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PROJETO DE FÁBRICA E ARRANJO FÍSICO AULA 4 Prof. Roberto Pansonato 2 CONVERSA INICIAL Caros alunos, bem-vindos a nossa quarta aula da disciplina de Projeto de Fábrica e Arranjo Físico. Vamos aos temas desta nossa aula: 1. Dimensionamento de pessoal e equipamentos 2. O takt time como ponto de partida 3. Movimentação e dimensionamento de materiais 4. Dimensionamento de áreas de produção e estoque 5. Projetos de equipamentos. Na Aula 3, conhecemos os princípios de layout, os dados de entrada e as etapas de trabalho de um projeto de fábrica. Também conhecemos como balancear a alocação do tempo de trabalho e a composição de estágios. E, por falar em balanceamento, nesta aula vamos entender como o takt time pode ser definido como a base para projetos de fábrica. Tenho utilizado, na medida do possível, casos reais na Conversa Inicial para exemplificar tópicos da aula em questão. Portanto, vamos a mais um resumo de um caso real do mundo corporativo, com foco na utilização do takt time na elaboração de um projeto de fábrica. Tenho intensificado, nas aulas anteriores, a importância de termos um planejamento eficaz, com base nas estratégias da empresa, utilizando todas as etapas necessárias e obtendo os dados de entrada com a maior precisão possível. Pois bem, o relato a seguir tem a ver com a forma como os dados são coletados e tratados. Quando estudamos os dados de entrada, um dos itens se referia a dados de demanda de produção atual e futura. Assim como outros dados, a demanda é importantíssima na elaboração do projeto. Por meio da demanda de tempo de trabalho disponível, chegamos ao takt time, que servirá de base para quantificação de equipamentos e máquinas envolvidos no projeto, bem como da mão de obra. Bom, o projeto específico dessa narrativa era para uma linha de produção para usinagem de metais, a qual tinha um engenheiro como coordenador. Com base nos cálculos de demanda e tempos de trabalho foi obtido o takt time, que foi utilizado como dado de entrada para compra de equipamentos e máquinas. Com a quantidade de equipamentos em mãos, o engenheiro elaborou as especificações necessárias e partiu para as cotações. 3 Escolhidos os felizardos fornecedores, pois se tratava de uma compra expressiva, o gasto total foi formalizado e apresentado para a diretoria, que, em função de os preços terem ficado bem abaixo do estimado, prosseguiu com a aprovação. Nessa época, eu estava atuando na produção, ou seja, eu seria o destino final desses equipamentos. Enquanto as máquinas eram produzidas e testadas (algumas fora do Brasil), o projeto de layout corria em paralelo, pois, quando chegassem, as máquinas já deveriam ir para suas devidas posições. Outro ganho obtido: utilizou-se menos espaço do que se havia previsto. Mais um ponto positivo para o engenheiro. Os equipamentos chegaram e foram devidamente posicionados para realização dos tryouts (testes) internos. E aí começou a atuar o pessoal mais afinado com a produção, para tomada de tempos, medições etc. Foi nesse momento que identificamos que havia algo errado no que tangia a capacidade de alguns equipamentos. O primeiro dado que solicitei foi o contrato com as especificações, que fora utilizado na compra daqueles equipamentos. Certificamo-nos de que, em termos de tempo de ciclo, o que fora pedido estava sendo cumprido. Mas, pela demanda que tínhamos, não havia como lhe atender. Como em um trabalho investigativo, fomos buscando dados até chegarmos ao porquê daquela disparidade: erro no cálculo do takt time, algo muito simples, trivial, mas de enorme importância. Um erro na utilização de dados em uma planilha de Excel comprometera todo o projeto de fábrica, desde a quantidade de equipamentos até a utilização da área destinada para o posicionamento deles. Portanto, aquele ganho em relação ao gasto com equipamentos e espaço para alocação identificado no início do projeto não se concretizou. Esse acontecimento causou sérios desgastes para todos os envolvidos no processo. Resumindo, foi necessário comprar mais equipamentos e, por um determinado período, utilizar fornecedores terceirizados e trabalhar em horas extras para suprir a demanda. O que fica de lição aprendida nesse caso? A acurácia na manipulação e utilização dos dados de entrada é de suma importância para o sucesso de um projeto de fábrica. Esse assunto será tratado em detalhes nos Temas 1 e 2 desta aula. Tão importante quanto os equipamentos, vamos conhecer como dimensionar os materiais. A quantidade de material em transformação e os 4 possíveis rejeitos que devem ser levados em consideração para delimitação de áreas serão vistos no Tema 3. Por que alguns corredores em uma fábrica são mais largos que outros? No Tema 4, vamos conhecer o dimensionamento das áreas de produção. Para finalizar, vamos conhecer um conceito interessante para orientação de projetos de equipamentos que têm influência direta no projeto de fábrica e arranjo físico. Vale ressaltar que, no decorrer de nossas aulas, serão apresentadas formas diferentes de conceitos de cálculos para dimensionamento de pessoal e equipamentos, em função de haver diferentes filosofias de produção, o que de certa forma só enriquece nossos conhecimentos. Vamos, juntos, em mais alguns novos desafios. TEMA 1 – DIMENSIONAMENTO DE PESSOAL E EQUIPAMENTOS Conforme Batessini (2016, p. 85), “modelagem e dimensionamento de sistemas de manufatura referem-se à análise quantitativa do projeto de arranjo físico de instalações produtivas em relação aos layouts por processo, por produto e celular”. Portanto, o dimensionamento pode variar em função do tipo de processo que queiramos utilizar. Vamos começar com o dimensionamento de equipamentos para produções por processo, que apresenta três possibilidades: sistemas de máquina única, de cluster de máquinas e de produção em lote. 1.1 Sistemas de máquina única O sistema de máquina única é um sistema muito utilizado no tipo de manufatura por processo. Apresenta as vantagens de fácil instalação e operação, baixo custo por unidade produzida, flexibilidade quanto a mudanças de produto, tempo reduzido de implantação e fácil adaptação para lançamento de novos produtos. Nesse sistema são realizadas todas as operações para o processamento ou montagem do produto final. O operador (ou operadores) tem (têm) como funções abastecimento, ajustes, troca de ferramentas, controle, monitoramento e desabastecimento. 5 Situações em que uma ou mais máquinas dão suporte a uma máquina principal, associadas ou subordinadas a ela, são típicas de um sistema de máquina única. De acordo com Batessini (2016, p. 86), os sistemas de manufatura de máquina única são dimensionados com base na carga de trabalho (Crg) prevista para determinado período de tempo, expressa em minutos ou horas, estimada com base na quantidade de peças (Q) a serem produzidas e de seu tempo de ciclo (Tc). Por meio da equação a seguir, se obtém o número ideal de máquinas : , sendo: Crg = carga de trabalho; Q = quantidade de peças; tc = tempo de ciclo; tperíodo = tempo de utilização da carga-máquina (Crg). A equação anterior seria totalmente funcional não fossem algumas variáveis que devem ser levadas em consideração, tais como: disponibilidade (D), utilização (U), eficiência do trabalhador (Et), taxa de peças defeituosas (q): , sendo: q = taxa de peças defeituosas (%); Et = eficiência do trabalhador (%); D = disponibilidade (%); U = utilização (%). Primeiramente, vamos definir o que é disponibilidade. Disponibilidade (D) refere-se à confiabilidade com que podemos utilizar um equipamento/máquina, dados em porcentagem de tempo. Geralmente, é medida em relação ao tempo médio entre falhas (tmf) e o tempo médio para conserto dessa falha (tmc). Suponhamos que o departamentode uma empresa fez um levantamento sobre um determinado equipamento e verificou-se que o tempo médio entre falhas era de 36 horas e o tempo médio para conserto dessa falha era de 1 hora. Qual seria a disponibilidade desse equipamento, utilizando-se a equação da equação a seguir? , sendo: tmf = tempo médio entre falhas; tmc = tempo médio para conserto. Resposta: D = 100 x (36-1) / 36; logo, D = 97,2%. 6 Utilização (U) refere-se à relação do tempo em que uma máquina está sendo utilizada pelo tempo disponível para seu uso, traduzida em termos de quantidade de peças, dada por: , sendo: Q = quantidade de peças produzidas no tempo de utilização da máquina; CP = capacidade máxima de produção em relação ao tempo disponível. Supondo que uma máquina tenha a capacidade de produzir 42.240 peças ao mês, porém utiliza menos tempo que o disponível e na prática produz 32.000, teremos: U= 100 x (32.000 / 42.240). Logo, U = 75,7%. Exemplo: estimar a quantidade de máquinas para compormos um arranjo físico para produzir 37.000 peças ao mês, sendo que a taxa de peças defeituosas é de 5% e a eficiência dos trabalhadores é de 97%. A empresa trabalha 8 horas por dia e 22 dias ao mês. O tempo de ciclo da máquina para produzir essa peça é de 0,75 min. Devemos utilizar a disponibilidade e a taxa de utilização conforme o exemplo anterior. Vamos aos cálculos: , n = [(37.000 / (1 - 0,05) x (0,75 / 0,97)] / [22 dias x 8 h x 60 min x 0,972 x 0,756]; n = [(38.947 x (0,773)] / [7.756,82 min.] n = [30.106,03 min.] / [7.756,82 min.] n = 3,88 máquinas => 4 máquinas. Vale ressaltar que a quantidade e a precisão desses dados é primordial para a precisão de estimativa de investimentos. Cálculos superestimados propiciarão um maior investimento e desperdício de dinheiro e capacidade, enquanto previsões subestimadas proporcionarão falta de capacidade produtiva. Tanto um caso quanto o outro tem influência direta no projeto de fábrica e arranjo físico. 1.2 Sistemas de manufatura de clusters de máquinas Também conhecidos como sistemas de agrupamento de máquinas ou de máquinas combinadas, os sistemas de manufatura de clusters de máquinas são aqueles em que um conjunto de máquinas com a mesma função realiza 7 produtos idênticos ou muito similares (Groover, 2011; Sule, 2009). Tem como característica a utilização de máquinas automatizadas, o que possibilita o controle de mais de uma máquina pelo mesmo operador. Nesse sistema as máquinas devem estar próximas umas das outras e o tempo de ciclo (tc) da máquina deve ser longo o suficiente para cobrir os tempos de ação do trabalhador, tais quais o tempo de serviço (ts) e o tempo de reposicionamento (tr) para deslocamento entre as máquinas. Considerando que os tempos de ciclo (tc) sejam iguais, é possível estimar um número ideal de máquinas. Nesse caso, o tempo do trabalhador (ttr) para atender às máquinas é igual a ttr = n x (tr + ts). O tempo das máquinas é igual à soma do tempo da operação automático (top) e o tempo de serviço (ts) necessário para carga e descarga de peças na máquina, tarefa realizada pelo operador. Portanto, o tempo da máquina (tmq) é igual a tmq = (top + ts). Para manter um equilíbrio no sistema de cluster de máquinas, o tempo de máquina (tmq) deve ser igual ao tempo do trabalhador (ttr), resultando em (top + ts) = n x (tr + ts), o qual é mostrado na razão da equação: , sendo: n = número de máquina(s); top = tempo de operação da máquina em automático; ts = tempo de serviço (carga e descarga manuais); tr = tempo de reposicionamento (de deslocamento entre as máquinas). Tanto o número de máquinas quanto o número de trabalhadores deve ser inteiro, o que pode ocasionar ociosidade em ambos. Mas, como resolver esse dilema? Por exemplo, se o resultado de (top + ts) / (tr + ts) for arredondado para um número inteiro superior, as máquinas terão um tempo ocioso e o tempo de cluster (tcluster) será dominado pelo tempo de máquina. Ocorrendo o inverso, ou seja, com o resultado de (top + ts) / (tr + ts) arredondado para um número inteiro inferior, o trabalhador terá tempo ocioso e o tempo do cluster (tcluster) será dominado pelo tempo do trabalhador (ttr), sendo calculado por tcluster = n x (tr + ts). Não há uma regra específica de qual decisão tomar, mas, na ausência de informações sobre custos, é preferível deixar o trabalhador ocioso. 8 Vamos a um exemplo prático baseado no exemplo anterior (n = 4). Supondo um conjunto de máquinas automáticas em que o tempo de ciclo (tc) seja de 90 s e tempo de serviço (ts) seja de 10 s, estimaremos quantas máquinas poderão ser atendidas por um único trabalhador, dados que: tempo de serviço (ts) = 10 s; tempo de reposicionamento (tr) = 12 s. Sabendo-se que tc = 90 s e ts = 10 s (carga e descarga manual), então: tm = 80 s. tmq = tm + ts = 80 s + 10 s = 90 s; ttr = n x (tr + ts) = n x (12 + 10) => n = 90 / 22 = 4,09 máquinas. Ou seja, um operador é capaz de operar quatro máquinas simultaneamente. Nesse caso, como o tempo empregado em cada máquina é de 22 s num total de 4 máquinas, isso resulta em um tempo ocioso de 2 s (90 s de tempo de ciclo total - 4 máquinas x 22 s). Agora que já dimensionamos a quantidade de máquinas (4) e a quantidade de trabalhadores (1), vamos propor algumas alternativas de layout para atender aos cálculos realizados. Batessini (2016, p. 88) apresenta algumas sugestões interessantes para composição de arranjo físico para atender a tal demanda (Figura 1). Figura 1 – Opções de arranjo de layout de um microespaço Fonte: Batessini, 2016, p. 88. 1.3 Sistemas de manufatura de produção em lotes ou em massa Um sistema de manufatura de produção em lotes ou em massa demanda o processamento de diferentes máquinas arranjadas nas funções que desempenham. 9 Com relação à produção em lotes, há a necessidade de utilização de setups entre os lotes de produção. Em uma produção em massa, geralmente esse procedimento não é necessário. Para a produção em lotes é necessário levar em consideração o tempo de setup (tsetup) e o tempo necessário ao processamento de uma peça em uma estação de trabalho (tprocessamento), conforme a equação: . Para lotes produzidos em quantidades maiores, o tempo para processá- los (tlote) em minutos é o tempo médio de ciclo por unidade (tc) em minutos, conforme mostrado nas equações a seguir: . Com relação à produção em massa ou em lotes muito grandes, o tempo de setup, se muito curto em relação ao tempo do lote, pode ser desprezado, resultando em tc = tprocessamento. A carga de trabalho (Crg) é obtida por meio da quantidade (Q) de peças a produzir e de seu tempo de ciclo (tc). Para obtermos o número de máquinas (nideal), dividimos a carga de trabalho (Crg) pelo tempo disponível no período (tperíodo), conforme a equação: . Os conceitos de dimensionamento de pessoal e de máquinas apresentados são de grande valia para composição de arranjos físicos e projetos de fábrica; no entanto, existem outros conceitos que também devem ser mencionados. Um deles refere-se ao dimensionamento de mão de obra e equipamentos por meio do takt time. É isso que veremos em seguida. TEMA 2 – O TAKT TIME COMO PONTO DE PARTIDA Na manufatura em massa e em grandes lotes de produtos discretos, a obtenção do takt time como base para cálculos para quantidade de equipamentos e mão de obra é uma ótima solução. Bom, antes de entrarmos 10 nos cálculos para dimensionamento de equipamentos, vamos definir do que se trata o takt time. Takt time é o tempo necessário para se produzir um determinado item em função da demanda do cliente e do tempo disponível para produzi-lo. Normalmente definido em segundos, expressa qual será o ritmo da produção para atender à demanda do cliente. Tem ampla utilização em empresas que optam pela filosofia baseada no sistematoyota de produção (também conhecido por produção enxuta ou lean manufacturing). Vamos a um exemplo para entendermos melhor como funciona esse conceito para, posteriormente, o associarmos ao dimensionamento de máquinas. Suponhamos que uma empresa tenha uma demanda mensal de 29 mil peças, trabalhando 20 dias ao mês em 2 turnos de 8 horas cada. Essa empresa efetua as seguintes paradas programadas a cada turno de trabalho: Refeição: 60 min. 5 S (limpeza): 10 min. Ginástica laboral:15 min Reunião de início de turno: 5 min. Total da parada programada, por turno: 90 min = 5.400 s. De posse desses dados, já é possível calcularmos o takt time, definido pela equação: Nota: ressalvemos aqui que o tempo disponível e a demanda do cliente devem utilizar o mesmo período de tempo (turno, dia etc.). Para os nossos cálculos vamos utilizar o turno. Considerando o tempo de um turno: = 8 h x 60 min x 60 s = 28.800 s. Subtraindo-se do tempo total do turno as paradas programadas, chegamos ao tempo disponível: Tempo disponível = 28.800 s – 5.400 s = 23.400 s. Com relação à demanda do cliente, temos o seguinte: 29.000 peças ao mês / 20 dias / 2 turnos = 725 peças por turno. De posse desses dados, é só calcular o takt time, conforme a seguir: 11 Como se trata de um projeto novo, em que não se tem nenhuma informação sobre a eficiência produtiva, optou-se por utilizar uma eficiência de 85% em relação ao takt time, chegando-se ao takt time efetivo: E o que esse número tem a ver com o dimensionamento de equipamentos e pessoal? Vamos lá. Considere que você é o responsável pela manufatura dessa peça e que, pelos estudos desenvolvidos, irá precisar dos seguintes equipamentos (fictícios) para produzi-la: Quadro 1 – Tempos automáticos Equipamento Tempo automático (s) Equipamento de prensagem 18 Equipamento de montagem 1 16 Equipamento de montagem 2 20 Lavadora 18 Equipamento de montagem do suporte 22 Equipamento de teste 1 45 Equipamento de teste final 22 Rack para embalagem 0 Cada equipamento tem sua devida informação sobre o tempo de ciclo automático (ou tempo-máquina), definido em função de suas características técnicas. Nesse caso, as máquinas são automáticas, porém o posicionamento da peça e a sua retirada da máquina (carga e descarga) são feitos por um trabalhador. Lembram-se do termo ts (tempo de serviço) do tema anterior? Pois é disso que estamos falando, de um valor que foi definido pelo engenheiro de processo por meio de estudo de tempo (mostrado como tempo manual não Quadro 2). E, por falar em estudo de tempo, também foram definidos os tempos de movimentação do trabalhador (tr), que é o tempo de reposicionamento (deslocamento entre as máquinas), mostrado como tempo andar no Quadro 2. 12 Quadro 2 – Cálculo da quantidade de equipamentos A B W C = A + B C / takt time Equipamento Tempo Automático (s) Tempo Manual (s) Tempo Andar (s) Tempo de ciclo Quant. Equip. (1) Quant. Equip. (2) Equipamento de prensagem 18 10 2 28 1,02 1 Equipamento de montagem 1 16 8 2 24 0,87 1 Equipamento de montagem 2 20 10 2 30 1,09 1 Lavadora 18 8 2 26 0,95 1 Equipamento de montagem do suporte 22 10 2 32 1,17 1 Equipamento de teste 1 45 8 2 53 1,93 2 Equipamento de teste final 22 8 2 30 1,09 1 Rack para embalagem 0 8 2 8 0,29 1 96 Para obtermos a quantidade de equipamentos para cada operação devemos chegar ao tempo de ciclo, por meio da soma do tempo automático (A) e do tempo manual (B), obtendo-se (C). Dividindo-se o tempo de ciclo (C) pelo takt time efetivo (27,3 s), temos a quantidade de equipamentos (1) para cada operação. Como os números alcançados não são inteiros, há a necessidade de assim o torná-los, conforme a coluna Quant. Equip. (2). Vejam que aí temos uma ação de decisão, pois o que fazer quando um resultado aponta para um número menor que 1 ou entre 1 e 2? Com relação a números menores que 1, você estará utilizando o equipamento abaixo da real capacidade. No entanto, em relação a números não inteiros como 1,17, do Quadro 2, isso indica que teríamos 17% de falta de capacidade. O que fazer nesse caso? Devo adquirir outro equipamento? Esses 17% se justificam? Essas informações auxiliarão no momento da decisão. Para esse caso, poderia ser traçado um plano de ação no sentido de reduzir o tempo automático do equipamento ou reduzir o tempo de carga ou descarga mediante uma automação, por exemplo. Vejam, no exemplo do Quadro 2, que apenas um equipamento deverá ser duplicado, que é o equipamento de teste 1. Na Conversa inicial foi comentado um erro de cálculo que causou vários problemas, que foi justamente um erro cometido na elaboração de uma planilha com dados como os do Quadro 2. No que concerne ao dimensionamento do pessoal (mão de obra para compor o arranjo físico), também são utilizados dados como os do Quadro 2. 13 Para isso, deve ser dividida a somatória de todos os tempos manuais (tempo manual + tempo andar) pelo takt time. No nosso exemplo, devemos dividir 96 s pelo takt time para obtermos a quantidade de trabalhadores que comporão esse dado arranjo (célula, linha etc.), conforme a seguir: Para essa situação devemos utilizar quatro trabalhadores, como forma mais segura de atendermos à demanda do cliente. Para organizarmos o arranjo físico, devemos atentar a que uma das estações de trabalho estará duplicada, o que causará certa dificuldade na composição dos equipamentos. TEMA 3 – MOVIMENTAÇÃO E DIMENSIONAMENTO DE MATERIAIS Quando o assunto se refere a materiais, sempre haverá uma certa dúvida a respeito do porquê de devermos estocá-los. Em tempos de just-in- time e técnicas para agregação de valor ao produto direcionado ao cliente, não seria o correto movimentar a cadeia de suprimentos somente depois da colocação do pedido do cliente e a partir daí providenciar as matérias-primas e os componentes? Infelizmente, isso ainda não é possível, pois até mesmo processos otimizados necessitam de inventário de materiais. O sistema de movimentação de materiais deve providenciar a quantidade exata do material correto, na condição correta, na posição correta, na sequência correta, por um custo adequado e utilizando um método apropriado (Tompkins et al., 1996). Observem que, quando abordamos assuntos para o projeto de fábrica e o arranjo físico relativos a materiais, estamos nos referindo à logística interna, utilizando ou não a manufatura. Para auxílio à decisão na utilização dos sistemas de movimentação de materiais, fazemos o uso de alguns princípios, apresentados a seguir, baseados em Biles, Usher e Zohdi (2006) citados por Batessini (2016). 14 3.1 Princípios de movimentação de materiais Planejamento: estabelecer as necessidades, os objetivos e as especificações para manuseio de materiais. Padronização: na medida do possível, utilizar métodos e equipamentos segundo os padrões. Trabalho: minimizar o trabalho de manuseio de materiais, porém respeitando o nível de produtividade requerida para a operação. Ergonomia: atender aos requisitos legais e ergonômicos, no manuseio de cargas. Unidade de carga: deve ser muito bem dimensionada, pois exerce influência nos demais princípios. Acondicionamento de itens em recipientes, pallets, bags etc. direcionam como serão os espaços de um armazém, por exemplo. Utilização do espaço: otimização de todas as variáveis de espaço (tal qual o arranjo de manufatura, visto nas aulas anteriores). Sistema: todas as atividades devem ser concebidas no sentido de se formar um sistema, juntamente com o recebimento, a inspeção, a estocagem, a manufatura, a embalagem, a unitização de cargas, a separação de pedidos, o embarque, o transporte e o manuseio de retornos. Automação: para melhoria da eficiência operacional, sempre que possívelpodemos utilizar a automatização do manuseio de materiais. Ambiente: aspectos como impacto ambiental e consumo de energia são critérios para o projeto que devem ser considerados (utilização de iluminação natural e água da chuva, por exemplo). Custo de ciclo de vida: deve ser estimado com relação aos equipamentos de manuseio e aos sistemas adotados. 3.2 Operação de estocagem e de armazenagem Conforme Tompkins et al. (2010), os armazéns e centros de distribuição realizam um conjunto de atividades em áreas funcionalmente dedicadas ao recebimento, à transferência e à separação, à seleção/busca de pedidos (picking), à acumulação, à classificação e à embalagem, ao cross-docking e ao embarque, conforme detalhado na Figura 2. 15 Figura 2 – Funções típicas de um cross-docking em um fluxo de materiais Fonte: Tompkins et al. adaptado e citado por Battesini, 2016, p. 135. Recebimento: inclui a descarga, a conferência quantitativa e qualitativa. Transferência e separação: entrega direta dos itens para armazenagem, podendo incluir reembalagem e movimentação. Seleção de pedidos (picking): obtenção da quantidade e dos tipos de produto de acordo com a solicitação do cliente, podendo ser em unidades de carga inteira ou fracionada. Acumulação, classificação e embalagem: diferentes unidades de carga são processadas para completar o pedido, que, depois de completo, é embalado para envio ao cliente. Cross-docking: atividade de transferência direta de material do recebimento para as docas de expedição, otimizando tempo de deslocamento. Embarque: envolve a disposição dos materiais no veículo de transporte de acordo com os pedidos separados. Segundo Batessini (2016, p. 135), assim como no projeto de manufatura, os espaços de armazenagem devem ser quantitativamente dimensionados, sendo comum a utilização de pesquisa operacional tanto na definição de layout de espaços para estocagem e armazenagem quanto no apoio ao desenvolvimento das atividades de rotina dos centros de distribuição. 16 3.3 Equipamentos para movimentação de materiais O objetivo de estabelecermos os equipamentos para movimentação de materiais é evitar adaptações que nem sempre serão possíveis no projeto de fábrica e arranjo físico. Imaginem que, após o projeto pronto, verificamos a necessidade de uma ponte-rolante no armazém. Nessa altura dos acontecimentos, algo totalmente inviável. Seguem os principais tipos de equipamentos para movimentação de materiais: Veículos industriais: podem ser manuais (carrinhos e paleteiras manuais) ou autopropelidos (empilhadeiras, paleteiras elétricas, carros de transporte). Veículos automaticamente guiados (automatically guided vehicles – AGV): veículos para movimentação de cargas, sem condutor. Transportadores (conveyors): sistemas de movimentação tais como: esteiras automáticas por cinta ou rolos, esteiras manuais por rolos, flowracks etc. Monovias, pontes rolantes e outros equipamentos guiados por trilhos: geralmente aplicados a cargas pesadas e de difícil locomoção. Robôs e manipuladores: utilizados em situações de movimentação de cargas de difícil manipulação pelo ser humano. Guindastes e guinchos: aplicações especiais para cargas pesadas e que precisam ser içadas a alturas relativamente grandes. O diagrama da Figura 3 nos orienta quanto à decisão sobre a escolha de equipamentos para movimentação de materiais. 17 Figura 3 – Escolha dos equipamentos de movimentação Fonte: Groover, 2000, p. 286 adaptado e citado por Battesini, 2016, p. 146. 3.4 Métodos de estocagem e armazenagem de materiais Para armazenamento e estocagem de materiais unitizados podem ser utilizados os seguintes métodos: Pilhas: materiais são estocados em grandes áreas, geralmente em pallets empilhados. Prateleiras: unidades de carga previamente definidas são dispostas em pallets e armazenadas em estruturas verticais (porta–pallets, Figura 4). Figura 4 – Ilustração de um porta-pallets simples Fonte: Russo, 2013, p. 45. Estantes ou nichos: permitem a estocagem de itens individuais. 18 Gavetas em prateleiras: utilizadas para armazenar pequenos itens e ferramentas. Sistemas automáticos de estocagem (automatic storage and retrieval system − AS/RS): utilizados para estocagem e ordenados por veículos não tripulados (carrinhos e paleteiras manuais) ou autopropelidos (empilhadeiras, paleteiras elétricas, carros de transporte). TEMA 4 – DIMENSIONAMENTO DE ÁREAS DE PRODUÇÃO E ESTOQUE Dimensionar áreas para manufatura depende muito do tipo de processo que estejamos utilizando (montagem, usinagem de metais, soldagem etc.), conferindo à produção certas especificidades. Com relação às áreas de estoque, para dimensionamento de um armazém, segundo Russo (2013, p. 40), duas características devem ser levadas em consideração: Intensidade do fluxo: referente à movimentação de materiais em uma unidade de tempo (viagens de empilhadeiras por hora, quantidade de pallets movimentados por dia), sendo diretamente proporcional aos recursos de movimentação. A distância: referente ao espaço percorrido por um equipamento de movimentação conforme o fluxo, sendo diretamente proporcional a ele. Banzato (2001 citado por Russo, 2013) propõe um indicador que combine a intensidade de fluxo com a distância percorrida, resultando no momento de transporte, o que resultaria numa expressão matemática conforme esta: Momento de transporte = intensidade de fluxo X distância percorrida. Há uma constatação no que diz respeito ao dimensionamento de armazéns, em que para obtermos eficiência na movimentação, recomendamos que a razão entre o comprimento (C) e a largura (L) de um armazém seja C / L = 2, ou seja: o comprimento do armazém deve ser o dobro de sua largura: C = 2L. A Figura 5 mostra essa relação de forma prática. 19 Figura 5 – Relação C/L ideal L Fonte: Russo, 2013, p. 41. Vejam que, independente da localização das portas e considerando o centro geométrico do armazém, em qualquer movimentação do ponto X para o Y e retornando ao ponto X, o percurso sempre será em média uma distância D igual a L mais a metade de C, ou seja, D = L + ¹/²C. A Figura 5 mostra um esboço de layout onde se verifica a existência de corredores. Para o dimensionamento de um armazém, o ideal é minimizar a largura dos corredores, pois assim conseguimos mais espaço para atender ao objeto do armazém: acondicionar temporariamente materiais, com eficiência e eficácia. O layout depende do sistema de movimentação e o sistema depende do layout; portanto, há de percebermos essa relação direta. Os corredores são considerados os vilões para o dimensionamento de um centro de distribuição, pois não podem ser tão largos porque reduzem a capacidade de armazenagem, porém não podem ser tão estreitos a ponto de inviabilizar a operação. A seguir, serão apresentadas uma forma de calcular essa largura e uma tabela de referência (Quadro 3). Para utilização de empilhadeiras na movimentação de cargas, o raio de giro é um dos componentes mais importantes para o cálculo. Vamos supor a utilização de uma empilhadeira convencional de quatro rodas, que normalmente exige corredores mais largos, movimentando uma carga de 1.200 mm (comprimento) x 1.200 mm (largura), ou seja, uma carga de pequena largura. A fórmula para cálculo é a seguinte: A = R1 + D + W + C, em que: A = largura mínima de corredor para empilhamento a 90°; R1 = raio de giro externo, especificado pelo fabricante, com a empilhadeira vazia, sem 20 potência total e em baixa velocidade; D = distância entre a face da carga e a linha central do eixo dianteiro (tração) do equipamento; W = comprimento da carga; C = folga desejada para aplicação. Figura 6 – Empilhadeira frontal, de contrapeso com carga de largura pequena Fonte: adaptadode Russo, 2013, p. 35. Considerando uma empilhadeira frontal tradicional, contrabalanceada, com quatro rodas, capacidade para 3 toneladas e operando com carga medindo 1.200 mm X 1.200 mm, qual será a largura de corredor? A folga desejada é de 200 mm. Conforme especificações técnicas do fabricante: R1 = 2.350 mm; D = 430 mm. Logo, A = R1 + D + W + C A = 2.350 + 430 + 1.200 + 200 A = 3.980 mm. Portanto, para atender aos requisitos de movimentação fornecidos no exemplo é necessário um corredor de 3,98 m. Vejam que para esse exemplo utilizou-se de um equipamento tradicional. As indústrias de equipamentos de movimentação têm trabalho no sentido de utilizar tecnologias para redução do raio de giro e consequentemente proporcionar corredores mais estreitos. 21 Para saber mais • O cálculo apresentado anteriormente refere-se a uma carga de pequena largura. Para cálculos envolvendo médias e grandes larguras de cargas, consulte o livro de Russo (2013, p. 32-39), disponível na nossa biblioteca virtual. O Quadro 3 a seguir apresenta números referenciais para largura de corredor em função do tipo de empilhadeira. Quadro 3 – Largura de referência para corredores de armazéns Largura média de corredores em função do tipo de empilhadeira utilizada: Tipo de empilhadeira Largura de corredores* Contrabalanceada 2,6 m a 3,5 m Patola (operador em pé) 2 m a 2,4 m Patola (operador sentado) 2,4 m a 2,7 m Lateral/quadridirecional 2 m a 2,2 m Mastro retrátil 2,1 m a 3 m Pantográfica 2,1 m a 3 m Trilateral 1,6 m a 1,9 m Selecionadora de pedidos 1 m a 1,7 m Manual (tração manual) 2 m a 2,2 m Fonte: Banzato, 2001. * Consideramos movimentação de pallets de 1,2 m de comprimento por 1 m de largura, com capacidade para de 1.000 kg a 1.500 kg e diferentes modelos de empilhadeiras disponíveis no mercado. TEMA 5 – PROJETOS DE EQUIPAMENTOS Embora não haja nenhuma literatura oficial que mencione os princípios que abordaremos neste tema, o entendimento e a utilização desses princípios nos projetos de máquinas e equipamentos propiciam excelentes resultados. Nos dias de hoje, não é admissível se construir equipamentos que não possuam características de adaptabilidade aos mais diversos tipos de layout. Os princípios a seguir são oriundos de empresas orientais e conhecidos como sistema 3SCF para projeto e construção de equipamentos. Segue o que significa cada letra da sigla desse sistema, bem como os seus principais aspectos, de acordo com a livre adaptação do autor: 22 Simple (de simples): as máquinas devem ser simples, de construção robusta e de fácil manutenção, porém utilizando-se de bastante tecnologia para agregar valor ao produto e ao processo. Slim (de fino): a parte frontal dos equipamentos deve ser a mais estreita possível, para evitar movimentos desnecessários do trabalhador (uma máquina larga, quando utilizada em uma célula, fará com que o percurso do trabalhador seja maior). Smart (de inteligente): as máquinas devem ter um conceito inteligente que lhes permita adaptações e composições com outras máquinas e com outras células de manufatura. O engenheiro deve projetá-las com olhos no futuro. Compact (de compacto): equipamentos devem ser compactos, no sentido de agregarem elementos tais como unidades hidráulicas, sistemas de refrigeração, na medida do possível acoplados à máquina, constituindo- lhe com menos área e menor volume. Flexible (de flexível): o equipamento deve demonstrar flexibilidade para ser utilizado em outras linhas de produção, por exemplo. E também em relação a peças para manutenção. Observação: os aspectos ora descritos são direcionadores aos tipos de projeto de fábrica e arranjo físico que uma empresa pretenda estabelecer. FINALIZANDO Ufa! Quantas coisas aprendemos nesta aula! Vimos que, antes mesmo de começarmos a rabiscar o projeto de uma fábrica e seu layout, há muito o que fazermos em termos de planejamento. Com esta aula você já é capaz de dimensionar equipamentos e pessoal por meio de cálculos técnicos: de sistemas de máquina única, passando pelos sistemas de manufatura de clusters de máquinas até sistemas de manufatura de produção em lotes ou em massa. Os cálculos utilizados nos sistemas apresentados atendem a uma forma de enxergarmos os sistemas produtivos. Para aumentar o leque de conhecimento, a partir do Tema 2 você já pôde efetuar cálculos de dimensionamento de equipamentos e mão de obra com base no takt time, que é um dos elementos que suportam a filosofia lean manufacturing. 23 Uma fábrica não é só formada pela manufatura. Para que haja a manufatura são necessários materiais, com suas consequentes movimentações dentro da fábrica. Esse assunto foi bem tratado no tema 4.3. Bom, se há matérias e elas se movimentam dentro das fábricas, elas precisam de espaços. Aprendemos no Tema 4 uma forma básica para dimensionamento de armazém e como dimensionar corredores. Com um cálculo simples, você já é capaz de dimensionar corredores para armazéns. No último tema foram apresentados alguns fundamentos importantes para projeto de equipamentos que exercem influência direta no projeto de fábrica e arranjo físico. Até a próxima aula! 24 REFERÊNCIAS ANDREOLI, T. P.; AHLFELDT, R. Organização de sistemas produtivos: decisões estratégicas e táticas. 1. ed. Curitiba: InterSaberes, 2014. BANZATO, E. Integrando layout com movimentação de materiais. Guia Log, ago. 2001. Disponível em: <http://www.guialog.com.br/ARTIGO217.htm>. Acesso em: 5 jul. 2018. BATTESINI, M. Projeto e leiaute de instalações produtivas. Curitiba: InterSaberes, 2016. PARANHOS FILHO, M. Gestão da produção industrial. 1. ed. Curitiba: Ibpex, 2007. RUSSO, C. P. Armazenagem, controle e distribuição. Curitiba: InterSaberes, 2013. SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Administração da produção. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008. TOMPKINS, J. A. et al. Facilities planning. 2. ed. Nova York: John Wiley, 1996. ______. Facilities planning. 4. ed. Nova York: John Wiley & Sons, 2010. VIEIRA, A. C. G. Manual de layout (arranjo físico). Rio de Janeiro: CNI, 1981.
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