Buscar

tcc prontinho sobre o Harry Potter

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 47 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 47 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 47 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

6
1 INTRODUÇÃO 
 
 
Os livros sobre Harry Potter, de J.K.Rowling, atualmente são os mais lidos em vários 
países, resgatando o gosto pela leitura e aguçando a imaginação de milhares de jovens em 
plena época da tecnologia. Esse mundo ficcional foi minuciosamente criado, sendo as 
aventuras divididas em sete obras, todas tendo em seu título o nome do herói, Harry Potter, 
incluído, mas que trataremos apenas por: A Pedra Filosofal (2000a), A Câmera Secreta 
(2000b), O Prisioneiro de Azkaban (2000c), O Cálice de Fogo (2001), A Ordem da Fênix 
(2003), O Enigma do Príncipe (2005) e As Relíquias da Morte (2007). 
O presente trabalho tem como objetivo acompanhar a trajetória do herói nos sete livros 
da obra, analisando a ligação entre o universo fantástico criado e o mundo real, bem como 
estudar alguns símbolos pertencentes à saga. A partir do afeto de crianças e adolescentes pelos 
livros de Harry Potter e da grande criatividade que circunda tal série, surgiu o interesse em 
desenvolver um trabalho que explorasse esse misterioso universo literário, que dá vida a um 
curioso mundo. 
No primeiro capítulo, traçamos o caminho da aventura percorrido pelo personagem 
principal, Harry Potter, tendo como finalidade relacionar os passos dessa aventura com os 
descritos por Joseph Campbell (2007), comparando o herói no início e no final da trajetória. 
Comparamos, no segundo capítulo, o mundo mágico potteriano e o mundo real, 
buscando identificar diferenças e igualdades entre esses dois universos e explorar mitos e 
lendas presentes. Os principais referenciais teóricos são Thomas Bulfinch (2006) e David 
Colbert (2001). 
No terceiro capítulo, analisamos alguns elementos que tornam a obra muito mais 
atraente, uma vez que encerram uma rica simbologia. Com o intuito de desvendar os mistérios 
que envolvem esses símbolos e relacionar com a sua ocorrência na obra, o capítulo descreve 
cada símbolo, elucidando o seu papel na saga. O embasamento teórico utilizado nesse último 
capítulo será principalmente o Dicionário dos Símbolos, de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant 
(2007). 
Uma vez que se analise o crescimento do herói dentro da obra, se conheça um pouco 
mais sobre o mundo de Harry Potter e se entenda a simbologia de elementos importantes da 
saga, será possível entender melhor esse universo ficcional e as razões pelas quais atraiu a 
atenção de pessoas das mais variadas partes do mundo, de diferentes idades e culturas. 
 
 7
2 O HERÓI: AVENTURAS E TAREFAS 
 
 
2.1 O chamado da aventura 
 
 
Harry Potter viveu durante 11 anos com seus tios e primo, os Dursley, na rua dos 
Alfeneiros, n° 4, sendo maltratado e menosprezado. Durante todo esse tempo, sempre achou 
que seus pais haviam morrido num acidente de carro, mesmo acidente que, pensava ele, 
causara a cicatriz em forma de raio em sua testa. A cicatriz era a única coisa que gostava em 
si. 
Em A Pedra Filosofal (Rowling, 2007), sua aparência era motivo de deboche e solidão 
na escola, já que ninguém contrariava seu primo Duda, que o odiava, e sua turma. Potter 
usava roupas velhas de seu primo, que tinha o triplo de seu tamanho, óculos remendados e 
cabelos arrepiados. 
Ao completar 11 anos, o menino se deparou com uma informação nova e 
extraordinária: era filho de bruxos, sendo assim um pequeno bruxo. Seus pais, na verdade, 
haviam sido mortos por um bruxo das trevas, que também havia tentado matá-lo, mas apenas 
conseguira deixar uma cicatriz em sua testa. 
Sem saber o que o esperava no futuro, Harry acabara de receber o “chamado da 
aventura”, aventura que já havia sido pré-determinada há 11 anos, quando, ainda bebê, 
sobrevivera à morte. Esse chamado é descrito por Campbell, que afirma: 
 
 
[...] Mas pequeno ou grande, e pouco importando o estágio ou grau da vida, o 
chamado sempre descerra as cortinas de um mistério de transfiguração – um ritual, 
ou momento de passagem espiritual que, quando completo, equivale a uma morte 
seguida de um nascimento. O horizonte familiar da vida foi ultrapassado; os velhos 
conceitos, ideais e padrões emocionais, já não são adequados; está próximo o 
momento da passagem por um limiar. (CAMPBELL, 2007, p. 61). 
 
 
De acordo com o autor, independente da idade, o herói pode receber o chamado da 
aventura, que abrirá um novo caminho a ser percorrido, ultrapassando um limiar de velhos 
costumes e conceitos. 
 8
Harry fora chamado para a aventura. Para viver isso, deixaria para trás sua família e 
seu estilo de vida. Conheceria um mundo novo, capaz de lhe mostrar sua força interior e 
trazer à tona emoções e sentimentos jamais sentidos. 
De acordo com Campbell (2007), a aventura de um herói passa por alguns estágios, 
que pode ser resumida da seguinte forma: 
 
 
 
Figura 1: O limiar da aventura 
Fonte: Campell (2007, p. 241). 
 
 
Como é possível observar na figura acima, Campbell divide a aventura em partes, as 
quais o herói deve passar para conseguir alcançar o seu objetivo. Primeiramente o herói 
recebe o chamado para a aventura, e cabe a ele aceitar ou não. A partir do momento que o 
herói aceita, passa a trilhar um caminho onde encontrará figuras protetoras, que o auxiliarão 
fornecendo amuletos que o protegerão de forças más. Durante o percurso o herói enfrentará 
várias provas, que podem ser físicas e/ou psicológicas. Após passar pela suprema aprovação, 
ele recebe sua recompensa e começa sua jornada de volta para casa. Se for abençoado pelas 
forças supremas, volta sob sua proteção; se não, inicia uma fuga. Ao retornar, traz consigo o 
elixir, isso é, a benção que restaura o mundo. 
Para Harry, o chamado acontece quando Hagrid, o Guardião das Chaves e das Terras 
de Hogwarts, vai buscá-lo na casa dos tios para levá-lo à escola de bruxaria. O que Hagrid não 
sabe é que os Dursley haviam escondido de Potter todo o seu passado. 
A verdade acaba servindo de motivação para que Harry aceite o chamado. Seus tios 
tentam impedi-lo de penetrar no limiar da aventura, escondendo dele seu passado e não 
querendo que tivesse nenhum contato com o mundo bruxo. Essa atitude não tinha como 
 9
objetivo proteger Harry, mas sim proteger a família da vergonha de ter um membro 
”estranho”, já que cultivavam a aparência e perfeição familiar. 
O “chamado da aventura” é descrito por Campbell da seguinte maneira: 
 
 
Esse primeiro estágio da jornada mitológica–que denominamos aqui “o chamado da 
aventura”- significa que o destino convocou o herói e transferiu-lhe o centro de 
gravidade do seio da sociedade para uma região desconhecida. Essa fatídica região 
dos tesouros e perigos pode ser representada sob várias formas: como uma terra 
distante, uma floresta, um reino subterrâneo [...]. Mas sempre é um lugar habitado 
por seres estranhamente fluidos e poliformos, terremotos inimagináveis, façanhas 
sobre-humanas e delícias impossíveis. (CAMPBELL, 2007, p. 66). 
 
 
O autor afirma que são várias as representações do perigo nesse primeiro estágio da 
jornada, mas sempre é um lugar desconhecido, com obstáculos estranhos para o herói. Assim 
também foi com Harry, que saiu de seu lar para enfrentar forças totalmente novas para ele. 
Harry não tinha idéia do que lhe esperava na escola de bruxaria, nem das aventuras e 
tarefas que teria que enfrentar. Na verdade, não tinha consciência de que estava sendo 
convocado pelo destino para descerrar as cortinas de um mistério e ser o herói de uma 
sociedade. 
 
 
2.2 O auxílio sobrenatural 
 
 
Potter não recusa o chamado e vai ao encontro de uma grande aventura. Para 
Campbell, autor de O herói de mil faces, após a aceitação do chamado, o herói encontra uma 
proteção, que é descrita da seguinte maneira: 
 
 
Para aqueles que não recusaram o chamado, o primeiro encontro da jornada do herói 
se dá com uma figura protetora (que, com frequência, é uma anciã) que fornece ao 
aventureiro amuletos que o protejam contra as forças titânicas com que ele está 
prestes a deparar-se. (CAMPBELL,2007, p. 74). 
 
 
 Assim, a figura encontrada logo no início da jornada é responsável por proteger o 
herói, dando a ele amuletos que o auxiliarão a vencer as forças malignas. 
 10
Logo que chega a Hogwarts, Potter encontra amigos e também inimigos, despertando 
nos colegas, e até professores, sentimentos diversos como simpatia, curiosidade, inveja, medo, 
amor e ódio. 
 Sua índole, de início, já é testada em dois momentos: primeiro com a abordagem 
maléfica de Draco Malfoy, como podemos perceber logo no início da obra A Pedra Filosofal: 
 
 
- Você não vai demorar a descobrir que algumas famílias de bruxos são bem 
melhores do que outras, Harry. Você não vai querer fazer amizade com as ruins.E eu 
posso ajudá-lo nisso. 
Ele estendeu a mão para apertar a de Harry, mas Harry não a apertou. 
- Acho que sei dizer qual é o tipo ruim sozinho, obrigado - disse com frieza. 
(ROWLING, 2000a, p. 96). 
 
 
E depois com o Chapéu Seletor, que levantou a hipótese de colocá-lo na Sonserina, 
casa de onde vieram a maioria dos bruxos das trevas, inclusive Voldemort1, e que Harry não 
queria, de forma alguma, freqüentar, como é possível perceber no excerto a seguir: 
 
 
Harry apertou as bordas do banquinho e pensou “Sonserina, não, Sonserina, não.” 
- Sonseriana, não, hein? –disse a vozinha. – Tem certeza? Você poderia ser grande, 
sabe, está tudo aqui na sua cabeça, e a Sonserina lhe ajudaria a alcançar essa 
grandeza, sem dúvida nenhuma, não? Bem, se você tem certeza, ficará melhor na 
Grifinória! (ROWLING, 2007, p. 107). 
 
 
 Essa situação o pertubou por muito tempo, principalmente quando descobriu que era 
ofidiglota e todos suspeitaram que era o herdeiro de Slytherin2. Foi Alvo Dumbledore que o 
fez perceber que ele não deveria temer e nem se envergonhar por isso, pois as escolhas de 
uma pessoa é o que revelam o que realmente elas são. 
 Harry encontrou em Hogwarts amigos de verdade e pessoas dispostas a lhe ajudar 
sempre, como Rony e Hermione, mas foi de Alvo Dumbledore que ele recebeu proteção. A 
capa da invisibilidade foi um “amuleto” recebido de Dumbledore e protegeu Harry em muitas 
de suas tarefas. 
 
1 O mais poderoso bruxo das trevas. Foi o responsável pela morte dos pais de Harry e, ao tentar também matá-lo 
quando ainda bebê, deixou a cicatriz em sua testa. É a ele que Harry deve destruir, e assim livrar o mundo bruxo 
de sua malignidade. 
2 Bruxo fundador da Casa Sonserina. 
 11
 O diretor tornou-se seu protetor, orientando e dando suporte para enfrentar as forças 
titânicas. Em todos os momentos, direta ou indiretamente, Dumbledore o protegeu, sendo uma 
figura muito importante na jornada de Harry. Agindo sempre com astúcia e perspicácia, esse 
sábio ancião deu subsídios ao herói para enfrentar suas tarefas e percorrer o caminho da 
aventura. 
 
 
2.3 As provas 
 
 
A série Harry Potter é composta de sete livros. Em cada um deles são narradas 
diferentes aventuras e provas pelas quais o herói passa. Movidos, muitas vezes, pela 
curiosidade, Harry e seus amigos encontram obstáculos que devem ser superados. Um dos 
grandes obstáculos encontrado por Harry na série é ter sua sinceridade constantemente posta à 
prova, inclusive, em alguns momentos, pelos seus amigos. 
 Segundo Campbell (2007), o herói, que normalmente é honrado pela sociedade, 
também costuma não receber reconhecimento e pode ser até objeto de desdém. Harry sente na 
pele isso em muitos momentos dentro de sua jornada, como é perceptível em cada uma das 
obras. 
 Na primeira obra da série de J.K. Rowling (A Pedra Filosofal, 2000a), Potter descobre 
que a Pedra Filosofal, um tesouro de valor inestimável, está escondida no castelo de Hogwarts 
e que alguém pretende roubá-la. Ele tenta avisar alguns professores, que mesmo surpresos 
com o fato de Harry saber sobre a existência da Pedra, não acreditam que alguém possa tentar 
roubá-la, já que essa foi protegida por diversas armadilhas mágicas. 
 Em A Câmara Secreta (2000b), Harry é o suspeito em estar no comando do Basilisco, 
criatura que está atacando os alunos da escola. 
 Já em O prisioneiro de Azkaban (2000c), Hogwarts está sob a vigilância dos 
Dementadores, criaturas que sugam a felicidade das pessoas ao seu redor. Harry, por ter 
sofrido um grande trauma com a perda dos pais, acaba sentindo com muito mais intensidade a 
presença de tais monstros e acaba virando motivo de chacota por isso, quando seus colegas, 
principalmente Draco Malfoy, zombam de sua fragilidade perante as criaturas. 
 Na quarta obra, O Cálice de Fogo (2001), a sinceridade do bruxo é questionada 
quando seu nome aparece no Cálice de Fogo, estando dessa forma, inscrito para um Torneio 
Tribruxo, no qual apenas os maiores de 17 anos poderiam participar. Todos se perguntam 
 12
como Harry conseguiu colocar seu nome no Cálice, já que esse era protegido. Ele afirma não 
ser o autor dessa façanha, mas ninguém acredita – nem mesmo seu melhor amigo, Rony. 
 Quando Harry, em A Ordem da Fênix (2003), tenta alertar ao mundo bruxo acerca do 
retorno do Lorde das Trevas, poucos lhe dão atenção, tachando-o de mentiroso e 
exibicionista. 
 O cárater de Potter é posto à prova, quando, na sexta obra O Enigma do Príncipe 
(2005), ele encontra um livro de poções, com anotações de um antigo aluno, que se auto-
denomina “Príncipe Mestiço”, e é tentado a usá-lo. Ao desenvolver suas poções usando as 
anotações do Príncipe, como se fosse mérito seu, é elogiado por seu professor e causa revolta 
em seus amigos. 
 No último livro, As Relíquias da Morte (2007), Harry tem de agir escondido, 
destruindo primeiro as horcruxes, para então enfrentar abertamente seu inimigo. No entanto, a 
maioria das pessoas que não sabe disso, questiona o desaparecimento do bruxo, achando 
tratar-se de um ato de covardia. 
 Todas essas provas, que, conforme Campbell (2007), são fortes ameaças ao herói, 
fazem parte da jornada de Harry e, conforme vão sendo vencidas, vão fortalecendo-o. 
Campbell diz que: 
 
 
[...] Além do limiar, então, o herói inicia uma jornada por um mundo de forças 
desconhecidas e, não obstante, estranhamente íntimas, algumas das quais o ameçam 
fortemente (provas), ao passo que outras lhe oferecem uma ajuda mágica 
(auxiliares). (CAMPBELL, 2007, p. 241-242). 
 
 
O herói se vê diante de um mundo totalmente novo, com obstáculos a serem vencidos. 
A luta em cada uma dessas barreiras dá-se com a ajuda mágica de auxiliares, que possibilitam 
a passagem pelo inimigo, sendo que esse último tenta impedir a qualquer custo a consagração 
da vitória. 
A ajuda dos amigos de Harry é muito importante nessa luta, auxiliando-o a ultrapassar 
cada limiar, pois as forças que lutam contra ele são desconhecidas, fazendo parte de um 
mundo que Potter não fazia idéia que pudesse existir. 
Para tornar-se um verdadeiro herói, Harry precisa destruir Voldemort e salvar o mundo 
bruxa do poder das trevas. Esse é seu grande objetivo que lhe cabe e que, aos poucos, vai se 
tornando mais claro ao longo de sua jornada. 
 13
 No início, ele não tem idéia da sua grande tarefa. Para ele, ser o Harry Potter era 
apenas ter perdido os pais quando ainda bebê e ter sobrevivido à morte. O único que 
realmente sabia sobre o seu destino é Dumbledore, que se torna um auxiliar e protetor muito 
importante para o caminho da aventura, dando suporte e amuletos que o fazem seguir adiante. 
 Esse caminho que Harry deve percorrer, muitas vezes lhe é obscuro. Algumas provas 
o ameaçam fortemente e ele precisa superá-las, sem ter, às vezes, consciência dessa ameaça, 
como é o caso do Torneio Tribruxo de que se vê obrigado a participar, sem saber que quem 
colocou seu nome no Cálice, queria apenas levá-lo até Voldemort para que esse o destruísse. 
 Na primeira obra, A Pedra Filosofal, Harry, ao entrar num corredor proibido 
juntamente com seus amigos, encontraFofo, um cachorro de três cabeças, dormindo sobre um 
alçapão. Os garotos então percebem que alguma coisa que necessita de proteção estaria 
guardada lá. 
 Impelidos pela curiosidade, os três começam a pesquisar – tanto de maneira 
convencional quanto por meios ilícitos – e descobrem que se trata da Pedra Filosofal, um 
objeto mágico capaz de produzir o elixir da vida eterna – e chegam à conclusão de que o 
professor Snape está tentando roubá-la. 
 Com o intuito de protegê-la, Harry e seus amigos iniciam uma empreitada para chegar 
até a pedra antes do suposto ladrão. Entrando pelo alçapão, encontram uma sucessão de 
câmaras, cada uma contendo um desafio de natureza diferente. Juntos, os três vão superando 
os obstáculos; no entanto, no decorrer da aventura, Rony e Hermione acabam ficando para 
trás, sacrificando-se para permitir o avanço de Harry. A prova final é o encontro cara-a-cara 
com o vilão, que, na verdade, não se tratava do professor Snape, e sim de Voldemort – na 
época reduzido a um espectro e usando o professor Quirrell como seu servo. Harry não teria 
poderes para vencer o Lorde das Trevas naquela ocasião, mas conseguiu isso graças a um 
amuleto muito poderoso: uma proteção gerada pelo forte amor de sua mãe, que morreu para 
salvá-lo. 
 A grande prova da segunda obra (A Câmara Secreta) desdobra-se em uma batalha 
mortal contra o Basilisco, uma serpente gigante cujo olhar é fatal para quem o fita. Tal besta 
está sob o poder de uma Horcrux3 – um fragmento de alma – do próprio Voldemort, contida 
em um antigo diário encontrado por Gina, irmã caçula do melhor amigo de Harry. 
 
3 Esse termo, bem como sua explicação, só aparece nas duas últimas obras da série. A Horcrux é um fragmento 
de alma, separado magicamente e guardado em um objeto. Enquanto não for destruído, a pessoa a quem pertence 
esse fragmento não poderá morrer. 
 14
 Mais uma vez, a vitória de Harry dá-se devido ao aparecimento de um poderoso 
auxiliar, que trouxe consigo um novo amuleto. Quando o garoto encontrava-se sob o ataque 
da serpente, a fênix de Dumbledore, Fawkes, aparece em seu socorro, furando os olhos da 
besta e entregando a Harry o Chapéu Seletor, de onde o mesmo retira a espada de Griffindor, 
que usa para matar o Basilisco. Para pôr fim à maligna Horcrux, Harry faz uso de um dos 
dentes da serpente, impregnado de veneno, perfurando com ele o diário. 
 Fawkes ainda utiliza o poder curativo de suas lágrimas para salvar a vida de Harry, 
que havia recebido no braço um ferimento causado pelas presas venenosas do Basilisco. 
 A principal prova enfrentada por Harry na terceira obra (O Prisioneiro de Azkaban), 
única em que Voldemort não representa a principal ameaça, direta ou indiretamente, difere 
das demais por duas razões: primeiro, por estender-se ao longo de toda a aventura; segundo, 
por tratar-se de uma prova essencialmente psicológica. 
 O herói sente-se ameaçado por um suposto seguidor de Voldemort que havia escapado 
da prisão de Azkaban e, segundo boatos, viria matá-lo. Como agravante, o personagem 
começa a ver o “Sinistro”, figura representativa da morte e personificada na figura de um 
grande cão negro. No entanto, a verdadeira ameaça que viria a atormentar Harry eram os 
dementadores, criaturas maléficas enviadas pelo Ministério da Magia para proteger Hogwarts 
e recapturar o fugitivo. Capazes de sugar a felicidade ao seu redor, os dementadores 
perturbam Harry mais do que a qualquer outra pessoa, já que o personagem passou por um 
grande trauma na infância, quando perdeu seus pais. 
 No desenrolar da história, Potter trava uma batallha psicológica contra o medo do 
“Sinistro” e a pertubação dos dementadores. Harry descobre que seus temores eram 
infundados quando se encontra com Sirius Black, o fugitivo, e este revela ser seu padrinho, 
jamais tendo sido seguidor de Voldemort. Além do que, também era capaz de transformar-se 
em um cão negro – portanto era ele que Harry via, e não o Sinistro. 
 A superação do medo dos dementadores dá-se quando o herói consegue executar o 
Feitiço do Patrono4, defendendo-se do ataque das criaturas. O Patrono desempenha o papel de 
auxiliar na conquista dessa prova. 
 Na quarta obra (O Cálice de Fogo), o encontro cara-a-cara com Voldemort é a 
principal prova enfrentada por Harry. Transportado através de uma chave de portal para um 
antigo cemitério, Harry depara-se com Rabicho, seguidor de Voldemort, que imediatamente, a 
 
4 Feitiço ensinado pelo professor Lupim a Harry, para que ele pudesse se defender dos dementadores. O 
professor Lupim ensinou esse feitiço ao herói através de aulas particulares, pois era uma magia muito adiantada 
para alunos de sua idade, que exigia uma grande concentração, mas que foi extremamente necessária e útil a 
Harry. 
 15
mando do Bruxo das Trevas, mata o colega que o havia acompanhado até lá, Cedrico 
Diggory. Então Potter é aprisionado, e Rabicho utiliza seu sangue para a realização de um 
ritual que daria um novo corpo a Voldemort, que estava reduzido a um espectro. 
 O Lorde das Trevas reergue-se, convoca seus Comensais da Morte e diante deles 
convida Harry a unir-se a ele. O garoto resiste à tentação, afirmando sua lealdade a 
Dumbledore e por essa ousadia é torturado pela maldição Cruciatus. Em seguida, sua varinha 
é devolvida, e Voldemort lança contra ele a maldição da Morte, a que o bruxo responde com 
um feitiço de desarmamento. Os feixes de luz das varinhas encontram-se e retêm-se 
mutuamente, para a surpresa do Lorde das Trevas. 
 Então, Harry recebe auxílio de espíritos de pessoas que foram mortas por Voldemort e 
consegue escapar do cemitério usando a chave do portal. Mais tarde, vem a saber que a 
curiosa reação do encontro dos feitiços foi devido ao fato de sua varinha ser “gêmea” da 
varinha de Voldemort. 
 O quinto ano de Harry na Escola de Magia (A Ordem da Fênix) é um ano muito difícil, 
em que provas constantes surgem no caminho do bruxinho. A morte de Cedrico deixa Harry 
muito abalado e, como se isso não bastasse, ele ainda é desacreditado por muitos sobre o 
ressurgimento de Voldemort e tachado até mesmo de “exibicionista”. 
 No final do quinto ano, passa por uma prova ainda mais cruel: ao travar uma batalha, 
juntamente com seus companheiros da Ordem da Fênix – uma organização secreta criada por 
Dumbledore para combater os bruxos das trevas –, perde seu querido padrinho Sirius Black. 
Na mesma ocasião, descobre uma profecia feita à época de seu nascimento, que dizia que: 
 
 
Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima...nascido dos que 
desafiaram três vezes, nascido ao terminar o sétimo mês...e o Lorde das Trevas o 
marcará como seu igual, mas ele terá um poder que o Lorde das Trevas 
desconhece...e um dos dois deverá morrer na mão do outro pois nenhum poderá 
viver enquanto o outro sobreviver...aquele com o poder de vencer o Lorde das 
Trevas nascerá quando o sétimo mês terminar [...] (ROWLING,2003, p. 679). 
 
 
 Naquele dia, Harry Potter soube que só lhe restavam duas alternativas: matar 
Voldemort ou ser morto por ele. 
 No sexto livro (O Príncipe Mestiço), além de ter seu caráter posto à prova pelos seus 
próprios amigos ao usar o livro de Poções com anotações do Príncipe Mestiço, o herói vê-se 
frente-a-frente com duas outras grandes provações: descobre que precisa encontrar e destruir 
 16
as Horcruxes criadas por Voldemort, antes de enfrentá-lo pessoalmente, e logo em seguida 
perde seu auxiliar e protetor Dumbledore, a pessoa mais capacitada a ajudá-lo nessa busca, 
numa batalha dentro do Castelo de Hogwarts. É na sétima obra (As Relíquias da Morte) que 
Harry encontra seu desafio supremo, a prova máxima do herói: sacrificar a própria vida em 
prol daqueles que ama. 
 Havia conseguido destruir todas as Horcruxes, exceto Nagini, a serpente de estimação 
deVoldemort, quando descobre que ele próprio carrega dentro de si uma Horcrux, um 
fragmento de alma que se desprendeu do bruxo das trevas dezessete anos antes, quando este 
tentara matá-lo. Assim compreendeu que, para que Voldemort pudesse ser morto, ele teria de 
morrer antes. 
 A esta altura, Hogwarts encontra-se sitiada pelos comensais da morte, sendo que 
Voldemort havia prometido poupar a todos os que se encontravam no castelo caso Harry se 
entregasse. Ante a inexorabilidade do destino, e vendo tombarem muitos dos que estiveram ao 
seu lado durante toda a jornada, o herói decide oferecer-se em sacrifício para encerrar o 
confronto e devolver ao mundo bruxo a esperança de, algum dia, ver destruído seu maior 
algoz. 
 No entanto, diante da grandeza de seu sacrifício, é facultado a Potter retornar ao 
mundo dos vivos para completar sua missão, sendo que a Horcrux que havia nele fora 
destruída e ainda, de forma semelhante ao ocorrido quando sua mãe dera a vida por ele, criou-
se uma proteção em torno de seus entes queridos: estes não mais poderiam ser afetados pelos 
poderes de Voldemort. 
 De acordo com Campbell (2007), a aventura sempre envolve riscos, e só aqueles que 
têm coragem para enfrentá-los verão o perigo desaparecer. Harry vivencia isso, uma vez que a 
maldição Cruciatus lançada por Voldemort para testar se ele estava realmente morto não surte 
efeito. Apesar de toda a dor causada por esse feitiço, Potter não se deixa abalar e continua 
fingindo que está morto, pois sabe que só assim poderá destruir para sempre o mais maligno 
dos bruxos. Foi com muita astúcia, mas principalmente muita coragem, que Harry conseguiu 
livrar o mundo de Voldemort e restabelecer a paz. 
 
 
2.4 O Retorno 
 
 
Campbell (2007, p. 242) afirma que a etapa final da aventura é o retorno do herói: 
 17
O trabalho final é o do retorno. Se as forças abençoarem o herói, ele agora retorna 
sob sua proteção (emissário); se não for este o caso, ele empreende uma fuga e é 
perseguido (fuga de transformação, fuga de obstáculos). No limiar de retorno, as 
forças transcendentais devem ficar para trás; o herói reemerge do reino do terror 
(retorno, ressurreição). A bênção que ele traz consigo restaura o mundo (elixir). 
 
 
 Após retornar do mundo dos mortos, sob a bênção das forças do bem, e destruir o seu 
maior inimigo, Harry faz ressurgir a paz, restaurando o mundo bruxo e livrando a todos do 
poder das trevas. 
 Potter é aclamado por todos e considerado o grande salvador do universo bruxo, sendo 
ele, de acordo com a teoria de Campbell, um herói macrocósmico, pois traz da sua jornada a 
regeneração de sua sociedade. 
 A jornada de Harry foi repleta de obstáculos, medos, forças desconhecidas e desafios. 
Cada tarefa, sendo que não foram poucas, foi vencida por meio de muita luta e coragem. 
Quando Harry recebeu o chamado da aventura, não sabia que tinha uma missão tão 
importante e que seria o executor de atos tão heróicos. 
 Ao ultrapassar o limiar da aventura, Potter viu-se diante de um mundo totalmente 
desconhecido até então, com uma tarefa que para ele parecia impossível: destruir o Lord das 
Trevas. Em sua jornada, encontrou amigos que lhe foram muito úteis e lhe ajudaram em sua 
árdua missão. Deparou-se com grandes mistérios, forças ocultas e perigos inimagináveis, mas 
a ajuda que recebeu de seus auxiliares foi de suma importância para que a vitória fosse 
possível. 
 Quando sua missão chega ao fim, Harry retorna para casa, não sendo necessário 
empreender nenhuma fuga, já que é abençoado pelas forças supremas. É calorosamente 
recebido pelo mundo bruxo, sendo, então, reconhecido como herói. 
 O mal foi vencido e a paz retorna ao mundo mágico de Harry Potter. O universo é 
reorganizado, sendo o excedente maligno varrido dos dois mundos (bruxo e trouxa5) e 
consagrada a hegemonia das forças do bem. É importante ressaltar que a dualidade entre o 
bem e o mal nunca será suprimida, apenas temporariamente reequilibrada. Isto nos leva à 
compreensão de que esses dois pólos fazem parte da nossa vida, não estando acima do ser 
humano, mas amalgamados à sua natureza, pois todos têm virtudes e fraquezas. 
Diante de tantas aventuras e na luta constante contra o mal, Harry, que no início é 
apenas um menino comum, chega ao final transfomado num herói. Durante toda a narrativa, o 
leitor é levado a participar de um mundo mágico, mas que condiz com o mundo real, 
 
5 Denominação dada aos seres humanos comuns, que não possuem poderes mágicos. 
 18
reafirmando a condição humana. Para se transformar num verdadeiro herói, é testado de 
várias formas e isso faz com que se torne cada vez mais forte e sábio. Assim somos nós, 
crianças, jovens ou adultos, tímidos ou extrovertidos. Todos traçamos um caminho de 
aventuras, às vezes fácil, mas muitas vezes difícil. O mundo potteriano é apenas um exemplo 
de muitos outros mundos ficcionais que existem por aí, com muitos outros heróis, anônimos 
ou não. E é isso que faz da saga um sucesso mundial. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 19
3 O MUNDO MÁGICO DE HARRY POTTER: REAL VERSUS IMAGINÁRIO 
 
 
O mundo potteriano nos impressiona não só pelas criaturas mitológicas e folclóricas 
que o habitam, mas também pela semelhança com nosso mundo. Fischer (2008), sobre essa 
realidade fantástica, afirma que: 
 
 
A fantasia potteriana nos oferece, com uma mão, o prato da bruxaria e do 
misticismo, e com a outra nos dá uma dose forte (e crítica) da realidade atual. A 
série não arranca o leitor do solo firme da realidade para conduzi-lo ao reino da 
fantasia, mas quase o contrário – a história compartilha com o leitor uma visão 
fantasista da vida, típica da infância, oferecendo-lhe um caminho seguro para 
transitar dela para a dura vida do mundo teen. 
 
 
O autor evidencia muito bem essa ligação entre o imaginário e o real, quando afirma 
que ao mesmo tempo em que a obra cria um universo mágico, ela fica ligada à realidade. 
 Este capítulo do trabalho será dedicado ao universo real e ao imaginário, abordando 
elementos criados e outros transportados da realidade para dentro da obra, para que assim seja 
possível uma comparação entre os dois mundos. 
 
 
3.1 O mundo imaginário e sua relação com o mundo real 
 
 
Por meio da leitura dos livros da série Harry Potter, é possível viajar por um mundo 
mágico, onde cada palavra, cada aventura do herói, dá asas à imaginação e nos remete a um 
lugar cheio de fantasias. Para tecer suas histórias e torná-las tão fascinantes, J.K.Rowling 
criou um mundo imaginário, com palavras, seres, objetos e modo de vida próprio, sem 
abandonar determinados aspectos do mundo real. O personagem principal viveu até os onze 
anos em completa ignorância a respeito do mundo bruxo, sendo arrebatado para dentro desse 
com o chamado da aventura. 
 Apesar dos trouxas, em sua grande maioria, não terem conhecimento da existência do 
mundo bruxo, existe uma conexão entre eles, já que os bruxos transitam livremente entre um e 
outro, ao contrário do que ocorre em A História sem Fim (ENDE, 2000), outro grande sucesso 
 20
da literatura infanto-juvenil. Nessa obra, o personagem é transportado para um mundo 
chamado Fantasia, que não tem nenhuma conexão com o nosso mundo, mas coexiste 
simultaneamente com ele, já que Bastian, o personagem principal, pertence ao último. Em O 
Senhor dos Anéis (TOLKIEN, 2002) observamos um universo ficcional diferente dos outros 
dois, uma vez que é criado um mundo totalmente novo para o desenvolvimento da história. 
Em Harry Potter podemos encontrar coisas que fazem parte da visão pueril da 
bruxaria, como vassouras voadoras e varinhas mágicas. Há também seres presentes na 
mitologia, como os centauros, a fênix e o unicórnio. Igualmente há coisas de que jamais se 
ouviu falar, como o Quadribol, um jogo do mundo bruxo potteriano. Os apreciadoresde Harry 
Potter logo percebem a mistura desses elementos, que enriquece a obra. 
Colbert (2001) diz que: “Embora o universo ficcional criado por J. K. Rowling seja 
único, ele é construído sobre uma sólida base de mitos e folclore, preservada através do tempo 
e da distância.” Essa sólida base em que a obra é criada resgata antigas sabedorias contidas no 
folclore e na mitologia, fazendo com que passado e presente andem juntos e preservando 
conhecimentos ancestrais. 
Esse universo com que Rowling nos presenteia é tão fascinante e torna-se tão real, que 
a autora chegou a publicar livros sobre algumas peculiaridades desse mundo, como Animais 
Fantásticos e Onde Habitam e Quadribol. Os livros são escritos como se fossem realmente 
usados no mundo bruxo, com anotações e observações dos próprios alunos (Harry, Rony, 
Hermione...), chegando a ter, como é o caso de Animais Fantásticos e Onde habitam, prefácio 
de Alvo Dumbledore, como é possível observar no trecho abaixo: 
 
 
[...] Esta obra-prima de Newt foi escolhida como livro-texto para a Escola de 
Bruxaria de Hogwarts desde a sua publicação, e é grandemente responsável pelos 
resultados sempre bons dos nossos alunos nos exames de Trato das Criaturas 
Mágicas [...]. Esta edição, porém, tem um objetivo mais elevado do que a instrução 
da comunidade bruxa. Pela primeira vez na história da nobre casa Editora Obscurus, 
um dos seus títulos será oferecido à venda para trouxas. (SCAMANDER, 2001, p. 
7). 
 
 
 O texto foi escrito de tal forma que nos faz acreditar que o prefácio realmente foi 
escrito por Alvo Dumbledore, e que, consequentemente, o mundo de Harry Potter existe, 
tornando a saga, dessa forma, muito mais envolvente. 
Ferraz (2006) diz que o autor, ao escrever uma história, deve criar um ambiente e 
apresentar detalhes significativos para que o leitor possa imaginar esse lugar, envolvendo-se 
 21
com a história e tendo sua curiosidade aguçada. É isso que Rowling faz: cria um universo 
mágico fazendo com que o leitor sinta-se ambientado com esse espaço, provocando a sua 
imaginação e o seu envolvimento com a história. 
 Esse mundo imaginário, apesar de recheado de fantasia, não difere totalmente do 
mundo real, mas assemelha-se com ele em muitos aspectos. Possui uma forma de organização 
parecida com o nosso mundo, como é possível perceber se analisarmos os níveis sócio-
econômicos e as funções exercidas pelos personagens, bem como o sistema educacional. 
 Os personagens apresentam diferentes condições sociais, como é o caso da família 
Weasley e dos Malfoy. Enquanto os primeiros fazem parte de uma família simples, de 
limitadas condições financeiras, os Malfoy representam a classe alta e privilegiada. Essa 
diferença é abordada diversas vezes no decorrer da história, perceptível na fala abaixo do 
personagem Draco Malfoy: 
 
 
[...] Malfoy ergueu os olhos para a casa em ruínas, às costas de Rony. 
- Acho que você gostaria de morar aqui, não, Weasley? Sonhando com um quarto só 
pra você? Ouvi falar que a sua família toda dorme em um quarto só, é verdade? 
(ROWLING, 2000c, p. 227). 
 
 
 Draco não poupa Rony de comentários maldosos, sempre zombando de sua 
“inferioridade”. Todas as vezes que se dirige a Rony, Malfoy usa palavras e comentários que 
maldizem sua condição social, com o objetivo de humilhar a ele e a sua família. 
Assim como no mundo real, que é organizado de forma hierárquica, o mundo de Harry 
Potter também mantém uma organização com diferentes níveis de autoridade. Há um sistema 
de governo, estruturado na forma do Ministério da Magia, órgão que abrange todas as funções 
político-administrativas do universo bruxo, detendo suas divisões em três poderes (executivo, 
legislativo e judiciário), sendo responsável também pela fiscalização e aplicação das leis da 
magia. A infringência dessas leis pode acarretar punições, que vão desde notificações, 
proibição de usar a varinha mágica até a prisão em Azkaban. 
 Podemos citar como exemplo dessas punições o episódio ocorrido em Harry Potter e 
a Ordem da Fênix. Potter executa o feitiço do Patrono fora de Hogwarts, o que é proibido 
para bruxos menores de idade. Como agravante, faz isso na frente de seu primo Duda, um 
“trouxa”. Por essa infração, precisa apresentar-se em uma audiência disciplinar, que irá 
decidir se sua varinha será destruída ou não. Essa audiência se dá nas dependências do 
 22
Ministério da Magia, assemelhando-se muito a um julgamento do mundo real, com um júri, 
testemunhas e mesmo um advogado de defesa, papel desempenhado por Dumbledore ao 
defender Harry. 
 É interessante salientar que a autoridade máxima do sistema governamental bruxo, o 
Ministro da Magia, é uma figura análoga ao Primeiro-Ministro britânico, o efetivo detentor do 
poder na Inglaterra. No início do sexto volume da saga, ocorre um encontro entre essas duas 
autoridades, para discutir a gravidade dos atos terroristas praticados por Voldemort e seus 
seguidores contra o mundo trouxa. 
 As semelhanças entre o mundo imaginário criado por Rowling e o mundo real não se 
encerram por aí. Percebemos isso em algumas outras profissões desempenhadas pelos bruxos, 
como o magistério, e pelos duendes, que trabalham no banco dos bruxos, o Gringotes. 
 O banco é outro elemento da realidade transportado para o imaginário. Assim como os 
“trouxas”, os bruxos também guardam seu dinheiro no banco, sendo que a moeda corrente 
para esses seres dotados de magia denomina-se galeão. 
 O sistema educacional também assemelha-se muito com o da Inglaterra. Assim como 
Hogwarts, existem escolas britânicas, chamadas boarding schools, onde os alunos, além de 
estudar, residem. Disciplinas optativas também fazem parte da grade curricular das escolas 
britânicas, bem como em Hogwarts, onde os alunos podem escolher algumas disciplinas que 
irão cursar. 
 
 
3.2 Criaturas fantásticas do mundo de Harry Potter 
 
 
Mitos, lendas e criações próprias fazem com que o mundo de Harry Potter seja um 
misto entre ficção e realidade. A obra apresenta uma legião de seres mitológicos, folclóricos, 
criados e/ou adaptados pela autora e que, em muitos casos, atuam como personagens 
importantes. Alguns desses seres serão analisados nesse subcapítulo, que tem como objetivo 
conhecer melhor as criaturas que constituem a saga. 
 
 
 
 
 
 23
3.2.1. Os seres mitológicos 
 
 
No decorrer da aventura do “menino que sobreviveu”, é possível observar a presença 
de vários seres mitológicos, alguns desempenhando papéis mais secundários, como é o caso 
do Unicórnio, e outros papéis mais importantes dentro da história, como é o caso do 
Basilisco. Em cada um foi impresso um pouco de criatividade, alterando detalhes pertinentes 
às características do ser. Trataremos a seguir de alguns dos mais importantes: 
 
 
3.2.1.1 Centauro 
 
 
De acordo com Bulfinch (2006, p.31), o centauro é símbolo de força, sabedoria e 
nobreza, sendo um dos poucos monstros mitológicos ao qual eram delegadas qualidades 
positivas. Sua figura, composta pelo corpo de um cavalo de cujo pescoço brota um torso 
humano, impõe respeito e temor. Imortalizado pelos gregos no panteão celeste, através da 
constelação de Sagitário, o centauro tinha o domínio sobre a arte da profecia – sendo que, na 
obra de Rowling, faz isso observando as estrelas. 
Curiosamente o centauro de maior destaque na obra chama-se Firenze, que provém do 
inglês “fire”, que significa “fogo”; da mesma forma, Sagitário, no zodíaco, está associado ao 
elemento fogo. 
São, por natureza, seres indomados e selvagens, podendo mudar de humor muito 
rapidamente – principalmente quando seu orgulho é posto à prova, como acontece em A 
Ordem da Fênix, quando a atual diretora de Hogwarts, Dolores Umbridge, resolve humilhar 
Agouro, um centauro da Floresta Proibida: 
 
 
[...] – Então, tenha cuidado! Pelas leis baixadas pelo Departamento para 
Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas, qualquerataque de mestiços 
como vocês a um humano... 
- Do que foi que a senhora nos chamou? – gritou um centauro negro com ar feroz em 
que Harry reconheceu Agouro. Ouviram-se muitos murmúrios indignados e arcos 
esticando a toda volta. (ROWLING, 2003, p. 610). 
 
 
 24
 Agouro fica extremamente irritado com a atitude perversa de Dolores, bem como os 
demais centauros que ali se encontram, tanto que chegam a carregá-la com eles, a fim de 
castigá-la. 
 Sua arma por excelência é o arco-e-flecha, o qual utilizam sempre que vão à guerra. 
Podemos visualizar isso não somente na obra de Rowling, mas também em As Crônicas de 
Nárnia, de C.S. Lewis (2005), outro expoente da literatura infanto-juvenil. Em ambas as 
obras, por sinal, os centauros posicionam-se do lado da justiça, rebelando-se quando 
percebem que a paz e a ordem estão ameaçadas. 
 
 
3.2.1.2 Unicórnio 
 
 
 Esse cavalo branco dotado de apenas um chifre simboliza pureza, tanto na mitologia 
quanto no mundo de Harry Potter: tanto que para sustentar-se enquanto espectro, Voldemort 
alimentava-se do sangue dessas criaturas, como é visto no seguinte trecho: “[...] O vulto 
encapuzado aproximou-se do unicórnio, abaixou a cabeça sobre o flanco e começou a beber o 
seu sangue.” (ROWLING, 2000a, p. 220). 
 Voldemort, o vulto encapuzado, bebia, enquanto espectro, o sangue dos unicórnios da 
Floresta proibida, para, assim, poder sobreviver. Com isso causou a morte de muitos deles. 
 A obra enfatiza a pureza do unicórnio quando cria um sortilégio especial, relacionado 
à sua morte e ao seu sangue. Tal fluído teria uma propriedade mágica: a de manter vivo 
aquele que estivesse a beira da morte. No entanto, o preço por esse gesto hediondo seria uma 
vida amaldiçoada, uma semivida. 
 
 
3.2.1.3 Basilisco 
 
 
Conta-se na tradição oral de Hogwarts que, quando a escola foi construída, Slytherin, 
um de seus fundadores, inseriu uma câmara secreta, e lá escondeu um monstro que apenas ele 
podia controlar. Slytherin primava pela pureza do seu sangue bruxo, sendo contrário à 
aceitação, na escola, de bruxos mestiços (com sangue trouxa). O monstro em questão, 
portanto, estaria treinado para causar terror entre os sangue-ruins: tratava-se de um Basilisco. 
 25
 No aspecto mitológico, o basilisco é uma gigante serpente maléfica, nascido de um 
ovo de galináceo, chocado por uma rã ou sapo, sendo possuidor de duas armas temíveis: 
presas extremamente venenosas e um olhar que fulmina num primeiro contato. 
A obra sobre Harry Potter usa essa serpente lendária de maneira bastante fidedigna às 
descrições encontradas nos livros de mitologia. Na saga, alguns alunos – todos “sangue-ruins” 
– são atacados pelo basilisco, mas apenas são petrificados, pois não olham diretamente nos 
olhos desse ser, porém o enxergam através de prismas ou reflexos (lente de máquina 
fotográfica, corpo de um fantasma, àgua e espelho). 
 
 
3.2.1.4 Dragão 
 
 
Esse ser está presente em muitos mitos, sendo que a pessoa que o derrota é 
considerada um herói. O dragão, na simbologia dos antigos mitos, está associado aos quatro 
elementos – já que cospe fogo e combate com a mesma eficiência em terra firme, no ar e na 
água – sendo, portanto, uma criatura extremamente difícil de ser derrotada. 
 Muitas são as interpretações atribuídas a esse ser, podendo estar relacionado tanto com 
o mal (demônio, serpente, destruição) quanto com o bem (guardião de tesouros e doador de 
vida). 
A figura do dragão é vista na obra em pelo menos três momentos diferentes: no 
primeiro livro, quando Hagrid ganha um ovo de dragão de um estranho; no quarto livro, 
durante uma prova do Torneio Tribuxo; e no sétimo livro, como guardião da sala mais segura 
do Banco Gringotes. Nesses dois últimos, Harry precisa passar pelos dragões – ou, de forma 
análoga, derrotá-los – sagrando-se, mais uma vez, herói. 
Em muitos clássicos da literatura o dragão recebe destaque, como é o caso de O 
Holbit, de Tolkien (2002), em que é retratado como guardião de um tesouro, e em A História 
Sem Fim, de Ende (2000), em que aparece como um símbolo de sorte. 
 
 
 
 
 
 
 26
3.2.1.5 Fênix 
 
 
 De acordo com a mitologia grega, a Fênix é uma ave de raro esplendor, com uma 
penugem brilhante nas cores do fogo, sendo ela capaz de se reproduzir sozinha. Ovídio, o 
poeta romano, conta que a Fênix, após viver quinhentos anos, prepara seu ninho no alto de 
uma palmeira e morre, ressurgindo de seu peito uma outra pequena fênix (COLBERT, 2001, 
p. 99). 
 Esse pássaro mágico aparece na saga de Harry Potter como um animal de estimação de 
Dumbledore. A primeira vez que Harry encontra Fawkes, ela está a instantes de tornar-se 
cinzas, sendo que essa visão assusta o garoto; momentos depois, enquanto um pequeno 
pássaro emerge dessas cinzas, Dumbledore explica-lhe o curioso ciclo de vida da ave. Em um 
encontro posterior, Fawkes surge como um aliado para Potter na luta contra o basilisco. 
 A lenda da Fênix é uma alegoria para os ciclos de encarnação – presentes nas crenças 
dos antigos egípcios e gregos – já que a ave envelhece, seu corpo torna-se pó (cinzas) e desse 
mesmo pó ressurge com um novo corpo. Também, pela coloração de sua plumagem e pela 
forma como encerra seu ciclo, a fênix está intimamente associada ao fogo e ao sol, símbolos 
de força e virilidade – as principais virtudes do guerreiro. 
 
 
3.2.1.6 Cão de Três Cabeças 
 
 
 Tal figura é representada na mitologia greco-romana como Cérbero, o implacável 
guardião do reino subterrâneo de Hades. Dentre os poucos que conseguiram passar por ele, 
está Orfeu, que se valeu de seu canto e do som de sua lira – instrumento semelhante a uma 
pequena harpa – para fazer a fera dormir, como podemos observar na seguinte citação: “[...] É 
de se observar que Herácles o levou de vencida, usando tão-somente a força de seus braços e 
que Orfeu, ‘por uma ação espiritual’, com os sons irresistíveis de sua lira mágica o adormeceu 
por instantes.” (BRANDÃO, 2000, p. 243). 
Assim como na lenda exemplificada acima, Fofo, o cão de três cabeças da história de 
Potter, também estava guardando a entrada para um lugar proibido. Tal qual seu semelhante 
mitológico, acaba sendo adormecido por uma harpa encantada, deixando vulnerável a 
passagem. 
 27
3.3 Os Seres Folclóricos 
 
 
A palavra “folclore” é originária do inglês e significa “conhecimentos populares”. 
Dentre os seres que aparecem no mundo de Harry Potter, muitos fazem parte dessa cultura e 
têm suas histórias conhecidas pelo povo, fazendo parte da fantasia de milhares de pessoas. 
Vejamos algumas mais importantes: 
 
 
3.3.1 Duendes 
 
 
 Pequenos seres fantásticos com aparência exótica, os duendes povoam o imaginário de 
adultos e crianças. Folcloricamente são seres travessos, que invadiam as casas durante a noite 
para fazerem travessuras. Colbert (2001, p.78) diz que as pessoas, para afastarem os duendes, 
espalhavam sementes pelo chão da casa. Ao verem as sementes, eles sentiam-se atraídos a 
juntá-las e acabavam entediados, indo buscar diversão em outro lugar. A aptidão para o 
trabalho também é uma das características dos duendes, como é possível perceber na história 
do Papai-Noel, que tem esses seres como ajudantes. 
 Dentro da série escrita por Rowling, os duendes são donos do Banco Gringotes e 
guardam com muito zelo e astúcia os tesouros que ali se encontram. Seres mal-humorados, no 
passado tiveram várias desavenças com os bruxos, muito bem exemplificadas em alguns 
trechos da história. 
 
 
[...] – Os duendes têm boas razões para não gostarem dos bruxos, Rony – 
lembrou Hermione. – Foram tratados com brutalidade no passado. 
- Mas os duendes não são exatamente coelhinhos fofinhos, não é? – 
contrapôs Rony. – Mataram muitos de nós. E também lutaram deslealmente. 
(ROWLING, 2007, p. 394). 
 
 
 Essas intrigas geraram um rancor em ambas as partes, que mesmo com o passar do 
tempo, continuarama alimentar mágoas. Na última obra da série, As Relíquias da Morte, um 
duende chamado Grampo tem uma participação mais ativa e significativa no enredo. Ele 
passa alguns dias com Harry, Rony e Hermione no Chalé das Conchas, a casa do irmão de 
 28
Rony, e faz um acordo com eles para ajudá-los a roubar a espada de Griffindor do Banco de 
Gringotes. 
 
 
3.3.2 Fantasmas 
 
 
 No conceito popular, fantasma é sinônimo de alma penada, assombração – um espírito 
que, ao invés de passar para outro plano, ficou perambulando pela terra. 
 Os fantasmas da obra são muito semelhantes às figuras que corriqueiramente são 
apresentadas na literatura e no cinema: são translúcidos, voam, atravessam objetos sólidos e 
conservam características físicas e psicológicas que possuiam quando morreram. Por 
exemplo, Nick-Quase-Sem-Cabeça, fantasma da Grifinória, que teve a cabeça parcialmente 
decepada na ocasião de sua morte, e que, como fantasma, ainda a carrega presa ao corpo por 
apenas um filete de “ectoplasma”. 
 Existem muitos fantasmas que habitam o castelo de Hogwarts, mas quatro recebem 
destaque por corresponderem às quatro casas de estudantes da escola: Barão Sangrento, 
Nick-Quase-Sem-Cabeça, Frei Gorducho e A Dama Cinzenta. Esses apresentam, em suas 
personalidades, características valorizadas pelos fundadores de cada uma das casas, que serão 
analisadas no capítulo seguinte, e que são vistas nos alunos que delas participam. 
 
 
3.3.3 Lobisomem 
 
 
 Representado na história por dois personagens de grande expressão – Remo Lupim e 
Lobo Greyback – o lobisomem é uma criatura híbrida: na maior parte do tempo tem a 
aparência de um homem. Nas noites de lua cheia, no entanto, sofre uma mutação, ganhando a 
aparência de um lobo com algumas características humanas. Permanece bípede e tão alto 
quanto um homem, mas em seu corpo cresce pêlos, presas e garras. Suas faculdades humanas, 
como a fala, racionalidade e a emoção, são suprimidas, dando lugar a uma selvageria 
descontrolada – sendo que, na maioria das histórias, o lobisomem não se recorda de suas 
ações enquanto está na forma animal. 
 29
 Podemos observar isso em Remo Lupim. O pacato professor de Defesa Contra as 
Artes das Trevas é normalmente uma pessoa pacífica, honesta e atenciosa. Já em sua forma 
animal, é uma fera sem controle, incapaz de reconhecer mesmo seus melhores amigos. Lobo 
Greyback, por sua vez, é extremamente agressivo. Inclusive foi ele quem atacou Remo Lupim 
quando criança, devido a uma briga com o pai dele. Em troca de sua selvageria, Greyback tem 
autorização para usar roupas de Comensal da Morte. 
 
 
3.3.4 Bicho-Papão 
 
 
 Segundo o professor Lupim (ROWLING, 2000c), ninguém sabe qual é a verdadeira 
aparência de um bicho-papão: a criaturinha, quando vista por um ser humano, transforma-se 
imediatamente naquilo que este mais teme. Para afastá-lo, a arma mais eficiente é o riso – e os 
bruxos, para facilitar esse processo, utilizam-se de um feitiço que o transforma em algo 
hilário. 
 Há muito poucas referências literárias sobre o bicho-papão, embora seja amplamente 
conhecido na tradição oral. Não há uma descrição precisa sobre sua origem ou morfologia; 
dessa forma, Rowling criou seu personagem sem forma definida, tendo o bicho-papão a 
aparência do maior medo da pessoa, visto que ele é a representação do medo, algo indefinível. 
 
 
3.3.5 Trasgo 
 
 
 De acordo com Colbert (2001), o Trasgo é uma espécie de ogro, derivado da cultura 
escandinava. Sua aparência assustadora e sua nada tênue desproporção entre agressividade e 
inteligência, sendo a última consideravelmente menor, conferem-lhe uma péssima reputação. 
 Em O Hobitt, Tolkien (2002) descreveu os trasgos como antropófagos e incapazes de 
sair à luz do sol, sob pena de virarem pedra. Rowling, no entanto, não menciona essas 
características em sua obra, mas mantém-se fiel no tocante à aparência e à personalidade das 
criaturas. 
 
 
 30
3.4 Os seres criados na saga de Harry Potter 
 
 
 O universo de Harry Potter, além de reproduzir a realidade e resgatar uma cultura 
milenar, cria um mundo novo, cheio de magia e seres extraordinários. São esses seres criados 
e/ou adaptados pela autora que conheceremos a seguir. 
 
 
3.4.1 Testrálios 
 
 
Esses seres aparecem na obra com características bem peculiares. São descritos como 
alados, sem carne, sendo o couro colado aos ossos. 
 A primeira vez que aparecem na história é na quinta obra. Harry os enxerga puxando 
as carruagens que levam os alunos para Hogwarts, e ao tentar mostrá-los a Rony, esse não os 
vê. Só tempos depois é que descobre que somente as pessoas que já viram a morte são 
capazes de vê-los. Ainda no quinto livro, Harry e seus amigos fazem uma viagem de 
Hogwarts ao Ministério da Magia na garupa dos testrálios. 
 
 
3.4.2 Elfo Doméstico 
 
 
 O Elfo também é um ser adaptado na obra da mitologia. Tem algumas características 
semelhantes as dos elfos negros, que são anões, feios e narigudos, de cor escura e suja 
(BULFINCH, 2006). 
 Os elfos criados na saga são serviçais por excelência: dedicam sua vida inteira à 
família bruxa à qual são vinculados, chegando a inflingir-se auto-punições quando acreditam 
ter se portado mal. Esse vínculo com a família é de natureza mágica, e só pode ser quebrado 
quando um dos membros do clã presenteia o elfo com roupas novas – este gesto representa 
uma dispensa que, para a maioria dos elfos, é uma desonra insuportável. 
 Dobby e Monstro são dois elfos domésticos que desempenham papéis importantes em 
determinados pontos da saga: o primeiro é um verdadeiro idólatra de Harry Potter, salvando 
 31
sua vida em mais de uma ocasião – e complicando-a consideravelmente em algumas outras; o 
segundo é um antigo servo da família Black, herdado por Harry após a morte de Sirius. 
 
 
3.4.3 Aranhas Gigantes 
 
 
Em grande parte é graças a elas que a floresta proibida é um lugar tão perigoso. Em A 
Câmara Secreta, Harry descobre que a primeira delas, Aragogue, fora levada para lá por 
Hagrid quando este ainda era estudante. Pertencente a uma espécie naturalmente gigantesca, 
ao longo dos anos, ela atingiu proporções paquidérmicas, gerando centenas de filhotes. 
 As aranhas gigantes são inteligentes e falam a língua humana. Por ordem da matriarca, 
elas não atacam Hagrid, mas quase devoraram a Harry e Rony quando esses entraram na 
floresta em busca dos conselhos de Aragogue. 
 Na obra O Senhor dos Anéis (TOLKIEN, 2002), o autor também incluiu uma aranha 
gigante antropófaga na história, chamada Laracna. 
 A escolha de ambos por tal criatura provavelmente deve-se ao medo que a maioria das 
pessoas sente por esses seres, mesmo quando pequenos. Dessa forma, uma aranha gigantesca 
é potencialmente mais apavorante do que um monstro inventado. 
 
 
3.4.4 Dementadores 
 
 
 Figuras fantasmagóricas, provavelmente inspiradas nos Nazgûl de Tolkien (2001), já 
que ambos tratam-se de seres com formas humanóides, cobertas por capas escuras, com o 
rosto oculto por capuzes e que espalham terror por onde quer que andem. 
 A saga apresenta os dementadores como guardiões da prisão de Azkaban, e 
responsáveis pelo maior dos tormentos dos prisioneiros que lá se encontram: são como 
“buracos negros” para os sentimentos positivos das pessoas, sugando-os para si e 
potencializando os medos, o desespero e o terror. 
 Harry experimenta essas sensações com muito mais intensidade que os outros, devido 
à tragédia que vivenciou na infãncia. Assim, quando as criaturas são enviadas para proteger 
 32
Hogwarts do fugitivo Sirius Black, o herói acaba se deparando com situações bastante 
desagradáveis. 
 O mundo potteriano encerra em sua composição uma série de símbolos, enigmas, 
mistérios e magia, por isso é um mundo tão especial. Ainda assim, não é constituído 
exclusivamente de fantasia, uma vez que mistura elementos ficcionais com aspectos da 
realidade. 
É muitofácil se identificar com os personagens da saga, tanto com o principal quanto 
com os secundários, já que são adolescentes que vivem aventuras dentro da escola, passando 
por diversas situações que integram o cotidiano do leitor. As figuras apresentadas no enredo 
cativam a todos, pois escondem em seu teor mistérios e misticismos, fazendo com que cada 
criatura seja um enigma a ser desvendado. 
 Nesse universo habitado por seres fantásticos e paralelo à realidade, podemos 
encontrar uma fascinante literatura, que nos leva para uma viagem mágica, mas que conserva 
traços da nossa cultura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 33
4 A SIMBOLOGIA PRESENTE NA OBRA 
 
 
J.K. Rowling, além de criar um fantástico universo mágico e povoá-lo com seres 
mitológicos e folclóricos, utilizou-se de uma outra forte arma para seduzir os leitores mais 
atentos: a simbologia. Com muita astúcia e sabedoria, a autora apresenta objetos, animais e 
nomes com importantes valores simbólicos, tornando a saga muito mais rica e inteligente. 
Chevalier e Gheerbrant (2007) dizem que os símbolos constituem o núcleo da 
imaginação, que revelam segredos e abrem o espírito para o desconhecido e o infinito. A série 
do bruxo Harry Potter é um exemplo dessa afirmação, pois tem em seu teor muitos pontos 
relevantes para uma análise simbólica que permitirá uma interpretação mais minuciosa da 
obra. 
 São esses símbolos que serão abordados neste terceiro capítulo, cuja análise 
possibiltará uma visão mais esclarecedora da riqueza literária da série. Toda a análise feita 
neste capitulo terá como principal base teórica o Dicionário dos Símbolos, dos autores acima 
citados Jean Chevalier e Alain Gheerbrant. 
 
 
4.1 A simbologia dos objetos 
 
 
São vários os objetos que aparecem na obra e que possuem um rico valor simbólico. A 
maioria deles possui um significado relacionado com fatos da saga, demonstrando que a 
escolha desses, no contexto da obra, não foi mera coincidência. Vejamos alguns mais 
notáveis: 
 
 
4.1.1 A Pedra Filosofal 
 
 
 A pedra filosofal, um objeto muito almejado pelos alquimistas, aparece no primeiro 
livro da série Harry Potter e a Pedra Filosofal. Ela é guardada no Castelo de Hogwarts e 
protegida com muitos feitiços, mas, mesmo assim, alguém tenta roubá-la. Vê-se com essa 
pequena explicação que é um objeto de muito valor, e, assim como na lenda, é capaz de 
 34
produzir o Elixir da Vida. Os alquimistas garantem que ela também seja capaz de transformar 
qualquer metal em ouro. 
 Simbolicamente, a Pedra Filosofal, dentre outros significados, representa a 
regeneração, a vida. A pedra cúbica pontuda, que para os maçons expressa o equilíbrio, a 
estabilidade, o objetivo alcançado, é o símbolo da Pedra filosofal, sendo ela obra humana. 
 Assim como seu valor simbólico, a Pedra filosofal aparece na obra como algo capaz de 
dar imortalidade a quem possuí-la. Voldemort deseja muito essa pedra, pois ela seria capaz de 
lhe devolver a vida 
 Não é simplesmente por acaso que na obra é citado um bruxo chamado Nicolau 
Flamel como o possuidor da Pedra, pois assim também se chamava um dos maiores 
alquimistas da nossa história, nascido no ano de 1330. 
 
 
4.1.2 A varinha mágica 
 
 
 Todos que conhecem algum conto de fadas com certeza já ouviram falar desse objeto 
detentor de poderes mágicos. Símbolo de poder, fadas, bruxas e outros seres fantásticos 
normalmente aparecem usando uma varinha de condão. 
 Na saga de Harry Potter, a varinha mágica é usada pela sociedade bruxa, sendo a 
forma mais usada para desempenhar feitiços, tanto do bem quanto do mal. É a varinha que 
escolhe o bruxo ao qual vai pertencer. Todas elas têm um miolo feito de substâncias mágicas 
e nenhuma é igual a outra. A de Harry tinha o miolo feito de pena de Fênix, da mesma ave 
cuja pena equipou a varinha de Voldemort, que causou sua cicatriz. 
 O simbolismo presente nas varinhas mágicas é bem explícito na obra, pois um bruxo 
só tem poderes quando possui uma varinha. No caso de ser condenado por alguma infração da 
lei bruxa, a maneira de lhe castigarem e tirarem-lhe o poder é quebrando-a. Hagrid foi 
castigado por algo que fez no passado e proibido de usar magia, e para representar isso 
quebraram sua varinha. A varinha mágica é capaz de transformar tudo que existe, sendo a 
insígnia do poder humano sobre as coisas, quando esse detém poderes de uma origem sobre-
humana. 
 
 
 
 35
4.1.3 O chapéu seletor 
 
 
 O chapéu pode simbolizar o poder, a soberania ou os pensamentos. No caso específico 
do chapéu seletor descrito na obra, que é capaz de ler os pensamentos e saber características 
de quem o usa para assim poder selecionar cada aluno para a casa que mais lhe é apropriada, 
seu simbolismo gira em torno dos pensamentos. 
 O chapéu, aí, representa a consciência, os pensamentos mais obscuros de quem o 
veste. Assim como não podemos enganar nossa consciência e somos juízes de nossos atos, o 
chapéu seletor também faz um julgamento de cada um que o coloca, ao indicar a cada aluno a 
casa da qual é digno. 
 Logo que chega a Hogwarts (A Pedra filosofal), Harry veste o chapéu para saber a que 
casa pertencerá. Ele sente muito medo de ir para a Sonserina e o chapéu percebe esse seu 
medo. Coloca-o na Grifinória, não por se sentir obrigado a isso, mas por saber que é 
merecido. O chapéu conversa com Harry como se fosse sua consciência falando. 
 
 
4.1.4 A espada de Griffindor 
 
 
 A espada é a representação da bravura, da virtude, da guerra santa e da justiça. Ela tem 
o poder de destruir e construir, podendo essa destruição ser positiva, quando aplicada contra a 
injustiça e a maldade, construindo, assim, a paz. 
 A espada de Griffindor foi construída por duendes, que eram grandes artistas por 
excelência, sendo ela minuciosamente trabalhada com rubis. Pertencia no passado a Godrico 
Griffindor, fundador da Grifinória e ficava guardada na sala de Dumbledore. 
 Na segunda obra da saga, A Câmara Secreta, Harry recebe da fênix Fawkes a espada 
dentro do chapéu seletor, enquanto trava uma árdua luta contra o Basilisco e, assim, o vence. 
Na última obra, As Relíquias da Morte, descobre-se que ela é capaz de destruir as horcruxes. 
 Quando a espada é levada a Harry pela fênix, dentro do chapéu seletor, sua 
representação simbólica fica ainda mais curiosa, pois, como visto anteriormente, o chapéu 
simboliza os pensamentos, a sabedoria, e a espada, o poder e a destruição. É justamente isso 
que Harry precisa: destruir o Basilisco, e para isso é necessário muita sabedoria, coragem e 
força, estabelecendo, dessa maneira, a ordem e a paz. 
 36
Os rubis que ornamentam a espada, pela sua cor avermelhada, representam o olho que 
os dragões e as serpentes fabulosas possuem no meio da testa. Ela está acima de qualquer 
outra pedra e sua luz as trevas não conseguem apagar. Entende-se aí o uso da espada de 
Griffindor para destruir as horcruxes de Voldemort, o bruxo das trevas. 
A espada é um objeto que está relacionado com o fogo, já que representa a luz e o 
relâmpago. Sendo fogo, sofre atração pela água. Em certo momento da saga (As Relíquias da 
Morte), a espada aparece para Harry dentro da água, reafirmando aí a teoria de que, como 
símbolo do fogo, é atraída pela água. A Fênix, que leva a espada até Harry, também é um 
pássaro que está relacionado com o fogo, sendo notável aí uma ligação entre esses dois 
elementos que aparecem numa mesma situação de risco para o herói. 
 
 
4.1.5 O espelho de Ojesed 
 
 
 Esse objeto, presente em A Pedra Filosofal, reflete os desejos mais íntimos de quem 
está a sua frente, não tendo relação com o conhecimento e a verdade. Harry, por exemplo, 
enxergou os pais, a quem queria muito ter conhecido. Esse reflexo deu a ele a impressão da 
presença deles, mas na verdade era apenas um reflexo do desejo dele, confirmando aí, o 
porquê do nome Ojesed, que invertidosignifica “desejo”. 
 Simbolicamente, o espelho reflete a verdade e a sinceridade. Mostra, também, o 
conteúdo do coração, refletindo tudo que está dentro do ser. Também pode simbolizar, e esse 
significado se assemelha mais ao de Ojesed, uma ilusão, uma visão invertida da realidade. 
 Dumbledore esconde a Pedra Filosofal dentro do espelho e enfeitiça-o. A pessoa que 
quiser muito a Pedra e tentar obtê-la para usá-la verá somente seu reflexo produzindo ouro e 
bebendo elixir da vida. Harry, ao se refletir no espelho, recebe dele a pedra, pois não a quer 
para usá-la, mas sim para protegê-la. O espelho tem conhecimento do conteúdo do seu 
coração, refletindo não a beleza ou a feiúra externa, mas sim a interna. 
 O espelho é um objeto que aparece em várias histórias, inclusive infantis, como é o 
caso do clássico A Branca de Neve, cuja madrasta má da menina fala com o espelho, que 
responde às suas perguntas com sinceridade. Essa sinceridade representa a consciência de 
cada um. Afinal, um indivíduo pode enganar a toda uma sociedade, mas nunca a si próprio. 
 37
 A essência do ser humano pode ser desvendada através do espelho que cada um 
possui, espelho esse que reflete os segredos mais íntimos e que faz com que cada um conheça 
o seu interior. 
 
 
4.1.6 As casas 
 
 
 Os alunos que chegam a Hogwarts são selecionados para uma das quatro casas 
existentes: Grifinória, Lufa-lufa, Corvinal e Sonserina. Cada casa abriga os alunos com 
características semelhantes a de seus fundadores e quem faz essa seleção é o chapéu seletor. 
Logo na primeira obra (A Pedra Filosofal), quando Harry e seus amigos chegam na escola, o 
chapéu entoa uma canção, dando início a seleção dos alunos. 
 
 
[...] Em que casa de Hogwarts deverão ficar. 
Quem sabe sua morada é a Grifinória, 
Casa onde habitam os corações indômitos. 
Ousadia e sangue-frio e nobreza 
Destacam os alunos da Grifinória dos demais; 
Quem sabe é na Lufa-lufa que você vai morar, 
Onde seus moradores são justos e leais 
Pacientes, sinceros, sem medo da dor; 
Ou será a velha e sábia Corvinal, 
A casa dos que têm a mente sempre alerta, 
Onde os homens de grande espírito e saber 
Sempre encontrarão companheiros seus iguais; 
Ou quem sabe a Sonserina será a sua casa 
E ali ficará seus verdadeiros amigos, 
Homens de astúcia que usam quaisquer meios 
Para atingir os fins que antes colimaram [...]. (ROWLING, 2000a, p. 104-105). 
 
 
 Através dessa canção, é possível captar um pouco da essência de cada casa e dos 
alunos que a freqüentam. 
 Se analisarmos o valor simbólico da casa, saberemos que ela significa proteção e 
refúgio, bem como o ser interior. Como não estamos falando de uma só casa, e sim de quatro, 
com características específicas, é importante fazer uma análise de cada uma delas, sempre 
lembrando que todas pertencem a uma só, ao castelo de Hogwarts. 
 38
 O castelo dá a impressão de uma segurança de muito mais alto grau do que a casa, 
simbolizando uma maior proteção. No caso de Hogwarts essa segurança é dada através dos 
feitiços que o cercam, sendo que os alunos sentem-se seguros ali dentro. 
 
 
4.1.6.1 Grifinória 
 
 
 Essa casa foi fundada por Godrico Griffindor, sendo ela o abrigo para os alunos 
responsáveis por grandes feitos e de muita coragem. A bandeira dessa casa é constituída com 
as cores vermelho e dourada e o animal que a representa é o leão. A cor vermelha simboliza 
coragem, provocação, vida e força, enquanto a cor dourada, que nos remete ao ouro, 
simboliza a iluminação, a pefeição, sendo ela uma arma de luz. 
 O leão, por sua vez, é a representação da realeza, que nos remete novamente ao ouro. 
Também é o símbolo de poder, da sabedoria e da justiça. A reunião desses três elementos na 
bandeira da Grifinória, demonstra uma força muito grande, simbolizando a união de pessoas 
muito guerreiras e corajosas, capazes de dar a própria vida em prol da justiça e do bem. Não é 
por acaso que Harry e seus melhores amigos pertencem a essa casa. 
 
 
4.1.6.2 Sonserina 
 
 
 A casa da Sonserina foi fundada por Salazar Slytherin, que valorizava a pureza do 
sangue bruxo acima de qualquer coisa, isto é, somente era aceito em tal casa quem não fosse 
sangue-ruim, assim chamados os bruxos que tinham parentesco com os trouxas. A maioria 
dos bruxos das trevas havia freqüentado essa casa, inclusive Voldemort, por esse motivo 
alguns alunos tinham receio de irem para ela. 
 As cores verde e prata colorem a bandeira dessa casa, sendo que o animal que a 
representa é a cobra. A cor verde é uma cor tranqüilizadora, que simboliza esperança. Remete 
à natureza e é a mistura das cores amarela e azul. Relaciona-se com o vermelho em vários 
sentidos, sendo um deles a ligação do azul com a água e a do vermelho com o fogo. O verde, 
pelas suas qualidades, esconde um segredo, simbolizando um conhecimento oculto. 
 39
Já a cor prata, por ser clara e luminosa, é símbolo de pureza, sendo ela uma cor oposta 
ao ouro. A rivalidade entre os alunos das casas da Grifinória e da Sonserina está bem 
representada nessa cor, bem como a pureza do sangue bruxo exigida nos alunos que 
freqüentam a Sonserina. A própria bandeira é constituída de uma cor pura. 
 Uma grande serpente também estampa a bandeira da casa dos sangues-puros. Signo 
cristão de traição, a serpente também representa fecundidade, o mistério e o obscuro. 
Distingue-se de todos os outros animais, sendo o homem e a serpente opostos. Os bruxos que 
seguiram o caminho das trevas, assim como a cobra cristã, traíram o bem e seguiram o 
caminho do mal, deslizando discretamente por caminhos obscuros e lançando seu veneno 
quando necessário para alcançar algum fim almejado. A cobra, assim como os alunos da 
Sonserina, representa ainda astúcia, rapidez, agilidade e ambição. 
 
 
4.1.6.3 Lufa-lufa 
 
 
 Helga Hufflepuff foi a fundadora dessa casa, cujos alunos têm como virtudes a 
lealdade, sinceridade, paciência, bondade, lealdade e justiça. Tem como cores representativas 
o amarelo e o preto, e o animal símbolo é o texugo. 
 O texugo, na simbologia, é a representação da mentira sem maldade, da astúcia. De 
acordo com Chevalier e Gheerbrant (2007), o texugo, na crendice japonesa, costuma se 
disfarçar de monge para enganar suas vítimas. Por coincidência ou não, a casa da Lufa-lufa 
tem como habitante um fantasma de origem religiosa, o Frei Gorducho. 
 A sombra e a luz tingem a bandeira da Lufa-lufa. Enquanto o amarelo é uma cor que 
tem em seu conteúdo o quente, o ardente, o cegante e o intenso, o preto tem o frio, o negativo 
e é associado às trevas. Quando Hufflepuff fundou a casa da Lufa-lufa disse que ensinaria a 
todos e que os trataria com igualdade (ROWLING, 2003), independente das diferenças, que 
podem ser representadas pelas cores da bandeira. 
 
 
 
 
 
 
 40
4.1.6.4 Corvinal 
 
 
 A quarta e última casa foi fundada por Rowena Ravenclaw. A águia, juntamente com 
as cores azul e bronze, formam a bandeira da Corvinal. 
 A águia é o símbolo dos maiores deuses e heróis, significando inteligência, 
paternidade, encarnação, divindade, proteção, coragem e realeza por excelência. A cor azul 
nos remete também, assim como a águia, à divindade, à libertação e à nobreza. O bronze 
simboliza a força militar, dentre outros significados como antigüidade e sonoridade. 
 Os alunos da casa da Corvinal são exemplos de estudo, perspicácia e sabedoria; então, 
nada mais justo do que terem como símbolo a águia. 
 
 
4.1.7 A vassoura 
 
 
 A vassoura é muito comum em histórias infantis, principalmente nas que falam de 
bruxas, pois é o meio de transporte delas. Esse objeto também faz parte do enredo de Harry 
Potter, principalmente no Quadribol, em que os jogadores devem disputar montados em 
vassouras. Logo que chegam a Hogwarts, os alunos estudam uma disciplina cujo objetivo é 
ensiná-los a voar em suas vassouras. 
 Em sua forma primitiva, a vassoura é um utensílio para varrer a sujeirada casa, 
colocando para fora todo e qualquer elemento que vêm do exterior. As vassouras mágicas são 
passivas de forças que se apoderam delas por meio de feitiços, demonstrando o poder de 
quem as domina. 
 As vassouras que a sociedade bruxa da saga de Harry Potter usa são especiais, pois 
não são vassouras simples. Refletem, assim como os carros da nossa realidade, a condição 
financeira da família bruxa, já que existem modelos diferentes com preços variados. Existem 
vassouras mais e menos potentes. Nesse caso, o poder é representado não só com o domínio 
da vassoura, mas também com o tipo de vassoura que o bruxo usa. 
 
 
 
 
 41
4.2 A simbologia dos nomes dos personagens 
 
 
Quando pensamos em bons livros, logo lembramos de personagens que nos cativaram, 
que nos envolveram em seus enredos. Candido (1998, p. 53) diz que: 
 
 
É uma impressão praticamente indissolúvel: quando pensamos no enredo, pensamos 
simultaneamente nas personagens; quando pensamos nestas, pensamos 
simultâneamente na vida que vivem, nos problemas em que se enredam, na linha do 
seu destino. 
 
 
Os personagens dão vida à obra literária e é por isso que os autores os criam com tanta 
atenção, dando características muito especiais a cada um deles, ligando personagens e enredo 
de uma maneira indissociável. O nome dado pelo autor ao personagem muitas vezes revela 
muito sobre sua personalidade. A série Harry Potter é um exemplo disso, pois nomeia seus 
personagens de maneira significativa e simbólica, demonstrando grande esmero na criação de 
cada personagem. 
Na maioria das vezes, os autores não escolhem arbitrariamente o nome dos seus 
personagens, mas de uma maneira seletiva, estabelecendo relações com suas características. É 
o que acontece com a saga de Harry Potter, pois os nomes de seus personagens liga-os às suas 
personalidades e atitudes. Aguiar e Silva (2002) diz que freqüentemente o nome do 
personagem funciona como um indício, como se a relação entre o significante e o significado 
(nome e características) fosse motivada intrinsecamente. Alguns personagens se enquadram 
nesse perfil, como será possível observar através da análise do nome de alguns que tecem as 
histórias da obra. 
 
 
4.2.1 Harry Potter 
 
 
 Harry Potter foi o nome escolhido para o personagem principal e está presente em 
todos os títulos da saga. Segundo Fischer (2008) esse nome seria um equivalente a Zeca 
Lobato brasileiro, já que Potter é o sobrenome de Helen Beatrix Potter, uma escritora e 
 42
ilustradora inglesa de livros infantis, que viveu entre 1866 e 1943. Já Colbert (2001) afirma 
que o nome Potter é uma homenagem a vizinhos de Rowling. 
 
 
4.2.2 Minerva 
 
 
 A professora Minerva McGonagall é uma das primeiras personagens a aparecer na 
história. Ela é professora de Transfiguração e tem a capacidade rara de se transformar em 
gato. O nome Minerva origina-se do nome da deusa romana da sabedoria: “Minerva, a deusa 
da sabedoria, era filha de Júpiter. [...] era também uma divindade guerreira; só protegia, 
porém, a guerra defensiva [...]. (BULFINCH, 2006, p.113). 
Encontramos características em comum entre as duas mulheres destacadas. Ambas 
representam a sabedoria e a luta em defesa de algo. A professora Minerva, sempre muito sábia 
e equilibrada, defende a luta pelo bem, chegando até a participar da Ordem da fênix 
(sociedade secreta em favor do bem). Assim como a deusa romana era contra o amor de Marte 
pela violência e pelo derramamento de sangue, a professora é contra a maldade de Voldemort 
e seus comensais da morte. 
 
 
4.2.3 Severo Snape 
 
 
 Snape é professor em Hogwarts. Não tem um bom relacionamento com a maioria dos 
alunos, com exceção dos da casa da Sonserina, de onde saiu a maioria dos bruxos das trevas. 
 Seu nome, em português, é uma tradução do nome “Severus” das obras originais. Vem 
do latim e significa coração insensível, rígido, assim como o personagem, que mantém 
atitudes rígidas, chegando a ser cruel. 
 Seu comportamento é suspeito e muitos, inclusive Harry, desconfiam de sua lealdade, 
o que, no final da saga, descobre-se que foi injusto. Se pegarmos o sobrenome “Snape” e 
substituirmos o “p” pelo “k” teremos a palavra “Snake”, que significa, em inglês, “cobra”. 
Ambas as palavras, “snake” e “Snape”, têm uma pronúncia muito semelhante, sendo que a 
segunda remete facilmente à primeira. A cobra, historicamente, é associada à traição e durante 
a maior parte da história é assim que Snape é visto: como um traidor. 
 43
 Entretanto, como dito anteriormente, a cobra também significa obscuridade, mistério. 
No final da saga descobre-se que Snape, na verdade, era o mentor de um segredo entre ele e 
Dumbledore, e tudo que fez foi para proteger Harry. 
 
 
4.2.4 Draco Malfoy 
 
 
Draco é um aluno da Sonserina. Ele e Harry não se suportam, entretanto Snape tem 
grande admiração por ele. O pai de Draco, Lúcio, cujo nome lembra Lúcifer, é um comensal 
da morte. 
 O menino Malfoy demonstra força e poder sobre os colegas, amedrontando os que o 
cercam. Seu nome, em latim, significa dragão, serpente fabulosa. O dragão é uma criatura 
mitológica que simboliza, na cultura ocidental, o mal, além disso em praticamente todos os 
mitos e lendas antigas, representa também um obstáculo a ser vencido. 
 A respeito do sobrenome Malfoy, Colbert (2001, p. 136) diz: “O nome da família vem 
do latim maleficus: alguém que faz mal aos outros. Na Idade Média, a palavra era usada para 
referir-se a bruxas, cujos atos malvados eram também chamados de maleficia (malefícios)”. A 
simbologia do nome da família tem grande relação com suas características, pois seus 
integrantes são bruxos das trevas e adoram o mal. 
 Portanto, se unirmos os significados do nome desse personagem, que é um dos 
principais adversários de Harry, teremos a expressão “dragão maléfico”, sendo que essa 
condiz perfeitamente com as características do personagem, já que Draco se mostra durante a 
maior parte da história um personagem do mal, assim como seus pais, que são seguidores de 
Voldemort. Harry, como todo herói, vai enfrentar um grande monstro, um dragão. 
 
 
4.2.5 Voldemort 
 
 
 O grande inimigo de Harry é o mais temido bruxo das trevas. Foi o assassino dos pais 
de Potter e o responsável pela cicatriz na testa do órfão, quando tentou matá-lo também. O 
feitiço, portanto, não deu certo, pois Harry estava protegido pelo amor de sua mãe. Quem 
acabou sofrendo as conseqüências foi o próprio Voldemort. O bruxo das trevas, então, ficou 
 44
desaparecido durante 13 anos, dado por morto por toda a comunidade bruxa. No ano em que 
Harry ingressou em Hogwarts, Voldemort reapareceu. 
 Esses acontecimentos condizem perfeitamente com a análise da simbologia do nome 
de Voldemort. De acordo com o Novíssimo dicionário Latino-Português (SARAIVA, 1993), 
Evolo + Demortus significa “escapar da morte”. Assim como o personagem “escapou da 
morte” uma vez, tem condições de fazê-lo outras, pois dividiu sua alma em sete partes, 
através do feitiço das horcruxes, como revelado no sexto volume da obra. 
 No segundo livro da série, A Câmara Secreta, Harry descobre que o nome de seu 
arquiinimigo é um anagrama do seu nome original “Tom Servoleo Riddle”. Insatisfeito por 
ser um sangue-ruim, o então garoto Tom embaralhou as letras do próprio nome, obtendo a 
sentença “eis Lord Voldemort”. 
 
 
4.2.6 Sirius Black 
 
 
Esse personagem é padrinho de Harry e um animago, um bruxo capaz de transformar-
se em um determinado animal; no caso de Sirius, em um grande cão negro. 
“Sirius” é a palavra latina que dá nome a uma importante estrela, também chamada de 
cão, da constelação do Cão Maior – em grego “seirios” – que significa “incandescente”. 
(COLBERT, 2001, p. 157). 
O sobrenome é uma palavra inglesa, que significa “negro”. Daí a relação entre o nome 
e o personagem: Sirius Black é o “Cão Negro”. 
 
 
4.2.7 Os fundadores das casas

Continue navegando