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Material de Apoio 07 - Ação de Restauração de Autos

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Ação de Restauração de Autos 
1) Introdução 
- A Teoria Geral do Processo apresenta-nos uma definição de processo, sendo que uma 
delas é a de que processo é um procedimento animado por uma relação jurídica em 
contraditório; ao mesmo tempo que apresenta a esta conceituação, delimita também que 
autos sejam o conjunto de escritos que exteriorizam os atos processuais, documentando a 
existência do processo. 
- A partir dessas duas conceituações, ainda que genéricas, a ação de procedimento 
especial denominada “Ação de Restauração de Autos”, previstas nos artigos 712 a 718 
do CPC tem como objetivo restaurar os autos – sejam eles físicos ou eletrônicos – que 
por algum motivo tenham desaparecido. 
- As causas de desaparecimento desses autos podem ser variadas, desde fenômenos 
naturais que o deteriorem, como incêndios, alagamentos, traças e cupins, até atos 
humanos, como a perda desmotivada dos autos em arquivos desorganizados, desvio ou 
até destruição dolosa destes. 
- Quando o desaparecimento ocorrer em razão de atos humanos praticados dolosamente, 
estes devem ser punidos e esta punição pode ocorrer em diversas esferas: 
1ª Hipótese: Poderá sofrer consequências processuais, sendo a parte que der causa 
condenada nas penas previstas à litigância de má-fé, sendo que esta sanção processual 
pode ser direcionada às partes e/ou aos seus patronos; 
2ª Hipótese: Poderão ser civilmente responsabilizados pelos danos causados. Essa 
reparação civil pode ser direcionada tanto à parte contrária quanto ao Poder Público, vez 
que também é prejudicado com o desaparecimento dos autos, ainda mais por estes serem 
considerados documentos públicos; 
3ª Hipótese: Ainda responderão penalmente pelo crime de supressão de documentos 
públicos (art. 305 do CP.) 
4ª Hipótese: A depender de quem pratica o ato, poderá ser acionado no âmbito 
administrativo (como ocorre com serventuários da justiça e advogados, por exemplo). 
 
- A partir das hipóteses lançadas, percebemos o quão importante são os autos para fins de 
prosseguimento do procedimento judicial, especialmente porque, não há como o processo 
prosseguir sem que exista autos. 
- Assim, a restauração apresenta-se a partir de um duplo objetivo, sendo o primeiro a 
reconstrução desses escritos que exteriorizam os atos processuais e o segundo motivo, a 
continuação do processo. 
- Por ter impacto significativo na prestação jurisdicional, o desaparecimento dos autos é 
compreendido como causa de força maior apta a provocar a suspensão do processo – art. 
313, VI, do CPC – que somente retomará seu regular andamento ao final do processo de 
restauração de autos. 
ATENÇÃO: Nem todo desaparecimento de autos ensejará a ação de restauração ora 
analisada. Caso exista autos suplementares – reservas – não será necessária a restauração 
de autos, faltando interesse de agir para fins do procedimento especial (art. 712, parágrafo 
único). 
2) Legitimidade 
- Conforme prevê o caput do art. 712, qualquer das partes poderá ingressar com a ação de 
restauração de autos. Além das partes, o Ministério Público tem legitimidade ativa, por 
expressa previsão do dispositivo. Excepcionalmente, terceiro terá legitimidade ativa para 
propor ação, desde que seja um terceiro juridicamente interessado. 
- Mesmo após a entrada em vigor do novo CPC, parcela da doutrina, mesmo com previsão 
legal no caput do art. 712, continua a entender que o juiz não tem legitimidade ativa para 
instaurar o processo de restauração de autos, haja vista a necessidade de respeitar o 
princípio da inércia da jurisdição. 
- Entretanto, Assumpção (2020), Mitidiero (2020) e Donizetti (2017) entendem que, se 
porventura as partes não tomarem as providências para restauração dos autos, ao juiz não 
haverá alternativa senão iniciar de ofício essa restauração. Para os doutrinadores, em 
especial Assumpção (2020), a instauração de ofício está amparada naqueles objetivos que 
trouxemos anteriormente, especialmente no interesse mediato que é dar continuidade ao 
processo. 
- Por fim, caso uma das partes ajuíze a ação, no polo passivo constarão todos os outros 
sujeitos que participam da ação e não estejam no polo ativo da ação de restauração de 
autos. Caso seja iniciado de ofício pelo juiz, todas as partes estarão no “polo passivo”, 
tratando-se, como visto de litisconsórcio passivo necessário. 
3) Competência 
- A ação de restauração de autos deve ser proposta no mesmo juízo em que tramita o 
processo cujos autos desapareceram. Percebemos aqui uma competência absoluta com 
natureza funcional, isto é, se o processo estiver em trâmite, será competente o órgão 
jurisdicional pelo qual tramitava a ação no momento do seu desaparecimento. 
- Apesar de imaginarmos esse desaparecimento ocorrendo apenas na primeira instância, 
caso esse desaparecimento ocorra perante o tribunal, o processo será distribuído – sempre 
que possível – ao relator do processo. 
IMPORTANTE: Estando o processo em grau recursal, a competência não será do juízo 
de primeiro grau, que ficará limitado a cumprir carta de ordem expedida pelo tribunal 
para praticar atos materiais que auxiliem na restauração, tais como repetição de oitiva de 
testemunhas, depoimento pessoal ou prova pericial. 
4) Procedimento 
- Caso o procedimento seja instaurado pelo juiz, ele será realizado por meio de uma 
portaria expedida pelo magistrado; se não for nessa hipótese, o autor da ação de 
restauração de autos deverá apresentar petição inicial preenchendo requisitos dos artigos 
319 e 320 do CPC, além de instruir a petição inicial com os requisitos específicos do art. 
713, ou seja: 
a) Apresentar a petição inicial com cópias das certidões dos atos constantes do protocolo 
de audiência do cartório onde haja corrido o processo; 
b) Cópia das peças que tenha em seu poder; 
c) Qualquer outro documento que facilite a restauração, o que pode significar 
praticamente a juntada de cópias “capa-a-capa” quando o advogado da parte mantém em 
seus arquivos cópias ao menos dos atos processuais principais. 
- A partir do ajuizamento da ação, deferimento o prosseguimento da petição inicial, o juiz 
determinará a citação do réu, que terá prazo de cinco dias para contestar o pedido, cabendo 
a ele apresentar as cópias, contrafés e as reproduções dos atos e documentos que estiverem 
em seu poder (art. 714). 
- Se porventura, além dos documentos a parte contrária quiser contestar, as matérias 
defensivas alegáveis são restritas, limitando-se a questões processuais e vinculadas 
unicamente a restauração de autos, sendo vedado a alegação de matérias que só 
interessam ao processo principal. 
ATENÇÃO: conforme artigo 714, §§ 1º e 2º, se as partes concordarem com a restauração, 
será lavrado auto que, ao ser assinado pelas partes e homologado pelo juiz, suprirá os 
autos desaparecidos. 
- Caso haja concordância parcial ou contestação, o procedimento de restauração de autos 
seguirá o procedimento comum. 
 
- Durante a restauração de autos, pode ser que as testemunhas anteriormente inquiridas, 
necessitem ser ouvidas novamente. O artigo 715, § 1º prevê a hipótese de que elas sejam 
reinquiridas as mesmas testemunhas, entretanto, permite sua substituição quando houver 
impedimento na repetição da oitiva. 
- A doutrina majoritária entende que pode ser dispensado a reinquirição da testemunha 
sempre que existir cópia da ata de audiência de instrução juntada aos autos do processo 
de restauração de autos. 
- Já o § 2º do artigo 715 traz informações acerca da realização de nova perícia, dando 
preferência para que essa seja realizada pelo mesmo perito, entretanto, essa nova 
realização depende da inexistência de certidão ou cópia do laudo pericial. Sobre o tema, 
o STJ entende que caso exista sentença em ação de exigir contas que reproduziu a 
essencialidade da prova técnica, é dispensado a realização de nova perícia (REsp 
302.527/RJ – 12.02.2007). 
- Dando prosseguimento ao procedimentode restauração, o § 3º do art. 715, não havendo 
certidão de documentos, esses serão reconstituídos por meio de cópias, e, no caso de 
inexistência dessas, a prova anteriormente produzida por documentos será realizada por 
outros meios de prova, sempre que isso se mostrar possível. 
- Ainda, no mesmo artigo, há expressa indicação de que os serventuários e auxiliares da 
justiça serem obrigados a depor como testemunhas a respeito de atos que tenham 
praticado ou assistido, desde que, claro, essas pessoas tenham de alguma forma 
participado do processo principal. 
5) Sentença 
- O processo de restauração deve ser extinto por meio de sentença e, no caso de 
aparecimento superveniente dos autos originais, a extinção deverá ocorrer por meio de 
sentença terminativa fundada na perda superveniente do interesse de agir, cabendo o 
processo principal prosseguir nos autos originais, sendo os autos de restauração 
apensados a ele, nos termos do parágrafo único do CPC. 
- Gajardoni (2018) apresenta um posicionamento interessante sobre o reaparecimento dos 
autos originais. Em regra, com o aparecimento deste, a ação prosseguirá nele, sendo 
apensado ao auto original os de restauração. Entretanto, levanta o autor hipótese na qual 
o reaparecimento ocorra em momento distante da realidade fática dos autos restaurados. 
- Nesse ponto, ilustra o autor que se porventura os autos originais – que estavam na fase 
de contestação pelo réu – reapareçam e os autos restaurados estejam em fase recursal, por 
exemplo na pendência de uma apelação, excepcionalmente poderão os autos originais 
serem apensados ao restaurado, privilegiando o princípio da celeridade, 
instrumentalidade das formas e outros princípios inerentes ao processo civil. 
6) Sanções 
- Por fim, o artigo 718 do CPC ilustra que aquele que der causa ao desaparecimento 
responderá pelas custas da restauração e pelos honorários do advogado, sem prejuízo de 
eventual responsabilização civil, penal ou administrativa. 
- Quanto às verbas sucumbenciais, deve-se aplicar a teoria da causalidade, isto é, devendo 
ser responsabilizada pelo pagamento a parte responsável pelo desaparecimento. Caso não 
seja possível atribuir a responsabilidade, cada parte arcará com suas custas processuais, 
não havendo – nesse caso – condenação aos honorários advocatícios.

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