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Autor: Prof. Eduardo Mikio Konigame Colaboradores: Prof. Ariathemis Moreno Bizuti Prof. José Carlos Morilla Mecânica dos Fluidos EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Professor conteudista: Eduardo Mikio Konigame Eduardo Mikio Konigame possui graduação em Engenharia de Controle e Automação (Mecatrônica) pela Universidade Paulista (2002) e mestrado em Engenharia Aeronáutica e Mecânica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (2006). Ministra aulas em disciplinas de Engenharia na Unip desde 2005, como: Estática dos Fluidos, Fenômenos dos Transportes, Mecânica dos Fluidos e Mecânica dos Fluidos Aplicada. É também coordenador do curso de Engenharia da Unip no campus de São José dos Campos desde 2009. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) K82m Konigame, Eduardo Mikio. Mecânica dos Fluidos. / Eduardo Mikio Konigame. - São Paulo: Editora Sol, 2018. 216 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIV, n. 2-030/18, ISSN 1517-9230. 1. Regimes de escoamento. 2. Perda de carga. 3. Instalações de recalque. I. Título. CDU 532 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Talita Lo Ré Juliana Mendes EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Sumário Mecânica dos Fluidos APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 REGIMES DE ESCOAMENTO ...........................................................................................................................9 1.1 Escoamento laminar ou turbulento.................................................................................................9 1.2 Escoamento interno ou externo .................................................................................................... 11 2 EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE PARA REGIME PERMANENTE ....................................................... 18 2.1 Velocidade média na seção .............................................................................................................. 19 2.2 Equação da Continuidade ................................................................................................................. 24 3 EQUAÇÃO DE BERNOULLI ............................................................................................................................ 42 4 EQUAÇÃO DA ENERGIA PARA UM FLUIDO REAL EM REGIME PERMANENTE ........................ 56 4.1 Equação da Energia com presença de máquinas .................................................................... 61 4.2 Equação da Energia para problemas com várias entradas e/ou saídas .......................... 79 Unidade II 5 ESTUDO DA PERDA DE CARGA ................................................................................................................101 5.1 Perda de carga distribuída ou contínua (Hf) ............................................................................106 6 PERDA DE CARGA SINGULAR OU LOCALIZADA (HS) .......................................................................128 7 INSTALAÇÕES DE RECALQUE ....................................................................................................................157 8 LINHA DA ENERGIA E LINHA PIEZOMÉTRICA ....................................................................................177 7 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 APRESENTAÇÃO A disciplina de Mecânica dos Fluidos é de suma importância para a formação do aluno do curso de Engenharia. Essa disciplina propõe-se apresentar ao estudante de Engenharia os principais conceitos e fundamentos de fenômenos relacionados à fluidodinâmica, permitindo, dessa forma, sua aplicação correta em situações reais da vida profissional. Assim, o objetivo geral é prover ao aluno o desenvolvimento da habilidade de análise dos fenômenos e capacitá-lo para o uso e o emprego das equações fundamentais que regem o escoamento de fluidos. Quanto aos objetivos específicos, são eles: analisar as propriedades e o comportamento dos fluidos, complementar os conceitos da Equação da Continuidade e da Equação da Energia, e apresentar os conceitos para o cálculo de perdas de carga distribuída e singular. Na primeira parte do livro-texto, faz-se uma revisão de alguns tópicos, com uma ênfase mais aprofundada nos seguintes temas: • regimes de escoamento; • Equação da Continuidade; • Equação de Bernoulli; • Equação da Energia com a presença de máquina. Na segunda parte do livro-texto, são apresentados novos conceitos, como: • estudo da perda de carga (cálculo da perda de carga distribuída); • cálculo da perda de carga singular; • instalações de recalque; • linha piezométrica e linha da energia. Recomenda-se uma leitura atenta do texto, quantas vezes se fizerem necessárias, a fim de que o conceito apresentado seja bem compreendido. Além disso, os fundamentos apresentados são mais bem assimilados quando associados à prática; por isso, recomenda-se que o aluno resolva problemas. INTRODUÇÃO Na Física existem três estados da matéria bem definidos: sólido, líquido e gasoso. Alguns estudos, no entanto, consideram ainda (e demonstram) a existência, em altas temperaturas, de um quarto estado, o plasma. Com base nas definições da área de Mecânica dos Fluidos, uma substância no estado líquido ou gasoso recebe o nome de fluido. 8 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Na literatura, Brunetti (2008) define um fluido como uma substância que se deforma continuamente quando submetida a uma força tangencial constante qualquer; em outras palavras, pode-se dizer que fluido é uma substância que, submetida a uma força tangencial constante, não atinge uma nova configuração de equilíbrio estático. Para exemplificar a presença ou a aplicação de um fluido e a importância dessa disciplina, podem-se citar: a água que escoa em um tubo de PVC em uma residência, o óleo utilizado para fritar uma porção de batatas em uma panela, o sangue que corre no interior de uma artéria no corpo humano, a gasolina ou o álcool utilizado como combustível em veículos, o ar atmosférico, o oxigênio utilizado em sistemas hospitalares, o dióxido de carbono emitido em escapamentos de veículos, o gás GLP utilizado em fogões de cozinha, o deslocamento de uma aeronave no ar, a navegação de uma embarcação em alto-mar etc. Vale lembrar ainda que praticamente em toda indústriasão encontrados escoamentos de fluidos no interior de tubos, válvulas, cotovelos, entre outros acessórios. Ao longo deste livro-texto serão utilizados termos como tubos, dutos ou condutos, todos com o mesmo sentido. Em muitas aplicações, as seções circulares transversais ao escoamento são chamadas de tubos (geralmente quando escoam líquidos). Isso ocorre porque essa forma geométrica é capaz de suportar elevadas diferenças de pressão entre o meio interno e externo sem sofrer alterações em sua estrutura. Já as seções transversais não circulares são chamadas de dutos (geralmente escoam gases) e não apresentam grandes diferenças de pressões. A solução de problemas em mecânica dos fluidos demanda conhecimento, intuição física e experiência (tanto as vividas no dia a dia como aquelas em situações experimentais). Busca-se ainda relacionar o conteúdo abordado ao cotidiano dos alunos, a fim de que haja uma melhor assimilação dos conceitos estudados. Supõe-se que o leitor deste material possua conhecimentos apropriados nas áreas de cálculo e física, porém o conteúdo aqui exposto pode ser assimilado confortavelmente pelo aluno de graduação em engenharia. Ao longo do livro-texto serão apresentados conceitos e numerosos exercícios de aplicação com base em situações reais para consolidar a teoria. A abordagem do assunto parte de conceitos mais simples, aumentando-se gradativamente a complexidade ao longo dos capítulos. Figuras, esboços e ilustrações são utilizados para que os estudantes de fato compreendam e assimilem o conteúdo abordado. Para que o conteúdo seja mais claro e fique, de fato, ilustrada sua aplicação, todos os capítulos apresentam exercícios resolvidos. Buscou-se desenvolver uma abordagem sistemática na solução, com a identificação de objetivos e a enumeração de propriedades envolvidas, conceitos e hipóteses consideradas. Ao final, buscou-se, ainda, discutir o resultado obtido. Espero que este livro-texto o auxilie em sua jornada. Bons estudos! 9 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS Unidade I 1 REGIMES DE ESCOAMENTO A existência de praticamente dois tipos distintos e bem definidos de escoamento, separados por um escoamento de transição, foi descoberta em meio a ensaios experimentais nos anos de 1880 por Osborn Reynolds. 1.1 Escoamento laminar ou turbulento Para uma melhor compreensão desses conceitos, observe o Experimento de Reynolds, na figura a seguir. (1) (2) (3) (5) (4) v (1) Água (2) Líquido colorido (3) Tubo de vidro (diâmetro D) (4) Filete de líquido colorido (5) Válvula para regulagem da velocidade (v) Figura 1 – Experimento de Reynolds O aparato experimental consiste basicamente em: um reservatório com água (1), um tubo transparente de vidro (3) e uma válvula (5). Na seção de saída do reservatório é acoplado o tubo transparente de vidro, após o qual está a válvula que controla a variação da velocidade de descarga de água. No centro do tubo é injetado um líquido colorido (2) que permite acompanhar o comportamento das partículas durante o escoamento. Ao manipular a válvula, permitindo uma pequena velocidade de descarga, nota-se através do tubo de vidro a presença de um filete de líquido colorido (4) reto e contínuo bem ao centro do tubo. Esse escoamento ocorre de forma organizada e suave, como se fossem lâminas individualizadas: as partículas viajam sem agitações transversais e sem troca de massa entre as camadas. Trata-se do chamado escoamento laminar, no qual se pode observar o seguinte comportamento através do tubo de vidro: 10 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I Tubo de vidro Filete de coranteÁgua Figura 2 – Filete de líquido colorido injetado no centro de um tubo em escoamento laminar Um outro exemplo típico desse tipo de escoamento seria um óleo com alta viscosidade em baixa velocidade no interior de um tubo. Novamente ao manipular a válvula, aumentando a velocidade de descarga, o filete de líquido colorido (4) começa a apresentar oscilações e tende a desaparecer. Como o nível do líquido colorido (2) continua descendo, conclui-se que ele continua sendo injetado, porém diluído na água que escoa ao longo do tubo de vidro. Nesse segundo caso, ocorre o escoamento caótico das moléculas de um fluido, de forma desorganizada, com velocidades transversais significativas, o que nos leva a classificar o escoamento como turbulento. Geralmente, fluidos com baixa viscosidade em altas velocidades são classificados como turbulentos. Para melhor compreensão, a figura a seguir ilustra o que se observa através do tubo de vidro nessa situação. Tubo de vidro Água Figura 3 – Comportamento do líquido colorido no centro de um tubo em escoamento turbulento Na natureza, a maioria dos escoamentos é turbulenta, no entanto podemos citar alguns exemplos de escoamento laminar naturais: um filete de água escoando por uma torneira pouco aberta ou até mesmo a fumaça que sai através de uma ponta de cigarro em uma sala fechada. A realização desse experimento resultou na criação do número adimensional (ou seja, sem unidades) batizado com o nome de Reynolds (Re), o qual classifica o regime de escoamento no interior de condutos de seção transversal circular. .v.D v.D Re ρ= = µ υ 11 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS Onde: ρ: massa específica do fluido; v : velocidade média do escoamento; D: diâmetro da tubulação; µ: viscosidade dinâmica ou absoluta; υ: viscosidade cinemática. Fisicamente, o Número de Reynolds apresenta uma razão entre as forças de inércia e as forças viscosas do fluido. Em outras palavras, se o Número de Reynolds para uma determinada aplicação for um valor grande ou alto, os efeitos da viscosidade serão desprezíveis, ainda que não devam ser ignorados. Caso o Número de Reynolds seja pequeno ou baixo, os efeitos da viscosidade serão dominantes. Se o Número de Reynolds não for nem alto nem baixo, nenhuma conclusão poderá ser extraída. Observação Segundo Brunetti (2008), um escoamento interno em um conduto de seção circular classifica-se como laminar quando Re < 2000, de transição quando 2000 < Re < 2400 e turbulento quando Re > 2400. 1.2 Escoamento interno ou externo Um escoamento pode ser classificado como interno ou externo. Diz-se que o escoamento é interno quando o fluido é envolvido por um conduto, por exemplo, no escoamento de água no interior de um tubo, no escoamento de sangue no interior de veias ou artérias etc. Tal escoamento ainda pode ser definido como livre ou forçado. Chama-se de forçado quando o fluido preenche totalmente a seção transversal e está em contato com toda a parede interna do conduto. Quando o fluido não preenche toda a seção transversal, temos o chamado escoamento livre. A figura a seguir ilustra os dois casos. Seção transversal totalmente preenchida Forçado Seção transversal parcialmente preenchida Livre ou canal aberto Figura 4 – Escoamento forçado e escoamento livre 12 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I O escoamento externo pode ser exemplificado pelo ar que escoa ao redor de uma aeronave ou veículo, pela água que escoa ao redor do pilar de uma ponte etc. Tanto o escoamento interno como o externo podem ser classificados como laminar ou turbulento. Dependendo da aplicação, deseja-se um tipo de escoamento específico. Por exemplo, em um trocador de calor utilizado em aplicações domésticas, como uma geladeira ou aparelho de ar condicionado, o fato de o fluido apresentar um escoamento laminar ou turbulento altera a eficiência da troca térmica realizada. Em algumas aplicações de escoamento de líquidos no interior de tubos, a turbulência é indesejada, porém inevitável. Em outras, como o deslocamento de uma bola de golfe no ar, é desejável que o arescoe ao redor da bola de modo turbulento para reduzir os efeitos da força de arrasto. Vale destacar que em escoamentos externos o Número de Reynolds é, geralmente, da ordem de 106 ou 107. Exemplo de aplicação Em uma determinada indústria, um engenheiro analisa o escoamento de óleo de soja no interior de um conduto de seção circular com diâmetro de 3 centímetros. Sabendo-se que, por requisitos de projeto, o escoamento deve ser laminar com Número de Reynolds igual a 1900, determine o valor da velocidade de escoamento do óleo. Dado: 2 6 m35.10 s −υ = . Solução Do enunciado do problema, extrai-se: D = 3 cm = 0,03 m Re 1900 (adimensional)= Sabe-se que: .v.D v.D Re ρ= = µ υ Como não foi informado o valor da massa específica do óleo nem a viscosidade dinâmica, utiliza-se a equação: v.D Re = υ Reorganizando seus termos, obtém-se: Re. v D υ= 13 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS Substituindo os valores na equação, temos: 2 6 m1900 x 35.10 msv 2,21 0,03 m s − = = Discussão: nas condições impostas pelo projeto, para que o escoamento seja laminar, a maior velocidade permitida é de 2,21 m/s. É extremamente importante realizar as devidas conversões de unidades, a fim de que o exercício apresente resultados compatíveis. Cabe ressaltar, mais uma vez, que o Número de Reynolds (Re) é adimensional, ou seja, as unidades envolvidas se cancelam, resultando em um valor numérico que classifica o tipo de escoamento. Exemplo de aplicação Em uma residência existe uma instalação hidráulica que conduz água fria com velocidade de 3 m/s no interior de um tubo de PVC com diâmetro de 20 mm. Sabe-se que a massa específica da água é ρ = 1000 3 kg m e a viscosidade dinâmica vale 3 2 N.s 10 m −µ = . Determine se o escoamento é laminar ou turbulento. Solução Do enunciado, extrai-se: D = 20mm = 0,020m v = 3 m/s Dado que .v.D Re ρ= µ , usamos os valores fornecidos pelo problema: 3 3 2 kg m 1000 x 3 x 0,02 m smRe 60000 N.s 10 m − = = Como Re > 2400, o escoamento é classificado como turbulento. Discussão: em condutos de seção circular, o escoamento de água é, na maior parte das vezes, naturalmente turbulento. Raras vezes o escoamento está dentro da faixa de transição (a faixa de transição, isto é, a passagem de laminar para turbulento, ocorre no intervalo 2000 < Re < 2400), e para ser laminar, é necessário manipular os valores das propriedades para que seja satisfeita a condição Re < 2000. 14 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I Exemplo de aplicação De acordo com a NBR 5626:1998, “As tubulações devem ser dimensionadas de modo que a velocidade da água, em qualquer trecho de tubulação, não atinja valores superiores a 3 m/s”. (ABNT, 1998, p. 12) Em uma instalação hidráulica, a água fria escoa no interior de um tubo com diâmetro de 20 mm e Número de Reynolds igual a 40000. Considerando a massa específica da água igual a 3 kg 1000 m e sua viscosidade dinâmica (ou absoluta) como 3 2 N.s 10 m − , verifique se a velocidade média nessa instalação satisfaz a norma. Solução Extraindo as informações do enunciado e realizando as devidas conversões de unidades, temos: D = 19 mm = 0,019 m Re= 40000 ρ = 1000 3 kg m 3 2 N.s 10 m .v.D v.D Re −µ = ρ= = µ υ Como não foi informado o valor da viscosidade cinemática, utiliza-se a equação: .v.D Re ρ= µ Reorganizando os termos, temos: Re. v .D µ= ρ Por fim, substituindo os valores na equação, tem-se: 3 2 3 N.s 40000 x1 0 mmv 2,1 kg s1000 x 0,019 m m − = = 15 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS Discussão: nesse exemplo, partindo das condições impostas pelo enunciado e utilizando a equação do Número de Reynolds, encontra-se a velocidade média de 2,1 m/s para o escoamento turbulento, valor inferior à velocidade máxima de 3 m/s determinada pela norma. Exemplo de aplicação Um grupo de alunos de um curso de Engenharia realiza um experimento em laboratório baseado na experiência de Reynolds. Para isso, constrói um aparato semelhante ao de Reynolds, utilizando água com massa específica de 1000 kg/m3 e viscosidade cinemática de 10-6 m2/s. A água escoa através de um tubo de vidro com diâmetro de 12 mm. Os valores obtidos em relação à velocidade de escoamento são apresentados na tabela a seguir. Tabela 1 – Velocidades obtidas nos experimentos Experimento Velocidade (m/s) 1 0,05 2 0,12 3 0,23 Os regimes de escoamento obtidos nos experimentos 1, 2 e 3 são: a) laminar, laminar e laminar, respectivamente. b) laminar, laminar e turbulento, respectivamente. c) laminar, transição e turbulento, respectivamente. d) turbulento, turbulento e turbulento, respectivamente. e) turbulento, laminar e turbulento, respectivamente. Solução Nesse problema, devem ser calculados os números de Reynolds para cada experimento. Extraindo as informações disponibilizadas no enunciado e realizando as devidas conversões de unidades, temos: Diâmetro = 12 mm = 0,012 m Viscosidade cinemática υ = 10-6 m2/s 16 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I Substituindo as incógnitas pelos valores dados na equação do Número de Reynolds, obtém-se: v.D Re = υ Experimento 1: 1 2 6 m 0,05 x 0,012 m sRe 600 m 10 s − = = Experimento 2: 2 2 6 m 0,12 x 0,012 m sRe 1440 m 10 s − = = Experimento 3: 3 2 6 m 0,23 x 0,012 m sRe 2760 m 10 s − = = Conforme os cálculos apresentados e a classificação quanto ao tipo de escoamento, conclui-se que: Experimento 1: Re1 < 2000; portanto, trata-se de escoamento laminar; Experimento 2: Re2 < 2000; portanto, trata-se de escoamento laminar; Experimento 3: Re3 > 2400; portanto, trata-se de escoamento turbulento. Alternativa correta: letra B. Discussão: esse exercício exige apenas uma análise simples do tipo de escoamento com base no uso do Número de Reynolds. Nota-se que há uma alteração quanto ao tipo de escoamento quando sua velocidade é alterada (uma vez que não foram alterados nem o fluido, água, nem o tubo de vidro, ou seja, é o mesmo diâmetro). 17 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS Exemplo de aplicação Através de uma tubulação com diâmetro de 3 cm, um determinado líquido (ρ = 800 kg/m³) escoa com uma velocidade de 10 cm/s. Sabendo-se que o Número de Reynolds é 10000, determine o valor da viscosidade dinâmica do líquido no Sistema Internacional de unidades. Solução Do enunciado, extrai-se: D = 3 cm = 0,03 m ρ = 800 kg/m³ v = 10 cm/s = 0,1 m/s Re = 10000 Partindo da equação do Número de Reynolds, podemos isolar a viscosidade dinâmica: .v.D Re .v.D Re ρ= µ ρµ = Substituindo as incógnitas pelos valores dados, temos: 3 4 kg m 800 x 0,1 x 0,03 m kgsm 2,4 x1 0 10000 m.s −µ = = Discussão: o valor da viscosidade dinâmica pode ser determinado por meio da Equação do Número de Reynolds. No exercício em questão, o valor encontrado equivale a 4 2 N.s 2,4x1 0 m − no Sistema Internacional (SI). Demonstra-se a seguir a compatibilidade das unidades. 2 kg N.s m.s m = 18 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I Como 2 m N kg. s = , substituímos na equação: 2 2 2 m kg. .s N.s s m m = Simplificando o numerador: 2 m kg. s m Primeiramente, mantém-se o numerador. Passando o denominador para o numerador (invertendo a razão), temos: 2 m 1 kg. . s m Simplificando, obtemos por fim: kg m.s Conforme queríamos demonstrar. O Número de Reynolds tem outras aplicações além da caracterização do tipo do escoamento. Pode ser utilizado, por exemplo, como parâmetro na calibração de instrumentos de medição de vazão como placas de orifício e tubos de Venturi. A Teoria dos Modelostambém faz uso do Número de Reynolds, assim como de outros adimensionais, para estudar a correlação entre um protótipo e um modelo em escala (por exemplo, aeromodelo e aeronave, automodelo e automóvel etc.), assunto que será abordado ao longo do curso. 2 EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE PARA REGIME PERMANENTE Um escoamento pode ser classificado como de regime permanente, ou estacionário, quando, apesar de o fluido estar em movimento, o valor das suas propriedades não varia com o tempo. Segundo Fox (2014), se as propriedades de cada ponto em um campo do escoamento não variam com o tempo, o escoamento é dito permanente. Ele ressalta ainda que qualquer propriedade pode variar de ponto para ponto no campo, porém todas as propriedades permanecem constantes com o tempo em cada ponto. 19 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS Lembrete Apesar de escoar em regime permanente, o valor das propriedades em pontos distintos do escoamento pode ser diferente, desde que não varie com o tempo. 2.1 Velocidade média na seção Sabe-se que a vazão volumétrica (Q) pode ser determinada por um volume de fluido que escoa através de uma seção por um determinado instante de tempo. Matematicamente, a vazão volumétrica é representada da seguinte forma: Volume Q tempo = Podemos observar o conceito de vazão volumétrica em uma ação cotidiana: ao abrir a torneira para encher uma jarra com água, para fazer um suco, por 20 segundos, coletou-se 1L de água. A vazão volumétrica envolvida nesse caso pode ser obtida lançando-se mão da equação dada anteriormente. 1L L ml Q 0,05 50 20 s s s = = = Outra maneira de se obter a vazão volumétrica se dá por meio do produto da velocidade média pela área da seção transversal. m Q v . A= Esse cálculo é válido quando a velocidade se mantém uniforme em toda a seção transversal ao escoamento. Em casos reais, isso não ocorre, porém é possível obter uma expressão equivalente definindo o conceito de velocidade média na seção. Imagine que cada partícula de fluido apresente uma certa velocidade no escoamento interno; admitindo um dA (diferencial de área) no entorno de uma partícula, cuja velocidade seja genérica v, escreve-se: dQ v.dA= Para obter a vazão total na seção de área A, integram-se os dois lados da equação: dQ v.dA Q v.dA = = ∫ ∫ ∫ 20 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I A velocidade média seria uma velocidade uniforme que, substituindo a velocidade real, produz a mesma vazão. Logo: m m Q v .dA Q v . A = = ∫ A velocidade média na seção pode ser obtida por meio da equação: m 1 v . v.dA A = ∫ A figura a seguir ilustra a relação existente entre as velocidades. (1) (2) vmédia vreal Figura 5 – Diagrama de velocidades Exemplo de aplicação Tem-se um canal artificial retangular cujas dimensões da seção transversal são 1 metro de profundidade por 3 metros de largura, conforme ilustra a figura a seguir. Admita que o perfil de velocidade seja dado por 2v 4y= (S.I.), com y = 0 no fundo do canal. Determine a vazão volumétrica em L/s. b = 3m Seção transversal y = 1m dy y dA Figura 6 – Seção transversal canal artificial retangular Solução Considerando as informações disponibilizadas no enunciado: 21 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS y = 1 m (profundidade) b = 3 m (largura) A área da seção transversal é determinada por: A = b x y A = 3 m x 1 m = 3 m2 O diferencial de área (dA) para essa seção retangular é dado por: dA = b.dy dA = 3.dy A velocidade genérica das partículas corresponde a uma equação do segundo grau: 2v 4y= (S.I.) Desejamos obter a vazão volumétrica. Sabe-se que: mQ v . A= Porém, o valor da velocidade média é desconhecido. Para isso: m 1 v . v.dA A = ∫ Substituindo na equação da velocidade média: 2 m 1 v . 4y .3.dy 3 = ∫ Resolvendo a integral: 2 m 1x4x3 v . y .dy 3 = ∫ Lembre-se de que os limites são y = 0 para o fundo e y = 1 na profundidade máxima. Logo: 1 2 m 0 m v 4. y .dy v 1,33 m / s = = ∫ 22 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I Determinando a vazão volumétrica: m 2 3 Q v . A m Q 1,33 .3m s m Q 3,99 s = = = Discussão: esse exercício ilustra a aplicação da equação para o cálculo da velocidade média quando a velocidade das partículas não é uniforme na seção. Considera-se em exercícios posteriores a velocidade média uniforme na seção transversal de escoamento. Exemplo de aplicação Um aluno universitário foi estagiar em uma empresa de instalações hidráulicas. O supervisor decidiu testar os conhecimentos do estagiário e, para isso, pediu a ele que calculasse a velocidade média do escoamento de uma determinada tubulação. O estagiário, muito sabiamente, perguntou ao supervisor se o escoamento era laminar ou turbulento, e o supervisor o informou de que o escoamento era turbulento. O aluno, então, respondeu que a velocidade média era: m máx 49 v v 60 = O supervisor, desconfiado dos conhecimentos do estagiário, pediu que ele provasse o que havia dito. O aluno disse ao supervisor que, no escoamento laminar de um fluido em condutos circulares, o diagrama de velocidades é representado pela equação: 1 7 máx r v v 1 R = − Onde vmáx é a velocidade no eixo do conduto, R é o raio do conduto e r é um raio genérico para o qual a velocidade v é genérica. O aluno ainda acrescentou que a fórmula da velocidade média é dada por: m A 1 v vdA A = ∫ Com base no que foi estudado até aqui e nos dados descritos, justifique com cálculos se o aluno está correto ou não. 23 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS Solução Dada a equação característica da velocidade, substitui-se na equação da velocidade média: m A 1 7 m máx A 1 v vdA A 1 r v v 1 dA A R = = − ∫ ∫ Por se tratar de um conduto de seção circular, sabe-se que a área pode ser definida por: 2A R= π O diferencial de área de uma seção circular é dado por: dA 2 rdr= π Substituindo na equação da velocidade média, temos: ( ) 1 R 7 m máx2 0 R 1 máx 7m 15 07 1 r v v 1 2 rdr RR 2.v v R r rdr R = − π π = − ∫ ∫ Mudança de variável: x = R- r; r = R- x; dr = -dx Resolvendo a integral por substituição, obtemos: ( )( ) 1R máx 7 m 15 07 1 8R máx 7 7 m 15 07 R8 15 7 7 máx m 15 7 0 15 15 máx 7 7 m 15 7 m máx 2.v v x R x dx R 2.v v Rx x dx R 2.v 7Rx 7x v 8 15 R 2.v 7 7 v R R 8 15 R 49 v .v 60 = − − = − = − = − = ∫ ∫ 24 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I ( )( ) 1R máx 7 m 15 07 1 8R máx 7 7 m 15 07 R8 15 7 7 máx m 15 7 0 15 15 máx 7 7 m 15 7 m máx 2.v v x R x dx R 2.v v Rx x dx R 2.v 7Rx 7x v 8 15 R 2.v 7 7 v R R 8 15 R 49 v .v 60 = − − = − = − = − = ∫ ∫ Conforme queríamos demonstrar. Discussão: o exercício ilustra o desenvolvimento das relações entre as velocidades média e máxima de um escoamento turbulento em regime permanente de seções circulares quando a velocidade genérica das partículas é caracterizada pela equação: 1 7 máx r v v 1 R = − Caso o escoamento ocorra obedecendo outra equação, deve-se utilizar o mesmo procedimento para se determinar a relação entre as velocidades. 2.2 Equação da Continuidade Considere o escoamento de um fluido em regime permanente no interior de um conduto. A Equação da Continuidade para um fluido qualquer em regime permanente garante que uma partícula de fluido que entra no volume de controle (V.C.) – uma região cuja principal finalidade é facilitar a análise do escoamento do fluido que por ela passa – no ponto 1 será transportada para o ponto 2 sem queocorra o acúmulo ou decréscimo de massa, conforme mostra a figura a seguir. Representa, portanto, a conservação de massa em fluxo constante. (1) (2) Figura 7 – Escoamento de um fluido em regime permanente Logo, tem-se a Equação da Continuidade para um fluido compressível em regime permanente: m1 m2Q Q= ou 25 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS 1 1 2 2.Q .Qρ = ρ ou 1 1 1 2 2 2.A .v .A .vρ = ρ Caso o fluido seja incompressível, tem-se: 1 2 1 1 2 2 Q Q A .v A .v = = Subentende-se que as velocidades 1 2v e v , utilizadas na equação, correspondem às velocidades médias nas seções (1) e (2). Lembrete A Equação da Continuidade demonstra que, no escoamento de um fluido incompressível, a velocidade média de deslocamento das partículas é inversamente proporcional à área da seção transversal, uma vez que a vazão volumétrica é a mesma (regime permanente). Observação Um fluido é dito incompressível se não apresenta variação do volume em função da variação de pressão, como os líquidos. Geralmente, não ocorrem variações significativas da massa específica em escoamento de líquidos. Em casos em que não ocorra mistura, a massa específica de entrada é praticamente igual à massa específica de saída. O mesmo princípio, no entanto, não pode ser aplicado aos gases, classificados como fluidos compressíveis. Isso porque sofrem variações da massa específica ao longo do escoamento em função da variação da temperatura e da pressão. Cabe ressaltar como exceção gases escoando em baixas velocidades, com número de Mach menor que 0,3; nesses casos eles podem ser considerados incompressíveis. O número de Mach é um valor adimensional utilizado para relacionar a velocidade de escoamento de um fluido em relação à velocidade do som. Ele será tratado com mais profundidade ao longo do curso. 26 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I Exemplo de aplicação Em um determinado experimento, ocorre o escoamento de água no interior de um conduto convergente/divergente. Sabe-se que a área (1) é de 20 cm2 e a área (2) é de 15 cm2. Sendo a velocidade na seção (1) equivalente a 3 m/s, determine: a) a vazão volumétrica de água em L/s; b) a velocidade das partículas na seção (2). (1) (2) Figura 8 – Conduto de seção convergente/divergente Solução O enunciado fornece os seguintes dados: 2 4 2 1 2 4 2 2 1 A 20cm 20x10 m A 15cm 15x10 m mv 3 s − − = = = = = a) Sabe-se que a vazão volumétrica pode ser determinada por meio do produto da velocidade pela área: Q v.A= Nesse caso, conhece-se o valor da velocidade em (1) e a área da seção transversal em (1). Substituindo as incógnitas da equação pelos valores dados, temos: 4 2mQ 3 x 20.10 m s −= Q 60= . 3 4 m1 0 s − = 3 3 m6.10 s − = 6 L s 27 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS b) Segundo a Equação da Continuidade: m1 m2Q Q= 1 1 2 2.Q .Qρ = ρ Admitindo que a água é um fluido incompressível, não ocorre variações na massa específica ao longo do escoamento. Logo: 1 2 1 1 2 2 4 2 1 1 2 4 2 2 A .v A .v m 20.10 m x 3 A .v msv 4 A s15.10 m − − ρ = ρ = = = = Discussão: a aplicação da Equação da Continuidade na solução de problemas impõe o uso da velocidade média na seção transversal ao escoamento como v1 e v2. Fica subentendido, dessa forma, que velocidade média e área são inversamente proporcionais, ou seja, em um escoamento em regime permanente, a redução da área leva ao aumento da velocidade média na seção e vice-versa. Exemplo de aplicação No interior de um conduto de seção circular escoa um gás em regime permanente. Sabe-se que na seção (1) o gás possui massa específica ρ1 = 3,6 3 kg m e escoa com velocidade de 5 m/s. Ao chegar na seção (2), a massa específica aumenta para ρ2 =10 3 kg m . As áreas das seções transversais ao escoamento correspondem a 20 cm2 na seção (1) e 10 cm2 na seção (2). Determine a velocidade na seção (2). (1) (2) Gás Figura 9 – Escoamento de gás no interior de um conduto de seção transversal circular Solução Retirando as informações do enunciado e realizando as devidas conversões de unidades, temos: 2 4 2 2 4 2 1 2A 20cm 20x10 m e A 10cm 10x10 m − −= = = = 28 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I Da Equação da Continuidade, temos: m1 m2Q Q= 1 1 2 2.Q .Qρ = ρ Observe que, nesse problema, trata-se de um fluido compressível (gás), o qual pode apresentar variação na massa específica ao longo do escoamento. Logo: 1 1 1 2 2 2.A .v .A .vρ = ρ Isolando-se, temos: 4 2 3 1 1 1 2 4 22 2 3 kg m 3,6 x 20.10 m x 5 .A .v msmv 3,6 kg.A s10 x1 0.10 m m − − ρ= = = ρ Discussão: apesar de reduzir a área da seção transversal ao longo do escoamento, esperava-se um aumento na velocidade na seção (2), fato que não ocorre, em razão do aumento da massa específica do gás. Nesse caso, a vazão em massa permanece constante, respeitando o princípio da Equação da Continuidade para fluidos compressíveis. Em situações em que existe um escoamento através de um volume de controle (V.C.) com mais de uma entrada ou saída, temos: E S Qm Qm=∑ ∑ Onde a somatória das vazões em massa de entrada é exatamente igual à somatória das vazões em massa de saída. Observação Conforme vimos, volume de controle (VC) é uma região cuja principal finalidade é facilitar a análise do escoamento do fluido que por ela passa. A fronteira que delimita o volume de controle é chamada de superfície de controle (SC), e esse método ficou conhecido como euleriano. 29 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS Exemplo de aplicação Um engenheiro observa o escoamento no interior de um dispositivo utilizado em um determinado processo industrial. Ele visualiza a entrada de óleo lubrificante (ρ1 = 880 3 kg m ) pela seção (1), com vazão volumétrica de 10 L/s, e de gasolina (ρ2 = 720 3 kg m ) pela seção (2), com vazão volumétrica de 400L/s. A mistura sai através de um conduto de seção circular com diâmetro de 50 cm. (1) (2) (3) Óleo lubrificante Gasolina Mistura Figura 10 – Vista superior do dispositivo misturador Determine: a) a vazão volumétrica de saída; b) a massa específica da mistura; c) a velocidade da mistura no interior do tubo de saída. Solução 3 3 1 3 3 2 L m Q 10 10x10 S s L m Q 400 400x10 S s − − = = = = a) Nesse exercício existem duas entradas e uma saída. Aplicando a Equação da Continuidade e analisando as vazões volumétricas, temos: E S Q Q=∑ ∑ 30 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I Logo: 1 2 3 3 3 3 3 3 3 3 3 Q Q Q m m 10x10 400x10 Q s s m L Q 410x10 410 s S − − − + = + = = = b)Aplicando a Equação da Continuidade baseada nas vazões em massa, obtém-se: E S Qm Qm=∑ ∑ m1 m2 m3 1 1 2 2 3 3 3 3 3 3 3 3 33 3 3 3 3 3 3 3 Q Q Q .Q .Q .Q kg m kg m m 880 x1 0.10 720 x 400.10 x 410.10 s s sm m kg kg m 8,8 288 x 0,41 s s s kg m 296,8 x 0,41 s s kg 723,9 m − − − + = ρ + ρ = ρ + = ρ + = ρ = ρ ρ = c) O diâmetro do tubo de saída equivale a 50 cm. Convertendo para metros, d = 0,5m. Para o cálculo da área da seção circular transversal ao escoamento, pode-se fazer: 2 2 23 3 .D .0,5 A 0,19625 m 4 4 π π= = = 3 3 3Q A . v= 3 3 3 Q 0,410 v 2,08 m/s A 0,19625 = = = Discussão: o uso da Equação da Continuidade para problemas que apresentam várias entradas/ saídas é empregado de diferentes formas em situações do cotidiano, que podem apresentar misturas de substâncias de fluidos diferentes, como no presente exemplo, ou não. 31 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOSExemplo de aplicação Um grupo de alunos de Engenharia está participando da competição Fórmula SAE há vários anos, e seu desempenho vem melhorando muito com as experiências adquiridas nas várias participações. Vibrante com os resultados obtidos e na busca da melhoria contínua da qualidade dos carros inscritos nessa competição, o professor orientador do projeto decidiu melhorar o sistema de admissão dos referidos veículos. Assim, resolveu ministrar algumas aulas sobre esse método aos seus alunos, informando-os de que o sistema de admissão baseia-se nos conceitos da mecânica dos fluidos. Portanto, as propriedades dos fluidos envolvidos – como vazão, pressão, velocidade, massa específica etc. – devem ser determinadas com exatidão para obter a perfeita razão de mistura, resultando num melhor rendimento do motor. Um sistema de admissão básico está exemplificado na sequência. Filtro Filtro Ar Tanque de combustível Câmara do injetor de mistura Seção (1) Seção (2) Seção (3) Bico injetor Mistura ar/combustível Figura 11 – Figura ilustrativa do sistema de injeção de um veículo O ar atmosférico entra no sistema de admissão pelo filtro de ar e segue por um conduto até os dispositivos de injeção. O combustível contido no tanque também passa por um filtro e segue por um conduto para o sistema de injeção. Na câmara do injetor, o combustível é dosado proporcionalmente à massa de ar admitida, mantendo-se, dessa forma, a razão de mistura de máxima potência. No caso de motores à gasolina, essa razão é de 12:1, ou seja, 12 partes de ar para uma parte de combustível. O dispositivo de injeção é composto por uma câmara de mistura e um bico injetor, os quais possuem a função de vaporizar a mistura de uma forma homogênea, para que sua queima seja completa. Após as aulas ministradas, os alunos projetaram um novo sistema de admissão com o diâmetro do conduto na seção (1) igual 50 mm e o diâmetro do conduto na seção (2) igual 6 mm. A massa específica 32 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I do ar atmosférico vale 1,23 kg/m3 e a massa específica da gasolina, 750 kg/m3. Nos condutos (1) e (2) foram instalados sensores para medir a velocidade, os quais obtiveram como resultado os valores 0,051 m/s e 0,295 m/s, respectivamente. Com base nesses dados, determine: a) a vazão em massa da mistura ar/combustível; b) a quantidade de combustível consumida em uma hora; c) se o projeto conseguiu obter a razão de mistura de máxima potência. Solução Extraindo as informações do enunciado, temos: D1= 50 mm = 0,05 m D2 = 6 mm = 0,006 m ar 3 gas 3 1 2 kg 1,23 m kg 750 m v 0,051 m / s v 0,295 m / s ρ = ρ = = = a) Para obtermos a vazão em massa de saída, faz-se necessário determinar as vazões de entrada de ar e de gasolina: Seção (1): entrada de ar ( )2 34 1 1 1 . 0,05 m L Q v .A 0,051 x 10 0,1 4 s s −π= = = = Seção (2): entrada de gasolina ( )2 36 3 2 2 2 . 0,006 m L Q v .A 0,295 x 8,34 x1 0 8,34 x1 0 4 s s − −π= = = = 33 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS Seção (3): saída da mistura Aplicando a Equação da Continuidade baseada nas vazões em massa, temos: E S Qm Qm=∑ ∑ ( ) ( ) ( ) ( ) m1 m2 m3 ar 1 gas 2 3 4 6 3 3 3 Q Q Q .Q .Q Qm 1,23 x1 0 750 x 8,34 x1 0 Qm kg Qm 6,38 x10 s − − − + = ρ + ρ = + = = b) Para determinar o volume de combustível consumido em uma hora, deve-se atentar à vazão volumétrica de entrada na seção (2): 3 2 L 3600 s L Q 8,34 x1 0 x 30 s h h −= = c) Para verificar a razão de mistura, deve-se fazer: 1 32 L 0,1Q sRazão de mistura 12 LQ 8,34 x1 0 s − = = = Discussão: esse exemplo ilustra a aplicação dos conceitos de mecânica dos fluidos em um contexto real. O ar-padrão pode ser considerado como fluido incompressível quando escoa em baixas velocidades (Ma < 0,3, velocidade menor do que 100 m/s), algo que ocorre nesse problema, em que a velocidade do ar é baixa comparada ao valor-limite. Exemplo de aplicação O processo de produção de uma empresa apresenta a instalação hidráulica ilustrada na figura a seguir. Os reservatórios são cilíndricos, e o fluido que escoa no interior dos condutos é água. O reservatório A tem diâmetro de 2 metros e é totalmente preenchido em um tempo de 1 hora (t1). O reservatório B tem diâmetro de 1 metro e é totalmente preenchido no tempo de 20 minutos (t2). Determine o valor da velocidade na seção (1) sabendo que nessa seção o diâmetro (D1) corresponde a 10 cm. 34 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I (1) (2) A B 7m 3m (3) Figura 12 – Vista lateral da instalação hidráulica Solução Tempo de preenchimento dos reservatórios: t1= 1 hora = 60 minutos = 3600 segundos t2= 20 minutos = 1200 segundos E S Qm Qm=∑ ∑ Por se tratar de um problema com uma entrada e duas saídas, temos: m1 m2 m3 1 1 2 2 3 3 Q Q Q .Q .Q .Q = + ρ = ρ + ρ Como não existe a mistura de fluidos, admite-se que: 1 2 3 cteρ = ρ = ρ = , logo: 1 2 3 1 2 1 1 2 Q Q Q V V Q t t = + = + Reservatório A Reservatório B Diâmetro = 2 m Diâmetro = 1 m 35 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS Área da baseA = 2 2 2.D .2 3,14 m 4 4 π π= = Área da baseB = 2 2 2.D .1 0,785 m 4 4 π π= = Altura do reservatório = 7m Altura do reservatório = 3m Calculando o volume: Volume = Área da base x altura 2 3 AV 3,14 m x 7m 21,98 m= = 2 3 BV 0,785 m x 3m 2,355 m= = Substituindo: 3 3 3 3 1 21,98 m 2,355 m m L Q 8,068.10 8068 3600 s 1200 s s S −= + = = Na seção (1) o diâmetro (D1) vale 10 cm = 0,1 m. Calculando a área: A1 = 0,00785 m 2. Como Q = v.A, temos: 3 3 1 2 1 m 8,068.10Q msv 1,02 A s0,00785 m − = = = Discussão: o exemplo ilustrado apresenta uma aplicação da Equação da Continuidade para uma condição de várias entradas e saídas sem mistura de fluidos. Exemplo de aplicação O cultivo de peixes para consumo ou para ornamentação (utilizados em aquários, por exemplo) tem se popularizado no Brasil. As boas condições climáticas do país e a grande variedade de espécies nativas contribuem para o desenvolvimento da atividade. Com dedicação e empenho, produtores podem conseguir bons resultados e contar com a criação como fonte de renda principal de sua propriedade. Antes de escolher os peixes que mais se adaptem à região de cultivo e dar início ao novo empreendimento, entretanto, é necessário montar uma estrutura apropriada no local. De acordo com o orçamento disponível, pode-se decidir por vários materiais encontrados no mercado e por diferentes sistemas de criação. O tanque de 36 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I cultivo pode ser apenas escavado na terra ou, após a terraplenagem, ser construído em alvenaria e impermeabilizado com lona, fibra de vidro ou chapa galvanizada. Para o sistema de abastecimento de água, utilize blocos de concreto ou algum tipo de vala, com conexões de tubo de PVC para condução da água até o tanque. Fonte: Tanques... (2011). O pai de um aluno do curso de engenharia decidiu ingressar no ramo da piscicultura. Pediu ao filho que fizesse um projeto utilizando restos de uma calha retangular de cimento, dois tipos de tubo de PVC e os recursos hídricos do seu sítio. Após alguns dias de estudos, medições e cálculos, o aluno de engenharia fez o projeto ilustrado a seguir. Calha retangular Tanque A Tanque B Tubo 1 Tubo 2 NCNC Figura 13 – Projeto de tanques para criação de peixes A calha retangular possui 100 cm de largura por 50 cm de altura e alimenta o tanque A com velocidade de escoamento dada por v = 15y2. O tanque A possui um nível de água constante, mantido pelo tubo 1 e pelo tubo 2. O tubo 1 possui 200 mm de diâmetro e devolve a sobrade água ao leito do rio. O tubo 2 possui 75 mm de diâmetro e enche completamente em 10 minutos o tanque B, que possui um volume de 120 m3. Determine os seguintes itens: a) a velocidade média na calha retangular de entrada de água; b) a vazão em volume no tubo 1. Solução Informações disponibilizadas no enunciado Medidas da calha retangular: Altura: y = 50 cm = 0,5 m Largura: b= 100 cm = 1 m Velocidade: v = 15y2 37 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS Para determinar a velocidade média na calha de entrada, calculamos: 0,5 0,5 3 2 2 m 0 0 1 1 30y m v v.dA 15y .bdy 2 x1 5 y .dy 1,25 A 1 x 0,5 3 s = = = = =∫ ∫ ∫ Para determinar a vazão volumétrica no tubo 1, fazemos: E S Qm Qm=∑ ∑ Considerando se tratar de uma entrada e duas saídas e que o fluido que escoa é o mesmo (água): calha 1 2Q Q Q= + Determinando a vazão na calha: 3 calha m m m Q v .A 1,25 x1 m x 0,5m 0,625 s s = = = Determinando a vazão no tubo 2: 3 3 B 2 V 120 m m Q 0,2 t 600 s s = = = Determina-se a vazão no tubo 1: 3 3 3 1 calha 2 m m m Q Q Q 0,625 0,2 0,425 s s s = − = − = Discussão: esse exercício ilustra o uso dos conhecimentos de mecânica dos fluidos para solucionar uma situação real. 38 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I Exemplo de aplicação Em um dispositivo que realiza a distribuição de água, a velocidade no conduto de entrada (1) é dada por 2 máx 1 r v v . 1 R = − , e a velocidade nos condutos de saída (2) e (3) é dada por: 1 7 máx2,3 2,3 r v v 1 R = − . Considerando que máx1 m v 2 s = e máx2 m v 8 s = , determine a velocidade média e a velocidade máxima na saída (3). Dados: 1 2 3D 10 cm, D 4 cm e D 8 cm = = = . (1) (2) (3) Figura 14 – Esboço de um dispositivo de distribuição de água Solução Dados os diâmetros, realizam-se as conversões de unidades e determinam-se as áreas das seções transversais ao escoamento: 2 1 1 2 2 2 2 3 3 D 10 cm 0,1 m A 0,00785 m D 1,66 cm 0,0166 m A 0,00021 m D 5 cm 0,05 m A 0,00196 m = = = = = = = = = Por se tratar de um problema com uma entrada e duas saídas, tem-se: E S Qm Qm=∑ ∑ m1 m2 m3 1 1 2 2 3 3 Q Q Q .Q .Q .Q = + ρ = ρ + ρ 39 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS Como não existe a mistura de fluidos, admite-se que: 1 2 3 cteρ = ρ = ρ = , logo: 1 2 3Q Q Q= + Lembrando que: mQ v .A= m1 1 m2 2 m3 3v .A v .A v .A = + Não são conhecidas as velocidades médias nas seções, mas sabe-se que na seção (1): 2 max 1 r v v . 1 R = − Substituindo na equação da velocidade média, tem-se: m A 2 m máx 1A 1 v vdA A 1 r v v 1 dA A R = = − ∫ ∫ Por se tratar de um conduto de seção circular, a área pode ser definida por: 2A R= π O diferencial de área de uma seção circular é dado por: dA 2 rdr= π Substituindo na equação da velocidade média: 2R m máx2 11 0 2R máx m 2 11 0 1 r v v 1 2 rdr R.R 2 .v r v 1 rdr R.R = − π π π = − π ∫ ∫ 40 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I Realizando a distributiva no colchete dentro da integral: R 3 máx m 2 2 1 10 2.v r v r dr R R = − ∫ Integrando: R2 4 máx m 2 2 1 1 0 2.v r r v 2R 4R = − Aplicando os limites da integral, sendo o limite inferior igual a zero: 2 4 máx 1 1 m 2 2 1 1 2.v R R v 2R 4R = − Simplificando: 2 2 máx 1 1 m 2 1 2.v R R v 2 4R = − Resolvendo os colchetes: 2 2 máx 1 1 m 2 1 2 máx 1 m 2 1 2.v 2R R v 4R 2.v R v 4R −= = Simplificando: máx m v v 2 = Logo, conforme dado no enunciado: máx1 m v 2 s = . Verifica-se que: máx1 m1 v 2 m v 1 2 2 s = = = 41 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS Na seção (2) a equação característica resulta na relação de velocidades, conforme demonstrado anteriormente no item 2.1: m máx m2 máx2 49 v .v 60 49 v .v 60 = = Conforme disponibilizado pelo enunciado: max2 m v 8 s = m2 49 m m v x 8 6,53 60 s s = = Substituindo na Equação da Continuidade para várias entradas e saídas: m1 1 m2 2 m3 3 2 2 2 m3 3 3 m3 m3 v .A v .A v .A m m 1 .0,00785 m 6,53 .0,00021 m v .0,00196 m s s m m 0,00785 0,00137 0,00196.v s s m v 3,3 s = + = + = + = Sabendo pela equação característica que o escoamento na seção (3) é do tipo turbulento: m3 máx3 máx3 m3 49 v .v 60 60 v v 49 = = Substituindo os valores: máx3 máx3 60 m v x 3,3 49 s m v 4,04 s = = 42 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I Discussão: esse exercício ilustra a aplicação das equações em casos em que, claramente, as velocidades são diferentes. Nota-se que: máx1 m1 máx2 m2 máx3 m3 m m v 2 e v 1 s s m m v 8 e v 6,53 s s m m v 4,04 e v 3,3 s s = = = = = = 3 EQUAÇÃO DE BERNOULLI Como é sabido, na Física, toda forma de energia não pode ser criada nem destruída, mas convertida em outra forma de energia. Apresentam-se a seguir as principais formas de energia que serão levadas em conta em uma associação ao escoamento de um fluido. Segundo Çengel e Cimbala (2015), a Equação de Bernoulli é uma relação aproximada entre pressão, velocidade e elevação e é válida em condições de regime permanente de um fluido incompressível, quando os efeitos do atrito são desprezíveis. Existem algumas restrições quanto à aplicação da Equação de Bernoulli. A primeira delas é que deve ser utilizada apenas em condições de regime permanente (também chamado de escoamento estacionário). Portanto, ela não deve ser implementada na solução de problemas que envolvam transiente, como ao ligar/desligar uma bomba em uma instalação hidráulica, situação em que ocorre uma variação das propriedades (essa discussão vai além do escopo deste livro; caso julgue necessário, consulte Panton, 2005). É importante ressaltar que a aplicação da Equação de Bernoulli se restringe a determinadas regiões do escoamento de diversos problemas. Obviamente não existe um fluido sem viscosidade, e todo escoamento apresenta um certo atrito, por menor que seja; no entanto, em alguns casos os efeitos do atrito podem ou não ser desprezíveis. Geralmente, desprezam-se os efeitos do atrito em trechos curtos do escoamento com seções transversais relativamente grandes (baixas velocidades). Por outro lado, levam-se em conta os efeitos do atrito nos seguintes casos: longos trechos de tubulação, passagem do escoamento através de uma seção estreita, escoamento ocorrendo próximo a uma superfície sólida (presença da camada-limite), entre outros casos. Aqui, os efeitos da viscosidade e do atrito são desprezíveis quando comparados a outras forças que atuam nas partículas de fluido durante o escoamento, principalmente os efeitos de inércia, gravidade e pressão. Para tal, aplica-se geralmente a Equação de Bernoulli em linhas de corrente próxima à linha de centro da seção transversal, e não próxima das paredes. Observa-se também que, para aplicar a Equação de Bernoulli na solução de alguns problemas no domínio da engenharia, não deve existir no trecho em análise a presença de máquinas (bomba ou turbina) – a Equação da Energia com a presença de máquinas será abordada mais para frente neste livro. 43 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS Uma hipótese adotada para empregar a Equação de Bernoulli é que a massa específica seja constante (fluido incompressível) ao longo do escoamento. Tal condição é respeitada por líquidos e também por gases escoandoem baixas velocidades, com número de Mach menor que 0,3 (nesses casos os gases podem ser considerados incompressíveis). A Equação de Bernoulli não deve ser empregada em fenômenos que apresentam variações propositais de temperatura, como pontos de resfriamento ou de aquecimento, pois a massa específica de um gás é inversamente proporcional à temperatura. Segundo Çengel e Cimbala (2015), a Equação de Bernoulli pode ser descrita por: 2P v g.z constante 2 + + = ρ Essa equação relaciona as três formas de energia mecânica por unidade de massa no escoamento de um fluido, onde: 2 P energia de escoamento v energia cinética 2 g.z energia potencial = ρ = = Çengel e Cimbala (2015) evidenciam ainda que a soma das energias de escoamento, cinética e potencial de uma partícula de fluido é constante ao longo de uma linha de corrente durante um regime permanente quando os efeitos da compressibilidade e do atrito são desprezíveis. Em outras palavras, as diferentes formas de energia mecânica em um escoamento são convertidas entre si, mas a somatória das parcelas de energia permanece constante no trecho em análise. Ao implementar o uso da Equação de Bernoulli na solução de um problema, considera-se que não ocorre a dissipação de energia, uma vez que não existe atrito, e, dessa forma, a energia mecânica não pode ser convertida em energia térmica sensível. Considera-se também que não há troca de calor proposital. Segundo Brunetti (2008), utiliza-se a abordagem de energia por unidade de peso: Dividindo todos os termos da equação por g: 2P v z constante .g 2g + + = ρ 44 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I Das propriedades dos fluidos, .gγ =ρ , substituindo: 2P v z constante 2g + + = γ Admitindo como H a energia total por unidade de peso, ou carga total na seção, tem-se: 2P v H z 2g = + + γ Note que ao realizar o cálculo da energia total do fluido na seção, as formas de energia na mecânica dos fluidos são quantificadas em metros (m). Ilustra-se a seguir a análise dimensional, no Sistema Internacional de unidades, da equação apresentada anteriormente. 2 2 3 2 mN smH m N m m s = + + Matematicamente, mantemos o numerador e passamos o denominador para o numerador, invertendo a razão: 3 2 2 2 2 N m m s H x x m N mm s = + + Simplificando as unidades: 3 2 2 3 2 2 2 2 1 N m m s m m H x x m m N mm s m m H m m m m = + + = + + = + + = A figura a seguir ilustra a aplicação da Equação de Bernoulli para um trecho do escoamento em uma tubulação horizontal. (1) (2) Figura 15 – Tubulação horizontal em conduto de seção circular 45 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS Simbolicamente, podemos equacionar: 1 2H H= De tal forma que ocorra uma conservação de energia ao longo do escoamento. Expandindo as equações, tem-se: 2 2 1 1 2 2 1 2 P v P v z z 2g 2g + + = + + γ γ Observação Na mecânica dos fluidos, ao utilizar a energia por unidade de peso, toda forma de energia será quantificada em metros (m). Exemplo de aplicação Após uma aula de mecânica dos fluidos, um aluno de engenharia observa o escoamento de água através de um tanque de um grande reservatório. Por razões pessoais, fica intrigado para descobrir qual o valor da vazão volumétrica de água. Sabendo que o nível de água no reservatório é de 3 metros e o raio da tubulação de saída é de 2,5 cm, como você resolveria o problema? Considere que 2 m g 10 s = . (1) (2)h = 3m PHR Figura 16 – Escoamento em regime permanente em um tanque de grandes dimensões Solução Admitindo que: - a água é um fluido incompressível; - o escoamento ocorre em regime permanente; - não há presença de máquinas; - não há perdas por atrito (hipótese de fluido ideal). 46 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I Sabe-se que Q =v.A. Portanto, para obter a vazão volumétrica é necessário determinar a velocidade. Conforme fornecido no enunciado, na seção (2) o raio é de 2,5 cm = 0,025 m. Determinando a área da seção circular transversal ao escoamento: 2 2 2 3 2A .r .(0,025) 0,0019625 m 1,97.1 0 m−= π = π = = Por sua vez, busca-se o valor da velocidade na seção (2). Assume-se que o trecho a ser analisado será o de (1) para (2), e aplica-se a Equação de Bernoulli. Logo: (1) → (2) 1 2H H = 2 2 1 1 2 2 1 2 P v P v z z 2g 2g + + = + + γ γ Agora é interessante simplificar os termos que compõe a equação. Para isso, realizamos uma análise termo a termo. O reservatório está aberto à pressão atmosférica, logo: 1 atmP P 0 (escala efetiva de pressões) = = 2 2 1 1 2 2 1 2 P v P v z z 2g 2g + + = + + γ γ Quando se considera o reservatório um tanque de grandes dimensões (TGD), na seção (1) a velocidade tende a zero, logo: 1v 0= . 2 2 1 1 2 2 1 2 P v P v z z 2g 2g + + = + + γ γ A distância da seção (1) até o plano horizontal de referência (PHR) é igual a 3 m. Então, 1z 3 m= . Na seção (2) realiza-se a mesma análise. A água é descarregada à pressão atmosférica, logo: 2 atmP P 0 (escala efetiva de pressões)= = 47 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS 2 2 1 1 2 2 1 2 P v P v z z 2g 2g + + = + + γ γ Note que a seção (2) não é um TGD, mas sim um tubo, onde a água escoa com uma certa velocidade 2v , ainda desconhecida e objeto de pesquisa. Como a seção (2) está posicionada em cima do PHR, considera-se que a distância da seção (2) até o PHR é 0, logo 2z 0= . 2 2 1 1 2 2 1 2 P v P v z z 2g 2g + + = + + γ γ Resultando em: 2 2 1 v z 2g = Isolando 2v , temos: 2 1v 2g.z= Substituindo os valores: 2 m v 2x10x3 60 7,74 s = = = Por fim, determinamos a vazão volumétrica: 3 2 3 m Q 7,74 x1 ,97.1 0 m s m L Q 0,0152 15,2 s s −= = = Discussão: esse problema ilustra como devem ser implementadas as hipóteses simplificadoras para o uso da Equação de Bernoulli, que pode ser uma ferramenta bastante útil para a determinação da vazão volumétrica. Exemplo de aplicação Um instrumento utilizado para realizar a medição de vazão volumétrica é o Tubo de Venturi. Esse tubo é constituído de uma seção convergente que atinge uma seção mínima, também chamada de 48 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I garganta do Venturi, e uma seção divergente, até atingir o mesmo diâmetro de entrada. A figura a seguir ilustra o esquema. (1) (2) Figura 17 – Representação de um Tubo de Venturi Imagine que um certo óleo ( óleo 3 N 8000 ) m γ = escoe em um conduto de PVC com 2 polegadas de diâmetro e entre em um Tubo de Venturi com uma garganta de ½ polegada de diâmetro. Determinou-se que a pressão na entrada do tubo é de 220 kPa e que a pressão na garganta é de 50 kPa. Admitindo um escoamento ideal e em regime permanente, determine o valor da vazão volumétrica (em L/s). Solução Extraindo os dados do enunciado e realizando as conversões para o sistema métrico: D1= 1 polegada = 2,54 cm = 0,0254 m D2 = 0,5 polegada = 1,27 cm = 0,0127 m Calculando as áreas: 4 2 1 4 2 2 3 1 2 3 2 2 A 5.10 m A 1,26.10 m N P 220 kPa 220.10 m N P 150 kPa 150.10 m − − = = = = = = O trecho a ser analisado será o de (1) para (2). Aplicando-se a Equação de Bernoulli: (1) → (2) 1 2H H = 2 2 1 1 2 2 1 2 P v P v z z 2g 2g + + = + + γ γ 49 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS As cotas das seções em relação a qualquer PHR serão iguais, logo 1 2z z= : 2 2 1 1 2 2P v P v 2g 2g + = + γ γ Reorganizando os termos na equação, escreve-se: 2 2 1 2 2 1P P v v 2g 2g − = − γ γ Por estarem sobre o mesmo denominador, representa-se: 2 2 1 2 2 1 óleo P P v v 2g − −= γ Substituindo os valores na equação: 3 3 2 222 2 1 3 2 3 2 22 2 1 3 2 2 2 2 1 2 2 2 2 2 1 2 N N 220.10 150.10 v vm m N m 8000 2.1 0 m s N 70.10 v vm N m 8000 20 m s v v 8,75 m m 20 s m v v 175 s − −= −= −= − = O emprego da Equação de Bernoulli conduz a uma equação com duas incógnitas ( 1 2v e v ) , fazendo-se necessário o emprego de outra equação que relacione as velocidades. Para tal, utiliza-se a Equação da Continuidade. 1 2 1 1 2 2 4 2 2 2 1 24 2 1 1 2 Q Q A .v A .v A .v 1,26.10 m v . v A 5.10 m v 0,252 .v − − = = = = = 50 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I Substituindo na equação das velocidades: 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 m v (0,252 .v ) 175 s m v 0,0635v 175 s m 0,936 v 175 s m v 186,96 s m v 13,67 s − = − = = = = Para determinar a vazão de água que passa no interior do tubo, fazemos: 2 2 2Q A .v= Substituindo os valores: 2 2 2 4 2 2 3 3 2 Q A .v m Q 1,26.10 m x1 3,67 s m L Q 1,7 x1 0 1,7 s s − − = = = = Discussão: a associação da Equação de Bernoulli e da Equação da Continuidade se mostra uma ferramenta eficaz para a solução de alguns problemas na engenharia. Exemplo de aplicação Tubo de Pitot é o nome de um instrumento amplamente utilizado para realizar a medição de velocidades de escoamento de fluidos em regime permanente, sejam eles líquidos ou gases. A figura a seguir ilustra um tubo de Pitot inserido em um conduto no qual se deseja obter como velocidade de escoamento da água o valor de 3 N 10000 m . Para isso, conectou-se o Pitot a um manômetro diferencial de mercúrio Hg 3 N ( 136000 ) m γ = , onde o desnível gerado entre os meniscos foi de 12 cm. 51 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS (1) H2O Hg h (2) Figura 18 – Tubo de Pitot para medição de velocidade Solução Foi dado no enunciado que h = 12 cm = 0,12 m. Aplicando a Equação de Bernoulli entre os pontos (1) e (2), temos: (1) → (2) 1 2H H = 2 2 1 1 2 2 1 2 P v P v z z 2g 2g + + = + + γ γ Admitindo que o PHR se localiza na linha de centro do tubo, 1 2 z z= , logo: 2 2 1 1 2 2P v P v 2g 2g + = + γ γ Na entrada do Pitot, posicionado na seção (2), a energia cinética é convertida em energia de pressão. Nesse ponto, que recebe o nome de ponto de estagnação ou ponto de parada, considera-se que 2v 0= . Dessa forma: 2 1 1 2P v P 2g + = γ γ 52 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I Reorganizando os termos da equação e isolando a velocidade na seção (1): 2 1 2 1v P P 2g = − γ γ Por estarem sobre o mesmo denominador, escreve-se: 2 1 2 1 H O2 2 2 1 1 H O2 v P P 2g P P v 2g x ( ) −= γ −= γ Para encontrar o valor da velocidade, é necessário saber qual o valor da diferença de pressões entre os pontos (1) e (2). Para isso, aplica-se o conceito de Equação Manométrica. Partindo do centro geométrico da seção (1) e indo em direção ao centro geométrico da seção (2), desprezando as cotas em comun, temos: 1 Hg H O 22 2 1 Hg H O2 2 1 Hg H O2 P .h .h P P P .h .h P P h( ) + γ − γ = − = γ − γ − = γ − γ Substituindo os valores na equação: 2 1 3 3 2 1 2 N N P P 0,12 m x(136000 10000 ) m m N P P 15120 m − = − − = Aplicando na equação da velocidade: 2 2 1 1 H O2 22 1 2 3 2 2 1 2 1 P P v 2g x ( ) N 15120 m mv 2 x1 0 x ( ) Ns 10000 m m v 30,24 s m v 5,49 s −= γ = = = 53 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS Discussão: a aplicação da Equação de Bernoulli permite a solução do problema junto com o princípio da Equação Manométrica. Deve-se lembrar que, por se tratar de um instrumento invasivo, existe o chamado ponto de estagnação, em que a velocidade é considerada igual a zero, pois a energia cinética é convertida em energia de pressão. Exemplo de aplicação Uma das aplicações industriais do Tubo de Venturi é medir a vazão de fluidos no interior de tubulações. Em uma dessas instalações, a água escoa por um Tubo de Venturi em regime permanente. O manômetro diferencial de mercúrio foi instalado em uma seção de entrada (1) cuja área da seção transversal é de 20 cm2, e a outra extremidade foi instalada na garganta (2), onde a área da seção transversal é de 10 cm2. O desnível gerado no mercúrio (Hg) foi de 15 cm. Admitindo desprezíveis as perdas por atrito, determine qual é a vazão de água que passa pela tubulação. Dados: H O 32 N 10000 m γ = e Hg 3 N 136000 m γ = . (1) (2) Hg H20 h Figura 19 – Tubo de Venturi instalado em uma tubulação industrial Solução Admitindo que as propriedades sejam uniformes na seção e que o escoamento ocorra em regime permanente, considera-se válida a aplicação da Equação de Bernoulli para a solução do problema. Extraindo as informações do enunciado e realizando as devidas conversões de unidades, temos: 2 4 2 1 2 4 2 2 A 20 cm 20.10 m A 10 cm 10.10 m − − = = = = h = 15 cm = 0,15 m 54 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I Assume-se que o trecho a ser analisado será o de (1) para (2) e aplica-se a Equação de Bernoulli. Logo: (1) → (2) 1 2H H = 2 2 1 1 2 2 1 2 P v P v z z 2g 2g + + = + + γ γ Admitindo que o PHR se localize na linha de centro do tubo, 1 2 z z= , logo: 2 2 1 1 2 2P v P v 2g 2g + = + γ γ Reorganizando os termos, a equação fica assim: 2 2 1 2 2 1P P v v 2g 2g − = − γ γ Podendo ser reescrita da seguinte forma: 2 2 1 2 2 1 H O2 P P v v 2g − −= γ O lado esquerdo da equação pode ser desenvolvido aplicando o conceito da equação manométrica. Partindo do centro geométrico da seção (1), percorrendo um caminho em direção à seção (2) e desprezando os trechos comuns, a equação pode ser representada por: 1 H O Hg 22 P .h .h P + γ − γ = Reorganizando os termos: 1 2 Hg H O2 1 2 Hg H O2 P P .h .h P P h( ) − = γ + γ − = γ − γ Substituindo os valores: 1 2 3 3 1 2 2 N N P P 0,15 m(136000 10000 ) m m N P P 18900 m − = − − = 55 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS Retornando à equação principal: 2 2 1 2 2 1 H O2 P P v v 2g − −= γ Substituindo os valores: 2 22 2 1 3 2 2 2 1 2 N 18900 v vm N 2g10000 m v v 1,89 m m 2.1 0 s −= −= Multiplicando em cruz: 2 2 2 2 1 2 m v v 37,8 s − = Da Equação da Continuidade, temos que: 1 2 1 1 2 2 4 2 2 2 1 24 2 1 1 2 Q Q A .v A .v A .v 10.10 m v . v A 20.10 m v 0,5 .v − − = = = = = Substituindo na equação das velocidades: 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 m v (0,5 .v ) 37,8 s m v 0,25v 37,8 s m 0,75 v 37,8 s m v 50,4 s m v 7,09 s − = − = = = = 56 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I Para determinar a vazão de água que passa no interior do tubo, podemos usar a equação: 2 2 2Q A .v= Substituindo os valores: 2 2 2 4 2 2 3 3 2 Q A .v m Q 10.10 m .7,09 s m L Q 7,09.10 7,09 s s − − = = = = Discussão: note que esse problema foi solucionado utilizando os conceitos da Equação de Bernoulli e da Equação da Continuidade. Tal fato ocorrerá novamente na solução de vários problemas, recomendando ao estudante a familiarização com tais equações e seus usos. Neste problema fica claro que não há variação de energia potencial 1 2(z z )= . A energia cinética aumenta de (1) para (2) em razão da redução de áreas, consequentemente a energia de pressão irá diminuir de (1) para (2), de modo que a soma das energias se mantém constante. É esse fato que explica o desnivelamento no manômetro diferencial de mercúrio. Saiba mais O conteúdo a seguir sugere um complemento do conhecimento. EASTLAKE, C. A visão de um engenheiro aeronáutico acerca de Sustentação, Bernouilli e Newton.Física na Escola, Porto Alegre, v. 7, n. 2, p. 52-57, 2006. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/ handle/10183/116434/000570136.pdf?sequence=1>. Acesso em: 25 ago. 2017. 4 EQUAÇÃO DA ENERGIA PARA UM FLUIDO REAL EM REGIME PERMANENTE Neste tópico será excluída a hipótese de fluido ideal, considerando os efeitos do atrito interno durante o escoamento (escoamento real). Esses atritos podem ser representados pelo atrito viscoso (que ocorre entre as partículas de fluido) e pelo atrito rugoso (fluido em contato com as paredes do conduto). Partindo do princípio da Equação de Bernoulli, se o escoamento fosse ideal, 1 2H H = . Considerando os efeitos do atrito no escoamento, ocorrerá uma dissipação de energia, de forma que 1 2H H > , conforme mostra a figura a seguir. Cabe ressaltar que o escoamento ocorre sempre no sentido decrescente das energias, ou seja, durante o escoamento, a energia total do fluido na seção vai diminuindo, pois ocorre a conversão 57 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS de energia mecânica em energia térmica. No entanto, a confecção da Equação da Energia pode ser realizada sem explicitar essa perda de calor para o meio externo. (1) Hp 1,2 (2) Figura 20 – Escoamento em um conduto de seção circular A energia (por unidade de peso) perdida será 1,2Hp . Desejando reestabelecer um equilíbrio de energia entre o início (1) e o fim (2) do trecho em análise, é necessário somar a energia perdida do lado direito da equação: 1 2 1,2H H Hp = + Exemplo de aplicação Um tubo de 3 cm de diâmetro transporta 2 L/s de água em regime permanente. Foram instalados dois manômetros nas seções (1) e (2), indicando, respectivamente, 2 2 kgf kgf 1,5 e1 ,35 cm cm , conforme a figura a seguir. Determine a perda de carga gerada durante o escoamento entre os pontos (1) e (2), dado que: H O 32 kgf 1000 m γ = (1) P1 Hp 1,2 (2) P2 Figura 21 – Escoamento real de água no interior de um tubo 58 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I Solução Do enunciado, tem-se: 4 1 2 2 4 2 2 2 kgf kgf P 1,5 1,5.10 cm m kgf kgf P 1,35 1,35.10 cm m = = = = Analisando o escoamento de (1) para (2): (1) → (2) 1 2 1,2H H Hp = + 2 2 1 1 2 2 1 2 1,2 P v P v z z H p 2g 2g + + = + + + γ γ Tomando como referência a linha de centro do tubo (PHR), observa-se que as seções (1) e (2) estão posicionadas bem em cima dela. Logo, 1 2z z 0= = . 2 2 1 1 2 2 1,2 P v P v H p 2g 2g + = + + γ γ Admitindo tratar-se de um escoamento em regime permanente, a vazão que passa na seção (1) é a mesma que passa na seção (2). 1 2 1 1 2 2 Q Q A .v A .v = = Não ocorre variação na área da seção do tubo, portanto 1 2 A A= . Consequentemente: 1 2v v= Simplificando a equação: 1 2 1,2 P P Hp= + γ γ 59 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS Isolando-se a energia perdida: 1 2 1 2 1,2 1,2 P P P P Hp Hp −= − = γ γ γ 4 4 2 2 1,2 3 1,2 kgf kgf 1,5.10 1 ,35.10 m mHp kgf 1000 m Hp 1,5 m − = = Discussão: nesse problema, nota-se que a energia cinética e a energia potencial não apresentam variação. Ocorre, portanto, uma redução da energia de pressão ao longo do escoamento. Entre os pontos (1) e (2) analisados, temos uma perda de carga equivalente a 1,5 m de energia. Exemplo de aplicação A figura a seguir ilustra um trecho de uma instalação industrial que realiza o transporte de água. Sabe-se que escoam 16 L/s, a pressão no ponto (1) é de 180 KPa e no ponto (2) é de 150 KPa. Verificou-se que as seções (1) e (2) encontram-se a 2,1m e 1,7m em relação ao solo, respectivamente. A área da seção transversal ao escoamento é de 8x10-3 m2 no ponto (1) e 2x10-3 m2 no ponto (2). Determine a perda de carga gerada no trecho entre (1) e (2). Utilize 2 m g 10 . s = (1) (2) PHR Z1 Z2 Figura 22 – Tubulação transportando água em uma instalação industrial 60 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I Solução Extraindo as informações do enunciado e realizando as conversões de unidades: 3 3 3 2 1 3 2 2 L m Q 16 16.10 s s A 8.10 m A 2.10 m − − − = = = = 3 3 1 2 3 3 2 2 N P 180 KPa 180.10 Pa 180.10 m N P 150K Pa 150.10 Pa 150.10 m = = = = = = 1 2 z 2,1 m z 1,7 m = = H2O 3 N 10000 m γ = Analisando o escoamento de (1) para (2): (1) → (2) 1 2 1,2H H Hp = + 2 2 1 1 2 2 1 2 1,2 P v P v z z H p 2g 2g + + = + + + γ γ 2 2 1 1 2 2 1,2 1 2 P v P v Hp z z 2g 2g = + + − − − γ γ Lembrando que em regime permanente as vazões volumétricas que passam em (1) e em (2) são as mesmas ( 1 2Q Q )= , determinam-se os valores das velocidades nas seções (1) e (2). 1 1 1 3 3 1 1 3 2 1 2 2 2 3 3 2 2 3 2 2 Q A .v m 16.10Q msv 2 A s8.10 m Q A .v m 16.10Q msv 8 A s2.10 m − − − − = = = = = = = = 61 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS 1 1 1 3 3 1 1 3 2 1 2 2 2 3 3 2 2 3 2 2 Q A .v m 16.10Q msv 2 A s8.10 m Q A .v m 16.10Q msv 8 A s2.10 m − − − − = = = = = = = = Substituindo os valores na equação: 2 2 2 23 3 2 22 2 1,2 3 2 3 2 1,2 1,2 m mN N 2 8180.10 150.10 s sm mHp 2,1 m 1,7m N m N m 10000 2.10 10000 2.10 m s m s Hp 18m 0,2m 2,1 m 15 m 3,2m 1,7m Hp 0,4 m = + + − − − = + + − − − = Discussão: nesse problema, há a variação nas três formas de energia: energia de pressão, energia cinética e energia potencial. No escoamento de (1) para (2) ocorre uma redução da energia de pressão ao longo do escoamento, assim como uma redução da energia potencial, em função do aumento da energia cinética. Entre os pontos (1) e (2) analisados, temos uma perda de carga equivalente a 0,4 m de energia. 4.1 Equação da Energia com presença de máquinas Define-se máquina como um componente mecânico de uma instalação hidráulica que adiciona ou retira energia de um fluido sob a forma de trabalho. Se a máquina adiciona energia ao fluido, será definida genericamente como uma bomba. Caso retire energia do fluido, será, então, uma turbina qualquer. A figura a seguir apresenta um exemplo de máquina em uma instalação hidráulica. (1) (2) Q M Figura 23 – Máquina instalada entre as seções (1) e (2) Antes de prosseguirmos, cabe ressaltar que não é o foco deste tópico estudar os princípios de funcionamento das máquinas hidráulicas, mas mostrar como sua presença influencia os conceitos envolvidos na Equação da Energia. A presença de máquinas influencia a Equação da Energia. Sem a presença delas, aplica-se a Equação de Bernoulli entre as seções (1) e (2), de tal forma que: 1 2H H = 62 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 Unidade I Se a máquina instalada for uma bomba, energia será acrescentada no fluido. (1) (2) Q B Figura 24 – Bomba realizando um escoamento em um tubo Analisando as energias totais nas seções (1) e (2), observa-se que a energia total de fluido que atravessa a seção (2) é maior do que a energia total do fluido que passa em (1). Logo, verifica-se que: 2 1H H > A essa energia acrescentada ao fluido pela bomba dá-se o nome de altura manométrica (ou carga manométrica da bomba), sendo representada pelo símbolo bH . (1) H1 (2) H2 Hb Q B Figura 25 – Representação da carga ou altura manométrica da bomba Para restabelecer um equilíbrio de energias entre as seções, escreve-se: (1) → (2) 1 b 2H H H + = Observe os efeitos dos atritos ao longo do escoamento, mostrados na figura a seguir. (1) H1 (2) H2 Hb Q B Hp 1,2 Figura 26 – Escoamento real com presença de bomba 63 EN GP - R ev isã o: T al ita - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 09 /2 01 7 MECÂNICA DOS FLUIDOS Nesse contexto, a Equação da Energia pode ser escrita
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