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FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO ADMINISTRADOR: REFLEXÕES ACERCA DA PROFISSÃO E DO PLANEJAMENTO DE CARREIRA LUCAS HENRIQUE DA LUZ 2ª edição Editora Unisinos, 2014 SUMÁRIO Apresentação Capítulo 1 – A profissão administrador Capítulo 2 – A atuação do profissional administrador: principais áreas e considerações éticas e legais Capítulo 3 – O planejamento de carreira do administrador Anexos Referências Sobre o autor Informações técnicas APRESENTAÇÃO Este livro tem como inspiração os saberes e as inquietudes reflexivas do seu autor, com base em sua experiência como docente na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), nos cursos de Administração e Gestão Tecnológica de Recursos Humanos, principalmente na atividade acadêmica de Formação Profissional do Administrador, e nas constantes trocas com os professores e alunos dessa atividade. Somam-se a isso experiências organizacionais na esfera pública e privada, bem como a reflexão vivenciada no Instituto Humanitas Unisinos (IHU). Comum estilo claro e acessível, o texto traz contribuições acerca do ser e fazer do profissional administrador, tornando-se importante fonte de consulta, sistematização e inquietação, especialmente para estudantes que buscam formação acadêmica e/ou experiências nessa área, bem como para pessoas que já tenham em seu cotidiano práticas relacionadas ao ser e fazer do administrador. Dessa forma, pode ser utilizado por iniciantes e por profissionais mais experientes no cotidiano da administração, uma vez que procura cruzar o entendimento e o significado dessa profissão com a reflexão e o planejamento da trajetória profissional em áreas vinculadas a essa e, mais especificamente, com o planejamento de carreira do administrador. O livro divide-se em dois eixos principais, organizados em três capítulos. Inicialmente – nos dois primeiros capítulos, busca revelar ao leitor um pouco do sentido da atuação do profissional administrador, expondo seus conceitos básicos, as principais áreas de atuação, a influência do cenário organizacional e social, bem como alguns dos principais aspectos éticos e legais da profissão. Em um segundo eixo,o terceiro capítulo apresenta conceitos relevantes ao planejamento e gestão de carreiras, sua importância, a relevância do autoconhecimento e das diferentes etapas desse processo. Com esses eixos e com a abordagem prática traçada ao longo do livro por exercícios, sínteses e/ou perguntas para reflexão, encontradas ao final de cada um dos itens principais, o leitor pode compreender melhor a profissão administrador e suas diferentes possibilidades, além de desenvolver seu autoconhecimento, o que favorecerá a reflexão, o planejamento e/ou a (re)significação da sua trajetória profissional em administração. Boa leitura a todas e todos! CAPÍTULO 1 A PROFISSÃO ADMINISTRADOR O objetivo do primeiro capítulo é permitir que o leitor compreenda aspectos relacionados ao papel do administrador e ao contexto organizacional de forma sistêmica, descrevendo habilidades e competências relevantes ao administrador hoje e percebendo a atuação desse profissional em suas diferentes áreas, sempre vinculadas a aspectos éticos e legais. Não é objetivo deste livro aprofundar aspectos relacionados ao processo administrativo e suas etapas nem à história da administração, suas teorias e escolas. Esses assuntos são amplamente debatidos em livros de introdução à administração, de fundamentos do processo administrativo e de introdução à teoria geral da administração. O enfoque dado aqui diz respeito à trajetória profissional do administrador, ao seu ser e fazer. Para tanto, torna-se fundamental que o primeiro capítulo – A administração e o papel do administrador: algumas considerações – possa problematizar e examinar questões relacionadas ao papel do administrador, compreendendo ainda a influência do contexto organizacional na atuação das organizações e dos administradores, de maneira sistêmica. Também é necessário conhecer as diferentes áreas de atuação desse profissional e os aspectos éticos e legais da profissão. 1.1 A administração e o papel do administrador: algumas considerações Nesta primeira seção, o objetivo é refletir acerca do significado da administração e do administrador, do seu ser e fazer e do perfil necessário a esse profissional. Diante da realidade atual, que revela um contexto cada vez mais complexo e sistêmico, tem-se dificuldade em definir de forma precisa ou de uma só forma a maioria dos termos. É difícil definir, por exemplo, o que é felicidade, qual o sentido de trabalho, o que significa profissionalismo e assim por diante. Da mesma forma, essa realidade, esse paradigma complexo-sistêmico invade a sociedade, em geral, e o mundo do trabalho, exigindo das carreiras e dos profissionais transformações constantes, multifuncionalidade, fazeres diversos, dificultando a definição das diferentes profissões e seus escopos de atuação, bem como o perfil do profissional de cada área. Com a administração e o administrador não é diferente. Aliás, historicamente, as definições de administração têm sido as mais variadas. Essa variação talvez tenha aumentado dada a realidade atual, que acaba atribuindo diferentes ênfases ao conceito de administração, as quais serão problematizadas ao longo deste item. Não há como compreender o ser e o fazer do administrador sem antes entender o que é a administração. Para isso, é preciso perpassar, inicialmente, o entendimento das organizações, mesmo que de forma bastante breve. Pode-se iniciar com a afirmação de Etzioni (1978) de que nascemos, vivemos e morremos em organizações, ou seja, elas estão presente sem todas as etapas da vida humana. A sociedade, ao mesmo tempo que compõe e constrói as organizações, também depende delas. O mundo é permeado por pequenas, médias e grandes organizações, que podem ser entendidas como “ uma articulação, arrumação deliberada de pessoas, que visa realizar um ou mais propósitos específicos, usando determinadas tecnologias e recursos” .(CARAVANTES; PANNO; KLOECKNER, 2005, p. 384). Um hospital, uma indústria, uma universidade, uma associação de combate ao câncer, uma pequena loja ou um mega comércio, uma empresa prestadora de serviços telefônicos, são exemplos de organizações no cotidiano das pessoas. Elas podem ser públicas ou privadas, com ou sem fins lucrativos, industriais, comerciais, de serviços etc. Na verdade, o que é relevante e caracteriza a existência de uma organização é ter um propósito, que se revela em um ou mais ob jetivos, desenvolvendo uma estrutura que busca ser adequada à consecução deles. Essa estrutura pode ser mais ou menos flexível,com hierarquia mais ou menos rígida e utilizar determinado(s) tipo(s) de tecnologia(s). Por fim, cabe destacar, em relação às organizações, que todas são formadas por pessoas. São estas últimas que mobilizam e constroem a estrutura e a tecnologia em busca do propósito da organização. As pessoas são o núcleo central das organizações. Dado o exposto, é possível compreender que as organizações apresentam quatro elementos principais: propósitos, pessoas, estrutura e tecnologia. E os administradores – que têm nas organizações seu espaço principal de atuação – têm seus atos diretamente influenciados e relacionados a esses elementos. Mudanças no mercado e na sociedade em geral, de forma cada vez mais acelerada e complexa, transformam as dimensões das organizações e suas características modificam-se. É fundamental perceber essas modificações, pois elas influenciam o ser e o fazer do administrador, transformando-o ao longo do tempo. No Quadro 1, apresentam-se algumas dessas mudanças. Quadro 1 – Organizações tradicionais e novas organizações Organizações tradicionais Novas organizações Estáveis, inflexíveis Dinâmicas, mutáveis e flexíveis Foco no cargo Foco nas habilidades e competências Emprego permanente Trabalho, emprego temporário – por projetos Orientadas pelo comando superior Auto-orientadas e auto-organizadas Gestores tomam a decisão Todos os colaboradores tomam diferentes decisões e umnúmero maior participa da tomada de decisões estratégicas Orientadas por normas Orientadas pelo desejo dos clientes e tendências da sociedade Força de trabalho homogênea Força de trabalho heterogênea Trabalho com horário definido Não há trabalho em apenas um horário definido. Mistura-se espaço de trabalho e não trabalho Relações hierárquicas predominantes Relações laterais e em rede Fonte: adaptado pelo autor de Caravantes; Panno; Kloeckner (2005, p. 384). Percebe-se que flexibilidade, mutabilidade, relações multilaterais e heterogêneas, dentre outros aspectos, são fundamentais para as organizações de hoje. Nesse contexto, a atuação dos administradores exige inovação, auto-orientação, autodesenvolvimento, relações laterais intra e extraorganizacionais, bem como a utilização de competências atuais e planejamento e desenvolvimento das competências potenciais (SENETT, 2006). É nesse sentido que se deve pensar e entender a administração e o papel do administrador, sua atuação e as diferentes trajetórias profissionais a serem construídas nesse espaço de trabalho. Mesmo sendo difícil sintetizar o que é a administração, pode-se defini-la, a partir do que foi exposto até aqui, como um conjunto de esforços que tem por ob jetivo planejar, organizar, dirigir/liderar e coordenar ou controlar as atividades de um grupo de indivíduos que se associam para atingir um resultado comum (LACOMBE; HEILBORN, 2003). Pode ser entendida também como “um processo dinâmico de tomar decisões sobre a utilização de recursos, para possib ilitar a realização de objetivos” (MAXIMIANO, 2008, p. 33). A administração, portanto, é a concretização de objetivos de maneira eficiente, eficaz e efetiva, por meio do processo administrativo, que envolve planejar, organizar, executar, liderar/dirigir e controlar. De forma breve, cabe esclarecer que a eficácia está relacionada à obtenção do resultado almejado. Se determinado administrador tem por objetivo implementar um novo software de gestão da produção em uma empresa, ele terá sido eficaz no momento em que o software for implantado e estiver funcionando. Já a eficiência, diz respeito à redução do tempo, do custo e à produtividade alcançada. Assim, quanto menor for o tempo e o custo de implantação e quanto melhor se mostrar a qualidade do software implantado, maior será a eficiência do administrador. Por fim, ao produzir efeitos e resultados satisfatórios à organização, aos seus colaboradores, terá sido efetivo. A seguir, o Quadro 2 e o Quadro 3 sintetizam e complementam a ideia do que é a administração enoque consiste o ser e o fazer do administrador. Quadro 2 – Administração e outras palavras Palavras Significado Administração [Do latim,administratione] I. Ação de administrar. II. Gestão de negócios públicos ou particulares. III. Governo, regência. IV. Conjunto de princípios, normas e funções que têm por fim ordenar os fatores de produção e controlar sua produtividade e eficiência para se obter determinado resultado. V. Prática desses princípios, normas e funções (Novo Dicionário Aurélio, 1986). Gerência e gestão [Do latim,gerentia, de gerere, ‘ fazer’ ] I. Ato de gerir. II. As funções do gerente; gestão, administração. III. Mandato de administração (Novo Dicionário Aurélio, 1986). Management I. Ação ou maneira de administrar; manejo (handling), direção ou controle. II. Habilidade para administrar. III. Pessoa ou pessoas que controlam e dirigem os negócios de uma instituição ou empresa (Webster’ s Encyclopedic Unabridged Dictionary of the English Language, 1994, Gramercy Books). Fonte: adaptado de Maximiano (2007, p. 33). Quadro 3 – Principais funções ou processos da administração Processo ou função Significado Planejamento Processo de definir objetivos, atividades e recursos. Organização Processo de definir e dividir o trabalho e os recursos necessários para realizar os objetivos. Implica atribuição de responsabilidades e autoridade a pessoas e grupos. Liderança Processo de trabalhar com pessoas para assegurar arealização dos objetivos. Execução Processo de realizar atividades e consumir recursospara atingir os objetivos. Controle Processo de assegurar a realização dos objetivos e deidentificar a necessidade de modificá-los. Fonte: Maximiano (2007, p. 35). Agora que se pode compreender de maneira objetiva o que é a administração, é possível entender um pouco do histórico da profissão no Brasil, bem como o papel do profissional administrador, descobrindo-se mais sobre sua atuação. 1.1.1 Breve histórico da profissão de administrador e da sua formação no Brasil Segundo Gomes (2005), a história da administração inicia-se, aproximadamente, no ano cinco mil a.C., na Suméria, uma vez que seus habitantes buscavam uma forma de resolver seus problemas práticos, surgindo, então, a arte e o exercício de administrar. Mais tarde, no Egito, foi planejado e dimensionado um sistema econômico que precisava da administração pública contínua. Logo depois, na China, quinhentos a.C., surgiu a necessidade de ter um sistema de governo organizado para o império. Assim, foram estabelecidas estas oito regras de Administração Pública de Confúcio: o Alimento; o Mercado; os Ritos; o Ministério do Emprego; o Ministério da Educação; a Administração da Justiça; a Recepção dos Hospedes e; o Exército. Outras também são as raízes de onde se aponta o surgimento da administração, tais como: as instituições otomanas, pela forma como eram administrados seus grandes feudos; os prelados católicos, já na Idade Média, destacando-se como administradores natos; a Alemanha e a Áustria, de 1550 a 1700, com o aparecimento de um grupo de professores e administradores públicos denominados fiscalistas ou cameralistas (GOMES, 2005). Destaca-se ainda a importância da Igreja Católica Romana e das Organizações Militares no surgimento da profissão. A primeira, por ser considerada ao longo de muito tempo uma das organizações formais mais eficientes da civilização ocidental, contribuindo com a eficácia de suas técnicas organizacionais e administrativas. Já a segunda, adotou hierarquia, princípios e práticas administrativas que influenciaram, depois, a denominada administração científica e, consequentemente, a administração nas empresas (GOMES, 2005). Nesse sentido, o que provocou o aparecimento da empresa e da moderna administração foi a Revolução Industrial, que trouxe profundas mudanças econômicas, sociais e políticas. A Revolução Industrial pode ser dividida em duas fases principais: a primeira, de 1780 a 1860, é a revolução do carvão, como principal fonte de energia, e do ferro, como principal matéria-prima. A segunda fase, de 1860 a 1914, é a revolução da eletricidade e derivados do petróleo, como as novas fontes de energia, e do aço, como a nova matéria-prima. Com o avanço desse período, surge a administração no sentido de dar conta do crescimento acelerado e desorganizado das empresas, que passaram a exigir uma administração científica capaz de substituir o empirismo e a improvisação, bem como trazer maior eficiência e produtividade às empresas, diante da concorrência e competição no mercado (GOMES, 2005). Depois disso, segue o desenvolvimento da administração científica e das demais escolas e teorias da administração, mas como este não é o foco do livro, não será trabalhado aqui. No Brasil, a formação do administrador começou a ganhar contornos mais claros na década de 1940, quando se intensifica a necessidade de mão de obra qualificada e, consequentemente, da profissionalização do ensino de Administração, já que o país passava de uma sociedade em estágio agrário para a industrialização. Assim, era necessário formar um Administrador profissional, apto para gerir e atender as demandas do processo de industrialização e, muitas vezes, o próprio processo de administração. Essa formação acentuou-se quando da regulamentação da profissão, através da Lei nº 4.769, de 9 de setembro de 1965. No seu artigo 3º, a lei afirma o exercício da profissão como algo privativo dos bacharéis em Administração, diplomadosno Brasil, em cursos regulares de ensino superior, oficializados ou reconhecidos, cujo currículo seja fixado pelo Conselho Federal de Educação, nos termos da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, que fixa as Diretrizes e Bases da Educação no Brasil (CFA, 2014). Segundo Chiavenato (2005), deve-se destacar ainda a crescente industrialização da década de 1950, principalmente na região sudeste (São Paulo e Rio de Janeiro), que trouxe novas empresas vindas do exterior, como a Volkswagen, dentre outras. Elas trouxeram técnicas administrativas mais modernas, até então desconhecidas pelas empresas brasileiras, como a preocupação mais explícita com os recursos humanos, instituindo sistemas de avaliação de desempenho de funcionários, por exemplo. Nesse contexto, o surgimento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a criação da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP) marcaram o ensino e a pesquisa de temas econômicos e administrativos no Brasil, contribuindo para o processo de desenvolvimento econômico do país. A FGV representa a primeira instituição que estabeleceu o ensino de administração. Sua origem remonta à criação do Departamento de Administração do Serviço Público (DASP), em 1938, por meio do Decreto nº 6.933. Já em 1952, surge a Escola Brasileira de Administração Pública (EBAP), pela Fundação Getúlio Vargas (CFA, 2014). Logo após, em 1954, ocorre a criação da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP) e, com ela,surge o primeiro currículo especializado em Administração, que influenciou, de alguma forma, o movimento posterior nas instituições de ensino superior do país (CFA, 2014). Em 8 de julho de 1966, o Conselho Federal de Educação fixou o primeiro currículo mínimo do curso de Administração, através do Parecer nº 307/66. Tal currículo procurou agrupar matérias de cultura geral, objetivando o conhecimento sistemático dos fatos e condições institucionais em que se inseria o fenômeno administrativo; também matérias instrumentais, oferecendo os modelos e técnicas de natureza conceitual ou operacional, além de matérias de formação profissional (CFA, 2014). Todos esses fatos foram dando forma ao ser e fazer do administrador no Brasil. 1.1.2 O papel do administrador Inicialmente, pode-se entender o papel do administrador como o responsável por planejar, estruturar e conduzir relações entre a empresa e os colaboradores. Ele também pode atuar no controle logístico, de produtos acabados e sua chegada ao consumidor final, bem como dos estoques de matéria-prima e insumos, gerenciando os processos de compra. Ou ainda no setor financeiro, operando nas áreas de custos, orçamentos e fluxo de caixa. Outra função que pode exercer está relacionada ao marketing, à concepção, ao desenvolvimento, à promoção e distribuição de produtos. Por fim, seu papel pode estar diluído entre todas essas funções e/ou relacionado, por exemplo, à tecnologia da informação, à responsabilidade socioambiental, à gestão de organizações sem fins lucrativos, à gestão hospitalar. Assim, o administrador exerce importante papel em diferentes setores da sociedade. Segundo o Conselho Federal de Administração (CFA), é possível destacar atividades do administrador ligadas ao setor público, privado, recursos humanos, terceiro setor, agronegócio, comércio exterior, perícia, auditoria, empreendedorismo, meio ambiente, logística,sistemas de informação etc., atuando sempre com a finalidade de alcançar os propósitos das organizações. O papel do administrador está ligado ao fazer acontecer por meio da tomada de decisões e do processo gerencial. Ele precisa transformar os ob jetivos das organizações em resultados concretos. Esses resultados estão relacionados tanto à organização da qual participa, da qual faz parte ou assessora quanto aos colaboradores dessa organização e ato da sociedade. Segundo Lacombe e Heilborn (2003), uma das principais virtudes do administrador é saber tomar decisões com base na análise das vantagens e desvantagens de cada uma das alternativas. Essas decisões podem ser mais ou menos compartilhadas, podem ser alcançadas em grupos, por exemplo, mas estarão sempre relacionadas às pessoas da organização. Portanto, o papel do administrador depende sempre de terceiros, da equipe que ele coordena e/ou supervisiona, da equipe com a qual ele constrói todo o processo administrativo e que é responsável por concretizar as ações. Assim, pode-se dizer que a tarefa de administrar significa interpretar os propósitos da organização e transformá-los em ação organizacional por meio de planejamento, direção e controle de todos os esforços realizados em todas as áreas e em todos os níveis de organização, a fim de concretizar tais objetivos da maneira mais adequada. A Administração é, portanto, o processo de planejar, organizar, dirigir e controlar o uso de recursos a fim de alcançar objetivos (CHIAVENATO, 1999). Cabe ao administrador, em sua atuação por meio das pessoas, buscar sinergia, ou seja, conforme destaca Drucker (2002), o administrador deve ser empreendedor e capaz de criar resultados maiores que a soma das suas partes; isso significa produzir mais que a soma dos recursos utilizados. Desse modo, o administrador agrega valor à organização em que atua e ao seu próprio fazer, à sua atuação profissional e, porque não, pessoal. Por exemplo, quando um administrador planeja, desenvolve e disponibiliza um produto ou serviço a determinado público, espera-se que o resultado gerado, agregado por esse produto ou serviço à organização, seja maior que a soma do custo de todos os recursos empenhados nesse produto ou serviço. Percebe-se, pois, que o papel do administrador é concretizar propósitos, fazer acontecer. Sua atividade é prática, mas está sempre vinculada a uma atividade intelectual. Em sua atuação, o administrador pode assumir um papel de gerência mais funcional ou de gerência geral. O gerente funcional está relacionado a um grupo de trabalho segmentado de acordo com a sua função. É o caso, por exemplo, do gerente de marketing, ou de um gerente de logística, dentro de uma empresa. O gerente geral responde por diferentes departamentos. É, para exemplificar, o gerente de um supermercado. Enquanto o gerente funcional tem seu forte em habilidades técnicas, mais focadas, o gerente geral tem mais habilidades de comunicação, maior visão sistêmica (CARAVANTES; PANNO; KLOECKNER, 2005). O gerente de uma concessionária de veículos não terá a mesma habilitação técnica do gerente de manutenção no que diz respeito à manutenção de veículos, por exemplo. O papel do administrador também pode ser desempenhado em diferentes níveis organizacionais. Podem ser identificados três níveis principais de gerentes: de primeira linha, de nível médio e de alto nível (Caravantes; Panno; Kloeckner, 2005). De acordo com cada um desses níveis, há a exigência de diferentes habilidades, além daquelas comuns a todos os administradores, que envolvem habilidades em planejar, organizar, liderar/dirigir e controlar. O gerente de primeira linha atua em um nível mais operacional, estando lado a lado com sua equipe, seus subordinados. É, por exemplo, um supervisor de produção. Já o gerente de nível médio faz a ligação entre os grupos dos gerentes de primeira linha. Assim como o gerente de primeira linha, a atuação do gerente de nível médio ocorre mais no âmbito interno da organização. O gerente de alto nível é aquele que tem sob sua responsabilidade o direcionamento estratégico da organização. Em geral, é conhecido como diretor ou executivo. Percebe-se, portanto, que a atuação do administrador pode ocorrer no nível operacional, tático e/ou estratégico. O primeiro, diz respeito à gestão das tarefas, das operações do dia a dia da organização. O segundo, refere-se à gestão de toda uma área ou departamento da organização, envolvendo todas as operações dessa área. Já o nível estratégico está relacionado a toda a organização, e esses três níveis devem ter forte interação entre si nas organizações, independentemente da área em queatuam. De acordo com o nível e o foco de atuação do administrador, será exigido dele um perfil diferenciado, com ênfase em diferentes habilidades. Esse perfil é discutido a seguir. 1.1.3 Perfil do administrador Como destacado até aqui, a atuação do administrador acontece de acordo com os diferentes níveis e enfoques organizacionais, e relaciona- se diretamente ao fazer por meio das pessoas, produzindo sinergia e, necessariamente, gerando resultados à organização e à sociedade em geral. Fica evidente que o administrador, independentemente da sua área de atuação, deve ter um perfil, uma formação generalista, agregando ainda uma ou mais especialidades. Observando os cursos de administração poder-se-á comprovar essa formação generalista, uma vez que a trajetória desses alunos perpassa diferentes áreas do conhecimento, como psicologia, sociologia, economia, direito, filosofia, antropologia, bem como conhecimentos específicos da administração e da contabilidade. O administrador precisa desenvolver um perfil capaz de dominar um campo abrangente e, ao mesmo tempo, com profundidade. Ser generalista não significa conhecimento e atuação superficiais. É por isso que hoje uma das principais competências exigidas de um administrador é a capacidade de aprender a aprender sempre. Essa aprendizagem não acontece somente em escolas e universidades mas também nas vivências do dia a dia, em leituras, filmes, conversas e, principalmente, no próprio trabalho (LACOMBE; HEILBORN, 2003). O perfil generalista é comum a todos os administradores. Porém, é muito difícil estabelecer um perfil único, suficientemente abrangente, necessário a todos os administradores,ou seja, as qualificações do perfil profissional do administrador variam muito. Para fins de sistematização e estudo, diferentes autores,como Katz (1974), Lacombe e Heilborn (2003) e Maximiano (2008), dividem as aptidões necessárias ao administrador em três habilitações básicas: técnica, humana e comportamental. A habilitação técnica diz respeito a um perfil de conhecimento especializado. Segundo Lacombe e Heilborn (2003), envolve a compreensão e o domínio de determinado tipo de atividade. Compreende,ainda, a habilidade analítica dentro de determinada especialidade e no uso de técnicas e ferramentas específicas dessa especialidade. Geralmente, a habilidade técnica é adquirida da experiência, da educação e do treinamento profissional. Também denominada capacidade gerencial, o que se designou como habilidade humana, tem relação com a capacidade do administrador em atuar em grupos, fomentando e construindo neles sinergia, alcançando os resultados esperados, os objetivos específicos. Por fim, a habilidade conceitual relaciona-se à visão complexo- sistêmica do administrador, à sua capacidade de perceber a organização como um conjunto de processos interdependentes e perceber ainda que ela se insere no contexto social, sendo por ele influenciado e influenciando-o. Essa habilidade mostra que, no perfil do administrador, deve estar presente a capacidade de compreender e atuar em situações complexas, com visão sistêmica. De acordo com o nível organizacional em que o administrador atua, ele terá necessidade de desenvolver e utilizar de forma mais intensa uma ou outra dessas habilidades mencionadas, conforme pode ser visto na Figura 1. Figura 1 – Habilidades do administrador e níveis de atuação. Fonte: Carav antes; Panno; Kloeckner (2005, p. 394). Deve-se ressaltar que essa divisão entre níveis de atuação e habilidades do administrador se aplica para síntese e estudo, porém, com a atuação cada vez mais complexa e sistêmica dos diferentes profissionais, inclusive dos administradores, essas habilidades são exigidas conjuntamente, e de forma mais intensa, em todos os níveis. O administrador precisa: saber fazer (técnica); entender porque faz e como poderia fazer diferente – as possibilidades estratégicas (conceitual) e; conseguir mobilizar, supervisionar, coordenar e motivar pessoas (humana). Nesse mesmo sentido, são exigidos do perfil do administrador, de maneira integrada, o desenvolvimento e a utilização de competências intelectuais, interpessoais, técnicas e intrapessoais (MAXIMIANO, 2008). As competências intelectuais permitem ao administrador diagnosticar e levantar informações, bem como interpretá-las, construindo conceitos, analisando, definindo estratégias e tomando decisões. Envolve tanto o pensar conceitual como o pensar racional. Já as competências interpessoais são muito utilizadas no gerenciamento de equipes, na aceitação das diferenças, da multiculturalidade que permeia as organizações. São as competências que permitem a comunicação e o exercício da liderança. A competência técnica, já referida anteriormente, diz respeito ao conhecimento da atividade em si. Por exemplo, se o administrador atua em uma concessionária de veículos, é relativa ao conhecimento que ele tem desse segmento de atuação. Elas são diretamente influenciadas pelo avanço de tecnologias e técnicas em cada um dos ramos de atividade. Por fim, as competências intrapessoais dizem respeito à compreensão que o administrador precisa ter de si mesmo e da sua atuação. Ele deve conhecer a si mesmo, o seu cargo, as atribuições e impacto da sua atuação em relação à organização, bem como a capacidade de analisar o comportamento alheio e, essencialmente, a capacidade de se autodesenvolver, de aprender sempre. Neste item 3.1destaca-se o perfil do administrador para cada uma das principais áreas de atuação. Aqui, de maneira a ilustrar algumas características comuns ao perfil do administrador, independentemente do seu enfoque de atuação, apresenta-se o Quadro 4 e, na sua sequência, as competências previstas para o bacharel em Administração. Quadro 4 – Perfil do graduando de Administração Perfil do graduando de Administração segundo o Ministério da Educação (MEC) 1. Internacionalização de valores de responsabilidade social, justiça e ética profissional. 2. Formação humanística e visão global que o habilite a compreender o meio social, político, econômico e cultural no qual está inserido e a tomar decisões em um mundo diversificado e interdependente. 3. Formação técnica e científica para atuar na administração das organizações, além de desenvolver atividades específicas da prática profissional em consonância com as demandas mundiais, nacionais e regionais. 4. Competências para empreender, analisando criticamente as organizações, antecipando e promovendo suas transformações. 5. Capacidade de atuar em equipes multidisciplinares. 6. Capacidade de compreensão da necessidade do contínuo aperfeiçoamento profissional e do desenvolvimento da autoconfiança. Fonte: MEC apud Lacombe e Heilborn (2003). Além disso, segundo as Diretrizes Curriculares para o Curso de Administração do Ministério da Educação do Brasil, o bacharel em Administração deve desenvolver, pelo menos, as seguintes competências e habilidades: a. reconhecer e definir problemas, equacionar soluções, pensar estrategicamente, introduzir modificações no processo produtivo, atuar preventivamente, transferir e generalizar conhecimentos e exercer, em diferentes graus de complexidade, o processo da tomada de decisão; b. desenvolver expressão e comunicação compatíveis com o exercício profissional, inclusive nos processos de negociação e nas comunicações interpessoais ou intergrupais; c. refletir e atuar criticamente sobre a esfera da produção, compreendendo sua posição e função na estrutura produtiva sob seu controle e gerenciamento; d. desenvolver raciocínio lógico, crítico e analítico para operar com valores e formulações matemáticas presentes nas relações formais e causais entre fenômenos produtivos, administrativos e de controle, expressando-se de modo crítico e criativo diante dos diferentes contextos organizacionais e sociais; e. ter iniciativa, criatividade, determinação, vontade política e administrativa, vontade de aprender, abertura às mudanças e consciência da qualidade e das implicações éticas do seu exercício profissional;f. desenvolver capacidade de transferir conhecimentos da vida e da experiência cotidianas para o ambiente de trabalho e do seu campo de atuação profissional, em diferentes modelos organizacionais, revelando-se profissional adaptável; g. desenvolver capacidade para elaborar, implementar e consolidar projetos em organizações; e h. desenvolver capacidade para realizar consultoria em gestão e administração, pareceres e perícias administrativas, gerenciais, organizacionais, estratégicos e operacionais. Para além do que foi destacado, ressalta-se que diante do cenário global, mutável e dinâmico atual, o perfil do administrador perpassa a capacidade de aprender a aprender sempre, a capacidade de atuar em rede, a flexibilidade e aceitação da multiculturalidade, o raciocínio complexo, lógico e a facilidade de assimilar/utilizar tecnologias da informação. Cabe enfatizar que o perfil do administrador, assim como o ser e fazer desse profissional e da administração tem se modificado ao longo dos anos, acompanhado e influenciando transformações do cenário social, ou seja, as principais mudanças da sociedade e, consequentemente, das organizações. As influências dessas transformações no ser e fazer do administrador e no seu perfil são exploradas a seguir. Síntese da Aprendizagem – A administração e o papel do administrador: algumas considerações Quadro 5 – Síntese da aprendizagem – A administração e o papel do administrador: algumas considerações Tópico Síntese Administração e trajetória profissional Compreender o que é a administração e o ser e fazer do administrador é fundamental para poder refletir acerca da construção de trajetórias profissionais nessa área. Administração e as organizações Não há como entender a administração sem definir as organizações. Elas articulam pessoas, estrutura e tecnologia, no sentido de realizar um ou mais propósitos. Administração e as organizações As diferentes organizações (públicas, privadas, com ou sem fins lucrativos, pequenas, médias ou grandes etc.) constituem-se em espaços de atuação do administrador. Transformações no ser e fazer do administrador Estas organizações modificam-se ao longo dos anos, acompanhando transformações da sociedade, o que afeta e modifica o ser e fazer do administrador. O que é administrar? A administração envolve eficiência, eficácia, efetividade, no sentido de concretizar propósitos organizacionais, transformando-os em resultados para a organização e para toda a sociedade. O que é administrar? Administrar é realizar com e por meio de pessoas. É uma atividade prática, mas que envolve permanente atividade intelectual, reflexiva. Papel do administrador A atuação do administrador envolve a tomada de decisões e a produção de sinergia em todas as etapas do processo administrativo: planejar, organizar, liderar/dirigir e controlar, motivando e desenvolvendo pessoas e equipes. Papel do administrador O administrador, utilizando-se de competências e habilidades técnica, humana e comportamental precisa ser capaz de mobilizar estrutura, tecnologia e pessoas, para atingir objetivos organizacionais, sociais e individuais. Perfil do administrador O perfil do administrador acaba variando de acordo com seu nível e enfoque de atuação, mas é um profissional generalista, de atitude empreendedora, prática e reflexiva. Perfil do administrador O perfil do administrador passa ainda pela capacidade de aprender a aprender sempre, pela capacidade de atuar em rede, pela flexibilidade e aceitação da multiculturalidade, pela capacidade de elaborar, implementar e consolidar projetos em organizações, pelo raciocínio complexo, lógico e pela facilidade de assimilar/utilizar tecnologias da informação. Fonte: elaborado pelo autor. Para saber mais sobre: - A profissão administrador: ver http://www.cfa.org.br - A formação em administração: ver http://portal.mec.gov.br - O processo administrativo e as organizações: ver MAXIMIANO, A. C. A. Introdução à administração. - O perfil do profissional administrador e suas habilidades/competências: ver LACOMBE, F.; HEILBORN, G.Administração:princípios e tendências. - Outras questões relevantes a respeito do perfil do administrador: ver FREITAS. A. A execução da empregabilidade. HSM Management Update nº 31 – Abril 2006. Questões sugeridas para reflexão/exercícios: a. O que é administração? b. Qual a relação da administração com as organizações e a sociedade? c. Ser administrador é ser generalista? É atuar com visão sistêmica? O que isso significa? d. Quais os aspectos mais relevantes do perfil do administrador? Descreva-os. 1.2 O cenário organizacional e suas influências no ser e fazer do administrador Neste capítulo, o objetivo é compreender as influências que o http://www.cfa.org.br http://portal.mec.gov.br ambiente organizacional exerce sobre a atuação das organizações e do administrador, percebendo a importância de buscar compreender e/ou projetar o cenário organizacional para planejar a trajetória profissional do administrador. Ou seja, não há como pensar a profissão administrador, uma carreira nessa área, sem compreender o cenário organizacional e suas diferentes variáveis. Ao perceber as organizações como sistemas abertos, ou seja, como mergulhadas em um ambiente que recebe suas influências, mas principalmente, que as influencia de maneira decisiva, como já mostraram diferentes teorias da administração, tais como a teoria sistêmica, a teoria contingencial, dentre outras, fica evidenciada a necessidade de pensar o cenário organizacional e seu ambiente, para poder compreender o ser e fazer dos administradores e, mais do que isso, buscar projetar cenários e suas influências sobre as carreiras desses profissionais. Essa visão da empresa, da organização como um sistema e, portanto, a necessidade de visualizá-lo para pensar as organizações e seus administradores, é ilustrada na Figura 2. Figura 2 – A organização como sistema. Fonte: Carav antes; Panno; Kloeckner (2005, p. 150). Percebe-se que toda organização é influenciada pelas entradas que recebe do ambiente em que está inserida, processa-as e devolve ao ambiente, produtos e serviços. Nesse processamento, pode e deve realizar o feedback, ou seja, perceber se sua atuação está de acordo com os propósitos organizacionais, com aquilo que é esperado de resultado. Esse processo pode ser compreendido na Figura 3. Figura 3 – Processo de atuação da organização sistêmica. Fonte: elaborada pelo autor. Não é objetivo aqui aprofundar esse entendimento das organizações como sistemas, mas sim perceber a influência do ambiente em relação aos administradores e organizações. A atuação da organização está mergulhada em determinado ambiente, que é variável e pode ser dividido, principalmente, em ambiente geral e específico (CARAVANTES; PANNO; KLOECKNER, 2005). O ambiente geral é aquele que, mesmo mais distante e genérico em relação à organização e sua atuação, pode eventualmente influenciá-la e, consequentemente, influenciar a atuação dos seus administradores. Já o ambiente específico diz respeito àqueles fatores do ambiente que influenciam diretamente a atuação da organização. Assim, um frigorífico que tem na carne bovina seu produto principal, deveria estar atento para a questão ambiental, a preservação do meio ambiente, pois mesmo esse fator estando no que se denomina ambiente geral, ou seja, mesmo essa questão parecendo não afetar diretamente o negócio da organização, ela pode ter um impacto significativo, tendo em vista que a criação bovina de corte tem prejudicado o meio ambiente Portanto, é um fator do ambiente geral que tem afetado essas organizações. No ambiente denominado específico, esse frigorífico terá influência dos seus concorrentes, da legislação de importação e exportação, com a possibilidade de entrada e saída da carne do país, das condições climáticas que aumentam ou diminuem a disponibilidade de alimentação para o gado, fazendo com que suba ou de cresça o preço de produção do quilo da carne, dentre outros aspectos que influenciamdiretamente esse ramo de atuação. Além do ambiente externo, anteriormente mencionado, o cenário organizacional interno também influencia a atuação da organização e, por consequência, a atuação do profissional administrador. A seguir, são trabalhadas as principais dimensões dos ambientes externo e interno das organizações, que influenciam o cotidiano dos administradores. 1.2.1 Cenário organizacional: ambientes interno e externo e a questão dos paradigmas Conforme destacado anteriormente, o cenário em que a organização está inserida e que o administrador precisa considerar quando da sua atuação presente ou projeção da atuação futura, projeção da sua carreira, é composto de um ambiente interno e outro externo. Também chamado de microambiente, o ambiente interno diz respeito a algumas dimensões, algumas variáveis sobre as quais as organizações têm maior controle e/ou influência. O ambiente externo, também chamado de macroambiente, se divide em diferentes dimensões, com fatores sobre os quais as organizações têm pouca influência e/ou praticamente nenhum controle. Esses dois ambientes e seus componentes podem ser verificados na Figura 4. Figura 4 – Cenário organizacional: ambientes interno e externo. Fonte: elaborada pelo autor. No ambiente interno da organização – microambiente –, têm-se variáveis como a tecnologia da organização, os colaboradores, o clima organizacional, a cultura da empresa. São todas variáveis que a empresa não domina plenamente, mas sobre as quais tem maior controle. São exemplos de fatores do ambiente interno o fato de a empresa ter ou não tecnologia de ponta, ter colaboradores com maior ou menor capacitação, além das condições de trabalho determinadas pelo ambiente físico (iluminação, ergonomia, ventilação, layout etc.) e as questões de relacionamento entre colaboradores. A análise do ambiente organizacional interno permite avaliar as potencialidades e deficiências da organização, ou seja, seus pontos fortes e fracos no que diz respeito aos seus objetivos, à sua posição no mercado, ao seu posicionamento para com a sociedade em geral. Para isso, faz-se a análise de diferentes variáveis ambientais internas, citadas acima e complementadas por Sobral e Peci (2008) com outros aspectos: a. Aspectos do pessoal: práticas de recrutamento; sistema de avaliação de desempenho e possibilidades de carreira; rotatividade e absenteísmo; programas de treinamento e desenvolvimento. b. Aspectos de produção e logística: relações com fornecedores e possibilidades de aquisição da matéria-prima; gestão de estoques; layout da organização e tecnologias de produção. c. Aspectos de marketing: posicionamento e consolidação da marca; estratégia do produto, preço, promoção e distribuição; portfólio de produtos. d. Aspectos financeiros: equilíbrio do fluxo de caixa; liquidez organizacional; capacidade e oportunidades de investimentos; lucratividade. e. Aspectos organizacionais: estrutura da organização; competências organizacionais e administrativas; rede de comunicação. Lembre-se que, para ter êxito, uma organização precisa ter todos esses aspectos bem ajustados; onde um deles não o estiver, poderá prejudicar a organização como um todo, afetando as outras dimensões. Também vai depender de uma boa análise do ambiente externo. O ambiente externo – macroambiente – é composto de variáveis ambientais, legais, culturais, econômicas, tecnológicas, sociais, dentre outras. Pode-se dividi-lo em ambiente contextual, a parte do ambiente que tem repercussões importantes para a organização, mas na qual ela tem influência limitada; e ambiente transacional, a parte do ambiente da qual a organização é um participante significativo, influenciando-o e sendo por ele influenciada (HEIJDEN, 2009). De maneira mais geral, o ambiente externo – macroambiente – é o entorno que envolve a organização e pode ser dividido em fatores que interagem entre si, ou seja, que atuam conjuntamente, mas que,para efeito de sistematização, de diagnóstico, podem ser colocados em diferentes dimensões. São elas: a. Ambientais: questões relacionadas com o meio ambiente, com uma sociedade sustentável que afetam cada vez mais as organizações, como a utilização de tecnologias limpas – não poluentes, a troca de recursos utilizados e que são não renováveis, como o petróleo, por energias alternativas,como o biocombustível, bem como toda a busca pelo desenvolvimento sustentável e produtos sustentáveis, a preservação dos recursos hídricos, da fauna e flora, dentre outros aspectos. b. Sociais: questões relacionadas aos paradigmas sociais que afetam as organizações, como a média de idade da população que, no Brasil, é cada vez maior, a emancipação da mulher que participa cada vez mais do mercado de trabalho e dita padrões de consumo e de vida também, a criação de necessidades como a do telefone móvel, da Internet, a entrada mais tardia no mercado de trabalho, dentre outras. c. Culturais: conforme mudam os paradigmas culturais da sociedade, essas mudanças afetam os cenários organizacionais, o cenário onde organizações e gestores estão inseridos. Exemplos dessas influências são a cultura da busca pela saúde que gerou a alimentação saudável e todo o mercado que essa preocupação criou, a cultura da preservação ambiental, a quebra de paradigmas culturais em diferentes questões, como, por exemplo, a compra por meio eletrônico, sem ver o produto a ser adquirido, as relações homo afetivas e os produtos e serviços voltados para tais, dentre outras. d. Econômicas: o valor da renda média do público-alvo do produto/serviço, o aumento da taxa de emprego que gera maior consumo, a quantidade de crédito no mercado, as taxas de juro, o nível de endividamento e acesso a crédito, dentre outros, são exemplos de fatores econômicos que afetam os cenários organizacionais. e. Legais e políticas: o conjunto de leis e regulamentações estabelecidos são dimensões legais e políticas que afetam questões relacionadas à tributação das organizações, as regras de comercialização, de produção, de relação com os colaboradores, atingindo diretamente os cenários organizacionais. Por exemplo, a mudança da legislação tributária de pequenas empresas ou as isenções fiscais dadas para determinados produtos e/ou serviços, que são decisões políticas e legais. f. Tecnológicas: as novas tecnologias desenvolvidas a cada dia podem ser oportunidades ou ameaças para as organizações, pois podem aproximá-las do seu público-alvo, permitir produtos mais personalizados, tornando-se vantagens competitivas tanto para si como para algum concorrente. Além disso, por vezes, a mudança tecnológica torna algum ou alguns produtos e serviços obsoletos, como é o caso das máquinas de escrever depois do surgimento dos pequenos computadores e impressoras. Destaca-se que não é escolha e sim necessidade das organizações e dos administradores, acompanharem a evolução das novas tecnologias. É o caso, por exemplo, das tecnologias de comunicação on-line, que permitem trabalhar em grupo, em equipes e gerenciar organizações mesmo a distância, afetando a atuação dos administradores. g. Demográficas: a distribuição da população, formando regiões mais ou menos populosas, a sua média de idade, seu nível de escolaridade, dentre outros fatores que, geralmente, se relacionam com a localização da organização, estão ligados a questões demográficas que atingem os cenários organizacionais. A concentração em grandes metrópoles, por exemplo, tem desafiado a logística de produtos e serviços e o acesso à mão de obra. Cabe destacar que não há como dizer que um fator é mais importante que o outro nem que a maioria das transformações no cenário organizacional passa por estes ou aqueles fatores. Aliás, eles operam de forma conjunta, pois, por exemplo, quando se pensa a formação de blocos econômicos entre os países, tem-se uma mudança de ambiente e cenário que perpassa a dimensão demográfica, econômica, legal, cultural e, inclusive,social. O mesmo ocorre com a forma de atuação em rede das empresas e das pessoas, que conseguemagir de forma integrada, mesmo estando distantes, graças a mudanças tecnológicas relacionadas à tecnologia da informação e de comunicação, mas que acabam afetando todas as demais dimensões, uma vez que há a integração de diferentes culturas, a superação das fronteiras geográficas, a facilitação do deslocamento de recursos financeiros de um local para outro do mundo etc. Portanto, para compreender a influência do ambiente externo nas organizações e na atuação do administrador, o importante é pensá-lo no conjunto. Mais do que isso, precisa-se perceber também que esse cenário é global, mutável, dinâmico e competitivo, ou seja, que o conjunto dos fatores citados formam um contexto que muda constantemente. Heráclito (350, a.C.), filósofo sofista, já afirmava que a única coisa certa é a mudança. Drucker (1995) reafirma essa constatação, expressando que o mundo muda desde que é mundo. Talvez o que venha ocorrendo ao longo do tempo é que esse cenário muda de forma cada vez mais rápida e intensa e é quase totalmente globalizado, o que gera oportunidades de atuação em diferentes partes do mundo para as organizações e administradores, mas também é o que torna a concorrência algo global, de modo a formar um cenário altamente competitivo. Hoje, pequenas ou grandes empresas, profissionais em início ou final de carreira, podem sofrer a influência de mudanças que ocorrem longe do seu local de atuação. Pode-se citar como exemplo a crise financeira do ano de 2008 e seguintes, que iniciou nos Estados Unidos (EUA) e se espalhou pelo mundo todo, afetando organizações e profissionais de diferentes partes do Globo. A análise do ambiente externo permite aos administradores e suas organizações identificar ameaças e oportunidades presentes no ambiente externo à organização e as formas como se podem mitigar essas ameaças e potencializar e usufruir das oportunidades. Dessa forma, pode- se dizer que as oportunidades representam forças ambientais que, ao mesmo tempo em que não são controladas pela organização, podem favorecer a sua ação estratégica, desde que conhecidas e aproveitadas satisfatoriamente. As ameaças são forças ambientais incontroláveis pela organização, que criam obstáculos à sua ação estratégica, mas que poderão ou não ser evitados desde que conhecidas em tempo hábil. Para o administrador poder trabalhar nesse contexto global e mutável, tomando decisões, concretizando propósitos e atuando com visão sistêmica, é necessário que ele consiga compreender diferentes cenários, obtendo efetividade como profissional e agregando valor para a organização. Ele precisa compreender a mutabilidade, a tendência de mudanças constantes do cenário. Para isso, ele não deve se apegar demasiadamente aos seus paradigmas, aos seus modelos mentais, o que não significa falta de convicção. Ele deve ter suas convicções, seus paradigmas, mas não tratá- los como verdades únicas e eternas. Aqui se está, então, diante da questão dos paradigmas. Olhar o mundo com seus olhos, mas abertos a outras visões, diante do cenário anteriormente apresentado, é fundamental para o desempenho do profissional administrador. O que é relevante hoje pode não ser amanhã. Formular estratégias é, na realidade, pensar como se pode intervir no movimento do processo evolucionário, no qual as organizações e os administradores estão envolvidos, de maneira a sobreviver e se autodesenvolver. Isso tudo em um contexto de irredutível incerteza e interpretação humana/social, em que intuição, criatividade e comunicação são tão importantes como a reflexão racional (HEIJDEN, 2009). Nesse sentido, é fundamental entender o que são paradigmas. Paradigmas são modelos mentais que a pessoa desenvolve, ou seja, imagens profundamente arraigadas de como o mundo funciona, limitando a maneira de pensar e agir dos indivíduos (SENGE, 1990). Modelos mentais são as interpretações, esquematizações, crenças e pontos de vista que um indivíduo tem a respeito de um fenômeno ou assunto (KIM, 1998). É importante que os modelos mentais dos administradores não os impeçam de perceber as mudanças e o que ocorre no cenário organizacional, tanto interno como externo. Esse entendimento é fundamental para que eles possam entender o mercado, o ser e fazer do administrador e, consequentemente, planejar e colocar em prática os propósitos das organizações, bem como a sua própria carreira. Olhar para esse cenário com diferentes olhares, a partir de diferentes perspectivas, permite ao administrador perceber o quanto a sua atuação tem se transformado ao longo do tempo, o quanto administrar hoje é muito diferente do que foi há alguns anos, percebendo mudanças no cenário organizacional que transformaram e vêm transformando o fazer dos administradores. 1.2.2 Algumas mudanças no cenário organizacional e as transformações do ser e fazer do administrador Se conhecemos o inimigo (ambiente externo) e a nós mesmos (ambiente interno), não precisamos temer o resultado de uma centena de combates. Se nos conhecemos, mas não ao inimigo, para cada vitória sofreremos uma derrota. Se não nos conhecemos e nem ao inimigo, sucumbiremos em todas as batalhas (SUN TSU, 2007). Com esta frase, pode-se perceber a relação relevante que existe entre o cenário interno e externo e o sucesso da atuação das organizações e do administrador. Não há como pensar a prática exitosa de um administrador se ele não for capaz de compreender, de diagnosticar essas duas dimensões do cenário e suas transformações, pois estas dão diferentes enfoques à atuação do administrador. Ao longo dos anos, muitas mudanças ressignificaram a forma de ser e fazer dos administradores. Essas mudanças podem ser percebidas numa concepção mais geral, em fatos como a passagem de uma sociedade agrária para uma sociedade industrial e, depois, pós-industrial, numa perspectiva de sociedade do conhecimento, de sociedade do imaterial. E, nesse contexto, passou-se de um paradigma de trabalho artesanal, de subsistência, para um paradigma mecanicista e padronizado, dentro de enormes unidades fabris e, por fim, de pequenas, médias e grandes unidades de trabalho, atuando em rede, de maneira imaterial, em que o produto em si não tem, no seu escopo físico,seu maior valor, mas sim na sua potencialidade, nas experiências materiais que gera, para além das necessidades que atende. Segundo Fonseca (1997),pode-se identificar três forças poderosas agindo nesse processo: primeiro, a terceira revolução tecnológica com os avanços desde a difusão e transmissão da informação até as inovações da engenharia genética; segundo, a formação de áreas de livre comércio e dos blocos econômicos; e terceiro, a crescente interligação e interdependência dos mercados físicos e financeiros em uma escala planetária. A passagem acima especificada, as mudanças exemplificadas, somadas a muitas outras, transformaram a atuação e o perfil exigido do administrador. As relações cada vez mais horizontais, o “fazer com” e não simplesmente mandar fazer, o trabalho de acompanhamento e não de chefia, a necessidade de dominar tecnologias, de pensar a globalização, que talvez não fossem muito valorizados nas grandes fábricas, da era industrial, por exemplo, são fatores fundamentais para o desempenho do administrador hoje. Além dessas transformações mais gerais, outras mais específicas, mas não de menor importância, alteraram o ser e fazer do administrador. Podem-se citar como exemplos: a. A quantidade cada vez maior de conhecimentos, que dobrava a cada década até 1970 e que na década de 1980 quadruplicou e na década de 1990 multiplicou por dez. Segundo o jornal Estado de São Paulo, em seis de maio de 2001, o conhecimento produzido em dois anos foi maior que o de toda a história da humanidade. Mais do que isso, no mesmo período,somente 0,003% da informação mundial se apresenta de forma impressa. E o que fazer? Como lidar com esse volume de novos conhecimentos, técnicas, saberes? Onde buscá-los? Como filtrar tudo isso? Quais são as novas competências necessárias para atuar nesse contexto de altos volumes de informaçõese conhecimentos? Por trás desse paradigma está a necessidade de constante desenvolvimento pessoal e profissional, da constante inovação, por parte do administrador, dos outros profissionais e das organizações em geral, buscando-se sempre profissionais e organizações apreendentes. b. O valor do capital intangível passa a ser maior que o valor do capital tangível. Fatores imateriais como marca, patente, licenças, ambiente de trabalho, relacionamento com clientes, processo decisório compartilhado, trabalho imaterial etc., agregam maior valor aos produtos e serviços das organizações, o que exigiu uma readequação do foco da atuação do administrador e fez emergir, por exemplo, investimento sem qualidade de vida no trabalho e gestão da diversidade, responsabilidade social, imagem interna e externa da organização, equipes de trabalho autônomas, empowerment. c. As tecnologias de comunicação são cada vez mais variadas e mais efetivas, possibilitando trocas de informações em tempo real, mais rápidas, globalizando não só o mercado no tocante à comercialização, mas tornando global todo o processo produtivo e de consumo. O modo de vida produzido pelo capitalismo atual é globalizado. d. A expectativa média de vida tem crescido constantemente, obrigando as organizações a pensarem o perfil desse público- alvo que vive mais e busca melhores condições de vida, o que causa alguns conflitos de gerações dentro das organizações e obriga empresas e profissionais a pensarem carreiras alternativas para diferentes momentos da vida, a pensar produtos e serviços para faixas etárias diferenciadas, dentre outros. e. Além disso, a vida útil das profissões é cada vez menor, o que faz as pessoas, vivendo mais tempo, terem de trocar mais vezes de profissão e/ou de organização, pois o tempo médio de permanência em uma mesma empresa também tem diminuído. Assim, têm-se carreiras não contínuas, fragmentadas e um profissional que precisa estar apto a começar de novo, várias vezes ao longo do seu percurso profissional, bem como empresas que montam e remontam equipes, quase continuadamente. f. Pode-se falar ainda da revolução tecnológica, da elevação do nível de educação, mais e mais pessoas buscam a formação superior e a formação continuada, o que exige mais das organizações e de seus gestores. Destaca-se também a pequena vida útil das capacidades e dos produtos. Uma capacidade que é valorizada hoje pode perder valor daqui a pouco tempo, ou se tornar básica e não diferencial, como, por exemplo a utilização de recursos básicos de informática. O mesmo ocorre com os produtos e até mesmo serviços, que são rapidamente substituídos. g. O esgotamento ambiental obriga a humanidade e suas organizações a repensarem a sustentabilidade do seu modo de produção e consumo e trazem uma onda de sustentabilidade à atuação das organizações, que ora ocorre de maneira efetiva e outras vezes é apenas utilizada como oportunidade de negócio. Poder-se-iam citar outras mudanças, mas essas já demonstram como o cenário organizacional tem se transformado e influenciado o que se entendia e o que se entende por administração hoje, que será diferente amanhã, e que muda o perfil e a ação do administrador. Diante dessas mudanças, pode-se afirmar que a concepção da administração foi alterada e, com ela, a atuação do administrador. Ela precisa não mais estar centrada em gerência e comando, mas ser muito mais liderança, coaching e mentoring. Mais do que isso, precisa entrelaçar os desejos dos clientes com os objetivos da organização e dos seus colaboradores e, por isso, a flexibilidade organizacional e dos seus profissionais torna-se indispensável. Os colaboradores precisam não ser mais vistos como recursos, como matérias-primas, mas serem percebidos como fator de valor intangível, questão fundamental para a agregação de resultados das organizações atualmente. Entender as pessoas como talentos, gerenciar competências organizacionais e individuais, torna-se necessidade premente à gestão. Finalmente, entender que o gestor precisa ser mais do que gerente, precisa ter liderança não no sentido de comandar nem apenas de influenciar, mas de trabalhar em conjunto, de ser capaz de interagir, de construir sinergia, alavancando talentos. Em outras palavras, a administração precisa se preocupar não apenas com os resultados de momento, com o êxito organizacional atual, e sim com o desenvolvimento de uma aprendizagem organizacional, que perpasse toda a empresa, pois dependerá disso sua sobrevivência em um mercado mutável, dinâmico e globalizado. Chiavenato (2005) sintetiza essas mudanças em alguns pontos fundamentais que tratam da ressignificação da gestão e do processo de liderança, destacados no Quadro 6 e no Quadro 7. Quadro 6 – Ressignificando a gestão O que significavam as pessoas para as organizações ontem? O que significam as pessoas para as organizações hoje? Mão de obra Talento humano Execução e operação Conhecimento e expertise Comodities descartáveis Competências Custo Capital humano Fonte: adaptado pelo autor do Instituto Chiavenato. Quadro 7 – Ressignificando a liderança O que significava liderança ontem? (líder que comandava) O que significa liderança hoje? (líder que empodera, que desenvolve a equipe) Ganhar confiabilidade Trabalhar em conjunto Influenciar pessoas Interação e sinergia Direcionar esforços Alavancar talentos Alcançar objetivos organizacionais Aprendizado organizacional Fonte: adaptado pelo autor do Instituto Chiavenato. Diante do exposto, percebe-se que houve mudanças relevantes na concepção da administração, da gestão, da liderança, da participação dos colaboradores em relação à organização. A administração e, portanto, os administradores tiveram que atuar em processos de desverticalização, com estruturas e relações cada vez mais horizontais nas organizações, com mudanças estruturais nas empresas, de maneira que elas tiveram de expandir sua atuação, sem necessariamente aumentar sua estrutura, valorizando equipes presenciais e virtuais, utilizadas para a flexibilização das estruturas organizacionais. Precisaram ainda dar atenção maior ao layout material e imaterial da organização, de maneira a contribuir para a aproximação das pessoas, facilitando o processo comunicativo, bem como desmontar um paradigma de centralização e passar para o incentivo da autonomia no trabalho, desenvolvendo e empoderando pessoas e equipes, compreendendo que os processos decisórios estão presentes em toda a organização. Diante disso, o perfil do profissional administrador teve de adaptar- se a um cenário organizacional com cadeias de comando mais curtas, em que foram enxugados os níveis hierárquicos, com a administração participativa, que enfatiza equipes de trabalho, com a consolidação da economia do conhecimento e da administração virtual, por exemplo. Cada vez mais, o administrador precisa ter capacidade de aprender sempre e de atuar com foco no cliente externo e interno, foco na sociedade e, muito mais do que isso, agir com visão local e global, de maneira flexível e rápida, com equipes múltiplas e com autonomia e autocontrole das pessoas, com qualidade em todos os processos internos e nas relações externas. Outras mudanças no cenário organizacional ocorreram e continuarão ocorrendo, de maneira cada vez mais intensa e complexa. Desse modo, os administradores que conseguem perceber, analisar e antecipar transformações no ambiente conseguem interferir de forma diferenciada nesse contexto, sendo inovadores, agregando valor à organização e principalmente à sua carreira, que é o foco deste livro. Nesse contexto de mudanças exposto, para poderem pensar sua empregabilidade/trabalhabilidade, os administradores precisam identificar, analisar e projetar cenários. Existem algumas ferramentas e técnicas que podem auxiliar nesse sentido. A seguir são apresentadas brevemente duas delas,a confecção de mapas conceituais e a projeção de cenários. 1.2.3 Empregabilidade do administrador: mapa conceitual e projeção de cenários Como observado anteriormente,nos dias atuais, as transformações constantes no cenário social e organizacional refletiram-se em mudanças no mundo do trabalho e, certamente, em mudanças no que concerne à carreira do administrador. Na verdade, o principal problema e a principal oportunidade estão em lidar com a complexidade do ambiente (HEIJDEN, 2009). Esse profissional, assim como os outros, é desafiado a pensar sua empregabilidade, ou seja, pensar se possui um conjunto de conhecimentos, habilidades, comportamentos/atitudes e relações que o tornam um profissional necessário não apenas para uma, mas para toda e qualquer organização. Esse é o conceito de empregabilidade: a capacidade que o profissional e, nesse caso, o administrador, tem de obter trabalho, de se manter em estado de competência, de competitividade (FRITSCH, 2008). Para Mariano e Chagas (2014), empregabilidade é mais do que a capacidade de o indivíduo conseguir novas oportunidades de emprego, manter-se empregado e conseguir promoções. Ela pode ser definida como as ações empreendidas pelas pessoas para desenvolver habilidades e buscar conhecimentos favoráveis, com vistas a conseguir uma colocação no mercado de trabalho, seja ele formal ou informal. Essa colocação no mercado de trabalho pode ocorrer por meio de emprego, de trabalho autônomo, de empreendimento próprio, enfim, de diferentes modos. Inclusive, seria mais adequado utilizar o termo trabalhabilidade, tendo em vista que ter trabalho não é algo limitado à relação de emprego, a ter emprego. Se a empregabilidade/trabalhabilidade diz respeito à garantia de inserção profissional no mercado de trabalho, no médio e longo prazo, fica evidente que ela é influenciada pelas mudanças que ocorrem no cenário. Minarelli (1995) cita como pilares da empregabilidade a adequação profissional, as competências desenvolvidas pelo profissional, sua saúde física e mental, dentre outros aspectos. Pode-se acrescer a esses fatores a capacidade do profissional de concretizar seu autodesenvolvimento, seu planejamento de carreira e sua capacidade de ter projetos paralelos, bem como sua rede de contatos, mais precisamente o que denomina-se seu networking. Esses aspectos são trabalhados neste livro, no última parte,que trata do planejamento de carreira. Portanto, fica evidente que a empregabilidade é responsabilidade do sujeito e não da organização, ou seja, cada profissional é responsável por sua carreira e deve pensar sua projeção, diante de um mundo com os cenários em constante mudança. Conseguir interpretar, diagnosticar e projetar o ambiente atual e os possíveis cenários futuros pode resultarem diferencial competitivo aos profissionais e, por conseguinte, às organizações, sendo relevante ao planejamento de carreira dos profissionais administradores e ao planejamento das organizações. Inicia- se compreendendo os mapas conceituais para, a partir deles, analisar a projeção de cenários. 1.2.3.1 Mapa conceitual O paradigma complexo-sistêmico atual dificulta ainda mais a leitura da realidade, o diagnóstico do presente, bem como o planejamento futuro. Assim, para fazer o diagnóstico do ambiente, os mapas conceituais podem ser uma excelente ferramenta. O mapa conceitual é uma representação gráfica, semelhante a diagramas, que permite ordenarem uma sequência hierarquizada os conteúdos relativos à determinada questão ou conceito, facilitando, sistematizando e/ou ampliando o entendimento que se tem sobre essa questão/conceito (AUSUBEL, 1980). Segundo o mesmo autor, como uma ferramenta de estudo, o mapa conceitual, contribui para estabelecer as relações e inter-relações entre palavras e conceitos-chave ou categorias. Essa ferramenta, além do objetivo de facilitar o estudo e a aprendizagem, contribui para desenvolver o pensamento sistêmico-complexo, que é fundamental quando se quer compreender o contexto organizacional. O mapa conceitual permite realizar uma diferenciação progressiva e uma reconciliação integrativa de determinada questão ou conceito. A diferenciação progressiva permite que um conceito seja desdobrado em outros conceitos. Por exemplo, partindo da questão maior que é o cenário organizacional, têm-se outras questões que estão a ele relacionadas, como a dimensão econômica, social, ambiental. Em cada uma dessas dimensões, ocorrem outras questões. Assim, em relação à questão econômica, existem a taxa de juros e a valorização da moeda do país, por exemplo, ou seja, desdobra-se o conceito maior em outros de escala cada vez menor, mas não menos importantes, pois estão contidos no conceito maior. Não há como pensar o cenário organizacional, sem pensar a dimensão econômica que envolve os itens citados, como a taxa de juros e a valorização da moeda. Esses conceitos menores estão contidos no maior de cenário organizacional. Já a reconciliação integrativa permite relacionar um conceito ou fator principal, que está ramificado em outros conceitos ou fatores menores, a outro conceito ou fator principal, permitindo entender relações entre conceitos ou fatores que parecem díspares. Quando se pensa a dimensão econômica do cenário organizacional, pode-se fazer sua relação, integrando-a a outras dimensões, como, por exemplo, a dimensão ambiental, em que a ocorrência de fenômenos ambientais pode decretar prejuízos à economia de uma região, prejudicando a carreira de profissionais e/ou a atuação de empresas naquele local. É uma ligação cruzada, que indica a capacidade criativa na percepção de um elo conceitual entre dois segmentos de um mapa (Novak; Gowin, 1999). Para se construir o mapa conceitual é necessário, primeiro, ter a pergunta inicial, cuja resposta estará expressa no mapa conceitual construído. Em seguida, deve-se identificar os conceitos/fatores-chave da(s) questão(ões) estudada(s), escolhendo um conjunto de conceitos (palavras-chave) e dispondo-os aleatoriamente no espaço onde o mapa será elaborado. Depois, selecionam-se os conceitos/fatores por ordem de importância, escolhendo pares deles para estabelecer a(s) relação(ões), o que é feito por meio de linhas, com ou sem frases ou palavras de ligação. A Figura 5 mostra o início da construção de um mapa conceitual que tem como questão central compreender o contexto organizacional, ou seja, as variáveis que o compõem e suas relações. Já a Figura 6 demonstra esse mapa desenvolvido com relações entre as diferentes variáveis colocadas inicialmente. Figura 5 – Mapa conceitual do cenário organizacional inicial. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 6 – Mapa conceitual do cenário organizacional. Fonte: elaborada por alunos da ativ idade acadêmica de FPA – Curso de Administração da UNISINOS. Dado o exposto, fica evidente o quanto o mapa conceitual permite aprofundar, ampliar e enxergar de maneira complexo-sistêmica o ambiente organizacional, quando aplicado ao estudo da administração e, no caso mais específico, o diagnóstico das variáveis do ambiente organizacional e suas relações. Poder-se-ia acrescentar na questão central do mapa uma área de atuação empresarial e ver as variáveis daquela dimensão que afetam essa atividade específica. Por exemplo, se for colocada como questão central o ambiente organizacional de uma empresa automotiva, as variáveis relacionadas ao meio ambiente terão maior impacto do que se for considerada uma empresa prestadora de serviços contábeis. O mesmo ocorre nas diferentes carreiras e áreas de atuação do administrador. Os fatores que serão chave, que terão maior ou menor influências na atuação e na carreira do administrador dependerão da área que este atuar, conforme será visto na sequência deste livro. Pode-se concluir afirmando que o mapa conceitual permite visualizar o ambiente de forma mais geral e facilita a projeção de cenários, focados no planejamento de carreira que se pretende seguir como administrador, ou no planejamento estratégico de uma organização. Assim, para planejar em um ambiente dinâmico, global e em constante mudança, tem-se o mapa conceitual, podendo ser utilizada com ele a projeção de cenários. 1.2.3.2 Projeção de cenários Deposse de um mapa conceitual é possível montar cenários com base no que foi identificado nele, o que é conhecido também como planejamento por cenários. É possível que se busque entender e prever o comportamento das variáveis que fazem parte do mapa construído e que constituirão o cenário presente e futuro. Cenário é uma ferramenta utilizada para ordenar a percepção de alternativas para o ambiente futuro, já que as decisões de hoje nele terão efeito (SCHWARTZ, 1998). No planejamento por cenários, eles são entendidos como “ um conjunto de futuros estruturalmente diferentes” (HEIJDEN, 2009, p. 51). A projeção de cenários permite analisar o longo prazo em um mundo onde reina a incerteza. O planejamento por cenários se distingue de outras abordagens mais tradicionais de planejamento estratégico, por sua abordagem explícita da ambiguidade e da incerteza na estratégia, levando a conclusões sobre a necessidade de mudança (HEIJDEN, 2009). É uma ferramenta utilizada para ordenar as diferentes percepções do futuro e os efeitos que poderão gerar nas organizações e na vida profissional do administrador e das pessoas em geral, sendo fundamental para a tomada de decisões, fazendo do planejamento um processo de aprendizagem. Baseia-se em projeções causais e não em probabilísticas. Imagine que uma pessoa esteja planejando ir ao litoral, no próximo final de semana. Essa viagem requer algum planejamento prévio, no qual se verificarão as rodovias que levam até lá, por quais cidades deve-se passar, a quilometragem a ser percorrida, o tipo de rodovia, o valor a ser gasto, onde se ficará hospedado, o que fazer no local etc. Esse planejamento é indispensável, mas é preciso levarem conta diferentes cenários, como a previsão de clima quente e seco, ou chuvoso, com fluxo mais ou menos intenso nas estradas, ou seja, um estudo relacional das incertezas do evento pretendido. Diante do mapa que ilustra o ambiente organizacional e suas variáveis, explicado no item anterior, pode-se buscar projetar cenários sobre o ambiente em relação à carreira do Administrador, por exemplo, ou a atuação de determinada organização. Devem-se analisar as variáveis mapeadas (ambiental, política, econômica, legal etc.) e com elas construir um cenário considerado positivo, um considerado negativo e construir um intermediário. Tudo isso a partir de uma questão/decisão central. Por exemplo, se a decisão central é atuar como administrador na área de marketing em uma pequena ou média empresa deve-se pensar quais são as influências positivas e negativas possíveis de ocorrer no cenário mapeado, que prejudicam ou favorecem a decisão central. Em seguida, identificam-se as forças do cenário mapeado, que irão influenciar positiva ou negativamente a decisão. Depois, classificam-se as forças em positivas e negativas e elas são ordenadas neste grupo por ordem de influência, priorizando aquelas que se acredita serem as que mais influirão. Partindo para outro exemplo: se a decisão central for atuar como diretor logístico em uma empresa, analisando as influências da dimensão econômica pode-se ter,em um cenário positivo, o crescimento econômico que gerará demanda por diferentes tipos de logística de distribuição de produtos e serviços; em um cenário negativo, pode ser o contrário, ou seja, uma recessão econômica que leve à falta de investimento sem infraestrutura e a queda da demanda por produtos e serviços. Outro exemplo de influência são as variáveis da dimensão legal que, conforme a variação da legislação, poderão facilitar ou dificultar a exportação. A organização ou o profissional da área pode planejar suas ações em um cenário positivo ou de dificuldades, colocando-as em prática conforme aquele cenário que se confirmar. Dessa forma, poderá – a organização ou o profissional – atuar de maneira mais estruturada, mais planejada, independentemente da realidade que se configurar. Certamente, esse fator aumenta a chance de êxito da organização e a empregabilidade/trabalhabilidade do profissional administrador. Cabe destacar que a metodologia de planejamento por cenários é muito mais complexa do que o que foi evidenciado aqui e que se pode utilizá-la com diferentes métodos e enfoques, mas essa explicação inicial foi feita no sentido de mostrar a importância de se buscar a realização da referida projeção. Ao final deste item, você encontra indicações de onde buscar mais informações sobre essa estratégia de planejamento. Síntese da Aprendizagem - O Cenário Organizacional e suas Influências no Ser e Fazer do Administrador Quadro 8 – O cenário organizacional e suas influências no ser e fazer do administrador Tópico Síntese Organizações como sistemas abertos As organizações estão mergulhadas em um ambiente que recebe influências delas mas que, principalmente, as influencia de forma decisiva. Desse modo, é necessário pensar o cenário organizacional para planejar o ser e fazer do administrador e das organizações. Ambiente organizacional O ambiente organizacional pode ser dividido em ambiente geral e ambiente específico ou ainda em ambiente interno e externo. Ambiente organizacional interno Também denominado microambiente, é composto de variáveis sobre as quais a organização e os administradores têm um maior controle, tais como colaboradores, clima organizacional, condições físicas de trabalho. Também denominado macroambiente, é composto de variáveis sobre as quais a organização e os Ambiente organizacional externo administradores têm nenhum ou pouco controle. Variáveis que podem ser divididas em diferentes dimensões: ambientais, sociais, culturais, econômicas, legais/políticas, tecnológicas e demográficas. Cenário organizacional e a atuação dos administradores O cenário global, mutável, dinâmico e competitivo transformou e transforma constantemente a atuação do administrador. Por isso, esse profissional não pode fazer do seu paradigma o único paradigma. Cenário organizacional e a atuação dos administradores Mudanças no cenário ressignificam o ser e fazer do administrador. Mudanças como o volume cada vez maior de informações e conhecimentos, o valor mais relevante do capital intangível, do trabalho imaterial, a revolução tecnológica, as cadeias de comando mais curtas, as relações horizontalizadas, a diminuição da vida útil das profissões, das competências e dos produtos e serviços, dentre outros. Planejamento em um cenário global e mutável Planejar em um ambiente de incerteza requer técnicas e metodologias que permitam pensar a complexidade do cenário atual, de maneira sistêmica e com uma abordagem ambígua e incerta da questão estratégica. Nesse sentido, mapas conceituais e planejamento por cenários são muito pertinentes. Mapas conceituais e planejamento por cenários Mapas conceituais são representações gráficas que permitem ordenar conteúdos relativos a determinada questão/conceito, ampliando o seu entendimento. Já o planejamento por cenários permite ordenar diferentes percepções do futuro. São estratégias relevantes para pensar a trajetória profissional dos administradores e sua empregabilidade. Fonte: elaborado pelo autor. Para saber mais sobre: - Cenário organizacional e planejamento por cenários: ver HEIJDEN, Keesvan der. Planejamento por cenários: a arte da conversação estratégica. - Paradigmas e mudanças no cenário organizacional: ver CHIAVENATO, Idalberto. Os novos paradigmas: como as mudanças estão mexendo com as empresas; e DRUCKER, Peter. Desafios gerenciais para o século XXI. - Empregabilidade e trajetória profissional: ver FRITSCH, Rosangela. Trajetórias profissionais: percursos de formação, de trabalho e de profissão. Questões sugeridas para a reflexão/exercícios: a. O que significa dizer que as organizações são sistemas abertos e porque esse fato pode afetar o ser e fazer do administrador? b. Como pode ser definido o ambiente organizacional e quais as suas principais dimensões? Quais as características que marcam o cenário organizacional hoje? c. O que é planejamento por cenários e qual a sua importância no ambiente
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