Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Em caso de dúvida, ou para comunicar algum equívoco que tenhamos deixado passar, utilize o link Tutoria no seu AVA Univirtus. Obrigado! Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Segurança Privada Estudo Dirigido INQUÉRITO POLICIAL Conteúdo da disciplina GARCIA, Flúvio Cardinelle. Inquérito policial: uma visão panorâmica. Curitiba: InterSaberes, 2017. Sumário 1. PERSECUTIO CRIMINIS ........................................................................................................ 2 2. PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL PENAL .................................................................... 2 3. A SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL ....................................................... 5 4. INQUÉRITO POLICIAL........................................................................................................... 6 5. INVESTIGAÇÕES CRIMINAIS E A PRESERVAÇÃO DO LOCAL DO CRIME .............................. 8 6. PRISÃO EM FLAGRANTE ...................................................................................................... 9 7. PRISÃO PREVENTIVA ......................................................................................................... 11 8. INTERROGATÓRIO E CONFISSÃO ...................................................................................... 12 9. RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS ....................................................................... 13 10. ACAREAÇÃO ................................................................................................................... 14 11. AVERIGUAÇÃO DA VIDA PREGRESSA DO INDICIADO .................................................... 14 12. FOLHA DE ANTECEDENTES ............................................................................................ 15 13. TERMO CIRCUNSTANCIADO .......................................................................................... 15 14. CRIME DE FALSIDADE IDEOLÓGICA ............................................................................... 16 15. CRIME DE FALSIDADE MATERIAL DE ATESTADO OU CERTIDÃO ................................... 17 2 1. PERSECUTIO CRIMINIS As provas ou os elementos de convicção, inocência ou responsabilização do infrator são colhidos durante o que se chama persecutio criminis (“persecução penal” em latim), que se inicia no momento da prática do crime. A investigação tem duas fases. A fase inquisitiva ou pré-processual tem início com o inquérito policial, instrumento utilizado pelo Estado para preparar, investigar e reunir elementos que porventura responsabilizem o suspeito em relação aos atos praticados ou que conduzam à ausência de elementos de responsabilização. A fase acusatória ou processual, por sua vez, ocorre perante o Poder Judiciário, quando se tem prova cabal de que ocorreu o delito e indícios suficientes de que o suspeito é o responsável pela prática do crime. 2. PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 2.1 Princípio da presunção da inocência O princípio da presunção da inocência declara que o estado de inocência de qualquer pessoa é indisponível e irrenunciável, devendo ser respeitado, até porque mantém relação direta com o princípio da dignidade da pessoa humana. Portanto, pelo princípio da presunção de inocência, o ser humano é por natureza inocente (perante o Estado) e não pode ser punido. O ser humano é inocente até que seja condenado criminalmente e, mais particularmente, com trânsito em julgado (sem mais direito a recurso), e o processo penal é o único instrumento que legitima a imposição de uma pena criminal. 2.2 Princípio da ampla defesa O princípio da ampla defesa deriva da garantia do contraditório e tem como objetivo dar ciência da acusação imposta ao indivíduo, bem como a oportunidade de 3 preparar a defesa. Por este princípio, o acusado tem o direito de presença, que assegura o acompanhamento dos atos de instrução. Sendo assim, o acusado, embora preso, tem o direito de presenciar os atos processuais, sob pena de nulidade absoluta. Esse princípio divide-se em autodefesa e defesa técnica. A autodefesa é exercida pelo próprio acusado (por exemplo, direito de comparecer aos atos processuais e se pronunciar no interrogatório). É um direito renunciável e facultativo. Já a defesa técnica é a exercida por um advogado ou defensor público. Ela é obrigatória (pois sem ela não há ampla defesa). Não basta que um defensor esteja nomeado no processo para ser garantida a defesa técnica. É necessário que ele atua efetivamente, e para isso cabe ao juiz conduzir o processo e zelar pela preservação dos direitos e das garantias constitucionais assegurados aos sujeitos processuais. 2.3 Princípio do contraditório Esse princípio está fundamentado no art.5º, inciso LV da CF/1988, constituindo uma garantia que não pode ser ignorada em nenhum sistema. O princípio do contraditório está associado com o princípio da ampla defesa, preservando o equilíbrio, a igualdade de oportunidades e a isenção estatal na condução do processo. O princípio do audiatur et altera pars, preceito incluído no princípio do contraditório, estabelece que a outra parte seja também ouvida (ou seja, ambas as partes sejam ouvidas, acusação e defesa, nesta ordem); e, para haver imparcialidade no julgamento, deve-se ouvir a defesa somente depois da acusação, para que aquela possa se defender especificamente do que lhe é imputado pela acusação. 2.4 Princípio da verdade real O princípio da verdade real impõe que o juiz deve averiguar os fatos além dos limites artificiais da verdade formal, ou seja, além daquilo que os sujeitos processuais levam ao processo criminal. Caso não fique convencido pelo que é trazido nos autos, o juiz pode, de vontade própria, determinar novas diligências por parte da parte que 4 acusa.1 Portanto, como busca da verdade real tem-se a intenção de trazer à tona no processo o que mais se aproxima da realidade dos fatos. 2.5 Princípio da obrigatoriedade Esse princípio se refere ao início do persecutio criminis. De acordo com esse princípio, diante da prática de um delito a ser apurado via ação penal pública incondicionada, é dever da autoridade policial instaurar o Inquérito Policial (IP), cabendo ao Ministério Público (MP) promover a ação penal. Cabe ressaltar que esse princípio não é absoluto, pois as ações penais privadas e as ações penais públicas condicionadas a representação dependem da vontade do ofendido ou de seu representante legal. 2.6 Princípio da indisponibilidade O princípio da indisponibilidade traduz-se em que a autoridade policial não pode desistir de suas investigações e o Ministério Público não pode desistir da ação penal. Esse princípio se refere ao trâmite da persecutio criminis. Ele não é absoluto, pois há exceções nas ações penais privadas — caso haja perdão, renúncia, ou perempção —, bem como nas ações penais públicas condicionadas a representação, com a retratação da representação antes de ser oferecida a denúncia, conforme disposto no art. 25 do Código de Processo Penal (CPP). 2.7 Princípio da publicidade Esse é um princípio fundamentado pelo art. 5º, incisos LX e XXXIII, e art. 93, inciso IX, da Constituição de 1988 (CF/1988). O princípio da publicidade estabelece que os atos processuais devem ser realizados publicamente, a fim de viabilizar o efetivo controle social dos atos e decisões do Poder Judiciário. Todos têm o direito de receber 1 No processo penal, o polo acusatório é assumido pelo Estado, na pessoa do promotor de justiça (membro do Ministério Público) ou pelo ofendido, a depender de a quem cabe a iniciativa da ação penal. É de fundamental importância saber se a infração penal praticada é pública ou privada. Ao se tomar conhecimento do delito que será investigado, é possível determinar o rito procedimental a ser adotado,bem como a competência criminal e a espécie de ação penal. 5 dos órgãos públicos informações de interesse particular ou coletivo, exceto sobre aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. 3. A SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL A palavra segurança pode significar garantia, proteção e estabilidade de situação ou pessoa. O art. 144 da CF/1988 dispõe que a segurança pública é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos. Os objetivos fundamentais da segurança pública são: proteger a incolumidade física e patrimonial das pessoas, mantendo-as ilesas, intactas e longe de perigo; preservar a ordem pública, impedindo o cometimento de crimes; e garantir a paz social e a lei. O Estado estruturou a segurança no Brasil em dois níveis: federal e estadual. A esfera federal tem seus órgãos subordinados à presidência da República, e a esfera estadual tem seus órgãos subordinados aos respectivos governadores. São órgãos federais da Segurança Pública brasileira apenas a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e a Polícia Ferroviária Federal. São órgãos estaduais da Segurança Pública brasileira apenas a Polícia Civil, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar. 3.1 Atividade de polícia Pode-se conceituar polícia como a atividade administrativa tendente a assegurar a ordem, a paz interna, a harmonia e, mais tarde, o órgão que zela pela segurança dos cidadãos. O poder de polícia, então, pode ser conceituado como a faculdade de que dispõe a Administração Pública para condicionar e restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos individuais em benefício da coletividade ou do próprio Estado. As atividades de polícia podem ser classificadas em três espécies: administrativa, judiciária e ostensiva. 6 A polícia administrativa refere-se ao controle que a Administração Pública deve exercer sobre todas as atividades e bens de interesse público. A polícia judiciária tem caráter repressivo, visando auxiliar a Justiça. A atuação ocorre após a prática de uma infração penal, com o intuito de colher elementos que esclareçam a prática do fato delituoso para a possível instauração de ação penal contra os responsáveis. Trata-se de uma atividade investigativa cuja função é colher provas para o órgão acusatório, a fim de que o Judiciário as avalie no futuro. A polícia ostensiva tem atuação antes de ocorrer a infração penal, pois tem o objetivo de evitá-la. É caracterizado pela adoção de uniforme e viaturas de fácil identificação, uma vez que sua efetividade é alcançada quando consegue inibir a prática de condutas ilícitas e proporcionar sensação de segurança à sociedade. 4. INQUÉRITO POLICIAL O Inquérito Policial (IP) no Brasil remonta a 1871. O IP estava previsto no Decreto imperial nº 4.824/1871, com basicamente a mesma função dos dias atuais. Na redação original da época, o ato legal assim previa: “Art. 38. Os Chefes, Delegados e Subdelegados de Policia, logo que por qualquer meio lhes chegue a notícia de se ter praticado algum crime commum, procederão em seus districtos ás diligencias necessarias para verificação da existencia do mesmo crime, descobrimento de todas as suas circumstancias e dos delinquentes.” Dá-se o nome de Inquérito Policial ao conjunto de diligências realizadas pela autoridade policial para obtenção de elementos que apontem a autoria e comprovem a materialidade das infrações penais investigadas, permitindo, assim, ao Ministério Público (nos crimes de ação penal pública) e ao ofendido (nos crimes de ação penal privada) o oferecimento da denúncia e da queixa-crime. Nele se coletam elementos informativos, provas de materialidade e indícios de autoria do ato apurado. Não há 7 limite de pessoas e crimes investigados em um único IP, até porque o procedimento do inquérito policial é livre, de caráter inquisitivo e não sujeito a nulidades. Atualmente, o Inquérito Policial pode ser iniciado: (i) de ofício; (ii) por provocação do ofendido; (iii) via delação de terceiro; (iv) mediante requisição da autoridade competente; ou (v) por meio de lavratura de ato de prisão em flagrante. O inquérito policial não é um processo, mas uma peça informativa. Por isso, não se presta à condenação de quem quer que seja, mas fornece elementos para eventual ação penal futura. Por isso, o IP é dispensável para a propositura de ação penal. Se o MP constatar que já há elementos que o habilitem a promover a ação penal, deverá dispensar o IP e oferecer denúncia no prazo de 15 dias. Acerca dos prazos no inquérito policial em âmbito estadual, quando o investigado estiver em liberdade, o prazo para conclusão é de 30 dias, podendo ser prorrogado por prazo estipulado pelo juiz. Mas, se o investigado estiver preso, o prazo para conclusão é de apenas 10 dias, improrrogáveis. Em caso de existência de IP, uma vez encerradas as investigações policiais, o relatório final do inquérito é enviado ao MP, que poderá: (i) oferecer a denúncia; (ii) requerer a extinção da punibilidade; (iii) requerer o retorno dos autos à polícia judiciária para continuidade da investigação, informando as diligências a serem realizadas; ou (iv) requerer o arquivamento. O arquivamento pode se dar, por exemplo, em um caso de morte no qual a autoridade policial que chega ao local pode ter dúvidas se houve homicídio (que deve ser investigado) ou suicídio (que não constitui crime). Assim, caso um inquérito policial tenha sido instaurado sob suspeita de homicídio e, ao final, concluir-se ter havido suicídio, não deverá ser instaurado um processo penal. Porém, se for necessário arquivar o IP, somente o juiz pode arquivá-lo, mediante promoção (pronunciamento favorável nesse sentido) do MP (arts. 17, 18 e 28 do CPP). No relatório final, o delegado pode apenas opinar pelo arquivamento, o que não vincula o MP. A opinião do MP também não determina o arquivamento, pois essa decisão cabe ao juiz, e o pedido de arquivamento do IP por parte do MP, seja parcial (de apenas algumas pessoas ou condutas), seja total, deve ser justificado. 8 Quando o MP deixa de incluir na denúncia um ou outro fato investigado no IP, sem, contudo, qualquer justificativa, ocorre o arquivamento implícito, que não tem previsão legal e caracteriza omissão injustificada do MP. A decisão de arquivamento do IP pode gerar coisa julgada formal e, assim, pode o IP ser desarquivado mediante novas evidências para novas investigação ou instauração de ação penal. Como vimos acima, o IP pode ser iniciado por meios diversos, dependendo da espécie de ação penal relativa ao crime (pública ou privada). Na ação penal pública incondicionada, o autor da ação penal pública incondicionada é o MP, não o ofendido. O ofendido não tem poder em tal ação para determinar o futuro do acusado, mas nada o impede de se manifestar. Já na ação penal privada, o inquérito policial terá início mediante requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la, ou seja, o inquérito policial inicia-se mediante requerimento do ofendido, de seu representante legal ou de quaisquer dos legitimados indicados no CPP. Sabemos que não é possível que uma investigação policial perdure indefinidamente no tempo, tampouco que acabe sem a apresentação de um relatório circunstanciado sobre os principais atos investigativos e elementos de convicção coletados. Via de regra, há prazos estipulados em lei para o término das investigações, os quais podem variar conforme o delito investigado. Outrossim, exige-se a apresentação de um relatório final, elaborado pela autoridade policial, no qual devem estar registrados os fatos investigados, as principais diligências realizadas, os elementos informativos colhidos e, ao final, as conclusões do delegado de polícia quanto à materialidade do delito e aos indícios de autoria. 5. INVESTIGAÇÕES CRIMINAIS E A PRESERVAÇÃO DO LOCAL DO CRIMENão há dispositivo legal que obrigue a autoridade policial à prática de uma série de atos preordenados e sequenciais. As diligências são realizadas conforme a discricionariedade da autoridade policial, pois há liberdade na coleta de evidências, orientada precipuamente pela lei, visando à finalidade de melhor elucidar o fato criminoso. 9 Fonte: Universidade Federal do Espírito Santo, em http://www.ufes.br/conteudo/pesquisadores-demonstram-novas- tecnologias-que-podem-auxiliar-trabalho-policial, acesso em 27 mar. 2018. A autoridade policial tem o dever legal de ir ao local logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a fim de preservá-lo, nos termos do art. 6º, inc. I do Código de Processo Penal. Além disso, há a necessidade da perícia que orienta a investigação e o julgamento da ação penal.2 Se a polícia é notificada de infração penal e, sem qualquer justificativa, demora a comparecer ao local, talvez apenas no dia seguinte, o local do crime certamente estará contaminado, acarretando a destruição de provas, além de dificultar ou mesmo impedir a investigação. 6. PRISÃO EM FLAGRANTE Quando ocorre uma prisão em flagrante, segue-se um procedimento para a lavratura do auto de prisão. O procedimento ocorre da seguinte forma: primeiro, ouve- se o condutor (aquele que deu a voz de prisão ao agente criminoso). Depois, são ouvidas as testemunhas da conduta delituosa, e logo depois ocorrerá a oitiva da vítima, quando possível. Essa prisão é a modalidade de prisão cautelar, de natureza administrativa, realizada no instante em que se desenvolve ou termina de se concluir 2 O perito é a pessoa dotada de conhecimentos técnicos sobre determinado assunto, chamada a prestar esclarecimentos sobre sua especialidade, com o objetivo de orientar a investigação e o julgamento da infração penal. Pode ser oficial ou não oficial, mas deve ser nomeado para a função. Entretanto, a regra geral é que seja perito oficial. 10 a infração penal, ou seja, quando o flagrado é surpreendido no decorrer da prática da infração ou momentos depois. Sua autorização está expressa na CF/1988, em seu art. 5º, inciso XI. É um ato administrativo que dispensa autorização judicial e se converte em ato judicial no momento em que ocorre sua comunicação ao Poder Judiciário, a fim de se analisar a legalidade da detenção e adotar as providências legais de acordo com o art. 310 do CPP. A prisão em flagrante é uma exceção à regra da necessidade de existência de ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária para a detenção de alguém, motivo pelo qual é necessário o cumprimento dos requisitos formais para a lavratura do auto, pois ele substitui o mandado de prisão expedido pelo juiz. Conforme previsto no art. 307 do CPP, o auto de prisão em flagrante deverá ser lavrado pela autoridade policial, porém excepcionalmente a autoridade judicial (o juiz) poderá lavrar o auto de prisão em flagrante, quando o delito for praticado em sua presença e durante o exercício de suas funções. Vejamos os tipos de flagrante: Flagrante provocado: é aquele que o agente é instigado a praticar o crime, não sabendo que está sendo vigiado pela autoridade ou por terceiros, que só aguardam o início dos atos de execução para realizar o flagrante. Por exemplo, o policial Alberino se passa por comprador de armas e adquire uma arma do traficante; o traficante de armas ilegais com o qual está negociando não será poderá ser preso por vender a arma ao policial disfarçado (pois estava sob vigilância direta e constante, caracterizando um crime impossível), mas poderá ser detido por ter consigo objeto de uso proibido e, posteriormente. Portanto, o flagrante provocado, quando utilizado de forma legal, visa a flagrar um crime praticado pelo agente, mas autuá-lo por outro crime. Flagrante forjado: é um flagrante artificial, pois é integralmente composto por terceiros. É um fato atípico (não criminoso), tendo em vista que a pessoa “flagrada” jamais pensou ou agiu para compor qualquer trecho da infração penal. Por exemplo, Amanda, amante de 11 Nicholas, coloca no carro deste uma quantia considerável de entorpecentes, para depois abordá-lo ao lado de Carlos, policial, a fim de darem voz de prisão em flagrante pelo transporte de drogas. Acaba por caracterizar a absoluta ilegalidade e sujeita o responsável a responder penalmente por abuso de autoridade ou denunciação caluniosa. Flagrante retardado: também chamado de flagrante diferido, o flagrante retardado consiste na faculdade conferida à polícia no sentido de retardar a prisão em flagrante, visando obter mais informações a respeito da ação dos criminosos. Permite-se à polícia postergar a prisão em flagrante para um momento mais oportuno desde que a atividade ilícita seja mantida sob observação, vigilância ou acompanhamento. 7. PRISÃO PREVENTIVA É uma modalidade de segregação provisória, decretada judicialmente. Trata-se de uma medida cautelar de constrição à liberdade do indiciado ou réu, por razões de necessidade, respeitados os pressupostos que a autorizam. A prisão preventiva é admitida nas seguintes hipóteses: (a) nos casos de crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 anos; (b) aos réus reincidentes em crimes dolosos e com sentença transitada em julgado (desde que entre a condenação anterior e o crime atual não tenham decorrido 5 anos, conforme art. 64, inciso I, do Código Penal); (c) diante de violência doméstica e familiar contra a Fonte: Pacific Standard Magazine, em https://psmag.com/economics/since- the-19th-century, acesso em 27 mar. 2018. 12 mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, se o intuito for garantir a execução das medidas protetivas de urgência. Outra hipótese dessa modalidade de prisão está prevista no parágrafo único do art. 313 do CPP, e ocorre se presente dúvida quanto à identidade civil do suspeito ou quando não houver elementos suficientes que a esclareçam. Este dispositivo prevê que, depois de identificada, a pessoa deverá ser colocada em liberdade se não houver outro motivo para manter a prisão. Há pelo menos três requisitos que devem estar conjuntamente presentes para decretação da prisão preventiva: 1. Prova da existência de crime (materialidade): é a certeza que ocorreu uma infração penal 2. Indício suficiente de autoria: é a suspeita fundada de que, o indiciado ou o réu seja, o autor da infração penal; 3. Uma das situações do art. 312 do CPP: garantia da ordem pública, garantia da ordem econômica, conveniência da instrução criminal ou garantia da aplicação da lei penal. A garantia da ordem pública é a hipótese de interpretação mais ampla e flexível na avaliação da necessidade da prisão preventiva. Pode ser identificada por meio da incidência de vários fatores, entre eles a gravidade concreta da infração, a repercussão social e a periculosidade do agente. Lembramos que a prisão preventiva é, por lei, exceção! A regra, portanto, é a liberdade. As medidas cautelares diversas da prisão devem preferidas em relação à prisão, que é o meio mais gravoso. Apenas quando estas não foram cabíveis, a prisão preventiva poderá então ser decretada. 8. INTERROGATÓRIO E CONFISSÃO O interrogatório do acusado é oral e, quando houver mais de um indiciado, deverá ser realizado separadamente, como determina o art. 191 do CPP. Ele é 13 constituído, didaticamente, de duas partes: interrogatório de qualificação e interrogatório de mérito.3 No interrogatório de qualificação, o conduzido é indagado sobre seu nome, filiação, estado civil, naturalidade. No interrogatório de mérito, pergunta-se ao conduzido se é verdadeira a imputação e demais perguntas sobre o fato ou fatos imputados. No interrogatório pode haver confissão,e deve-se saber que a confissão pelo acusado não tem, sozinho, valor probatório. Seja no IP, seja no processo, a confissão precisa ser reforçada com outros meios de prova; em outras palavras, não se pode condenar uma pessoa somente por sua confissão, por mais clara e inequívoca que seja. 9. RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS No âmbito da investigação, reconhecer significa estabelecer a identidade da pessoa ou da coisa que se vê com a pessoa ou coisa que já se viu. Se mais de uma pessoa for realizar o reconhecimento, deve-se evitar qualquer comunicação entre elas anterior ao reconhecimento. O ato de reconhecimento de pessoa segue algumas etapas: A pessoa que fará o reconhecimento deverá descrever características do indivíduo a ser reconhecido. Coloca-se a pessoa que se pretende reconhecer ao lado de outras semelhantes a ela, se possível. O reconhecedor, vendo o suspeito entre outras pessoas, deverá apontar para a pessoa que reconhecer. Trocando em miúdos: como primeiro passo do reconhecimento, a pessoa que fará o reconhecimento deverá descrever o indivíduo a ser reconhecido. Depois, se possível, coloca-se a pessoa que se pretende reconhecer ao lado de outras semelhantes a ela, para que o reconhecedor a aponte. Se houver risco de atemorização 3 Não significa que haja dois momentos, mas apenas para efeito de entendimento do interrogatório, isto é, para fins didáticos, divide-se-o dessa forma. 14 do reconhecedor pela mera presença do indivíduo, pode-se providenciar uma barreira visual para que o reconhecedor veja o suspeito, mas o suspeito não possa vê-la. O processo de reconhecimento também pode ser realizado por fotografia. Esse ato, se positivo por reconhecer o acusado como real praticante do crime, pode legitimar o convencimento do juiz para a condenação, e o contrário também é verdadeiro — a certeza do reconhecedor de dizer que não é aquela pessoa pode fundamentar a absolvição. 10. ACAREAÇÃO A acareação refere-se à diligência que permite à autoridade colocar, frente a frente, duas ou mais pessoas que, no curso da investigação ou do processo, tenham apresentado versões conflitantes sobre fatos ou circunstâncias relevantes. Ela pode ser realizada entre os acusados; entre acusados e testemunhas; entre acusados ou testemunhas e a pessoa ofendida; entre as vítimas ou, ainda, entre as testemunhas. As pessoas acareadas são colocadas uma em frente da outra, permanecendo a autoridade perto delas. A finalidade da acareação é explicar os pontos em desarmonia sobre os fatos. 11. AVERIGUAÇÃO DA VIDA PREGRESSA DO INDICIADO Vida pregressa significa aquilo que aconteceu antes. É tornar a vida de um indivíduo conhecida até o momento em que é investigada, saber como era a vida da pessoa antes da infração penal. A investigação da vida pregressa no inquérito policial pode ser classificada em três campos: Campo individual: Investiga-se nome, prenome, filiação, se é filho biológico ou adotivo, se já foi tutelado ou curatelado, se tem algum tipo de vício ou apresenta alguma enfermidade mental. 15 Campo familiar: Verifica-se se o suspeito é casado ou vive em união estável, se tem filhos, se os membros da família já passaram por alguma tragédia, qual o grau de instrução deles. Campo social: Avalia-se a aceitação do indiciado no meio em que sempre viveu, procurando apurar os problemas por quais já passou, sua condição econômica etc. 12. FOLHA DE ANTECEDENTES Quando a notitia criminis chega ao conhecimento do delegado, ele deve ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e juntar aos autos sua folha de antecedentes. A folha de antecedentes não se apaga. Se por engano a pessoa é indiciada, sua folha de antecedentes receberá a informação do indiciamento, ainda que o inquérito policial venha a ser arquivado ao se constatar o erro de indiciar a pessoa errada. Entretanto, essa informação que constará em sua folha de antecedentes não poderá desaboná-la caso venha a ter de ser exposta, por exemplo, por ocasião de aprovação em concurso público, mas ficará registrada. 13. TERMO CIRCUNSTANCIADO Quando a autoridade policial tomar conhecimento de um fato criminoso cuja pena estabelecida em lei seja de até, no máximo, 2 (dois) anos, deverá encaminhar o autor do fato e o ofendido ao juizado para a lavratura do termo circunstanciado (art. 69 da Lei nº 9.099/1995). Nesse contexto, não há a necessidade de inquérito policial. O termo circunstanciado é uma peça semelhante a um boletim de ocorrência policial, devendo conter a qualificação dos envolvidos na prática do fato criminoso e um relatório sumário, com todos os dados considerados fundamentais para a individualização dos fatos e a indicação do rol de testemunhas. Portanto, o termo circunstanciado tem por objeto a descrição da infração e suas circunstâncias, a 16 qualificação das testemunhas e a indicação das requisições de exames necessários à prova da materialidade da infração. A autoridade policial competente para a lavratura será aquela que for comunicada sobre a ocorrência da infração. O termo circunstanciado é um ato administrativo e deve, para ser válido, apresentar cinco elementos essenciais: objeto lícito; forma legal; competência da autoridade; motivo, e finalidade. O motivo refere-se à existência suficientemente caracterizada de uma infração penal qualificada como de pequeno potencial ofensivo. Já a finalidade é de propor elementos, somados à prova técnica requisitada, a fim de elucidar a formação da opinio delicti do MP para a propositura da ação penal ou de outra ação descrita em lei especial. Assim como no IP para as demais infrações penais, o termo circunstanciado deve conter os elementos suficientes para sustentar a acusação e as providências penais, na proporção exigida pela natureza da infração, sendo indispensável para estabelecer a justa causa da persecução penal. Se a ação penal indevida e sem justa causa é uma coação ilegal que pode ser trancada por meio de habeas corpus, assim também o inquérito policial e o termo circunstanciado que não tenham justa causa podem ser trancados por meio de habeas corpus. Com a lavratura do flagrante ou do termo circunstanciado, a autoridade assume a coação processual, tornando-se coatora responsável por ser a impetrada do habeas corpus. Conforme disposto no art. 144, § 4º da CF/1988, a única autoridade que pode lavrar o auto circunstanciado é o delegado de polícia de carreira da Polícia Civil. 14. CRIME DE FALSIDADE IDEOLÓGICA A falsidade ideológica é um crime tipificado no art. 299 do Código Penal: “Art. 299. Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular.” 17 A falsidade ideológica (falso ideal, moral ou intelectual) caracteriza-se quando alguém mente ou omite a verdade em relação ao conteúdo de um documento verdadeiro, sendo falsa a ideia exposta no documento. A falsidade ideológica é a mentira registrada em documento físico ou eletrônico. Portanto, existe um documento verdadeiro, mas seu conteúdo é falso. Essa falsidade não requer perícia, sendo cometida por autor ostensivo ou por documento declarado e resume-se à mentira narrada ou à verdade relevante omitida. 15. CRIME DE FALSIDADE MATERIAL DE ATESTADO OU CERTIDÃO A falsidade material de atestado ou certidão é crime previsto no art. 301, § 1º do Código Penal, com pena de até dois anos. Diz o referido dispositivo legal: “§ 1º - Falsificar, no todo ou em parte, atestadoou certidão, ou alterar o teor de certidão ou de atestado verdadeiro, para prova de fato ou circunstância que habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra vantagem: Pena - detenção, de três meses a dois anos. ” Refere-se, o crime, a objeto destinado a provar fato ou circunstância que habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra vantagem, como a falta justificada a determinada atividade letiva ou profissional. Os tipos penais são a previsão legal de crimes e sua punição. Teoricamente, todos os tipos penais existem para proteger algum valor individual ou social, o que significa dizer que o legislador cria leis penais para proteger valores. Dessa maneira, o valor protegido pela punição legal do crime de certidão ou atestado ideologicamente falso conforme previsto no art. 301, caput, do Código Penal é a crença na veracidade e na autenticidade dos atestados ou certidões emitidas por órgãos públicos, destinados a habilitar pessoas a obterem cargos públicos, a isentá-las de ônus ou serviço público, ou qualquer outra vantagem. Nesse tipo de crime há violação à administração pública. 18 Percebemos portanto que, na falsidade material, a própria forma do documento, no todo ou em parte, é alterada ou, ainda, o agente pode forjar um documento, criando um documento novo. Já na falsidade ideológica, a forma do documento é verdadeira, mas seu conteúdo é falso: a ideia ou declaração que o documento contém não corresponde à verdade. E assim terminamos este estudo dirigido, um resumo de alguns dos pontos fundamentais do seu aprendizado na disciplina.
Compartilhar