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E S C O L A D E G O V E R N O PROFESSOR P A U L O N E V E S D E CARVALHO 
Mestrado em Administração Pública 
O USO DAS MÍDIAS SOCIAIS NO PODER PÚBLICO: análise do perfil 
"Senado Federal" no Facebook 
Gustavo Henrique Campos dos Santos 
Belo Horizonte 
2016 
G U S T A V O H E N R I Q U E CAMPOS D O S SANTOS 
O USO DAS MÍDIAS SOCIAIS NO PODER PÚBLICO: análise do perfil 
"Senado Federal" no Facebook 
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado 
em Administração Pública da Escola de 
Governo Professor Paulo Neves de Carvalho da 
Fundação João Pinheiro, como requisito parcial 
para obtenção do título de Mestre em 
Administração Pública. 
Orientadora: Profa. Dra . Simone Cristina 
Duflotii. 
Belo Horizonte 
2016 
Santos, Gustavo Henrique Campos dos 
S237u O uso das mídias sociais no poder público: análise do perfil "Senado 
Federal" no Facebook / Gustavo Henrique Campos dos Santos - Belo 
Horizonte, 2016. 
147 p. : il. 
Dissertação (Programa de Mestrado em Administração Pública) -
Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho, Fundação João 
Pinheiro. 
Orientador: Simone Cristina Dufloth 
Referência: 131-141 
1. Redes sociais. 2. Poder público. 3. Participação política - Brasil. 4. 
Senado Federal. I. Dufloth, Simone Cristina. II. Título. 
CDU 35(81) 
G U S T A V O H E N R I Q U E CAMPOS D O S SANTOS 
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado 
em Administração Pública da Escola de 
Governo Professor Paulo Neves de Carvalho da 
Fundação João Pinheiro, como requisito parcial 
para obtenção do título de Mestre em 
Administração Pública. 
Profa. Dra. Simone Cristina Dufloth (Orientadora) - Fundação João Pinheiro 
Profa. Dra. Elisa Maria Pinto da Rocha - Fundação João Pinheiro 
Profa. Dra. Maria Celeste Reis Lobo de Vasconcelos - Fundação Pedro Leopoldo 
Belo Horizonte, 30 de março de 2016 
O U S O DAS MÍDIAS SOCIAIS N O P O D E R PÚBLICO: análise do perfil "Senado Federal" 
no Facebook 
A meus pais, 
JOSÉ R A I M U N D O D O S SANTOS 
e 
MARIA DAS D O R E S SANTOS, 
A homenagem da mais profunda gratidão 
pela lição de vida que, sabiamente, 
sempre me prestaram; 
e 
a tentativa modesta de externar 
o verdadeiro afeto filial, em pálida retribuição 
pelo irresgatável carinho com que sempre me cercaram. 
A G R A D E C I M E N T O S 
A Deus por mais esta vitória! 
A minha doce amada Josi e ao nosso bebê, Victor, que esperamos com grande alegria. 
A minha orientadora, Profa. Dra. Simone Dufloth, pela paciência e por tornar possível a 
realização deste trabalho. 
A equipe da Núcleo de Mídias Sociais do Senado Federal, especialmente na figura de sua 
gestora Silvia Gomide Gurgel, que com muita presteza me ajudou na elaboração do estudo de 
caso. 
A equipe da Escola de Saúde Pública de Minas Gerais, pela acolhida neste momento único da 
minha vida, em especial a nossa Diretora-Geral, Roseni Sena, pelos ensinamentos de vida! 
A todos que, de alguma forma, contribuíram para esta construção. 
" democracia consiste em afirmar que ela é o governo do poder visível, que nada pode 
permanecer confinado no espaço do mistério " (BOBBIO, 1986) 
R E S U M O 
As mídias sociais, tais como o Facebook, podem representar para o Estado um novo canal de 
comunicação para interação com o cidadão, tanto para divulgação de informações públicas e 
controle social dos atos administrativos, quanto para monitoramento do conteúdo resultante 
dessa interação. Por meio da análise do material proveniente das mídias sociais, os gestores 
públicos teriam a possibilidade de instrumentalizar o interesse dos cidadãos para o 
desenvolvimento de políticas públicas mais efetivas e que supram ou até mesmo superem as 
necessidades da sociedade. Nesse sentido, o trabalho pretende analisar o uso das mídias sociais 
como ferramenta de participação política dos cidadãos a partir do estudo do perfil "Senado 
Federal" no Facebook. Para cumprir tal objetivo, foi analisado o post "E agora, quem poderá 
me defender?", de agosto de 2015. A publicação trata da efetividade de direitos civis, sendo 
considerada uma das mais bem-sucedidas publicações do perfil. Como resultado da pesquisa, 
percebe-se a importância das mídias sociais para potencializar a interação Estado-sociedade. 
Há uma grande participação dos internautas nos conteúdos postados pelo Senado Federal no 
perfil estudado, em decorrência da utilização do canal para promoção da cidadania. Apesar de 
ser uma ferramenta ainda pouco utilizada para monitoramento do conteúdo produzido pelos 
internautas, nota-se inúmeras vantagens no uso das mídias sociais para comunicação com a 
sociedade, entre elas os baixos custos para operação. 
Palavras-Chave: Mídias sociais, participação política, monitoramento. 
A B S T R A C T 
Social media such as Facebook can represent to the state a new channel of communication for 
interaction with citizens, both for dissemination of public information and social control of 
government acts, and for monitoring the resulting content of this interaction. Through the 
analysis of materials of social media, public administrators would be able to instrumentalize 
the public interest for the development of more effective public policies that meets or even 
exceeds the needs of society. In this sense, the present work aims to analyze the use of social 
media as a tool of political participation of citizens from the study of the profile "Senado 
Federal" on Facebook. To fulfill this objective, the post called "And now, who can defend 
myself?" dated August 2015 was analyzed. The publication deals with the effectiveness of civil 
rights, being considered one of the most successful profile publications. As a result o f the 
research, we realize the importance of social media for enhancing the state-society interaction. 
There is a large share of Internet users in the content posted by the Senate in the study profile, 
due to the use of the channel for the promotion of citizenship. Although the tool is still very 
little used for monitoring the content produced by Internet users, there is a number of 
advantages in the use of social media to communicate with the society, including the costs for 
operation. 
Keywords: Social media, political participation, monitoring. 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
Gráfico 1 - Proporção de órgãos públicos federais e estaduais presentes em mídias 58 
sociais, por poder e tipo de mídia social - Brasil - 2013 
Gráfico 2 - Proporção de prefeituras presentes em mídias sociais, por localização e 59 
tipo de mídia social - Brasil - 2013 
Gráfico 3 - Dados demográficos dos fãs do perfil "Senado Federal" no Facebook 99 
Gráfico 4 - Dados demográficos das pessoas alcançadas pelo perfil "Senado 100 
Federal" no Facebook 
Gráfico 5 - Dados demográficos das pessoas envolvidas nas postagens do perfil 101 
"Senado Federal" no Facebook 
Gráfico 6 - Dias e horários que os fãs do perfil "Senado Federal" no Facebook 103 
estiveram conectados ao site de relacionamentos 
Figura 1 - Página inicial do Facebook 26 
Figura 2 - Página inicial do Twitter de Barack Obama 43 
Figura 3 - Perfil do movimento Fórum de Lutas no Facebook 45 
Figura 4 - Página do movimento Mídia Ninja 46 
Figura 5 - Página do projeto Congresso Aberto 48 
Figura 6 - Perfil "Senado Federal" no Facebook 90 
Figura 7 - Maiores perfis no Facebook entre organizações governamentais 91 
brasileiras 
Figura 8 - Padrão visual das postagens do Perfil "Senado Federal" no Facebook 93 
Figura 9 - Campo "Sobre" do Perfil "Senado Federal" no Facebook 94 
Figura 10 - "Curtidas" do Perfil "Senado Federal" no Facebook 96 
Figura 11 - "Avaliações" do Perfil "Senado Federal" no Facebook 97 
Figura 12 - Post "E agora, quem poderá me defender?" 109 
Figura 13 - Exemplos de elogio ou crítica ao tema 115 
Figura 14 - Exemplo de elogio ao Senado Federal 115 
Figura 15 - Exemplos de elogio ou crítica ao Senado Federal ou outro órgão 115 
Figura 16 - Exemplo de crítica à instituição privada 116 
Figura17 - Exemplo de crítica ao Senado ou outro órgão e dúvida 116 
Figura 18 - Exemplo de resposta do Senado Federal à crítica 117 
Figura 19 - Exemplo de resposta do Senado Federal a elogio 117 
Figura 20 - Exemplo de resposta do Senado Federal à sugestão 118 
Figura 21 - Exemplo de resposta do Senado Federal à dúvida 118 
Figura 22 - Exemplo de respostas de usuários 119 
Figura 23 - Exemplos de comentários não relacionados ao tema 120 
Figura 24 - Exemplos de compartilhamentos por meio de comentários 120 
Figura 25- Participação do Conselho Nacional de Justiça 123 
LISTA DE TABELAS 
Tabela 1 - Proporção de órgãos públicos que estão presentes em mídias sociais, por 57 
poder e ente federativo - Brasil - 2013 
Tabela 2 - Proporção de prefeituras que estão presentes em mídias sociais, por 58 
localização - Brasil - 2013 
Tabela 3 - Critérios utilizados para classificação dos comentários do post "E agora, 68 
quem poderá me defender?" 
Tabela 4 - Conteúdo recebido no post "E agora, quem poderá me defender?" 121 
LISTA DE Q U A D R O S 
Quadro 1 - Recursos do Facebook 28 
Quadro 2 - Perfis do Senado Federal brasileiro nas mídias sociais 76 
Quadro 3 - Critérios para avaliação dos comentários dos internautas no post "E 114 
agora, quem poderá me defender?" 
Quadro 4 - Critérios para avaliação das respostas aos comentários do post "E 116 
agora, quem poderá me defender?" 
Quadro 5 - Critérios para avaliação de outros tipos de conteúdo publicados no post 119 
"E agora, quem poderá me defender?" 
LISTA DE A B R E V I A T U R A S E SIGLAS 
ANATEL - Agência Nacional de Telecomunicações 
APF - Administração Pública Federal 
CNJ - Conselho Nacional de Justiça 
E U A - Estados Unidos da América 
RNP - Rede Nacional de Pesquisas 
ILB - Instituto Legislativo Brasileiro 
M D A - Ministério do Desenvolvimento Agrário 
NMídias - Núcleo de Mídias Sociais do Senado Federal 
SECOM - Secretaria de Comunicação Social do Senado Federal 
SEPPIR - Secretaria Especial de Políticas para Igualdade Racial 
SPM - Secretaria para Políticas para as Mulheres 
TIC - Tecnologias da Informação e Comunicação 
SUMÁRIO 
1 I N T R O D U Ç Ã O 16 
2 INTERNET, MÍDIAS E REDES SOCIAIS NA SOCIEDADE 19 
C O N T E M P O R Â N E A 
2.1 A evolução da internet e as mídias sociais 19 
2.2 Facebook: uso e características 26 
3 G O V E R N O E L E T R Ô N I C O E P A R T I C I P A Ç Ã O CIDADÃ 30 
3.1 Governo eletrônico 30 
3.2 O uso das tecnologias de informação e comunicação no fortalecimento das 35 
relações entre governo e sociedade 
3.2.1 Benefícios e desafios da aplicação das tecnologias de informação e 38 
comunicação para a democracia 
3.2.2 Categorias de iniciativas de e-democracia 41 
3.3 Os usos e aplicações das mídias sociais para participação cidadã: teoria e prática 49 
3.3.1 O uso das mídias sociais pelo poder público brasileiro 54 
4 M E T O D O L O G I A 64 
5 MÍDIAS SOCIAIS N O SENADO F E D E R A L BRASILEIRO 70 
5.1 O Senado Federal Brasileiro 70 
5.2 O Núcleo de Mídias Sociais e a gestão das mídias sociais no Senado Federal 73 
brasileiro 
5.3 O uso das mídias sociais no Senado Federal brasileiro 86 
5.4 O perfil "Senado Federal" no Facebook 90 
5.4.1 A gestão do perfil "Senado Federal" no Facebook 104 
5.5 Análise do post "E agora, quem poderá me defender?" 108 
5.5.1 Interação dos usuários do Facebook com o post "E agora, quem poderá me 113 
defender?" 
6 C O N C L U S Ã O 125 
R E F E R Ê N C I A S 130 
A N E X O A - Roteiro da entrevista 141 
A N E X O B - Reportagem de serviços: Como fazer denúncias e reclamar os seus 143 
direitos 
16 
1 I N T R O D U Ç Ã O 
A comunicação com o cidadão é pressuposto para o fortalecimento da 
democracia ao permitir que a condução do Estado seja realizada de maneira aberta e controlada 
pela sociedade, que poderá monitorar o desenvolvimento das ações de governo e estabelecer 
controle social. Nesse aspecto, políticas que fortaleçam a transparência dos atos públicos e o 
acesso dos cidadãos às informações produzidas pelo Estado são comumente associadas à boa 
gestão e clamadas na tentativa de prevenção e combate à corrupção. 
Com a evolução das tecnologias da informação e comunicação presenciada nos 
últimos anos, o modo do Estado em comunicar-se com a população alterou-se, principalmente, 
com o surgimento da internet. Antes, informações públicas eram obtidas apenas por meio de 
mídias tradicionais de comunicação em massa. Agora, além dos veículos tradicionais, as 
pessoas conectadas à rede podem se interagir, informar-se e gerar conhecimento em tempo real, 
mais do que proporcionado pela televisão, rádio e jornal. As mídias sociais, como o Facebook 
e o Twitter, oferecem ao internauta uma possibilidade maior de diálogo na rede, onde todos 
podem ser emissores e também receptores, invertendo a todo tempo esses papéis. 
As mídias sociais podem representar para o Estado mais uma alternativa de 
interação com o cidadão, tanto na divulgação de informações públicas e no controle social dos 
atos administrativos, quanto no monitoramento do conteúdo resultante dessa interação. Por 
meio da análise do material oriundo do resultado das trocas nas mídias sociais, os gestores 
públicos teriam a possibilidade de instrumentalizar o interesse dos cidadãos para o 
desenvolvimento de políticas públicas mais efetivas e que supram ou até mesmo superem as 
necessidades da sociedade. 
A fim de levantar evidências que venham a colaborar para o entendimento do 
cenário descrito acima, esta pesquisa propõe um estudo específico em torno do uso das mídias 
sociais pelo Senado Federal brasileiro, para tanto foi escolhido o perfil "Senado Federal" no 
Facebook, considerado o mais importante na instituição. 
Diante da apropriação das mídias sociais pelo poder público brasileiro para fins 
de comunicação junto aos cidadãos, dentro de uma perspectiva de governo eletrônico no Brasil, 
e diante dos desafios e oportunidades oferecidos por esse potencial canal de interação com a 
sociedade, questiona-se: com a expressiva ampliação do engajamento de usuários do Facebook 
17 
no perfil "Senado Federal" nos últimos anos, em que medida essa mídia social está sendo 
utilizada enquanto ferramenta de participação política dos cidadãos? 
O entendimento desse processo é salutar ao fortalecimento da democracia, 
possibilitando ao Estado encontrar novos mecanismos de construção de políticas públicas mais 
alinhadas com a vontade popular. Ainda são poucas as pesquisas científicas em torno de tal 
temática. 
Cabe destacar que o uso das mídias sociais pelo poder público brasileiro é ainda 
um processo recente. Acompanhar essa evolução poderá colaborar para o aperfeiçoamento dos 
modos pelos quais vêm sendo utilizadas tais ferramentas de comunicação digital na interação 
entre Estado e sociedade. Para tanto, foi escolhido o post "E agora, quem poderá me defender?", 
que, dentre os critérios que levaram a sua escolha, está a temática sobre a efetividade de direitos 
civis. 
Tendo em vista o problema apresentado, o objetivo geral desse trabalho é 
analisar o uso das mídias sociais como ferramenta de participação política dos cidadãos, a partir 
do estudo do perfil "Senado Federal" no Facebook. 
Seguindo esse direcionamento, os objetivos específicos desta pesquisa 
resumem-se nos seguintes pontos: 
a) identificar as principais orientações normativas utilizadas para gestão de 
perfis institucionais do Senado Federal nas mídias sociais; 
b) investigar os principais procedimentos operacionais adotados pelos órgãos 
responsáveis pela gestão do perfil "Senado Federal" no Facebook 
comparativamente às orientações normativas identificadas; e 
c) propor e aplicar tipologia para classificação dos tipos de interação entre os 
cidadãos usuários do perfil "Senado Federal" no Facebook e os órgãos 
envolvidos na temática da postagem. 
O trabalho está estruturado em 6 seções, além da Introdução. N a parte 2 será 
destacadaa evolução da internet, com ênfase no surgimento das mídias sociais. Serão ainda 
apresentadas as principais características do Facebook, considerado o mais importante site de 
relacionamentos no Brasil. A seção 3 tratará da temática do governo eletrônico, sobretudo da 
dimensão e-democracia, com destaque para as principais iniciativas de democracia eletrônica. 
Também serão abordados os usos e aplicações das mídias sociais para participação cidadã. N a 
seção seguinte será apresentada a metodologia da pesquisa. O capítulo 5 tratará da análise dos 
18 
dados levantados por meio do estudo de caso proposto. Por fim, na últ ima seção, será 
apresentada a conclusão do estudo. 
19 
2 INTERNET, MÍDIAS E REDES SOCIAIS NA SOCIEDADE C O N T E M P O R Â N E A 
Nesta seção será apresentado o contexto de surgimento da internet e sua chegada 
no Brasil, passando por sua evolução até a criação da linguagem web 2.0. Será demonstrada a 
relação dessa nova forma de comunicação em rede e o fenômeno das mídias sociais, 
apresentando os principais conceitos e características deste novo canal. Ao final da seção, como 
exemplo de um dos mais famosos sites de relacionamentos, serão abordados os principais 
atributos do Facebook. 
2.1 A evolução da internet e as mídias sociais 
Ao longo dos últimos 40 anos, a internet consolidou-se como umas das mídias 
de comunicação mais disseminadas mundialmente. De acordo com a "Pesquisa Brasileira de 
Mídia 2015" (BRASIL, 2014c), a importância crescente e a disseminação da internet na 
sociedade brasileira ficam evidentes em se tratando dos meios de comunicação que os 
entrevistados mais utilizam: 4 2 % dos brasileiros apontam a internet, ficando atrás da televisão 
(93%) e, quase empatando com o segundo lugar, do rádio (46%). 
O surgimento da internet remota ao fim da década de 70, nos Estados Unidos da 
América (EUA), quando seu desenvolvimento foi impulsionado para interligar laboratórios de 
pesquisa do Departamento de Defesa Norte-Americano, no auge da Guerra Fria. Mais tarde, a 
tecnologia passou ser a utilizada para conectar universidades e laboratórios, ficando restrita, 
durante duas décadas, ao ambiente acadêmico e científico (TAIT, 2007). 
Fato é que a internet teve seu uso impulsionado pelo surgimento da linguagem 
web, em 1991, no laboratório CERN, na Suíça. Sua criação foi com a intenção de interligar 
computadores em laboratórios e outras instituições de pesquisa e exibir documentos científicos 
de forma simples e de fácil acesso (TAIT, 2007). 
Em relação ao Brasil, em 1987, na Universidade de São Paulo é realizada a 
primeira reunião entre pesquisadores de todo país para debater sobre o estabelecimento de uma 
rede nacional para fins acadêmicos e de pesquisa, com acesso às redes internacionais. E m julho 
de 1990 é lançada a Rede Nacional de Pesquisas (RNP), promovida pelo Ministério da 
Educação, para gerenciamento da rede da academia brasileira, até então dispersa em iniciativas 
isoladas, sendo considerada a primeira espinha dorsal da internet no país (TAIT, 2007). 
Somente em 1995 foi liberado o uso comercial da internet no país, três anos após 
a liberação nos EUA. A amplitude de serviços disponibilizados a partir de então na internet, 
20 
desde de comércio eletrônico até prestação de serviços públicos, conjugada com melhorias na 
facilidade de acesso e transmissão de dados, sobretudo impulsionados pela disseminação da 
telefonia celular, possibilitaram o aumento expressivo de usuários no Brasil. 
Conforme Cetic (2015), o número de usuários de internet no Brasil tem crescido 
constantemente ao longo dos últimos 10 anos. Atualmente, há no país cerca de 94,2 milhões de 
usuários de internet, o que corresponde a 5 5 % da população com 10 anos ou mais de idade. Em 
2008, o percentual de usuários correspondia a apenas 3 4 % da população nessa faixa etária. Este 
dado deixou o Brasil em uma posição intermediária entre os países da América Latina. Está 
abaixo do Chile, da Argentina e do Uruguai e em um patamar semelhante à Venezuela e 
Colômbia. Ainda, de acordo com Brasil (2014c), comparativamente aos anos de 2014 e 2015, 
o percentual de pessoas que utilizam a internet todos os dias aumentou de 2 6 % para 37%. 
Fatores como escolaridade, renda e faixa etária criam uma segregação digital 
entre quem é um "cidadão conectado" dos que não são. Em 2014, se o percentual dos jovens de 
até 25 anos que acessava a internet diariamente era de 65%, aqueles com mais 65 anos 
representavam 4 % dos respondentes. N o que se refere à renda, o percentual da população que 
recebia até 01 salário mínimo representava 2 0 % dos entrevistados, para 7 6 % com renda de mais 
de 05 salários mínimos. Em relação ao indicador escolaridade, 8 7 % dos entrevistados que 
acessam a internet pelo menos um dia na semana possuíam ensino superior, enquanto 8% dos 
entrevistados que acessavam na mesma frequência estudaram até a 4 a série (BRASIL, 2014c). 
Segundo Brasil (2014c), os motivos principais para um comportamento ainda 
tímido da população brasileira no uso da internet podem relacionar-se à falta de interesse ( 4 3 % 
dos respondentes); à falta de habilidade com o computador (41%), principalmente da população 
mais idosa; à falta de necessidade da utilização da internet (24%) e aos custos envolvidos no 
seu uso (14%). 
Entre os principais meios de acesso à internet, permitida a escolha de até 02 
opções, 7 1 % dos entrevistados acessam pelo computador, seguido do celular, para 6 6 % dos 
entrevistados, e do tablet, para apenas 7% dos pesquisados. 
Em meio ao desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação, no 
início do século XXI surgiu um novo tipo de ferramenta, denominada web 2.0, que designa uma 
segunda geração de comunidades e serviços baseados na plataforma web, como wikis, blogs, 
vídeos, fóruns, chats e aplicativos baseados em redes sociais. Embora o termo tenha uma 
conotação de uma nova versão para a web, ele não se refere à atualização nas suas 
especificações técnicas, mas a uma mudança na forma como ela é encarada por usuários e 
desenvolvedores (TERRAFORUM C O N S U L T O R E S , 2009), expandindo seu potencial de uso, 
21 
difusão de informações, interação entre as pessoas, colaboração e participação na criação de 
conhecimento (MORAIS, 2010). 
Nesse novo arranjo, os usuários apresentam-se em funções anteriormente não 
exercidas, mediadas por recursos técnicos e informáticos, passando de mero espectadores da 
informação, para produtores, editores e distribuidores de conteúdo, estabelecendo um novo 
modelo, baseado na bidirecionalidade, sem necessidade de interlocutores, o que caracteriza os 
veículos tradicionais de comunicação, tais como televisão, jornal, rádio e revista. A grande 
mídia, nesse novo paradigma, passa a dividir espaço com outras formas de comunicação, 
reconhecidas pela interatividade e difusão pelos próprios usuários (SANTOS et al, 2011). 
Regaña (2015, p. 78) contextualiza o fenômeno nos seguintes termos: 
En la historia de la humanidad, ningún otro medio de comunicación ha tenido 
la repercusión y el alcance del que goza hoy en día internet. En un primer 
momento la herramienta se utiliza sólo como un portal de información, es lo 
que se conoce como la web 1.0; pero pronto evoluciona hacia un estadio más 
complejo en el que no basta con buscar información, sino que el usuario quiere 
formar parte de esa información; esto es, quiere recibir y emitir información, 
quiere comunicarse y expresar sus ideas, opiniones y pensamientos. La 
consecuencia ineludible es que los usuarios de internet crean información de 
manera global. Estamos ante la denominada web 2.0, que supone una 
revolución en la interacción social y en la forma de comunicase las personas 1. 
A web 2.0 passou oferecer ao internauta uma possibilidade maior de diálogo na 
rede, onde todos podem ser emissores de conteúdo e informação e também receptores, 
invertendo a todo tempo esses papéis.Morais (2010, p.71), sobre esse fenômeno, observa: 
Passa-se do sistema pull (conteúdo "puxado" pela audiência), que caracteriza 
a web 1.0, e do sistema push (ou seja, conteúdo "empurrado" pelos veículos 
ao receptor) dos meios de comunicação tradicionais, para o trabalho de 
informações com base num modelo misto (pull e push), onde a construção e 
distribuição dos conteúdos partem de todos os lados, formando uma grande 
teia interligada em seus extremos e configurando a rede P2P, marcada pela 
descentralização das funções na rede, onde todos os usuários podem ser ao 
mesmo tempo servidores e clientes. [...] Desse modo, as ferramentas de web 
2.0 acabam por oferecer ao internauta uma nova lógica de navegação, onde, 
1 Na história da humanidade, nenhum outro meio de comunicação teve o impacto e alcance que a internet 
goza hoje em dia. Inicialmente, a ferramenta era utilizada apenas como um portal de informações, o que 
é conhecido como web 1.0; porém logo evolui para uma fase mais complexa em que não basta buscar 
informação, mas o usuário quer formar parte dessa informação; ou seja, quer receber e transmitir 
informações, quer se comunicar e expressar suas ideias, opiniões e pensamentos. A consequência 
inevitável é que os usuários da internet criam informações de maneira global. Estamos diante da 
denominada web 2.0, o que representa uma revolução na interação social e na forma como as pessoas 
se comunicam. (Tradução nossa). 
22 
ao invés de um grande centro distribuidor de conteúdos a um público 
desconhecido, criam-se espaços conectados por micro-redes com capacidade 
e regidos pela lógica da cooperação e participação. 
Faria (2012, p. 99) coloca: 
O termo web 2.0 ou internet 2.0 se refere à nova fase da internet na década 
pós-virada de século, com o surgimento de aplicativos intensificadores da 
interação entre homem e computador. Assim, enquanto a primeira fase da 
internet (1.0), durante a década de 90, foi marcada por websites simples, com 
apresentação apenas de informações, e-mails e, no máximo, chats, a internet 
2.0 trouxe aplicações como blogues, chats mais desenvolvidos (bate-papos ao 
vivo) com visualização de imagens dos interlocutores, webminars (seminários 
digitais à distância), RSS e vários outros mecanismos auxiliadores de 
comunicação e inserção de conteúdo por parte dos usuários. Vale ressaltar 
também a utilização da internet 2.0 por outros aparelhos eletrônicos além do 
computador, com novas aplicações. É o caso dos videogames, telefones 
celulares e televisores digitais que ultimamente têm apresentado vários 
mecanismos inovadores de interação, inclusive com novas interfaces, 
permitindo diferentes formas de manuseio e de expressão do ser humano. 
Nesse contexto, surgem novos canais de comunicações denominados de mídias 
sociais. Mediante as possibilidades oferecidas pela web 2.0, elas podem ser vistas como 
ferramentas que permitem construções coletivas, possibilitando aos usuários liberdade na 
maneira como interagem nesse espaço, por meio de criação e colaboração na divulgação de 
conteúdo. 
Veloso (2010) acredita que a definição do termo mídia social seja difícil pelo 
dinamismo relacionado ao tema, com rápido desenvolvimento da tecnologia relacionada, com 
novos sites, serviços e conteúdos online surgindo a cada dia, assim como as habilidades e 
conhecimentos de seus usuários. 
De acordo com Haenlein e Kaplan (2009, p. 61), "Social Media is a group of 
internet-based applications that build on the ideological and technological foundations of web 
2.0, and that allow the creation and exchange of User Generated Content" 2 . 
Para Altermann (2010): 
2 "Mídia Social é um grupo de aplicativos para internet que se baseia nos fundamentos ideológicos e 
tecnológicos da web 2.0, e que permite a criação e troca de conteúdo gerado pelo usuário" (Tradução 
nossa). 
23 
Também já chamado de "new media" (novas mídias) agora é conhecido como 
mídias sociais, que antes se referia ao poder de difundir uma mensagem de 
forma descentralizada dos grandes meios de comunicação de massa, agora 
é traduzido por muitos como: "Ferramentas online que são usadas 
para divulgar conteúdo ao mesmo tempo em que permitem alguma 
relação com outras pessoas". Exatamente como um blog, que ao mesmo 
tempo dissemina conteúdo e abre espaço para os leitores interagirem. (grifo 
do autor). 
Diversos são os formatos ou plataformas existentes de mídias socais, possuindo 
especificidades de acordo com o público, seus objetivos e o modo de interação pretendido, tais 
como: podcasting3, media sharing4, blogs, microblog 5 , wikis6, aplicativos de trocas de 
mensagens instantâneas para smathphones (entre os mais famosos está o WhatsApp), sites de 
relacionamento ou sites de redes sociais, entre outros formatos. Vale destacar que "não é 
fundamental se prender às tecnologias em si, mas aos recursos que elas oferecem e às mudanças 
provocadas no processo de comunicação" (BRASIL, 2014b, p. 20). 
É possível identificar algumas características comuns às plataformas existentes 
(BRASIL, 2014b, p. 20): 
• Via de regra, a criação do perfil ou página de uma marca ou instituição 
e suas respectivas configurações são gratuitas; 
• Boa parte destas redes aceita a utilização de hashtags (ou marcadores), 
que são palavras ou temas formados pelos usuários e antecedidos pelo símbolo 
cerquilha (#). Com isso, tornam-se hiperlinks que permitem que o usuário 
encontre mais informações sobre aquele tema ou expressão. 
• Em boa parte dos casos, por terem origem estrangeira, os processos de 
suporte a problemas em redes sociais são feitos no exterior o que torna os 
chamados mais lentos e burocráticos. 
Em grande parte do material produzido relativo ao tema mídias socais, sejam 
trabalhos de cunho científico ou não, são inúmeras as situações em que o termo "redes sociais" 
Podcasting é uma forma de publicação de arquivos de mídia digital (áudio, vídeo, foto, etc.) 
pela internet, por meio de um RSS (formato de assinatura de conteúdo de um site). Com ele, é possível, 
para um ouvinte, receber automaticamente conteúdos que tenha interesse sem que tenha de visitar a todo 
o momento o site em que ele é produzido. A cada novo podcast, o ouvinte é notificado e o arquivo é 
automaticamente baixado em seu computador. 
4 Ferramenta para compartilhamento de fotos, áudio e vídeo. Um exemplo seria o Slideshare, site para 
o compartilhamento de apresentações, documentos e PDFs. 
5 Um dos mais famosos microblog é o Twitter, que permite aos usuários postarem mensagens curtas 
(com até 140 caracteres) expressando opiniões e informações sobre os temas que preferirem. 
6 Conforme informação do projeto Wikipédia (https://pt.wikipedia.org), o wiki é uma plataforma 
colaborativa que permite a edição coletiva dos documentos, cujo conteúdo seja reutilizável, livre, 
objetivo e verificável, que todos possam editar e melhorar. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81udio
https://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%ADdeo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Foto
https://pt.wikipedia.org/wiki/Internet
https://pt.wikipedia.org/wiki/RSS
https://pt.wikipedia.org/
24 
é empregado no mesmo sentido de mídias sócias, embora a literatura aponte diferenças nos 
significados. 
O Manual de Orientações para Atuação em Mídias Sociais (BRASIL, 2014b, p. 
8, grifo nosso) define a diferença nestes termos: 
[Redes Sociais] são comunidades, redes de relacionamentos, tribos. Já as 
mídias sociais passaram a ser interpretadas como as plataformas de internet 
que facilitam e aceleram a conexão entre as redes (grupos) sociais. [...] No 
decorrer dos últimos anos, as "ferramentas de mídias sociais" foram projetadas 
como sistemas online que permitem a interação social, a partir do 
compartilhamento e da criação colaborativa de informação nos mais diversos 
formatos. Elas possibilitaram a publicação de conteúdos por qualquer pessoa, 
e também por intermédio de instituições representadas por perfis oficiais, 
reduzindo o custo de distribuição da cadeiade informações, produção e 
distribuição de informação como atividades, até pouco tempo, estavam 
restritas aos grandes grupos econômicos. 
Recuero (2010) separa a diferença dos termos da seguinte forma: 
Primeiramente, para mim, rede e mídia social são coisas diferentes. As redes 
sociais são metáforas para os grupos sociais. Já a "mídia social" (sem entrar, 
aqui, no mérito do termo), é um conjunto de dinâmicas da rede social. Explico: 
são as dinâmicas de criação de conteúdo, difusão de informação e trocas 
dentro dos grupos sociais estabelecidas nas plataformas online (como sites de 
rede social) que caracterizam aquilo que chamamos hoje de mídia social. São 
as ações que emergem dentro das redes sociais, pela interação entre as pessoas, 
com base no capital social construído e percebido que vão iniciar movimentos 
de difusão de informações, construção e compartilhamento de conteúdo, 
mobilização e ação social. 
Nesse sentido, uma rede social é uma metáfora para observar padrões de conexão 
de um grupo social, a partir das conexões (interações ou laços sociais) estabelecidos entre os 
diversos atores (pessoas, instituições ou grupos; os nós da rede). Uma rede social, assim, é 
definida como um conjunto de dois elementos: atores e suas conexões. A abordagem de rede 
tem, assim, seu foco na estrutura social, onde não é possível separar os atores sociais e nem 
suas conexões (FAUST; W A S S E R M A N , 1994). 
Ao explicar a diferença entre os termos, Faria (2012, p. 80) coloca, ainda, a 
abertura e porosidade como outra característica das redes sociais, conforme o trecho a seguir: 
Redes sociais são estruturas sociais compostas por pessoas ou organizações, 
conectadas por um ou vários tipos de relações, que partilham valores e 
objetivos comuns. Uma das características fundamentais na definição das 
redes é a sua abertura e porosidade, possibilitando relacionamentos 
horizontais e não hierárquicos entre os participantes. As redes sociais virtuais 
25 
são grupos ou espaços específicos na internet que permitem partilhar 
informações, ideias e emoções, de caráter geral ou específico, das mais 
diversas formas (textos, imagens, vídeos, áudios, etc.). Softwares e aplicativos 
próprios da internet auxiliam na organização, interação e registro dos 
conteúdos e membros das redes sociais. 
Apesar das possibilidades de definições atribuídas às mídias sociais, algumas 
são relacionadas como necessárias para que uma plataforma receba tal classificação. Mayfield 
(2008 apud VELOSO, 2010, p. 5-6) apresenta quais seriam tais atributos: 
• Participação: as mídias sociais incentivam contribuições e comentários 
de todos os interessados, eliminando a linha entre a mídia e o público. 
• Abertura: a maioria dos serviços de mídia social está aberto ao feedback 
e participação. Eles encorajam votação, comentários e compartilhamento de 
informações. Raramente apresentam barreiras para acessar e fazer uso do 
conteúdo - conteúdo protegido por senha é visto com bons olhos. 
• Diálogo: ao passo que a mídia tradicional é sobre "broadcast" (conteúdo 
transmitido ou distribuído a uma audiência), mídia social é mais bem visto 
como uma conversa de duas vias. 
• Comunidade: mídia social permite que comunidades se formem 
rapidamente e se comuniquem eficazmente. Esses grupos partilham interesses 
comuns, tais como o amor pela fotografia, uma questão política ou um 
programa de TV favorito. 
• Conexidade: a maioria dos tipos de mídia social prosperaram em sua 
conexão, fazendo uso de links para outros locais, recursos e pessoas. 
Dessa forma, mesmo que em muitos casos os termos "mídias sociais" e "redes 
sociais" sejam usados com a mesma finalidade, como visto, possuem significados diferentes. 
Para fins deste trabalho, o objeto de estudo é as mídias sociais. Embora não exista uma definição 
única e reconhecida do termo, o presente estudo define mídias sociais como plataformas na 
internet estabelecidas para permitir a criação colaborativa de conteúdo, a interação social e 
comparti lhamento de informações em diversos formatos, como texto, áudio, foto e vídeo, 
permitindo que comunidades se formem para partilhar interesses comuns. 
Dentre as possibilidades de formatos que as mídias sociais apresentam estão os 
chamados sites de relacionamento. O Facebook está entre os mais famosos e populares. De 
acordo com Brasil (2014c), o site de relacionamento é o mais utilizado pelos brasileiros em 
termos de mídias sociais, respondendo por 8 3 % dos internautas. A seguir, serão apresentadas 
suas principais características. 
26 
2.2 Facebook: uso e características 
De acordo com publicação do site Idgnow, de acordo com o perfil do seu CEO 
e co-fundador, Mark Zuckerberg, o Facebook fechou o terceiro trimestre de 2015 com 1,5 
bilhão de usuários mensais, sendo que um bilhão acessava a mídia social diariamente. Além 
desses números, a plataforma terminou setembro de 2015 com 1,39 bilhão de usuários mensais 
acessando a mídia social por meio de smartphones. O Facebook ainda contou com 8 bilhões de 
visualizações de vídeos por dia no período informado, frente a 1 bilhão no mesmo período de 
2014. 
N o Brasil, em relação às mídias sociais mais utilizadas pelos brasi leiros 7 
(BRASIL, 2014c), lidera o Facebook (83%), seguido pelo WhatsApp (58%), YouTube (17%), 
Instagram (12%), Google+ (8%) e Twitter (5%). Ainda, de acordo com o site Alexa, que mede 
quantos usuários de internet visitam um site da web, o Facebook (FIGURA 1) perdia apenas 
para o Google na lista de endereços eletrônicos mais acessados no país, uma tendência 
verificada mundialmente. Todos os números apresentados fazem do Facebook o maior e mais 
importante site de relacionamentos atualmente. 
Figura 1 - Página inicial do Facebook 
Fonte: Facebook (2004). Acesso em: 20 nov. 2015. 
O quesito da pesquisa permitia a escolha de até 03 opções de respostas. 
27 
Com o slogan "Facebook is a social utility that connects you with the people 
around y o u " 8 , os usuários que declarem ter ao menos 13 anos podem se registrar no site de 
relacionamentos, criando um perfil pessoal, que permite a inserção de fotos e listas de interesse, 
e, em seguida, adicionar outros usuários como amigos, trocar mensagens públicas ou via chat, 
em tempo real, e ainda participar de grupos de discussão com outros usuários, organizados por 
atributos sociais, tais como escola, trabalho, família, amigos, religião, trabalhos voluntários, ou 
outras características. O nome faz alusão ao livro dado aos estudantes no início do ano escolar 
por algumas instituições universitárias norte-americanas para auxiliar os estudantes a 
conhecerem uns aos outros (FACEBOOK, 2004). 
Seu sucesso, entre outros fatores, pode ser explicado por agregar funcionalidades 
de diversas outras mídias sociais. O Facebook permite montar uma base de fãs (tal como ocorre 
com o Twitter) para acompanhar as postagens, sendo a não restrição ao número de caracteres 
por mensagem um de seus diferenciais. Por meio da plataforma, ainda é possível inserir fotos, 
vídeos e outras aplicações diversas de grande utilidade aos usuários, por exemplo sistemas 
bancários ou até jogos (FACEBOOK, 2004). 
Além de possibilitar ao usuário "comentar" o conteúdo postado pelos demais 
utilizadores, o Facebook permite "curtir" postagens, sinalizando identificação com o conteúdo, 
entre eles atualização de status, comentários, vídeos, fotos, links e propagandas. Já o recurso de 
"cutucar" ganhou inúmeras possibilidades de interação, como para simplesmente chamar a 
atenção de outro usuário, de dizer um "oi" ou para uma "investida sexual", dependendo da 
forma como o usuário irá criar significado do recurso. Por meio da ferramenta "compartilhar", 
o utilizador republica uma postagem no perfil dos usuários que escolher, permitindo que a 
informação tenha maior chance de ser lida e alcance outras pessoas. As interações ficam 
registradas na "Linha do tempo", que nada mais é que a sua páginapessoal, acumulando todo 
que o usuário fez, se identificou, desde do seu ingresso no site de rede social (FACEBOOK, 
2004). 
N o Quadro 1 são identificados outros recursos oferecidos pelo Facebook 
potencializando ainda mais as possibilidades de interação entre seus usuários: 
"No Facebook você pode se conectar e compartilhar o que quiser com quem é importante na sua vida" 
(Tradução nossa). 
28 
Quadro 1 - Recursos do Facebook 
Recursos Descrição 
Permite que os membros informem seus 
amigos sobre novo evento da comunidade 
Possibilita a criação de encontros sociais 
Os usuários podem fazer chamadas de voz e 
vídeo ao vivo, bem como deixar mensagens 
de voz para outros usuários 
A visualização de dados detalhados de um 
membro é restrita para participantes de uma 
mesma rede ou amigos confirmados 
Por meio de um algoritmo, o Facebook coleta 
dados das fotos publicadas pelo usuário e 
sugere os nomes dos amigos presentes 
Espaço no perfil do usuário que permite que 
amigos postem mensagens, visível para 
qualquer pessoa autorizada a ver o perfil 
O usuário pode informar aos seus amigos, via 
postagem de fotos, vídeos, comentários etc., 
coisas do seu interesse no Feed de Notícias 
(publicações em geral) do Facebook 
Fonte: Facebook (2004). Acesso em: 20 nov. 2015. 
U m número cada vez maior de empresas, por meio da criação de páginas, 
denominadas de Fan Page ou perfil, estão aderindo a essa mídia social. Conforme Facebook 
(2004), atualmente existem mais de 50 milhões de páginas de negócios ativas no site de 
relacionamentos. 
Assim como os perfis dos usuários, as páginas podem ser personalizadas, por 
meio de publicação de fotos e histórias, receber e responder mensagens via chat, sendo também 
permitida a criação de eventos e utilização de aplicativos, entre outros recursos. Ao clicar na 
opção "curtir" uma determinada página, o usuário passa a ser fã, recebendo atualizações de 
conteúdos em seu Feed de Notícias. O Facebook ainda permite aos administradores da página 
visualizar se aquela pessoa que está entrando em contato com a instituição já interagiu com a 
marca e as informações básicas publicadas em seu perfil, podendo adicionar notas sobre o 
usuário, como pedidos atuais e anteriores ou informações relevantes (FACEBOOK, 2004). 
Eventos 
Chamada de voz e vídeo 
Restrição de visualização 
Reconhecimento facial 
Mural 
Status 
29 
Dentre as potencialidades oferecidas aos negócios de uma instituição estão o 
lançamento de novos produtos e campanhas de marketing e criação de promoções aos fãs dos 
perfis. A facilidade de compartilhar postagens entre os fãs da instituição no Facebook, tem sido 
considerada como uma forma de promoção de baixo custo da marca e de grande eficiência. 
Além disso, pelo recurso "Nome de usuário", o site de relacionamentos permite que o usuário 
modifique o endereço originalmente gerado para ser mais facilmente lembrado pelo público, tal 
como https://www.facebook.com/cocacola. 
De acordo com o Facebook (2004), somente o representante oficial pode criar 
uma página para representar uma empresa, marca, organização ou celebridade. Por outro lado, 
o administrador, que poderá utilizar todos os recursos da página, poderá atribuir funções 
administrativas a qualquer quantidade de usuários, desde que sejam pessoas reais, para auxiliar 
no gerenciamento da página e ainda definir graus de acesso e publicação de conteúdo para cada 
um deles. 
Entre as possibilidades de uso das mídias sociais, sobretudo dos sites de 
relacionamentos, está a criação de novos canais de diálogo entre o poder público e a sociedade, 
fazendo parte dos programas e ações conhecidos como governo eletrônico. Essa relação entre 
as tecnologias da informação e comunicação e o poder público será debatida na próxima seção. 
https://www.facebook.com/cocacola
30 
3 G O V E R N O E L E T R Ô N I C O E P A R T I C I P A Ç Ã O CIDADÃ 
Neste capítulo, o leitor poderá compreender o contexto de surgimento dos 
programas e ações de governo eletrônico, apresentando seus principais conceitos e formatos. 
Serão também descritos alguns benefícios e desafios da aplicação das TIC na democracia, 
elencados pela literatura, além de algumas categorias de iniciativas de e-democracia. Ao fim da 
seção, será abordado o fenômeno das mídias sociais no contexto do governo eletrônico e 
algumas iniciativas do seu uso pelo poder público brasileiro. 
3.1 Governo eletrônico 
As pressões que agem sobre as organizações do setor público, levando-as à 
implementação de estratégias pautadas no uso intensivo de recursos das TIC, estão relacionadas 
como o aumento da capacidade das organizações em adotar boas práticas de gestão que 
permitam o efetivo controle da ação do governo pela sociedade, orientadas por temas como 
desempenho, eficiência, eficácia, transparência e mecanismos de monitoramento e prestação de 
contas (BARBOSA et al., 2007). 
Em decorrência dessas forças, utilizando os recursos das TIC para efetivarem 
boas práticas de gestão no setor público, as entidades governamentais têm desenvolvido 
importantes iniciativas voltadas ao chamado governo eletrônico (e-governo ou e-gov). Dentre 
essas ações pode-se destacar a migração do armazenamento das informações do meio físico 
(papel) para mídias eletrônicas (banco de dados), a oferta de serviços públicos online (e-
serviços), o avanço da infraestrutura pública de telecomunicações e da internet em órgãos 
governamentais de todas as esferas e o estabelecimento de políticas de inclusão digital, 
potencializadoras da ampliação ao acesso às novas TIC pela população brasileira. 
O governo eletrônico modifica o modelo de relacionamento entre o Estado e 
cidadão, o que pode levar à reforma das estruturas que sustentam os processos administrativos. 
Nesse sentido, o uso das novas TIC pelo setor público pode tornar mais direta as relações entre 
o governo e a sociedade. Novas formas de fazer melhor determinadas atividades tornam-se 
possíveis com o emprego das tecnologias da informação e comunicação nos processos 
organizacionais (OLIVEIRA et al., 2007). As TIC são trabalhadas, nesse sentido, como 
recursos que viabilizam a modernização da gestão pública (processos, relacionamentos e 
estrutura), com o objetivo de gerar maiores níveis de eficiência na condução dos processos, e 
ferramentas potentes de aperfeiçoamento na prestação dos serviços públicos e incremento nos 
31 
mecanismos de controle e transparência das decisões governamentais e de participação cidadã 
(LAIA, 2009). 
O e-gov se traduz em um conjunto coordenado de estratégias e ações 
empreendidas pelo governo, por meio das suas diferentes instâncias, para integrar as TIC aos 
processos governamentais, com o objetivo de gerar maiores níveis de eficiência na 
administração, controle e transparência na tomada de decisões e participação cidadã 
(OLIVEIRA et al., 2007). As estratégias e ações estão, em geral, fortemente apoiadas em nova 
visão do uso das tecnologias para a prestação de serviços públicos, em especial, modificando a 
maneira pela qual o Estado interage com o cidadão, empresas e outros governos (ABRAMSON; 
M E A N S , 2001 apud B A R B O S A et al, 2007). 
Barbosa et al. (2007, p. 516) consideram que: 
[...] a tecnologia, portanto, possui papel viabilizador nas iniciativas de 
modernização e transformação da gestão pública. Sua adoção e uso intensivo 
evoluíram para o que hoje é chamado de governo eletrônico ou e-governo, que 
posteriormente passou a ser chamado de governança eletrônica em uma 
abordagem mais ampla, que implica envolvimento e participação do cidadão 
no controle das atividades públicas. 
Conceitos mais abrangentes passaram a ser descritos e incluem outros empregos 
das TIC, para além da ideia de participação do cidadão restrita apenas ao papel de usuário de 
serviços: a melhoria nos processos, transações e operações internas da administração pública e 
também no relacionamento com a sociedadeutilizando meios de comunicação eletrônicos 
(FERNANDES, 2007); o aumento da eficiência; a melhor governança; a elaboração e o 
monitoramento de políticas públicas; a integração entre governos e a democracia eletrônica 
(BARBOSA et al., 2007). Além desses temas, o enfrentamento à exclusão digital por meio de 
políticas que visem à promoção da inclusão digital é tratado como dimensão importante das 
ações de e-governo (BARBOSA et al, 2007). 
A Organização das Nações Unidas (ONU) realizou, no ano de 2012, pesquisa 
que estabelece um ranking de e-gov dos Estados-membros, indicando quais países atuam por 
meio de práticas de governo eletrônico. O documento declara que o ponto de entrada para a 
sustentabilidade econômica de um Estado é como o e-gov apoia a eficiência e a eficácia 
governamental para atingir maior crescimento e desenvolvimento. Por intermédio do uso das 
TIC, é necessário que as estruturas hierárquicas e burocráticas sejam transformadas em sistemas 
integrados horizontais, os quais possam facilitar a orientação para o cidadão e aumentar os 
32 
níveis de transparência e de prestação de contas em um movimento que permita a prestação e 
solução de serviços públicos sustentáveis (UNITED NATIONS, 2012). 
Neste contexto, Barbosa et al. (2007) identifica as seguintes dimensões do 
governo eletrônico: 
a) e-serviços públicos, associada à melhoria da prestação de serviços aos 
cidadãos, principalmente por meio de criação de novos canais digitais para 
o acesso e a entrega de serviços, como, por exemplo, portais de serviços em 
sites do governo; 
b) e-administração pública, associada à melhoria dos processos 
governamentais e do trabalho interno do setor público com a utilização das 
tecnologias da informação e comunicação; e 
c) e-democracia, associada à utilização das tecnologias da informação e 
comunicação para possibilitar a participação maior e mais ativa do cidadão 
nos processos democráticos e de tomada de decisão do governo. 
Embora a fronteira entre as três dimensões seja difícil de ser estabelecida, uma 
vez que um mesmo serviço pode conter aspectos de mais de uma dimensão, a divisão é apenas 
conceitual, para facilitar o entendimento didático das questões relativas ao tema. Por exemplo, 
a criação do pregão eletrônico alterou a estrutura dos processos de compras governamentais, 
por meio dos procedimentos realizados na internet (dimensão e-administração pública), 
ampliando o rol de potenciais empresas concorrentes, incrementando a eficiência administrativa 
em decorrência de maior probabilidade de aquisição de bens que melhor atendam as atividades 
finalísticas (dimensão e-serviços públicos) e oferecendo ainda mecanismos de transparência e 
controle social, por meio de chats públicos onde são realizadas as negociações (dimensão e-
democracia). 
É importante destacar que em qualquer um dos formatos de governo eletrônico 
que se adote, eles são suportados por estratégias e políticas voltadas para o uso das TIC como 
forma de transformação do setor público, potencializando a participação da sociedade na gestão 
pública, a viabilização do desenvolvimento econômico e social e, em última análise, o 
fortalecimento da democracia. 
Oliveira et al. (2007) auxiliam na compreensão do e-governo ao elencarem as 
principais áreas de atuação para sua implantação, a saber: atendimento ao cidadão e às 
empresas; gestão interna e desenvolvimento e fortalecimento da democracia, por meio de u m 
governo transparente. 
33 
Nos relacionamentos government to citizens (G2C) e government to business 
(G2B), o e-gov procura facilitar a interação do cidadão e das empresas, respectivamente, com 
os governos. As entidades públicas t êm encontrado suporte nas TIC para melhoria dos canais 
de relacionamento. Os portais de serviços na internet e a criação de centrais de atendimento 
integradas, além do recente uso das mídias sociais, são exemplos já utilizados pelo setor 
público. 
Fator importante do potencial das TIC para a melhoria da administração pública 
é a ampliação do alcance, da presença e da atuação dos governos. Com o e-gov, por meio da 
utilização da internet, o Estado pode levar mais serviços e informações ao cidadão em 
localidades mais remotas e de difícil acesso. As TIC têm a vantagem de minimizar limitações 
espaciais e temporais. E m qualquer lugar e em qualquer tempo as informações ficam 
disponíveis à população, sem limitação dos horários de atendimento das repartições públicas, e 
a partir de qualquer lugar que esteja conectada (OLIVEIRA et al, 2007). 
E m relação à gestão interna, essas tecnologias impulsionam a modernização dos 
processos e a integração de sistemas de informações, que englobam tanto as atividades meio da 
estrutura governamental, ou seja, administração, orçamentos, finanças, compras públicas, 
procuradoria jurídica etc., quanto as atividades finalísticas, ou seja, educação, saúde, defesa 
social, assistência social, esporte, cultura, etc. Os projetos orientados por essa visão incorporam 
aplicações das tecnologias da informação e comunicação baseadas na interligação de sistemas, 
processos, unidades organizacionais e instituições (FERNANDES, 2007). Com a modernização 
almejada, a tomada de decisão é facilitada, possibilitando, ainda, redução de prazos e custos 
(papel, pessoal etc.). 
Para a transparência no setor público, as ações de governo eletrônico fortalecem 
o papel de controle e participação da sociedade na gestão pública, por meio de acesso às 
informações disponibilizadas pelo governo em ambiente web, possibilitando ainda aos cidadãos 
atuarem como agentes ativos na tomada de decisões sobre gastos públicos nas políticas que 
melhor os atendem. 
Nesse contexto, o governo eletrônico assume um papel diferenciado ao criar u m 
ambiente de interação direta com a sociedade, que propicia canal de diálogo e aproximação que 
se retrata para além da oferta de serviços e informações com a ideia de "empoderamento" do 
cidadão. Com voz ativa, em uma relação direta com o governo, o cidadão deixa de ser 
participante pouco interveniente nas ações que o Estado provê, para assumir uma postura mais 
atuante, propondo mudanças, construindo e elaborando em conjunto com os entes públicos um 
34 
governo aberto e participativo. Aqui emerge o termo Governo 2.0 como parte integrante de u m 
governo eletrônico pleno em seus propósitos democráticos (CERQUINHO et al, 2014). 
Nesse sentido, o governo eletrônico "se estrutura a partir da utilização das 
ferramentas de informação e comunicação propiciadas pela internet, desde que ocorram de 
forma interativa, sendo aplicadas inclusive por meio de redes sociais" (CERQUINHO et. al, 
2014, p. 4). 
Governos passam a fazer uso dos elementos de interação propiciados pela web 
2.0, entre eles blogs, wikis, bate-papos com visualização de imagens e, principalmente, as 
mídias sociais, para incrementar a comunicação, seja para informar, prestar serviços ou travar 
diálogos com os cidadãos (ROCHA, 2009). DZIEKANIAK (2011) reafirma o governo 
eletrônico como interativo, inclusivo e que, por meio das possibilidades tecnológicas e 
integradoras, consegue abrigar, sustentar, estimular e valorizar a participação social, por 
intermédio de espaços colaborativos da web 2.0. 
Experiências, nesse sentido, começam a aparecer com maior frequência, 
principalmente depois da campanha presidencial norte-americana de 2008 9 , em que o candidato 
Barack Obama adotou fortemente ações de interação com eleitorado por meio das redes sociais 
virtuais. A seção 3.3 tratará do tema Governo 2.0 e uso das mídias sociais. 
O Estado, neste contexto, precisa reinventar o modo como desempenha suas 
funções, nas palavras de Rocha (2009, p. 5): 
O Estado, em todas suas instâncias, se vê desafiado a se apropriar dos 
benefícios das novas aplicações de TIC, a utilizá-las para se reestruturar de 
modo a desempenhar novas e antigas funções e prover serviços de maneira 
eficiente,reforçando a cidadania e contemplando a transparência e a 
participação política. Em se tratando de participação pública na tomada de 
decisão, é preciso utilizar novos recursos para: prover uma visão da 
intervenção proposta sobre o território; possibilitar o aumento do 
conhecimento sobre as consequências de escolhas pessoais e de representantes 
das comunidades envolvidas; permitir a expressão e construção colaborativa 
do conhecimento. [...] Assim, somos estimulados a refletir sobre os usos da 
web 2.0 para apoiar processos de participação pública nos destinos da cidade, 
do estado, e até mesmo do país, em particular na comunicação, diálogo e 
tomada de decisão acerca de ações. 
A adoção de políticas do governo eletrônico, sobretudo a e-democracia, pode 
contribuir para o fortalecimento das relações entre o Estado e a sociedade. Neste contexto, a 
disseminação do uso das ferramentas da web 2.0, principalmente das mídias sociais, 
potencializam a participação cidadã nas decisões governamentais. N o próximo item será 
iniciada a discussão sobre o uso das TIC para fomento da relação governo-sociedade. 
9 O caso das eleições norte-americana será apresentado na seção 3.2.2. 
35 
3.2 O uso das tecnologias de informação e comunicação no fortalecimento das relações 
entre governo e sociedade 
A proclamação de um Estado Democrático de Direito implica de forma 
consistente que a soberania reside no povo e que, portanto, o povo ostenta o "direito de decidir", 
de formar a vontade do Estado. Segundo Bobbio (1986, p. 12), "por regime democrático 
entende-se primariamente um conjunto de regras de procedimento para a formação de decisões 
coletivas, em que está prevista e facilitada a participação mais ampla possível dos interessados". 
A fórmula tradicional em que se materializou a participação cidadã nas 
democracias representativas tem sido as eleições. O dilema das eleições, como único 
instrumento que o cidadão possui para sancionar seus representantes, seja reelegendo-os para 
novo mandato ou escolhendo outra proposta política votando em outro candidato, decorre em 
como garantir que os eleitos possam realmente agir no interesse dos cidadãos ou, pelo menos, 
de parte deles. Os debates sobre a democracia participativa ou democracia deliberativa surgem 
para procurar formas de participação popular na política que não fiquem restritos ao momento 
das eleições. 
Gomes (2005, p. 218) considera que as democracias representativas 
contemporâneas separam a esfera civil da esfera política ao atribuir todo poder de decisão 
política aos representantes: 
Há, pois, uma esfera civil, o âmbito da cidadania, considerada o coração dos 
regimes democráticos, que autoriza, mas não governa, e há, por outro lado, 
uma esfera política cujo único vínculo constitucional com a esfera civil é de 
natureza basicamente eleitoral. O modelo de democracia representativa entra, 
portanto, em crise. 
O desafio das democracias modernas refere-se, portanto, ao aperfeiçoamento e 
ao aprofundamento das instituições democráticas, com vistas a permitir sua operação nos 
interstícios eleitorais, acoplando aos mecanismos clássicos da representação formas 
institucionalizadas de participação política, que permitam a ampliação do direito de vocalização 
das preferências dos cidadãos e o controle público do exercício do poder (AZEVEDO; 
ANASTASIA, 2002). 
A implementação de programas de e-democracia, ciberdemocracia ou 
democracia digital, visam contribuir para a consolidação da democracia em determinado 
território, sem a pretensão de substituir os mecanismos clássicos, mas criando, por meio do uso 
das tecnologias da informação e comunicação, novos formatos para tornar o "jogo democrático" 
36 
contínuo, interativo e em múltiplas arenas, para além das eleições. Abre-se a possibilidade para 
governos democráticos reinventarem a política usando as TIC, em prol do desenvolvimento do 
Estado e da sociedade. 
Nesse sentido, a e-democracia consiste em qualquer forma de emprego de 
dispositivos (computadores, celulares, smartphones, palmtops, ipads, entre outros), aplicativos 
e ferramentas (fóruns, sites, blogs, mídias sociais, por exemplo) de tecnologias digitais de 
comunicação para suplementar, reforçar ou corrigir aspectos de práticas políticas e sociais do 
Estado e dos cidadãos, em contribuição ao teor democrático da comunidade política (GOMES, 
2011). Pode-se afirmar que internet viabiliza uma série de canais de interlocução entre o Estado 
e cidadãos, como mídias sociais, portais da transparência, chats, fóruns de discussão, votações 
eletrônicas, e-mails, envio de SMS, consulta pública, acompanhamento de denúncias, entre 
outros recursos. 
Dependendo de qual aspecto democrático que esteja sendo promovido, a 
ciberdemocracia pode utilizar das tecnologias da informação e comunicação para melhorar a 
transparência do processo político, para aumentar o envolvimento direto e a participação dos 
cidadãos, para melhorar a qualidade da formação de opinião por meio da abertura de novos 
espaços de informação e deliberação (TRECHSEL et al, 2002, p. 3). Outro não menos 
importante objetivo do Estado com a adoção de programas de ciberdemocracia seria "tirar 
proveito da criatividade e do conhecimento dos cidadãos, ou seja, da inteligência coletiva para 
a construção de políticas públicas mais eficazes" (FARIA, 2012, p. 97). 
O e-democracia emerge como um caminho para aproximar representados de seus 
representantes, ofertando canais para disponibilização de informações (por exemplo, portais da 
transparência) e de manifestação de preferência por parte dos cidadãos. O surgimento de novos 
mecanismos de controle do exercício do poder é condição indispensável para melhoria das 
democracias contemporâneas. Essas possibilidades, que podem ser supridas pela democracia 
digital, afetariam diretamente as relações de accountability vertical (responsabilização dos 
representantes perante os representados), accountability horizontal (entre poderes distintos) e 
responsividade (agir no melhor interesse dos cidadãos). 
D o ponto de vista das informações como subsídio para o sistema político, 
"quanto maior a possibilidade dos cidadãos poderem discernir se os governantes estão agindo 
em função do interesse da coletividade e sancioná-los apropriadamente, mais accountable é u m 
governo" (JARDIM, 2000). Esse controle só será efetivo à medida que as informações sobre as 
ações dos governantes estiverem disponíveis. Neste contexto, a e-democracia poderia ser 
considerado um facilitador da accountability nas democracias atuais. A responsabilização seria 
37 
viabilizada pela ampliação das informações disponíveis sobre a atuação dos Poderes Executivo 
e Legislativo e, a partir da existência de canais de interlocução institucionalizados, cidadãos 
poderiam exigir de parlamentares aplicação de sanções internas (accountability vertical) ou de 
sanções sobre o Poder Executivo (accountability horizontal), ampliando as possibilidades de 
premiação ou punição para além do período eleitoral (ARAÚJO, 2007). 
U m entrave para que o cidadão possa efetivar o controle sobre a gestão pública, 
por outro lado, é a assimetria de informação entre os envolvidos, que, no limite, podem 
inviabilizar o processo democrático (ARAÚJO, 2007). Caso o representante desconheça o 
quanto uma decisão afete o cidadão, suas decisões podem gerar resultados contrários aos 
interesses deste, passando a agir de forma independente. Outro exemplo mais extremo seria a 
própria falta de informações disponíveis ao cidadão sobre resultados da ação do governo. 
Propostas de e-democracia permitiriam a redução das assimetrias e de déficits de 
accountability, com ganhos significativos para a transparência das instituições públicas. 
Primeiro, permitem amplo acesso às informações relativas à gestão governamental. A internet 
é meio por excelência de disponibilização de informações sobre os formatos tradicionais. 
Segundo,criam canais em que os cidadãos podem manifestar os impactos das políticas sobre 
suas vontades. Finalmente, as ferramentas criadas são normalmente de fácil acesso e baixo 
custo para os cidadãos manifestarem seus interesses nas decisões coletivas (a exemplo do 
acesso realizado por meio de smartphones). A multiplicidade de fontes é uma das 
características da rede que pode permitir a redução da assimetria informacional entre os agentes 
permitindo o aprofundamento da democracia. 
Uma visão estratégica do e-democracia envolve um intenso controle das ações 
do Executivo e a disponibilização incondicional de informações em canais digitais à sociedade. 
Os sites das casas legislativas, neste contexto, "podem assumir papel fundamental na 
disponibilização de informações necessárias para o controle e a responsabilização dos 
representantes" (ARAÚJO, 2007, p. 708). Além disso, mídias sociais, listas de discussão, blogs 
etc. podem ser utilizados para discutir e debater aprovação de contas e ações do Executivo, de 
modo a fortalecer a accountability vertical, e, ainda, disponibilizados para a discussão e 
elaboração dos orçamentos anuais, proposição de lei, de planos estratégicos, entre outras 
possibilidades. 
Outra questão a ser considerada é a relação entre as possibilidades apresentadas 
pelos programas de e-democracia e a responsividade. U m governo é responsivo quando adota 
as políticas que são indicadas pelos cidadãos. Nesse sentido, ao possibilitar estabelecer canais 
de vocalização de preferências, a democracia digital aparece como rota alternativa de 
38 
sinalização das preferências dos cidadãos aos representantes ou governantes. É importante 
observar que a relação entre Estado e cidadão na internet se dê em ambas as direções, sob pena 
de desperdiçar parte do seu potencial de democratização. Ou seja, o público recebe as 
informações disponíveis, mas também pode dar um retorno aos representantes sobre elas e 
expressar sua opinião (ARAÚJO, 2007). 
Diversos são os potenciais benefícios da aplicação dos recursos das tecnologias 
da informação e comunicação para os processos de participação política. O que se fará no 
próximo item é uma apresentação do rol de potencialidades e desafios à aplicação, sem, no 
entanto, fazê-la de forma exaustiva, pois a todo momento novos recursos para fomento da e-
democracia são criados, em decorrência do dinamismo da evolução das TIC. 
3.2.1 Benefícios e desafios da aplicação das tecnologias de informação e comunicação para 
a democracia 
Há importantes estudos de que a internet estimula a participação política, por 
possibilitar maior acesso às informações de utilidade pública, facilitar a discussão e o 
desenvolvimento de relações sociais, assim como oferecer fóruns alternativos para o 
engajamento e expressão política. A disponibilização de informações sobre a estrutura, o 
funcionamento, o acesso aos parlamentares e abertura de canais digitais de comunicação com 
o público habilitam comunidades a se comportarem de forma mais ativa, participativa e 
fiscalizatória do Poder Legislativo. Isso resulta em um círculo virtuoso, benéfico às instituições 
democráticas, pois uma sociedade mais instrumentalizada com informações e acesso pode 
exigir melhor atuação dos parlamentares (FARIA, 2012). 
Uma das críticas à democracia deliberativa é a desigual distribuição de tempo 
livre das pessoas, o que levaria apenas as politicamente engajadas e as economicamente mais 
ricas a terem maiores condições de buscar informações públicas, de participar de atividades 
políticas. O elemento espaço também faz diferença: além de gastos com deslocamento para os 
espaços públicos, a reunião de grande número de pessoas em determinado local demanda 
logística robusta, principalmente quando se trata de debates de questões nacionais em países de 
grandes dimensões. A internet reduziria custos de participação, facilitando o acesso do cidadão 
a formas de participação sem precisar sair de casa. Ferramentas digitais, tais como instrumentos 
tecnológicos autossincronizados de debate virtual que permitem a participação individual em 
massa a qualquer tempo, poderiam auxiliar na superação ou minimização de barreiras não 
apenas de tempo, mas de espaço e escala (FARIA, 2012). 
39 
A informatização do processo de tramitação de proposições e sua posterior 
divulgação na internet possibilita a redução dos custos de acesso às informações das atividades 
públicas, aumentando as possibilidades de ampliação do controle sobre os representantes. Eira 
e Rocho (2004) referem-se a casos comuns de pessoas que se deslocavam de outras localidades 
até Brasília somente para ter acesso à tramitação de determinada proposição de interesse, ou 
que requisitavam à Câmara dos Deputados o envio do texto integral das propostas ou pareceres 
referentes a assuntos específicos, o que poderia gerar acúmulo de centenas de páginas a serem 
copiadas e retransmitidas. 
Alguns benefícios diferenciais da participação política digital (online) em 
relação à participação política não-digital (offline), que têm possibilitado a superação de suas 
limitações, têm sido observados em estudos recentes (FARIA, 2012). Há pesquisas que 
ressaltam a maior propensão dos participantes de debates digitais a se exporem nas discussões 
heterogêneas do que se participassem em ambientes offline. Outro exemplo, por meio da 
eliminação do status social dos participantes em debates online, as pessoas focam mais no 
conteúdo do está sendo discutido do que em quem está se expressando, tornando as discussões 
mais ricas. Há também estudos concluindo sobre o efeito mobilizador provocado pelos recursos 
das TIC sobre grupo de cidadãos que se sente mais estimulado a participar de discussões online 
do que em eventos presenciais. 
Outro problema debatido sobre as experiências deliberativas diz respeito à 
agregação de preferência em processos decisórios, que força a adoção de mecanismos de 
votação, por exemplo, o que contribui para a exclusão de preferências de grupos minoritários. 
Instrumentos de construção coletiva de conteúdo, tais serviços baseados na plataforma web 2.0, 
como wikis, possibilitariam a expressão das mais diversas preferências de forma inclusiva 
(FARIA, 2012). A internet ampliaria vozes políticas, oferecendo aos grupos minoritários o 
poder de se expressarem. 
Apesar dos benefícios dos recursos das tecnologias da informação e 
comunicação estarem cada vez mais evidentes para a participação política, em especial ao maior 
acesso à informação de utilidade pública, facilitarem o debate e a promoção de relações sociais, 
não se pode esquecer de mencionar algumas limitações. 
A primeira crítica a ser feita está relacionada ao excesso de fragmentação 
possibilitada pela internet (FARIA, 2012). Por expandir o acesso à informação de forma geral 
e por permitir maior facilidade de formação de redes sociais, a internet funciona como grande 
fórum livre de circulação de ideias e pessoas. Apesar das funcionalidades permitirem maior 
inclusão das minorias, de forma geral, a internet, pela facilidade e liberdade de expressar suas 
40 
preferências e opiniões em tudo, inclusive para assuntos políticos, acabam por gerar 
fragmentação e polarização nas discussões políticas. 
Em consequência, as pessoas tendem a ficar mais radicais quando 
instrumentalizadas para apresentar sua opinião. E isso contribui para o declínio de experiências 
coletivas de discussão e participação e, por conseguinte, da busca do interesse coletivo. E m 
suma, a internet reduziria o sentimento de comunidade (FARIA, 2012). Por exemplo, quem é 
favorável a pena de morte dificilmente mudará de ideia após participar de um debate com todos 
ou a maioria de participantes a favor. Continuará com a mesma posição assumida, no entanto, 
como mais radicalismo. 
Como resultado do processo de fragmentação e polarização dos debates políticos 
com o radicalismo das posições pré-deliberadas,a internet permite com facilidade a definição 
de preferências, levando às pessoas a escolherem participar de grupos de discussão relacionados 
as suas afinidades, como no exemplo apresentado. Desta maneira, há enorme prejuízo para a 
realização de discussões ricas em variedade de ideias, ponto fundamental para a busca do 
consenso, do interesse coletivo (FARIA, 2012). 
Outra crítica às tecnologias da informação e comunicação seria existência de 
mecanismo de exclusão adjacentes à internet. Segundo Hindman (2009), é falso o senso comum 
de que a internet é essencialmente democrática onde todos os anteriormente excluídos dos 
instrumentos tradicionais de expressão podem agora se manifestar livremente. Para o autor, tão 
importante quanto falar é ser ouvido. Muitos falam, mas poucos ouvem. 
Mais um mito combatido por Hindman (2009) é o da disponibilidade de u m 
universo de informações que auxiliam os debates políticos. Sua ideia é de que a internet cria 
nova espécie de exclusão no filtro das informações politicamente disponibilizadas. Devido ao 
volume de informações, foi necessária a criação de mecanismos de filtro, como sites de busca, 
para depurá-las de acordo com a necessidade do usuário. Os sistemas de busca, no entanto, 
utilizam algoritmos que privilegiam algumas informações em detrimento de outras. O autor 
exemplifica que os mais populares blogs políticos são aqueles encontrados nos primeiros 
lugares nos sites de busca e, em decorrência, mais propensos à acumulação de novos eleitores. 
A quantidade abundante de informações disponibilizadas na internet é outra 
crítica comum feita por especialistas, provocando vários debates sobre a maior quantidade de 
informação acompanhada de menos reflexão. As críticas estão relacionadas às mudanças 
ocasionadas pela internet na forma como as pessoas leem textos, passando de uma leitura mais 
profunda, de poucos assuntos, para a leitura dinâmica, superficial e dispersas em vários temas. 
41 
A maioria dos usuários lê apenas trechos dos textos e passa rapidamente para outras matérias, 
sendo raro o retorno para uma leitura integral (FARIA, 2012). 
Como última consideração a ser feita, no arranjo institucional, não há 
determinações sobre o poder de agenda para a inserção de informações nos portais, de maneira 
que não se pode ter certeza da inexistência de vieses ideológicos nas informações disponíveis 
(ARAÚJO, 2007). 
Apesar de toda discussão em relação aos desafios traçados à democracia, é 
frequente o uso das TIC para seu fortalecimento, seja por iniciativa da sociedade ou por canais 
institucionalizados pelo governo. A próxima subseção exemplificará algumas das principais 
categorias de iniciativas de democracia digital. 
3.2.2 Categorias de iniciativas de e-democracia 
A todo o momento novas experiências no uso das tecnologias da informação e 
comunicação para a democracia são abordadas na literatura (ANGELIS, 2014; B O L A Ñ O ; 
CABRAL FILHO, 2014; BRIGNOL, 2014; COSTA et al, 2014; FREIRE; GROSSELLI, 2011 ; 
LENZA, 2012; OLIVEIRA et al, 2014; RUVIARO; RUVIARO, 2014; SANTOS, 2014), que 
buscam contribuir para viabilizar a participação popular em assuntos de interesse coletivo no 
âmbito do Estado. Para além dessas categorias, verificam-se muitos outros exemplos de uso das 
TIC em outros processos políticos não diretamente relacionados à interação com o Estado, 
voltadas, no entanto, para a promoção do bem público, como se verá em seguida. 
A denominada e-democracia não institucional inclui as experiências realizadas 
pela sociedade com objetivos políticos ou cívicos, mas sem a interação formal do Estado 
(FARIA, 2012). Essa classe abrange pelo menos quatro categorias principais: mobilização 
eleitoral, ativismo social, jornalismo cidadão e transparência. 
Tais experiências são normalmente realizadas por cidadãos, entidades sem fins 
lucrativos da sociedade civil, institutos de pesquisas, entre outros. Por não conterem conotação 
institucional, podem promover transparência e participação política com mais independência. 
Dada a ausência de muitos espaços oportunizados e compartilhados pelo Estado para que 
cidadãos expressem suas demandas e compartilhem conhecimento ente e si e também com seus 
representantes, as pessoas têm buscado organizações concebidas informalmente na sociedade, 
por conta do cidadão, como alternativa à resolução dos problemas sociais, o que evidencia o 
distanciamento das instituições políticas tradicionais da democracia formal. 
42 
Por outro lado, destacam-se também iniciativas organizadas e promovidas pelo 
Estado e, por isso, chamadas de e-democracia institucional. Nas experiências verificadas são 
viabilizadas formas variadas de interação entre Estado e sociedade, sobretudo no processo de 
elaboração e implementação de políticas públicas, denominadas de coprodução (FARIA, 
2012). 
O uso das TIC, sobretudo as mídias sociais, tem contribuído para o suporte de 
iniciativas de e-democracia. Tal prática favorece a comunicação sem fronteiras e a existência 
de coletivos, reunidos virtualmente em prol de objetivos comuns, formando e consolidando 
identidade de grupos sociais (DZIEKANIAK, 2011). 
Regaña (2015, p. 84-85), especificamente sobre o uso das mídias sociais neste 
contexto, afirma: 
[...] las redes sociales se revelan una apoyatura perfecta para la participación 
ciudadana y un vehículo de canalización ideal, no sólo para difundir el 
contenido que permita formar la opinión pública y para hacer presión, sino 
también para coordinar estrategias de actuación, agendas de políticas públicas 
y, en definitiva, otras posibles alternativas de participación ciudadana que 
admitan las nuevas tecnologías y los nuevos canales de comunicación. [...] las 
redes sociales son una herramienta ideal para crear las sinergias ciudadanas 
que pueden producir el cambio social a través de la manifestación de su 
voluntad. Las redes sociales suelen ser el vehículo de expresión de los 
movimientos sociales, tanto para comunicarse entre los propios activistas 
como para captar nuevos aliados y llegar al máximo número de personas. Es 
la herramienta más potente de la que se sirven los movimientos sociales para 
conseguir sus objetivos. Utilizando una expresión gráfica, sería el "boca a 
boca" y las "octavillas" que se utilizaron en revoluciones pasadas. 1 0 
A seguir serão apresentadas as principais características das iniciativas 
elencadas. 
1 0 [...] as redes sociais se revelam ainda um suporte perfeito para a participação cidadã e um veículo de 
canalização ideal, não somente para difundir o conteúdo que permita formar a opinião pública e para 
fazer pressão, mas também para coordenar estratégias de atuação, agendas de políticas públicas e, em 
definitivo, outras possibilidades alternativas de participação cidadã que admitam as novas tecnologias e 
os novos canais de comunicação. [... ] as redes sociais são uma ferramenta ideal para criar as sinergias 
cidadãs que podem produzir a mudança social por meio da manifestação da sua vontade. As redes sociais 
costumam ser o veículo de expressão dos movimentos sociais, tanto para comunicação entre os próprios 
ativistas como para conquistar novos aliados e chegar ao máximo possível de pessoas. É a ferramenta 
mais potente utilizada pelos movimentos sociais para conseguir seus objetivos. Utilizando uma 
expressão gráfica, seria o "boca-a-boca" e os "panfletos" que se utilizaram em revoluções passadas. 
(Tradução nossa). 
43 
a) Mobilização eleitoral 
Por intermédio da mobilização eleitoral procura-se agregar pessoas em benefício 
da candidatura de uma pessoa ou grupo para cargos públicos com mandato (FARIA, 2012). 
Vale destacar que eleições são organizadas por comitês e com ações predefinidas e articuladas 
de mobilização, incluindo envolvimento de recursos digitais, como ocorrido na eleição 
presidencial norte-americana de 2008. 
A campanha do então senador Barack Obama para a presidência dos Estados 
Unidos