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ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA AO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA PROF. DR. FERNANDO SILVEIRA NEUROPSICÓLOGO – FMUSP MESTRE E DOUTOR EM PSICOLOGIA COM ÊNFASE EM AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA – USF DIRETOR CLÍNICO – CLÍNICA LURIA ESPAÇO TERAPÊUTICO DESENVOLVIMENTO E PESQUISA PROFESSOR DO INSTITUTO DE PÓS GRADUAÇÃO E GRADUAÇÃO DE GOIÂNIA – IPOG COORDENADOR DA ESPECIALIZAÇÃO EM NEUROPSICOLOGIA IPOG COORDENADOR DA ESPECIALIZAÇÃO EM ABA APLICADA AO TEA - IPOG Sejam Bem-vindos! O QUE É TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)? • Na última metade do século XIX um médico, Henry Maudsley, sugeriu que crianças com um comportamento “muito estranho” poderiam ser classificadas como sofrendo de algum tipo de psicose infantil. • Kanner (1943) definiu os sintomas, inicialmente, como Distúrbio Autístico do Contato Afetivo: perturbações das relações afetivas com o meio, isolamento, inabilidade no uso da linguagem, potencialidades cognitivas, aspecto físico aparentemente, normal, comportamentos ritualísticos. • Em 1944, Asperger propôs em seu estudo a definição de um distúrbio que ele denominou Psicopatia Autística, manifestada por transtorno severo na interação social, uso pedante da fala, desajeitamento motor e incidência apenas no sexo masculino. Desde Rutter (1979), o autismo tem sido definido como uma síndrome comportamental oriunda de um quadro orgânico. Wing (1988) introduziu o conceito de “espectro autista”, concebendo o autismo como um complexo sintomatológico, ocorrendo num continuum, dependendo do comprometimento cognitivo. O Histórico do Transtorno do Espectro Autista ü A partir do DSM-5, o Transtorno Global do Desenvolvimento, que antes era composto por transtornos específicos além do autismo, transtornos como de Rett, Desintegrativo da Infância, Asperger e Transtorno Invasivo do Desenvolvimento sem outras especificações, deixa de usar essa classificação, sendo considerado como Transtorno do Espectro Autista (TEA). ü O nível do autismo é mensurado por especificadores de gravidade. Esses especificadores dizem respeito ao comprometimento do indivíduo e eles podem ser de nível 3 – exigindo muito apoio, nível 02 – exigindo apoio substancial e nível 01 – exigindo apoio. ü Atualmente, no DSM-5 o TEA passou a integrar os transtornos do neurodesenvolvimento. E este tem início no período do desenvolvimento, em geral antes da criança ingressar na escola, sendo caracterizado por déficits no desenvolvimento que acarretam prejuízos no funcionamento pessoal, social, acadêmico ou profissional. (APA, 2014). O Transtorno do Espectro Autista Nesse sentido: TEA Comunicação Social Padrão Rígido no Comportamento SOBRE A AVALIAÇÃO Cognição Comportamento CONTEXTO SOCIAL OUTROS SINTOMAS TEA ASPECTOS COMPORTAMENTAIS ü Deficiência intelectual ü Comormidades TDAH ü Auto e hetero agressividade ü Ausência de repertórios verbais básicos (falante, imitação e ouvinte) ü Dificuldades na integração sensorial ü Seletividade alimentar ü Dependência nas habilidades de vida diária ü Utilização dos pais como objetos, visando tentativa de mando ü Baixa tolerância à frustração ü Dificuldade na manutenção do contato visual, dentre outros. ü Dificuldades para manter o foco atencional mínimo necessário para realização de atividades que fogem do seu interesse ü Dificuldades para dormir ü Irritabilidade ü Ausência ou dificuldade no jogo simbólico – ludicidade comprometida ü Dificuldade na atenção compartilhada ü Dificuldades para iniciar brincadeiras com os pares (repertório básico de brincar independente) ü Interesse restrito por objetos e/ou atividades ü Podem apresentar altas habilidades (linguísticas, acadêmicas, artísticas…) M-CHAT (Robins, Fein, Barton & Green, 2001) – questionário aplicável aos cuidadores, com 23 ítens avaliando comportamentos de crianças entre 18 e 24 meses de idade nas seguintes áreas: engajamento social, contato visual, imitação, atenção compartilhada e gestos de busca de assistência, brincadeira repetitiva e brincadeira simbólica. Indicadores Clínicos de Alterações no Desenvolvimento (IRDI; Kupfer, 2009; Kupfer et al., 2010 & Lerner, 2011) – instrumento aplicável em pais, composto por 31 ítens indicadores de bom desenvolvimento do vínculo pais-bebê, distribuídos em quatro faixas etárias de 0 a 18 meses. No entanto suas especificidades para TEA precisam ser melhor exploradas em pesquisas. Childhood Autism Rating Scale (CARS; Schopler, Reichler & Renner, 1986) Autism Behavior Checklist (ABC; Krug, 1980; 1993) Alguns Instrumentos ALGUNS INSTRUMENTOS Autism Diagnostic Interview-Revised (ADI-R; (Lord, Rutter, & Le Couteur, 1994) Autism Diagnostic Observation Schedule-Generic (ADOS; Lord, Rutter, Dilavore, & Risi, 1999) Sistema PROTEA-R de Avaliação da Suspeita de Transtorno do Espectro Autista - (Bosa & Salles, 2018). ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA (ABA) ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA O que é comportamento? ü Trata-se de uma realação ou interação entre eventos ambientais (estímulos) e atividades de um organismo (respostas). O termo ambiente envolve estímulos públicos (observáveis) e privados (acessíveis somente ao organismo afetado). ü RESPOSTAS: podem ser eliciadas (comportamento respondente) ou condicionadas (comportamento operante). ü No comportamento operante, consideramos os comportamentos que modificam o ambiente e essas modificaçoes no ambiente modificam o comportamento subsequente. ü Classes de comportamento ANÁLISE DO COMPORTAMENTO Análise do Comportamento Behaviorismo Radical Análise Experimental ABA Sabe-se que as intervenções e métodos educacionais com base na psicologia comportamental têm demostrado reduzir comportamentos desajustados previstos no espectro autista, promovendo uma variedade de habilidades sociais, de comunicação e comportamentos mais adaptativos. Esse método de intervenção e ensino é conhecido como a análise do comportamento aplicada ou ABA, sigla em inglês para Applied Behavior Analysis. (Howard et al.,2005; Landa, 2007; Virues- Ortega, 2010; Vismara; Rogers, 2010). Inicialmente, a Análise do Comportamento Aplicada pode ser definida como um sistema teórico para a explicação e modificação do comportamento baseado nos princípios do condicionamento operante introduzidos por B.F. Skinner em 1953. A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) Nesse sentido, pode-se dizer que a ABA investiga as variáveis que afetam o comportamento humano, sendo capaz de mudá-los por meio da modificação de seus antecedentes (o que ocorreu antes e pode ter sido um possível gatilho para a ocorrência do comportamento) e suas consequências (eventos que se sucederam após a ocorrência do comportamento) (Suga & Lewis-Palmer; Haganburke, 2000). Ivar Lovaas era um psicólogo clínico norueguês e foi a primeira pessoa a aplicar os princípios da ABA. Em 1987, Lovaas publicou os resultados de seu estudo de longo prazo sobre o tratamento da modificação comportamental em 40 crianças pequenas com autismo. O que corroborou a possibilidade de realizar um tratamento efetivo em crianças com TEA a partir da aplicação integral e intensiva de princípios da teoria da aprendizagem. Para os autores Carr e Firth (2005) e Sundberg e Michael (2001) o modelo de trabalho desenvolvido por Lovaas foi a influência mais significativa sobre a metodologia de ensino utilizada pelos profissionais da área e que muito se aprendeu sobre o tratamento do autismo e ABA. Por exemplo, a importância da intervenção precoce e intensiva, definição e registro de alvos específicos de ensino, além da comprovação de que as técnicas comportamentais podiam ser bastante eficazes. A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) OS SETE DIMENSÕES DA ABA Princípios Descrição Aplicada Deve haver um interesse social nas questões sob investigação (deve-se considerar os comportamentos, os estiímulos e osorganismos). Comportamental O comportamento deve ser modificado à partir daquilo que se observa (mesnuração do comportamento alvo). Analítica Demosntração de quais variáveis são responsáveis pela ocorrência ou não de um comportamento. Tecnológica Procedimento e registro Conceitualmente Sistemática Os procedimentos devem ter embasamento nos principios da Análise do Comportamento Eficácia As mudanças precisam produzir um efeito clinicamente significativo Generalidade Generalizar os procedimentos Uma completa definição da ABA requer o entendimento de alguns conceitos básicos da Análise do Comportamento, de B.F. Skinner: A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) Reforço - Uma consequência do comportamento que aumenta a probabilidade de um determinado comportamento voltar a ocorrer. Reforço Positivo - Aumenta a probabilidade do comportamento voltar a ocorrer pela adição de um estímulo reforçador no ambiente. Reforço Negativo - Aumentar a probabilidade do comportamento voltar a ocorrer pela retirada de um estímulo aversivo do ambiente. REFORÇADORES POSITIVOS ü Comestíveis (primários) ü Tangíveis ü Sensoriais ü Sociais Extinção – Um procedimento no qual uma resposta deixa abruptamente de ser reforçada. Como consequência, a resposta diminuirá de frequência ou deixará de ser emitida. A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) Uma completa definição da ABA requer o entendimento de alguns conceitos básicos da Análise do Comportamento, de B.F. Skinner: A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) Punição - Uma consequência aversiva interfere na probabilidade de não ocorrência do comportamento. Punição Positiva – Interfere a probabilidade do comportamento não voltar a ocorrer pela adição de um estímulo aversivo no ambiente. Punição Negativa – Interfere a probabilidade do comportamento não voltar a ocorrer pela retirada de um estímulo reforçador do ambiente. ESTÍMULO (antecedente) RESPOSTA (comportamento) CONSEQUÊNCIA (consequente) REFORÇO Aumenta a frequência PUNIÇÃO Diminui a frequência MODELAGEM Assim, o terapeuta modela o sujeito de acordo com as respostas que deseja obter. O reforço, além de fortalecer uma resposta particular, também aumenta a probalbilidade de ocorrência de respostas equivalentes em outros contextos proximados (Skinner, 2003). ü GENERALIZAÇÃO O Ensino por Tentativas Discretas (DDT) O ensino por tentativas discretas tem um formato estruturado e se caracteriza por dividir unidades pequenas (discretas) de instruções em pequenos passos ensinados um de cada vez durante uma série de tentativas. (Fazzio, 2007; Leaf & McEachin, 1999; Lear, 2004). CUSTO DE RESPOSTA Se refere ao esforço que o sujeito realiza para ter acesso ao reforçador. ABA E PRÁTICAS NATURALÍSTICAS ü No Ensino naturalístico a criança é quem inicia a interação. Para que isso aconteça, o terapeuta deve preparar o ambiente para aumentar a probabilidade de a criança começar a interação, por exemplo, manipulando itens como brinquedos que são do interesse da criança. ü Uma das características principais desse tipo de ensino é que o Terapeuta ABA utiliza apenas reforçadores naturais, ou seja, aqueles que fazem parte da consequência da própria brincadeira, e não reforçadores arbitrários como no caso do DTT. ü Como se pode perceber, Terapia ABA é uma terapia bastante complexa que não se resume apenas a uma modalidade de ensino ou de uma estratégia exclusiva, mas deve se adequar a necessidade de cada criança e para a necessidade de desenvolvimento de cada habilidade em específico. EXEMPLOS PARA DISCUTIRMOS: Exemplo 1. Mário não quer escovar os dentes. Todas as vezes que seu pai diz “Mária, vamos escovar os dentes?”, a criança se joga no chão e começa a chorar. O pai, tentando evitar desentendimento, acaba deixando a criança brincar mais um pouco e vai tentando agradá-la. Exemplo 2. Mariana todas as vezes que vai ao supermercado e quer algo se joga no chão. A mãe, tentando evitar constragimento, acaba cedendo para evitar desconforto. Exemplo 3. Matheus não quer dormir sozinho. Todos os dias acaba passando para a cama dos pais e eles acabam pertimindo, visto que estão cansados e não enxergam problema em dividir o espaço com a criança. Exemplo 4. Isabela não quer participar da atividade de rodinha proposta pela professora. Assim, começa a gritar e a professora precisa retirá-la para não atrapalhar a aula. Após ser retirada, Isabela volta mais tranquila e consegue fazer todas as atividades necessárias. Exemplos para Discutirmos: ALGUMAS FERRAMENTAS O VB-MAPP (Verbal Behavior Milestones Assessment and Placement Program) O VB-MAPP é formado por componentes que, conjuntamente, fornecem uma direção para a intervenção, além de um sistema de rastreamento de aquisição das habilidades da criança (Sundberg, 2008). A Avaliação dos Marcos (VB-MAPP Milestones Assessment) é primeiro componente, avalia uma amostra do repertório verbal da criança e de habilidades relacionadas por meio de uma série de tarefas. • Nele são apresentados 170 marcos elaborados a partir do desenvolvimento de crianças típicas, divididos em três níveis (0 -18 meses; 18-30 meses e 30- 48) e organizados em dezesseis áreas. ABBLS AFLS TURMA DA LURIA: GUIA PRÁTICO DE INTERVENÇÃO INFANTIL (SILVEIRA & SILVA, 2020) O objetivo deste trabalho é oferecer a todos os profissionais da saúde e da educação um roteiro detalhado para a intervenção com crianças que apresentam atraso no desenvolvimento global em contexto clinico e institucional. O material contempla oitro repertorios, sendo eles Atender Tarefas (AT), Imitação (IM), Linguagem Expressiva (LE), Linguagem Receptiva (LR), Brincar Social (BS), Percepção Visual (PV), Acadêmicas (AC) e Adaptativas (AD). PLANO DE ENSINO INDIVIDUALIZADO QUE TAL SE ESPECIALIZAR EM ABA? www.ipog.edu.br SOBRE NOSSO CURSO: ü 100% remoto; ü Curso com duração de um ano; ü Aulas ao vivo com os professores; ü Coorpo docente composto por mestres, doutores e especialistas na área; ü Acesso aos principais protocolos de avaliação e intervenção; ü Título de especialista reconhecido pelo MEC; APA – American Psychology Association. (2014), Diagnostic and statiscal manual of mental disorders (5a. Ed.). Arlington, VA: American Psychiatric Publishing. Arntzen, E., & Almås, I. K. (2002). Effects of mand-tact versus tact-only training on the acquisition of tacts. Journal of Applied Behavior Analysis, 35(4), 419-422. Bourret, J., Vollmer, T. R., & Rapp, J. T. (2004). Evaluation of a vocal mand assessment and vocal mand training procedures. Journal of Applied Behavior Analysis, 37(2), 129-144. Carr, J. E., & Firth, A. M. (2005). The Verbal Behavior Approach to Early and Intensive Behavioral Intervention for Autism: A Call for Additional Empirical Support. Journal of Early and Intensive Behavior Intervention, 2(1), 18-27. Fazzio, D. (2007). Training Tutors and Parents to Implement Discrete-Trials Teaching with Children Diagnosed with Autism. (PhD dissertation). Department of Psychology, University Of Manitoba. Howard, J. S. (2005). 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Establishment of mands following tact training as a function of reinforcer strength. Journal of Applied Behavior Analysis, 39(1), 17- 24. Wing, L. (1988). The continuum of autistic characteristics, in: Schopler, E. & Mesibov, G. B. (Orgs.); Diagnosis and assessment in autism, 91-110. New York: Plenum Press. Prof. Dr. Fernando José Silveira www.ipog.edu.br neurofjs@gmail.com (35)3421.0550
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