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ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO (AVE) Caso clínico: • ID: Sexo masculino. Idade 59 anos. Engenheiro, natural e procedente de Salvador • QP: Não fala e não mexe o lado esquerdo do corpo há 45 minutos • HMA: Admitido o Pronto Atendimento, trazido pela família, porque despertou com perda de força em hemicorpo esquerdo e afasia há aproximadamente 45 minutos • Há relato de sobrecarga emocional intensa nas últimas 24 horas, com elevação da pressão arterial manifestada por cefaleia, sem náuseas, mensurada e tratada com chá e medicações habituais (sic). Estava bem ao deitar para dormir, sem sintomas, sem queixas. Percebido despertar noturno, em torno das 2 horas da madrugada, para micção, sem anormalidades relatas. • Registra-se queixa recente e frequente de palpitações taquicárdicas, por vezes limitantes, nos últimos quatro meses, sem investigação ou acompanhamento. Nega-se dor torácica, nega-se tonturas, nega-se síncopes prévias, recentes ou remotas. • No momento, nega dor, nega desconforto respiratório • AP: Hipertenso, usa amlodipina 5mg e losartana 5mg. Portador de hipercolesterolemia, usa sinvastatina 20 mg. Nega alergias medicamentosas ou alimentares. • AF: Pai hipertenso, falecido de neoplasia de próstata aos 60 anos. • Mãe portadora de hipercolesteremia, falecida de infarto aos 69 anos. Irmãos mais novos com saúde aparente. • HV: Atividade física diária, caminha 4km em 50 minutos. Nega tabagismo, nega etilismo • IS: Nega síncope, nega tonturas. Nega convulsões. Nega alterações visuais ou auditivas recentes (usa lentes corretoras). • Sem alterações urinárias. Sem diarreia, sem vômitos, sem dor abdominal • EF: Ao exame, bom estado geral, levemente taquipneico, corado, hidratado, afebril, pálido. • PA 160/90 mmHg FC 96bpm SpO2 95% • B1 e B2 normais, sem B3. Sopro regurgitativo mitral +/IV. Ritmo cardíaco irregular por pausas (extrassístoles?). Pulmões limpos, murmúrio vesicular distribuído. Abdome flácido, sem visceromegalias ou massas. RHA presentes. Extremidades sem edemas, bons pulsos. Vigil, colaborativo, afásico de expressão, compreensão normal. Desvio de rima labial para direita. Déficit motor à esquerda, com plegia em MIE e paresia grave (FMI) em MSE. Pupilas normais, isocóricas, fotorreagentes. Primeira hipótese diagnóstica? Quadro de AVC → um paciente com déficit neurológico focal agudo Supondo que são 8h da manhã e ele acordou há 45 minutos e foi visto o déficit → qual a minha janela de tempo? Eu considero o início dos sintomas há 6 horas, a última vez que o paciente foi visto bem foi às 2h da manhã EPIDEMIOLOGIA DO AVC Cenário AVC no Brasil e no mundo: • Segunda causa mais comum de mortes • 1ª causa de sequelas irreversíveis em adultos • 1 caso de AVC a cada 53 segundos (USA) → população envelhecendo • 1 em cada 4 homens e 1 em cada 5 mulheres podem desenvolver AVC até os 85 anos QUEM É MAIS ATINGIDO? QUAL PACIENTE MAIS “AVECEZA” • Idosos acima de 65 anos • Paciente do sexo masculino • Paciente com dislipidemia • Pacientes que fumam • Pacientes com hipertensão • Diabetes • Bebida alcoólica • Estresse emocional • Doenças cardiovasculares • Em geral: síndrome metabólica SÉRIE DE PROBLEMAS... • População mal informada • Procura por auxílio médico tardio • Hospitais mal preparados • Visão fatalística → que o paciente com AVC vai morrer • Desinteresse do setor público → para diminuir a conta do hospital e os gastos futuros ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO Hemorrágico 20% → ruptura de vaso sanguíneo • Intraparenquimatoso → rompe um vaso sanguíneo de dentro do cérebro • Hemorragia subaracnóide → geralmente ruptura de um aneurisma no espaço subaracnóide → que sangra não dentro do parênquima cerebral mas no espaço subaracnóide Isquêmico (mais comum) 80% → interrupção do fluxo sanguíneo e portanto existe uma região no cérebro que sofre lesão isquêmica que PODE evoluir com necrose, mas nem sempre acontece • Trombótico → lá no SNC é formado um trombo, um coágulo e é esse coágulo que impede o fluxo sanguíneo • Embólico → um trombo em algum outro local do corpo, como o coração (FA, endocardite, lesão valvar, infarto prévio, ICC, placa de ateroma na aorta) → e sobe pra cabeça → mais comum cardioembólico por que se o trombo forma no coração ou na aorta ele solta, pode descer, e fazer uma isquemia mesentérica, mas ele geralmente sobe. Já se for um trombo na perna, ele não vai pra cabeça ele sobe e vai pro pulmão fazendo um tromboembolismo pulmonar • Hipoperfusão sistêmica ACIDENTE ISQUÊMICO TRANSITÓRIO “Lesão sem necrose” → AIT é quando ouve a interrupção fluxo sanguíneo, mas ela é rápida, o corpo ou consegue dissolver aquele trombo/êmbolo e o fluxo sanguíneo é reestabelecido antes da lesão isquêmica virar uma lesão necrótica → não existe morte de célula (a angina não é o infarto) • Sintomas temporários, reversão espontânea → o corpo se resolve • 24 horas: ✓ Habitualmente melhora em 1-2 horas ✓ Sem dano permanente ✓ Dissolução do trombo/êmbolo, melhora de vasoespasmo, circulação colateral • Risco de AVE Problema: temos uma janela de tempo muito curta de 4,5h para fazer a terapia trombolítica, o AIT não precisa de terapia trombolítica → se o AIT resolve em 24 horas eu vou ficar esperando pra ver se era um AIT? E perco minha janela? NÃO NÉ Se é um paciente que chega há uma hora e meia de sintomas e não tem um sinal de melhora e sim sinal de piora é pouco provável que seja um AIT → o paciente que tem AIT uma hora ele “aveceza” → o tratamento agudo dele não vai ser como se ele tivesse “avecezando”, mas tem que ser um tratamento intenso para que ele não “aveceze” AVE ISQUÊMICO Trombose → trombo formou dentro de uma artéria dentro do cérebro • Obstrução local de uma artéria • Principal causa: aterosclerose → placa de gordura dentro da artéria que instabiliza, rompe, tromboza e faz um AVC Embolia • Embolo originado em outro local • Coração → tem um trombo no coração ou aorta, ele se solta, sobe pelas carótidas, até chegar num local que seja menor que ele (FA principal causa) Hipoperfusão → um paciente que faz um choque hipovolêmico, um choque cardiogênico, uma hipotensão grave → a cabeça pode sofrer isquemia mesentérica por hipoperfusão → problema circulatório sistêmico → paciente que já tem rabaixamento do nível de consciência por que ele está “chocadão” → dá pra reverter o choque e quando volta o paciente tem lesão isquêmica do cérebro → é um paciente que estava criticamente doente, chocado, e fez uma lesão isquêmica muitas vezes difusa por conta da hipoperfusão • Problema circulatório sistêmico CLÍNICA DO AVEI TROMBÓTICO Tem uma placa de ateroma, ela se instabilizou e trombosou → isso acontece mais nos grandes vasos (carótida – catastrófico) Grandes vasos X pequenos vasos (intraparenquimatosos) • Diferentes causa, tratamentos e desfechos • Grandes vasos – placa de ateroma • Pequenos vasos – degeneração do vaso talvez por conta de uma hipertensão crônica não tratada, esse vaso degenera e isso causa uma trombose → degenerar não significa romper, a parede dele degenera e ele fica mais sujeito a formar um trombo em cima dessa parede degenerada → teve uma ruptura de epitélio e o conteúdo pró-trombótico do tecido subendotelial acaba sendo exposto sem necessariamente ter uma placa e faz uma trombose – um vaso doente e mais propenso a trombose OBS: Hipertensão não é fator de risco só para AVC hemorrágico é fator de risco para AVC trombótico também. Se for num grande vaso pode tentar fazer uma trombectomia mecânica – ir lá, cateterizar o vaso e catar aquele trombo e se for pequeno vaso, o jeito é trombólise mesmo Sintomas podem não ser máximos no início, flutuantes Grandes vasos • Extra cranianos (carótidas comum e interna, basilares e vertebrais) → carótida comum pode perder um hemisfério inteiro diferente do vaso intercerebral• Intracerebrais (Polígono de Willis e ramos proximais) A clínica de um AVC, seja isquêmico, hemorrágico, a clínica pode ser muito similar → mas pode se diferenciar → por exemplo, o trombo ele não começa no seu tamanho máximo, ele vai crescendo → então os sintomas podem vir piorando → sobe uma escada de piora → por que o trombo vai formando → e é uma piora escalonada → piora estaciona um pouco e depois piora de novo → o trombo começou, aí começa a isquemia ai as vezes o corpo do paciente pode conseguir dissolver um pouco daquele trombo ai estabiliza → dai de repente o trombo cresce de novo e piora Grandes vasos • Aterosclerose – causa mais comum (sd. metabólica) • Vasoconstricção • Dissecção • Vasculites • Displasia fibromuscular Pequenos vasos • Sistema arterial intracerebral • Lipo hialinolise (depósito lipídico hialino causado por HAS) → não é de romper um vaso, mais frágil e sangrar isso é a principal causa de AVC hemorrágica intraparenquimatosos, aqui há uma degeneração na qual há um depósito lipídico causado por HAS → não é uma placa de ateroma → é uma degeneração típica de um vaso submetido a hipertensão descontrolada durante muitos anos • Ateromatose CLÍNICA DO AVEI EMBÓLICO Coração/aorta • FA, valvopatia, flutter, IAM prévio, endocardite, cardiomiopatia dilatada, tumores, aneurisma, FO patente, ateromatose de aorta • Paciente que não segue o tratamento, quanto mais controlada a hipertensão menor a chance de ter mas não exclui Outras artérias (embolia arterio artéria → supondo que um paciente tem uma placa de ateroma na carótida comum, só que esse trombo é insuficiente para obstruir a carótida comum mas ele solta um trombo de uma artéria para outra) Fonte desconhecida do êmbolo Sintomas geralmente máximos no início do quadro → ele não vêm piorando, o êmbolo passeia e para obstruindo de forma completa e imediata a artéria OBS.: Não da pra diferenciar apenas pela clínica se o paciente está tendo um AVC trombótico ou embólico, assim como não dá pra diferenciar somente pela clínica se é hemorrágico ou isquêmico AVEI POR HIPERPEFUSÃO • Redução global de fluxo sanguíneo • Falência cardíaca TEP, sangramento, etc → não é só um paciente com ICC, é um paciente com ICC em falência de bomba, ou que fez um TEP catastrófico, choque hemorrágico • Sintomas neurológicos geralmente difusos → a hipoperfusão é difusa, acometendo o SNC de forma geral • Outras evidências clínicas da hipoperfusão → alterações da extremidade, redução de diurese → não é só o cérebro morrendo que indica que o paciente está fazendo uma hipoperfusão sistêmica AVE HEMORRÁGICO Hemorragia intracerebral/ intraparenquimatosa → rompe um vaso de dentro do parênquima • Sangramento no parênquima • Arteríolas ou pequenas artérias → que sangram por que estão frágeis devido a hipertensão → o que causa a degeneração arterial para fazer o AVC hemorrágico é a hipertensão não tratada a longo de anos ou má controlado • Hematoma → PRINCIPAL PROBLEMA DO AVC HEMORRÁGICO → o crânio não é expansivo → o cérebro está contido numa caixa fechada → se o cérebro incha o paciente tem aumento da pressão intracraniana (PIC) • HAS, trauma, diátese hemorrágica, drogas, mal formações, aneurismas intraparenquimatosos podem sangrar também Hemorragia subaracnóidea → o cérebro “tá bem” • Sangramento no espaço subaracnóideo • Ruptura de aneurismas, mal formações Por que o AVC hemorrágico mata mais, é mais catastrófico? Por que se esse sangramento não parar vai começar a formar um hematoma dentro da cabeça e esse paciente vai sofrer um aumento importante da pressão intracraniana na cabeça, hipertensão intracraniana mata → por que o sintoma neurológico do AVC hemorrágico é igual ao do isquêmico? Por que tem um hematoma dentro do parênquima agindo como uma lesão focal, então a depender de onde estiver esse hematoma o paciente vai ter os sintomas neurológicos focais do local onde está o hematoma, só que ele pode abrir um quadro de hipertensão intracraniana, ameaçando a vida. Daí o paciente pode morrer dentro das primeiras horas por conta da hipertensão intracraniana e não necessariamente da disfunção neurológica focal. Por que que o paciente já começa ter sintoma focal? Igual ao AVC isquêmico? Por que o hematoma está comprimindo a área que ele está contido então as estruturas comprimidas por ele são responsáveis pelo desenvolvimento do sintoma neurológico focal. O que acontece quando o sangramento começa a aumentar e ocupar muito espaço daí temos além do sintoma neurológico focal o aumento da pressão intracraniana. Como é a clínica? Ele vai piorando, por que o hematoma está crescendo, ele vai subindo uma ladeira, a piora não é em platô. O paciente também pode ter clínica associada a hipertensão intracraniana, além do hematoma o edema! CLÍNICA DO AVEH INTRACEREBRAL • Sintomas iniciais provenientes da área que contém o hematoma – a área está sendo apertada • Piora progressiva dos sintomas com aumento do hematoma • Pode ocorrer isquemia secundária – a área distal daquele vaso não recebe sangue, por que o sangue está indo para dentro da cabeça • Progressão para HIC – cefaleia, vômitos, redução de nível de consciência OBS: AVC isquêmico faz HIC por edema, mas o hemorrágico tem esse risco imediato por conta do hematoma CLÍNICA DO AVEH POR HSA Liberação de sangue diretamente no LCR – sob pressão: • O sangramento geralmente dura apenas alguns segundos • O ressangramento é comum e ocorre mais frequentemente no primeiro dia Rápido aumento de PIC → só que não tem o sintoma neurológico focal por que não tem uma hematoma comprimindo uma área específica do cérebro Início abrupto dos sintomas “Perda de função” – memória, foco, joelhos cedem → não tem desvio de comissura, uma mão fraca por que não é dentro do cérebro é ao redor dele Cefaleia súbita e muito intensa, vômitos → meninge dói Ausência de sinais focais importantes Entre AVC isquêmico trombótico e embólico, e AVC hemorrágico intraparenquimatoso não tem grande diferença de clínica, é impossível diferenciar. Já a hemorragia subaracnóidea, a clínica é diferente e os fatores de risco são outros geralmente o paciente tem uma má formação arterio venosa ou um aneurisma, que pode ser até pacientes mais jovens Sinal focal da hemorragia intraparenquimatosa que não existe na hemorragia subaracnóide, mas ambos tem aumento da PIC SINAIS E SINTOMAS • Perda súbita de função cerebral focal • Perda súbita de força em um lado do corpo ou na face (desvio da boca para um lado) • Perda repentina de sensibilidade em um lado do corpo • Perda de visão súbita • Confusão mental súbita • Perda de fala ou dificuldade repentina de falar ou compreender • Dificuldade súbita para caminhar • Dor de cabeça súbita, forte, sem nenhuma causa aparente → no caso de HSA • Coma, convulsão, respiração difícil – acidente tão catastrófico que nem fez sintoma neurológico focal Quando o paciente chega, o neurologista tem que fazer a topografia da lesão → e baseado clínica do paciente o neuro topografa a lesão, ele sabe a área do cérebro que esta lesada. Grande síndromes de AVC → Conjuntos de sintomas que quando presentes topografam a lesão Qualquer sintoma neurológico focal súbito você precisa suspeitar de uma lesão vascular no SNC Perda súbita de força em membro + afasia/disartria/ desvio de comissura = isso é AVC até que se prove o contrário AVC – DESVIO DE RIMA LABIAL: PARALISIA FACIAL PERIFÉRICA X CENTRAL Supondo: um paciente chega pra você, onde o o olho pisca, e a testa consegue franzir, já o outro paciente o lábio tá desviado mas ele não consegue piscar direito o olho, e não consegue franzir a testa: paralisia central (AVC em SNC) x paralisia facial periférica (Paralisia de Bell – baixa morbimortalidade) → importante diagnóstico diferencial em suspeita de AVC na fase aguda AVC – HEMIPARESIAÀ DIREITA Avaliar rapidamente a mímica facial e a força muscular é fundamental AVC – DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Paralisa de Bell (paralisia facial periférica) → provavel origem viral • Enxaqueca • Paralisia de Tood (pós-ictal) após convulsão → quadro neurológico focal • Encefalopatia hipertensiva, metabólica ou tóxica • Esclerose múltipla • Síncope (outras etiologias) • Infecção sistêmica ou do SNC (encefalites) • Amnésia global transitória • Tumor ou abscesso cerebral • TCE • Conversão (Síndrome conversiva-dissociativa) → quando não está acontecendo nada, mas não podemos dizer ao paciente que ele está fazendo uma conversão, por que pode ser um AVC... As vezes o paciente chega com sintomas típicos, como em casos de enxaqueca que de repente perde metade do campo visual de um lado. ABORDAGEM INICIAL • Avaliação neurológica imediata <25min → TEMPO É TECIDO!!! • História e exame físico → tem que ser RÁPIDA → tempo dos sintomas, o que está acontecendo, sintomas associados, patologias associada, usa algum remédio, tem alguma alergia? • Rever início do quadro (<4,5h para trombólise) → se o paciente já acordou com sintomas, o quadro começou na última vez que esse paciente foi visto acordado e bem • Exame neurológico: ✓ Nível de consciência (escala de coma de Glasgow) ✓ Nível de gravidade do AVC (escala NIH) • TC de crânio urgente (sem contraste) • Raio-X lateral de coluna cervical (se coma/trauma) A primeira coisa que você tem que fazer é garantir a estabilidade hemodinâmica do paciente enquanto você faz a suspeita diagnóstica clínica → se ele está hemodinamicamente estável, se tem condição de ir pra TC, ele vai pra TC → por que você não pode fazer absolutamente nada sem a TC, por que se for hemorrágico é uma coisa e se for isquêmico outra → se não der pra fazer a TC você não pode fazer a trombólise por que você não pode afastar hemorrágico → se o paciente está dentro da janela, do início dos sintomas para fazer a trombólise (4,5h) → reza, ajoelha e pede uma TC nesse espaço de tempo OBJETIVOS PRINCIPAIS • Garantir estabilidade clínica – vias aéreas, respiração, circulação • Reverter rapidamente fatores de piora → uma hipoglicemia, febre, saturação baixa de O2 • Isquêmica X hemorrágico – e dentro de isquêmico → indicação de trombólise ou trombectomia? E se tem contraindicação à trombólise • Diagnóstico fisiopatológico → depois de tratar a fase inicial, saber se veio da aorta, se foi um êmbolo... Uso de insulina → diagnóstico diferencial → pelo risco de hipoglicemia → pode parecer um AVC → rebaixamento do nível de consciência HISTÓRIA E EXAME FÍSICO • Confirmar suspeita de AVE • Tempo dos sintomas – janela terapêutica Hemorragia X isquemia • Clínica ajuda, mas geralmente não é suficiente • IMAGEM assim que possível • Investigar contra indicações de trombólise → quando mandar pra TC Critérios de inclusão • Diagnóstico clínico de AVEi → clínica compatível + ausência de sangue nas imagens • Sintomas < 4,5h → janela • Idade > ou igual a 18 anos Critérios de exclusão – temos muitos: se o paciente já teve AVEi ou TCE grave nos últimos 3 meses não pode. Se o paciente já sangrou dentro da cabeça alguma vez na vida, se tem neoplasia no SN, se tem um câncer gastrointestinal, se sangrou ou teve hemorragia digestiva nos últimos 21 dias, se o paciente fez neurocirurgia nos últimos 3 meses → NÃO PODE Paciente com sintoma clínico sugestivo de HSA → a HSA pode ser em locais tão específicos na cabeça que não aparece na TC, só numa punção lombar que viria cheia de sangue → garanta que o paciente fique vivo, que ele não vá morrer de hipertensão intracraniana, hipoglicemia → entube se for necessário e espere A trombectomia só pode se estivermos falando de um paciente com trombo em grandes vasos da circulação anterior → carótida e a parte da frente Polígono de Willis → vertebrais e basilar e parte de trás do Polígono é circulação posterior e não acessível a trombectomia → então só dá pra fazer a trombectomia se o paciente tem um trombo na circulação anterior Na fase aguda você não procura isquemia e sim sangramento, por que o sangue aparece branco na TC ou RM, se tem sangue você geralmente vê. Se o paciente tem 1,5h de sintoma você não quer ver sinal de isquemia, porque isquemia demora algumas horas para aparecer na TC, você quer ver se tem sangue e se não tem sangue trate como isquêmico OUTROS CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO DA TROMBÓLISE Hematológicos • Plaquetas <100.000 • Terapia anticoagulante com RNI >1,7; TP >15 seg; TTPa >40 seg • Doses terapêuticas de heparina nas 24h Você não precisa esperar o hemograma, nem o TP nem o RNI para fazer uma trombólise – por que? PORQUE TEMPO É TECIDO e você não vai atrasar → se você examinou o paciente, se já tem o HGT, tem a saturação do paciente, já fez a tomografia você não precisa esperar chegar o TP e o hemograma para trombolizar a menos que esse paciente tem uma história que usa AAS, varfarina, dabigratan – qualquer anticoalgulante- ou que ele tenha sinais clínicos que tem hemorragia – petéquias, equimoses – mas na ausência dessas situações clínicas não espere! Agora se você precisou esperar os critérios acima excluem Imagem • Evidência de hemorragia • Áreas extensas de hipodensidade óbvia compatível com lesão irreversível → AVC extenso, catastrófico → a isquemia quando aparece, aparece numa área hipodensa → uma área extensa de hipodensidade, se você faz uma trombólise num AVC muito grande a chance de complicar com sangramento é muito grande → talvez não vale a pena fazer SINAIS VITAIS Avaliação inicial do paciente • Pressão arterial ✓ Habitualmente elevada – 220/170 mmHg ✓ Resposta compensatória ao aumento da PIC ✓ Cuidado ao baixar a PA!!! OBS.: O SNC ele controla seu fluxo sanguíneo e a PIC, com exceção do AVC, que o cérebro perde a capacidade de controlar o seu próprio fluxo → o fluxo intracerebral fica dependente da pressão arterial → de forma reflexa a PA aumenta pra manter o fluxo intracerebral e muitas vezes é a PA alterada, elevadíssima que mantém a área de penumbra viva Muitas vezes o paciente é muito sintomático, por que a área de penumbra que é a área que está isquêmica mas ainda não é necrótica, já dá sintoma, a isquemia dá sintoma, mas por conta da PA elevada que está conseguindo manter a perfusão cerebral aquela área de penumbra ainda está viva, se você baixa de forma muito rápida a PA do paciente diminui a perfusão intracerebral e aí você pode perder a área de penumbra, necrosar essa área e piorar o AVC – a PA é uma resposta compensatória ao aumento da PIC • Respiração ✓ AVE ou HIC podem reduzir drive respiratório – o paciente pode sofrer Hipoventilação ✓ Obstrução de via aérea → paciente inconsciente que obstrui a via respiratória por queda de base de língua ✓ Hipoventilação → aumenta o CO2 no SNC → vasodilatação → edema cerebral → aumento da PIC ✓ O2 suplementar se < 94%, Então se o paciente tem sinais de Hipoventilação ou obstrução de via área temos que fazer de tudo pra não permitir o aumento de CO2 → inclusive entubar o paciente Agora se o paciente está consciente sem diminuir o drive, pode suplementar O2 com cateter, caso tiver saturando menor que 94% • Temperatura, glicemia capilar ✓ Febre piora isquemia ✓ Avaliação cuidadosa da glicemia Dados vitais + saturação de O2 + glicemia + TC = desenrolar o tratamento do paciente HISTÓRIA E EXAME FÍSICO • Palpar pulsos • Ausculta cardíaca e pulmonar • Sinais de trauma • Sinais de endocardite, púrpura, equimoses, cirurgia recente – algum sangramento • Sinais de isquemia distal, TVP – distúrbio de coagulação que talvez você precise esperar os exames do paciente • Exame neurológico – topografar lesão, confirmar dados de história e ver a gravidade do AVC: Escalas de Glasgow, Cincinnati, NIHSS → a lesão podeaumentar, é importante saber a escala de quando esse paciente chegou para comparar a evolução dele no tempo Então o que é urgente: além da avaliação clínica inicial e manter a estabilidade hemodinâmica do paciente → saturação de O2, HGT (glicemia capilar) e TC/RM O que é imediato: • ECG, hemograma, troponina, coagulograma (infarto pode causar AVC) • Não devem atrasar a imagem (os exames que são imediatos mas não são urgentes não podem atrasar a imagem e também não deve atrasar a trombólise se você tem a saturação, HGT e imagem → TROMBOLISE) • Não devem atrasar a trombólise (a menos que haja suspeita) Demais exames: • Caso a caso: função renal, fígado, tireoide A única coisa que segura a trombólise é a imagem (principal fator determinante) e a clínica do paciente (a presença dos fatores de exclusão) → fora imagem, HGT e saturação não tem nada que vai segurar a trombólise mas claro que a clínica pode inviabilizar a trombólise MANEJO INICIAL • Tempo é tecido! • História, exame físico, glicemia capilar, satO2, TC sem contraste → conseguiu isso leva adiante • Demais exames complementares a depender da necessidade • Monitorização e reavaliação constantes → o paciente que estava de um jeito um minuto atrás, agora pode estar completamente diferente, por que a isquemia pode ter piorado, o sangramento aumentado AIT você nunca vai trombolizar → paciente que vem com melhora significativa já durante a avaliação inicial é uma contraindicação relativa à trombólise por que pode ser um AIT AVC hemorrágico com desvio de linha média, provavelmente esse paciente já tem uma clínica de hipertensão intracraniana, se você isso aí não dá pra trombolizar Outro AVC hemorrágico com sangramento intraparenquimatoso e para o ventrículo Conceito da área de penumbra isquêmica, que queremos salvar e por isso que tempo é tecido! AVC isquêmico, só temos essa imagem após muitas horas, a da fase aguda pode mostrar uma hipodensidade discreta, mas pode vir quase normal e nesses casos você tem que raciocinar como se fosse isquêmico AVC isquêmico com edema, perdeu a definição dos sulcos e desvio da linha média, não é por que é um AVC isquêmico que não tem hipertensão intracraniana Edema Hemorragia Um AVC isquêmico com complicação hemorrágica MANJEO INICIAL • O2 se necessário • Dieta 0 • Hidratação – individualizado. Solução salina isotônica. Evitar desidratação, evitar água livre, evitar solução com glicose para não fazer hiperglicemia. Deve evitar solução hipotônica → se usa a solução hipotônica você vai fazer edema cerebral • Glicemia – evitar hipoglicemia – corrigir , tolerar hiper (manter <180) → até certo ponto → estudos mostram que manter o paciente normoglicêmico, com glicemia abaixo de 126 o desfecho foi pior • Cabeceira a 30 graus – se você deixar o paciente a 0 graus você pode melhorar a perfusão cerebral, por conta da gravidade, mas piora a PIC já o paciente mais inclinado você pode melhorar a PIC e piorar a perfusão cerebral → deixar o mais confortável pro paciente, se não for um paciente que tenha risco de edema agudo de pulmão ao se deitar • Temperatura → investigar a causa da febre, manter a normotermia → uma meningite, encefalite pode parecer um AVC, endocardite também • Encaminhar para unidade especializada PRESSÃO ARTERIAL • Diferente se AVCh ou AVCi → paciente com AVC hemorrágico você precisa baixar muito mais PA do que no AVC isquêmico, por que? Por que o paciente com AVC hemorrágico apesar da elevação compensatória da PA, se ele ficar muito hipertenso ele pode sangrar de novo e ser catastrófico. Já o paciente com AVC isquêmico, toleramos uma hipertensão muito maior por que sabemos que é uma questão de compensação para manter o fluxo sanguíneo intracerebral que agora depende da PA • Há indicação de trombólise? • Prejuízo da autorregulação cerebral: fluxo sanguíneo dependente da PA • A PA geralmente está alta: necessário para manter perfusão cerebral e área de penumbra OBS.: A pressão é compensatória, é essa PA alta que mantém a pressão intracraniana, que está mantendo o cérebro perfundido, por que o cérebro não consegue controlar a sua perfusão, se você baixa, você está tirando um mecanismo compensatório do corpo. A pressão não tá alta só porque o paciente “avecezou”, o corpo eleva a pressão de propósito, para manter a perfusão da área de penumbra, se você abaixa isso, corre o risco de diminuir a PIC e aumentar a isquemia, então por isso que no AVC isquêmico você tolera a pressão porque é o corpo se autoregulando. AVEi com indicação de trombólise – se você trombolizar um paciente com uma pressão muito alta o risco de sangramento é maior, então se o paciente está hipertenso e tem que trombolizar você tem que baixar a pressão dele para pelo menos: • Sistólica ≤185 mmHg, diastólica ≤ 110 mmHg • Após trombólise: 180/105 por 24 horas E como faz isso? Ataque bolus repetidos de anti-hipertensivos endovenoso → melhor droga? Labetelol... até nitroprussiato AVEi sem indicação de trombólise • Tolerar PA elevada – não tem motivo para abaixar a menos que ela esteja maior que 220/120 • Só tratar se > 220/120 mmHg (15% nas 24h) → DEVAGAR!!! E não precisa abaixar depressa, para não matar o paciente. AVEh por hemorragia intracerebral • Se PAS 150-220, reduzir para 140 mmHg (na sistólica) • Se PAS > 220, redução agressiva até 140 → se não ele sangra de novo e morre Agora em caso de AVC hemorrágico, o corpo aumenta a PA de forma compensatória o problema é que tem um vaso rompido lá em cima → não dá! AVEh por HSA • O tratamento ideal não é bem estabelecido • Manter PAS < 160 ou PAM < 110 → feito com anti-hipertensivos endovenosos → vai o que você tem Você antiagrega todo paciente com AVC isquêmico? Sim, mas não na fase inicial, depois das 24h. TERAPIA ESPECÍFICA DO AVEI • Alteplase EV- trombolítico de primeira linha • Trombectomia mecânica – oclusão de grandes vasos da circulação anterior (24H) → independente do uso prévio de alteplase (trombólise) • AAS – dentro de 48 horas • Profilaxia para TVP/TEP com heparina Diferença do anticoagulante pro trombolítico: hemostasia – heparina (anticoagulante) impede que o trombo aumente e impede a formação de novos trombos, mas ela não quebra um trombo já formado, quem faz isso é o trombolítico TERAPIA PARA A CONDIÇÃO CLÍNICA DO AVEI • Estatina – assim que possível medicação VO (de preferência que não seja sinvastatina, uma estatina mais potente) • Tratamento a longo prazo da PA • Medidas comportamentais → parar de fumar, controlar a dieta TERAPIA ESPECÍFICA DO AVEH Hemorragia intraparenquimatosa • Reverter anticoagulação se ele faz uso de anticoagulante • Controle da PIC ✓ Cabeceira elevada ✓ Sedação leve ✓ Evitar hidratação com fluídos hipotônico • Tratamento de HIC ✓ Solução hipertônica ou manitol → puxar água de dentro do cérebro ✓ Drenagem ✓ Sedação profunda ✓ Hiperventilação → ventilação mecânica → reduz CO2 → diminui edema • Cirurgia → descomprimir para controlar a hipertensão intracraniana Hemorragia subaracnóidea • A medida mais importante na fase aguda é prevenção de novo sangramento por correção do aneurisma • Controle da PA, manter a euvolemia • Prevenir vasoespasmo (nimodipino 60mg 4/4 – via oral ou sonda, não pode ser via EV) • Prevenir isquemia • Reversão de anticoagulação O tratamento definitivo de um aneurisma é cirúrgico → clipe num aneurisma ou o coion → uma molinha que enrola no aneurisma pra ele não sangrar O tratamento é prevenção, pouca coisa pode ser feita depois que umpaciente “aveceza”, o que podemos fazer é salvar a vida e impedir que a lesão piore, porque já morreu célula, já sangrou, então a prevenção é tratar a hipertensão, tratar a dislipidemia, a diabetes...