar o Policial de material adequado como, armamento não letal, escudos, viseiras, máscaras contra gases, coletes e outros, DIREITOS HUMANOS 36 | P á g i n a conforme a normativa Internacional de Direitos Humanos (PBUFAF) em defesa do Policial e da Sociedade a qual todos fazemos parte. Diante de atividades ilegais, após agir de forma PREVENTIVA, o Policial deverá agir de forma CORRECIONAL, ou seja: a) Prender os AUTORES; b) Recolher todos os indícios de AUTORIA e MATERIALIDADE e; c) Encaminhar a ocorrência à Autoridade Policial, desde logo. Observação: Em se tratando de “Local de Crime”, cabe ao Policial Militar responsável pela ocorrência preservá-lo para que o mesmo não seja violado e, por conseguinte venha dificultar o trabalho pericial. E dessa forma, não ocorra a imputação de responsabilidade ao policial militar por não cumprimento do dever legal. Os Movimentos Ativistas: Aos movimentos reivindicatórios, é fundamental que façam impor clarificada a forma democrática a qual estão adstritos e que os casos que envolvam cometimentos de barbáries sejam repudiados por seus participantes, em nome de nossa consolidada democracia. Articulação Interativa: Se houver articulação prévia, interativa, concreta e bem formulada por parte dos envolvidos, Estado, Manifestantes e Setores da Imprensa, fica evidente que: 1- O número de vandalismo estará reduzido com tendência ao desaparecimento de espaço para ações criminosas que agridem a sociedade como um todo. 2- Numa perfeita articulação, preserva-se a individualidade e os interesses de cada parte envolvida, todavia todos procuram, dentro de suas identidades, interagir e trabalhar para extinguir os espaços para VANDALISMOS E BARBÁRIES praticados por detratores da irretocável DEMOCRACIA. A democracia brasileira é conquista da sociedade a qual todos fazemos parte da história. 2.7 - Questões Polêmicas O porte e uso de VINAGRE Porte e uso de tal substância não apresenta qualquer especificidade criminosa na legislação brasileira e, normalmente, é utilizada na tentativa de minorar os efeitos de gases lançados para dispersão de manifestações ilegais. DIREITOS HUMANOS 37 | P á g i n a A composição química do vinagre não produz combustão. Por outro lado, estudiosos no assunto asseguram que o vinagre não possui qualquer ação neutralizante sobre os gases lacrimogêneos (lacrima=lágrima, em latim). (vide site infoescola.com>curiosidades). Ou seja, não há qualquer comprovação científica de que o vinagre possa minorar tais efeitos. Ainda assim, o propósito de possível defesa da integridade física não apresenta especificidade criminosa e não é cabível qualquer ação de Correção Policial, ou seja, Prisão. O uso de máscara, capuzes e outros. Em se tratando de manter-se anônimo, irreconhecível, com rosto encoberto para prática de crimes, o Estado como garantista da Segurança Pública de todos afasta-se da polêmica e deixa claro que dispositivos legais passam a vigorar, objetivando a manutenção pacífica nas manifestações, a saber: a) - CRFB- artigo 5º - ―IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato‖; b) - Lei 6528 -11 SET 2013 (Regulamenta o Artigo 23 da Constituição do Estado). “O GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO”. Faço saber que a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º O direito constitucional à reunião pública para manifestação de pensamento será protegido pelo Estado nos termos desta Lei. Art. 2º É especialmente proibido o uso de máscara ou qualquer outra forma de ocultar o rosto do cidadão com o propósito de impedir-lhe a identificação. Parágrafo único. É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato. Art. 3º O direito constitucional à reunião pública para manifestação de pensamento será exercido: I - pacificamente; II - sem o porte ou uso de quaisquer armas; III - em locais abertos; IV - sem o uso de máscaras nem de quaisquer peças que cubram o rosto do cidadão ou dificultem sua identificação; DIREITOS HUMANOS 38 | P á g i n a V - mediante prévio aviso à autoridade policial. § 1º - Incluem-se entre as armas mencionadas no inciso II do caput as de fogo, brancas, pedras, bastões, tacos e similares. § 2º - Para os fins do inciso V do caput, a comunicação deverá ser feita à delegacia em cuja circunscrição se realize ou, pelo menos, inicie a reunião pública para manifestação de pensamento. § 3º - A vedação de que trata o inciso IV do caput deste artigo não se aplica às manifestações culturais estabelecidas no calendário oficial do Estado. § 4º - Para os fins do Inciso V do caput deste artigo a comunicação deverá ser feita ao batalhão em cuja circunscrição se realize ou, pelo menos, inicie a reunião pública para a manifestação de pensamento; § 5º - Considera-se comunicada a autoridade policial quando a convocação para a manifestação de pensamento ocorrer através da internet e com antecedência igual ou superior a quarenta e oito horas. Art. 4º As Polícias só intervirão em reuniões públicas para manifestação de pensamento a fim de garantir o cumprimento de todos os requisitos do art. 3º ou para a defesa: I - do direito constitucional a outra reunião anteriormente convocada e avisada à autoridade policial; II - das pessoas humanas; III - do patrimônio público; IV - do patrimônio privado. Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. “Rio de Janeiro, em 11 de setembro de 2013”. Comentários: As polêmicas acima citadas, para o Estado Democrático de Direito, consta encerrada no que tange ao uso de máscaras ou quaisquer peças que cubram o rosto do cidadão ou dificultem sua identificação, já que legislação Estadual consagra-se em vigor. Alguns setores e críticos têm questionado a legitimidade da norma sobre sua constitucionalidade, todavia, enquanto Ação Direta De Inconstitucionalidade dirigida ao Douto Supremo Tribunal Federal não se porte assim entendida e declinada pela DIREITOS HUMANOS 39 | P á g i n a maior Casa da Justiça de nosso País, a Lei Estadual 6528 – de 11 SET. 2013 deverá ser respeitada por todos. No contexto uso de máscaras contra gases, jornalistas devidamente identificados por crachás não ferem o dispositivo legal, por não estarem no anonimato e, desta feita, cumprem a norma legal. O exercício de profissionais de imprensa é salutar ao sistema democrático e assim devem ser entendidos e respeitados. Ainda, fica esclarecida a questão do uso de máscaras em manifestações culturais, ou seja, nos festejos carnavalescos, teatros e outros estabelecidos no calendário oficial do Estado. De bom alvitre, em manifestações culturais tal uso não se atrela ao anonimato, deixando clara a finalidade de artistas, foliões e outros para com o entretenimento e a ludicidade. 2.8 O Preparo Técnico do Policial no Uso da Força e Armas O uso da força e de armas de fogo pelos responsáveis pela aplicação da lei, já foi objeto de estudos, em Unidades anteriores, em que foram abordados valores do CCEAL, PBUFAF, DUDH e Convenção Contra Tortura. A Portaria Interministerial no. 4.226, de 31 de dezembro de 2010 estabelece Diretrizes sobre o Uso da Força pelos agentes de Segurança Pública, levando em consideração o disposto na normativa internacional acima informada.
Compartilhar