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Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e Egressas

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Documento Basilar para a Elaboração da Portaria Interministerial MJ/SPM nº 210/2014 
 2 
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 
 
Presidenta da República 
 
DILMA ROUSSEFF 
 
 
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA 
 
Ministro de Estado da Justiça 
 
JOSÉ EDUARDO CARDOZO 
 
Secretária-Executiva 
 
MÁRCIA PELEGRINI 
 
DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL 
 
Diretor-Geral 
 
AUGUSTO EDUARDO DE SOUZA ROSSINI 
 
Diretor de Políticas Penitenciárias 
 
LUIZ FABRÍCIO VIEIRA NETO 
 
Comissão Especial sobre o Encarceramento Feminino 
Coordenação 
 
GISELE PEREIRA PERES 
 
ROSANGELA PEIXOTO SANTA RITA 
 
Áreas Temáticas 
 
DÉBORA RENATA DE PAIVA CUNHA GUIMARÃES 
FÁTIMA MAYUMI KOWATA 
MARA FREGAPANI BARRETO 
MARCUS CASTELO BRANCO ALVES SEMERARO RITO 
MICHELLE MAGALHÃES SALES SILVEIRA 
VALDIRENE DAUFEMBACK 
 
 
SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES 
 
Ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres 
 
ELEONORA MENICUCCI 
 
Secretária-Executiva 
 
LOURDES MARIA BANDEIRA 
 
 
DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL 
Esplanada dos Ministérios, Bloco T, Anexo II, 6º andar 
CEP: 70.064-900 Brasília-DF 
Fone: 61 – 2025-3187 
e-mail: depen@mj.gov.br 
site: www.mj.gov.br/depen 
SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES 
Via N1 Leste, Pavilhão das Metas, Praça dos 3 Poderes 
CEP: 70150-908 Brasília-DF 
Fone: 61 – 3411-4246 
e-mail: spmulheres@spmulheres.gov.br 
site: www.spm.gov.br 
 2 
GRUPO DE TRABALHO INTERMINISTERIAL 
 
Ministério da Justiça 
Gabinete do Ministério da Justiça: 
Titular: Magda Fernanda Medeiros Fernandes 
Suplente: Heloisa Marques Gimenez 
 
Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária 
Titular: Fabiana Costa Oliveira Barreto 
Suplente: Maria Ivonete Tamboril 
 
Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas 
 
Secretaria da Reforma do Judiciário 
Titular: Polliana Andrade e Alencar 
Suplente: Halisson Luciano Chaves Aires da Fonseca 
 
Secretaria Nacional de Justiça 
Titular: Fernanda Alves dos Anjos 
Titular: João Guilherme Lima Granja Xavier da Silva 
Suplente: Sara de Sousa Coutinho 
 
Secretaria de Políticas para as Mulheres 
Titular: Aline Yamamoto 
Suplente: Lara Macedo Aguiar 
 
Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial 
Titular: Mônica Alves de Oliveira Gomes 
Suplente: Cristina de Fátima Guimarães 
 
Secretaria de Direitos Humanos 
Titulares: Deise Benedito e Giuliana Hernandes Cores 
Suplentes: Ana Paula Diniz Moreira e Sérgio Eduardo M. da Rocha 
 
Secretaria Nacional de Juventude 
Titulares: Fernanda de Carvalho Papa e Fernanda Machiaveli Morão de Oliveira 
Suplentes: Fernanda Costa Gomes Marangoni e Luciane dos Reis Conceição 
 
Ministério do Trabalho e Emprego 
Titular: Anete Alves Fidelis 
Suplente: Sherida Maria de Freitas Moreira Lima 
 
Ministério da Saúde 
Titulares: Marden Marques Soares Filho e Maria Esther de Albuquerque Vilela 
Suplentes: Raquel Lima de Oliveira e Silva e Roseli Rossi Stoicov 
 
Ministério da Educação 
Titular: Mauro José da Silva e Rita de Cassia de Freitas Coelho 
Suplente: Rita de Cássia de Oliveira e Suely Teixeira Mello 
 
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome 
Titulares: José Roberto Alvarenga Frutuoso e Carla Cristina Ulhoa Lucena 
Suplentes: Elizabeth Cagliari Hernandes e Maria Carolina Pereira Alves 
 
Ministério da Cultura 
Titulares: Ana Maria Ângela Bravo Villalba e Thaís Borges da Silva Pinho Werneck 
Suplentes: Karina Miranda da Gama e Isabelle Cristine da Rocha Albuquerque 
 
Ministério do Esporte 
Titular: Jane Santana de Brito 
Suplente: Mariléia dos Santos 
 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Institucionais: Ministério da Justiça 
 Departamento Penitenciário Nacional 
Autorais: Gisele Pereira Peres 
 Rosangela Peixoto Santa Rita 
Arte: Rafael de Lima Chaves 
 4 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
 
ACESSUAS - Programa Nacional de Promoção do acesso ao Mundo do Trabalho 
CAPACITA SUAS - Programa Nacional de Capacitação do Sistema Único de Assistência 
Social 
CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social 
CNPCP – Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária 
CNJ – Conselho Nacional de Justiça 
CNMP – Conselho Nacional do Ministério Público 
CONANDA – Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente 
CONDEGE – Conselho Nacional dos Defensores Públicos Gerais 
CONSEJ – Conselho Nacional dos Secretários de Estado da Justiça, Cidadania, Direitos 
Humanos e Administração Penitenciária 
CONTRAN - Conselho Nacional de Trânsito 
CRAS – Centro de Referência de Assistência Social 
CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social 
DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional 
FNAS - Fundo Nacional de Assistência Social 
GTI – Grupo de Trabalho interministerial sobre Mulheres Presas 
INFOPEN – Sistema Nacional de Informações Penitenciárias 
LEP – Lei de Execução Penal 
MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome 
MEC – Ministério da Educação 
MINC – Ministério da Cultura 
MJ – Ministério da Justiça 
MS – Ministério da Saúde 
ONU – Organização das Nações Unidas 
PNSSP - Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário 
PPA – Plano Plurianual 
PRONATEC - Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego 
RC – Rede Cegonha 
SENARC - Secretaria Nacional de Renda de Cidadania 
SEPPIR – Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da 
República 
SDH – Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República 
SESC – Serviço Social do Comércio 
SESI –Serviço Social da Indústria 
SEST – Serviço Social do Transporte 
SNAS - Secretaria Nacional de Assistência Social 
SPM – Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República 
SUAS – Sistema Único de Assistência Social 
 
 
 
 5 
SUMÁRIO 
 
 
1. Apresentação ........................................................................................................... 07 
2. Introdução ............................................................................................................... 09 
3. Breve diagnóstico da situação sobre as mulheres sob privação de liberdade no Brasil 
................................................................................................................................... 11 
4. Princípios ................................................................................................................. 17 
5. Diretrizes gerais ........................................................................................................ 19 
6. Objetivo ................................................................................................................... 21 
6.1. Objetivo geral .................................................................................................. 21 
6.2. Objetivos específicos ........................................................................................ 21 
7. Eixos para a efetivação da Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de 
Privação de Liberdade e Egressas do Sistema Prisional .................................................... 23 
7.1. Banco de dados com especificidades da mulher .................................................. 23 
7.2. Modalidades assistenciais ................................................................................. 24 
7.2.1. Assistência material .................................................................................. 25 
7.2.2. Assistência à saúde .................................................................................. 26 
7.2.3. Assistência educacional ............................................................................ 27 
7.2.4. Assistência jurídica ................................................................................... 28 
7.2.5. Assistência psicossocial ............................................................................ 29 
7.2.6. Assistência religiosa .................................................................................. 29 
7.2.7. Assistência laboral.................................................................................... 29 
7.3. Construção e ampliação de unidades prisionais femininas/aparelhamento ............ 30 
7.4. Maternidade na prisão e atenção à criança ......................................................... 32 
 7.4.1. Gestação ................................................................................................. 33 
7.4.1.1. Identificação da situação de gestação na prisão ................................ 33 
7.4.1.2. Inserção da mulher grávida e lactante em local específico e adequado, 
com disponibilização de serviços penais condizentes ....................................... 33 
7.4.1.3. Presença de acompanhante junto à parturiente ................................. 34 
7.4.1.4. Proibição do uso de algemas ............................................................34 
7.4.1.5. Atividades de reintegração social e procedimentos diferenciados para 
as gestantes ................................................................................................ 34 
7.4.1.6. Inserção da gestante na Rede Cegonha ............................................ 35 
 7.4.2. Atenção aos filhos de mães em situação de privação de liberdade ............... 35 
7.4.2.1. Desenvolvimento de ações qualificadas materno-infantis ................... 35 
7.4.2.2. Consolidação de conceito padrão dos espaços de convivência mãe-filho 
nos estabelecimentos prisionais ..................................................................... 35 
7.4.2.3. Assistência e atendimento durante a gestação, nascimento, 
permanência e saída da criança do estabelecimento prisional .......................... 36 
7.4.2.4. Uniformização do período de amamentação e de convivência das 
mulheres presas com seus filhos e desenvolvimento de ações de preparação da 
saída da criança do estabelecimento prisional ................................................ 38 
7.4.2.5. Desenvolvimento de práticas que previnam a destituição do poder 
familiar por motivo de privação de liberdade .................................................. 40 
7.4.2.6. Acesso das crianças que estão em ambientes intra e extramuros à 
rede pública de educação infantil .................................................................. 40 
7.4.2.7. Programas socioassistenciais ........................................................... 41 
7.4.2.8. Material de consumo e material de higiene pessoal ........................... 41 
 6 
7.4.2.9. Equipes multidisciplinares proporcionais ao número de mulheres 
presas e crianças (em ambiente intramuros) .................................................. 42 
7.4.2.10. Vínculo mãe e filho ......................................................................... 42 
7.4.2.11. Pesquisas e estudos sobre o encarceramento feminino ................... 43 
7.5. Ações voltadas à segurança e gestão prisional .................................................... 43 
7.5.1. Normas e procedimentos de segurança diferenciados para as mulheres 
presas e mães com seus filhos ............................................................................ 43 
7.5.2. Procedimento de revista ........................................................................... 43 
7.5.3. Transporte diferenciado (escolta) para mulheres com deficiência, gestantes, 
mães com filhos e mulheres idosas ..................................................................... 44 
7.5.4. Unidades prisionais específicas para mulheres/agentes de segurança 
interna do sexo feminino .................................................................................... 44 
7.5.5. Fortalecimento do vínculo familiar ............................................................ 44 
7.6. Capacitação de servidores ................................................................................. 45 
7.7. Egressas do sistema prisional ............................................................................ 46 
7.7.1. Atendimento às pré-egressas .................................................................... 46 
7.7.2. Atendimento às egressas .......................................................................... 46 
7.7.3. Acesso à rede pública de saúde ................................................................. 46 
7.7.4. Documentação civil ................................................................................... 46 
7.7.5. Inserção da mão-de-obra das egressas em contratos dos órgãos públicos .... 47 
7.7.6. Tratamento de dependência química ......................................................... 47 
7.8. Mulheres com transtorno mental ....................................................................... 47 
7.8.1. Diagnóstico precoce e tratamento adequado .............................................. 47 
7.8.2. Atenção às pessoas com dependência química ........................................... 47 
7.8.3. Inserção das mulheres com transtornos mentais na Rede de Saúde Mental .. 48 
7.8.4. Alimentação dos sistemas de informação ................................................... 48 
7.9. Presas estrangeiras .......................................................................................... 48 
7.9.1. Procedimentos relacionados à documentação das presas estrangeiras .......... 48 
7.9.2. Cartilha especializada ............................................................................... 48 
7.9.3. Vínculo familiar ........................................................................................ 49 
7.9.4. Acordos de transferência de pessoas condenadas ....................................... 49 
7.9.5. Acesso à educação à distância .................................................................. 49 
8. Responsabilidades institucionais ................................................................................. 50 
8.1. Departamento Penitenciário Nacional - DEPEN/MJ............................................... 50 
8.2. Órgãos estaduais de gestão do sistema prisional ................................................. 51 
8.3. Ministérios ....................................................................................................... 52 
8.3.1. Ministério da Educação – MEC ................................................................... 52 
8.3.2. Ministério da Saúde – MS .......................................................................... 54 
8.3.3. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS .................. 56 
8.3.4. Secretaria de Direitos Humanos – SDH ...................................................... 57 
8.3.5. Secretaria de Políticas de Promoção à Igualdade Racial – SEPPIR ................ 58 
8.3.6. Secretaria de Políticas para as Mulheres – SPM ........................................... 60 
8.4. Sociedade civil .................................................................................................. 61 
8.5. Outros órgãos envolvidos com a execução penal ................................................ 62 
9. Avaliação e monitoramento ...................................................................................... 65 
10. Normativos nacionais e tratados internacionais de proteção às mulheres em situação 
de privação de liberdade ............................................................................................... 66 
11. Referências bibliográficas ........................................................................................ 70 
12. Anexos ................................................................................................................... 74 
 7 
1. Apresentação 
 
 
O Ministério da Justiça, por meio do Departamento Penitenciário Nacional, 
considerando os problemas que envolvem o encarceramento feminino brasileiro e as 
diversas formas de discriminação que acometem as mulheres no âmbito da justiça 
criminal e no âmbito penitenciário, elaborou a presente Política Nacional de Atenção às 
Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e Egressasdo Sistema Prisional, em 
parceria com diversos órgãos ligados à execução da pena, ministérios e sociedade civil. 
As justificativas para a falta de um olhar diferenciado com práticas 
humanizadoras no que diz respeito à diversidade de gênero, no âmbito das prisões de 
mulheres, reproduzem visões simplistas unicamente focadas na questão numérica, 
tendo em vista que do total de 548.0031 da população carcerária, 35.039 são 
mulheres, o que equivale a um percentual de cerca de 7%. 
No Brasil, o déficit carcerário feminino cresce à medida que a quantidade de 
mulheres que ingressam nos estabelecimentos prisionais aumenta, pois além da 
conjuntura socioeconômica, falta, também, uma política efetiva para a construção 
permanente de vagas. O déficit carcerário feminino atual é de aproximadamente 13 mil 
vagas. 
A maioria dos espaços físicos para o cumprimento de pena são locais adaptados 
para as mulheres e não possuem serviços específicos, não sendo consideradas as 
especificidades de gênero. Avalia-se, assim, a necessidade de que sejam construídas 
estruturas físicas e desenvolvidos serviços penais e programas sociais condizentes com 
as particularidades da mulher. 
Ciente do presente quadro, o Departamento Penitenciário Nacional, 
comprometido com o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, resgatou 
as discussões oriundas do relatório final Reorganização e Reformulação do Sistema 
Prisional Feminino, elaborado em 2007 por um grupo de trabalho interministerial, sob 
coordenação da Secretaria de Políticas para as Mulheres – SPM. Com isso, o DEPEN/MJ 
instituiu, por meio da Portaria nº 154, de 13 de abril de 2012, prorrogada pela Portaria 
nº 189, de 25 de junho de 2013, a Comissão Especial do Projeto Mulheres2, vinculada à 
Diretoria de Políticas Penitenciárias, com o objetivo de elaborar propostas de ações 
para o Projeto Estratégico do Ministério da Justiça: Efetivação dos Direitos das 
Mulheres no Sistema Penal. 
Contribuindo para a consolidação da Política Nacional de Atenção às Mulheres 
em Situação de Privação de Liberdade e Egressas do Sistema Prisional, o 
Departamento Penitenciário Nacional lançou o Programa Nacional de Apoio ao Sistema 
Prisional, normatizado pelas Portarias nº 522, de 22 de novembro de 2011, nº 317 de 
18 de julho de 2012 e nº 591, de 14 de novembro de 2012, destinado à redução do 
 
1 Dados do INFOPEN/DEPEN, referentes ao mês de dezembro de 2012. Disponível em 
www.mj.gov.br/depen/infopen. 
2 A Comissão Especial do Projeto Mulheres é composta pelas seguintes áreas do DEPEN: Ouvidoria, 
Coordenação-Geral de Reintegração Social e Ensino, Coordenação-Geral de Alternativas Penais, 
Coordenação-Geral do Fundo Penitenciário Nacional e Coordenação de Engenharia. 
 8 
déficit carcerário, tendo como uma das metas: a eliminação do déficit carcerário 
feminino, a partir da geração de vagas por meio de construção e ampliação de 
estabelecimentos prisionais para as mulheres. 
Entre as diversas ações estratégicas da referida Comissão, foi instituído um 
Grupo de Trabalho Interministerial - GTI, por meio da Portaria MJ nº 885, de 22 de 
maio de 2012, com a finalidade de elaborar políticas intersetoriais e integradas, 
destinadas às mulheres em situação de privação de liberdade, restrição de direitos e às 
egressas. O GTI é composto por 11 ministérios e eventuais convidados. 
Esta Política Nacional incorpora os desafios da integralidade da política criminal e 
penitenciária com as diversas políticas sociais de proteção à mulher e aos seus filhos, 
agregando, assim, um conjunto de ações dos diversos órgãos em prol da melhoria do 
encarceramento feminino, bem como do processo de reformulação do sistema penal 
feminino. 
Neste sentido, o Departamento Penitenciário Nacional pretende demonstrar o 
compromisso do Órgão com o tema, elaborando e efetivando a Política Nacional de 
Atenção às Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e Egressas do Sistema 
Prisional, como um dos primeiros esforços, em âmbito nacional, para a melhoria do 
encarceramento feminino, subsidiando a elaboração da política estadual para mulheres 
em privação de liberdade e egressas do sistema prisional de cada unidade federativa, 
com o fito de proporcionar às mulheres presas o pleno exercício dos direitos 
constitucionais e infraconstitucionais. 
 
 
 
José Eduardo Cardozo 
Ministro da Justiça 
Eleonora Menicucci de Oliveira 
Ministra da Secretaria de Políticas 
para as Mulheres 
 
 9 
2. Introdução 
 
 
A Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de 
Liberdade e Egressas do Sistema Prisional define os princípios, as diretrizes, os 
objetivos e as propostas consensuadas, de co-responsabilidade de gestão entre 
diversos órgãos, voltadas à melhoria da situação do sistema criminal e penitenciário 
feminino, com base nos normativos afetos às mulheres presas, egressas e seus filhos, 
em âmbito nacional e internacional. 
Sob o enfoque de gênero, esta Política busca garantir no âmbito criminal, o 
encarceramento como última medida de punição, e no âmbito penitenciário, uma 
execução penal menos estigmatizante e violadora de direitos, ao ser direcionada às 
necessidades e realidades específicas das mulheres presas. 
A presente publicação é produto dos trabalhos coletivos e participativos 
desenvolvidos durante o ano de 2012 e primeiro semestre de 2013, por meio de 
encontros nacionais, workshops e reuniões de trabalho, coordenados pela Comissão 
Especial do Projeto Mulheres/DEPEN/MJ e com a participação de representantes dos 
órgãos estaduais de administração prisional3, bem como pelo Grupo de Trabalho 
Interministerial, que é composto pelo Ministério da Saúde, Ministério da Educação, 
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Ministério do Trabalho e 
Emprego, Ministério da Cultura, Ministério do Esporte, Secretaria de Direitos Humanos, 
Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Secretaria de Políticas para as 
Mulheres e Secretaria Nacional da Juventude. Registrar-se que outros órgãos do 
Ministério da Justiça, a exemplo da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 
Secretaria da Reforma do Judiciário, Secretaria Nacional de Justiça, Conselho Nacional 
de Política Criminal e Penitenciária, além do Conselho Nacional de Justiça e Pastoral 
Carcerária Nacional, também, participaram das discussões para a elaboração desta 
Política. 
Trata-se, portanto, de apresentar o processo de trabalho desenvolvido com o 
fito de se efetivar uma política transversal, com formulação, gestão e execução 
compartilhadas entres as esferas de governo e atores vinculados ao sistema criminal e 
penitenciário, aliando-se às diretrizes de diversas políticas públicas garantidoras de 
direitos humanos. 
Dentro da perspectiva de elaboração de um documento íntegro e abrangente, a 
publicação da presente Política se inicia com a apresentação de uma síntese sobre o 
panorama do encarceramento de mulheres no Brasil, ao passo que detalha os 
principais consensos propostos para melhoria de práticas institucionais no âmbito do 
sistema penal feminino. Esta abordagem de estratégia de gestão reforça o 
compromisso de todos os órgãos governamentais e sociedade civil envolvidos nesse 
processo de formulação, efetivação e acompanhamento da Política Nacional. 
 
3 secretarias, institutos, agências, superintendências ou órgãos similares estaduais, responsáveis pela 
gestão do sistema penitenciário. 
 10 
Por fim, a Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de 
Liberdade e Egressas do Sistema Prisional está em consonância com os ideais e 
recomendações das Regras das Nações Unidas para o Tratamento de Mulheres Presas 
e Medidas Não Privativas de Liberdade para Mulheres Infratoras - Regras de Bangkok, 
que convida os Estados-membros a considerarem as necessidades e realidades 
específicas das mulheres presas ao desenvolver leis, procedimentos,políticas e planos 
de ação. 
 
 
Augusto Eduardo de Souza Rossini 
Diretor-Geral do Departamento Penitenciário Nacional 
 11 
3. Breve diagnóstico sobre a situação das 
mulheres sob privação de liberdade no Brasil4 
 
 
O processo de encarceramento feminino vem crescendo de forma considerável 
nos últimos anos, o que faz com que os órgãos envolvidos com a execução penal 
comecem a se preocupar com a necessidade de desenvolvimento de estratégias e 
ações com recorte de gênero, objetivando a instituição de diretrizes que visualizem as 
peculiaridades das mulheres em situação de privação de liberdade e as egressas do 
sistema prisional. 
Alguns campos do sistema penal5 já vêm sendo objeto de aprofundamento, 
porém, o encarceramento feminino e seus agravamentos sociais são temas pouco 
explorados no Brasil. 
O número reduzido de mulheres em situação de privação de liberdade, se 
comparado ao número de homens, reproduz uma invisibilidade das necessidades de 
gênero. Normalmente, as mulheres presas são obrigadas a se adaptarem aos modelos 
de estrutura física prisional e de serviços penais pensados para os homens, como é o 
caso dos estabelecimentos penais femininos que, na grande maioria dos casos, são 
adaptações de unidades prisionais masculinas desativadas ou inutilizadas, não 
possuindo o mínimo de espaços e serviços penais condizentes com as peculiaridades 
femininas. 
Analisando os dados do Sistema Nacional de Informações Penitenciárias – 
INFOPEN do Ministério da Justiça, observa-se que no período de 2000 a 2012, o 
número total de pessoas presas no Brasil cresceu em torno de 136%, visto que em 
2000 a população prisional era de 232.755 presos e em dezembro de 2012 passou para 
548.003. 
O número de mulheres presas, no ano 2000, representava aproximadamente 
4% da população carcerária nacional. Atualmente, o número de mulheres presas é de 
35.039, o que representa cerca de 7% da população carcerária total. Pode-se constatar 
que nos últimos 12 anos6 o número de mulheres cresceu 256%, enquanto o número de 
homens teve um crescimento médio de 130%. Deste modo, a curva de crescimento 
carcerário feminino se mostra muito mais acentuada do que a curva de crescimento 
carcerário masculino, conforme ilustra os gráficos a seguir: 
 
 
 
4 Com base nos dados do Sistema Nacional de Informações Penitenciárias – INFOPEN Dez/12. 
5 O sistema penal pode ser entendido a partir de estruturas formais e informais. As informais referem-se 
à família, escola, opinião pública, entre outras e as formais são os legisladores, os policiais, o Poder 
Judiciário, o Ministério Público, a defesa e as instituições penitenciárias. 
6 Importante registrar que, segundo o Censo 2010 do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística – 
IBGE, a população do Brasil apresentou um crescimento relativo entre 2000 a 2010 de 12,3%, ou seja, 
passou de 169.799.170 para 190.755.799. Disponível em www.censo2010.ibge.gov.br. Acesso em 
10/10/2010. 
 12 
Gráfico 1 – Evolução da população carcerária masculina 
 
512964
480524
461444
442225
422775396543
378171340138
317568
296441
229060
223986
222643
200000
250000
300000
350000
400000
450000
500000
550000
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
 
 
Gráfico 2 – Evolução da população carcerária feminina 
 
10285
11863
20264
23065
25830
31401
35039
34058
34807
28654
18790
987310112
9000
14000
19000
24000
29000
34000
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 
 
O déficit de vagas femininas, diante do cenário do encarceramento feminino 
nacional, é de aproximadamente 13 mil vagas. 
 
Gráfico 3 – Quantidade de presas e quantidade de vagas femininas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35039
34058
3480731401
2865425830
22583
19639
18776
16109
1558315160
15000
17500
20000
22500
25000
27500
30000
32500
35000
2007 2008 2009 2010 2011 2012
Quatidade de presas Quantidade de vagas
 13 
Em relação ao perfil dessas mulheres, os estudos apontam para tendências 
muito semelhantes. Em geral, as mulheres presas são jovens, negras, mães, chefes de 
família, possuem baixa escolaridade, são oriundas de extratos sociais desfavoráveis 
economicamente, exercem atividades informais e possuem vinculação penal, 
normalmente, por envolvimento com o tráfico de drogas. 
No que concerne à idade, cerca de 50% das mulheres presas são jovens 
adultas, ou seja, possuem entre 18 e 29 anos. 
 
Gráfico 4 – Faixa etária da população carcerária feminina 
 
26%
23%
18%
21%
9%
1% 2%
18 a 24 anos 25 a 29 anos 30 a 34 anos 35 a 45 anos
46 a 60 anos mais de 60 anos não informado 
 
 
Em relação à escolaridade, quase 60% da população carcerária feminina possui 
apenas o ensino fundamental incompleto, o que demonstra a vulnerabilidade social 
desse público. 
Gráfico 5 – Nível de escolaridade da população carcerária feminina 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9%
44%13%
12%
11%
1%
0% 3% 5%2%
analfabeta alfabetizada
ensino fundamental incompleto ensino fundamental completo
ensino médio incompleto ensino médio completo
ensino superior incompleto ensino superior completo
ensino acima do superior completo não informado 
 14 
A partir de uma pesquisa institucional, realizada no ano de 2012 e subsidiada 
através de dados enviados por todas as unidades da federação ao DEPEN/MJ, foi 
levantado que aproximadamente 80% das mulheres presas possuem envolvimento 
com o tráfico nacional ou internacional de drogas. Por esse motivo, há a necessidade 
urgente de se fomentar políticas públicas voltadas à prevenção e ao enfrentamento às 
drogas, além de ser de extrema importância uma revisão legislativa sobre tal temática. 
Neste cenário, importa destacar que a maioria das mulheres presas por tráfico de 
drogas possui uma posição coadjuvante no crime, realizando serviços de transporte de 
drogas e pequeno comércio. Em pequena escala, elas realizam atividades voltadas à 
gerência. Grande parte é usuária de drogas. 
A cor da pele é um fator interessante entre as mulheres presas, cerca de 61% 
delas se autodeclararam pardas ou negras. Salienta-se, conforme dados da Secretaria 
de Políticas de Promoção à Igualdade Racial, da Presidência da República, que a junção 
de pretosas e pardas formam a categoria negra. Dessa maneira, constata-se que 61% 
da população carcerária feminina é negra. 
Gráfico 6 – Cor/Raça 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Há uma grande preocupação nacional com as mulheres estrangeiras, pois essas, 
além de serem excluídas por motivo do gênero, normalmente têm dificuldades de 
comunicação na língua portuguesa, não recebem visitas de familiares, não conseguem 
realizar ligações para o exterior e normalmente não possuem auxílio da embaixada do 
seu país. Atualmente há 774 mulheres estrangeiras no sistema prisional brasileiro. 
A maior parte das presas estrangeiras é proveniente do continente americano, 
mais especificamente da América Latina. 
Salienta-se que as mulheres representam 23% do total de pessoas presas 
estrangeiras. 
 
 
37%
45%
16%
0%0% 2%
branca parda negra amarela indígena outros
 15 
Gráfico 7 – População carcerária feminina estrangeira e continente de 
procedência 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dados do INFOPEN demonstram que existem 80 estabelecimentos prisionais 
específicos femininos no Brasil, porém, o INFOPEN ainda não contempla a quantidade 
de estabelecimentos mistos7 que custodiam mulheres, os quais abrangem parte da 
população carcerária feminina e se encontram, atualmente, invisibilizados. 
Em relação ao regime de cumprimento da pena, percebe-se, conforme gráfico a 
seguir, que 35% das mulheres presas ainda não foram condenadas; 43% são 
provenientes do regime fechado; 15% são do regime semiaberto; 5% são presas do 
regime aberto e cerca de 2% dessas mulheres cumprem medida de segurança. 
Vislumbra-se a necessidade de atuação mais efetiva do poder judiciário, pois 
uma parte das presas provisóriaspermanece sem sentença por vários meses ou até 
durante anos. Atrelado a isso, verificou-se, ainda, que a Lei 12.403/20118, que 
modificou o Código de Processo Penal, inserindo a possibilidade de o juiz substituir a 
prisão preventiva pela domiciliar em alguns casos9, necessita de uma maior 
aplicabilidade em razão de determinadas situações de vulnerabilidade da mulher, como 
foi constatado em visitas da Comissão Especial às unidades da federação. 
 
 
 
 
7 Entende-se por estabelecimento misto (por gênero) um complexo/ unidade prisional onde há uma ala 
ou pavilhão feminino, cuja administração seja única para ambos os sexos. 
8 Altera dispositivos do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal, 
relativos à prisão processual, fiança, liberdade provisória, demais medidas cautelares, e dá outras 
providências. 
9 Art. 318 da Lei. Nº 12.403/2011: Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o 
agente for: I - maior de 80 (oitenta) anos; II - extremamente debilitado por motivo de doença grave; III 
- imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 (seis) anos de idade ou com deficiência; V 
- gestante a partir do 7o (sétimo) mês de gravidez ou sendo esta de alto risco. 
17%
8%
31%
44%
0%
Europa Ásia África América Oceania
 16 
Gráfico 8 – Regime de cumprimento de pena 
35%
43%
15%
5% 2%
presas provisórias regime fechado regime semiaberto regime aberto medida de segurança
 
 
Cerca de 9.200 mulheres estão inseridas em atividade laboral dentro ou fora dos 
estabelecimentos prisionais, ou seja, 1.655 mulheres desenvolvem trabalho externo, 
como, por exemplo, em empresas privadas ou órgãos públicos e 7.545 trabalham 
dentro de unidades prisionais, em atividades como manutenção, limpeza, cozinha, e 
outras. Esse quantitativo representa uma percentual de 26%, sendo 4,7% com 
trabalho externo e 21,3% com trabalho interno. 
Considerando o ensino ofertado às mulheres presas em ambiente intramuros e 
as autorizações para estudar externamente, existem 4.555, o que representa 12% de 
mulheres envolvidas com atividades educacionais, sendo 884 na alfabetização, 2.739 
no ensino fundamental, 801 no ensino médio, 9 no ensino superior e 122 em cursos 
técnicos. 
Gráfico 9 – Práticas educacionais intramuros ou com autorização de saída 
 
19%
18%
0%
60%
3%
alfabetização ensino fundamental ensino médio ensino superior cursos técnicos
 17 
4. Princípios 
 
 
A Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de 
Liberdade e Egressas do Sistema Prisional visa orientar as unidades da federação a 
desenvolver uma política estadual para as mulheres em privação de liberdade e 
egressas do sistema prisional, de efetivação dos direitos com reconhecimento à 
diversidade das mulheres em suas condições sociais, raciais, étnicas, culturais e de 
gênero. 
Pautada na Constituição Federal da República, Lei de Execução Penal, Estatuto 
da Criança e do Adolescente, Regras de Bangkok (ONU) e outros normativos afetos às 
mulheres presas, egressas e seus filhos, em âmbito nacional e internacional, a presente 
Política tem como princípios basilares a cidadania, a dignidade da pessoa humana, a 
equidade e a humanização do cumprimento da pena. 
No que diz respeito ao princípio da cidadania, deverão ser asseguradas às 
mulheres presas condições para o seu exercício, garantindo os direitos civis, políticos, 
sociais e econômicos, observadas as restrições trazidas pelos normativos 
constitucionais. A educação, a cultura, a saúde, a alimentação, o trabalho e a proteção 
à maternidade e à infância são direitos sociais que devem ser igualmente assegurados 
tanto às presas provisórias quanto às condenadas. 
O princípio da dignidade da pessoa humana é considerado como fundamento 
essencial que rege os demais princípios. Diante disso, qualquer norma ou atitude que 
venha a violar o princípio mencionado deve ser imediatamente afastada. Deve ser 
garantido o respeito à integridade física, psíquica e moral da presa, à orientação 
sexual, à identidade de gênero, à diversidade, à individualização da pena, às condições 
adequadas para que as presas permaneçam, temporariamente, com seus filhos na 
prisão, o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos, entre outros. 
Deverá haver total repúdio ao racismo, à tortura, à discriminação, ao tratamento 
desumano e degradante, proporcionando, quando a lei admitir, a garantia da liberdade 
provisória, prisão domiciliar, alternativas penais e justiça restaurativa. 
O exercício do Poder Estatal deve considerar que a mulher presa, apesar de 
perder seu direito à liberdade, preserva seu direito à dignidade como qualquer cidadão 
livre, de forma que deve ser reprimida qualquer norma ou atitude que venha a violar 
tal princípio, a exemplo do uso das algemas em ocasiões consideradas desnecessárias 
e vedação de contato da mulher presa com seus familiares. 
O princípio da equidade, utilizado nesta Política, pode ser conceituado como uma 
forma justa de relação entre o Direito, as normas, a cultura, os costumes e os 
movimentos e processos de evolução histórica, onde são observados os critérios de 
igualdade, de justiça social e de garantia de direitos. 
No que tange a humanização do cumprimento da pena, deverá ser garantido o 
acesso das presas à justiça e às diversas políticas públicas, o reconhecimento de sua 
diversidade, o fortalecimento do vínculo familiar, a prevenção e acompanhamento de 
dependência química e outros, considerando que as práticas institucionais deverão ser 
 18 
orientadas por servidores capacitados e habilitados para atuar com mulheres 
encarceradas. 
Como forma de garantir às mulheres presas a cidadania, a dignidade da pessoa 
humana, a equidade e a humanização do cumprimento da pena, considerando as suas 
necessidades específicas, o Estado deve criar meios de controle social que exijam 
maior participação social, combatendo todas as formas de violência contra a mulher. 
 
Figura 1 – Princípios norteadores da Política Nacional 
 
 
Princípio da Dignidade 
da Pessoa Humana 
Princípio da 
Cidadania 
Princípio da 
Equidade 
Princípio da 
Humanização no 
Cumprimento da 
 Pena 
 Política 
 19 
5. Diretrizes gerais 
 
A Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de 
Liberdade e Egressas do Sistema Prisional é regida por diretrizes voltadas à integração, 
articulação, factibilidade, coerência e viabilidade de execução, o que deve refletir nos 
diversos planos estaduais, programas, projetos e atividades dela decorrentes. 
Constituem diretrizes gerais de ação para implementação da Política Nacional, 
além de outros instrumentos relacionados ao tema: 
5.1. Garantia da inclusão desta Política na elaboração da política estadual para 
mulheres privadas de liberdade e egressas do sistema prisional; 
5.2. Garantia da aplicação de instrumentos de gestão para monitoramento e 
avaliação dos impactos da implementação desta Política; 
5.3. Ampliação e participação da sociedade civil no controle social desta Política, 
bem como nos diversos planos, programas, projetos e atividades dela decorrentes; 
5.4. Incentivo à participação das mulheres presas e seus familiares no processo de 
formulação e implantação da política estadual para mulheres em privação de 
liberdade e egressas do sistema prisional, planos, programas, projetos e atividades 
sobre o tema; 
5.5. Implantação de bancos de dados nacional e estaduais de informações 
penitenciárias, com recorte para as especificidades da mulher inserida no sistema 
penal; 
5.6. Adoção do encarceramento como última medida de punição e aumento na 
aplicação de alternativas penais, justiça restaurativa e prisão domiciliar para as 
mulheres inseridas no sistema penal; 
5.7. Combate a todas as formas de violência contra a mulher; 
5.8. Garantia do pleno exercício dos direitos e acesso às diversas políticas sociais 
pelas mulheres encarceradas;5.9. Garantia do voto a todas as presas provisórias do país; 
5.10. Discussão sobre a necessidade de alteração legislativa no que tange à pena e 
quantum da pena, nos crimes relacionados ao tráfico de drogas; 
5.11. Garantia da construção/adaptação de unidades prisionais exclusivas e 
regionalizadas, para o público feminino; 
5.12. Incentivo à produção do conhecimento científico sobre o encarceramento 
feminino e seus impactos sociais; 
5.13. Inclusão da temática do encarceramento de mulheres nos processos de 
formação permanente de todos os servidores vinculados ao contexto do sistema 
penal; 
5.14. Garantia de adaptação dos serviços penais, programas, projetos e ações de 
reintegração social às especificidades de gênero feminino; 
5.15. Contemplação de rotinas carcerárias, serviços penais e atividades intramuros 
às mulheres encarceradas, reconhecendo suas necessidades especiais, perfil de 
 20 
idade, etnia, raça, sexualidade, nacionalidade, escolaridade, maternidade, 
deficiência, entre outros; 
5.16. Garantia de procedimentos dignificantes para o acesso e permanência dos 
visitantes nos estabelecimentos prisionais femininos; 
5.17. Garantia do oferecimento de atividades específicas voltadas ao 
fortalecimento de vínculo entre a mulher presa e seu núcleo familiar, com especial 
atenção para seus filhos; 
5.18. Garantia do acesso à educação e ao trabalho, para a mulher em situação de 
privação de liberdade, assegurada a ampliação da oferta em diferentes turnos; 
5.19. Desenvolvimento de ações de humanização à assistência pré-natal e pós-
parto, com rechaço a qualquer forma de coerção e violência física, institucional ou 
psicológica à mulher; 
5.20. Promoção da atenção integral aos filhos e filhas das mulheres encarceradas, 
que se encontram intra ou extramuros com garantia de acesso à educação básica 
pública, gratuita e de qualidade; 
5.21. Garantia dos direitos das crianças e adolescentes, filhos de mães que se 
encontram em privação de liberdade, à convivência familiar e comunitária, 
conforme preconiza a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do 
Adolescente, por meio de estratégias diversificadas e espaços específicos, 
assegurando o fortalecimento do vínculo familiar; 
5.22. Fomento ao desenvolvimento de ações que visem a assistência às pré-
egressas e egressas do sistema prisional, por meio do conhecimento, orientação e 
acesso às políticas públicas de proteção social, trabalho e renda; e 
5.23. Fomento ao diagnóstico precoce e encaminhamento para serviços 
compatíveis da rede de saúde pública, a partir de articulações necessárias, para a 
mulher que possui transtornos mentais. 
 
 21 
6. Objetivo 
 
 
6.1. Objetivo geral 
 
Promover reformulações de práticas na alçada da justiça criminal e execução 
penal feminina, contribuindo, efetivamente, para a garantia dos direitos, por meio da 
implantação e implementação de ações intersetoriais que atendam as especificidades 
de gênero. 
 
6.2. Objetivos específicos 
 
6.2.1. Organizar o sistema prisional feminino, para que contemple as 
especificidades de gênero da mulher desde a questão da arquitetura prisional à 
execução de atividades, serviços penais e rotinas carcerárias; 
6.2.2. Promover e pactuar ações integradas com outras áreas governamentais, 
visando à complementação e inserção de políticas sociais voltadas às mulheres 
presas e seu núcleo familiar; 
6.2.3. Contribuir para a garantia das assistências e políticas de saúde, educação, 
laboral, material, religiosa, jurídica, cultural, psicossocial e desportiva no interior dos 
estabelecimentos prisionais que custodiam mulheres; 
6.2.4. Promover o acesso efetivo às políticas públicas existentes aos filhos e filhas 
das mulheres presas que se encontram em ambientes intra e extramuros; 
6.2.5. Contribuir para que todos os estabelecimentos prisionais específicos 
femininos e aqueles com características mistas adotem práticas institucionais com 
recorte de gênero, orientação sexual, identidade de gênero, condição étnico-racial e 
diversidades das mulheres encarceradas; 
6.2.6. Garantir o cumprimento dos normativos nacionais e internacionais de 
proteção à mulher presa; 
6.2.7. Contribuir para a garantia de práticas humanizadoras voltadas ao 
fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários da mulher encarcerada; 
6.2.8. Incentivar a rotina de capacitação permanente a todos os servidores que 
atuam em estabelecimentos prisionais que custodiam mulheres sobre as 
especificidades do encarceramento feminino; 
6.2.9. Fomentar a adoção de normas e procedimentos de segurança diferenciados 
para as mulheres gestantes, lactantes e mães com seus filhos, que garantam 
estruturas físicas, serviços penais e atenção à criança inserida na unidade prisional, 
em atendimento às especificidades de gênero e proteção integral à criança; 
6.2.10. Aprimorar a qualidade dos dados constantes em sistemas de informação 
penitenciária, contemplando as especificidades da mulher encarcerada; 
 22 
6.2.11. Contribuir, em parceria com outros atores, para a construção das políticas 
estaduais para as mulheres em situação de privação de liberdade; 
6.2.12. Fomentar e desenvolver pesquisas e estudos na seara do encarceramento 
feminino; 
6.2.13. Monitorar e avaliar as mudanças institucionais, de forma progressiva, 
visando a garantia da aplicabilidade das diretrizes e estratégias desta Política em 
nível nacional; 
6.2.14. Contribuir para o desenvolvimento de ações integradas voltadas à 
assistência às pré-egressas e egressas do sistema prisional; e 
6.2.15. Contribuir com ações intersetorias voltadas ao atendimento de mulheres 
com transtorno mental. 
 
 
 
 
 23 
7. Eixos para a efetivação da Política Nacional 
de Atenção às Mulheres em Situação de 
Privação de Liberdade e Egressas do Sistema 
Prisional 
 
Os eixos para a implantação e implementação da Política Nacional alinham-se à 
necessidade de elaboração, pelos órgãos estaduais responsáveis pela gestão do 
sistema prisional, das políticas estaduais para as mulheres em situação de privação de 
liberdade, que devem ser coordenadas por comitê intersetorial específico, bem como 
por planos de ações dos órgãos ministeriais envolvidos. 
Com o objetivo de aprofundar a pauta do encarceramento feminino foram 
realizados dois encontros nacionais10 para debater o assunto, com o intuito de produzir 
propostas efetivas e capazes de alterar as diversas problemáticas existentes. 
Neste contexto, seguem os eixos nucleares desta Política, para orientação ao 
Departamento Penitenciário Nacional, aos órgãos estaduais de administração 
penitenciária e demais órgãos envolvidos com a execução penal feminina: 
 
7.1 Banco de dados com especificidades da mulher 
 
Considerando o cenário atual sobre o encarceramento feminino, há a 
necessidade de criação ou adaptação de bancos de dados nacional e estadual, com 
informações específicas relacionadas à mulher presa, haja vista as diversas 
peculiaridades que compõem este universo. 
Como forma de aprimorar os bancos de dados penitenciários11, no tocante à 
inserção da questão de gênero, foram elaboradas as seguintes propostas de 
indicadores, a serem incorporadas no âmbito dos governos federal e estadual: 
7.1.1. quantidade de estabelecimentos penais femininos exclusivos e mistos que 
custodiam mulheres, indicando número de mulheres por estabelecimento, por 
regime e quantidade de vagas; 
7.1.2. existência de local adequado para visitação, a frequência e os procedimentos 
necessários para o ingresso do visitante social e íntimo; 
7.1.3. quantidade de profissionais inseridos no sistema prisional feminino, por 
estabelecimento e área de atuação, visando o levantamento da quantidade de 
profissionais que atuam no sistema prisional feminino, inclusive os médicos, 
 
10 Os encontros foram realizados em Brasília/DF pela Comissão do Projeto Efetivação dos Direitos das 
Mulheres no Sistema Penal/DEPEN/MJ, em conjunto com osintegrantes dos órgãos ministeriais e 
representantes das unidades da federação. 
11 Registra-se que o Sistema Nacional de Informações Penitenciárias - INFOPEN, do Departamento 
Penitenciário Nacional, tem como objetivo subsidiar órgãos estaduais de administração prisional e órgãos 
da execução penal em relação aos dados do sistema prisional. 
 24 
agentes penitenciários, professores, pedagogos, técnicos da área da saúde, 
advogados, policiais, demais servidores a serviço do sistema prisional, terceirizados 
e outros. Deve haver campo específico para médicos ginecologistas e pediatras; 
7.1.4. quantidade de mulheres gestantes, lactantes, parturientes e mães com 
filhos; 
7.1.5. quantidade e idade dos filhos em ambiente intra e extramuros, bem como as 
pessoas ou órgãos responsáveis pelos seus cuidados; 
7.1.6. indicação do perfil da mulher presa, considerando o estado civil, faixa etária, 
cor ou raça12, deficiência, nacionalidade, religião, grau de instrução, profissão, 
renda mensal anterior ao aprisionamento e atual da família; documentação civil 
básica, tempo total das penas, tipos de crimes, procedência de área rural e urbana, 
regime prisional e reiteração criminal; 
7.1.7. quantidade de mulheres inseridas em atividade laboral interna e externa e 
educação formal ou profissionalizante, de acordo com as modalidades e períodos 
de aprendizagem; 
7.1.8. quantidade de mulheres que recebem assistência jurídica regular pela 
Defensoria Pública, outro órgão ou advogado particular e a frequência desses 
procedimentos na unidade prisional; 
7.1.9. quantidade e motivo de óbitos relacionados à mulher e á criança, no âmbito 
do sistema prisional; 
7.1.10. dados relativos à incidência de hipertensão, diabetes, tuberculose, doenças 
sexualmente transmissíveis (DST), síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS-
HIV) ou outras doenças; 
7.1.11. quantidade de mulheres inseridas em programas de atenção à saúde 
mental e dependência química; 
7.1.12. quantidade e local de permanência das mulheres internadas em 
cumprimento de medidas de segurança e o total de vagas; e 
7.1.13. quantidade de mulheres que deixaram o sistema prisional por motivos de 
alvará de soltura, indulto, fuga, progressão de regime ou aplicação de medidas 
cautelares diversas da prisão. 
 
7.2. Modalidades assistenciais 
 
A prisão potencializa vulnerabilidades, sejam físicas, psíquicas, sociais ou 
econômicas, portanto, a atuação integrada entre os diversos atores envolvidos com a 
execução da pena e a concepção de tratamento penal baseada nos direitos humanos 
garante os direitos das mulheres encarceradas. 
Em razão da história de desigualdades de poder entre homem e mulher 
refletidas nas leis, políticas, práticas sociais e comportamentos das pessoas, torna-se 
 
12 Conforme orientação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da 
República e classificação utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. 
 25 
imprescindível a incorporação da perspectiva de gênero no planejamento das 
assistências voltadas às mulheres encarceradas, o que promoverá a melhoria das suas 
condições de vida e dos seus direitos. 
As modalidades assistenciais constituem direitos das mulheres em privação de 
liberdade. Para a efetiva garantia desses direitos, deverão ser assegurados recursos 
humanos e espaços físicos adequados às diversas ações, sejam de saúde, 
psicossocial, religiosa, educacional, jurídica e laboral e sua integração às 
demais atividades do estabelecimento prisional, contribuindo para o processo de 
reintegração social. A Coordenação-Geral de Reintegração Social e Ensino do 
DEPEN/MJ, por meio de seus diversos planos, programas e políticas, colabora com as 
unidades federativas no alcance dessas modalidades assistenciais. 
O agrupamento das modalidades assistenciais apresentado a seguir deve ser 
pensado de maneira articulada às muitas iniciativas, ações, projetos, práticas e políticas 
desenvolvidas no âmbito da gestão prisional de cada unidade federativa, a exemplo 
das ações para retirada de documentação civil, que se demonstram de suma 
importância para a inserção da mulher no mercado de trabalho ou dos programas de 
tratamento à dependência química. 
 
7.2.1. Assistência material 
Desde o momento do recolhimento da mulher à prisão, a deficiência no 
fornecimento de assistência material é um dos vários problemas enfrentados, e que lhe 
causa enorme constrangimento. 
A LEP13 disciplina a assistência material como um dos deveres do Estado e cita 
tais assistências como: alimentação, vestuário e instalações higiênicas, onde se incluem 
os itens básicos de higiene pessoal. 
A alimentação deve ser fornecida às mulheres presas, atendendo aos critérios 
nutricionais para a manutenção da saúde e do vigor físico, considerando as 
especificidades das mulheres idosas, deficientes, doentes, com restrição alimentar, 
gestantes, lactantes, mães e filhos inseridos na unidade prisional. O cardápio deve ser 
elaborado por nutricionista, e todas as refeições devem ser preparadas de acordo com 
as normas de higiene alimentar. 
Em relação ao vestuário, o órgão estadual responsável pela administração 
prisional deve criar e fornecer um enxoval básico, composto por, no mínimo, uniforme 
(com cores e modelos diferenciados dos estabelecimentos prisionais masculinos), 
agasalho, roupa íntima, meias, chinelos, itens de cama e banho, que respeite a 
condição feminina e a sua diversidade sexual e religiosa, em quantitativo suficiente e 
observando as condições climáticas locais. 
 
13 Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e 
orientar o retorno à convivência em sociedade. Parágrafo único. A assistência estende-se ao egresso. 
Art. 11. A assistência será: I - material; II - à saúde; III -jurídica; IV - educacional; V – social; VI - 
religiosa. 
Art. 12. A assistência material ao preso e ao internado consistirá no fornecimento de alimentação, 
vestuário e instalações higiênicas. 
 
 26 
O órgão estadual de administração prisional deve montar e fornecer, em 
quantidade suficiente, um kit básico de higiene pessoal para as mulheres presas, 
composto, no mínimo, por: papel higiênico, sabonete, creme dental, escova dental, 
xampu, condicionador, desodorante feminino e absorvente, considerando as 
especificidades físicas e biológicas da mulher. 
Importante reiterar que para presas idosas, doentes, deficientes, gestantes, 
lactantes, mães e filhos inseridos no contexto prisional, a assistência material deve ser 
adequada à condição. 
 
7.2.2. Assistência à saúde 
A realidade das unidades prisionais brasileiras demonstra a necessidade de se 
pensar uma política voltada para a reintegração ao contexto social e familiar, com um 
enfoque, inclusive, na área da saúde. 
Existem várias normativas, nacionais e mundiais, que garantem a proteção à 
saúde da pessoa em situação de prisão, como por exemplo, as Resoluções da ONU que 
prevêem a Declaração Universal dos Direitos Humanos, as Regras Mínimas para 
Tratamento do Preso e as Regras para o Tratamento de Mulheres Presas e Medidas 
não Privativas de Liberdade para Mulheres Infratoras - Regras de Bangkok. 
Em nível nacional, a Constituição Federal apresenta, em seu artigo 5º, incisos 
que tratam das garantias da pessoa presa. A saúde é considerada como um direito 
fundamental e social do ser humano. 
A assistência à saúde no âmbito do encarceramento feminino deve estar em 
consonância com as perspectivas de promoção e prevenção em saúde, pautadas na 
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no 
Sistema Prisional14 e na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, do 
Ministério da Saúde e políticas de atenção à saúde da criança, consoantes com os 
princípios e as diretrizes do Sistema Único de Saúde. 
As condições de confinamentoem que se encontram as pessoas privadas de 
liberdade são determinantes para o bem-estar físico e psíquico. A insalubridade da 
moradia, da alimentação e da precariedade do atendimento à saúde nas unidades 
prisionais contribuem para o agravamento da situação de saúde dessas mulheres. 
Na perspectiva da integralidade, as ações de saúde devem seguir todos os 
protocolos de atendimento do SUS, ofertando ações de saúde voltadas para a 
prevenção de doenças e seus agravos; a promoção da saúde, acompanhamento, 
controle e tratamento de doenças crônicas, infecciosas e infecto-contagiosas; a 
atenção clínico-ginecológica; os direitos sexuais e reprodutivos; a atenção obstétrica e 
neonatal qualificada e humanizada; o planejamento familiar; a atenção à saúde 
mental; a redução da morbimortalidade15; a atenção à saúde da mulher no climatério; 
a atenção à saúde da mulher na terceira idade; a atenção à saúde da mulher negra; a 
 
14 O Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário está em processo de revisão, com o fito de ser 
transformado em uma Política Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário. 
15 Para o Ministério da Saúde refere-se ao impacto das doenças e das mortes que incorrem em uma 
sociedade 
 27 
instituição de grupos terapêuticos para tratamento da dependência química; a atenção 
para a prescrição equilibrada de medicamentos; a qualificação permanente e 
valorização do corpo técnico de profissionais, a saúde integral da criança entre outras 
abordagens, na perspectiva da assistência e na inclusão das mulheres presas 
respaldada em princípios básicos que assegurem a eficácia das ações de promoção, 
prevenção e tratamento, primando pela atenção integral à saúde. 
 É importante que se desenvolva ações de saúde mental incluindo as presas e 
internadas na Rede de Atenção Psicossocial, podendo se beneficiar dos serviços de 
saúde Centros de Atenção Psicossocial – CAPS, dos Serviços de Residenciais 
Terapêuticos ou congêneres. O acesso a esses serviços deve ser estruturado pelas 
gerências da área de saúde e de órgãos estaduais da administração prisional. 
 
7.2.3. Assistência educacional 
Durante a execução da pena, a mulher deve passar por um processo de 
preparação para retornar ao convívio social, o que ocorre quando lhe é garantido, 
também, o direito à educação - o primeiro direito social listado pela Constituição 
Federal16, - um direito de todos e dever do Estado e da família 
Segundo o Sistema Nacional de Informações Penitenciárias - INFOPEN17, do 
total de mulheres presas, mais da metade parou de estudar antes de finalizar o ensino 
fundamental. 
Os resultados de inclusão proporcionados pela educação podem possibilitar a 
melhora das estratégias de prevenção e promoção da saúde para as mulheres presas. 
O artigo 1º da Lei de Execução Penal disciplina que a pena tem como um de 
seus objetivos proporcionar condições para a harmônica integração social do 
condenado e do internado. Nesse sentido, percebe-se a importância da garantia da 
assistência educacional às presas do sistema prisional brasileiro, pois a educação é um 
direito subjetivo previsto em diferentes instrumentos normativos nacionais e 
internacionais. 
Pela nova redação do artigo 126 da LEP18 está assegurado ao preso o direito à 
remição pelo estudo, na proporção de um dia de pena a cada 12 horas de frequência 
escolar – atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou 
superior, ou ainda de requalificação profissional – divididas, no mínimo, em 3 dias. 
No ano de 2011, foi publicado o Decreto nº 7.626/2011, que institui o Plano 
Estratégico de Educação no âmbito do Sistema Prisional, que tem como objetivo 
ampliar o acesso e qualificar a oferta de educação aos indivíduos que se encontram em 
situação de prisão, contemplando a educação básica na modalidade de jovens e 
 
16 Art. 6º da Constituição Federal : São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a 
moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência 
aos desamparados, na forma desta Constituição. 
17 Dados referentes ao mês de junho de 2012. 
18 Lei nº 12.433/2011 - Altera a Lei no 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal) - dispõe 
sobre a remição de parte do tempo de execução da pena por estudo ou por trabalho. 
 
 28 
adultos, a educação profissional e tecnológica e educação superior, sob a coordenação 
e execução dos Ministérios da Justiça e Ministério da Educação. 
As fundamentações teóricas e operacionais do referido Plano Estratégico 
remetem-se às Diretrizes Nacionais para Oferta de Educação em Estabelecimentos 
Penais, já definidas pelo Conselho Nacional de Educação e pelo Conselho Nacional de 
Política Criminal e Penitenciária. 
Essa relação entre Ministério da Justiça e Ministério da Educação e os órgãos 
estaduais de educação e de gestão do sistema penitenciário deve ser capaz de 
proporcionar atitudes concretas na vida das mulheres encarceradas, aliando as suas 
necessidades específicas e aspirações em matéria de aprendizagem. 
Nessa perspectiva, a assistência à educação deve estar associada a ações 
complementares de cultura, esporte, inclusão digital, educação profissional, fomento à 
leitura e a programas de implantação, recuperação e manutenção de bibliotecas. 
Deve ser proporcionada oferta à educação às mulheres, também, em horários 
distintos dos horários de trabalho, garantindo, entre outros desdobramentos: 
1. O combate ao analfabetismo; 
2. O aumento da escolaridade; 
3. A educação profissional permanente com base nas aptidões e necessidades 
pessoais, bem como necessidades de mercado de trabalho, sempre que possível 
com caráter empreendedor; 
4. A educação e a diversidade (a exemplo das mulheres presas que estão em 
companhia de filhos pequenos, as idosas, as estrangeiras e as deficientes); 
5. A criação de mecanismos eficientes para as ações de fiscalização, controle, 
acompanhamento e avaliação das atividades educacionais desenvolvidas nos 
estabelecimentos prisionais e outros. 
6. O acesso à educação em todas as unidades que custodiam mulheres. 
Assim, as ações de educação em espaços intramuros devem promover a 
integração entre os órgãos responsáveis pelo ensino público com os órgãos da 
execução penal, para promoção da reintegração social da pessoa presa, bem como a 
garantia de acesso à educação pública, gratuita e de qualidade às crianças que estejam 
no ambiente das prisões, em virtude da privação de liberdade de sua mãe. 
 
7.2.4. Assistência jurídica 
À mulher em situação de privação de liberdade que não possui recursos 
financeiros suficientes para constituir advogado particular deve ter garantida a 
efetivação do acesso ao sistema de justiça. 
A assistência jurídica, prestada pela Defensoria Pública, disciplinada pela Lei 
Complementar nº 80, de 12 de janeiro de 1994, deve ser integral e gratuita, como 
forma de acabar com a barreira que dificulta o acesso à justiça e atender a um preceito 
constitucional. 
 29 
A realidade caracterizada pela superlotação dos estabelecimentos prisionais 
dificulta o trabalho da Defensoria Pública, que, em muitos casos, atua com baixo 
efetivo de defensores públicos, o que faz com que o acesso à justiça não seja atendido 
em sua plenitude. Dessa forma, há a necessidade de que sejam realizados concursos 
públicos, para aumentar o quantitativo destes profissionais atuando no sistema penal. 
De forma complementar, os órgãos estaduais de administração prisional devem 
garantir o acompanhamento processual das presas por meio de estruturação de setor 
jurídico e parcerias. 
 
7.2.5. Assistência psicossocial 
A assistência psicossocial, desenvolvida no interior das unidades prisionais 
femininas, requer práticas interdisciplinares e integradas no âmbito de atuação das 
diversas categorias de servidores penitenciários. 
Dessa forma, os programasde assistência psicossocial desenvolvidos pela 
equipe técnica das unidades prisionais femininas devem promover a saúde, reabilitação 
e autonomia das mulheres, inserindo diversas abordagens e acompanhamento na área 
de dependência química, convivência familiar e comunitária, cuidados com a saúde 
mental, violência doméstica ou outras formas de violência contra as mulheres, que 
devem se articular com os programas e benefícios socioassistenciais, de saúde pública 
entre outras políticas governamentais. 
 
7.2.6. Assistência religiosa 
O direito à liberdade de manifestação religiosa e o respeito às crenças devem 
ser garantidos às mulheres encarceradas, sem imposição estatal, de acordo com o que 
disciplina a Lei 9.982/200019, o artigo 24 da Lei de Execução Penal e a Resolução 
CNPCP nº 08/201120. 
A religião exerce uma significativa influência dentro das casas penais, ao 
trabalhar a espiritualidade e a dignidade da pessoa humana. 
 
7.2.7. Assistência laboral 
A atividade laboral constitui um direito e um dever para as pessoas presas. Com 
base em todos os regramentos legais que disciplinam o trabalho nas prisões, esse 
direito/dever deve ser garantido às presas com perspectivas de capacitação e 
adequação às suas peculiaridades e perfil profissional. 
O trabalho é considerado um dever social e uma condição de dignidade humana 
e deverá se ater às finalidades educativa e produtiva. 
Nesse sentido, devem ser incentivadas, inclusive as ações que se baseiem na 
valorização da produção e formação de redes cooperativas e economia solidária, 
 
19 Dispõe sobre a prestação de assistência religiosa nas entidades hospitalares públicas e privadas, bem 
como nos estabelecimentos prisionais civis e militares. 
20 Estabelece as diretrizes para a assistência religiosa nos estabelecimentos prisionais. 
 30 
possibilitando a comercialização dos produtos fabricados por meio de apoio da rede de 
comércio local. 
 Além das práticas cotidianas de remição da pena pelo trabalho (1 dia de pena 
remido a cada 3 dias trabalhados), deve ser proporcionada, no interior das unidades 
prisionais que custodiam mulheres, a acumulação21 dos casos de remição por trabalho 
e estudo, desde que exista compatibilidade das horas diárias. 
No período pré-parto, as mulheres devem desenvolver atividade laboral 
condizente com a sua condição de gestante; no pós-parto, deve ser garantida a licença 
da atividade laboral22, durante 120 dias, para que as mulheres que se encontravam 
trabalhando possam continuar sendo remuneradas e terem remida a sua pena23. Após 
os 120 dias de licença remunerada, a mãe que permanece cuidando do filho dentro da 
unidade prisional deve fazer jus à remuneração e remição de pena, pelo trabalho de 
“cuidadora”. Tal prática já está em desenvolvimento em algumas unidades federativas. 
 
7.3. Construção e ampliação de unidades prisionais 
femininas / aparelhamento 
 
Diversos estabelecimentos penais que custodiam mulheres levam uma herança 
histórica por serem, na grande maioria dos casos, adaptações de presídios masculinos 
ou adaptações de prédios que antes eram utilizados para outra finalidade, com total 
ausência de planejamento, seja no âmbito arquitetônico ou no campo dos serviços 
penais, voltados às particularidades femininas. 
Na perspectiva desta Política, os estabelecimentos prisionais femininos devem 
ser dotados de planejamento que indique os níveis reais de segurança, com base na 
sua categoria, tipo e regime prisional. Diante dessa lógica, as unidades prisionais que 
abrigam mulheres devem ter estrutura e autonomia de gestão prisional que espelhe 
uma política com recorte de gênero. 
Há, assim, a necessidade de construção de estabelecimentos penais de regimes 
específicos - regime fechado, semiaberto e aberto -, cadeias públicas, para presas 
provisórias, bem como a inserção de albergues femininos em locais mais centralizados 
do perímetro urbano. 
Com base nos escopos da Resolução CNPCP nº 09/2011, que edita as Diretrizes 
Básicas para a Arquitetura Penal, a diferença essencial entre os vários tipos de 
estabelecimentos penais está na particularização da categoria das pessoas presas que 
os ocuparão. Os projetos para estabelecimentos penais deverão prever, conforme o 
caso e o uso a que se destinam, módulos conforme o programa de necessidades, 
atendendo às atividades: administrativas; de serviços (alimentação, lavanderia, 
 
21 Alteração dada pela Lei 12.433/2011 que alterou o artigo 126 da Lei de Execução Penal. 
22 Para tal procedimento, devem ser elaborados critérios normativos para a sua concessão. 
23 Atenta-se para a possibilidade de utilização do disposto no art. 126 § 4º, da Lei nº 7.210/84: (...) Art. 
126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou 
por estudo, parte do tempo de execução da pena (...) § 4o O preso impossibilitado, por acidente, de 
prosseguir no trabalho ou nos estudos continuará a beneficiar-se com a remição. (...) 
 31 
manutenção); de convivência; de refeição; religiosas; educativas; desportivas; laborais; 
de visita social; de visita íntima; de atendimento médico; de atendimento odontológico; 
de atendimento psicológico; de atendimento do serviço social; de atendimento jurídico; 
de enfermaria; de berçário e creche24 e outros. 
Durante o I Encontro de Planejamento do Projeto Efetivação dos Direitos das 
Mulheres no Sistema Penal, realizado pela equipe da Comissão Especial em 2012, 
foram mapeadas diversas demandas que resultaram em propostas25 e anseios das 
unidades federativas quanto à melhoria da arquitetura das unidades prisionais 
femininas. 
Essas propostas referem-se às especificidades da mulher e dignidade no 
cumprimento da pena, a exemplo de: 
1. separação do ambiente sanitário e do ambiente de banho, com altura adequada 
para garantir a privacidade; 
2. vasos sanitários nos banheiros e não vasos estilo turco (acoplado no chão); 
3. instalação de válvula de descarga com acionamento direto pela mulher em 
privação de liberdade; 
4. acessibilidade; 
5. espaços específicos para gestantes, lactantes e parturientes e espaços de 
convivência mãe e filho, contendo planejamento específico de funcionamento e 
articulação com diversas políticas sociais; 
6. espaços e estruturas específicas para lavagem e secagem de roupas (com 
tanques e varais); 
7. espaços de pátio de banho de sol separado do local onde se realizam as visitas 
sociais; 
8. espaços específicos para a realização de visitas íntimas; 
9. brinquedotecas para as crianças que permanecem com suas mães e crianças 
visitantes26; 
10. quadras poliesportivas para o desenvolvimento de atividades desportivas; 
11. espaços para realização de cultos ecumênicos; 
12. espaços multiprofissionais para realização, por exemplo, de dinâmica de grupo; 
13. ampliação do espaço de convivência dentro das celas, com local de guarda de 
pertences (prateleiras); 
14. espaço físico externo e coberto, para utilização por visitantes (sala de espera); 
 
24 No âmbito desta política, esses espaços são denominados de “espaços de convivência mãe-filho”. 
25 Tais propostas foram encaminhadas à Coordenação de Engenharia e Arquitetura/CGPAI/DEPEN/MJ, 
que as inseriu no projeto referência de cadeias públicas femininas, como parte do Programa Nacional de 
Apoio ao Sistema Prisional, que tem como um de seus objetivos zerar o déficit carcerário feminino. 
26 A estrutura de brinquedoteca proporciona a manutenção e fortalecimento do vínculo familiar, 
devendo, também, ser inserida em todos os estabelecimentos prisionais masculinos. 
 32 
15. espaços especificos para utilização, pelas mulheres em privação de liberdade 
que trabalham externamente, como guarda-volumes e local reservado para troca de 
roupas; 
16. módulos de saúde; 
17. módulos de educação formal e profissionalizantesem grade de separação entre 
o professor e a aluna, separado do módulo de vivência; 
18. oficinas de trabalho; 
19. estrutura da rede hidráulica com instalação de filtros de água; 
20. paisagismo; e 
21. espaços para atividades de horta, jardinagem e reciclagem e coleta seletiva de 
lixo. 
Faz-se necessário, ainda, o aparelhamento das unidades prisionais femininas, 
tanto nas áreas de segurança, incluindo materiais adequados para o biótipo feminino 
(coletes, uniformes e armamento) das agentes penitenciários, como materiais 
necessários aos técnicos da área de tratamento penal (materiais e equipamento 
permanentes e de consumo para a assistência à saúde, psicossocial, educacional e 
outros). 
 
7.4. Maternidade na prisão e atenção à criança 
 
A Constituição Federal Brasileira define em seu art. 6º que são direitos sociais a 
educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à 
maternidade e à infância, e a assistência aos desamparados. Na Lei nº 8.069/1990 - 
Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, produto de um amplo processo 
organizativo da sociedade para a superação do comportamento tradicional, alicerçado 
no abandono, na carência e na delinquência, meninas e meninos são definidos como 
pessoas, sujeitos de direitos em condição peculiar de desenvolvimento. 
No âmbito do universo prisional, pode-se afirmar que são poucas as reflexões 
sobre a proteção integral à maternidade e à infância. Tradicionalmente, o sistema 
prisional feminino não tem dado prioridade às peculiaridades e necessidades de 
atenção às mulheres grávidas, parturientes, lactantes e às mães com seus filhos. 
Por mais que as crianças permaneçam nessa condição (ambiente prisional) 
temporária, para favorecer o vínculo infanto maternal, a administração prisional deve 
desenvolver formas de tornar semelhante, ao máximo possível, a dinâmica de vida com 
o mundo exterior, já que se trata de uma etapa de desenvolvimento que se constitui 
como direito e prioridade absoluta nas formulações das políticas públicas. 
Nas visitas institucionais da Comissão Especial – Projeto Mulheres/DEPEN/MJ, 
verificou-se que as práticas institucionais das unidades prisionais, em geral, são 
omissas ou desvinculadas de projetos específicos que vinculem um fluxo operacional 
planejado de atendimento efetivo e humanizado, desde a gestação, parto e inserção 
das crianças em ambiente intramuros. Na sequência, também, há ausência de 
 33 
abordagens específicas e técnicas direcionadas aos filhos das mulheres inseridos em 
ambientes extramuros. 
 Nesse cenário de demandas, apresenta-se, a seguir, um conjunto de propostas 
pactuadas voltadas à maternidade na prisão, abordando dois eixos: 1) Garantia de 
atendimento na gestação e 2) Garantia de atendimento na atenção aos filhos e filhas 
de mães em situação de privação de liberdade. Todas essas ações de cuidados durante 
a gestação e de atenção às mães e seus filhos e filhas devem estar em consonância 
com as diretrizes das políticas do Ministério da Saúde, Ministério da Educação, 
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Secretaria de Direitos 
Humanos, entre outros órgãos afins. 
 
7.4.1. Gestação 
7.4.1.1. Identificação da situação de gestação na prisão 
A mulher presa deve ser identificada quanto à situação de gestação ou 
maternidade no momento de seu ingresso à unidade prisional. Esses dados 
devem constar em formulário específico ou software capaz de registrar tais 
informações. 
O formulário deve ser consolidado e encaminhado, pelos servidores do 
estabelecimento prisional, aos diversos órgãos, a exemplo da Secretaria de 
Saúde (com vistas à inclusão no SISPré-Natal Web), Secretaria de Assistência 
Social (com vistas aos procedimentos dos Centros de Referência de Assistência 
Social), Defensoria Pública (com vistas ao procedimento de acompanhamento 
jurídico e solicitação de direitos da mulher), entre outros. Deve, ainda, buscar 
formas de uma possível inclusão desses dados no sistema de acompanhamento 
da execução das penas, da prisão cautelar e da medida de segurança, 
normatizados pela Lei nº 12.714/201227. 
Sobre os filhos extramuros, é importante que conste no formulário a quantidade, 
a idade dos filhos, e as pessoas responsáveis pelos seus cuidados, assim como a 
composição da estrutura familiar no momento de seu ingresso à unidade 
prisional. 
 
7.4.1.2. Inserção da mulher grávida e lactante em local específico e 
adequado, com disponibilização de serviços penais condizentes 
As mulheres gestantes e lactantes devem ser inseridas em locais adequados28, 
onde lhe sejam oferecidos atendimento de saúde e nutricional, práticas 
psicossociais e desportivas, alimentação, materiais, vestuário e outros serviços 
específicos, que atendam às suas peculiaridades. As mães que se encontram em 
situação de prisão devem ter seu direito sexual e reprodutivo garantido e 
 
27 Art. 1º - Os dados e as informações da execução da pena, da prisão cautelar e da medida de 
segurança deverão ser mantidos e atualizados em sistema informatizado de acompanhamento da 
execução da pena. 
28 Conforme a Resolução CNPCP nº 09/2011. 
 34 
deverão ser estimuladas a amamentar seus filhos e filhas, salvo se houver 
razões de saúde específicas. 
 
7.4.1.3. Presença de acompanhante junto à parturiente 
A presença de acompanhante junto à parturiente deve ser autorizada, durante 
todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, conforme a Lei 
nº 11.108, de 7 de abril de 200529. O acompanhante da mulher presa deve ser 
indicado com antecedência e ter cadastro comprovado no rol de visitantes do 
estabelecimento prisional. 
 
7.4.1.4. Proibição do uso de algemas 
Devem ser criados meios para garantir o conhecimento e o cumprimento dos 
dispositivos internacionais30 e nacionais31 que proíbem o uso de algemas ou 
outros meios de contenção em presas parturientes, definitivas ou provisórias, no 
momento em que se encontrem em intervenção cirúrgica, para realizar o parto 
ou estejam em trabalho de parto natural, e no período de repouso subsequente 
ao parto. 
Os serviços de saúde e da administração prisional devem incluir todas as 
estratégias de humanização voltadas para a mulher no ciclo de gestação, parto, 
puerpério e aleitamento. 
 
7.4.1.5. Atividades de reintegração social e procedimentos 
diferenciados para as gestantes 
As presas gestantes devem dispor de mecanismos que incentivem a prática de 
atividades de reintegração social. 
Como já abordado no eixo das modalidades assistenciais, durante o pós-parto, 
deve ser garantida a licença da atividade laboral para que as mulheres que se 
encontravam trabalhando possam continuar sendo remuneradas e terem remida 
a sua pena. Após os 120 dias de licença remunerada, a mãe que permanece 
cuidando do filho dentro da unidade prisional deve fazer jus à remuneração e 
remição de pena, pelo trabalho de “cuidadora”. 
Deve ser garantido o tempo de banho de sol ampliado e em horários 
diferenciados, para as gestantes. 
 
 
 
 
29 A portaria nº 2.418/GM de 2 de dezembro de 2008 regulamenta, em conformidade com o art. 1º da 
Lei nº 11.108, de 7 de abril de 2005, a presença de acompanhante para mulheres em trabalho de parto, 
parto e pós-parto imediato nos hospitais públicos e conveniados com o Sistema Único de Saúde - SUS. 
30 Regras de Bangkok 
31 Resolução CNPCP nº 03/2012. 
 35 
7.4.1.6. Inserção da gestante na Rede Cegonha 
Tendo em vista que a Nota Técnica Conjunta nº 01/2011-DAPES/SAS/MS – 
DIRPP/DEPEN/MJ, de 16 de dezembro de 201132, inseriu a população feminina 
do sistema prisional na Rede Cegonha, a secretaria estadual responsável pela 
administração prisional deve se articular com a secretaria estadual e municipal 
de saúde para facilitar o acesso das mulheres que se encontram privadas de 
liberdade aos serviços de saúde do referido programa. O Plano é

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