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TDFF02_Un 1 - O sinal de Cristo

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GRADUAÇÃO TEOLOGIA - EAD 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEOLOGIA DOS 
SACRAMENTOS I 
Professor Dr. Manoel Pacheco 
EAD 
TEOLOGIA DOS SACRAMENTOS I 
Graduação Teologia EAD Página 1 
 
 
UNIDADE II 
 
1. O “Sinal-Cristo” 
 
Entre os “sinais-realidade” do Novo Testamento, o primeiro e fundamental “sinal” é 
Cristo em si mesmo, enquanto sacramento da realidade eterna, que é a relação de amor de Deus ao 
ser humano. Em outras palavras, o amor de Deus pelo ser humano é a realidade da qual Cristo, na 
sua existência humano-divina, é o “sinal”. 
 
Esse valor de “sinal” revestido de Cristo fica claro já em Lc 2,10-12: “Eu vos anuncio 
uma grande alegria, que será também a de todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o 
Salvador, que é o Cristo Senhor! E isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido, 
envolto em faixas e deitado numa manjedoura”. Nas palavras dos evangelistas, percebe-se 
claramente o eco de Is 7, 11-14; em que o filho de uma virgem é dado como “sinal” à casa de 
Davi: Pede um “sinal” ao Senhor teu Deus (...). Ouvi, então, casa de Davi: o próprio Senhor vos 
dará um “sinal”. Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho. O sentido das palavras de Lc 2, 
10-12 é claro: o menino recém-nascido na cidade de Davi é proclamado “Messias”, mas é ao 
mesmo tempo o “sinal” da “salvação” (nasceu para nós um salvador), que nele vai se atuando. Ou 
seja, é um “sinal-realidade”. 
 
Em Jo 6,28; Cristo se proclama pessoalmente como aquele que exerce o papel de “sinal 
de Deus”. O termo grego usado nos leva à sphragìs (“sinal”), que é por excelência o “sinal” 
sacramental cristão, porquanto é sinônimo de “sacramento”, (“sinal sagrado”) do Batismo-Crisma, 
e indica uma “realidade de consagração” obtida através de um “sinal”. Neste caso Cristo mesmo, 
com o seu gesto de dar de comer aos famintos, apresenta-se como “sinal” garantidor da vontade 
de Deus e de sua intervenção salvífica, que consistirá em dar o “pão da verdadeira vida” ao 
mundo. 
 
Este valor “sinal” de Cristo é expresso repetidamente por São Paulo, quando ele fala de 
Cristo como “sacramento” (Cl 1, 27; Ef 3, 3.9); e “mistério” (Cl 1, 26; 2,2; Ef 3,4), para indicar 
que Cristo é aquele no qual se faz presente e se revela o desígnio eterno do amor de Deus, que 
quer a salvação dos homens. 
 
 
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Cristo, em síntese, enquanto concreta “encarnação da Palavra” de Deus, é o “sinal” no 
qual se revela a “realidade acontecida” da salvação e deste modo é o “sinal” por excelência do 
Novo Testamento, que é precisamente “realidade” em relação ao Antigo Testamento. 
 
2. Os “sinais” de Cristo 
 
O texto já citado de Jo 6,26-28, no qual Cristo se declara abertamente “sinal de Deus”, 
estabelece com clareza a relação entre aquilo que Cristo é e aquilo que Cristo faz, e é uma relação 
no plano do “sinal”. 
 
O Evangelho de João é rico em sinais, depois da descrição do início da vida pública de 
Cristo, lemos: Este início dos sinais, Jesus o realizou em Caná da Galileia. Manifestou sua 
glória, e os seus discípulos creram nele (Jo 2,11). 
 
O evangelista narrou o milagre da transformação da água em vinho nas bodas de Caná, e 
o fato é qualificado como o “começo dos sinais” operados por Jesus. O acento não é posto sobre o 
fato prodigioso em si, mas sim sobre o “significado” de que o fato se reveste, e que pode ser assim 
resumido; o fato narrado é “sinal” de outro “vinho”, que Cristo dará em sinal de aliança (que está 
implícita nas “bodas” aqui narradas), e esse “vinho” será o seu próprio “sangue” (aqui lembrado 
pela referência à sua “hora”, que ainda não chegou e que notoriamente, no Evangelho de João, 
significa a morte redentora de Cristo). 
 
Notem bem aqui a argumentação que segue: as versões do grego traduzem semèia com a 
palavra “milagres”, que, entretanto, tem o seu próprio correspondente na palavra tèrata. Para 
João, assim como os demais evangelistas, não passa despercebida a fórmula semèia e tèrata 
(“sinais e milagres”); todavia, quando quer indicar uma ação milagrosa singular de Cristo – já que 
esta não é feita para demonstrar um impulso de força e de potência sobrenatural, e sim algo que 
tem um fim e um “significado” em outro nível – nunca a chama de “milagre” (teras) mas sim de 
“sinal” (seméion). 
 
Esse valor “sinal” do milagre em João é sublinhado pelo fato de que normalmente cada 
fato prodigioso é seguido por uma “explicação”, com o objetivo claro de evidenciar que o próprio 
fato deve ser considerado em sua posição de “sinal”. De resto, João sempre põe os “sinais” em 
relação com a “fé”. Dentre os inúmeros textos, reportamos as palavras de encerramento do 
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Evangelho de João 20,30: “Jesus realizou diante dos discípulos muitos outros sinais (...). Estes, 
porém, foram escritos para que creiais”. 
 
O evangelista usa quase sempre a palavra no plural (“sinais”) quando não fala de um 
sinal determinado (Cf. Jo 2,23; 3,2; 2,2-26; 9,16; 11,47; 12,37; 20,30). O uso da palavra “sinal” é 
uma espécie de formulação teológica dos milagres-obras de Cristo e demonstra o fato de que o 
termo aparece sempre quando é o próprio evangelista quem está propondo uma reflexão ou 
narrando. Pelo contrário, quando é Jesus quem fala, para indicar as suas ações milagrosas, ele usa 
sempre a expressão “obras” (érga). 
 
Obras suas: Jo 5,20.36; 6,29; 7.3.21; 9,3s; 10, 25.32.37s; 14,10s; 17,4; 
 
As obras do Pai são vinculadas às suas obras: Jo, 4,32; 5,36; 9,3s; 10,32; 14,10; 17,4. 
Uma única exceção aparece para Jo 6,26: “Não tendes entendido os sinais”. Exemplos: 
 
- Jo 2,23: “Estando em Jerusalém, na festa da Páscoa, muitos creram no seu nome, 
vendo os sinais que realiza” (é o evangelista quem fala). 
 
- Jo 5,36: “As obras que o Pai me concedeu realizar, justamente as obras que eu faço, 
dão testemunho de mim, pois mostram que o Pai me enviou” (é Jesus quem fala). 
 
Isso mostra que os “sinais”, na mentalidade do evangelista, são uma interpretação 
teológica das “obras” de Deus feitas por Cristo, e que o sinal vale não enquanto “milagre”, mas 
sim enquanto “explicação” para a compreensão de uma ação divina, ou seja, enquanto revelador 
de uma vontade de salvação. 
 
Há sempre na palavra sinal, a referência à revelação de uma obra que Deus faz pela 
salvação dos seres humanos, portanto, se João fala dessa obra, preocupa-se não com o seu aspecto 
milagroso, mas sim com a relação existente entre a “obra” e o valor de “salvação” trazida por 
Cristo. E Cristo explica, isto é, apresenta como sinais as obras que ele faz. Essa é precisamente a 
orientação seguida no Evangelho de João, que nas “obras-sinais” de Jesus já vê em ação os 
“sacramentos” da Igreja, razão pela qual também nesta última continua a obra de salvação 
inaugurada por Cristo. 
 
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3. Os sacramentos no Evangelho de João 
 
O motivo pelo qual nos detivemos na análise do sinal joanino na conclusão do estudo 
sobre os sinais, pré-revelação e revelação (Antigo e Novo Testamento) é, que o Evangelho de 
João quanto mais o estudamos, mais nos damos conta que é por excelência o Evangelho 
sacramental e o Evangelho eclesial, esses dois conceitos que devem ser tomados juntos. 
 
O culto cristão está centrado sobre os sacramentos. É precisamente a visão cultual que 
desperta o interesse por esse Evangelho. Dois são os aspectos que mostram como esse Evangelho 
está totalmente centrado sobre o culto: 1) os quadros sucessivos que o compõem - cada quadro 
corresponde a uma festa litúrgica - 2) o pano de fundo dos discursos e da ação de Cristo é 
constituído por ações rituais judaicas, nas quais Cristo, de um modo e de outro, intervém. 
 
a) Os quadros das festas (festas litúrgicas) 
 
Com exceção de Jo 6 (a multiplicação dos pães), que se passa na Galileia,perto do lago 
de Tiberíades, no outro lado de Cafarnaum, mas que já tem uma referência ideal a Jerusalém 
porque as pessoas que comem o pão multiplicado iam para Jerusalém para a festa da Páscoa (para 
onde Cristo também estava indo), todo o Evangelho de João se desenvolve em Jerusalém, ao 
contrário do que ocorre com os Evangelhos sinóticos. 
Estes, em sua maior parte, situam o desenvolvimento da obra de Cristo na Galileia com 
raras passagens pela Judéia, apresenta-nos Cristo em Jerusalém só na última Páscoa, a Páscoa da 
morte; só então “entra” em Jerusalém. Não que Jesus não tivesse ido para Jerusalém também nos 
outros anos. Ele ia, certamente, como todos os bons Judeus, mas os sinóticos não se preocuparam 
com isso; em toda a sua obra, procuram (os sinóticos) apresentar o Evangelho do cumprimento do 
Antigo Testamento, mas, tentam evitar tudo aquilo que pode ter qualquer referência concreta com 
o judaísmo daquele tempo: 
 
Marcos, por exemplo, porque os romanos não entendiam essas coisas, e por isso sequer 
as mencionava; Mateus, por sua vez, porque escrevia num ambiente judeu-cristão no qual não era 
o caso de reacender o fogo do amor pelo velho judaísmo naqueles cristãos com tanta dificuldade; 
São Paulo sabia muito bem disso – queria dele se afastar; Lucas – totalmente sob o influxo de São 
Paulo, que chama o Evangelho de “o meu evangelho” – colocava-se, por sua vez, numa posição 
claramente anti-judaica. João, pelo contrário, não tem preocupações dessa natureza. 
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O quarto Evangelho enfoca toda a vida de Cristo justamente no âmbito de Jerusalém, e 
precisamente nas chamadas “festas de peregrinação”. João menciona: 
 
b) As ações litúrgicas 
 
Observemos esses elementos chaves que se encontram nos discursos de Cristo. 
 
Batismo: 
Como “renascimento” (discurso a Nicodemos; 3, 1-21); 
 
Como “iluminação” (ao cego de nascença: 9, 1-39). Este irá se tornar o termo técnico 
para o Batismo (iluminatio): “Aqueles que foram iluminados” (isto é, batizados), dirá São Paulo 
(Hb 6,4); fotismós, na Igreja grega, é o nome do Batismo; 
 
Como “ressurreição” (doente do pórtico de Bezata: 5, 1-14); 
 
Como “verdadeira circuncisão” (2,21-24). 
 
Eucaristia: (multiplicação dos pães, Jo 6). 
 
Purificação dos pecados (em lugar das purificações legais): atribuída à palavra (5,3); 
Atribuída ao Espírito Santo e dada na Páscoa (20,22). 
 
O fio condutor das narrativas do Evangelho de João é um só: o Mistério Pascal de Cristo. 
Verificamos por exemplo em Jo 1, 29.36; “No dia seguinte (...), João viu que Jesus vinha a seu 
encontro e disse: Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (...). Vendo Jesus 
caminhando, disse: “Eis o Cordeiro de Deus”. A exclamação de João é a expressão típica do 
anúncio de Páscoa. 
 
Jo 2,13: “Estava próxima a Páscoa dos Judeus; Jesus, então, subiu a Jerusalém”. Jo 6,4: 
“Estava próxima a Páscoa, a festa dos Judeus”. 
Jo 13, 1: “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora de passar 
deste mundo para o Pai”. 
Jo 19, 36: “Isto aconteceu para que se cumprisse a Escritura que diz: “Não quebrarão 
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nenhum dos seus ossos” (não se devia quebrar nenhum osso do cordeiro; por isso que de Cristo 
abriram-lhe o costado). No seu Evangelho, João quer demonstrar que Cristo é a Páscoa e o é não 
somente na sua morte; Páscoa significa “passagem de libertação”, e Cristo é o libertador, o 
Salvador, toda a sua atividade terrena através dos “sinais” está revelando esta realidade, os 
“sinais” são já o acontecimento concreto desta realidade salvífica, assim como os sacramentos são 
“sinais eficazes” da “presença” constante e perene graça salvífica no meio de nós. 
 
4. Evangelho Eclesial 
 
João escreveu o Evangelho no final do século I, quando já existia uma organização no 
plano cultual plenamente estabelecida e muito claramente distinta do judaísmo. Portanto, João 
conhece os sacramentos da Igreja; e esta é a sua teologia: as realidades (os sacramentos) que ele 
vê existentes na igreja naquele tempo específico são a concretização, no tempo da Igreja, de 
acontecimentos da história de Cristo, entendido no sentido de crônica de fatos acontecidos num 
determinado momento histórico, mas como sinais e, precisamente, como “sinais” da história da 
salvação, da forma como esta se realizou em Cristo e como ainda se realiza na Igreja. Aquilo que 
então significou um início, João o considera realizado na Igreja, e aquilo que se realiza na Igreja 
ele o explica citando os discursos que Cristo fez com os seus próprios sinais. 
 
Esse valor “sinal” que João dá aos acontecimentos e à própria vida de Cristo serve ao 
evangelista para estabelecer a ligação, a unidade, entre o Senhor da Igreja (Kyrios: Senhor, Deus 
Senhor glorificado) e o Jesus da história, objeto da narração. Ele narra o que Jesus fez, mas o vê 
como “sinal” da história da salvação e, portanto, como obra do Cristo, que para ele hoje é o 
Senhor que existe e age, presente de forma espiritual, isto é, invisível, mas realmente na Igreja e 
nos sacramentos. Em outras palavras, o fato por ele concebido nos dias históricos da vida de 
Cristo contêm, a indicação e a explicação daqueles que são os fatos sacramentais – e por isso 
relativos à história da salvação – existentes na Igreja mesmo depois da existência histórica de 
Cristo. Além do mais, esses fatos posteriores – é isso o que João quer explicar – têm o seu 
fundamento nos próprios fatos da vida de Cristo. 
 
João, portanto, não faz uma narração simbólico-alegórica, mas dá uma interpretação 
teológico-eclesial da cristologia do Novo Testamento. Os acontecimentos que João narra são 
indício, o sinal e, ao mesmo tempo, a essência da realidade cristológica do Novo Testamento, isto 
é, do fato central do Novo Testamento (Cristo enquanto Messias salvador), e ele os interpreta 
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colocando-se numa posição teológico- eclesial: aquilo que hoje acontece na Igreja é a continuação 
do ser de Cristo no Novo Testamento, ou seja, a continuação da salvação tal como esta se revelou 
no tempo do Jesus histórico. 
 
De fato, João conclui o seu Evangelho com o texto que vimos: “Jesus realizou diante dos 
discípulos muitos outros sinais (...). Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o 
Cristo, o Filho de Deus” (20,30). 
 
5. Reflexões conclusivas sobre os “sinais”. 
 
Iniciando com o judaísmo até o cristianismo, vimos que os “sinais” estão em relação com 
momentos da presença ou da intervenção divina na história humana. Tal relação faz com que, em 
virtude desses “sinais”, a história humana venha a estar realmente ligada ao manifestar-se de 
Deus, em diversos modos e diferentes tempos, sendo uma idêntica salvação, criando aquela que 
chamamos precisamente de história da salvação. Desse modo, a história dos seres humanos não 
fica puramente num nível humano, mas é elevada ao nível de “história da salvação”. 
 
Os sinais, por outro lado, quanto ao seu significado – porque o sinal tem sempre um 
significado – não indicam só uma intervenção divina – destacada, por assim dizer -, mas são 
elementos de diálogo entre Deus e o homem; o homem responde ao sinal de Deus. De fato, o 
homem cria o sinal para poder se lembrar da intervenção divina, para poder perpetuar sua 
memória, inclusive fora de si mesmo (para si, bem como para aqueles que virão depois dele). 
Portanto, o sinal é sempre um momento que deve provocar e provoca uma reação no ser humano. 
 
No Evangelho de João, vemos que é sempre esse ponto que, ora Cristo diretamente, ora o 
evangelista comentando as palavras do Senhor, insistem: “Vós vistes os sinais e não credes”. Ver 
os sinais sem crer significa que acaba faltando a reação que o sinal deve produzir; o sinal, se não 
falar, não é um sinal;se fala, todavia, exige uma resposta. 
 
Portanto, os sinais formam a unidade no plano da História da Salvação, são sempre 
revelação-atuação, daquela única realidade, como presença prometida no judaísmo e como 
presença atuada no Cristo histórico. Toda a celebração dos sacramentos na Igreja é uma ação do 
próprio Cristo. 
 
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Nos escritos de São Paulo, fala-se de um “Mistério de Deus”: o plano que Deus mantém 
escondido desde todos os séculos (Cl 1,25; Ef, 1,9); quando esse plano de salvação se revela, de 
“Mistério de Deus” se transforma em “Mistério de Cristo” (Ef 3,3; Cl 1,27; 2,2). As duas 
expressões parecem iguais, mas, na realidade, não têm o mesmo significado. 
 
Em outras palavras, do ponto de vista terminológico, falar de “mistério de Cristo” é bem 
exato; menos exato é falar de “Mistério de Deus”. Isso porque “mistério” ao contrário daquilo que 
normalmente pensamos tendo por base o uso corrente da palavra, etimologicamente significa não 
“aquilo que está oculto”, mas sim “revelação daquilo que estava oculto”. 
 
A palavra mistério = mystéria é traduzida com initia, que em português deu lugar a 
“iniciação” com o significado de “ingresso, início de conhecimento”. A iniciação aos mistérios de 
uma religião em grego é chamada de mystérion (do verbo myein, que quer dizer precisamente 
“iniciar a”, “ensinar”, “fazer conhecer”, acrescido do sufixo – térion, que normalmente é 
acrescentado à palavra para fazer lembrar o lugar no qual se desenvolve a ação ou o modo da ação 
feita; este tem, por isso, sempre um significado concreto. 
 
Cristo é o “modo” e o “lugar”, o “momento” no qual Deus se revela. 
 
A realidade “Cristo” é uma realidade invisível, existente no mundo desde o princípio 
“nele que foram criadas todas as coisas (...), Ele é a cabeça de tudo o que existe, ele é o 
primogênito de toda criatura” (Cl 1,15-16); portanto, é aquele que guia, que move que está no 
princípio da criação. A criação não o vê, não o sente, mas ele é o primeiro e está na criação. Esta 
presença invisível de Cristo é a presença dominante também na religião natural, a que justifica 
aquilo que chamamos de “lei natural”. 
 
Tal presença, em determinados momentos, é prometida como presença visível e somente 
prometida ou preanunciada e isso é o judaísmo, o qual “crê no Cristo vindouro”. Isso não quer 
dizer, no entanto, que o judaísmo estivesse vendo diante de si uma determinada verdade chamada 
“Cristo”; o judaísmo obedece a uma “lei” de Deus, a qual é ordenada a preparar o momento no 
qual Cristo se revelará; o fato de o povo se deixar guiar por esta voz comporta uma aceitação 
implícita daquilo que a voz contém. 
 
A presença é revelada: no Novo Testamento, Cristo diz: “Eis que estou no meio de vós” 
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(Mt 28,20); no Antigo testamento Deus havia dito: “Eu estarei no meio de vós” (Ex 29,43). Há 
muitos modos de estar “no meio de vós”. Em determinado momento Deus opera isso de modo 
visível: “Vós podeis me ver (...). Quem me vê, vê o Pai (Jo 14,9). No “meio de vós”, hoje na 
Igreja, através dos sacramentos.

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