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AT 1 INTRODUÇÃO À NUTRIÇÃO ESPORTIVA 2 32 S U M Á R IO 3 UNIDADE 1 - Introdução 5 UNIDADE 2 - Noções Básicas de Alimentação e Nutrição 9 UNIDADE 3 - Os Macronutrientes 9 3.1 Carboidratos 12 3.2 Gorduras 13 3.3 Proteínas 15 UNIDADE 4 - Os Micronutrientes 15 4.1 Minerais 20 4.2 Oligoelementos 21 4.3 Vitaminas 24 4.4 Antioxidantes e radicais livres 27 UNIDADE 5 - Introdução à Anatomia Humana 27 5.1 Sistema articular 32 5.2 Sistema muscular 36 5.3 Sistema cardiovascular 37 5.4 Sistema respiratório 37 5.5 Sistema urinário 39 REFERÊNCIAS 2 33 UNIDADE 1 - Introdução Alimentos e água são condições básicas e essenciais para manutenção da vida! E ter uma alimentação balanceada e equilibrada aliada a bons hábitos, como a prática regu- lar de atividade física, contribui para a me- lhoria da saúde e da qualidade de vida em qualquer idade. Essas noções parecem muito primárias e, realmente, em se tratando de uma apostila voltada para nutrição desportiva e para um público seleto que cursa uma especializa- ção, são básicas, no entanto, não podemos nos esquecer de que todo ensinamento, todo conhecimento começa pelo primário, pelo óbvio. A importância da nutrição é refletida em todos os níveis de esportes e na prática ob- servamos que a maioria das equipes pro- fissionais e dos atletas sérios contrata os serviços de dietistas ou nutricionistas es- pecializados em esportes para orientá-los sobre alimentação e, assim, levá-los a um desempenho ótimo. Segundo Maughan e Burke (2004), mui- tos são os profissionais da medicina es- portiva, cientistas, técnicos e treinadores envolvidos no processo educacional ou na implementação de estratégias de nutrição corretas. Tanto estes profissionais quanto os atletas e suas famílias (que geralmente os acompanham de perto) precisam conhe- cer a prática da nutrição e os princípios que a norteiam. Todos os dias, a alimentação deve fornecer ao atleta o combustível e os nutrientes necessários para otimizar o de- sempenho durante as sessões de treina- mento, além de garantir recuperação rápida posteriormente. O atleta depende também da nutrição para manter a boa saúde e boa forma. As grandes perdas de suor podem repre- sentar um risco para a saúde por induzirem desidratação severa, circulação sanguínea e transferência de calor deterioradas, que darão origem à exaustão e ao colapso indu- zido pelo calor. A reposição insuficiente de carboidratos pode resultar em hipoglicemia, fadiga cen- tral e exaustão. A insuficiência de proteínas induz perda proteica, especialmente por parte do músculo e, consequentemente, um equilíbrio nitrogenado negativo e um desempenho reduzido. Enfim, estratégias especiais de alimen- tação e ingestão de líquidos antes, durante e após os exercícios físicos podem ajudar a reduzir a fadiga e melhorar o desempenho. As estratégias que reduzem os distúrbios de fluidos e combustíveis causados pelos exercícios podem também diminuir a fadiga ou adiar seu surgimento, melhorando, por- tanto, o desempenho. Entender a importância da nutrição para o esportista, conquistar o conhecimento científico para elaborar estratégias de ali- mentação e opções de cardápio, utilizar adequadamente os suplementos para oti- mizar o desempenho são alguns dos objeti- vos do curso. Ressaltamos em primeiro lugar que em- bora a escrita acadêmica tenha como pre- missa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem 4 54 de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos cla- ro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratan- do, portanto, de uma redação original e ten- do em vista o caráter didático da obra, não serão expressas opiniões pessoais. Ao final do módulo, além da lista de refe- rências básicas, encontram-se outras que foram ora utilizadas, ora somente consulta- das, mas que, de todo modo, podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos estudos. 4 55 UNIDADE 2 - Noções Básicas de Alimentação e Nutrição Os alimentos são substâncias que vi- sam promover o crescimento e a produção de energia necessária para as diversas funções do organismo. Os nutrientes, por sua vez, são subs- tâncias que estão presentes nos alimen- tos e são utilizadas pelo organismo. Os nutrientes são: proteínas, carboidratos, gorduras, vitaminas e sais minerais. Poderíamos dizer que para uma boa ali- mentação é preciso saber: o que comer (e o que não comer) / quando comer / quanto comer / como comer, pois assim, a alimen- tação suprirá o organismo de maneira efi- ciente, sendo a base para a saúde física, mental e porque não dizer: moral! De acordo com Mitchell (1988 apud LOLLO, TAVARES e MONTAGNER, 2004), por nutrição entende-se a ciência que es- tuda o ato de nutrir-se através do conjun- to de processos que vão desde a ingestão do alimento até a sua assimilação pelas células, incluindo os fenômenos sociais, econômicos, culturais e psicológicos que podem influenciar na alimentação. ALIMENTAR-SE: ATO VOLUNTÁRIO E CONSCIENTE. NUTRIR-SE: ATO INVOLUNTÁRIO E INCONSCIENTE. Como função, segundo o SESC (2003), os nutrientes podem ser: construtores = proteínas = são im- portantes para a construção do organis- mo, como os nossos ossos, pele e mús- culos. Como exemplos, temos a carne, os ovos, o leite e seus derivados; energéticos = carboidratos e gordu- ras = fornecem energia para as ativida- des do dia-a-dia. Exemplos: cereais, pães, massas, bolos, batata e açúcar; reguladores = vitaminas e sais mi- nerais = são necessários ao bom funcio- namento do organismo, auxiliando na prevenção de doenças e no crescimento. Exemplos: óleos, gorduras e margarinas. Na tabela e figura a seguir – Pirâmide de Alimentos – encontramos um guia que ilustra de forma bem simples os grupos de alimentos e ajuda na escolha para uma ali- mentação saudável. 6 7 Segundo Maughan e Burke (2004, p. 15), muitos dos problemas de nutrição do mundo relacionam-se ao fracasso em conciliar in- gestão e necessidade de energia. Enquanto nos países em desenvolvimento a subnutri- ção é um problema crônico e causa morte, especialmente entre crianças, na maioria dos países industrializados, o maior problema é o excesso de energia na dieta, sendo a obesi- dade e suas sequelas, importantes causas de morbidade e mortalidade. A maioria dos adultos consegue manter seu peso corporal dentro de limites razoavelmente estritos, indicando que a correspondência entre in- gestão e gastos de energia permanece equi- librada. Esses mecanismos de controle, no entanto, não são perfeitos. E estima-se que o conteúdo de gordura corporal da média dos indivíduos do sexo masculino dobre entre os 20 e os 50 anos, enquanto no sexo feminino Fonte: SESC (2003). 6 7 este índice aumente em 50%. Uma definição muito importante para essa área – da nutrição esportiva – reporta- -se a caloria que é a representação métrica de energia produzida por determinados nu- trientes quando metabolizados pelo orga- nismo. Quando lemos em rótulos ou livros populares que um alimento fornece cem calorias, isso significa cem quilocalorias ou 100kcal. Ou seja, a quilocaloria não é cons- tituinte dos alimentos, é a medida de sua energia potencial. Os principais grupos fornecedores de ca- lorias são os macronutrientes: carboidratos, proteínas e gorduras. Os carboidratos e as proteínas, quando totalmente metaboliza- dos no organismo, geram 4kcal de energia por grama, enquanto as gorduras, 9kcal. Em contrapartida, outros nutrientes, como vita- minas e minerais não geram energia, ocor- rem em quantidades diminutas nos alimen- tos, mas são de extrema importância para o organismo, pois têm funções específicas e vitais nas células e nos tecidos do corpo hu- mano. A água, igualmente essencial à vida, embora tambémnão seja fornecedora de calorias, é o componente fundamental do nosso organismo, ocupando dois terços dele. O álcool, por outro lado, é uma substân- cia que, ao ser metabolizada, gera energia alimentar (1g de álcool = 7kcal), porém não é considerado nutriente por não contribuir para o crescimento, a manutenção ou o re- paro do organismo (SEYFFARTH, 2009). De todo modo, quando o assunto é saú- de, alimentação equilibrada e atividade físi- ca regular formam uma dupla de destaque. Segundo Neves (2009), tanto para um pra- ticante habitual de exercícios físicos quanto para um atleta profissional, observamos a importância de um cardápio adequado, pois: equilibra as necessidades energéticas do indivíduo; oferece os nutrientes básicos e impor- tantes a cada modalidade esportiva; permite uma recuperação mais rápida e adequada; atua como um recurso ergogênico; reduz a ação dos radicais livres; evita situações desagradáveis como perda de massa magra, hipoglicemia e câim- bras. Para trabalhar com o ser humano, em ter- mos de educação, incentivo e orientação na busca de uma vida saudável, encontramos nutricionistas e professores de educação fí- sica, dentre outros. Assim, se voltarmos nos- sos olhares para a área de Educação e obser- vando a definição das Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfer- magem, Medicina e Nutrição, do MEC (Minis- tério de Educação e Cultura), notamos que o Nutricionista é um profissional com forma- ção generalista, humanista e crítica. Capaci- tado a atuar, visando a segurança alimentar e a atenção dietética, em todas as áreas do conhecimento em que a alimentação e a nu- trição se apresentem fundamentais para a promoção, manutenção e recuperação da saúde e para a prevenção de doenças de indivíduos ou grupos populacionais, contri- buindo para a melhoria da qualidade de vida, pautado em princípios éticos, com reflexão sobre a realidade econômica, política, social e cultural. O MEC ainda diz que o Nutricionis- ta, com licenciatura em nutrição, está capa- citado para atuar na educação básica e na educação profissional em nutrição. Já as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Educação Física do 8 98 MEC, de acordo com Lollo, Tavares e Mon- tagner (2004), compreende uma área de estudo, elemento educacional e campo pro- fissional caracterizados pela análise, ensino e aplicação do conjunto de conhecimentos sobre o movimento humano intencional e consciente nas suas dimensões biológica, comportamental, sociocultural e corporei- dade. Como um campo de intervenção profis- sional que, por meio de diferentes mani- festações e expressões da atividade física/ movimento humano/motricidade humana (tematizadas na ginástica, no esporte, no jogo, na dança, na luta, nas artes marciais, no exercício físico, na musculação, na brincadei- ra popular, bem como em outras manifesta- ções da expressão corporal), presta serviços à sociedade caracterizando-se pela dissemi- nação e aplicação do conhecimento sobre a atividade física, técnicas e habilidades, bus- cando viabilizar aos usuários ou beneficiá- rios o desenvolvimento da consciência cor- poral, possibilidades e potencialidades de movimento visando a realização de objetivos educacionais, de saúde, de prática esportiva e expressão corporal. Como se observa, são dois profissionais, que além de grande responsabilidade, de- vem possuir inúmeros conhecimentos no campo das ciências da saúde, uma vez que lidam com o ser humano no que há de mais delicado: o seu corpo físico e sua saúde. Pois bem, veremos na sequência os macro e micronutrientes, bem como um pouco de anatomia humana. 8 99 UNIDADE 3 - Os Macronutrientes Os macronutrientes carboidratos, pro- teínas e gorduras ou lipídios estão dis- tribuídos nos alimentos e devem ser in- geridos diariamente para assegurar uma alimentação saudável. Embora, como re- gra geral, seja estabelecido um percentual diário de cada macronutriente, devemos lembrar que as pessoas exercem diferen- tes atividades em distintas rotinas, po- dendo requerer demandas alimentares diversas e por vezes até suplementares (SEYFFARTH, 2009). Sabemos que todos os exercícios im- põem aos músculos, maior demanda de energia e quando eles são incapazes de atender essa demanda, a tarefa do exer- cício não pode ser realizada. Conforme Maughan e Burke (2004), se a intensidade do exercício for alta, ou sua duração prolongada, o fornecimento da quantidade de energia adequada pode ser difícil. Essa disfunção vai ocasionar a fadiga. Em atividades simples como correr ou nadar, a taxa de solicitação de energia constitui uma função da velocidade. Já o tempo durante o qual determinada ve- locidade pode ser mantida antes do sur- gimento do processo de fadiga, é inver- samente proporcional à velocidade. Na maioria das situações esportivas, no en- tanto, a intensidade do exercício e, conse- quentemente, a demanda de energia não é constante. Enfim, os músculos estão adaptados e podem ser treinados para atender às vá- rias demandas da melhor forma possível. Começaremos a falar dos macronutrien- tes importantes e envolvidos na nutrição desportiva. 3.1 Carboidratos É a mais importante fonte de energia – combustível – para o trabalho muscular de alta intensidade. Sua forma de armazenagem no corpo, mais precisamente no fígado e nos mús- culos, é na forma de longas cadeias de unidade de glicose (enormes polímeros de glicose ramificados) chamadas de glicogê- nio. Segundo Carvalho et al. (2003), os car- boidratos são sintetizados pelos vegetais verdes através da fotossíntese, processo que utiliza a energia solar para reduzir o dióxido de carbono. Assim, os carboidra- tos atuam como reservatório químico principal da energia solar. Os carboidratos fornecem a maior par- te da energia necessária para manuten- ção das atividades das pessoas. A inges- tão diária recomendada de carboidratos é de 50% a 60% do valor calórico total. Eles são encontrados nos amidos e açúcares e, com exceção da lactose do leite e do gli- cogênio do tecido animal, são de origem vegetal. O açúcar pode ser adicionado ou estar presente naturalmente nos alimen- tos (SEYFFARTH, 2009). Diferentemente dos demais macronu- trientes (proteínas e lipídios), os carboi- dratos (glicídios) transformam-se em gli- cose mais rapidamente. Os carboidratos são classificados em simples e complexos. 10 11 Glicose, frutose, sacarose e lactose são os carboidratos simples mais encontrados nos alimentos, estando o amido entre os complexos. Os carboidratos simples são formados por açúcares simples ou por um par deles; sua estrutura química faz com que possam ser facilmente digeri- dos e mais rapidamente absorvidos. Como exemplo temos açúcar de mesa, mel, açú- car do leite e das frutas, garapa, rapadura, balas, muitos chicletes, doces em geral, refrigerantes, entre outros. Já os carboidratos complexos são formados por cadeias mais comple- xas de açúcares, podendo sua diges- tão e absorção ser mais prolongada. Alguns alimentos que contêm carboi- dratos complexos: a) Cereais e derivados, como arroz, tri- go, centeio, cevada, milho, aveia, farinhas (de trigo, de mandioca, de milho), massas, pães, biscoitos, tapioca, cuscuz, macar- rão, polenta, pipoca. b) Tubérculos: batata-doce, batata, inhame, cará, mandioca, mandioquinha. c) Leguminosas: feijões, ervilha, len- tilha, grão-de-bico e soja. No entanto, o tamanho da cadeia ou estrutura química não é o único determinante da velocidade de digestão e absorção sob a forma de gli- cose. Outros fatores relativos à composição dos alimentos e preparação, entre outros também, têm influência importante. Mui- tos alimentos contêm carboidratos e gor- dura, incluindo-se aí os doces, como bo- los, tortas, sorvetes e biscoitos. Algumas combinações de alimentos compreendem os três nutrientes – carboidrato, proteína e gordura –, como pizzas, ensopados e so- pas. Esta característica é importante na consideraçãodo valor calórico da prepara- ção e também no impacto que o alimento pode ter na glicemia (SEYFFARTH, 2009). Glicogênio Hepático De acordo com Brouns (2005), a quan- tidade de glicogênio armazenado no fí- gado é de aproximadamente 100 g. Essa quantidade sofre mudanças periódicas dependendo da quantidade de glicogênio que é fracionada para o suprimento de gli- cose sanguínea nos períodos de jejum e da quantidade de glicose que é fornecida ao fígado após a ingestão de alimento. As- sim sendo, as reservas hepáticas de glico- gênio aumentam após as refeições, mas diminuem nos períodos intermediários, especialmente durante a noite, quando o fígado lança constantemente glicose na corrente sanguínea para manter um nível sanguíneo normal de glicose. Um nível sanguíneo constante de glico- se, dentro de uma estreita variação fisio- lógica é importante, pois a glicose sanguí- nea é a fonte energética primária para o sistema nervoso. Durante o exercício físico, inúmeros estímulos metabólicos e hormonais in- duzirão uma maior captação de glicose sanguínea pelos músculos ativos a fim de funcionar como combustível para as contrações musculares. Para evitar que o nível sanguíneo de glicose caia até abai- xo do valor fisiológico normal, o fígado será estimulado ao mesmo tempo para fornecer glicose à corrente sanguínea. Esse suprimento deriva principalmente do reservatório de glicogênio hepático e, em menor grau, do processo de gliconeo- gênese por parte das células hepáticas a 10 11 partir de precursores tipo aminoácidos. Glicogênio Muscular A quantidade de glicogênio que é ar- mazenada em todos os músculos do corpo chega a aproximadamente 300 g nas pes- soas sedentárias e pode aumentar para mais de 500 g nos indivíduos treinados por uma combinação de exercícios e do consumo de uma dieta rica em carboidra- tos. Os carboidratos intramusculares totais armazenados podem variar em equivalen- te energético de 1.200 a 2.000 kcal. O ritmo em que ele é mobilizado para a produção de energia necessária para a contração muscular depende do esta- do de treinamento do atleta, assim como da duração e da intensidade do exercício. Para intensidades baixas a moderadas, a gordura funcionará como fonte energéti- ca substancial, enquanto as reservas de carboidratos serão utilizadas lentamente, por exemplo, em uma prova de ciclismo com duração de 4 horas, durante a qual a intensidade do exercício se aproxima de 55%-60% do VO1 2max. Além disso, a con- tribuição relativa de produção de gordura será menor durante as provas de menor duração com uma intensidade mais alta, como uma corrida de 1,5 horas com 65% do VO2max. Haverá uma contribuição má- xima dos carboidratos e uma contribui- ção relativamente baixa de gorduras nos eventos que exigem uma capacidade má- xima de exercício como ocorre, por exem- plo, durante as sessões de treinamento com tempo marcado. A captação de oxigê- nio aumenta com os aumentos na inten- sidade do exercício até ser alcançado um valor máximo. Nesse ponto, a intensidade do exercício é determinada como 100% do VO2. A evolução temporal da depleção do glicogênio também será influenciada pelo estado de treinamento do indivíduo, sen- do que aqueles altamente treinados pos- suem uma maior capacidade de mobilizar os ácidos graxos a partir dos depósitos de gordura, transportá-los para o músculo e utilizá-los como fonte de energia. Ao cor- rerem, por exemplo, utilizarão menos car- boidratos e mais gordura para as contra- ções musculares. Brouns (2005) nos oferece algumas medidas que podem ser adotadas para economizar a utilização do gli- cogênio e maximizar a capacidade de desempenho no exercício: 1. Realizar treinamento de enduran- ce (resistência) regular na parte inicial da manhã com cerca de 50 a 60% do VO- 2max (frequência cardíaca de 140-150 batimentos por minuto) com o estômago vazio. Isso maximizará as adaptações no metabolismo das gorduras, para poupar o carboidrato. 2. Acumular glicogênio antes da com- petição ingerindo uma dieta rica em car- boidratos, seguida por um jantar rico em gorduras na noite que precede a com- petição. Isso pode resultar em um meio hormonal e uma atividade enzimática fa- voráveis por reduzir a oxidação de carboi- dratos e poupá-lo durante o exercício. Observação: 1- VO é a capacitação máxima de energia. 12 13 Quatro fatores importantes determi- nam a velocidade e o grau em que são esvaziadas as reservas de carboi- dratos: intensidade do exercício; duração do exercício; estado de treinamento; ingestão de carboidrato. Guarde... Não há uma recomendação fechada de ingestão para carboidratos. A típica dieta americana inclui de 40 a 50% das calorias totais como carboidratos. Para uma pessoa sedentária de 70kg, é reco- mendado um consumo diário de cerca de 300g de carboidratos. Para uma pessoa ativa envolvida em treinamento, o con- sumo sobe para 60% de calorias diárias (400 a 600g). Esse carboidrato deve ser predominantemente proveniente de fru- tas e vegetais. Na dieta americana, cerca de 50% do carboidrato é consumido como açúcar simples, predominando a sacarose (CARVALHO et al., 2003). Um consumo adequado de carboidra- tos é fundamental para pessoas ativas. Quando o suprimento de oxigênio para os músculos ativos é inadequado, o glico- gênio dos músculos e a glicose do sangue são as primeiras fontes de energia. Ao estocar glicogênio, os carboidratos asseguram energia para exercícios ae- róbicos de alta intensidade. Assim, para pessoas ativas, é importante uma dieta com 50 a 60% de calorias na forma de car- boidratos predominantemente na forma de amido e fibras. Durante treinamento vigoroso e antes de competição, o consu- mo de carboidratos pode aumentar para assegurar reservas adequadas de glico- gênio. A recomendação para atletas com treinamento prolongados é de 10g por kg de massa corpórea. Portanto, o consumo diário para um atleta de 46kg que gasta cerca de 2.800kcal por dia é de aproxi- madamente 450g ou 1800kcal. Um atleta com 68kg deve ingerir cerca de 675g de carboidratos (2.700kcal) como parte de um requerimento de 4.200kcal. Em ambos os casos, os carboidratos representam cerca de 65% da energia total consumida. 3.2 Gorduras A gordura é uma fonte energética “len- ta” em comparação com o carboidrato e quando se utiliza dela como fonte de energia, os atletas podem trabalhar so- mente com 40 a 60% de sua capacidade máxima de trabalho. Ainda em comparação com os carboi- dratos, possui vantagens sobre eles, pois sua densidade energética é mais alta fa- zendo com que seja mais baixo o peso re- lativo de uma quantidade de energia em armazenamento. No corpo, a gordura é armazenada na forma de triglicerídeos nas células adipo- sas que constituem o tecido adiposo. Uma pequena fração é armazenada dentro das células musculares e uma fração menor de gordura circula no sangue na forma de quilomícrons derivados dos alimentos in- geridos recentemente e dos ácidos gra- xos fixados a uma proteína plasmática de- nominada albumina. A maior parte do tecido adiposo pode ser encontrada debaixo da pele. A gor- dura pode ser armazenada também ao redor dos órgãos abdominais. Em atletas 12 13 altamente treinados a quantidade total de gordura que é armazenada no tecido adiposo pode variar de 10 a 25% nas mu- lheres e de 5 a 15% nos homens. Essas quantidades são bem menores se compa- rarmos com pessoas de vida sedentária (nas mulheres em torno de 20 a 35% e nos homens em torno de 10 a 20%). A maior utilização de gordura, como re- sultado do treinamento, reduz a utilização dos carboidratos provenientes das reser- vas de glicogênio no organismo e, conse- quentemente, influenciará a duração da disponibilidade de carboidratos suficien- tes durante o exercício. As dietas ricas em gordura são apresen- tadas como sendo capazes de aprimorar a capacidade de oxidar os Ácidos Graxos. Teoricamente, se a gordura fosse o úni- co substrato, isso permitiria aos indivídu-os correr continuamente com velocidade de maratona por mais de 70 km, equiva- lente a um dispêndio de energia de mais de 70.000 kcal. De todo modo, o tecido adiposo funcio- na como a reserva energética mais impor- tante que irá fornecer ácidos graxos para a produção de energia em todas as condi- ções em que, em virtude de uma ingestão energética prolongada e insuficiente, a disponibilidade de carboidratos torna-se limitada. 3.3 Proteínas As proteínas são os principais compos- tos das células, dos hormônios e do siste- ma imunológico. O consumo diário deve al- cançar 10% a 15% do valor calórico total e podem ser encontrados em carnes, leite, ovos e derivados. Seu consumo é funda- mental para a saúde de nosso organismo. É preciso, entretanto, tomar cuidado com o excesso de proteína, pois, podem gerar sobrecarga hepática, problemas no rim, entre outras complicações. Um suprimento apropriado de proteína com a dieta diária é essencial para o cres- cimento e desenvolvimento de órgãos e tecidos, pois o corpo humano não possui reserva de proteínas se compararmos com a grande reserva de energia existen- te no tecido adiposo e no glicogênio, sen- do que toda proteína no corpo é represen- tada por proteína funcional, ou seja, ela faz parte das estruturas teciduais ou dos sistemas metabólicos, tais como sistemas de transporte, hormônios, entre outros. A proteína que não é utilizada, o corpo de- grada, oxidando os aminoácidos liberados e excretando seu nitrogênio junto com a urina. A alternativa é metabolizar em gli- cose ou ácidos graxos que poderão ser armazenados e na condição de déficit de energia são utilizados preferencialmente como combustível energético para a res- síntese do ATP. Os três principais reservatórios de proteína funcional são: 1. As proteínas plasmáticas e os ami- noácidos plasmáticos (albumina e hemá- cias). 2. Proteína muscular. 3. Proteína visceral (órgãos abdomi- nais). Segundo Carvalho et al. (2003 apud BROUNS, 2005), o aumento da ingestão de proteínas mais que três vezes o nível recomendado, não aumenta o desem- penho durante o treinamento intensivo. 14 1514 Para atletas, a massa muscular não au- menta simplesmente através de uma ali- mentação rica em proteína. Por exemplo, o aumento do consumo extra de proteína de 100 g (400 calorias) para 500 g diárias não aumenta a massa muscular. Calorias adicionais na forma de proteínas são de- pois da desaminação (remoção do nitro- gênio), usadas diretamente como com- ponentes de outras moléculas, incluindo lipídeos que são estocados em depósitos subcutâneos. Assim, se numa dieta com excesso de proteínas, o músculo não tiver condições de utilizar os aminoácidos para síntese de tecido muscular, as cadeias car- bônicas serão usadas na gliconeogênese e o nitrogênio excedente excretado pela urina. O aumento da excreção de nitrogê- nio leva a uma maior necessidade de água, uma vez que ele é incorporado à ureia e esta à urina. Isso, a longo prazo, pode so- brecarregar os rins e causar desidratação. Enfim, o metabolismo muscular é abas- tecido por vários substratos, de acordo com a intensidade, a duração do exercício e as características da preparação do atle- ta e do ambiente. As limitações no meta- bolismo durante o exercício podem ser determinadas por fornecimentos inade- quados daqueles substratos que garan- tem a disponibilidade suficientemente rá- pida de energia para as fibras musculares. 14 1515 UNIDADE 4 - Os Micronutrientes As vitaminas e os minerais estão pre- sentes em grande variedade de alimen- tos. Cada um desses nutrientes é impor- tante, pois exerce funções específicas, essenciais para a saúde das nossas célu- las e para o funcionamento harmonioso entre elas. Diferentemente dos macro- nutrientes, as vitaminas e os minerais são necessários em pequenas quantida- des. No entanto, para atingir as recomen- dações de consumo desses nutrientes, o seu fornecimento através dos alimentos deve ser diário e a partir de diferentes fontes (SEYFFARTH, 2009). 4.1 Minerais Vários são os minerais essenciais para o bom funcionamento do esqueleto e da musculatura. São também necessários para crescimento, para os processos de transmissão neural, contração muscular, atividade enzimática dentre outras fun- ções. O conteúdo mineral no corpo dife- re entre os tecidos, bem como entre os compartimentos intra e extracelulares. Daremos ênfase aqui sobre o Potássio, Cálcio, Magnésio, Fosfato, Ferro e Zinco. O sódio e o cloro ficarão para o próximo tópico devido seu papel na homeostasia dos líquidos. Mas, vale lembrar que pelo menos 20 minerais diferentes são neces- sários em quantidades adequadas para manter o funcionamento normal dos te- cidos e das células. Enquanto alguns são absorvidos em pequenas quantidades, outros devem ser fornecidos em quanti- dades maiores. Nem todos os minerais estão livres para finalidades metabólicas, sendo que a principal fração do reservatório mineral “metabólico” está concentrada no plas- ma sanguíneo e no líquido intersticial. De todo modo, a quantidade de mine- rais que circulam nos líquidos corporais é uma resultante de diferentes processos permanentes. A absorção a partir do ali- mento, por um lado, e a captação ou a li- beração pelos tecidos, assim como a per- da e excreções (através do suor, urina, fezes) determinam o conteúdo mineral real. Quando tudo está em ordem, acon- tece um equilíbrio, ou seja, o excesso de um mineral é compensado por uma maior excreção. Quando há perda excessiva ou absorção deficiente, tanto o crescimento das células quanto a sua função celular ficam comprometidas, daí a importância de manter o equilíbrio. No quadro abaixo, apresentamos as quantidades dietéticas recomendadas para os minerais. 16 17 Quantidades dietéticas recomendadas para minerais (mg) Idade Magnésio Cálcio Fósforo Ferro Zinco Homens 15-18 400 1200 1200 12 15 19-24 350 1200 1200 10 15 25-50 350 800 800 10 10 Mulheres 15-18 300 1200 1200 15 12 19-24 280 1000 1200 15 12 25-50 280 800 800 15 12 Fonte: Brouns (2005). Potássio - K É o principal cationte intracelular, com uma concentração de aproximadamen- te 40 vezes a concentração existente na água extracelular. É importante para a transmissão dos impulsos neurais, o po- tencial de membranas e, consequente- mente, a contração das células muscula- res, e para a manutenção de uma pressão arterial normal. Segundo Brouns (2005), a maior parte do potássio ingerido é absorvido no intes- tino e penetra na circulação. Quando em excesso, produz alterações no eletrocar- diograma e podem acarretar uma parada cardíaca súbita. É excretado pela urina e em menor grau, nas fezes e no suor. Sabe- -se que a diarreia resulta em altas perdas de Potássio. A ingestão mínima recomendada é de 2 a 3,5 g/dia levando em consideração as perdas através do exercício (suor) e urina. Amplamente disponível nos alimentos, especialmente bananas, laranjas, batatas e carne. Dependendo do tipo de alimento, pode acarretar uma ingestão em torno de 8g /dia. Influência dos exercícios O potássio é perdido pelas células mus- culares durante as contrações repetidas, causada por modificações na permeabi- lidade celular e pelos frequentes fluxos internos e externos de sódio e de potás- sio que fazem parte do processo de con- tração eletroquímica. Nas células muscu- lares, o potássio é armazenado dentro do glicogênio. Consequentemente, o fracio- namento do glicogênio acarretará libe- ração de potássio na célula muscular, e, subsequentemente, pode acelerar a sua perda pela célula com sua penetração no espaço extracelular. Como resultado, a concentração de potássio tanto no líquido intersticial quanto no plasma aumentará. Quando a atividade física for de intensi- dade máxima, esse aumento será pronun- ciado. 16 17 Magnésio – Mg O conteúdo de Magnésio no corpo é de aproximadamente 20-30 g. Cerca de 40% dessa quantidade fica localizada dentro das células (especialmente no músculo),cerca de 60% no esqueleto e apenas 1% no líquido extracelular. O Magnésio é um mineral essencial pre- sente em cerca de 300 enzimas que são necessárias para os processos biossinté- ticos e o metabolismo energético e de- sempenha um papel importante na trans- missão e na atividade neuromuscular (atua em alguns pontos, sinergicamente com o cálcio, enquanto em outros é anta- gonista). Como a maioria dos minerais, o seu ní- vel no plasma é mantido dentro de uma variação estreita, encontrando-se meta- bolicamente disponível dentro do peque- no reservatório extracelular. Qualquer modificação nesse reservatório é causa- da pela ingestão nutricional, pela capta- ção ou liberação por parte dos tecidos ou pelas perdas ou excreção. A absorção fra- cional de magnésio no intestino é de apro- ximadamente 35%. O magnésio é excre- tado principalmente na urina, e pequenas quantidades são perdidas com o suor. As fezes também contêm magnésio, porém isso representa a fração não absorvida. O conteúdo em magnésio do alimento varia amplamente. Peixe, carne e leite são relativamente pobres em Magnésio, en- quanto os vegetais, as frutas exóticas, as bagas, as bananas, os cogumelos, nozes, legumes e cereais são relativamente ri- cos. Influência dos exercícios Os baixos níveis plasmáticos de mag- nésio tanto em repouso como durante o exercício foram relatados repetidamen- te em atletas envolvidos em um exercí- cio de endurance regular, pensando que resultava em metabolismo energético deteriorado, aumento da fadiga e a ocor- rência de câimbras musculares, porém, Brouns (2005) fala que estas últimas não puderam ser confirmadas em um estudo realizado com corredores de maratona. O mesmo autor observou também que as perdas ocorridas através do suor, em ge- ral, são pequenas, mas podem tornar-se significativas com as altas taxas de trans- piração prolongada. Além disso, a perda de magnésio pode aumentar durante as primeiras 24 horas após um exercício ex- tenuante. Cálcio - Ca O corpo humano contém 1.200 g de cálcio, dos quais aproximadamente 99% estão fixados no esqueleto. Apenas uma fração de 1% está presente no líquido ex- tracelular e nas estruturas intracelulares dos tecidos moles, que é a parte metabo- licamente disponível. O cálcio plasmático é mantido em uma estreita gama, princi- palmente pelos hormônios que controlam a absorção, a secreção e a renovação ós- sea. O cálcio que penetra no plasma deriva do alimento ou da liberação por parte do tecido ósseo. Pode ser perdido através da urina, suor ou fezes. Quando a ingestão de cálcio é muito baixa, os seus níveis plasmáticos se man- têm constantes porque há maior liberação pelo osso. A ingestão de cálcio varia de acordo com a quantidade e composição da dieta, 18 19 sendo os produtos lácteos uma grande fonte de cálcio. Nozes, grãos de legumi- nosas, alguns vegetais verdes (brócolis) e frutos do mar também são ricos em cálcio. Corredoras de longa distância exibem ingestões de cálcio que são mais baixas que a QDR (quantidade diária recomen- dada), sendo necessário uma ingestão de 1.500 mg/dia para se conseguir o equilí- brio desse mineral nas mulheres pós-me- nopaúsicas que não recebem terapia de reposição estrogênica. Influência dos exercícios Desempenha papel essencial no de- sencadeamento da contração muscular e enquanto está sendo recaptado acontece o relaxamento. O cálcio plasmático pode manter-se inalterado, diminuir ou aumen- tar durante o exercício, e estudos com- provam que essa variação é atribuída a di- versos fatores, tais como a perda de água que resulta em maior concentração, uma liberação aumentada pelo osso por causa do estresse mecânico ou uma captação reduzida pelo osso em virtude da menor mineralização óssea. Em atletas do sexo feminino, sabe-se que há aumento de fraturas devido oste- oporose atlética, o que acontece quando o estrogênio que regula o metabolismo do cálcio está em níveis deprimidos. Fosfato Companheiro do cálcio na formação do osso, 85% do fosfato total está presente no esqueleto e o restante se distribui en- tre os espaços extracelulares e intracelu- lares nos tecidos moles. É um elemento essencial em numero- sas enzimas, bem como no metabolismo energético. Sua ingestão e o fornecimen- to ao sangue, afeta a formação do osso, o que nos leva a afirmar que sua ingestão deve ser balanceada. É excretado, princi- palmente, pela urina e pequenas frações com as fezes e suor. Está presente em alimentos ricos em proteínas, tais como o leite, carnes, aves, peixes e cereais. Indivíduos sadios que se exercitam não apresentam problemas de deficiência em fosfato. Influência dos exercícios Exercícios com perda substancial de suor resultam em hemoconcentração, que por sua vez elevará os níveis plasmá- ticos de fosfato e são consideradas negli- genciáveis. Ferro – Fe O Ferro é componente importante da hemoglobina, mioglobina e diversas enzi- mas, tornando-o importante para a capa- cidade fixadora de oxigênio das hemácias, transporte e transferência de elétrons na cadeia de transporte dos elétrons. Cerca de 30% está armazenado sob a forma de ferritina e hemosiderina e uma peque- na parte como transferrina, funcionando como indicadores do estado do ferro. As- sim, um estado precário de ferro pode ser indicado pelos baixos níveis de ferritina sérica, maiores níveis de protoporfirina nas hemácias, níveis de saturação reduzi- dos da transferrina e níveis reduzidos de hemoglobina. Por isso, com uma ingestão inadequada de ferro, a forma de armaze- namento será a primeira a ser afetada. Se a escassez for prolongada, afetará a produção de hemoglobina, resultando em 18 19 anemia ferropriva que irá reduzir a capaci- dade de transporte de oxigênio, afetando a capacidade do desempenho de endu- rance. O Ferro está presente nas carnes ver- melhas, fígado, aves, vegetais e cereais de coloração verde-escura. O Ferro-heme nas carnes é a melhor fonte de ferro ab- sorvível. A vitamina C acelera a absorção de ferro inorgânico, enquanto os compo- nentes existentes nas fibras dietéticas, o chá, o café e o fosfato reduzem a absor- ção. Influência dos exercícios Existem hipóteses a respeito de de- ficiência ou excesso de ferro, mas como as controvérsias são muitas e não há um consenso geral, optou-se por não fazer conjecturas que possam ser entendidas erroneamente. A tabela abaixo oferece uma visão ge- ral dos padrões alimentares que levam à ingestão inadequada de ferro. Fatores que indicam alto risco de drenagem ou deficiência de ferro em atletas: Fatores que indicam possível aumento da exigência de ferro: - pico recente no crescimento da adolescência; - gravidez (atual ou até um ano antes). Fatores que indicam possível aumento das perdas ou má absorção de ferro: - aumento súbito da carga de treinamento, principalmente quando envolve corridas em superfícies duras; - problemas de má absorção gastrintestinal; - sangramento gastrintestinal por causa de uso crônico de alguns tipos de medicamentos anti-inflamatórios; - grandes perdas de sangue durante a menstruação; - excessiva perda de sangue em situações de sangramento nasal frequente, cirurgia recente, ferimentos graves; - doações de sangue frequentes. Fatores que indicam possível ingestão inadequada de ferro biodisponível: - ingestão de energia cronicamente baixa; - alimentação vegetariana, especialmente dietas mal plane- jadas, que ignoram fontes alimentares alternativas de ferro; - dietas da moda ou padrões alimentares irregulares; - restrição na variedade dos alimentos ingeridos e falhas na combinação de alimentos e refeições; - ênfase excessiva em comidas prontas e alimentos esporti- vos pobres em micronutrientes; - dietas com altas concentrações de carboidratos e eleva- do conteúdo de fibras aliada à ingestão irregular de carnes, peixes e aves; - dietas restritas a alimentos naturais: consumo insuficiente de alimentos contendo cereais com ferro adicionado. Fonte: Adaptado deBurke [s.d.] 20 21 Zinco – Zn O Zinco está presente em quantida- des relativamente grandes no osso e no músculo. Entretanto, como acontece com outros animais, essas reservas não são metabolicamente disponíveis. O reserva- tório de Zinco que é prontamente disponí- vel circula no sangue, é pequeno e possui um ritmo de renovação (turnover) rápido. Participa do crescimento e desenvolvi- mento dos tecidos, especialmente o mús- culo, pois é uma substância essencial em numerosas enzimas envolvidas nas princi- pais vias metabólicas. Carnes, fígado e frutos do mar são as principais fontes de zinco na dieta. Os ali- mentos ricos em carboidratos, especial- mente os provenientes de fontes refina- das, são pobres em zinco. Influência dos exercícios De acordo com Brouns (2005), o reser- vatório de zinco metabolicamente dispo- nível é representado pelo zinco sérico e mudanças rápidas no volume sanguíneo causado pelo exercício físico afetará o estado do zinco sérico seja por desidra- tação, que aumentará a concentração do zinco em virtude da hemoconcentração, seja por causa de um aumento do volume plasmático, após o exercício causado por retenção de água e sódio. Enfim, sobre os minerais, podemos resumir que: 1. À semelhança do que ocorre com a maioria dos nutrientes, a ingestão de mi- nerais depende da qualidade da dieta e da quantidade de energia consumida. Alto consumo energético acarreta uma inges- tão maior de minerais. 2. Os atletas que consomem dietas energéticas precárias podem correr o ris- co de uma baixa ingestão de minerais, es- pecialmente de magnésio, cálcio e zinco. 4.2 Oligoelementos Elementos em quantidades tão peque- nas que na realidade podemos considerar somente como “traços”, mas são essen- ciais aos processos biológicos por serem fundamentais para a formação de enzi- mas vitais para determinados processos bioquímicos como, por exemplo, a fotos- síntese ou a digestão. Estudá-los é difícil, entretanto, pode- mos obter amostrar do soro, dos tecidos, dos cabelos (pelos), unhas, fezes, urina e suor, sendo as quatro primeiras, amostras que podem indicar o estado do reservató- rio no qual a amostra deriva e as últimas três podem indicar o efeito do estresse físico sobre as suas perdas. Alguns dos oligoelementos são o Cobre, o Cromo e o Selênio e suas quantidades diárias re- comendadas estão expressas no quadro abaixo: Fonte Cobre (mg) Cromo (µg) Selênio (µg) H M H M H M 3,0 1,5 200 50 70 55 Fonte: Brouns (2005). 20 21 Cobre – Cu essencial ao corpo humano; encontrado nas carnes de vísceras, frutos do mar, nozes, sementes e batatas; sua deficiência resulta em saúde de- teriorada e funcionamento inadequado; participa de um grande número de enzimas e desempenha papel no metabo- lismo energético, síntese proteica; proteção contra os radicais livres e influencia o metabolismo do ferro. Cromo – Cr atua principalmente em combinação com a insulina e, consequentemente, na regulação normal do nível sanguíneo de glicose; sua insuficiência resulta em menor sensibilidade à insulina, regulação dete- riorada da glicose sanguínea e, possivel- mente, diabetes; importante para quem faz trabalho físico pesado e consome dietas ricas em carboidratos; diferentes tipos de estresse, incluin- do exercício, infecção e traumas físicos, exacerbam os sinais de uma deficiência marginal de cromo. Selênio – Se Componente essencial da enzima glu- tationa peroxidase que regula o fraciona- mento dos hidroperoxidios em combina- ção com a vitamina E. Isso quer dizer que atua como antioxidante, fazendo uma varredura dos radicais livres que apare- cem sabidamente em números cada vez maiores nas situações de trauma, estres- se e também durante o exercício extenu- ante. Como acontece com os minerais, os oli- goelementos são perdidos em quantida- de cada vez maiores como resultado do treinamento físico intensivo. As perdas do cobre pelo suor e do cromo pela urina po- dem, em certas circunstâncias, ultrapas- sar as ingestões diárias recomendadas. 4.3 Vitaminas Também são nutrientes essenciais para o corpo humano, participando em quase todas as funções biológicas. Atuam como: coenzimas em muitas biorreações e reações químicas, incluindo o metabolis- mo energético; envolvidas na síntese proteica; antioxidantes. Os fatores que influenciam o estado das vitaminas são a ingestão de alimentos e a densidade vitamínica do alimento, a biodisponibilidade (capacidade de ser ab- sorvida) e as perdas sofridas pelo organis- mo. Qualquer escassez de uma vitamina pode resultar em um metabolismo aquém do ideal que, em longo prazo, pode resul- tar em menor desempenho ou até mesmo em enfermidade. Algumas vitaminas atuam como antio- xidante e existe a evidência acumulada de que os antioxidantes nutricionais podem ajudar a aprimorar o papel protetor para a manutenção da integridade tecidual/ce- lular. À semelhança do que ocorre com os 22 23 minerais e oligoelementos, os atletas en- volvidos em treinamento intensivo, mas que consomem dietas com um baixo valor energético, são mais propensos a adotar ingestões marginais de vitaminas. Mas, de antemão, já guarde... As vitaminas são compostos orgânicos, os quais precisamos ingerir em pequena quantidade. Não são utilizadas para propósitos es- truturais ou geração de energia. Em geral, são cofatores de enzimas. Exemplo: piruvato dehidrogenase: pos- sui 5 co-fatores, 4 deles são vitaminas. Em geral são absorvidas em formas ina- tivas e ativadas posteriormente: Quando absorvidas, as vitaminas interagem de formas distintas com as enzimas: - podem caracterizar um sistema apo- enzima/holoenzima. Essa situação é ca- racterística das enzimas que utilizam como cofatores as vitaminas tiamina, ri- boflavina, piridoxina e cobalamina; - podem apresentar interações fracas. Ocorre entre as vitaminas K, niacina, fo- lato e ascorbato e as respectivas enzimas que as utilizam como cofatores; - podem ocorrer ligações covalentes entre as enzimas e vitaminas. Representam esse tipo de interação a biotina (com enzimas conhecidas como biotina-dependentes), pantotenato (com a sintetase de ácidos graxos) e a riboflavi- na (com a succinato dehidrogenase). São classificadas em dois grupos, por critério de solubilidade: 1- Lipofílicas (imiscíveis em água): vita- minas A, D, E e K. 2- Hidrofílicas (miscíveis em água): tia- mina, riboflavina, piridoxina e cobalami- na, biotina, folato, ácido ascórbico e ácido pantotênico (CARVALHO et al., 2003). Abaixo, temos algumas vitaminas indi- viduais e a influência dos exercícios: Tiamina Vitamina B1 Seu papel mais importante é na conver- são oxidativa do piruvato para acetilCoA, que é uma etapa importante no processo de produção de energia a partir do carboi- drato, por isso as necessidades recomen- dadas estão relacionadas ao dispêndio to- tal de energia e ingestão de carboidratos. Riboflavina Vitamina B2 Participante do metabolismo energéti- co mitocondrial. O National Research Cou- ncil relaciona sua ingestão com a inges- tão energética, mas não há estudos que comprovem necessidade de aumento na ingestão quando há aumento de metabo- lismo energético. Inativa Ativa Éster retilínico Ácido retinóico Tiamina Pirofosfato de tiamina Vitamina K Dehidro vit. K Folato Folato poliglutamatado Niacina NAD 22 23 Piridoxina Vitamina B6 Atuante na síntese proteica, a B6 é re- lacionada com atletas que usam a força e aos fisiculturistas. Mas nenhum estudo ainda comprova sua influência quando de- ficiente. Cianocobalamina Vitamina B12 Coenzima no metabolismo do ácido nucléico, influenciando também a sínte- se proteica. Também não há estudos que comprovem influência de déficit nas po- pulações atléticas. Niacina Funciona como coenzima na substân- cia NAD (nicotina adenina dinucleotídio) que desempenha papel proeminente na glicólise e é necessária para a respiração tecidual e síntese de gorduras. Sem dados suficientes que comprovem influênciade deficiência nas populações atléticas. Ácido Pantoteico Componente do acetil CoA, o metabó- lito intermediário no ciclo do ácido cítrico para o metabolismo dos carboidratos e das gorduras. Biotina Parte essencial das enzimas que trans- portam carboxila e fixam o dióxido de car- bono nos tecidos. A conversão de biotina para coenzima ativa depende da disponi- bilidade de magnésio e de ATP. Desempe- nha papel essencial no metabolismo dos carboidratos, das gorduras, do propionato e dos aminoácidos de cadeia ramificada. Ela é produzida no intestino delgado por microorganismos e fungos. Ácido Ascórbico Vitamina C Antioxidante hidrossolúvel é, prova- velmente, a vitamina mais estudada. Ser- ve para varrer os radicais livres que cau- sam dano celular e protegem a vitamina, e também é antioxidante. Ainda, acelera a absorção de ferro no intestino e participa da biossíntese de alguns hormônios. Alfa-Tocoferal Vitamina E Antioxidante, varredor dos radicais li- vres e protege as membranas celulares da peroxidase lipídica. Funciona juntamente com a vitamina C, o beta-caroteno e o se- lênio e protege as hemácias contra a he- mólise. No quadro abaixo, são apresentadas as quantidades dietéticas recomendadas para vitaminas: 24 25 4.4 Antioxidantes e radicais livres Os radicais livres são átomos que con- sistem em um núcleo com elétrons em “ór- bita” ao redor do núcleo. Ele existe inde- pendentemente por um período de tempo extremamente curto, que contém um ou mais elétrons que não formam pares. Par- ticipam da etiologia do dano celular e das patologias teciduais, ou seja, a oxidação dos radicais livres pode desencadear ou prolongar a lesão celular por remover um átomo de hidrogênio de, por exemplo, um ácido graxo poli-insaturado em uma bio- membrana, iniciando o processo degra- dativo da peroxidação lipídica. Por outro lado, os radicais livres podem afetar o me- tabolismo das proteínas e dos ácidos nu- cléicos, a integridade das biomembranas, as enzimas, e, portanto, a função e a pa- tologia dos tecidos. Segundo Brouns (2005), sabe-se que um grande número de doenças e de le- sões celulares tóxicas está associado à produção de radicais livres. Os antioxidantes são compostos que doam prontamente elétrons ou hidrogê- nio sem que eles mesmos sejam trans- formados em radicais altamente reativos. Dentre as classes de compostos nutricio- nais que agem dessa forma temos a vita- mina E, C, beta-caroteno ou pró-vitamina Vitamina Idade/Homens Idade/Mulheres 15-18 19-24 25-50 15-18 19-24 25-50 Vitamina B1(mg) 1,5 1,5 1,5 1,1 1,1 1,1 Vitamina B2(mg) 1,8 1,7 1,7 1,3 1,3 1,3 Niacina(mg) 20 19 19 15 15 15 Vitamina B6(mg) 2,0 2,0 2,0 1,5 1,5 1,5 Folato(µg) 200 200 200 180 180 180 Vitamina B12(µg) 2 2 2 2 2 2 Vitamina C(mg) 60 60 60 60 60 60 Vitamina A(µg) 1000 1000 1000 800 800 800 Vitamina D(µg) 10 10 5 10 10 5 Vitamina E(mg) 10 10 10 8 8 8 Vitamina K(µg) 65 70 80 55 60 65 Ácido pantotéico 8 8 8 8 8 8 Fonte: Brouns (2005). 24 25 A, fenóis e indóis vegetais e compostos or- ganossulfurosos. O corpo possui vários mecanismos de de- fesa contra os radicais livres, enzimáticos e não-enzimáticos, incluindo cofatores deri- vados dos nutrientes. O desempenho desportivo altamente in- tensivo se caracteriza por inúmeros even- tos, que tornam extremamente provável a maior produção de radicais livres e o dano celular correlato. O consumo de oxigênio para a produção de energia aeróbica au- menta cerca de 20 vezes e o mesmo ocorre com a produção de radicais livres, pois am- bos os processos estão inter-relacionados quantitativamente. Vários estudos apontam que a dor mus- cular, após uma sessão intensiva de exer- cício em indivíduos menos bem treinados, pode estar relacionada aos radicais livres. Sugerem que eles desempenhem um papel importante durante o processo inflamatório que causa a dor muscular, rigidez e perda da força muscular, especialmente entre 2 e 5 dias após a competição esportiva, mas que o suprimento de quantidades adequadas de antioxidantes pode reduzir tanto a gravi- dade quanto a duração dessa dor muscular tardia. Enfim, segundo Maughan e Burke (2004), vitaminas e minerais desempenham um pa- pel-chave na otimização da saúde e no de- sempenho do atleta. Em muitos casos, pode haver aumento na exigência de determinado micronutriente em consequência da prática de programa regular de exercícios. No entanto, não exis- tem normas fixas para ingestão de vitami- nas e minerais por atletas. Ao contrário, o que se sugere é uma ingestão de energia moderada a alta, caracterizada pela varie- dade dos alimentos ricos em nutrientes para que o atleta possa chegar a níveis de inges- tão de vitaminas e minerais acima do padrão considerado adequado para a população em geral e correspondente a suas respectivas necessidades. Guarde... Vitaminas: 1 - Vitaminas hidrossolúveis: complexo B, ácido fólico e vitamina C. 2 - Vitaminas lipossolúveis: A,D,E,K. Funções: não contém energia, mas são necessárias para as reações energéticas; regulam as funções celulares; envolvidas nas funções de proteção (imunológicas). Minerais: 1 - Cálcio, ferro, sódio, potássio, magné- sio, zinco e selênio, entre outros. Funções: necessários para crescimento, reprodução e manutenção do equilíbrio en- tre as células; fazem parte de tecidos; en- volvidos na contração muscular e na trans- missão dos impulsos nervosos. Vitaminas e minerais - fontes alimen- tares: 1 - Frutas, hortaliças e legumes. 2 - Leite e derivados, carnes, castanhas e nozes. 3 - Cereais integrais (ex.: milho, aveia, ali- mentos com farinha integral). As vitaminas e os minerais mantêm rela- ções de equilíbrio no desenvolvimento das suas funções. São necessárias determina- das proporções de dois ou mais deles para 26 2726 que algumas das reações esperadas aconte- çam dentro do nosso corpo. O uso de doses, maiores do que as indicadas, pode alterar tais proporções, prejudicando o resultado final. Como exemplos de relações benéfi- cas, desde que em proporções adequadas, podemos citar sódio e potássio; cálcio e fós- foro; ferro e vitamina C; cálcio e vitamina D (SEYFFARTH, 2009). 26 2727 UNIDADE 5 - Introdução à Anatomia Humana Numa definição bem ampla, a Anato- mia é a ciência que estuda, macro e mi- croscopicamente, a constituição e o de- senvolvimento do corpo humano. Palavra de origem grega, anatomia significa cor- tar em partes, cortar separado sem des- truir os elementos componentes. Ana- tomia é a parte da biologia que estuda a morfologia ou estrutura dos seres vivos. Para aqueles que lidam com o ser hu- mano, principalmente em seus aspectos físicos e metabólicos, como é o caso do nutricionista, é importante conhecer a organização do corpo humano e suas di- versas estruturas, pois estamos investi- gando o terreno da área na qual atuamos. Veremos noções básicas de alguns dos sistemas que mais nos interessam como, por exemplo, o aparelho locomotor que engloba os sistemas esquelético, mus- cular e articular, o sistema respiratório e excretor-urinário. O Aparelho locomotor representa um complexo de três importantes sistemas do corpo humano responsável pela rea- lização de todos os movimentos esque- léticos do corpo. Compõem o aparelho locomotor o sistema esquelético, a parte passiva do aparelho e que fornece as ala- vancas de movimento; o sistema muscu- lar, a parte ativa do aparelho e que rea- liza os movimentos através da contração dos músculos esqueléticos e, finalmen- te, o sistema articular que permite, em maior ou menor grau, os movimentos do esqueleto. A atuação conjunta dos três sistemas permite, portanto, a locomoção do corpo humano (UFPB, 2010, p. 7). Atualmente, a Anatomia pode ser sub- dividida em dois grandes grupos: Anato- mia Macroscópica e Anatomia Microscó- pica. A Anatomia Macroscópica é o estu- do das estruturas observáveis a olho nu, utilizando ou não recursos tecnológicos os mais variáveis possíveis. A Anatomia Microscópica é aquelarelacionada com as estruturas corporais invisíveis a olho nu e requer o uso de ins- trumental para ampliação, como lupas, microscópios ópticos e eletrônicos. Este grupo é dividido em Citologia (estudo da célula) e Histologia (estudo dos tecidos e de como estes se organizam para a for- mação de órgãos). A Anatomia Humana, a Anatomia Vege- tal e a Anatomia Comparada também são especializações da anatomia. Na Anato- mia Comparada, faz-se o estudo compa- rativo da estrutura de diferentes animais (ou plantas) com o objetivo de verificar as relações entre eles, o que pode elucidar sobre aspectos da sua evolução. 5.1 Sistema articular Ossos, articulações, musculatura e o sistema nervoso trabalham juntos para que possamos nos locomover. Retirando o sistema nervoso, o conjunto dos de- mais se chama sistema locomotor. As articulações são as estruturas res- ponsáveis pela união entre dois ou mais ossos do corpo, ou entre um osso e os dentes. As diversas articulações existen- tes no corpo possibilitam a conexão entre 28 29 os ossos, formando o esqueleto, além de permitirem a mobilidade dos diferentes segmentos corporais. Porém, como nem todas as articulações assemelham-se es- trutural e funcionalmente, a mobilidade entre as estruturas anatômicas pode va- riar de acordo com o tipo de articulação existente. A classificação das articulações ocor- re de duas maneiras: quando analisamos as estruturas anatômicas que participam da articulação e/ou quando analisamos o tipo de movimento realizado. A classificação estrutural leva em con- sideração a presença de líquido sinovial como elemento indispensável e o tipo de tecido que conecta os ossos. Desse modo, distinguem-se três classificações: fibrosas, cartilaginosas e sinoviais. Articulações fibrosas: os segmen- tos articuláveis (ossos ou dentes) são unidos por tecido conjuntivo fibroso. Articulações cartilaginosas: os ossos são unidos por cartilagem. Articulações sinoviais: são as arti- culações predominantes no corpo e apre- sentam uma grande amplitude de movi- mento. São caracterizadas pela presença indispensável de um líquido viscoso, cha- mado de “líquido sinovial”. Se pensarmos na classificação funcio- nal, as articulações podem ser divididas funcionalmente em três categorias que levam em consideração a amplitude de movimento realizado pela articulação. São elas: Diartrose – também chamadas de “articulações móveis”, por apresenta- rem uma vasta amplitude de movimento. Nesse sentido, toda articulação sinovial é classificada como sendo uma diartrose; Anfiartrose – também chamadas de “articulações semimóveis”, por serem li- geiramente móveis; Sinartrose – também chamadas de “articulações imóveis”, por não realiza- rem movimentos. Os segmentos articulares nas arti- culações fibrosas são unidos por tecido conjuntivo fibroso. Funcionalmente, as articulações fibrosas são semimóveis ou imóveis e apresentam três gêneros fun- damentais: suturas, sindesmose e gon- fose. a) Suturas: são articulações encon- tradas somente entre os ossos do crânio, onde o tecido conjuntivo, interposto aos segmentos ósseos, está presente em pequena quantidade. Os ossos do crânio unidos por sutura são imóveis; portanto, essa articulação é classificada funcio- nalmente como sinartrose. As suturas apresentam diferentes aspectos morfo- lógicos, que as concedem quatro classifi- cações: a.1) Serrátil: as margens ósseas que se articulam apresentam o formato de dentes de serra. O exemplo típico dessa articulação ocorre entre os dois ossos parietais (sutura sagital). a.2) Escamosa: um segmento ósseo se sobrepõe ao outro como uma escama de peixe. A sutura existente entre os os- sos parietal e temporal (temporoparie- tal) é um exemplo de sutura escamosa. a.3) Plana: os dois segmentos ósse- os que se articulam são lineares, ajus- tando-se perfeitamente. Suturas planas 28 29 são encontradas entre os ossos nasais e entre os processos palatinos do maxilar (palatina). a.4) Esquindilese: é caracterizada por uma crista que se encaixa em uma fenda. Essa articulação ocorre somente entre o vômer e o esfenoide. b) Sindesmose: nessa articulação fibrosa, o tecido conjuntivo interposto aos segmentos ósseos está presente em grande quantidade e pode estar disposto como ligamento ou membrana. Por serem semimóveis, as sindesmoses são classifi- cadas funcionalmente como anfiartro- se. O ligamento tibiofibular anterior e a membrana interóssea existente entre o rádio e a ulna e entre a tíbia e a fíbula são exemplos de sindesmose. c) Gonfose origina-se da palavra “gomphos”, que significa prego ou pino; no entanto, em uma articulação fibrosa do tipo gonfose, um pino encaixa-se em uma concavidade. O único exemplo de gonfose são as articulações entre a raiz dos dentes e os alvéolos dentais da ma- xila e da mandíbula. Funcionalmente, as gonfoses são imóveis; portanto, classifi- cadas como sinartroses. Sobre a articulação cartilaginosa, sa- bemos que a união entre os ossos ocor- re por meio de cartilagem, que pode ser do tipo hialina ou por fibrocartilagem. Pelo fato de pequenos movimentos se- rem realizados em resposta a torções e compressões, e por terem a capacidade de ossificar com o passar do tempo, tor- nando-se rígidas, essas articulações po- dem ser semimóveis ou imóveis. Os dois gêneros de articulações cartilaginosas presentes no corpo são sincondrose e sínfise. a) Sincondrose: são articulações car- tilaginosas em que a união entre os ossos que se articulam é realizada por cartila- gem hialina. Muitas das sincondroses en- contradas no corpo humano são tempo- rárias, ou seja, com o passar do tempo, a matriz cartilaginosa, que faz a união en- tre os segmentos ósseos, é substituída por tecido ósseo. A lâmina epifisial (carti- lagem de crescimento) encontrada entre a diáfise e a epífise dos ossos longos de uma criança é caracterizada como sin- condrose temporária, que se ossifica por completo quando cessa a fase de cres- cimento. As sincondroses permanentes não sofrem processo de ossificação ao longo dos anos; a matriz cartilaginosa permanece por toda a vida. São exemplos de sincondroses permanentes a articula- ção da base do crânio entre o esfenoide e o occipital e a articulação entre as coste- las e o esterno. b) Sínfise: uma sínfise possui, entre os ossos que se articulam, uma camada de cartilagem hialina recobrindo a super- fície articular. Entre a superfície articular dos ossos, há um disco fibrocartilagino- so, que é a principal característica dessa articulação. Esses discos são compressí- veis, possibilitando que as sínfises amor- teçam os impactos. A sínfise púbica en- tre os ossos do quadril e as articulações entre os corpos vertebrais são exemplos desse gênero. As articulações sinoviais apresentam várias estruturas que se diferenciam das demais. É característica única de uma ar- ticulação sinovial a presença de um com- partimento chamado de “cavidade arti- cular”. Esse espaço permite à articulação 30 31 realizar uma vasta amplitude de movi- mento, motivo pelo qual todas as articu- lações sinoviais são classificadas funcio- nalmente como diartrose. O espaço de cada cavidade articular é preenchido por um fluido viscoso chamado de “líquido sinovial”, que tem a coloração e a consis- tência de uma clara de ovo. Na etimologia da palavra, o termo “synovia” deriva do latim, que significa clara de ovo. As articulações sinoviais podem apresentar todas ou somente algu- mas das seguintes estruturas: superfície articular – é a face dos segmentos ósseos que estão envolvidos em uma determinada articulação. Essas superfícies ósseas são normalmente li- sas, polidas e recobertas por cartilagem articular; cartilagem articular – é uma lâ- mina de cartilagem hialina que recobre as superfícies articulares dos ossos. Sua função é reduzir o atrito entre os ossos e absorver os impactos na articulação durante os movimentos. A cartilagem ar- ticular apresenta in vivo uma coloraçãoesbranquiçada e não possui vasos para fazer a sua nutrição. Portanto, é uma es- trutura avascular; cápsula articular – é uma membra- na que envolve e une os ossos da articu- lação, como o manguito, circundando a cavidade articular. Morfologicamente, a cápsula articular é dividida em duas ca- madas: a externa, chamada de “cápsula fibrosa”, que fornece resistência e per- mite considerável flexibilidade à articu- lação; e a interna, denominada de “mem- brana sinovial”, altamente vascularizada e inervada, encarregada da produção do líquido sinovial; líquido sinovial – fluido viscoso produzido na membrana sinovial que exerce várias funções, tais como: oxige- nação e nutrição da cartilagem articular, absorção de impactos e redução do atri- to da articulação por meio da lubrificação das estruturas; cavidade articular – é o espaço in- terno existente entre os ossos da articu- lação, o qual está envolvido pela cápsula articular e preenchido por líquido sino- vial; discos e meniscos – são estruturas anatômicas fibrocartilaginosas que apre- sentam um formato de disco ou meia-lua (menisco). São destinados a proporcionar o perfeito ajuste das superfícies ósseas, promovem a estabilidade e atuam como um amortecedor; ligamentos – são estruturas em forma de fita que têm por finalidade sus- tentar, reforçar e estabilizar a articula- ção. Os ligamentos são divididos em três tipos: 1 – capsulares – espessamentos (reforços) da própria cápsula articular; 2 – intracapsulares – localizados dentro da cápsula articular; 3 – extracapsulares – localizados fora da cápsula articular; bolsas sinoviais – são estruturas semelhantes a uma almofada, preenchi- das por líquido sinovial, que têm por fina- lidade diminuir o atrito no local onde pas- sam músculos e tendões; bainhas tendíneas – são bolsas tubulares que envolvem e lubrificam os tendões de determinados músculos que sofrem atrito considerável; lábios – são estruturas localizadas 30 31 em torno de determinadas superfícies articulares, como no ombro e quadril, tendo por finalidade ampliar considera- velmente a área da superfície articular. Quanto aos tipos de movimentos teremos: a) Deslizamento: movimento em que uma superfície articular se move para frente, para trás e de um lado ao outro. b) Movimentos angulares: b.1) Flexão: diminuição do ângulo entre os ossos que se articulam. b.2) Extensão: aumento do ângulo en- tre os ossos que se articulam. b.3) Hiperextensão: movimento de ex- tensão além da posição anatômica. b.4) Abdução: movimento de afasta- mento de um segmento ósseo da linha mediana (plano mediano). b.5) Adução: movimento de aproxima- ção de um segmento ósseo da linha me- diana (plano mediano). b.6) Circundução: movimentação de um segmento ósseo em círculo. Esse movimento é caracterizado por uma se- quência contínua de flexão, abdução, ex- tensão e adução. c) Rotação: é o movimento de um segmento ósseo em torno de um eixo. Se esse movimento for em direção à linha mediana, a rotação é chamada de “rota- ção medial”; e de “rotação lateral” se o movimento for para longe da linha me- diana. d) Movimentos especiais são aque- les realizados somente por algumas arti- culações. Teremos: d.1) Supinação: movimento de rotação do antebraço lateralmente, em que a pal- ma da mão fica voltada anteriormente e o dorso da mão fica voltado posterior- mente. d.2) Pronação: movimento de rotação do antebraço medialmente, em que a pal- ma da mão fica voltada posteriormente e o dorso da mão fica voltado anteriormen- te. d.3) Elevação: movimento do segmen- to ósseo superiormente. d.4) Depressão: movimento do seg- mento ósseo inferiormente. d.5) Protrusão: movimento do segmen- to ósseo anteriormente. d.6) Retração: movimento do segmen- to ósseo posteriormente. d.7) Eversão: elevação da borda lateral do pé. d.8) Inversão: elevação da borda me- dial do pé. d.9) Oposição: movimento da polpa (ponta) do polegar (primeiro dedo) em di- reção à polpa dos demais dedos da mão. d.10) Reposição: movimento de retor- no do polegar à posição anatômica. d.11) Flexão lateral: movimento de incli- nação da coluna vertebral lateralmente. d.12) Flexão plantar: movimento em que o dorso do pé é afastado da face an- terior da perna (ficar na ponta dos dedos dos pés). d.13) Dorsiflexão: movimento em que o dorso do pé é aproximado da face ante- rior da perna. 32 33 5.2 Sistema muscular No sistema muscular encontramos estruturas individualizadas que cruzam uma ou mais articulações e, pela sua con- tração, são capazes de transmitir-lhes movimento. Este é efetuado por células especializadas denominadas fibras mus- culares, cuja energia latente é ou pode ser controlada pelo sistema nervoso. Os músculos são capazes de transfor- mar energia química em energia mecâ- nica. O músculo vivo é de cor vermelha. Essa coloração denota a existência de pigmentos e de grande quantidade de sangue nas fibras musculares. Os músculos representam 40-50% do peso corporal total. O sistema muscular é constituído por três tipos de tecidos musculares, que formam os músculos esquelético, liso e cardíaco. Anatomicamente, os múscu- los são definidos como estruturas que apresentam a capacidade de se contrair quando estimulados. O termo “miologia” (mio = músculo; logia = estudo) é utiliza- do na anatomia para definir o estudo dos músculos. Os músculos liso e cardíaco são estu- dados em detalhes na esplancnologia – área que estuda os sistemas viscerais. Fonte: sobiologia.com.br a) Tecido muscular estriado esque- lético: Apresenta, sob observação microscó- pica, faixas alternadas transversais, cla- ras e escuras. Essa estriação resulta do arranjo regular de microfilamentos for- mados pelas proteínas actina e miosina, responsáveis pela contração muscular. A célula muscular estriada chamada fi- bra muscular, possui inúmeros núcleos e pode atingir comprimentos que vão de 1mm a 60 cm. b) Tecido muscular liso: Está presente em diversos órgãos in- ternos (tubo digestivo, bexiga, útero, entre outros) e também na parede dos vasos sanguíneos. As células musculares lisas são uninucleadas e os filamentos de actina e miosina se dispõem em hélice em seu interior, sem formar padrão estriado 32 33 como o tecido muscular esquelético. A contração dos músculos lisos é ge- ralmente involuntária, ao contrário da contração dos músculos esqueléticos. c) Tecido muscular estriado cardí- aco: Está presente no coração. Ao micros- cópio, apresenta estriação transversal. Suas células são uninucleadas e têm contração involuntária. O músculo esquelético é encontrado em abundância no corpo humano. Mar- tini, Timons e Tallitsch (2009) relatam a existência de mais de setecentos, distri- buídos ao longo do corpo. A musculatura esquelética exerce várias funções indis- pensáveis para a sobrevivência. As con- trações musculares produzem calor, que ajuda a manter a temperatura corporal ideal. A respiração somente é possível devido às contrações do músculo dia- fragma; a postura ereta é mantida pela contração dos músculos gravitacionais. Os movimentos que possibilitam o des- locamento dos segmentos corporais são viabilizados pela contração dos músculos esqueléticos. São funções dos músculos: a) Produção dos movimentos cor- porais: movimentos globais do corpo, como andar e correr. b) Estabilização das posições cor- porais: a contração dos músculos es- 34 35 queléticos estabiliza as articulações e participam da manutenção das posições corporais, como a de ficar em pé ou sen- tar. c) Regulação do volume dos ór- gãos: a contração sustentada das faixas anelares dos músculos lisos (esfíncteres) pode impedir a saída do conteúdo de um órgão oco. d) Movimento de substâncias den- tro do corpo: as contrações dos mús- culos lisos das paredes dos vasos san- guíneos regulam a intensidade do fluxo. Os músculos lisos também podem mover alimentos, urina e gametas do sistema reprodutivo. Os músculos esqueléticos promovem o fluxode linfa e o retorno do sangue para o coração. e) Produção de calor: quando o te- cido muscular se contrai ele produz calor e grande parte desse calor liberado pelo músculo é usado na manutenção da tem- peratura corporal. Os músculos são em número de nove: a) Cabeça. b) Pescoço. c) Tórax. d) Abdome. e) Região posterior do tronco. f) Membros superiores. g) Membros inferiores. h) Órgãos dos sentidos. i) Períneo. As principais características que diferenciam os três tipos de múscu- los existentes no corpo humano gi- ram em torno de três fatores: a) Anatomia microscópica (histo- logia): os músculos esquelético e cardí- aco apresentam estrias quando analisa- dos microscopicamente, motivo pelo qual recebem a denominação de “músculos estriados”. Em contrapartida, o “múscu- lo liso” é assim chamado, justamente por não apresentar estrias na sua anatomia microscópica. b) Localização: o músculo liso é en- contrado nas vísceras ocas (estômago, esôfago, bexiga, útero, intestinos, vasos, entre outros); o músculo esquelético lo- caliza-se em torno dos ossos do esquele- to, o que justifica a sua denominação; e o músculo cardíaco localiza-se no coração. c) Controle da contração: o múscu- lo esquelético pode ser contraído ou re- laxado por controle consciente, por isso voluntário, ao passo que os músculos liso e cardíaco não são submetidos ao contro- le consciente da contração, por essa ra- zão, involuntários. Quanto à classificação dos mús- culos esqueléticos, esta pode ser: a) Quanto à situação: superficiais – localizados próximos da superfície; profundos – localizados afastados da superfície. b) Quanto à forma: longos – encontrados principalmen- te nos membros; chatos ou planos – revestem as pa- redes das grandes cavidades do corpo, como o tórax e o abdome; curtos – encontrados em torno das 34 35 articulações que apresentam pouca mo- bilidade; misto – longos e chatos ao mesmo tempo. c) Quanto à origem: bíceps – apresenta duas origens; tríceps – apresenta três origens; quadríceps – apresenta quatro ori- gens. d) Quanto à inserção: bicaudado – apresenta dois locais de inserção; policaudado – apresenta três ou mais locais de inserção. e) Quanto à direção das fibras mus- culares: paralelo – as fibras musculares estão dispostas uma ao lado da outra (músculo sartório). Em alguns músculos paralelos, a parte média do ventre muscular tem um diâmetro maior que as extremidades. A esses músculos dá-se o nome de “fu- siformes”. Exemplo: músculo bíceps bra- quial; circular ou esfíncter – as fibras mus- culares estão dispostas de maneira cir- cular, ao redor de um orifício ou de uma cavidade, controlando a entrada ou saída de materiais. São exemplos os músculos orbicular da boca, orbicular do olho e es- fíncter anal; oblíquo – as fibras musculares estão dispostas de maneira oblíqua ao tendão. Como esses músculos apresentam seme- lhança com uma pena, são denominados, também, de músculos “penados” ou “pe- niformes”. Subdividem-se em: - unipena- do – as fibras musculares estão dispos- tas apenas em um dos lados do tendão. Exemplo: músculo semimembranáceo; - bipenado – as fibras musculares estão dispostas na direita e na esquerda do tendão. Exemplo: músculo reto femoral; - multipenado – as fibras musculares estão dispostas de maneira semelhante a um leque. Exemplo: músculo deltoide. f) Quanto ao ventre muscular – essa classificação é utilizada quando um músculo tem mais de um ventre, com um ou mais tendões situados en- tre os ventres. Digástrico: apresenta dois ventres interligados por um tendão. São exem- plos os músculos digástrico e omo-hioi- deo. Poligástrico: apresenta mais de dois ventres interligados por tendões. Nesse caso, os tendões são denominados de “intersecções tendíneas”. Exemplo: mús- culo reto do abdome. g) Quanto ao número de articula- ções pelos quais o músculo passa: Monoarticular: passa somente por uma articulação. Biarticular: passa por duas articula- ções. h) Quanto à ação muscular: Essa classificação leva em consideração a ação muscular realizada pelo músculo; por- tanto, um músculo pode ser classificado como flexor, extensor, rotador, adutor, abdutor, levantador, abaixador, tensor, pronador, supinador, entre outros. 36 37 i) Quanto à função muscular: Agonista – é o músculo principal que atua em determinado movimento; Sinergista – é o músculo que ajuda o agonista a realizar a ação; Antagonista – realiza a ação contrá- ria do músculo agonista; fixador ou estabilizador – estabiliza um determinado segmento corporal, evi- tando movimentos indesejados. 5.3 Sistema cardiovascular A função básica do sistema cardio- vascular é a de levar material nutritivo e oxigênio às células. O sistema circulató- rio é um sistema fechado, sem comuni- cação com o exterior, constituído por tu- bos, que são chamados vasos, e por uma bomba percussora que tem como função impulsionar um líquido circulante de cor vermelha por toda a rede vascular. Pela definição acima, é possível perce- ber que o sistema cardiovascular consiste no sangue, no coração e nos vasos san- guíneos. Para que o sangue possa atin- gir as células corporais e trocar materiais com elas, ele deve ser constantemente propelido ao longo dos vasos sanguíne- os. O coração é a bomba que promove a circulação de sangue por cerca de 100 mil quilômetros de vasos sanguíneos. 36 37 Temos dois tipos muito importan- tes de circulação: a) Circulação pulmonar – leva san- gue do ventrículo direito do coração para os pulmões e de volta ao átrio esquerdo do coração. Ela transporta o sangue pobre em oxigênio para os pulmões, onde ele libera o dióxido de carbono (CO2) e recebe oxigênio (O2). O sangue oxigenado, então, retorna ao lado esquerdo do coração para ser bom- beado para circulação sistêmica. b) Circulação sistêmica – é a maior circulação; ela fornece o suprimento san- guíneo para todo o organismo. A circula- ção sistêmica carrega oxigênio e outros nutrientes vitais para as células, e capta dióxido de carbono e outros resíduos das células. 5.4 Sistema respiratório A função do sistema respiratório é facul- tar ao organismo uma troca de gases com o ar atmosférico, assegurando permanen- te concentração de oxigênio no sangue, necessária para as reações metabólicas e, em contrapartida, servindo como via de eli- minação de gases residuais, que resultam dessas reações e que são representadas pelo gás carbônico. O intercâmbio dos ga- ses faz-se ao nível dos pulmões, mas para atingi-los o ar deve percorrer diversas por- ções de um tubo irregular, que recebe o nome conjunto de vias aeríferas. As vias aeríferas podem ser divididas em: nariz, faringe, laringe, traqueia, brôn- quios e pulmões. 5.5 Sistema urinário O sistema urinário é constituído pelos órgãos uropoéticos, isto é, incumbidos de elaborar a urina e armazená-la temporaria- mente até a oportunidade de ser eliminada para o exterior. Na urina encontramos áci- 38 3938 do úrico, ureia, sódio, potássio, bicarbo- nato, entre outros. Este aparelho pode ser dividido em órgãos secretores – que produzem a urina – e órgãos excretores – que são encarregados de processar a drenagem da urina para fora do corpo. Os órgãos urinários compreendem os rins (2), que produzem a urina, os urete- res (2) ou ductos, que transportam a uri- na para a bexiga (1), onde fica retida por algum tempo, e a uretra (1), através da qual é expelida do corpo. Além dos rins, as estruturas restan- tes do sistema urinário funcionam como um encanamento constituindo as vias do trato urinário. Essas estruturas – urete- res, bexiga e uretra – não modificam a urina ao longo do caminho, ao contrário, elas armazenam e conduzem a urina do rim para o meio externo. Os rins realizam o trabalho principal do sistema urinário, com as outras partes do sistema atuando, principalmente, como vias de passagem e áreas de armazena- mento. Com a filtração do sangue e a for- mação da urina, os rins contribuem
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