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1 SUMÁRIO 2 GERÊNCIA DE RISCOS ............................................................................. 3 3 ACIDENTES DO TRABALHO ..................................................................... 9 3.1 Legislação de Acidentes do Trabalho Aplicável a Industria da Construção .................................................................................................................................. 15 3.2 Práticas Gerenciais para a Prevenção de Acidentes do Trabalho ......... 16 4 GARANTIA DE SEGURANÇA OPERACIONAL ....................................... 19 5 GERENCIAMENTOS DE RISCOS ........................................................... 24 6 ANÁLISE PRELIMINAR DE PERIGOS ..................................................... 26 7 O QUE PERMITE A AVALIAÇÃO DE RISCOS ........................................ 27 8 SISTEMAS DE GESTAO DE SAÚDE, MEIO AMBIENTE E SEGURANÇA (SMS) 28 9 NORMAS DE GESTÃO DE QUALIDADE E DE MEIO AMBIENTE .......... 30 10 ACIDENTES ORGANIZACIONAIS ........................................................ 32 11 PRESCRIÇÃO ....................................................................................... 35 12 OS RISCOS ........................................................................................... 36 13 FATOR HUMANO .................................................................................. 38 14 COOPERAÇÃO ENTRE INDIVIDUOS .................................................. 41 15 ACIDENTES COM PRODUTOS QUÍMICOS......................................... 42 16 ESTATÍSTICAS DOS GRANDES RISCOS ........................................... 43 17 E AS RELAÇÕES SOCIAIS NO AMBIENTE DE TRABALHO ............... 45 18 CULTURA DE SEGURANÇA ANALISANDO O ACIDENTE ................. 46 19 O RESPONSÁVEL PELA SEGURANÇA .............................................. 48 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 53 2 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 3 2 GERÊNCIA DE RISCOS Fonte: 7comm.com.br Devem ser consideradas como partes integrantes do processo de gerenciamento de riscos as recomendações e medidas resultantes do estudo de análise e avaliação de riscos para a redução das frequências e consequências de eventuais acidentes (MUNIZ, 2011). Independentemente da adoção dessas medidas, uma instalação que possua substâncias ou processos perigosos deve ser operada e mantida, ao longo de sua vida útil, dentro de padrões considerados toleráveis, razão pela qual o deve ser implementado e considerado nas atividades, rotineiras ou não, de uma planta industrial (CHAIB, 2001). Com a implantação de sistemas de gestão específicos (qualidade, meio ambiente, segurança e saúde do trabalho, responsabilidade social, etc.) as organizações objetivam o aumento da qualidade de produtos e serviços, o desenvolvimento sustentável melhor relacionamento com a sociedade e, consequentemente, o aumento da lucratividade, podendo, assim, transformar as pressões de mercado em Vantagens competitivas (OLIVEIRA, OLIVEIRA, ALMEIDA, 2010). A Implantação, acompanhamento e execução do Programa de Gerenciamento de Risco – PGR, foi criado pela Portaria 3.214 de 08 de junho de 1978 do Ministério do Trabalho, Norma Regulamentadora (NR-22), aplica às empresas de minerações 4 subterrâneas, minerações a céu aberto, garimpos, beneficiamentos minerais e pesquisa mineral, onde estabelece requisitos a serem observados na organização e no ambiente de trabalho, de forma a garantir que as atividades de mineração sejam desenvolvidas e planejadas de forma compatível com a segurança e saúde do trabalho (SÁ, GOMIDE, SÁ, 2016). Cabe à empresa ou Permissionário de Lavra Garimpeira elaborar e implementar o Programa de Gerenciamento de Riscos – PGR, contemplando todos os aspectos da NR-22, independentemente do número de trabalhadores. O Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), deve abordar os aspectos associados às avaliações dos riscos e propor as medidas de controle, redução ou eliminação dos riscos identificados. Deve ainda estabelecer um cronograma de sua implantação devidamente atualizado. No âmbito do licenciamento ambiental, o PGR dessa forma, as empresas em avaliação pelo órgão ambiental deverão apresentar um relatório contendo as diretrizes do PGR, no qual deverão estar claramente relacionadas as atribuições, as atividades e os documentos de referência. Fonte: verdeghaia.com.br 5 Embora as ações previstas no PGR devam contemplar todas as operações e equipamentos, o programa deve considerar os aspectos críticos identificados no estudo de análise de riscos, de forma que sejam priorizadas as ações de gerenciamento dos riscos, a partir de critérios estabelecidos com base nos cenários acidentais de maior relevância (CHAIB, 2001). De acordo com a elaboração da PGR, deve conter todos os perigos da empresa, respeitando as normas da legislação. Por isso, se a empresa se enquadra no perfil de alto riso para o trabalhador, é mandatório realizar a gestão de segurança do trabalho também implementando esse programa. Fonte: seso.com.br Trata-se de investigar como se dá o gerenciamento de riscos de acidentes do trabalho numa obra de construção de dutos terrestres. A indústria da construção é um dos segmentos em que mais ocorrem acidentes do trabalho no mundo, e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) reconhece esse setor como um dos mais perigosos (BARBOSA, 2002). A elaboração das diretrizes do Programa seguirá as premissas estabelecidas pela CETESB P4.261 de maio/2003, ou similar, pertinente a instalação motivo desta proposta deverá conter, no mínimo, os itens relacionados abaixo. 6 Informações de segurança de processo; Revisão dos riscos de processo; Gerenciamento de modificações; Manutenção e garantia da integridade de sistemas críticos; Procedimentos operacionais; Capacitação de recursos humanos; Investigação de incidentes; Plano de Ação de Emergência (PAE e PEI); Auditorias; Trata-se de investigar como se dá o gerenciamento de riscos de acidentes do trabalho numa obra de construção de dutos terrestres. A indústria da construção é um dos segmentos em que mais ocorrem acidentes do trabalho no mundo, e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) reconhece esse setor como um dos mais perigosos. Fonte: casolucoesemsst.com.br A obra de dutos é horizontal, assim como a construção de estradas, ferrovias ou redes de energiaelétrica. Como principais fatores que dificultam o gerenciamento de riscos de acidentes na construção de dutos, citamos: a mobilidade da obra, que 7 atravessa diversas regiões urbanas ou rurais, cada uma com suas peculiaridades culturais, geográficas e políticas; uma mão-de obra, muitas vezes, sem experiência prévia, que trabalha em pequenos grupos isolados ao longo do traçado da construção, simultaneamente (OLIVEIRA, OLIVEIRA, ALMEIDA, 2010). Observa-se uma tendência em grandes empresas, nos dias de hoje, em adotar normas de gestão de saúde, segurança e meio ambiente, com a finalidade de obter uma melhoria na performance dessas funções. A OIT lançou em junho de 2001 um Guidelines para a implantação de sistema de gestão em saúde e segurança no trabalho. Para a realização deste estudo, lançamos mão da teoria sociológica dos acidentes e aplicamos fundamentos da ergonomia para conhecer o processo de trabalho (OLIVEIRA, OLIVEIRA, ALMEIDA, 2010). Em nossa pesquisa de campo observamos que há fragmentação do conhecimento sobre a forma de gerenciamento dos riscos de acidentes, evidenciada através das verbalizações de representantes dos diversos níveis funcionais da contratante dos serviços e da contratada, decorrente, em parte, de diversos fatores culturais (BARBOSA, 2002). Não há muitas oportunidades de participação dos indivíduos no processo de gestão, fato determinante para a estagnação do fluxo de informações. Percebemos certo distanciamento entre o planejado no escritório e o praticado na obra. O modelo prescrito é robusto e burocrático e, no campo, nos deparamos com uma realidade na qual o conceito de acidente, por exemplo, é variável. Fonte: consultoriaiso.org 8 O aumento dos riscos industriais, proveniente da utilização de tecnologias mais avançadas e complexas, maior número de insumos, utilização de novos produtos, transporte e armazenagem de grandes quantidades de produtos perigosos, vem desencadeando pressões sociais para que as empresas adotem medidas de emergência e de contenção de riscos eficientes (SOUZA, 2006). Neste sentido, a decisão das empresas em alocar recursos para a mitigação de perdas fundamenta-se no cotejo entre a adoção ou não, total ou parcial, das medidas preconizadas pela Gerência de Riscos. Além da influência social, os danos provenientes da ocorrência de eventos indesejáveis atuam diretamente na qualidade e nos resultados da empresa, o que muitas vezes justifica a conveniência econômica de sua implementação. Desta forma, a preocupação com riscos em plantas industriais é atualmente parte integrante da filosofia de modernização empregada por empresas que procuram qualificar seus serviços de forma a aumentar sua competitividade, agregando qualidade e confiabilidade a seus produtos e atentando tanto para fatores internos quanto externos aos domínios da empresa (OACI, 2009). Segundo Huczynski e Buchanana (1988) percepção é um processo psicológico ativo pelo qual os estímulos são selecionados e organizados dentro de um modelo conceptual da situação. Portanto, um indivíduo não registra simplesmente os aspectos observados com relação ao sistema do qual faz parte, mas atribui significados e valores aos mesmos. O processo de percepção do risco pelo homem nem sempre é objetivo, ou quem sabe racional, mas fortemente influenciado por fatores diversos que variam de indivíduo para indivíduo, em função de sua estrutura mental e do seu background, adquirido principalmente pela sua experiência dentro do sistema (ROCHA, 2010). Assim, nota-se que é de suma importância o conhecimento profundo sobre os riscos presentes dentro de um sistema industrial para que seja possível, por parte do indivíduo, a identificação e a correção dos desvios do sistema antes que ocorra a sua falha, reduzindo-se, desta forma, a probabilidade de erro humano. No entanto, mesmo que todos os riscos sejam conhecidos, ainda persistirá a possibilidade de falha humana, pois cada indivíduo organiza e interpreta as situações de maneira diferente (ROCHA, 2010). 9 3 ACIDENTES DO TRABALHO Fonte: epi-tuiuti.com.br Conforme a legislação brasileira, o acidente do trabalho é definido como “ocorrência imprevista e indesejável, instantânea ou não, relacionada com o exercício do trabalho, de que resulte ou possa resultar lesão pessoal”. De acordo com a gravidade, os acidentes de trabalho subdividem-se em com afastamento ou sem afastamento (ABNT, 2001). Segundo Machado e Gomez (1999) “a concepção dos acidentes de trabalho apresenta duas vertentes. A primeira, de caráter jurídico-institucional, sustenta-se na teoria do risco social e fundamenta a operacionalização do seguro de acidente do trabalho. A segunda, desenvolvida pela engenharia de segurança, apresenta uma dimensão técnico-científica no controle dos acidentes e constitui a base da teoria do risco profissional. Considerar o trabalho como atividade que pode apresentar riscos de acidentes é, por conseguinte, reconhecer que é nesse ambiente que as responsabilidades serão atribuídas (GOMEZ, 1999). Os acidentes de trabalho (AT) e as suas consequências causam inúmeras vítimas anualmente, e além de atingirem a atividade laboral, produzem impactos significativos sob o ponto de vista econômico, social e ambiental. No entanto, a falta de dados e de discussão em âmbito mundial e especialmente no Brasil faz com que a 10 segurança e a saúde dos trabalhadores não tenham a prioridade que merecem (ROCHA, 2010). De acordo com estimativas da Organização Internacional do Trabalho, anualmente ocorrem 317 milhões de AT em todo o mundo. Diariamente, os acidentes e doenças relacionadas ao trabalho produzem 6.300 vítimas fatais, o que significa que 2,3 milhões de trabalhadores morrem em decorrência do trabalho todos os anos. Como acidentes e mortes no âmbito do trabalho podem ser evitados com medidas preventivas e maior segurança, esses números dão uma ideia do tamanho da iniquidade social que caracteriza as relações de trabalho em escala global (GONÇALVES, SAKAE, MAGAJEWSKI, 2016). O Brasil contribui significativamente para a estatística mundial, estando classificado como quarto colocado no ranking de acidentes de trabalho fatais. Os custos dos acidentes de trabalho são elevados, e de difícil contabilização, mesmo em países com importantes avanços na prevenção. Estima-se que 4% do Produto Interno Bruto (PIB) global sejam perdidos por doenças e agravos ocupacionais, o que pode aumentar em 10%, quando se trata de países em desenvolvimento, como no caso do Brasil (SANTANA, OLIVEIRA, 2006. Apud SA, GOMIDE, SA, 2016). As estatísticas oficiais no Brasil tomam como base a definição legal de acidente de trabalho. No Brasil esta definição é dada pela Lei nº 8.213 de 1991, que define o acidente de trabalho como um evento que ocorre a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados discriminados no art. 11, inciso VIII do referido diploma legal, que provoca lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, perda ou redução permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho (SA, GOMIDE, SA, 2016). Entretanto, as informações sobre as estatísticas dos acidentes de trabalho ocorridos em todo o território nacional não são completas, seja no que concerne à quantidade ou mesmo nos aspectos qualitativos desses eventos. No Brasil, estima-se que o sub-registro atinge valores acima de 70% para acidentes fatais e 90% para não fatais (SANTANA, OLIVEIRA, 2006). As causas dos acidentes são classificadas em duas categorias, segundo suas origens: a) fatores pessoais (responsabilidade do trabalhador); ou b) fatores do ambiente de trabalho (responsabilidade do empregador), em que o conceito de acidente do trabalho, em vez de acidente no trabalho, é adotado por ser mais específico e garantirmaior visibilidade” (ROCHA, 2010). 11 Na assembleia Nacional Constituinte instalada em 1987 a questão dos acidentes do trabalho foi bastante debatida, especialmente diante das estatísticas absurdas de mortes, doenças ocupacionais e invalidez no Brasil. Foi escolhido em virtude de restar comprovado através de pesquisas realizadas que os empregadores, na sua grande maioria, negam-se a emitir a Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT), omitindo informações importantes, fugindo às responsabilidades (OLIVEIRA, 2007. Apud BUDEL, 2012) Apesar de teoricamente existir a possibilidade de atribuição de dolo ao empregador, na prática observa-se que a culpa, em geral, é atribuída ao empregado. Adiante discutiremos as implicações para a prevenção da busca de culpados quando da ocorrência de acidentes. No Brasil, a população economicamente ativa, em agosto de 2015, era constituída por aproximadamente 100 milhões de brasileiros. Os homens representavam cerca de 58% e as mulheres, 42% do conjunto da força de trabalho que desenvolvia atividades em distintos setores da economia (BERNARDO, DELGADO, 2008). Fonte: res.heraldm.com É necessário reconhecer que o crescimento do número absoluto dos AT registrados no Brasil foi acompanhado, ao mesmo tempo, pela redução das taxas de incidência de acidentes e doenças ocupacionais na última década. Porém, comparativamente com outros países, ainda estamos com estatísticas alarmantes, mostrando a precariedade das condições de trabalho, a baixa efetividade da 12 fiscalização e a impunidade decorrente da pequena responsabilização dos empregadores pela segurança dos ambientes de trabalho (GONÇALVES, SAKAE, MAGAJEWSKI, 2016). O acidente de trabalho é uma questão extremamente aflitiva, que gera graves consequências. O trabalhador atingido por tal infortúnio muitas vezes fica inválido ou até mesmo é levado a óbito. Sendo assim, tal questão repercute deforma negativa não somente perante o empregado, mas também em face de sua família, empresa e toda a sociedade. A problemática dos acidentes ocorridos no ambiente de trabalho se torna ainda mais preocupante quando já se tem conhecimento que esse pode ser facilmente evitado, mediante a adoção de medidas preventivas, que são simples e de custos reduzidos (BERNARDO, DELGADO, 2008). O impacto de tais acidentes de trabalho na economia é considerável. Analisando apenas o aspecto previdenciário, no período compreendido entre os anos de 2008 a 2013 houve um gasto de mais de R$ 50 bilhões com o pagamento de auxílios doença, aposentadorias por invalidez, pensões por morte (acidentária) e auxílios acidentes. O Brasil se encontra em situação de “déficit acidentário previdenciário”, uma vez que o valor arrecadado com o Seguro contra Acidentes de Trabalho é inferior às despesas com os benefícios de origem acidentária. Os custos com acidentes de trabalho não podem ser analisados sob um único prisma, possuindo três espécies, sendo os custos diretos, indiretos e humanos. Os custos diretos são os despendidos para o tratamento e reabilitação médica (MAGRINI, 2001. Apud NETA, FREITAS, SILVA, 2018). As despesas indiretas são as relacionadas as perdas de oportunidade pelo empregado, empregador família e sociedade, abrangendo gastos previdenciários, salariais, administrativos e perda da produtividade. Os custos humanos indicam a piora na qualidade de vida do trabalhador e sua família (SÁ, GOMIDE, SÁ, 2016). Apesar do impacto econômico no sistema de Previdência Social, na saúde do Brasil e nas empresas, bem como os danos causados na saúde e bem-estar do trabalhador, em razão das doenças e acidentes ocupacionais, cabe salientar que tais acidentes profissionais são potencialmente evitáveis. Assim, justifica-se pelos acidentes de trabalho serem um problema de saúde pública, sendo necessária a realização de estudos relacionadas à temática como subsídio para pesquisas nas áreas previdenciárias e de saúde, alertar empregadores, gestores e trabalhadores quanto às formas de prevenção, a fim de contribuir com a 13 melhoria dos processos voltados à saúde do trabalhador e redução das estatísticas alarmantes (DORMAN, 2000). Fonte: saberalei.jusbrasil.com.br Entretanto, a situação pode ser ainda um pouco mais grave, considerando que os acidentes ocorridos com os trabalhadores pertencentes ao setor informal da economia, ou seja, sem carteira assinada, não são registrados. As dificuldades para gerenciar os riscos de acidentes na indústria da construção são grandes, pois é um tipo de indústria que lida com mão-de obra de alta rotatividade, baixo nível de qualificação e que percebe baixos salários, quando comparados aos dos trabalhadores da indústria química, por exemplo (SA, GOMIDE, SA, 2016). Os altos índices de acidentes na indústria da construção não são uma exclusividade brasileira. Segundo a OIT, esses segmentos, juntamente com a agricultura e a mineração, são considerados como os que proporcionam as mais perigosas ocupações para os trabalhadores no mundo. Procurando contribuir para a diminuição das altas taxas de acidentes desses segmentos, a OIT lançou recentemente um programa chamado Safe Work, que tem como um de seus objetivos priorizar ações para melhorar as condições de trabalho nessas áreas (SA, GOMIDE, SA, 2016). 14 Podemos ter a forte impressão de estagnação. Desde alguns anos, os setores de segurança e proteção industriais não parecem mais progredir: tudo se passa como se houvéssemos chegado a uma assíntota” (OHSAS, 2007. Apud OLIVEIRA, OLIVEIRA, ALMEIDA, 2010). Em relação aos acidentes na indústria da construção e montagem de dutos terrestres, não existe série histórica para esse segmento no Brasil. Os únicos dados disponíveis abrangem todos os tipos de montagem industrial, revelando a necessidade de sistematização e aprofundamento de estudos nessa área. Analisando os dados dos Gráficos 2 e 3 podemos concluir que a indústria da construção de dutos terrestres merece ser estudada devido aos riscos de acidentes inerentes a esta atividade (OLIVEIRA, OLIVEIRA, ALMEIDA, 2010). A Lei 3724 de 15/01/19 se firmou como a primeira lei sobre indenização por acidentes de trabalho, sendo regulamentada pelo Decreto número 13.498, de 12/03/19. Esta lei limitava-se ao setor ferroviário e reconhecia somente os elementos que caracterizavam diretamente o acidente de trabalho. Em 1932, foram criadas as Inspetorias do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, transformadas no ano de 1940, em Delegacias Regionais do Trabalho. O Decreto número 24.367, de 10/07/1934, que substituiu a lei 3724 de 1919, instituiu depósito obrigatório para garantia da indenização, simplificou o processo e aumentou o valor da indenização em caso de morte do acidentado, entendendo a doença profissional também como acidente de trabalho indenizável, em complementação à legislação anterior (OLIVEIRA, 2012. Apud NETA, FREITAS, SILVA, 2018). Fonte: mouraesantana.com 15 3.1 Legislação de Acidentes do Trabalho Aplicável a Industria da Construção A prevenção de acidentes do trabalho no Brasil é amparada pela legislação que se desdobra sobre a matéria nos seguintes diplomas legais: Lei Federal 6.514, de 22/12/1977, que altera o Capítulo V do Título II da Consolidação das Leis do Trabalho 15 (CLT); e Portaria do Ministério do Trabalho 3.214/78, que aprova as Normas Regulamentadoras (NRs), que hoje totalizam 29. A NR-1 assegura ao trabalhador o direito à informação sobre os riscos: “c) informar aos trabalhadores: I – os riscos profissionais que possam originar-se nos locais de trabalho; II – os meios para prevenir e limitar tais riscos e as medidas adotadas pela empresa; III – os resultados dos exames médicose de exames complementares de diagnóstico aos quais os próprios trabalhadores forem submetidos; IV – os resultados das avaliações ambientais realizadas nos locais de trabalho”. A NR-5 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) – determina que os trabalhadores devem participar do reconhecimento dos riscos de suas atividades, através da elaboração do Mapa de Riscos Ambientais. Entretanto, aqui falamos da participação passiva, ou seja, sem direito a qualquer intervenção no processo de gestão. Dentre as Normas Regulamentadoras, destacamos a NR-18 – Condições de Trabalho na Indústria da Construção, que foi elaborada seguindo modelo japonês e data de 4 de julho de 1995. Esta NR é específica para a indústria da construção e contém, entre outros elementos, as diretrizes do Programa de Controle do Meio Ambiente do Trabalho (PCMAT), que é um guia para orientar o gerenciamento de riscos na obra. Além do PCMAT, a NR-18 cita outras NRs quando aplicáveis, tais como a NR- 7 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), que prevê a elaboração de um programa de identificação e controle de riscos ambientais NR-7 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), que prevê a elaboração de um programa de identificação e controle de riscos ambientais, e a NR-9 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), que trata dos exames de acompanhamento de saúde dos trabalhadores, inclusive do Atestado de Saúde Ocupacional (ASO), que deve ser fornecido pelo empregador anualmente aos trabalhadores. A 16 regulamentação sobre saúde e segurança no trabalho no Brasil é bastante abrangente e detalhada. Entretanto, muitas vezes não é cumprida, sobretudo em segmentos onde os trabalhadores são menos organizados. 3.2 Práticas Gerenciais Para a Prevenção de Acidentes do Trabalho Fonte: okup.com.br A prevenção de acidentes do trabalho deve ser norteada pelo atendimento à legislação; entretanto, cabe às indústrias garantir, através de procedimentos adequados, a proteção dos indivíduos em relação às especificidades não tratadas na legislação (SA, GOMIDE, SA, 2016). A ocorrência dos referidos infortúnios pode estar relacionada a alguns fatores como ausência de gestão de risco por parte das empresas e trabalhadores, não fornecimento ou não utilização dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI), necessidade de educação permanente para sensibilizar empregadores e empregados quanto às formas de prevenção de acidentes de trabalho, implantação de ferramentas de gestão de monitoração, controle e prevenção de acidentes (SA, GOMIDE, SA, 2016). A partir da abordagem da Segurança Comportamental de Bley (2004), os treinamentos, cursos, palestras, procedimentos e políticas são importantes estratégias para a promoção da mudança de comportamentos de risco para comportamentos seguros, desde que se tenha clareza de quais são os 17 comportamentos de risco existentes, quais os comportamentos seguros que se deseja estimular na prática dos trabalhadores, o que faz com que as pessoas ajam desta forma e o que é preciso fazer para tornar a mudança desejável pelas pessoas. Sem essas considerações, as mudanças comportamentais são impossíveis. Sob as considerações de Bley (2004), os diálogos de segurança, as abordagens de conscientização, as palestras, os treinamentos, os cartazes e as campanhas de prevenção são muito apresentados como ações educativas aos trabalhadores, mas nem sempre surtem o efeito desejado. Em algumas circunstâncias, esses mecanismos parecem ter sido concebidos para dar ordens ao invés de educar os trabalhadores, público alvo dessas técnicas. As mensagens comumente encontradas em áreas de produção das empresas como use o cinto, previna-se, uso obrigatório do cinto de segurança, ou mesmo, imagens de olhos perfurados por pregos, pessoas queimadas, carros destruídos acompanhados por sangue no asfalto, são algumas das estratégias utilizadas em tentativas de modificar a postura do trabalhador no que diz respeito à própria segurança. Entretanto, a frequência das ocorrências de acidentes de trabalho indica o insignificante e negativo resultado desse tipo de atuação (AMALBERTI, 1996). Entretanto, em alguns casos, por desconhecerem o processo de trabalho da empresa contratante dos serviços, elaboram programas não apropriados, que são apresentados como um conjunto de papéis sem muita utilidade para o dia-a-dia do trabalho. Muitas vezes, os trabalhadores nem sequer tomam conhecimento de que tais programas existem (SOARES, CURI, 2015). Em geral, não há participação deles na elaboração e condução desses programas, e o mesmo se aplica ao PPRA e ao PCMSO. Em relação aos acidentes do trabalho, observa-se que são tratados a partir de causas imediatas, descontextualizados, portanto, de suas origens organizacionais e gerenciais. A prevenção de acidentes do trabalho no Brasil é amparada pela legislação que se desdobra sobre a matéria nos seguintes diplomas legais: Lei Federal 6.514, de 22/12/1977, que altera o Capítulo V do Título II da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT); e Portaria do Ministério do Trabalho 3.214/78, que aprova as Normas Regulamentadoras (NRs), que hoje totalizam (NETA, FREITAS, SILVA, 2018). A NR-1 assegura ao trabalhador o direito à informação sobre os riscos: “informar aos trabalhadores: I – os riscos profissionais que possam originar-se nos 18 locais de trabalho; II – os meios para prevenir e limitar tais riscos e as medidas adotadas pela empresa; III – os resultados dos exames médicos e de exames complementares de diagnóstico aos quais os próprios trabalhadores forem submetidos; IV – os resultados das avaliações ambientais realizadas nos locais de trabalho”. A NR-5 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) – determina que os trabalhadores devem participar do reconhecimento dos riscos de suas atividades, através da elaboração do Mapa de Riscos Ambientais. Entretanto, aqui falamos da participação passiva, ou seja, sem direito a qualquer intervenção no processo de gestão. Dentre as Normas Regulamentadoras, destacamos a NR-18 – Condições de Trabalho na Indústria da Construção, que foi elaborada seguindo modelo japonês e data de 4 de julho de 1995. Esta NR é específica para a indústria da construção e contém, entre outros elementos, as diretrizes do Programa de Controle do Meio Ambiente do Trabalho (PCMAT), que é um guia para orientar o gerenciamento de riscos na obra. A regulamentação sobre saúde e segurança no trabalho no Brasil é bastante abrangente e detalhada. Entretanto, muitas vezes não é cumprida, sobretudo em segmentos onde os trabalhadores são menos organizados. Tomemos como exemplo o Mapa de Riscos Ambientais previsto na Nr-5, observa-se que algumas empresas o elaboram apenas para cumprir a legislação, e os trabalhadores pouco discutem sobre os riscos de suas atividades. Existem empresas de consultoria especializadas em elaborar PCMAT. O que pode ser atrativo para uma empresa que não tenha especialistas em SST (NETA, FREITAS, SILVA, 2018). Assim, podemos encontrar, dentro de uma mesma organização, tratamento diferenciado para acidentes que ocorrem com empregados próprios, que podem ser investigados até suas causas básicas, e outros, com terceirizados, em que nem a causa imediata é conhecida, por exemplo. Tal fato limita a atuação preventiva das organizações, pois, se a falha não é investigada até sua origem, não existe a possibilidade de evitar que outra falha similar ocorra. 19 Observa-se que as práticas gerenciais para a prevenção de acidentes caracterizam-se mais pela preocupação em cumprir a regulamentação do que tratar as falhas em suas origens (OLIVEIRA, OLIVEIRA, ALMEIDA 2010). Fonte: umafuturats.com 4 GARANTIA DE SEGURANÇAOPERACIONAL Os acidentes industriais são tratados de forma diferenciada, segundo os tipos de danos a eles associados. Segundo, Dwyer (1991) aponta que os acidentes despertam o interesse da sociedade quando envolvem grandes contingentes da população civil, assim como Chernobyl, Flixborough, entre outros. No caso da indústria do petróleo, observa-se que os acidentes oriundos da produção, processamento e transporte de petróleo e derivados preocupam mais devido aos impactos sociais e ambientais associados. Ao trabalhar com prevenção de acidentes, os tipos de comportamentos normalmente citados pelos profissionais da segurança são aqueles ditos seguros e os inseguros. O adjetivo “seguro” é utilizado por tais profissionais para se referir àquilo que o trabalhador faz e que contribui para a não ocorrência de acidentes como, por exemplo, o cumprimento de normas de segurança. Os comportamentos ditos inseguros são aqueles que contribuem para que os acidentes aconteçam (DWYER, 20 1991). A desconsideração em relação aos procedimentos de segurança é um exemplo de ato inseguro. Em sua pesquisa, Bley (2004) comparou respostas de instrutores de treinamento de segurança de duas metalúrgicas e de funcionários participantes dessas atividades. A autora conclui que há divergências entre o que os dois grupos (instrutores e funcionários) entendem por comportamento seguro. O que os instrutores e funcionários consideram como significado de comportamentos seguros é divergente entre si e também está distante do conceito. Os dados encontrados confirmam também a grande variedade de generalidade dos termos utilizados tanto por instrutores quanto por funcionários para definir o conceito (BLEY, 2004). Isso é uma questão bastante crítica porque confirma que há pouca clareza sobre o que caracteriza o comportamento seguro podendo causar prejuízo ao processo de capacitação desses funcionários para prevenir acidentes de trabalho. Nos casos estudados por Bley (2004), considerando a análise do comportamento e os princípios do processo ensino-aprendizagem, é muito difícil os funcionários que participaram dos treinamentos adotarem comportamentos seguros, pois não estão sendo instruídos adequadamente para essa prática. Realizar intervenções em segurança comportamental requer um planejamento cuidadoso e detalhado por parte dos gestores, profissionais da segurança do trabalho e demais interessados. Esse processo demanda um prazo para aplicação de procedimentos que pode variar de algumas semanas até meses, dependendo do tamanho e da complexidade da intervenção (BARBOSA, 2016). Segundo os autores dessa abordagem, por se basear em um modelo científico, as intervenções em segurança podem proporcionar resultados significativos e duradouros, desde que certas condições sejam estabelecidas (OLIVEIRA, OLIVEIRA, ALMEIDA 2010). Aqui está incluso o comprometimento das partes envolvidas, inclusive dos operadores que, normalmente são as partes diretamente afetadas pelas ações e devem ser agentes (atores) nesse processo. De uma forma mais sintetizada, o modelo de segurança comportamental na prática, se baseia, entre outras técnicas, no uso de observação por pares, estabelecimento de metas. Há ênfase no cuidado mútuo da segurança, de tal forma 21 que se cria uma cultura de segurança na qual ocorre o cuidar-se ativamente, ou seja, eu estou atento à segurança dos demais como os demais estão atentos a minha (NETA, FREITAS, SILVA, 2018). O Mapa de Riscos Ambientais previsto na Nr-5, observa-se que algumas empresas o elaboram apenas para cumprir a legislação, e os trabalhadores pouco discutem sobre os riscos de suas atividades. Existem empresas de consultoria especializadas em elaborar PCMAT. O que pode ser atrativo para uma empresa que não tenha especialistas em SST (OLIVEIRA, OLIVEIRA, ALMEIDA 2010). Entretanto, em alguns casos, por desconhecerem o processo de trabalho da empresa contratante dos serviços, elaboram programas não apropriados, que são apresentados como um conjunto de papéis sem muita utilidade para o dia-a-dia do trabalho. Muitas vezes, os trabalhadores nem sequer tomam conhecimento de que tais programas existem. Em geral, não há participação deles na elaboração e condução desses programas, e o mesmo se aplica ao PPRA e ao PCMSO (BARBOSA, 2016). Fonte: consultoriaiso.org O vazamento de óleo na Baía de Guanabara, ocorrido recentemente, é um exemplo de acidente que recebeu grande atenção pública, embora não tenha resultado em nenhum óbito. Por outro lado, a repercussão dos acidentes no ramo da construção das instalações industriais tende a ser menor, pois atingem um número pequeno de 22 pessoas de cada vez, normalmente trabalhadores, contribuindo para que esse segmento fique à margem de estudos aprofundados (ORTIZ, 2014). As transformações na tecnologia de produção, transporte e armazenamento de produtos químicos observadas a partir da II Guerra Mundial criaram riscos de natureza e dimensão jamais vistas pelo homem. Esse processo intensificou-se a partir da década de 1970, quando uma série de mudanças sociais permitiu maior visibilidade dos acidentes e vítimas, ampliando as dimensões do problema para o coletivo, possibilitando a emergência de novos atores no cenário dos processos decisórios sobre riscos (FREITAS, 1996. Apud BARBOSA, 2016). Como exemplos, citamos a explosão em Flixbhrough, Inglaterra, em 1974, que causou 28 mortos, ou a nuvem gasosa tóxica que se espalhou em Bophal, Índia, em 1984, provocando 2.500 óbitos. Fonte: prometalepis.com.br Eventos como esses transformaram de modo marcante o estudo e o entendimento acerca dos acidentes industriais. Esses acidentes, chamados acidentes ampliados, são definidos por Freitas (1996) como “os eventos agudos, tais como explosões, incêndios e emissões, individualmente ou combinados, envolvendo uma ou mais substâncias perigosas, com potencial de causar simultaneamente múltiplos danos ao meio ambiente e à saúde dos seres humanos expostos”. A engenharia de segurança, frente à complexidade dos problemas advindos do progresso tecnológico, reestruturou-se segundo o conceito de engenharia sistêmica, que “compreende as concepções de gerenciamento de segurança que almejam a redução dos riscos de acidentes ou falhas a um mínimo possível, a ser 23 atingido por intermédio do detalhado estudo, planejamento e projeto dos sistemas de produção, reforçando a confiabilidade dos mesmos” (DWYER, 1991). Destacamos dois momentos na evolução das estratégias de controle de riscos de acidentes ampliados que, de certa forma, tiveram alguma repercussão na prevenção de acidentes do trabalho, o gerenciamento de riscos e as legislações internacionais sobre acidentes industriais (BLEY, 2004). Ensinar comportamentos seguros pode envolver a mudança das variáveis que compõem o comportamento, ou seja, estabelecer novas relações entre um organismo, o meio em que ele atua e as consequências da sua atuação. Em situações de trabalho, essas questões se aplicam a partir de modificações nos equipamentos, na organização do trabalho, nas informações que são disponibilizadas aos trabalhadores, nas normas, em fatores interpessoais e socioculturais e ainda nas estratégias educativas utilizadas pela organização (BARBOSA, 2016). Nas considerações de Bley (2004) um dos grandes dilemas da educação para a prevenção consiste em encontrar um equilíbrio saudável entre obedecer às regras e agir com autonomia. Ensinar alguém a trabalhar com consciência de segurança é levá-lo a conhecer criticamente sua realidade, a fazer escolhas com relação a elas, considerando as consequências para si e para aqueles que o cercam. Dessa forma, o processo de conscientização e educação com focona prevenção não pode ficar restrito ao nível da obediência. Ela enfatiza a importância de os instrutores dos treinamentos voltados para a segurança no trabalho estarem bem preparados, não apenas do ponto de vista técnico, mas também que haja uma formação didático pedagógica adequada à realização do processo de ensinar (DWYER, 1991). Ela complementa com a questão de o processo de ensinar e aprender vai muito além das salas de aula e treinamento. É um processo contínuo e do dia a dia. Preocupar-se também com a capacitação desses profissionais é fundamental para o bom desempenho no processo de prevenção, pois eles participam da gestão organizacional. Educação é um processo importante que merece investimento constante por parte das empresas para que haja eficácia nos resultados por ela almejados (BARBOSA, 2016). 24 5 GERENCIAMENTOS DE RISCOS Fonte: consultoriaiso.org Os conceitos confiabilidade de sistemas e de risco, originários das normas militares americanas, nos anos 70, passaram a ser aplicados na indústria nuclear e, posteriormente, nas de processo químico, como ferramentas para a prevenção de acidentes ampliados (FERREIRA, 1986). Risco, do original em inglês risk, pode ser definido como “a combinação da probabilidade e consequência da ocorrência de um evento perigoso e da severidade da lesão ou danos à saúde das pessoas causada por esse evento” (ILO, 2001). Perigo, do original em inglês hazard, significa- “o potencial inerente para causar lesão ou danos à saúde das pessoas” (ILO, 2001). Coloquialmente, é difícil fazermos distinção entre perigo e risco, até mesmo porque, segundo Ferreira (1986), as duas palavras são quase sinônimas. Para evidenciar o sentido prático dessas definições, o perigo é substantivo, tal como queda de andaimes, vazamento de benzeno, nível de ruído acima dos padrões etc. Enquanto o risco é uma classificação do perigo enquanto grandeza, que pode ser quantitativa ou qualitativa. A avaliação de riscos, do original em inglês risk assessment, é o processo de avaliação de riscos à segurança e à saúde, oriundos dos perigos do trabalho (ILO, 2001). A classificação de perigos, ou seja, a determinação da intensidade do risco, é uma ferramenta que pode ajudar na prevenção de acidentes, pois, enquanto a identificação de 19 perigos apenas os enumera, a classificação de riscos fornece um 25 range de probabilidades relacionadas aos perigos identificados. No caso de obras de construção e montagem industrial, não se faz necessário o emprego de técnicas sofisticadas para a análise de riscos (ILO, 2001). Chamamos de gerenciamento de riscos a “implementação das estratégias de controle e prevenção, que são definidas a partir da avaliação da tecnologia de controle disponível, da análise de custos e dos benefícios, da aceitabilidade dos riscos e dos fatores sociais e políticos envolvidos” (CANTER, 1989. Apud FREITAS, 1996). A avaliação de riscos permite a comparação de fatos e dados, mas ela em si não decide. O gerenciamento de riscos, por outro lado, contempla imensa gama de ações: mudanças no processo de produção ou implementação de equipamentos de segurança; formas e valores de compensações para vítimas e o meio ambiente afetado; legislações e intervenções governamentais, entre outras (COVELLO, 1992. Apud FREITAS, 1996). Essas ações podem envolver tanto a esfera técnica pura e simples ou abranger aspectos sociais e políticos relevantes, trazendo à tona a necessidade do olhar interdisciplinar para os riscos de acidentes. Tal situação tem conduzido a um distanciamento entre a etapa de avaliação de risco e o gerenciamento de risco, pois dentro do paradigma dominante os riscos são um problema exclusivamente tecnológico (BARNES, 1994. Apud FREITAS, 1996). Essa gestão é mais complexa do que se imagina, pois envolve o que Amalberti (1996) denomina de compromisso cognitivo, cujo significado foi citado anteriormente, mas que vale a pena retomar, dada a sua importância para a discussão em questão. Esse mecanismo é, segundo o autor, algo que envolve mecanismos cognitivos que asseguram ao trabalhador um compromisso eficaz composto por três objetivos: a segurança própria e a do sistema, o bom desempenho (que é imposto, mas muitas vezes, é também desejado) e a minimização de suas consequências fisiológicas e mentais (fadiga, estresse, esgotamento físico e/ou mental). Na administração do compromisso cognitivo, são envolvidas as exigências da situação e a visão reflexiva das capacidades do trabalhador. Essa capacidade humana de tomar consciência daquilo que já sabe é designada pela psicologia de metacognição. Aqui são consideradas as competências do trabalhador e a questão de que, a todo momento, acontece no mundo uma espécie de risco que é preciso gerir (BARNES, 1994). O risco em questão não é apenas referente a acidente de trabalho, mas ao risco cognitivo da escolha de um mau compromisso e, depois expor-se a fadigas 26 excessivas durante a jornada de trabalho, desempenho insuficiente ou até mesmo ao risco de perder o controle da situação e, de repente, perder o emprego devido a atuação incoerente com o esperado pela empresa (BARNES, 1994). 6 ANÁLISE PRELIMINAR DE PERIGOS Fonte: guiadacarreira.com.br A Análise Preliminar de Perigos (APP), também conhecida como Análise Preliminar de Riscos (APR), já é suficiente e é apropriada para avaliação de risco ocupacional. Essa técnica consiste em identificar todos os perigos envolvidos na realização de uma atividade. A próxima etapa é o levantamento da probabilidade de ocorrência de possíveis eventos identificados e prováveis consequências (FREITAS, 1996). A avaliação de riscos é uma oportunidade de treinamento dos trabalhadores. As normas de gestão que discutiremos a seguir enfatizam a importância da avaliação de riscos para a prevenção de acidentes. Chamamos de gerenciamento de riscos a “implementação das estratégias de controle e prevenção, que são definidas a partir da avaliação da tecnologia de controle disponível, da análise de custos e dos benefícios, da aceitabilidade dos riscos e dos fatores sociais e políticos envolvidos” (CANTER, 1989. Apud FREITAS, 1996). É comum, nas indústrias, confundir gerenciamento de riscos com avaliação de riscos, não só aqui no Brasil como também em outros países. Na International Pipeline Conference – 2000, organizada pela ASME, sobre dutos, a Enbridge Pipelines, maior empresa de dutos canadense, afirmou que durante as últimas cinco décadas o engineering judgment, que consiste na tomada de decisão 27 a partir de regulamentos, padrões técnicos e anos de experiência dos especialistas, foi o critério utilizado para gerenciamento de riscos de acidentes. Entretanto, hoje reconhecem que essa abordagem não é suficiente para dar conta de condições tão complexas, pois surgiram novas variáveis no cenário, a saber. Mudanças estruturais nas indústrias que tornou os padrões existentes fracos para prever futuros acontecimentos; - decisões que requerem consideração de rede de fatores complexos; - aumento da magnitude das consequências envolvidas nas tomadas de decisão; - minuciosa documentação que os diferentes atores sociais requerem e; - a necessidade de integrar objetividade e consistência (CHORNEY, LHAMSHER, 2000). 7 O QUE PERMITE A AVALIAÇÃO DE RISCOS Fonte: prometalepis.com.br A avaliação de riscos permite a comparação de fatos e dados, mas ela em si não decide. O gerenciamento de riscos, por outro lado, contempla imensa gama de ações: mudanças no processo de produção ou implementação de equipamentos de segurança; formas e valores de compensações para vítimas e o meio ambiente afetado; legislações e intervenções governamentais, entre outras(COVELLO, 1992. Apud Freitas, 1996). Essas ações podem envolver tanto a esfera técnica pura e simples ou abranger aspectos sociais e políticos relevantes, trazendo à tona a necessidade do olhar interdisciplinar para os riscos de acidentes. Tal situação tem conduzido a um distanciamento entre a etapa de avaliação de risco e o gerenciamento de risco, pois 28 dentro do paradigma dominante os riscos são um problema exclusivamente tecnológico (FREITAS, 1996). 8 SISTEMAS DE GESTAO DE SAÚDE, MEIO AMBIENTE E SEGURANÇA (SMS) Fonte: cetic.br “Viver é muito perigoso... Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar. Esses homens! Todos puxavam o mundo para si, para o concertar consertado. Mas cada um só vê e entende as coisas dum seu modo”. Guimarães Rosa Na década de 50, o Japão produzia muito, com pouca qualidade. É nesse cenário que Edward Deming desenvolve o Ciclo do Planejar, Desenvolver, Controlar e Agir (PDCA) para garantir a melhoria contínua do processo produtivo. Deming reimportou a ideia do PDCA para os Estados Unidos nos anos 70, que depois seria difundida pelo mundo industrializado (REASON, 2000). Em nossa dissertação adotaremos a definição de sistema de gestão da British Standard como o “conjunto em qualquer nível de complexidade, de pessoas, recursos, políticas e procedimentos para assegurar: -a realização de tarefas; e que os resultados serão alcançados” (BS-8800). A globalização dos mercados demandou a criação de padrões internacionais para garantir a qualidade de produtos e serviços. Para tal, foram elaboradas as normas voluntárias de sistemas de gestão da qualidade e do meio ambiente através da ISO (International Organization for 29 Standardization), organismo fundado em 1947 com a finalidade de produzir normas de âmbito internacional para facilitar o comércio de bens e serviços entre os países, inicialmente, europeus. Dependendo do ramo de atividade da organização, as funções qualidade e segurança assemelham-se bastante na prática. Reason (2000) utiliza como exemplo a indústria aeroespacial na qual, segurança e qualidade são quase sinônimos. Dejours (1999) também compartilha dessa ideia. Entretanto, conforme veremos a seguir, o processo de elaboração e utilização de normas nestas áreas tem aspectos contextuais diferenciados. As práticas de gestão integrada em segurança, saúde e meio ambiente do trabalho, hoje, estão geralmente relacionadas à imagem de grandes corporações que investem grandes cifras financeiras em projetos ambientais, ostentam certificados internacionais, consolidam uma imagem de empresa ambientalmente correta e, por fim, comunicam seus resultados por meio do relatório e balanço social. Segundo o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio - MDIC (2003), embora as grandes organizações empresariais representem grande parte do PIB, elas, em 2003, representavam apenas 1% do total de empreendimentos do país, com um crescimento em média apenas 2% ao ano e gerando menos de 40% dos postos de trabalho. Atualmente, estas já representam 48,24% dos postos de trabalho (SEBRAE, 2009). Além disso, elas se encontram localizadas nas regiões mais desenvolvidas do país, o que contribui para aumentar a concentração de renda brasileira. Por outro lado, as micro e pequenas empresas – MPEs, em 2002, responderam por 99,2% do número total de empresas formais, 57,2% dos empregos formais, 26 da massa salarial, mais de 20% do PIB e estavam distribuídas por todo o território nacional (SEBRAE, 2005). Atualmente, representam 98,9% do número total de empresas formais, 40% dos empregos formais, permanecendo distribuídas em todo o território nacional (SEBRAE, 2009). Estas diferenças precisam ser levadas em conta quando se planejam estratégias, leis ou ações que pretendam atingir o universo das pequenas organizações. Em se tratando de direitos trabalhistas a questão é ainda mais complexa pois não se pode suprimir direitos de colaboradores de micro e pequenas 30 empresas visto que os mesmos não são diferentes, como pessoas, dos funcionários das grandes corporações (REASON, 2000). O que se deve ter são formas alternativas de aplicação da lei, por exemplo, de maneira que se possa equiparar direitos tratando as diferenças entre grandes e pequenas organizações. É lícito supor, portanto, que se deva dar tratamento desigual aos desiguais. Os riscos ou agentes ambientais constituem um capítulo importante na ocorrência de acidentes do trabalho e doenças ocupacionais. Estão incluídos nas condições ambientais de insegurança e são Norma Regulamentadora N°9, da Portaria 3.214/78 – Ministério do Trabalho e Emprego. São estudados no ambiente relacionado com o trabalho. São eles: agentes físicos, químicos e biológicos. Os riscos de acidentes e ergonômicos não descritos na NR-9, mas sim na NR- 5, Mapa de Riscos, mas são agentes que também contribuem para a ocorrência de acidentes do trabalho e doenças ocupacionais (GRAEL, OLIVEIRA, 2010). Os riscos ambientais são capazes de causar danos à saúde do trabalhador, dependendo da natureza e concentração do agente; da susceptibilidade do trabalhador exposto e do tempo de exposição (GRAEL, OLIVEIRA, 2010). 9 NORMAS DE GESTÃO DE QUALIDADE E DE MEIO AMBIENTE Fonte: hcrisco.com.br 31 A primeira versão da família de Normas ISO da série 9000 sobre Sistemas da Qualidade foi lançada em 1987, revisada em 1994 e em 2000. Sistemas de Gestão da Qualidade – Requisitos, que tem como objetivos “especificar requisitos para um sistema de gestão da qualidade. Quando uma organização necessita demonstrar sua capacidade para fornecer de forma coerente produtos que atendam aos requisitos do cliente e requisitos regulamentares aplicáveis, e pretende aumentar a satisfação do cliente por meio da efetiva aplicação do sistema, incluindo processos para melhoria contínua do sistema e a garantia da conformidade com requisitos do cliente". Similarmente à ISO-9001 foi elaborada, em 1996, a ISO-14001. Um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) provê ordenamento para que as organizações abordem suas preocupações ambientais e desenvolvam, implementem, analisem e mantenham a Política Ambiental estabelecida pela empresa. A série de normas NBR/ISO 14000 contém regras internacionais para administração voltada à diminuição do impacto ambiental. Essas regras são relacionadas à alocação de recursos, definição de responsabilidades, avaliação contínua de práticas, avaliação contínua de procedimentos e avaliação contínua de processos (FRANCA, PICCHI, 2009). O panorama mundial atual, enfocando o meio ambiente, apoia e contribui para a justificativa da adoção de Sistemas de Gestão Ambiental em empresas construtoras. Além disso, alguns possíveis benefícios provenientes da implementação de Sistemas de Gestão Ambiental em empresas construtoras são (DEGANI, CARDOSO, 2001): Melhoria na imagem da empresa construtora; Facilidade na obtenção de licenças e autorizações; Conquista da simpatia de seus clientes, usuários e parceiros de negócio; Melhoria na gestão de atuais e futuros riscos ambientais; Estabelecimento de rotina para análise das áreas do negócio que possam afetar o meio ambiente; Estímulo ao desenvolvimento e compartilhamento de soluções ambientais; Economia de custos obtida com a redução do desperdício; Economia de custos com o consumo de água e energia e 32 Potencial de redução nas despesas com seguros. Uma organização com um SGA eficiente tem uma estrutura capaz de equilibrar e integra interesses econômicos e ambientais e pode alcançar vantagens competitivas significativas. Ela pode, por exemplo, ter como objetivos e metas ambientais resultados específicos e aplicar os recursosonde se tenha maior retorno ambiental e financeiro. É recomendado que os benefícios econômicos sejam identificados e demonstrados às partes interessadas, sobretudo aos acionistas (DORNELAS, SOUZA, DIAS, 2007). O campo da saúde do trabalhador é de práticas e conhecimentos cujo enfoque teórico-metodológico, no Brasil, emerge da saúde coletiva, buscando conhecer e intervir nas relações trabalho e saúde-doença, tendo como referência central o surgimento de um novo ator social, a classe operária industrial, numa sociedade que vive profundas mudanças políticas, econômicas e sociais (FERREIRA, GRAMS, ERTHAL, GIRIANELLI, OLIVEIRA, 2018). 10 ACIDENTES ORGANIZACIONAIS Fonte: belgobekaert.com.br Vários autores têm apontado para o fato de que os acidentes do trabalho e os ampliados têm a mesma origem, ou seja, em fatores organizacionais. Reason (2000) define os acidentes organizacionais como “eventos que ocorrem com tecnologias modernas, complexas, tais como plantas de energia nuclear, plantas de processo 33 químico, transporte marinho e ferroviário, bancos e estádios”. O autor introduz o conceito de falhas ativas e condições latentes. As primeiras são aquelas ações e decisões de pessoas mais próximas ao final da cadeia do sistema – por exemplo, operadores de campo e de sala de controle e pessoal de manutenção. As condições latentes estão associadas aos processos organizacionais genéricos, tais como decisões estratégicas, projeto, manutenção, treinamento, orçamento, alocação de recursos, planejamento, comunicação, gerenciamento, auditorias (REASON, 2000). Esse processo é delineado pela cultura corporativa ou por atitudes não ditas e regras não escritas, contextualizadas pela forma como a organização conduz o negócio. Segundo Reason (2000), os acidentes são o resultado de falhas ativas conformadas pela existência dessas condições latentes, e em geral as organizações tendem a tratar apenas das falhas ativas, o que pode representar apenas uma solução pontual, considerando-se que a falha ativa é um evento único. Por outro lado, ao tratar das condições latentes, ampliamos o raio de ação, pois em geral elas podem contribuir para várias falhas ativas. Para Dwyer (2000), é no local de trabalho que os acidentes tanto de consequências limitadas quanto ampliadas são produzidos – e é nesse ambiente, em última análise, que as responsabilidades para sua produção têm de ser atribuídas e as técnicas de prevenção precisam ser elaboradas e aplicadas. Já Perrow (1984) trabalhou o conceito de acidentes sistêmicos, que são definidos como aqueles relacionados às propriedades dos sistemas tecnológicos complexos. Outra ideia que esse autor introduziu é a de acidente normal, segundo a qual os acidentes tornam-se normais porque, devido às características dos sistemas tecnológicos, a possibilidade de ocorrências de interações inesperadas e incompreensíveis de múltiplas falhas que levem a acidentes está sempre presente. Faz parte da natureza dos sistemas (WYNNE, 1988). Esse conceito também foi tratado por Machado (2000), ao salientar que, no caso brasileiro, principalmente em setores de maior fragilidade econômica e sindical, é frequente a presença de equipamentos e processos obsoletos, em que a fragilidade econômica e a vulnerabilidade institucional permitem a formação de uma cultura técnica do improviso, através de manutenções inadequadas e modos operatórios 34 arriscados, nos quais as anormalidades são, ao longo do tempo, transformadas em normalidades e incorporadas às organizações, constituindo o que Wynne (1988) denomina de anormalidades normais. Para gerenciarmos os fatores organizacionais que contribuem para a produção de acidentes industriais, torna-se indispensável o conhecimento sobre o processo de trabalho. Machado (1996), ressalta que o método empregado em larga escala pelas empresas no Brasil segue a linha da dicotomia entre o ato e condições inseguras, e raros são os casos em que as causas subjacentes de natureza organizacional e gerencial são avaliadas. Com isso, impede-se que a análise de acidentes sirva como possibilidade de as organizações industriais aprenderem com seus próprios erros – o que recentemente vem sendo denominado de learning organization. Nosso estudo desenvolveu-se no campo de Saúde Pública, no Cesteh. A saúde do trabalhador é um campo de estudo multidisciplinar que utiliza várias áreas do conhecimento, tais como toxicologia, engenharia, sociologia, antropologia, ergonomia, entre outras (MACHADO, 1996). Laurell (1989) afirma que é através do estudo das condições reais do trabalho que se torna possível desvendar a origem dos problemas de saúde dos trabalhadores e, mais ainda, que cada coletivo de trabalhadores traz em si um perfil peculiar de desgaste em função do ambiente de trabalho. Llory (1999), ao discutir sobre a estagnação dos meios de prevenção de acidentes, afirma que é preciso direcionar o interesse dos especialistas e responsáveis pela prevenção para a análise do cotidiano, para o comum das situações de trabalho, em que se constroem, ao mesmo tempo, as situações de risco e o controle dos mesmos. É necessária uma aproximação da realidade vivida pelos trabalhadores, uma descrição do trabalho que contextualize as ações e os comportamentos, de forma a evidenciar a distância entre trabalho prescrito e real, os modos de regular essa distância, os compromissos que são estabelecidos, as dificuldades de trabalho, as estratégias coletivas de enfrentamento dos riscos (LLORY, 1999). Assim, torna-se imperativo conhecer o processo de trabalho para, a partir daí, compreender o gerenciamento de riscos no campo real do trabalho. 35 Para definirmos trabalho real, faz-se necessário distinguir tarefa e atividade. Aproveitamos as definições da Escola Francesa de Ergonomia, segundo a qual: Tarefas – São os objetivos designados aos trabalhadores por instâncias exteriores a eles. Em outras palavras, as tarefas são o conjunto de prescrições a que o trabalhador deve atender no desempenho de suas funções. Em alguns casos, a prescrição pode ser 29 extremamente sutil e formalizada (DANIELLOU,1988). Atividade de trabalho – É a mobilização das pessoas para realizar as tarefas. Envolve o funcionamento fisiológico e psicológico de uma pessoa concretamente, em um dado momento. Daniellou (1988) ressalta que a atividade está ligada às dificuldades concretas das situações, à percepção do operador, às estratégias adotadas para responder às exigências do trabalho e, em particular, às contingências. Para Dejours (1999), o trabalho é a atividade coordenada desenvolvida por homens e mulheres para enfrentar aquilo que, em uma tarefa utilitária, não pode ser obtido pela execução estrita da organização prescrita. Portanto, o real é aquilo que em uma tarefa não pode ser obtido pela execução rigorosa do prescrito, e incide rearranjado, imaginado, inventado, acrescentado pelos homens e pelas mulheres para levar em conta o real do trabalho. A prescrição das tarefas é, portanto, imparcial e não considera o contexto social no qual a tarefa deve ser cumprida. Ao prescrever um procedimento, está em jogo a otimização de recursos para o atingimento de determinado objetivo (DANIELLOU,1988). 11 PRESCRIÇÃO Fonte: grupomarconi.com.br 36 A prescrição obedece a padrões rígidos, não há espaço para senões. Para situações em que os procedimentos não dão conta, aparecem as relações sociais como mediadoras do conflito entre a prescrição e sua insuficiência frente às limitações que a realidade impõe. Esse é o real do trabalho. Assim, buscamos elementos que nos permitissem conhecer o processo de trabalho na construção de dutos. Dois autores nos serviram de orientação para isso (DWYER, MACHADO,2000). 12 OS RISCOS Fonte: beirithadvogados.com.br A Produção de Acidentes na Indústria Dwyer (1991), para compreender a produção de acidentes na indústria, construiu uma teoria sobre as relações sociais no ambiente de trabalho, pois, por mais complexo que seja o processo industrial, a operação no dia-a-dia é realizada por pessoas, logo as relações do trabalho são, antes de tudo, sociais. Conceitua-se meio ambiente do trabalho como sendo o local onde o funcionário desenvolve suas atividades relacionadas com o ofício. Com efeito, o meio ambiente de trabalho/condições de trabalho no contexto das relações laborais encontra-se inserido em um mercado econômico altamente agressivo e centrado na busca de altas taxas de produtividade por meio de constantes inovações tecnológicas (DWYER, MACHADO, 2000). 37 A deterioração das condições de trabalho é observada nas suas novas formas de organização, na exibição de suas jornadas (mais extensas e/ou irregulares), na precariedade no emprego, no crescente subemprego, particularmente de mão de obra terceirizada, e na temporalidade dos contratos, levando à inerência dos trabalhadores (DWYER, MACHADO, 2000). A intervenção sobre os ambientes e as condições de trabalho deve basear-se em uma análise criteriosa e global da organização laboral, que inclui a análise do conteúdo das tarefas, dos modos operatórios, dos postos de trabalho, do ritmo e da intensidade do ofício, dos fatores mecânicos, das condições físicas do posto laboral, das normas de produção, dos sistemas de turnos, dos fatores psicossociais e individuais e da relação de trabalho entre colegas (FERREIRA, GRAMS, ERTHAL, GIRIANELLI, OLIVEIRA, 2018). Além disso, contempla as medidas de proteção coletiva e individual implementadas pelas empresas e as estratégias de defesa individuais e coletivas adotadas pelos trabalhadores. Os riscos psicossociais no trabalho representam o conjunto de percepções e experiências do trabalhador, alguns de caráter individual, outros referentes às expectativas econômicas ou de desenvolvimento pessoal e outros ainda a relações humanas e seus aspectos emocionais (RINALDI, 2007). Assim, consistem em interações entre o trabalho e o ambiente laboral, a satisfação no trabalho e as condições da organização e, por outro lado, as características pessoais do trabalhador, suas necessidades, sua cultura, suas experiências e sua percepção de mundo. É, segundo essa abordagem, que, entre os componentes das condições de trabalho, se tenta identificar os elementos suscetíveis a provocar danos à saúde dos trabalhadores (LLORY, 1999). O tratamento dos fatores de risco que envolvem a saúde do trabalhador está diante de uma complexificação que necessariamente implica em ultrapassar a análise de métodos uni causais dos riscos. É nesse mesmo sentido que Geller igualmente sustenta a complexidade dos fatores de risco determinantes dos acidentes de trabalho, pois justifica que eles “nunca têm origem em apenas uma causa, mas em diversas, as quais vão se acumulando, até que uma última precede o ato imediato que ativa situação do acidente” (FERREIRA, GRAMS, ERTHAL, GIRIANELLI, OLIVEIRA, 2018). 38 Um dos mecanismos mais relevantes para o desenvolvimento da percepção de risco do trabalhador é a comunicação de risco - etapa do processo de gerenciamento de risco, a qual contribui para gerar e receber as informações necessárias para que as partes interessadas não somente compreendam as iniciativas, processos de decisão tomados pelas organizações para gerenciar seus riscos, sejam eles ocupacionais ou ambientais, mas também, para promover e desenvolver a percepção que essas partes interessadas têm a respeito dos perigos e riscos existentes decorrentes da natureza da atividade desenvolvida. (RINALDI, 2007. Apud SILVA, FRANCA, 2011). De acordo com Meneguetti (2010) em função do programa de comunicação de risco denominado Auditoria Comportamental buscar a sensibilização e aprendizagem do trabalhador, existe a tendência de mudança na cultura de segurança deste trabalhador, seja pela melhoria da Percepção de Riscos, da motivação ou até mesmo pela troca de experiência entre o auditor e o auditado. 13 FATOR HUMANO Fonte: dgrande.com.br “Após o acontecimento, não é difícil encontrar bodes expiatórios. Esses bodes expiatórios alfinetados pela grande imprensa após a catástrofe são os do final da linha, os executantes” (MENDEL, 1999). “Os meios de pesquisa e realização da prevenção continuam no momento ainda muito abaixo das necessidades, sobretudo agora que se sabe ser certo que a condenação ritual do subalterno só condena os juízes incompetentes” (WISNER, 1997). Apesar de diversos autores compartilharem dessas 39 ideias, Llory (1999) dentro de uma perspectiva crítica à classificação das causas dos acidentes, aponta que 80% dos acidentes investigados têm sua origem em falhas humanas ou erro do operador. As pesquisas sobre as causas dos acidentes industriais desenvolveram-se em dois ramos: um focado exclusivamente no indivíduo e outro que leva em consideração a forma do desenvolvimento das tarefas. O primeiro foi o mais bem estudado e, até hoje, é o predominante. É a escola relacionada às pesquisas sobre o comportamento humano (human behavior). Seguindo esse enfoque, o problema dos acidentes foi esmiuçado através da subdivisão de diversas características dos indivíduos, até mesmo emocionais, denominadas variáveis, que poderiam conduzir ao acidente, tais como gênero, idade, experiência, características físicas, percepção, fadiga, drogas, inteligência, personalidade, atitude e motivação, satisfação no emprego, integração no grupo de trabalho, entre outras (MENDEL, 1999). Em contrapartida, os estudos que consideram a forma do desenvolvimento das tarefas ou a organização do trabalho e sua relação com os acidentes são mais recentes (HALE, HALE, 1972). Os estudos clássicos sobre os acidentes de trabalho foram calcados na possibilidade de controle do comportamento das pessoas. Como decorrência, os modelos de gerenciamento de riscos baseiam-se em prescrições, levando em conta, sobretudo, os aspectos técnicos relacionados ao risco de acidentes. Considerando que as pesquisas sobre acidentes se aprofundaram na direção do human behavior, não causa estranheza que, no momento da investigação dos acidentes, os especialistas estejam mais bem preparados para classificar os acidentes como decorrentes de falhas humanas. Kletz (1993) afirma que os erros humanos não devem ser listados como causa dos acidentes, na medida em que essa atribuição não conduz a ações construtivas. Em contraposição, o autor propõe que os acidentes sejam relacionados a falhas no gerenciamento. Os erros humanos, segundo artigo de 2001 do Parliamentary Office of Science and Technology, 90% dos acidentes no local de trabalho tem como causa o erro humano. 40 Segundo Almeida (2003), a expressão erro humano é substituída por outra expressão equivalente falha humana, sendo utilizada em estudos no campo da Saúde e Segurança no Trabalho. A API 770 considera a falha humana como qualquer ação humana ou a falta da ação, que se exceda às tolerâncias definidas pelo sistema com o qual o ser humano interage. Reason (1994) classifica os erros humanos em dois tipos: os não intencionais e os intencionais. Os erros não intencionais são ações cometidas ou omitidas sem nenhum pensamento prévio, também chamados lapsos, distração ou engano. Os erros intencionais são considerados violações pelo autor, e consiste em ações cometidas ou omitidas deliberadamente porque se acredita, qualquer que seja a razão, que sejam corretas e que elas serão melhores do que as ações prescritas (ALMEIDA, 2003). Os erros humanos que estão relacionados aos operadores (executantes)segundo o autor, trazem consequências imediatas sendo caracterizados como erros ativos. Os erros surgidos de falhas de projeto, de planejamento, e de gerenciamento, ou seja, erros indiretos são considerados como latentes (ALMEIDA, 2003). As situações de trabalho que provavelmente conduzirão ao erro humano, segundo a API 770 são as seguintes: manutenção mal feita, procedimentos deficientes, instrumentação inadequada, inoperante ou enganosa, conhecimento insuficiente, prioridades conflitantes, sinalização inadequada, controles sensíveis em excesso, ferramentas inadequadas, tarefas mentais excessivas, layout deficiente, feedback inadequado, discrepâncias entre política e prática, equipamentos entre política e prática, equipamentos desativados, comunicação deficiente, violações de estereótipos populacionais, vigilância estendida, sem eventos, falha no controle por computador, restrições físicas inadequadas, aparência às custas da funcionalidade (DIAS, ALVES, 2015). 41 14 COOPERAÇÃO ENTRE INDIVIDUOS Fonte: realizartepalestras.com.br “A cooperação supõe um lugar para onde, ao mesmo tempo, convergem as contribuições singulares e onde cristalizam-se as relações de dependência entre os sujeitos”. Dejours (1999) as pessoas sentem-se à vontade para fornecer informações quando há um clima de confiança e cooperação que a organização deve incentivar para obter melhores resultados (REASON, 2000). Desde o início de nossa pesquisa havia uma questão de ordem prática em relação ao encaminhamento do problema do gerenciamento de riscos. Conforme visto no capítulo anterior, existem duas orientações clássicas principais dentro das organizações em relação às pessoas no ambiente do trabalho: uma originada a partir da engenharia de segurança clássica e outra da teoria das organizações (REASON, 2000). Dejours (1999) estudou o fator humano segundo essas duas orientações, ou seja, segundo a engenharia de segurança, que tem por meta o controle de falhas humanas, e conforme a teoria das organizações, que objetiva o gerenciamento dos recursos humanos. Colocava-se uma questão: se esses dois encaminhamentos seriam passíveis de conjunção. Para o autor, a dissociação de qualidade, segurança e promoção da saúde provoca fraturas em um conjunto profundamente integrado de componentes referentes aos seres humano em situação de trabalho. 42 Tal integração precisa ser mantida tanto no plano conceitual quanto no do planejamento e da prática cotidiana. 15 ACIDENTES COM PRODUTOS QUÍMICOS Fonte: rescuecursos.com O acidente químico é um capítulo dentro do risco químico e da indústria química, seja pela sua especialidade, seja pela importância crescente que vem adquirindo na discussão pública internacional (CHINAQUI, 2012). Uma das características deste tipo de acidente é sua relativa baixa probabilidade de ocorrência, porém quando desencadeado, este tipo de acidente pode provocar enormes tragédias humanas e ambientais, como as catástrofes de Seveso, Vila Socó e Bhopal, entre outras (KATO, GARCIA, WÜNSCH, 2007). Existem três grandes grupos de eventos que tenham por fonte principal substâncias químicas: emissão acidental; explosão e incêndio. Muitos acidentes podem envolver simultaneamente dois ou mesmo os três tipos de eventos. Das variáveis relacionadas ao acidente químico, duas são de particular importância para nosso trabalho: A localização da fonte: esta variável está relacionada ao momento do fluxo da produção ou consumo onde o acidente se realiza (COSTA, FELLI, 2004). Basicamente envolve a produção, armazenagem, transporte, consumo e despejo de substâncias químicas perigosas. O raio de alcance dos efeitos indesejáveis: dependendo da qualidade e características físico-químicas, toxicológicas e eco toxicológicas das substâncias envolvidas e das características do 43 acidente propriamente dito: tipo de acidente, localização da fonte, aspectos geográficos, geológicos e meteorológicos da região entre outros, o acidente poderá ter o seu raio de alcance mais restrito ou mais ampliado (KATO, GARCIA, WÜNSCH, 2007). 16 ESTATÍSTICAS DOS GRANDES RISCOS Fonte: ipog.edu.br Os grandes acidentes se notabilizaram pela repercussão a nível mundial. Com a ocorrência de vários acidentes catastróficos no mundo (incêndio, explosão e/ou emissão acidental), as empresas e o público em geral tomaram nova consciência dos perigos potenciais decorrentes do contínuo progresso tecnológico que a humanidade vem alcançando (ROMAO, 2002). Um dos segmentos que mais registram acidentes de trabalho no Brasil, a construção civil é o primeiro do país em incapacidade permanente, o segundo em mortes (perde apenas para o transporte terrestre) e o quinto em afastamentos com mais de 15 dias. A Indústria da Construção Civil é uma das que apresenta as piores condições de segurança e um dos maiores índices de acidentes a nível mundial. O Brasil não difere dos índices mundiais, tendo um dos maiores números de acidentes de trabalho ocorrendo na construção civil (ROMAO, 2002). 44 Com o crescimento das atividades ligadas à esta indústria, e com o novo programa desenvolvido pelo governo federal, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), observa-se um acréscimo das atividades e número de trabalhadores ligados a construção, aumentando e muito os números de obras em todo o Brasil, e desta forma, elevação proporcional do risco de acidentes (BUSCHINELLI,1996. Apud COSTA, 2009). As estatísticas comprovam a colocação do Brasil como um dos primeiros no ranking de incidência de doenças ocupacionais e acidentes de trabalho, posição que poderia ser ainda pior se todos os acidentes ocorridos fossem notificados. Os valores obtidos pelos indicadores, tais como: Índices de Frequência e Índices de Gravidade, Taxa de Incidência de Acidente de Trabalho, Taxa de Incidência Especifica para Doenças Ocupacionais, Taxa de Incidência Especifica para Acidentes de Trabalho Típicos, Taxa de Incidência Especifica para Incapacidade Temporária, Taxa de Mortalidade, Taxa de letalidade dentre outras, não esgotam as análises que podem ser feitas a partir dos dados de ocorrências (COSTA, 2009). Porém, são indispensáveis para determinação de programas de prevenção de acidentes e a consequente melhoria das condições de trabalho no Brasil, uma vez que esse estudo pode indicar em que tipo de acidente os resultados são mais alarmantes e redobrar a atenção neste setor e apontar a real situação do Brasil em referência aos acidentes de trabalho (BUSCHINELLI, 1996). A Previdência Social através do seu anuário estatístico fornece o número dos acidentes de trabalhos registrados no período. Esses dados são fornecidos a partir das atividades econômicas, que são obtidas através da tabela do CNAE - Classificação Nacional de Atividades Econômicas, aplicada através dos códigos padronizados de atividade econômica e dos critérios de enquadramento utilizados pelos diversos órgãos da Administração Tributária do país (COSTA, 2009). Os códigos representam os agentes econômicos que estão engajados na produção de bens e serviços, podendo compreender estabelecimentos de empresas privadas ou públicas, estabelecimentos agrícolas, organismos públicos e privados, instituições sem fins lucrativos e agentes autônomos (pessoa física) (BUSCHINELLI, 1996). 45 17 E AS RELAÇÕES SOCIAIS NO AMBIENTE DE TRABALHO Fonte: mundolinhaviva.com.br Conforme discutido no Capítulo II, Dwyer (1991) classifica as relações sociais e a produção de acidentes do trabalho em três categorias: organização, recompensa e comando. Na primeira hipótese, o trabalhador poderia ter intuído que by-passar