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inimizar o impacto am- biental e garantir dos usu- ários e operadores espaços confortáveis sempre com ações que aumentem a segurança alimen- tar são os principais objetivos da tendência mundial de conceito da cozinha verde. A preocupação com o equilíbrio ecológico é a forte tendência mundial que leva à preservação dos recursos naturais, apontando para uma obrigação do ser humano. Em uma época na qual se discute o aquecimento global a discussão Es p ec ia l d e C ap a N u tr iç ão P ro fis si o n al M Dimas Rodrigues de Oliveira A Cozinha Politicamente Correta - Cozinha Verde aumenta sobre como cada indivi- duo pode contribuir com o meio ambiente. O consumo consciente, a redução da emissão de gás carbônico e a adoção de costumes mais “verdes” e os restaurantes e suas cozinhas estão inseridos neste contexto. Quando um profissional de planejamento está envolvido com projetos de unidades de nutrição e alimentação, deve, necessariamen- te, se envolver com questões que promovam a economia dos recur- sos naturais, contribuindo desta forma para que os usuários e opera- dores façam o uso mais racional. Estas ações devem fazer parte do planejamento de sistemas mas tam- bém nos sistemas já em operação. Mesmo que não haja disposição para se encarar pequenas reformas, pode-se adotar algumas medidas e fazer parte da luta pelo bem do meio ambiente. Deve-se aumentar as pesquisas de materiais adequados a promoverem a qualidade e a produtividade. No 30 Es p ec ia l d e C ap a N u tr iç ão P ro fis si o n al Brasil, ainda não há uma preocu- pação de indústria fabricante de materiais como louças e metais especiais para cozinhas. Mas já existem empresas que importam estes materiais de países como Itália, Espanha e EUA. Já há pedais mecânicos que, quando instalados nos lavatórios, dispensam o uso de volantes nas torneiras que, na maioria das vezes, contribuem com a possibilidade de contaminação. Também já existem torneiras com bicas que podem ser articuladas para que o jato d’água seja dirigido para o centro da cuba. A gestão de uma cozinha é um fenômeno complexo que implica desde a produção dos serviços até o envolvimento dos comensais e dos fornecedores. Atentar-se às ques- tões ecológicas na gestão cotidiana de uma cozinha minimiza o impac- to sobre o meio ambiente, garan- tindo mais conforto aos comensais e aos operadores, além de difundir sensibilidade e responsabilidade sobre as temáticas ambientais e socioculturais. A gestão ambiental de uma cozinha compreende diversas problemáticas: • Administração dos recursos e do lixo; • Controle de emissões de substân- cia tóxicas; • Impacto cultural, social e estético; • Otimização do ambiente interno (qualidade do espaço, ruído e mobiliário); • Comunicação, informação e for- mação tanto do usuário quanto dos operadores. A construção e administração de um restaurante ecologicamente correto, como chamarei daqui em diante, deve atender alguns requisi- tos fundamentais, descritos a seguir. Racionalização da construção O projeto deve especificar com precisão a quantidade de material a ser utilizada, evitando que o meio ambiente seja depredado e poluí- do. Ainda no projeto é importante prever o tipo de material e a ser adotado, preferindo os produtos já reciclados ou que assim possam ser posteriormente. Pensando no conforto dos opera- dores que trabalham no interior das cozinhas realizando atividades repetitivas, deve-se evitar os revesti- mentos reflexivos, colaborando com a produtividade. Além desta preo- cupação deve-se especificar revesti- mentos adequados com resistência suficiente para garantir as operações sem nenhum prejuízo estético. É importante, também quando da especificação, escolher as empresas que já estão demonstrando uma preocupação com a gestão ambien- tal com a inclusão dos processos da ISO 14000. Há vários avanços em cerâmicas, porcelanas ou porcelanatos, com materiais nacionais de excelen- te qualidade e alta resistência e antiderrapantes para pisos que atendem as necessidades de reves- timento e resistências e evitam que os operadores escorreguem e exista algum problema com quedas. Com relação aos equipamentos das cozinhas, a indústria nacional já está preparada para a fabricação de componentes adequados que evi- tam as agressões ao meio ambiente. Um bom exemplo foi o fato de as indústrias de equipamentos substi- tuírem os gases que utilizavam nos refrigeradores para evitar o ataque à camada de ozônio. Conter os ruídos As cozinhas e/ou restaurantes politicamente corretos devem ser projetados de maneira a evitar a emissão de ruídos produzidos no interior e nas áreas de pertinência. Estas ações compreendem o plane- jamento das copas de lavagem, dos sistemas de exaustão, da localização dos compressores dos equipamen- tos de refrigeração, a escolha dos materiais dos tetos, das formas e materiais das esquadrias ou de qualquer outra atitude que possa minimizar a poluição sonora. Diminuir o descarte do lixo Produzir quantidade mínima de lixo, utilizando poucos produtos embalados ou que possuem emba- lagens recicláveis ou recarregáveis e participar de coleta seletiva, plane- jando áreas e adotando recipientes adequados para a seleção, além de programa de reciclagem operantes na região em que estiver situado. Em nossos sistemas de alimentação a grande questão é o lixo orgânico. Em sistemas de alimentação o não planejamento para o tratamento de lixo orgânico contribui para o aumento de insetos nas imediações das cozinhas. A grande problemática está no fato de não haver uma legislação que oriente para a necessidade de ins- 31 Es p ec ia l d e C ap a N u tr iç ão P ro fis si o n al talação de sistemas de climatização para estes materiais. Convivemos com temperaturas médias acima de 28ºC, logo, é imprescindível a instalação de câmaras frigoríficas para tratamento deste lixo. Já contamos com compactadores de lixo que reduzem o volume do lixo orgânico para até um terço do volume total já separando a parte sólida da parte liquida. Em alguns sistemas há estações de tratamento de esgoto e trituradores de lixo nas copas de lavagem, que contribuem com a diminuição do lixo, destina- do-o aos compactadores ou câma- ras frigoríficas. Precisamos repensar no que fazer com o lixo orgânico, pois cada vez mais deve haver a implementação de compostagem e as cozinhas são uma das vertentes para o início deste processo das alternativas que já estão em prática, com os obje- tivos de extração de gás e adubo orgânico. Para que este lixo seja bem apro- veitado é necessário, onde ele seja produzido, que passe por tratamen- to e seja armazenado em tempe- raturas adequadas para evitar sua transformação, trazendo insetos e comprometendo seu uso na com- postagem. Este adubo produzido na compos- tagem beneficiará o aumento da produção dos vegetais orgânicos. Reduzir o consumo de água Adotar medidas de economia por meio de avaliação do consumo hídrico per capita e da instalação de tecnologias disponíveis é outra obrigação dos profissionais que planejam ou projetam as cozinhas politicamente corretas. Deve-se instalar redutores de fluxos em duchas e metais, possibilitando um melhor serviço e uma substan- cial economia hídrica. É importante sempre analisar as vantagens e desvantagens entre lavagem de louças manuais e mecanizadas, pois as fabricantes de lavadoras de louças cada vez mais estão disponibilizando no mercado equipamentos com baixo consumo de água. Economizar energia elétrica Promover a redução de energia e recuperar os recursos energéticos por meio de iniciativas, especificar como escolher equipamentos de baixa potência e instalar lâmpadas economizadoras. Uma ação importante neste pro- cesso é, cada vez mais, o uso de equipamentos que consomem gás natural quando podem substituir equipamentos elétricos. Além disso, o aumento do uso deaque- cedores de água a gás diminui a necessidade de carga elétrica para as lavadoras de louças. A indústria de equipamentos já está disponibilizando itens com menor consumo de energia como é o caso das lavadoras de louças, dos fornos combinados e dos equipamentos de refrigeração. A questão da segurança alimentar ganha maior importância à medida que cresce o número de pessoas fazendo suas refeições fora de casa pois, segundo a Organização Mun- dial da Saúde (OMS), inúmeras pessoas sofrem de doenças causa- das por alimentos contaminados. Para minimizar o problema, legis- lações e estudos buscam eliminar os possíveis focos de proliferação dos microorganismos prejudiciais à saúde. Neste aspecto nota-se que em mui- tos casos valorizam-se os processos de segurança alimentar que envol- vem o alimento e sua manipulação, relegando a um segundo plano da linha os processos de higienização dos utensílios que serão utilizados pelos usuários de restaurantes, ba- res, cafés, hospitais e outros pontos de alimentação. Isto é um erro, pois um espaço com equipamentos e procedimentos adequados na copa de lavagem seguramente con- tribui pata minimizar os problemas de contaminação. A escolha de equipamentos e insumos corretos, seja em cozinhas industriais ou em estabelecimentos de qualquer por- te, é um fator que, além de evitar 32 Es p ec ia l d e C ap a N u tr iç ão P ro fis si o n al focos de contaminação, também possibilita a otimização dos serviços e a redução de custos, aspectos de fundamental importância, nos dias atuais, nos negócios do segmento de alimentação. Produtividade versus economia Apenas para se avaliar o custo- benefício: uma lavadora de louças de pequeno porte dá conta de 160 pratos em dez minutos, enquanto um operador lava, no máximo, 40 pratos nesse mesmo período de tempo. Portanto, no momento da implantação é importante colocar na balança se vale a pena economi- zar nesse equipamento. No quesito higienização as lavado- ras ganham pontos também devido à possibilidade de terem como alia- da a pressão da água, incomparável com a obtida na lavagem manual. O custo atual da energia elétrica tem sido um dos fatores que pesam no momento de optar pelo uso de lavadoras, mas é bom lembrar que as novas lavadoras foram projetadas para reduzir a utilização da carga elétrica. No momento do projeto também existem alternativas que minimizam o custo com a energia elétrica como, por exemplo, prever a instalação de aquecimento a gás na pré-lavagem, assim a água pode chegar na lavadora com tempera- tura de 40 a 50ºC, perfeita para a higienização da louça nesse estágio. Temperaturas mais altas são neces- sárias apenas no processo de enxá- güe, quando chegam de 85 a 90ºC para esterilizar os utensílios. O consumo de água também precisa ser levado em considera- ção. A questão da preservação dos recursos naturais tem adquirido cada dia mais importância dentro da empresas, que precisam buscar alternativas para se colocarem em uma postura correta em relação ao meio ambiente. Racionalizar o uso da água faz bem para o bolso também. Números de lavagem manual versus automática: para higienizar 900 pratos as lava- doras utilizam apenas 228 litros de água. No caso da operação manual do mesmo número de utensílios, uma torneira aberta consome de mil a 1,2 mil litros de água por hora. Com o equipamento adequa- do é possível economizar R$ 4,70 por hora. Estimando-se que sejam cinco horas por dia para o processo de lavagem (almoço e jantar) por 300 dias a economia pode alcançar R$ 7 mil por ano. Ainda no que se refere à economia, a utilização das lavadoras contribui para redução de custos indiretos, como na redução de pratos e copos quebrados durante o processo de lavagem. As despesas com esponjas, panos e álcool também são meno- res, além de exigir menos funcio- nários para desempenhar a função. A otimização do espaço também é importante para algumas cozinhas que precisam ter a área disponível racionalizada. O processo mecâni- co libera mais espaço para o servi- ço, cocção, refrigeração e dispensa a necessidade de grandes estoques de pratos, copos, bandejas e talhe- res, que podem ter retorno para a reutilização mais rapidamente. Insumos importantes para o resultado final Atenção especial deve ser dada aos produtos químicos utilizados tanto na lavagem manual quanto na mecânica. Os detergentes e desengordurantes para o uso de funcionários devem ter um pH importante na esterilização dos objetos. Nas operações manuais não pode ultrapassar 40ºC, portan- to, nesses casos é recomendável a aplicação de produtos eficientes para compensar o uso de água em temperatura alta. Quando a lavagem for realizada manualmente o recomendado é que seja feita com sabão liquido, de preferência com a água de enxágüe com temperatura em torno de 45ºC. Para desinfetar é possível utilizar água clorada entre 100 e 250ppm, uma colher de água sanitária para um litro de água. Depois aguardar 15 minutos antes de utilizar, não havendo necessida- de de enxágüe final, apenas deixar escorrer. O álcool a 70ºC também pode ser utilizado no processo. Já para a lavagem em máquina é 33 Es p ec ia l d e C ap a N u tr iç ão P ro fis si o n al Currículo Dimas Rodrigues de Oliveira é engenheiro civil pela Faculdade de Engenharia de Sorocaba (FACENS) e pós- graduado em administração de empresas pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Ocupou cargos de gerência industrial, de montagens e apoio técnico comercial e de projetos de cozinhas industriais em empresas do segmento e atualmente é diretor da Nucleora. importante a utilização de sabões e desengordurantes que não ataquem as peças e superfícies das lavadoras. Algumas empresas comercializam produtos com gran- de eficiência para esse processo, que inclui detergentes líquidos, pós e sólidos, com utilização recomendada de acordo com o tipo de máquina, tipo dos utensílios a serem lavados e volume de refeições servidas. Medir os efeitos e a gestão verde nos sistemas de alimentação O controle da gestão ecossustentável é o segundo passo para a solidificação das cozinhas politicamente corre- tas. Para isso pode-se lançar mão dos itens a seguir. • Declaração formal da atenção da cozinha a respeito das questões ambientais, à disposição do público e fixada em área pública da estrutura; • Determinação de um responsável pelas questões ambientais; • Inclusão de cursos e lições sobre temáticas ambien- tais, na preparação dos funcionários; • Objetivos e programas definidos anualmente pelo gestor do restaurante, com um sistema comum de monitoramento e registro das datas a respeito de: - Consumo energético (kwh) por metro quadrado; - Volume de lixo (peso/volume/refeição); - Consumo hídrico (volume/refeição); - Eliminação e reciclagem de água de refugo; - Percentual de água de refugo eliminada em im- plantação de tratamento público ou privada calcula- do sobre uma escala apropriada; - Aquisição de produtos químicos 1% sobre o total de baixo impacto ambiental, com quantidade mínima de cloro e soda cáustica e de preferência biodegradáveis; - Percentual dos empregados, a tempo determinado ou indeterminado, provenientes da comunidade local. • Uso regular de questionários relativos à satisfação dos clientes com relação aos aspectos ambientais; • Possuir certificação de qualidade dos serviços ofe- recidos (ISO 9000) e da qualidade ambiental (ISO 14000). O restaurante auto-sustentável será objeto de reflexão de engenheiros, arquitetos, nutricionistas e outros profissionais ligados a esta prestação de serviços que, juntos, estão buscando as soluções adequadas. Muitas destas questões já estão resolvidas e, com um pouco mais de esforço, chegaremos lá. NP 34
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