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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - UERN DIREITO DO TRABALHO – I PROF. MARCELO ROBERTO Pesquisa jurisprudencial Trabalho Escravo Contemporâneo Discente: Taynara de Souza Silva Processo nº: TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 A Sétima Turma do Tribunal Superior do Trabalho (TST) decidiu, por unanimidade, condenar por dano moral coletivo os proprietários de duas fazendas localizadas na Rodovia Transamazônica no interior do Estado do Pará (PA). Eles submetiam trabalhadores a situação degradante, análoga à escravidão. O processo judicial teve origem na denúncia de que 80 empregados responsáveis pela derrubada de árvores e retirada de raízes para a formação de pastagens ficavam alojados em barracos cobertos de palha e lona plástica no meio da mata. Segundo a denúncia, feita por um dos empregados, as necessidades fisiológicas eram realizadas a céu aberto, sem qualquer privacidade, e a água para consumo era de má qualidade, retirada de córrego nas proximidades do alojamento. O Grupo Móvel de Fiscalização do Ministério do Trabalho, acionado para fazer o atendimento da denúncia, lavrou 13 autos de infração de registro de empregados, pagamento de salários, EPIs, instalações sanitárias, condições de conforto e higiene (refeitórios) e fornecimento de alojamento e água potável. A ação registrou ainda a reincidência dos proprietários que mantinham em outra fazenda 142 trabalhadores submetidos a trabalho escravo. Naquela ocasião, os fazendeiros deixaram de quitar dívidas de verbas rescisórias calculadas em R$ 250 mil. O MPT alegou que “o que se pretende é a tutela dos trabalhadores diretamente explorados pela Reclamada, bem como de toda a sociedade ofendida, na medida em que a prática ilícita do denominado ‘trabalho escravo’ viola a dignidade dos trabalhadores e direta e indiretamente toda a sociedade, com repercussão no âmbito internacional” Em sua defesa, os proprietários sustentam a inexistência nas fazendas de qualquer espécie de trabalho escravo. Afirmam que as propriedades possuem alojamento, água encanada e benfeitorias, não ocorrendo qualquer ato que reduza os empregados às condições análogas às de escravos. Por fim, argumentam que os empregados não têm limitação de locomoção, inclusive saem para fazer compras e telefonar para a família. Em primeiro plano, o Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região, com sede em Belém (PA), afastou a condenação por dano moral coletivo que havia sido imposta pela 1ª Vara do Trabalho de Tucuruí (PA). Para o TRT, o descumprimento de regras mínimas de saúde e higiene, por si só, não caracteriza “escravidão moderna”, tampouco as más condições de trabalho possibilitam o reconhecimento de dano moral. O Ministério Público recorreu ao TST. No entanto, a Sétima Turma decidiu pela condenação por dano moral coletivo. Segundo os ministros, a jurisprudência do TST é no sentido de obrigar o empregador a assegurar “condições mínimas de saúde, higiene e segurança aos empregados onde quer que eles sejam levados para executar seu trabalho, o próprio Tribunal Regional destacou o descumprimento de normas trabalhistas de saúde e higiene. Na decisão em que se deu provimento a recurso do Ministério Público do Trabalho, fixou-se o valor da condenação em R$ 200 mil por descumprimento de normas trabalhistas de saúde e higiene. Por fim, para os ministros, os proprietários das fazendas submeteram os empregados a condições degradantes de trabalho. Fonte: http://www.tst.jus.br/noticias/-/asset_publisher/89Dk/content/fazendeiros-sao- condenados-por-manter-trabalhadores-em-situacao-analoga-a-de-escravos Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. A C Ó R D Ã O 7ª Turma GDCMEN/CSV/GT/csn/iz RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO REGIONAL PUBLICADO ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. LEGITIMIDADE ATIVA. MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. 1. Consoante prevê o art. 129, III, da Constituição Federal, o Ministério Público detém legitimidade para a defesa de direitos coletivos lato sensu, incluindo-se, em tal grupo, direitos individuais homogêneos. 2. O exame da peça de aditamento (fls. 884/896 da numeração eletrônica), de que constam os direitos ora controvertidos, revela que o MPT postulou o pagamento de verbas rescisórias dos contratos dos empregados alegadamente resgatados em situação análoga à escravidão, tais como aviso prévio indenizado, férias e gratificação natalina. 3. Trata-se de parcelas trabalhistas afetadas ao patrimônio jurídico de cada empregado individualmente, mas que também ostentam origem comum, decorrente da ação atribuída aos Reclamados. 4. Tais características revelam direitos individuais homogêneos coletivamente tuteláveis e de inequívoca relevância social, nos termos do art. 81, parágrafo único, III, da Lei nº 8.078/90, o que atrai a legitimidade ativa do MPT. Precedentes. 5. Recurso de revista do MPT de que se conhece, por violação dos arts. 129, III, da Constituição Federal, 21 da Lei n° 7.347/85, e art. 81, parágrafo único, III, da Lei nº 8.078/90, e a que se dá provimento. DANO MORAL COLETIVO. CONDIÇÕES DEGRADANTES DE TRABALHO. DESCUMPRIMENTO DE NORMAS TRABALHISTAS E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.2 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. DE SAÚDE E HIGIENE. 1. Discussão em torno da viabilidade de configuração de dano moral coletivo decorrente do não oferecimento de condições mínimas de saúde, higiene e segurança para o trabalhador rural. 2. Hipótese em que o Tribunal Regional afasta a configuração de trabalho em condições análogas às de escravo pelos trabalhadores rurais, porque entende que o descumprimento das regras mínimas de segurança, saúde e higiene do trabalhador não caracteriza escravidão moderna. 3. Apesar de o Tribunal Regional não haver identificado condições de trabalho análogas às de escravo, registrou que: (a) as frentes de trabalho poderiam se distanciar “mais de 20 km da sede da fazenda; (b) havia alojamentos “cobertos com lonas e palhas”; e (c) o trabalho penoso também precisa ser realizado por algum ser humano”. Sucede que, à luz da farta jurisprudência do TST, o empregador deve assegurar condições mínimas de saúde, higiene e segurança aos empregados aonde quer que eles sejam levados para executar seu trabalho. 4. O contexto fático delineado no acórdão regional permite concluir que as más condições de trabalho caracterizaram não somente ofensa às normas de proteção do trabalho, mas, sobretudo, lesão à dignidade dos trabalhadores e à coletividade apta a autorizar a reparação patrimonial pretendida pelo Ministério Público do Trabalho. 5. Devida, assim, a indenização por dano moral coletivo decorrente das condições extremamente degradantes de trabalho a que eram submetidos os trabalhadores em virtude do descumprimento de normas trabalhistas de segurança, saúde e higiene. E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.3 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. Precedentes. 6. Recurso de revista interposto pelo MPT de que se conhece, por violação do art. 5º, V, da Constituição Federal, e a que se dá provimento. 7. Em decorrência do conhecimento do recurso de revista por violação do art. 5º, V, da Constituição Federal, seu provimento é medida que se impõe, para condenar os Recorridos, solidariamente, ao pagamento de indenização por dano moral coletivo no importe de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), que deverá ser revertido ao FAT. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revista n° TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110, em que é Recorrente MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO DA 8ª REGIÃO e são Recorridos VALDIR LEANDRO DE SÁ, JOSÉ CARLOS GALLETTI e ABRAÚNES SILVA LACERDA E OUTROS. O Tribunal Regional do Trabalho, na análise dos recursos ordinários, decidiu “acolher a ilegitimidade ativa relativamente aos pleitos veiculados no aditamento”, “excluir da condenação as penas de litigância de má-fé impostas na sentença de embargos de declaração” e “dar parcial provimento aos apelos, para, reformando, em parte, a r. sentença recorrida, excluir da condenação a indenização por danos morais coletivos”. O Ministério Público do Trabalho da 8ª Região interpôs recurso de revista. A insurgência foi admitida quanto ao tema "MPT - LEGITIMIDADE", por divergência jurisprudencial (decisão de fls. 6.154/6.155 da numeração eletrônica). Foram apresentadas contrarrazões. Os autos não foram remetidos ao Ministério Público do Trabalho. É o relatório. E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.4 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. V O T O 1. CONHECIMENTO Foram atendidos os pressupostos extrínsecos de admissibilidade. 1.1. LEGITIMIDADE ATIVA. MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS O TRT declarou, de ofício, a ilegitimidade ativa do Ministério Público do Trabalho para postular as “parcelas veiculadas no Aditamento”, mediante a adoção dos seguintes fundamentos: “AÇÃO CIVIL PUBLICA - FALTA DE LEGITIMIDADE DO ÓRGÃO AUTOR – ADITAMENTO Suscito, de oficio, a preliminar de ilegitimidade de parte no polo ativo da presente demanda relativamente às parcelas veiculadas no aditamento. Assim o faço em decorrência do efeito translativo dos recursos ordinários e do princípio da economia processual, que impõem ao órgão julgador, de oficio, extinguir o processo sem resolução de mento por ilegitimidade de parte, quando se verifique matéria de ordem publica, capaz de gerar a rescindibilidade do julgado, pois considerando que a Ação Civil Publica não e o meio adequado para defesa de interesses individuais, não sendo, portanto, o Ministério Público do Trabalho parte legitima para intenta-la. A legitimidade figura na teoria do processo como uma das condições da ação, sem o que o autor é carecedor do direito de ação, acarretando a extinção do processo. Consoante determina o art. 301, §4 , do CPC, a exceção do compromisso arbitral, „o juiz conhecera „de oficio‟ da carência de ação, não subsistindo dúvidas, portanto, de que a legitimidade de parte e daquelas matérias que o juiz deve conhecer de oficio. Conforme se sabe, o pedido de condenação em dinheiro na ação civil publica pressupõe que o réu ou réus tenham provocado dano em relação a determinado bem jurídico protegido. E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.5 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. Na presente hipótese, embora haja o pedido especifico do Ministério Público de aplicação reflexa das sanções da Lei 8.212/91, considerados a existência de supostos contratos de trabalho, o que implicaria em recolhimento previdenciário, bem como o ressarcimento aos cofres da União, vê-se que os fatos narrados no aditamento não trazem a conclusão pretendida. Com efeito, é certo que o que o Ministério Público do Trabalho postula são direitos de cunho individual que devem ser provados caso a caso, em instrução própria. Ora, na hipótese, os danos noticiados teriam sido causados ao patrimônio de particulares, não protegidos pela Lei que rege a Ação Civil Publica e cujos prejuízos devem ser pelos mesmos perseguidos, se assim o desejarem, pela via própria, neste ponto, não haveria sequer a legitimidade do Ministério Publico para postular. Com efeito, a ação civil publica não é o meio hábil a pretensão de tutela a interesses disponíveis e privados que não se inserem dentre aqueles interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos protegidos pela lei que rege a ação civil publica. Assim, e nos termos do art. 267, VI, do Código de Processo civil o processo deve ser extinto sem Resolução de mento quando „não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual‟. O TRT, ao examinar recurso, atua como instância ordinária e realiza, ampla cognição, cabendo-lhe rever fatos e provas e reexaminar questões de ordem publica relacionadas as condições da ação e aos pressupostos processuais. Deste modo, extingue-se a presente ação, em relação aos pedidos feitos no aditamento, sem resolução de mérito.” (fls. 5.018/5.020 da numeração eletrônica; grifos nossos). O MPT alega que “o que se pretende é a tutela dos trabalhadores diretamente explorados pela Reclamada, bem como de toda a sociedade ofendida, na medida em que a prática ilícita do denominado ‘trabalho escravo’ viola a dignidade dos trabalhadores e E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.6 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. direta e indiretamente toda a sociedade, com repercussão no âmbito internacional” (fl. 6.145 da numeração eletrônica). Aponta violação dos arts. 127 e 129, III, da Constituição Federal, 6°, „a‟ e „d‟, e 83, III, da Lei Complementar nº 75/93, 1°, IV, e 21 da Lei n° 7.347/85, e art. 81, parágrafo único, III, da Lei nº 8.078/90. Transcreve arestos para comprovação de divergência jurisprudencial. Inicialmente, registra-se que não se discute a legitimidade do Ministério Público do Trabalho, em si, para a defesa de direitos coletivos lato sensu prevista no art. 129, III,da Constituição Federal, mas se as parcelas postuladas assumem o caráter de direitos individuais homogêneos e admitem tutela coletiva. O exame da peça de aditamento (fls. 884/896 da numeração eletrônica) revela que o MPT postulou o pagamento de verbas rescisórias dos contratos dos empregados alegadamente resgatados em situação análoga à escravidão, tais como aviso prévio indenizado, férias e gratificação natalina. Não há dúvida que se trata de parcelas trabalhistas afetadas ao patrimônio jurídico de cada empregado individualmente. Percebe-se, também, que a violação de referidos direitos ostenta origem comum, decorrente da ação atribuída aos Reclamados. Tais características revelam direitos individuais homogêneos coletivamente tuteláveis, nos termos do art. 81, parágrafo único, III, da Lei nº 8.078/90. A omissão atribuída aos Reclamados relativa à falta de pagamento das verbas rescisórias atingiu diretamente todos os empregados, levando a questão comum (inadimplemento geral de parcelas trabalhistas) a se sobrepor às particularidades de cada indivíduo, superáveis em sede de liquidação. De tal sorte, o Ministério Público do Trabalho ostenta legitimidade para atuar em defesa dos referidos direitos individuais dos empregados, coletivamente tuteláveis. E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.7 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. No mesmo diapasão, a jurisprudência desta Corte: “RECURSO DE EMBARGOS INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI N.º 11.496/2007. LEGITIMIDADE ATIVA. MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. INTERESSE SOCIAL RELEVANTE. 1. Na dicção da jurisprudência corrente do Supremo Tribunal Federal, os direitos individuais homogêneos nada mais são senão direitos coletivos em sentido lato, uma vez que todas as formas de direitos metaindividuais (difusos, coletivos e individuais homogêneos) são direitos coletivos e, portanto, passíveis de tutela mediante ação civil pública (ou coletiva). 2. Consagrando interpretação sistêmica e harmônica às leis que tratam da legitimidade do Ministério Público do Trabalho (artigos 6º, VII, letras c e d, 83 e 84 da Lei Complementar n.º 75/1993), não há como negar a legitimidade do Parquet para postular tutela judicial de direitos e interesses individuais homogêneos. 3. Constatado, no presente caso, que o objeto da ação civil pública diz respeito a direito individual que, por ostentar origem comum - uma vez que decorre de irregularidade praticada pela empregadora, relativa ao não pagamento das verbas rescisórias, consoante previsto no artigo 477, § 6º, da CLT -, qualifica-se como direito individual homogêneo, atraindo, assim, a legitimidade do Ministério Público do Trabalho para a causa. 4. Recurso de embargos conhecido e provido.” (E-ED-RR - 205300-81.2001.5.01.0062 , Relator Ministro: Lelio Bentes Corrêa, Data de Julgamento: 03/05/2012, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 18/05/2012; grifo nosso). “RECURSO DE EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO EMBARGADO PUBLICADO SOB A ÉGIDE DA LEI 11.496/2007. MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. LEGITIMIDADE ATIVA. AÇÃO CIVIL COLETIVA. DISPENSA EM MASSA. PRETENSÃO ENVOLVENDO VERBAS RESCISÓRIAS, SALDO DE SALÁRIO E RECOLHIMENTOS DO FGTS. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. 1. Considerado o ajuizamento da E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.8 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. presente ação civil coletiva para a defesa de direitos coletivos e individuais homogêneos de trabalhadores ligados à reclamada pela mesma relação jurídica base, notadamente o contrato de trabalho, presente, ainda, a nota da relevância social e da indisponibilidade, bem como o intuito de defesa do patrimônio social, consubstanciado na busca dos aportes necessários ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, tem-se como insuperável a necessidade de interpretação conforme à Constituição do parágrafo único do art. 1º da Lei 7.347/85, para reconhecer não só a propriedade da via eleita como a legitimidade ad causam ativa do Ministério Público do Trabalho. 2. Concorrem à viabilização da proposta de interpretação conforme à Magna Carta os métodos gramatical ou linguístico, histórico-evolutivo, teleológico e sistemático, mediante os quais são alcançadas as seguintes conclusões: i) o parágrafo único do art. 1º da Lei 7.347/85, introduzido pela Medida Provisória 2.180-35/2001, veda a veiculação de pretensão envolvendo o FGTS quando vinculada a interesses meramente individuais, não abarcando hipótese como a presente, em que, para além dos depósitos nas contas vinculadas dos empregados, busca-se o resguardo do patrimônio público e social - escopo de cariz indivisível; ii) a finalidade dos idealizadores da Medida Provisória 2.180-35/2001 foi a de obstar a tutela coletiva nas ações a respeito dos índices de atualização monetária expurgados das contas vinculadas dos trabalhadores, questão já superada na atualidade e que nenhuma correlação guarda com a presente ação civil pública, manejada com a finalidade de garantir o aporte de recursos ao FGTS, mediante eventual condenação da ré na obrigação de regularizar os depósitos nas contas vinculadas dos seus empregados; e iii) o sistema de ações coletivas, em cujo vértice impera a Carta de 1988, expressamente garante ao Ministério Público a função institucional de promover ação civil pública na defesa do patrimônio público e social e de outros interesses difusos e coletivos, estes últimos tidos, na autorizada dicção da Corte Suprema, como gênero no qual se encontram os interesses coletivos em sentido estrito e os interesses individuais homogêneos. Precedente desta SDI-I/TST. Recurso de embargos conhecido e provido.” (E-RR - 74500- 65.2002.5.10.0001 , Relatora Ministra: Rosa Maria Weber, Data de Julgamento: 10/11/2011, Subseção I E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.9 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 18/11/2011; grifo nosso). “[...] III- RECURSO DE REVISTA DA EMPRESA. ANTERIOR À LEI N.º 13.015/2014, À IN 40/TST E À LEI Nº 13.467/2017. ILEGITIMIDADE ATIVA 1. Trata-se de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho, no bojo da qual, entre outros, postulam-se tutela específica de obrigação de não fazer quanto à abstenção do uso da arbitragem para os casos em que se controverte sobre direitos individuaisde trabalhadores, bem como de obrigação de fazer consistente no pagamento de verbas rescisórias e de indenização por dano moral coletivo. 2. Segundo o Art. 127 da CF/88, o Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. 3. O art. 129, III, da CF estabelece a legitimidade do Ministério Público para atuar no polo ativo da ação civil pública, com o intuito de proteger o patrimônio público e social, o meio ambiente e outros interesses difusos e coletivos. 4. No campo das relações de trabalho, ao Ministério Público compete promover a ação civil no âmbito desta Justiça, para a defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente garantidos, bem como outros interesses individuais indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e coletivos. 5. Na espécie, a ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho objetiva: (I) coibir a prática de utilização ilegal da arbitragem para dirimir conflitos relativos a direito trabalhista indisponível; (II) postular o pagamento das verbas rescisórias irregularmente pagas; e (III) requerer indenização por dano moral coletivo decorrente da prática indevida da arbitragem. 6. Evidencia-se, pois, a natureza dos direitos tutelados, pois relativos a todos os trabalhadores em atividade no estabelecimento. E, ainda, é difusa a natureza dos direitos, já que a tutela preventiva beneficia os futuros trabalhadores que vierem a laborar no estabelecimento, os quais não são identificáveis. 7. Revela-se, ademais, o caráter individual homogêneo dos direitos dos ex- empregados ao pagamento das verbas rescisórias, porquanto decorrente da origem comum relativa à prática ilícita de empregar E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.10 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. arbitragem para a resolução de conflitos relacionados a direito trabalhista indisponível. 8. Por conseguinte, o desrespeito a esses direitos coletivos, difusos e individuais homogêneos exige a atuação do Ministério Público do Trabalho e impõe, à luz dos arts. 127, 129, III, 6º, VII, d, e 83, III, da Lei Complementar nº 75/93, o reconhecimento de sua legitimidade ativa ad causam para demandar a tutela jurisdicional necessária e adequada. Há julgados. 9. Recurso de revista de que não se conhece. [...]” (ARR- 53500-59.2009.5.15.0151, Relatora Ministra: Kátia Magalhães Arruda, Data de Julgamento: 25/04/2018, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 27/04/2018; grifos nossos). “PRELIMINAR DE NULIDADE POR JULGAMENTO EXTRA PETITA. Não será apreciada a prefacial titulada, nos termos do art. 282, § 2º, do CPC de 2015, por entender ser possível, no mérito, ser proferido decisão favorável ao recorrente. Recurso de revista não conhecido. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PARA PROPOR AÇÃO CIVIL PÚBLICA. BLOQUEIO DE CONTAS E VALORES A RECEBER. EMPRESA PRESTADORA DE SERVIÇOS A ENTE PÚBLICO. AUSÊNCIA DE PAGAMENTO DE SALÁRIOS. VERBAS RESCISÓRIAS. FGTS E OUTRAS VERBAS. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. Na ação civil pública em análise, o Ministério Público do Trabalho da 2ª Região requereu, em síntese, „além dos bloqueios das contas e bens da empresa ré, o (...) pagamento de salários dos meses de outubro e novembro de 2007, 13º salário, férias ' vencidas e/ou proporcionais' , salário família ' aos empregados que façam jus ao direito' , ' aviso prévio' , ' FGTS de todo o período contratual‟. A Corte regional, ao analisar o recurso ordinário interposto pela Fazenda Pública do Estado de São Paulo, reconheceu, de ofício, a ilegitimidade do Ministério Público do Trabalho para promover esta ação, sob o fundamento de que „não há uma situação de fato comum que caracteriza direito individual homogêneo‟, tendo em vista que „há particulares circunstâncias que cada um pode apresentar (acordo, ação trabalhista individual, período da prestação de serviços, situação de efetiva tomadora por parte da Fazenda Pública do Estado em face de cada E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.11 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. circunstância etc.)‟. Ainda, a Corte regional apontou que „o Ministério Público nem mesmo possui legitimidade para a defesa de todo e qualquer interesse individual homogêneo, já que, diante do disposto no art. 127 da Constituição da República, há necessidade de que o interesse individual homogêneo seja também indisponível‟. Inicialmente, imperioso verificar que, embora o artigo 127 da Constituição Federal atribua ao Ministério Público a incumbência da „defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis‟, a legitimidade do parquet para propor ações civis públicas não se resume unicamente à esta hipótese. Neste sentido, o artigo 6º, inciso VII, alínea „d‟, da Lei Complementar nº 75/93 confere ao Ministério Público da União legitimidade para propor ação civil pública para a „defesa de outros interesses individuais indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e coletivos‟. De acordo com o artigo 129, inciso III, da Constituição Federal, o Ministério Público possui legitimidade para propor ação coletiva para a proteção dos interesses difusos e coletivos. Por outro lado, nos termos do ordenamento jurídico brasileiro e na esteira da jurisprudência iterativa desta Corte e do Supremo Tribunal Federal, o Ministério Público detém legitimidade para ajuizar ação civil pública. O artigo 83, inciso III, da Lei Complementar nº 73/1993 também prevê a legitimidade do Ministério Público do Trabalho para „promover a ação civil pública no âmbito da Justiça do Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente garantidos‟. Quando se trata de direitos metaindividuais, o que determina realmente se o objeto da ação coletiva é de natureza difusa, coletiva ou individual homogênea é a pretensão trazida em Juízo, uma vez que um mesmo fato pode dar origem aos três tipos de pretensões, de acordo com a formulação do pedido, como bem destaca Nelson Nery Júnior, in Código Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentado pelos Autores do Anteprojeto, 9ª edição. Os direitos individuais homogêneos estão definidos no inciso III do artigo 81 da Lei n° 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor). Tratando-se de direitos origem comum, aqueles buscados nesta demanda, na forma dessa fundamentação, constata-se que o Ministério Público do Trabalho detém legitimidade ativa para ajuizar a ação civil pública nos termos propostos. Destaca-se, ademais, que o pleito formulado pelo E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder JudiciárioJustiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.12 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. Ministério Público dirigido diretamente ao empregador e ao tomador visa ao bloqueio de contas e valores a receber, com a finalidade de garantir o pagamento de haveres trabalhistas, tais como, salários atrasados, 13os salários, férias vencidas, aviso-prévio, FGTS, entre outras verbas de caráter alimentar. Ante o exposto, é patente a legitimidade ativa do Ministério Público do Trabalho para o ajuizamento da demanda em exame. Recurso de revista conhecido e provido.” (RR - 6800-43.2008.5.02.0047 , Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta, Data de Julgamento: 21/02/2018, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 23/02/2018; grifos nossos). “AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELAS SEGUNDA E TERCEIRA RECLAMADAS. EMPRESA AUTO VIAÇÃO PROGRESSO S.A. E CONSÓRCIO PROGRESSO/LOGO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. O parquet, ao ajuizar ação civil pública no exercício da atribuição constitucional que lhe confere o art. 129, III, e da atribuição infraconstitucional preconizada pelo art. 83, III, da Lei Complementar nº 75/93, pretende que as reclamadas se abstenham de praticar atos visando ocultar relações de emprego; que reconheçam o vínculo de emprego com os seus efetivos empregados; que paguem as verbas rescisórias não adimplidas, bem como sejam condenadas ao consequente dano moral coletivo, ou melhor, a pretensão do parquet é assegurar o cumprimento do ordenamento jurídico e os direitos de coletividade de trabalhadores afetada, tendo em vista a conduta lesiva das reclamadas. Como se observa, a reivindicação do parquet refere-se à postulação de natureza indisponível, de modo que o Ministério Público tem legitimidade para propor a presente ação, consoante a diretiva do art. 129, III, da CF, segundo o qual é função institucional do Ministério Público promover a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos. Agravo de instrumento conhecido e não provido.” (AIRR- 1221-20.2015.5.06.0351, Relatora Ministra: Dora Maria da Costa, Data de Julgamento: 31/05/2017, 8ª E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.13 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. Turma, Data de Publicação: DEJT 02/06/2017; grifos nossos). “I - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº 13.015/2014 - MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO - LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM - DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS Vislumbrada ofensa ao artigo 129, III, da Constituição, dá-se provimento ao Agravo de Instrumento para mandar processar o Recurso de Revista. II - RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº 13.015/2014 - MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO - LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM - DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS O Ministério Público do Trabalho detém legitimidade para o ajuizamento de Ação Civil Pública visando à proteção de interesses difusos e coletivos, tal como preconizado no artigo 129, III, da Constituição, que também contempla a defesa de interesses individuais homogêneos, considerados espécies de interesses coletivos em sentido amplo. Conquanto os pedidos de anotação do termo final do contrato de trabalho na CTPS e de condenação ao pagamento das verbas rescisórias devidas possam ser vindicados mediante ações individuais, é inequívoco que se encontram vinculados a uma origem jurídica comum, decorrente do ato uniforme de dispensa dos empregados sem o cumprimento das obrigações legais. Assim, não há como afastar a natureza de direito individual homogêneo da postulação, motivo pelo qual se reconhece a legitimidade do Ministério Público do Trabalho. Recurso de Revista conhecido e provido.” (RR- 55-23.2012.5.01.0342, Relatora Ministra: Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, Data de Julgamento: 22/02/2017, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 03/03/2017; grifos nossos). Diante dos direitos individuais homogêneos coletivamente tuteláveis constantes da peça de aditamento à petição inicial apresentada pelo Ministério Público do Trabalho da 8ª Região, constata-se a violação dos arts. 21 da Lei n° 7.347/85, e art. 81, parágrafo único, III, da Lei nº 8.078/90. E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.14 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. Sendo assim, conheço do recurso de revista, por ofensa aos arts. 129, III, da Constituição Federal, 21 da Lei n° 7.347/85, e art. 81, parágrafo único, III, da Lei nº 8.078/90. 1.2. DANO MORAL COLETIVO. CONDIÇÕES DEGRADANTES DE TRABALHO. DESCUMPRIMENTO DE NORMAS TRABALHISTAS DE SAÚDE E HIGIENE O Tribunal Regional deu parcial provimento aos recursos ordinários interpostos pelos Reclamados, para afastar a condenação ao pagamento da indenização por dano moral coletivo. Nesse sentido, adotou os seguintes fundamentos: “Condições de Trabalho, Danos Morais Coletivos e Nulidade dos Autos de Infração O primeiro réu afirma que inexiste nas fazendas qualquer espécie de trabalho escravo, eis que as propriedades possuem alojamento, água encanada e refeitórios, conforme fotografias do local juntadas aos autos, não tendo o recorrente praticado qualquer ato que reduzisse os trabalhadores a condições análogas as de escravos. Pugna pela anulação das anotações constantes da CTPS's obreiras, sob a justificativa de que nem mesmo foram consideradas as declarações do segundo leu no sentido de ser ele o real empregador, tendo sido imposto ao recorrente a condição de empregador, conduta fiscalizatória que configuraria coação, pois as anotações dos contratos de emprego teriam ocorrido de forma constrangedora e violenta. Aduz não ser possível a ocorrência de abalo moral coletivo, posto que a discussão dos autos refere-se a violação a direito individual Por outro lado, assegura que não teria sido demonstrado de que forma ocorreriam os danos a coletividade, o que importara no reconhecimento de que qualquer demanda trabalhista teria o condão de gerar o dano moral coletivo. Defende que, caso mantida a condenação, o quantum indenizatório deve ser reduzido, eis que arbitrado de forma excessiva, principalmente porque este valor jamais será revestido em favor dos trabalhadores. Afirma que nem mesmo em casos de infortúnio com resultado morte as E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.15 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinaturadigital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. indenizações são fixadas em tão alto valor, jamais passando de R$60 000,00. Alega que os trabalhadores encontrados nas fazendas laboravam a menos de um mês, o que deve ser considerado para efeito de reparação imaterial, sob pena de ofensa aos arts 402 a 404, e 944, todos do Código Civil. Por fim, assegura que a indenização aplicada pela origem configura dupla penalidade, pois o recorrente e os demais reclamados já teriam sido apenados administrativamente pela DRT. O terceiro réu assegura que o autor não demonstrou qualquer participação do recorrente na alegada pratica de trabalho escravo, principalmente porque não participou da contração dos obreiro ou mesmo da direção dos trabalhos. Sustenta inexistir trabalho escravo, mas precaria realidade (sic) sócio- econômica do interior do Estado do Pará. Afirma que os obreiros não tinham limitação em sua locomoção, tendo a maioria dos trabalhadores reconhecido que podiam abandonar o trabalho, tendo muitos, inclusive, saído para fazer compras e telefonar para a família. Afirma que não se pode adotar parâmetros europeus para se definir o trabalho escravo, mormente porque a precária realidade social no Estado do Pará seria decorrente da omissão do Podei Publico. Assegura que os obreiros encontrados pela fiscalização estavam em uma realidade muito próxima, talvez melhor, do que aquela vivida nas cidades. Aduz que o conceito de trabalho degradante deve variar de acordo com a realidade do local de prestação de serviços Aduz que, após o „resgate‟ feito pelo Grupo Movel, muito trabalhadores voltaram a prestar serviço na fazenda, o que importaria dizer que nem mesmo as pessoas interessadas reputam como escravidão as condições de labor nanadas pelo MPT. Assegura que a maioria dos obreiros estavam laborando ha pouco tempo na fazenda e que nem mesmo havia chegado o dia de pagamento do primeiro salário, fatos que considera sei suficiente para afastai a alegação de trabalho escravo. Defende que, caso mantida a condenação, pois entende não ser possível a reparação de dano moral a coletividade, o quantum indenizatório deve sei reduzido, eis que arbitrado de forma excessiva, principalmente E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.16 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. porque trata-se de valor suficiente para pagar o salário de 482 trabalhadores. Afirma que nem mesmo em casos de infortúnio com resultado morte as indenizações são fixadas em tão alto valor, jamais passando de 50 salários – mínimos. Alega que a indenização deve ser proporcional a culpa do agente, a condição sócio-econômica da vitima, ao poder econômico do réu, e obediente a realidade e circunstancias do caso concreto. Assegura que a indenização aplicada pela origem configura dupla penalidade, pois o recorrente e os demais reclamados já teriam sido apenados administrativamente pela DRT. O autor afirma que Grupo Movel de fiscalização do trabalho encontrou na Fazenda Tucunaré, em setembro/2005, péssimas condições de labor e infringência de várias normas trabalhistas, o que acarretou a lavratura de vários autos de infração. Afirma, ainda, que as condições degradantes de labor reduzem os obreiros a condições análogas as de escravo, possibilitando a reparação extrapatrimonial dos danos sofridos pela coletividade. Analiso. Primeiramente, e necessário registrar que os obreiros encontrados pela fiscalização do trabalho desempenhavam atividade rural, consistente na formação de pastagens (derrubada de árvores, retirada de suas raízes, limpeza dos pastos já formados, etc), trabalho que, notadamente, possui características penosas, e só pode ser desempenhado com o exercício da forca bruta do homem. Com efeito, entendo que as condições severas de trabalho, por si só, não são suficientes para a caracterização de trabalho degradante, sob pena de se viabilizar a condenação em danos morais coletivos em razão de todas as atividades que são desempenhadas com elevada força e desgaste físicos. Aliás, é viável registrar que a atividade dos obreiros tem o objetivo certo de fomentar o setor primário da economia, base de crescimento do país. Na mesma esteira das condições de labor, no tocante ao alojamento, banheiros e alimentação, verifico que foram juntadas várias fotografias dos alojamentos da Fazenda, sendo possível verificar condições de habitabilidade e saneamento, havendo dissenso apenas no tocante a afirmação de que as instalações não eram utilizadas pelos obreiros. E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.17 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. Conforme consta dos autos, haviam algumas frentes de trabalho, localizadas a mais de 20 km da sede da Fazenda, frentes de labor que avançavam na limpeza dos pastos e desmatamento da floresta, se distanciando cada vez mais do alojamento da sede fazenda. Ora, não há como impor ao empregador a movimentação do alojamento, na mesma proporção do avanço das frentes de trabalho, o que inviabiliza do reconhecimento da tese inicial. Por outro lado, em que pese os alojamentos e barracões utilizados pelos obreiros não serem dos melhores (alguns cobertos com lonas e palhas), reputo que tal fato apenas enseja o descumprimentos de normas de saúde, higiene e segurança, não configurando, contudo, condições degradantes, e sim condições ruins de labor, ínsitas a atividade de desmatamento e formação de pastagens. Do contrário, observando-se o mesmo seguimento rural, ter-se-ia que reputar degradante também os trabalhos desempenhados em comitivas de gado, já que, no referido exemplo, os trabalhadores são compelidos a dormir no lugar que melhor lhes aprouver, não tendo nem mesmo os barracões que possuíam os obreiros localizados pelo Grupo Móvel . Fato que impõe a ilação de que o trabalho penoso também precisa ser realizado por algum ser humano, o que não importa no reconhecimento automático de condições degradantes, mas apenas condições desfavoráveis de realização do labor. Assim, e evidentemente impossível levar as condições existentes na sede da fazenda para as frentes de trabalho, mormente em se tratando de atividade transitória. A própria transitoriedade da atividade de formação e limpeza de pastagens impede o reconhecimento de trabalho escravo, pois inexistente o cárcere ou impossibilidade de locomoção dos obreiros. Nem mesmo a fiscalização encontrou qualquer empregador ou preposto armado. No mesmo sentido, não foi confirmada alegação de aliciamento, já que vários obreiros já haviam trabalhado na fazenda em oportunidade anterior, tendo ciência das condições de trabalho. Além disso, a realidade social do interior do Estado do Pará também é severa, com cidades em que o saneamento básico não chega a E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç oe l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.18 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. 4% da população local, o que revela que até o Poder Público tem dificuldades de promover os direitos sociais. Pelo exposto, afasto qualquer conclusão que entenda que as condições de trabalho narradas na inicial reduziram os obreiros as condições análogas as de escravo. Inexistindo o dano transindividual (caracterização de trabalho escravo), requisito da responsabilidade civil, não ha que se falar em reparação moral coletiva. A mais disso, como destacado pelos recorrentes, o descumprimento das normas trabalhistas (condutas narradas na inicial) já atraiu a punição administrativa, o que afasta a reparação por danos morais coletivos, sob pena de se punir uma pessoa, duas vezes, pelo mesmo fato (bis in idem). Assim, reputo que as cominações administrativas já são aptas a reparar o descumprimento do ordenamento jurídico por parte dos reclamados. Para dar remate, o mero descumprimento de norma trabalhista só gera danos individuais, que não foram objeto de reparação nestes autos, eis que o autor objetivou apenas compor os supostos danos experimentados pela sociedade. De outro vértice, nada há a reparar no tocante as anotações das CTPS' s, pois nestes autos só esta em discussão as condições de trabalho e demais constatações feitas na fiscalização ocorrida em setembro/2005 A segunda fiscalização e suposta coação do Grupo Movel aludidas pelo primeiro réu são objeto de outra ação civil publica, razão pela qual a arguição suplanta os limites da lide. Registro, ainda, que não houve insurgência administrativa quanto aos autos de infração, mas apenas em sede judicial, não se podendo negar ciência dos autos de infrações, já que houve ate representação por preposto no ato fiscalizatório. Sob outra perspectiva, as insurgências quanto a formação dos autos de infração não passaram de mera alegação, não tendo restado demonstrada a coação aventada pelo primeiro réu, já que nem mesmo do teor do depoimento de fl. 1260 pode-se tirar tal conclusão. Desse modo, reputo que a decisão de origem encontra-se escorreita no tocante as obrigações de fazer e não fazer deferidas em relação aos atuais e futuros empregados, eis que decorrem de exigência legal. E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.19 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. Dou parcial provimento aos recursos para considerar inexistente a pratica de trabalho escravo e excluir da condenação a indenização por danos morais coletivos, decisão que aproveita ao segundo réu, ante o ponto comum que une os réus, consoante determina o art 509 do CPC, até mesmo porque foram considerados responsáveis solidários.” (fls. 5.032/5.044 da numeração eletrônica; grifos nossos). O MPT da 8º Região, ora Recorrente, pugna pelo restabelecimento da indenização por dano moral coletivo. Aponta violação dos arts. 5º, V, 6º e 7º da Constituição Federal, 1º, 3º, 13 e 21 da Lei nº 7.347/85, 81, I e II, da Lei nº 8.078/90 e 186 e 927 do Código Civil. Transcreve, ainda, arestos supostamente divergentes. Da leitura da petição inicial, verifica-se que a causa de pedir do dano moral coletivo foram as condições degradantes de trabalho - incluindo-se aí condições de trabalho análogas às de escravo – e o descumprimento de normas trabalhistas. Como visto, o Tribunal Regional afastou a configuração de trabalho em condições análogas às de escravo pelos trabalhadores rurais, porque entende que o descumprimento das regras mínimas de segurança, saúde e higiene do trabalhador não caracteriza escravidão moderna. Concluiu, ademais, que as más condições de trabalho não rendem ensejo ao reconhecimento de dano moral coletivo. Com efeito. Apesar de o Tribunal Regional não haver identificado condições de trabalho análogas às de escravo, registrou que: (a) as frentes de trabalho poderiam se distanciar “mais de 20 km da sede da fazenda; (b) havia alojamentos “cobertos com lonas e palhas”; e (c) o trabalho penoso também precisa ser realizado por algum ser humano”. Sucede que, à luz da farta jurisprudência do TST, o empregador deve assegurar condições mínimas de saúde, higiene e segurança aos empregados aonde quer que eles sejam levados para executar seu trabalho. Nesse sentido, os seguintes precedentes: E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.20 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. “I - AGRAVOS DE INSTRUMENTO EM RECURSOS DE REVISTA DAS RÉS. MATÉRIAS EM COMUM. [...]. FERROVIÁRIO. CONDIÇÕES DE TRABALHO DEGRADANTES. AUSÊNCIA DE SANITÁRIOS NO LOCAL DE TRABALHO. ABUSO DO PODER DIRETIVO DO EMPREGADOR. VIOLAÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA DO TRABALHADOR. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. A conquista e a afirmação da dignidade da pessoa humana não mais podem se restringir à sua liberdade e intangibilidade física e psíquica, envolvendo, naturalmente, também a conquista e a afirmação de sua individualidade no meio econômico e social, com repercussões positivas conexas no plano cultural - o que se faz, de maneira geral, considerado o conjunto mais amplo e diversificado das pessoas, mediante o trabalho e, particularmente, o emprego. O direito à indenização por danos moral e material encontra amparo nos arts. 186 e 927 do Código Civil, c/c art. 5º, X, da CF, bem como nos princípios basilares da nova ordem constitucional, mormente naqueles que dizem respeito à proteção da dignidade humana e à valorização do trabalho humano (art. 1º da CR/88). Assim, tem-se que as condições de trabalho impostas pelo empregador e a que era exposto o reclamante, tendo que fazer suas necessidades fisiológicas no próprio compartimento de condução da locomotiva e em sacolas plásticas, pois em função das condições de trabalho, a utilização do banheiro não é procedimento habitual, ultrapassa os limites de atuação do poder diretivo do empregador para atingir a liberdade do trabalhador de satisfazer suas necessidades fisiológicas, afrontando normas de proteção à saúde e impondo-lhe uma situação degradante e vexatória. Essa política de disciplina interna revela uma opressão despropositada, autorizando a condenação ao pagamento de indenização por danos morais. Ora, a higidez física, mental e emocional do ser humano é um bem fundamental de sua vida privada e pública, de sua intimidade, de sua autoestima e afirmação social e, nessa medida, também de sua honra. É um bem, portanto, inquestionavelmente tutelado, regra geral, pela Constituição Federal (artigo 5º, V e X). Agredido em face de circunstâncias laborativas, passa a merecer tutela aindamais forte e específica da CF, que se agrega à genérica anterior (artigo 7º, XXVIII, da CF). Precedentes. Agravos de instrumentos E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.21 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. conhecidos e desprovidos. [...].” (ARR - 1782- 68.2012.5.03.0016 , Relator Ministro: Alexandre de Souza Agra Belmonte, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 27/04/2018). “[...]. RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA. [...]. DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. INSTALAÇÕES SANITÁRIAS E LOCAL PARA REFEIÇÃO INADEQUADOS. Trata-se de pedido de indenização por danos morais decorrentes do descumprimento das normas de saúde e segurança do trabalho, uma vez que os banheiros disponibilizados pela reclamada aos seus empregados, em razão da higienização precária, eram inadequados ao uso, o que obrigava os trabalhadores a realizarem suas necessidades fisiológicas no mato, caracterizando a condição degradante e ofensa ao princípio da dignidade da pessoa humana. Além disso, o local fornecido para a realização das refeições consistia em uma lona esticada ao lado do ônibus, sob a qual ficavam mesa e cadeira, o qual, no entanto, não era utilizado por todos os empregados em razão da distância do ponto de serviço. Com efeito, com base no contexto delineado pelo Regional, é possível identificar, nitidamente, neste caso, a responsabilidade subjetiva da reclamada pela situação degradante a que eram submetidos seus trabalhadores, na modalidade culposa. Competia à empregadora empreender todos os esforços necessários para garantir a segurança e higiene dos trabalhadores no âmbito de seu estabelecimento, uma vez que a responsabilidade pela adequação dos procedimentos e pela segurança e higiene do ambiente de trabalho é da empresa. Assim, consentir que o trabalhador laborasse em local onde inexistiam locais adequados para a refeição e onde as instalações sanitárias não estão submetidas a processo suficiente de higienização, de sorte que sejam mantidas limpas e desprovidas de quaisquer odores e contaminações, caracteriza o descaso da empregadora com a mínima e essencial proteção do trabalhador. Dessa forma, ficaram evidenciados o dano, o nexo causal e a culpa da reclamada, elementos indispensáveis à indenização por danos morais. Recurso de revista não conhecido. [...].” (RR - 144-67.2011.5.09.0242, Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 23/02/2018). E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.22 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. “RECURSO DE REVISTA. PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº 13.015/2014. 1. DIFERENÇAS SALARIAIS. INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 40 DO TST. [...]. 2. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. NÃO DISPONIBILIZAÇÃO DE INSTALAÇÕES SANITÁRIAS. DESRESPEITO AOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, DA INVIOLABILIDADE PSÍQUICA (ALÉM DA FÍSICA) DA PESSOA HUMANA, DO BEM- ESTAR INDIVIDUAL (ALÉM DO SOCIAL) DO SER HUMANO, TODOS INTEGRANTES DO PATRIMÔNIO MORAL DA PESSOA FÍSICA. DANO MORAL CARACTERIZADO. 3. VALOR ARBITRADO. CRITÉRIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE OBSERVADOS. A conquista e afirmação da dignidade da pessoa humana não mais podem se restringir à sua liberdade e intangibilidade física e psíquica, envolvendo, naturalmente, também a conquista e afirmação de sua individualidade no meio econômico e social, com repercussões positivas conexas no plano cultural - o que se faz, de maneira geral, considerado o conjunto mais amplo e diversificado das pessoas, mediante o trabalho e, particularmente, o emprego. O direito à indenização por dano moral encontra amparo no art. 5º, V e X, da Constituição da República e no art. 186 do CCB/2002, bem como nos princípios basilares da nova ordem constitucional, mormente naqueles que dizem respeito à proteção da dignidade humana, da inviolabilidade (física e psíquica) do direito à vida, do bem-estar individual (e social), da segurança física e psíquica do indivíduo, além da valorização do trabalho humano. O patrimônio moral da pessoa humana envolve todos esses bens imateriais, consubstanciados, pela Constituição, em princípios fundamentais. Afrontado esse patrimônio moral, em seu conjunto ou em parte relevante, cabe a indenização por dano moral, deflagrada pela Constituição de 1988. Na hipótese, o Tribunal Regional, com alicerce no conjunto fático-probatório produzido nos autos, constatou que restou "comprovado nos autos que a reclamada não fornecia acesso a instalações sanitárias, o que caracteriza violação à obrigação de zelar pela segurança e saúde dos trabalhadores, propiciando-lhes um meio ambiente do trabalho decente e sadio". Nesse contexto, explicitou a Corte de origem que "a conduta omissa e negligente da ré, (causou) lesão à honra E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.23 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. e à dignidade do autor e, restando evidente o nexo causal entre o comportamento da reclamada e os danos de ordem moral causados, surge o dever de indenizar, nos termos do art. 186 e 927, do Código Civil". A jurisprudência desta Corte Superior passou a considerar que os trabalhadores do transporte coletivo atraem a incidência da proteção normativa fixada pela NR nº 24 MT no sentido de assegurar condições sanitárias e de alimentação minimamente razoáveis. Ainda que não se possa exigir instalações ideais, tem de ser garantido o mínimo básico de condição de trabalho, relativamente às necessidades fisiológicas e de alimentação do ser humano. Ausentes tais condições mínimas, aplica-se a norma constitucional reparadora (art. 5º, V e X, da CF). Assim, compreende-se que a efetiva restrição ou limitação ao uso de banheiros pelo empregador ultrapassa os limites de atuação do poder diretivo do empregador para atingir a liberdade do trabalhador de satisfazer suas necessidades fisiológicas, afrontando normas de proteção à saúde e impondo-lhe uma situação degradante e vexatória. Desse modo, consoante consignado no acórdão recorrido, as condições de trabalho a que se submeteu o Reclamante realmente atentaram contra a sua dignidade, a sua integridade psíquica e o seu bem-estar individual - bens imateriais que compõem seu patrimônio moral protegido pela Constituição -, ensejando a reparação moral, conforme autorizam o inciso X do art. 5º da Constituição Federal e os arts. 186 e 927, caput, do CCB/2002. Ademais, afirmando a Instância Ordinária, quer pela sentença, quer pelo acórdão, a presença dos requisitos configuradores do danomoral, torna-se inviável, em recurso de revista, reexaminar o conjunto probatório dos autos, por não se tratar o TST de suposta terceira instância, mas de Juízo rigorosamente extraordinário - limites da Súmula 126/TST. Recurso de revista não conhecido nos temas.” (RR - 1763-80.2015.5.17.0141 , Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 20/10/2017). Sob esse prisma, apesar de o Tribunal Regional não haver identificado condições de trabalho análogas às de escravo, se delineou o descumprimento de normas trabalhistas de saúde e higiene e, sobretudo, de condições claramente degradantes de trabalho. E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.24 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. Devida, assim, a indenização por dano moral coletivo decorrente das condições extremamente degradantes de trabalho a que eram submetidos os trabalhadores e do descumprimento de normas trabalhistas de saúde e higiene. Ante o exposto, conheço do recurso de revista, por violação do art. 5º, V, da Constituição Federal. 2. MÉRITO DO RECURSO DE REVISTA 2.1. LEGITIMIDADE ATIVA. MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS Em decorrência do conhecimento do recurso de revista por ofensa aos arts. 129, III, da Constituição Federal, 21 da Lei n° 7.347/85, e art. 81, parágrafo único, III, da Lei nº 8.078/90, seu provimento é medida que se impõe, para reconhecer a legitimidade ativa do Ministério Público do Trabalho da 8ª Região referente aos pedidos constantes do aditamento à petição inicial e, consequentemente, restabelecer a sentença relativamente aos pedidos feitos no mencionado aditamento. 2.2. DANO MORAL COLETIVO. CONDIÇÕES DEGRADANTES DE TRABALHO. DESCUMPRIMENTO DE NORMAS TRABALHISTAS DE SAÚDE E HIGIENE Conforme visto no conhecimento do recurso de revista, é devida a indenização por dano moral coletivo decorrente das condições extremamente degradantes de trabalho a que eram submetidos os trabalhadores e do descumprimento de normas trabalhistas de saúde e higiene. No que concerne ao valor da indenização, considerando a gravidade objetiva do desrespeito a normas mínimas de segurança, saúde e higiene do trabalho e à dignidade dos trabalhadores no caso concreto e, ainda, a jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho em casos análogos, considero razoável e proporcional fixar, desde logo, o valor da indenização por dano E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.25 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. moral coletivo em R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), que deverá ser revertido ao FAT. Em decorrência do conhecimento do recurso de revista por violação do art. 5º, V, da Constituição Federal, seu provimento é medida que se impõe, para condenar os Recorridos, solidariamente, ao pagamento de indenização por dano moral coletivo no importe de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), que deverá ser revertido ao FAT. ISTO POSTO ACORDAM os Ministros da Sétima Turma do Tribunal Superior do Trabalho, à unanimidade, (a) conhecer do recurso de revista interposto pelo Ministério Público da 8ª Região, quanto ao tema “LEGITIMIDADE ATIVA - MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO - DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS”, por violação dos arts. 129, III, da Constituição Federal, 21 da Lei n° 7.347/85, e art. 81, parágrafo único, III, da Lei nº 8.078/90, e, no mérito, dar-lhe provimento, para reconhecer a legitimidade ativa do Ministério Público do Trabalho da 8ª Região referente aos pedidos constantes do aditamento à petição inicial e, consequentemente, restabelecer a sentença relativamente aos pedidos feitos no mencionado aditamento; (b) conhecer do recurso de revista do Ministério Público da 8ª Região, no tocante ao tema “DANO MORAL COLETIVO - CONDIÇÕES DEGRADANTES DE TRABALHO - DESCUMPRIMENTO DE NORMAS TRABALHISTAS DE SAÚDE E HIGIENE”, por violação do art. 5º, V, da Constituição Federal, e, no mérito, dar-lhe provimento, para condenar os Recorridos, solidariamente (arts. 2º e 9º da CLT), ao pagamento de indenização por dano moral coletivo no importe de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), que deverá ser revertido ao FAT. Custas processuais atribuídas aos Réus, no importe de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), calculadas sobre o valor provisoriamente arbitrado à condenação de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais). E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 . Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho fls.26 PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. Atenda-se ao requerido nas petições de fls. 6.241/6.244, com relação à representação dos Recorridos. Brasília, 4 de dezembro de 2018. Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001) UBIRAJARA CARLOS MENDES Desembargador Convocado Relator E s t e d o c u m e n t o p o d e s e r a c e s s a d o n o e n d e r e ç o e l e t r ô n i c o h t t p : / / w w w . t s t . j u s . b r / v a l i d a d o r s o b c ó d i g o 1 0 0 1 E 4 E 7 1 9 2 B A 9 A 2 5 9 .
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