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Modelo de Petição Inicial Previdenciária - Declaratória Negativa de Débito (1)

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EXCELENTÍSSIMO DOUTOR JUIZ FEDERAL DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE APARECIDA DE GOIÂNIA - GO
FULANA DE TAL, brasileira, viúva, do lar, portadora do RG nº 00000, CPF nº 000.000.000-00, PIS/NIT nº 0000000 natural de Tiros/MG, nascida em 05/06/1925, filha de 0000000, residente e domiciliada na Rua 000000, Aparecida de Goiânia/Goiás, por intermédio de seus advogados infra-assinados, com endereço profissional no Núcleo de Prática Jurídica da PUC/GO (Procuração anexa), vem, com fulcro nos arts. 319 e seguintes do NCPC, bem como na Lei 8.213/91 e no Decreto 3.048/99, propor a presente 
AÇÃO DECLARATÓRIA NEGATIVA CUMULADA COM REPETIÇÃO DE INDÉBITO
em face do INSS – INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL, autarquia federal, com sede em Brasília, Capital Federal, e representação judiciária na cidade de Aparecida de Goiânia – GO, situada na Rua Uberaba, esquina com Avenida Uru, Qd. 115, Lt. 3/ 4, Setor dos Afonsos, CEP n. 74.915-283, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas.
I - DOS FATOS
A Requerente, que conta agora com 90 anos de idade, de saúde razoável e portadora de doenças próprias da idade avançada, reside com os filhos, necessitando de uma alimentação mais saudável, medicamentos e os cuidados diários de uma cuidadora, no caso, sua filha aposentada com a qual reside. 
Com o falecimento de seu esposo, em 17/03/1989, por ser dependente do mesmo, passou a receber pensão por morte, em razão da transformação do benefício da aposentadoria de seu falecido esposo na citada pensão.
Em razão da sua incapacidade de prover a própria manutenção, devido à idade avançada, bem como de ser mantida pelos familiares cuja renda mensal per capita é inferior a ¼ (um quarto) do salário mínimo, desde junho de 1994, passou a receber o LOAS idoso (benefício de prestação continuada da Assistência Social de n. 00000) a título de renda mensal por incapacidade. 
O INSS não se preocupou em informar à Requerente que o benefício do LOAS não poderia ser cumulado com qualquer outro benefício da Seguridade Social, salvo no caso de assistência médica e pensão especial de natureza indenizatória, nos termos da Lei 8.742/93, que dispõe sobre a organização da Assistência Social, devendo ela optar por um ou outro benefício, sob pena de responder pelo indébito. 
Assim, desde 1994, a Requerente recebia de boa-fé os dois benefícios cumulativamente. Digo de boa-fé porque, sendo ela idosa (com noventa anos de idade) e analfabeta, não possui por si só, nem dispunha à época dos fatos de outra pessoa que possuísse os conhecimentos técnicos e jurídicos necessários à compreensão da legislação previdenciária. 
Na data de 14/12/2015 o benefício do LOAS foi suspenso pelo INSS, tendo este enviado à beneficiária uma carta de cobrança pelos benefícios indevidamente recebidos até então, no valor de R$38.721,31 (trinta e oito mil, setecentos e vinte e um reais e trinta e um centavos), na qual também informava-a de que a quitação do débito com Previdência seria feito por meio de descontos mensais no valor de R$264,00 (duzentos e sessenta e quatro reais) do total do valor de recebimento da sua pensão por morte. 
II – DO DIREITO 
A interpretação jurídica tem sido uníssona, por parte da jurisprudência, de que os valores advindos de percepção de benefícios previdenciários possuem caráter alimentar, servindo para a manutenção da sobrevivência do indivíduo.
Parte da premissa que esses valores alimentares recebidos pelo segurado da Previdência Social, ainda que percebidos indevidamente, não devem ser restituídos aos cofres públicos, desde que ausente à má-fé do beneficiário e presente o erro administrativo da Autarquia Federal.
Além do mais, frisa-se que, nos termos do art. 54, da Lei 9.784/99, o prazo decadencial ou prescricional para o INSS anular e reaver seus créditos é de 5 (cinco anos), portanto, caso entenda o Juízo que a Requerente não agiu de boa-fé na solicitação do benefício assistencial ao idoso, devem ser considerados prescritos ou eivados de decadência os anos anteriores aos últimos 5 (cinco) anos.
a) Da boa-fé da Requerente
No âmbito jurídico, a boa fé é exposta sob dois aspectos, quais sejam: objetiva e subjetiva. Vejamos a distinção entre ambas, segundo ensinamentos da doutrinadora Teresa Negreiros (in: Fundamentos para uma interpretação constitucional do princípio da boa-fé. Rio de Janeiro: Renovar, 1998, p. 14):
(...) a boa-fé objetiva consiste num dever de conduta contratual ativo, e não mais de um estado psíquico do agente.
Por seu turno, a boa-fé subjetiva indubitavelmente se refere a uma condição psicológica, a um estado de consciência íntimo, de cada indivíduo, à qualidade reportada ao sujeito, (...).
Feitas essas considerações, pode-se concluir que, quando o julgador não autoriza a restituição de valores pagos indevidamente pelo INSS, por erro administrativo, ao beneficiário, sob o fundamento de que o mesmo os recebeu de boa-fé, assim o faz concebendo a boa-fé na sua vertente subjetiva.
Neste ensejo, impende destacar que, a Requerente é pessoa idosa (noventa anos) e possui pouquíssimo conhecimento intelectual (analfabeta) para ter absoluto discernimento de seus atos e direitos. A isso se soma uma legislação previdenciária extremamente esparsa e complexa.
Por salutar, colaciona-se a ementa que traduz o entendimento do Egrégio Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, in verbis:
PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. ERRO ADMINISTRATIVO. CANCELAMENTO. BOA-FÉ. IMPOSSIBILIDADE DE DEVOLUÇÃO DOS VALORES. BENEFÍCIO DE VALOR MÍNIMO. DESCONTO. IMPOSSIBILIDADE. ART. 201, § 2º DA CF-88.
1. Esta Corte vem se manifestando no sentido da impossibilidade de repetição dos valores recebidos de boa-fé pelo segurado, dado o caráter alimentar das prestações previdenciárias, sendo relativizadas as normas dos arts. 115, II, da Lei nº 8.213/91, e 154, § 3º, do Decreto nº 3.048/99.
2. Consoante orientação das Turmas componentes da 3ª Seção desta Corte, não é possível o desconto de valores na renda mensal do benefício previdenciário se isso implicar redução à quantia inferior ao salário-mínimo, em atenção aos termos do artigo 201, § 2º, da Constituição Federal. (TRF da 4ª Região, Proc.: 5001717-27.2012.404.7005/PR, 5ª Turma, Rel.: Juiz Fed. GUILHERME PINHO MACHADO, J. em 07/08/2012, D.E. 09/08/2012). Grifo nosso.
Em razão disso a jurisprudência defende que a conduta maliciosa do segurado tem de restar comprovada de forma inarredável para que haja a restituição dos valores percebidos indevidamente, ou seja, não deve a má-fé ser presumida, mas sim provada. Isso torna a boa-fé elemento essencial para se verificar se há ou não dever de restituição aos cofres previdenciários em caso de recebimento de valores indevidos.
b) Da ocorrência de pagamento indevido por erro administrativo
No tocante ao pagamento indevido de valores pela Previdência Social à Requerente, pode ocorrer em duas situações: por erro administrativo do INSS; ou em razão de determinação judicial emanada em sede de tutela antecipada.
Por seu turno, impera conceituarmos ato administrativo que, no entendimento de Maria Sylvia Zanella Di Prietto (in: Direito administrativo, 12.ed. São Paulo: Atlas, 2000, p. 181) é:
 “(...) a declaração do Estado ou de quem o represente, que produz efeitos jurídicos imediatos, com observância da lei, sob regime jurídico de direito público e sujeito a controle do Poder Judiciário”.
Podemos dizer que, para gerar efeito jurídico, o ato administrativo deve ser perfeito (cumprir todas as etapas para sua formação), válido (não contrastar com o ordenamento) e eficaz (não estar sob qualquer condição que constranja seus imediatos efeitos), sob pena de ensejar anulação.
Assim, conclui-se que quando um ato administrativo não for perfeito, válido ou eficaz, houve erro administrativo. Portanto, no caso em tela, é de extrema importância esclarecer que só houve pagamento indevido de valores por erro administrativo porque a própria Previdência Social, no exercício de suas atividades, praticou um ato administrativoeivado de vícios.
No presente caso, a Requerente, conforme demonstrado em item pertinente, é beneficiária da Previdência Social, recebendo pensão por morte do marido desde março de 1989. Ocorre que, anos mais tarde, mais precisamente em junho de 1994, a Requerente solicitou o Benefício de Amparo Social ao Idoso junto ao INSS e, neste ato, foi instaurado procedimento administrativo no sentido de reconhecer a validade das provas quanto ao cumprimento dos requisitos legais para a concessão do benefício pretendido. Posteriormente o INSS apreciou as provas e, ao final, deferiu tal pedido.
Com efeito, constata-se que, da abertura do processo administrativo até a decisão final houve uma série de atos administrativos, dos quais era dever do INSS observar se estava de acordo com a legalidade.
Outro não é o entendimento da Corte Superior:
PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PENSÃO POR MORTE. PAGAMENTO INDEVIDO. BOA-FÉ. ERRO DA ADMINISTRAÇÃO. VERBA DE CARÁTER ALIMENTAR. RESTITUIÇÃO DE VALORES. IMPOSSIBILIDADE.
1. Conforme a jurisprudência do STJ, é incabível a devolução de valores percebidos por pensionista de boa-fé por força de interpretação errônea, má aplicação da lei ou erro da Administração.
2. Não se aplica ao caso dos autos o entendimento fixado no Recurso Especial 1.401.560/MT, julgado sob o rito do art. 543-C do CPC, pois não se discute na espécie a restituição de valores recebidos em virtude de antecipação de tutela posteriormente revogada.
3. Agravo Regimental não provido.
(AgRg no AREsp 470.484/RN, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 22/04/2014, DJe 22/05/2014.
Ora, tendo a Requerente recebido de boa-fé os benefícios cumulados, não pode ela ser cobrada pela devolução desses valores, tendo em vista não dispor de conhecimentos jurídicos e nem saber, até a data do fato, que, por erro de administração do INSS, foi lhe conferido o direito indevido de receber o benefício previdenciário desde junho de 1994.
Não cabe assim culpar a Requerente de um fato que originariamente quem deveria saber era o próprio INSS, que possui um quadro pessoal jurídico muito bem preparado e qualificado. 
c) Da prescrição ou decadência parcial do débito a ser cobrado da Ré
Em uma eventual ação judicial para efeitos de cobrança dos débitos concernentes ao benefício pago indevidamente, devem ser considerados prescritos ou eivados de decadência os anos anteriores aos 5 anos contados da data em que foram praticados os atos, nos termos do art. 54, da Lei 9.784/99.
.Considera-se assim esse o prazo decadencial ou prescricional para o INSS anular e reaver seus créditos, estando prescrita a pretensão anterior a esse prazo.
d) Do princípio da irrepetibilidade dos alimentos
Como já exposto, a doutrina e a jurisprudência pátrias, entendem que, havendo boa-fé por parte do segurado, os valores recebidos indevidamente, a título de benefício previdenciário, não devem ser restituídos à Previdência Social, sobretudo em reverência ao Princípio da Irrepetibilidade dos Alimentos, porquanto ratificado está o entendimento de que o valor previdenciário tem natureza alimentar.
A irrepetibilidade dos alimentos constitui-se em um princípio consagrado no direito brasileiro, como bem destaca Maria Berenice Dias (in: Manual de direito das famílias. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 508):
Como se trata de verba que serve para garantir a vida e se destina à aquisição de bens de consumo para assegurar a sobrevivência, inimaginável pretender que sejam devolvidos. Esta verdade é tão evidente que até é difícil sustentá-la. Não há como argumentar o óbvio. Provavelmente por esta lógica ser inquestionável é que o legislador não se preocupou sequer em inseri-la na lei. Daí que o princípio da irrepetibilidade é por todos aceito mesmo não constando do ordenamento jurídico. Grifo nosso.
De maneira especial, Maria Berenice Dias, no texto supra, tratava dos alimentos no âmbito do Direito de Família. Ainda assim, na seara previdenciária, é igualmente inconcebível sustentar a devolução dos alimentos, especialmente, levando-se em consideração o pagamento indevido pelo INSS por erro administrativo e estando a Requerente de boa-fé, uma vez que, como já enfatizado, se os alimentos se prestam à manutenção da sobrevivência digna do indivíduo, não haveria de se determinar a sua devolução, sob pena de afronta à garantia da dignidade da pessoa humana constitucionalmente consagrada.
O STF, de semelhante forma, já assentou a tese da irrepetibilidade da verba alimentar:
Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. PAGAMENTO A MAIOR. DEVOLUÇÃO DOS VALORES RECEBIDOS INDEVIDAMENTE PELO SEGURADO AO INSS. ART. 115 DA LEI 8.213/91. IMPOSSILIDADE. BOA-FÉ. NATUREZA ALIMENTAR. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA RESERVA DE PLENÁRIO. INOCORRÊNCIA. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. 1. A violação constitucional dependente da análise do malferimento de dispositivo infraconstitucional encerra violação reflexa e oblíqua, tornando inadmissível o recurso extraordinário. 2. O princípio da reserva de plenário não resta violado, nas hipóteses em que a norma em comento (art. 115 da Lei 8.213/91) não foi declarada inconstitucional nem teve sua aplicação negada pelo Tribunal a quo, vale dizer: a controvérsia foi resolvida com o fundamento na interpretação conferida pelo Tribunal de origem a norma infraconstitucional que disciplina a espécie. Precedentes: AI 808.263-AGR, Primeira Turma Rel. Min. LUIZ FUX, DJe de 16.09.2011; Rcl. 6944, Pleno, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, Dje de 13.08.2010; RE 597.467-AgR, Primeira Turma, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI Dje de 15.06.2011 AI 818.260-AgR, Segunda Turma, Rel. Min. ELLEN GRACIE, Dje de 16.05.2011, entre outros. 3. In casu, o acórdão recorrido assentou: “PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. COBRANÇA DOS VALORES PAGOS INDEVIDAMENTE. CARÁTER ALIMENTAR DAS PRESTAÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. 1. Esta Corte vem se manifestando no sentido da impossibilidade de repetição dos valores recebidos de boa-fé pelo segurado, dado o caráter alimentar das prestações previdenciárias, sendo relativizadas as normas dos arts. 115, II, da Lei nº 8.213/91, e 154, § 3º, do Decreto nº 3.048/99. 2. Hipótese em que, diante do princípio da irrepetibilidade ou da não-devolução dos alimentos, deve ser afastada a cobrança dos valores recebidos indevidamente pelo segurado, a título de aposentadoria por tempo de contribuição.” 4. Agravo regimental desprovido. 
(AI 849529 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 14/02/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-054 DIVULG 14-03-2012 PUBLIC 15-03-2012). Grifo nosso.
Nesse diapasão, a Relatora, Juíza Jacqueline Michels Bilhalva sustentou e proferiu seu voto em julgamento da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais, Incidente de Uniformização n. 2008.83.20.00.0010-9/PE, julgado em 17 nov. 2009, conforme segue: 
Isso porque, em conformidade com a jurisprudência dominante do STJ, esta Turma Nacional já uniformizou o entendimento de que em razão da natureza alimentar desses valores e da boa-fé no seu recebimento, há irrepetibilidade. Especificamente neste tipo de caso a observância do princípio da supremacia do interesse público não conduz à sobrevalorização do dever geral de restituição do indébito, mas, sim, à sobrevalorização da garantia constitucional de dignidade da pessoa humana. Grifo nosso.
De igual maneira, corrobora o excerto de voto condutor proferido pela Juíza Federal Maria Divina Vitória:
De fato, conforme ressaltado no acórdão paradigma acima transcrito, a jurisprudência dominante no Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que as prestações previdenciárias percebidas de boa-fé não estão sujeitas à repetição. Na hipótese dos autos, não há qualquer dúvida acerca da natureza alimentar dos valores em questão eis que decorrentes do pagamento de pensão por morte à estudante previdenciária. A boa-fé também é patente porquanto tais valores foram recebidos por força de decisão judicial. Impõe-se, portanto,na esteira do que vem decidindo o STJ, a aplicação ao caso do princípio do irrepetibilidade dos alimentos para eximir a recorrente da obrigação de devolver os valores recebidos do INSS a título de pensão por morte. (TNU, PEDILEF nº 2004.85.00.50.01482-5, Rel. Juíza Federal Maria Divina Vitória, unân., DJU 14.03.2008).
e) Da Tutela de Urgência em Caráter Antecipado
Nos termos do artigo 300 do Novo Código de Processo Civil, a tutela de urgência poderá ser concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
Ademais, toda cobrança indevida gera dano de difícil reparação, constituindo abuso e grave ameaça, e abalando, sobretudo, o emocional da pessoa.
A Requerente trata-se, conforme comprovado por meio de documentos em anexo, de pessoa analfabeta, desconhecedora das vedações legais em relação à cumulatividade de benefícios distintos da Seguridade Social, salvo no caso de assistência médica e pensão especial de natureza indenizatória (art. 20, §4º, da Lei 8.742/93), tendo assim recebido de boa-fé os valores relativos ao Benefício Assistencial de Amparo Social ao Idoso, cumulativamente à pensão por morte. Portanto, está ela sendo vítima de cobrança indevida por parte da Requerida Autarquia Federal quanto ao Benefício Assistencial.
Acrescente-se ainda que a existência do dano à Requerente é evidente uma vez que, pelo fato de ser pessoa idosa (90 anos de idade) e hipossuficiente, faz com que o valor descontado em sua pensão a deixe impossibilitada de suprir suas necessidades básicas. A verossimilhança de tais alegações pode ser corroborada com a análise da documentação em anexo, a qual demonstra as reais dificuldades de sobrevivência da Requerente frente ao custeio de seus encargos com alimentação, medicamentos, vestuário etc.
A jurisprudência assim se manifesta:
PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. DESCONTOS DE BENEFÍCIO. MÉTODO DA MÁXIMA COERÊNCIA. INTEGRIDADE DO DIREITO. PRINCÍPIOS DA BOA-FÉ, SOLIDARIEDADE, DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, IGUALDADE E JUSTIÇA. TUTELA ANTECIPADA. JURISPRUDÊNCIA. COERÊNCIA DO ESTADO JUIZ. INEXIGIBILIDADE DOS VALORES. I - Em termos de um modelo prático, para solução de casos difíceis - que denominamos como "máxima coerência" - ver o direito como integridade implica não ver conflito entre os princípios, mas ver o caso difícil sendo abordado por duas possibilidades de solução (proposições jurídicas). II - Princípio da solidariedade, consagrado na Constituição Federal como objetivo da República (art. 3º, I: "construir uma sociedade livre, justa e solidária"), mas também implícito na convivência em comunidade, que implica o respeito ao próximo, o auxílio mútuo para reduzir o sofrimento do outro, o sentimento de união, a cooperação. III - A dignidade humana deve ser vislumbrada no tocante ao caráter sabidamente alimentar das prestações previdenciárias. IV - Resta inegável o status de princípio da boa-fé, com base constitucional, e passível de irradiação sobre todas as relações jurídicas, devendo sempre norteá-las. V - A igualdade exige, ainda, que o Estado trate a todos com os mesmos respeito e consideração, sendo isto devido aos seres humanos enquanto pessoas morais, livres e iguais. VI - O justo, na concepção de Aristóteles, é o equitativo, o meio-termo. De todas as virtudes, a justiça é a única que consiste no bem de um outro, "pois, de fato, ela se relaciona com o próximo, fazendo o que é vantajoso a um outro [...]". VII - A antecipação da tutela é concedida com base em provas inequívocas que atestem a verossimilhança da alegação, consistindo, no mínimo, em indício da procedência do pedido de benefício, podendo, é claro, ser revogada. VIII - O recebimento de verbas previdenciárias, de caráter alimentar, em virtude de antecipação dos efeitos da tutela confirma a presunção de boa-fé. IX - Importância da jurisprudência e dos precedentes, uma vez que demonstram o entendimento adotado pelo Estado através de seus juízes, que buscaram as respostas corretas. Importante, portanto, é privilegiarmos o sólido posicionamento do Estado-juiz neste caso, ajudando a manter, dessa forma, sua coerência. Outrossim, a boa-fé do beneficiário e a natureza alimentar das verbas previdenciárias dão ensejo à irrepetibilidade de valores recebidos indevidamente, inclusive quando tais verbas sejam decorrentes de antecipação dos efeitos da tutela. X - Não se trata, por isso mesmo, de mera alegação do caráter alimentar das verbas previdenciárias feita prima facie para afastar a lei. Trata-se, na verdade, de um raciocínio principiológico de interpretação do direito, que prima pela coerência das decisões judiciais, com fulcro, no caso em tela, na vasta jurisprudência do STJ. Imprescindível ressaltar, por fim, que com isso não se afasta a incidência dos dispositivos legais que disciplinam a repetição dos benefícios indevidos (no mesmo sentido, o REsp nº 996.850/RS, colacionado supra). XI - Em suma, construindo o direito como integridade, nos termos do que foi dito acima, podemos concluir que a irrepetibilidade é amparada pela boa-fé do beneficiário decorrente do fato de ter obtido a prestação em função de decisão judicial, seja tutela antecipada, seja sentença ainda não transitada em julgado, bem como pela natureza eminentemente alimentar dos benefícios. A máxima coerência é, desta forma, alcançada e o entendimento esposado pelo Estado-juiz é, mais uma vez, mantido. XII - Existem, dessa maneira, motivos para dar provimento ao recurso de apelação dos autores com o fim condenar o instituto previdenciário a suspender, imediatamente, os descontos efetivados no benefício de pensão por morte dos apelantes (NB 21/143.937.588/4), bem como a promover a restituição dos valores já indevidamente descontados, observando-se a prescrição quinquenal. XIII - Apelação dos autores provida.
(TRF-3 - AC: 35251 SP 0035251-50.2011.4.03.9999, Relator: JUIZ CONVOCADO DAVID DINIZ, Data de Julgamento: 31/01/2012, DÉCIMA TURMA). Grifo nosso.
Data venia, verifica-se no caso em tela a presença dos elementos ensejadores da antecipação da tutela, consistentes nas alegações da Requerente, bem como na jurisprudência citada. Assim sendo, havendo fundado receio, amparado em dados objetivos, de que a previsível demora no andamento do processo possa causar à Requerente dano irreparável, requer-se a concessão da tutela de urgência em caráter antecipado, para fazer cessar os descontos indevidos na Pensão por Morte da Requerente.
IV - DO PEDIDO
Frente aos fatos e fundamentos acima expostos, requer:
1. liminarmente, a antecipação da tutela de urgência, a fim de suspender os descontos indevidos, previstos de serem efetuados no valor da pensão por morte, até o trânsito em julgado da presente ação, nos termos do artigo 300 do NCPC, em razão das reais dificuldades de sobrevivência da Requerente, a fim de manter os seus próprios encargos com alimentação, medicamentos, vestuário etc.;
2. seja julgado procedente o pedido para declarar a negativa do débito, considerando indevida a dívida ou desconto da Requerente junto ao INSS no valor de R$38.721,31 (trinta e oito mil, setecentos e vinte e um reais e trinta e um centavos);
3. condenar a Requerida a devolver as parcelas indevidamente cobradas e já descontadas da Requerente;
4. caso Vossa Excelência não entenda que a Requerente agiu de boa-fé, que os descontos se limitem aos últimos 5 (cinco) anos em razão da prescrição para a ação de cobrança de débitos previdenciários nos termos do art. 54 da Lei 9.784/99;
5. sejam deferidos os benefícios da Assistência Judiciária Gratuita, em concordância com a Lei nº 1.060/50 com as alterações introduzidas pela Lei nº 7.288/84, por ser a Requerente pessoa economicamente pobre e sem condições de arcar com as despesas e custas do processo sem prejuízo de sua própria subsistência e de sua família, conforme declaração de pobreza ora juntada; 
6. seja deferida a prioridade na tramitação do processo em razão de ser a Requerente pessoa idosa, nos termos do art. 71 da Lei 10.741/03;
7. que a Ré sejacondenada ao pagamento das custas e dos honorários advocatícios a serem arbitrados pelo Douto Juízo.
Requer ainda provar os fatos narrados por todos os meios de provas em direito admitidos e necessários ao provimento dos pedidos, especialmente pelo depoimento pessoal do Representante Legal da Ré, sob pena de confissão; oitiva de testemunhas; perícias; juntada de novos documentos e demais provas que se fizeram necessárias.
Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais), ciente de que os valores postulados perante este Juizado Especial Federal não poderão exceder a 60 (sessenta) salários mínimos.
 
Termos em que, pede deferimento.
Aparecida de Goiânia, 10 de maio de 2016.
____________________________ ___________________________ 
 Christian Abrão de Oliveira	 Kátia Costa Gomes
 OAB/GO n. 32.069 OAB/GO n. 24.624

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