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Trabalho Escravo_TST-RR-198000-50 2006 5 08 0110_Taynara Souza

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - UERN 
DIREITO DO TRABALHO – I 
PROF. MARCELO ROBERTO 
Pesquisa jurisprudencial 
Trabalho Escravo Contemporâneo 
 
Discente: Taynara de Souza Silva 
Processo nº: TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 
 
 
A Sétima Turma do Tribunal Superior do Trabalho (TST) decidiu, por 
unanimidade, condenar por dano moral coletivo os proprietários de duas fazendas 
localizadas na Rodovia Transamazônica no interior do Estado do Pará (PA). Eles 
submetiam trabalhadores a situação degradante, análoga à escravidão. 
O processo judicial teve origem na denúncia de que 80 empregados responsáveis 
pela derrubada de árvores e retirada de raízes para a formação de pastagens ficavam 
alojados em barracos cobertos de palha e lona plástica no meio da mata. Segundo a 
denúncia, feita por um dos empregados, as necessidades fisiológicas eram realizadas a 
céu aberto, sem qualquer privacidade, e a água para consumo era de má qualidade, 
retirada de córrego nas proximidades do alojamento. O Grupo Móvel de Fiscalização do 
Ministério do Trabalho, acionado para fazer o atendimento da denúncia, lavrou 13 autos 
de infração de registro de empregados, pagamento de salários, EPIs, instalações 
sanitárias, condições de conforto e higiene (refeitórios) e fornecimento de alojamento e 
água potável. A ação registrou ainda a reincidência dos proprietários que mantinham em 
outra fazenda 142 trabalhadores submetidos a trabalho escravo. Naquela ocasião, os 
fazendeiros deixaram de quitar dívidas de verbas rescisórias calculadas em R$ 250 mil. 
O MPT alegou que “o que se pretende é a tutela dos trabalhadores diretamente 
explorados pela Reclamada, bem como de toda a sociedade ofendida, na medida em que 
a prática ilícita do denominado ‘trabalho escravo’ viola a dignidade dos trabalhadores e 
direta e indiretamente toda a sociedade, com repercussão no âmbito internacional” 
Em sua defesa, os proprietários sustentam a inexistência nas fazendas de qualquer 
espécie de trabalho escravo. Afirmam que as propriedades possuem alojamento, água 
encanada e benfeitorias, não ocorrendo qualquer ato que reduza os empregados às 
condições análogas às de escravos. Por fim, argumentam que os empregados não têm 
limitação de locomoção, inclusive saem para fazer compras e telefonar para a família. 
Em primeiro plano, o Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região, com sede em 
Belém (PA), afastou a condenação por dano moral coletivo que havia sido imposta pela 
1ª Vara do Trabalho de Tucuruí (PA). Para o TRT, o descumprimento de regras mínimas 
de saúde e higiene, por si só, não caracteriza “escravidão moderna”, tampouco as más 
condições de trabalho possibilitam o reconhecimento de dano moral. O Ministério 
Público recorreu ao TST. 
No entanto, a Sétima Turma decidiu pela condenação por dano moral coletivo. 
Segundo os ministros, a jurisprudência do TST é no sentido de obrigar o empregador a 
assegurar “condições mínimas de saúde, higiene e segurança aos empregados onde quer 
que eles sejam levados para executar seu trabalho, o próprio Tribunal Regional destacou 
o descumprimento de normas trabalhistas de saúde e higiene. Na decisão em que se deu 
provimento a recurso do Ministério Público do Trabalho, fixou-se o valor da condenação 
em R$ 200 mil por descumprimento de normas trabalhistas de saúde e higiene. Por fim, 
para os ministros, os proprietários das fazendas submeteram os empregados a condições 
degradantes de trabalho. 
 
Fonte: http://www.tst.jus.br/noticias/-/asset_publisher/89Dk/content/fazendeiros-sao-
condenados-por-manter-trabalhadores-em-situacao-analoga-a-de-escravos 
 
Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho
 
 
 
 
 
 
PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 
 
Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme 
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. 
A C Ó R D Ã O 
7ª Turma 
GDCMEN/CSV/GT/csn/iz 
 
 
RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO REGIONAL 
PUBLICADO ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI Nº 
13.015/2014. LEGITIMIDADE ATIVA. 
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. 
DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. 1. 
Consoante prevê o art. 129, III, da 
Constituição Federal, o Ministério 
Público detém legitimidade para a 
defesa de direitos coletivos lato 
sensu, incluindo-se, em tal grupo, 
direitos individuais homogêneos. 2. O 
exame da peça de aditamento (fls. 
884/896 da numeração eletrônica), de 
que constam os direitos ora 
controvertidos, revela que o MPT 
postulou o pagamento de verbas 
rescisórias dos contratos dos 
empregados alegadamente resgatados em 
situação análoga à escravidão, tais 
como aviso prévio indenizado, férias 
e gratificação natalina. 3. Trata-se 
de parcelas trabalhistas afetadas ao 
patrimônio jurídico de cada empregado 
individualmente, mas que também 
ostentam origem comum, decorrente da 
ação atribuída aos Reclamados. 4. 
Tais características revelam direitos 
individuais homogêneos coletivamente 
tuteláveis e de inequívoca relevância 
social, nos termos do art. 81, 
parágrafo único, III, da Lei nº 
8.078/90, o que atrai a legitimidade 
ativa do MPT. Precedentes. 5. Recurso 
de revista do MPT de que se conhece, 
por violação dos arts. 129, III, da 
Constituição Federal, 21 da Lei n° 
7.347/85, e art. 81, parágrafo único, 
III, da Lei nº 8.078/90, e a que se 
dá provimento. DANO MORAL COLETIVO. 
CONDIÇÕES DEGRADANTES DE TRABALHO. 
DESCUMPRIMENTO DE NORMAS TRABALHISTAS 
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MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. 
DE SAÚDE E HIGIENE. 1. Discussão em 
torno da viabilidade de configuração 
de dano moral coletivo decorrente do 
não oferecimento de condições mínimas 
de saúde, higiene e segurança para o 
trabalhador rural. 2. Hipótese em que 
o Tribunal Regional afasta a 
configuração de trabalho em condições 
análogas às de escravo pelos 
trabalhadores rurais, porque entende 
que o descumprimento das regras 
mínimas de segurança, saúde e higiene 
do trabalhador não caracteriza 
escravidão moderna. 3. Apesar de o 
Tribunal Regional não haver 
identificado condições de trabalho 
análogas às de escravo, registrou 
que: (a) as frentes de trabalho 
poderiam se distanciar “mais de 20 km 
da sede da fazenda; (b) havia 
alojamentos “cobertos com lonas e 
palhas”; e (c) o trabalho penoso 
também precisa ser realizado por 
algum ser humano”. Sucede que, à luz 
da farta jurisprudência do TST, o 
empregador deve assegurar condições 
mínimas de saúde, higiene e segurança 
aos empregados aonde quer que eles 
sejam levados para executar seu 
trabalho. 4. O contexto fático 
delineado no acórdão regional permite 
concluir que as más condições de 
trabalho caracterizaram não somente 
ofensa às normas de proteção do 
trabalho, mas, sobretudo, lesão à 
dignidade dos trabalhadores e à 
coletividade apta a autorizar a 
reparação patrimonial pretendida pelo 
Ministério Público do Trabalho. 5. 
Devida, assim, a indenização por dano 
moral coletivo decorrente das 
condições extremamente degradantes de 
trabalho a que eram submetidos os 
trabalhadores em virtude do 
descumprimento de normas trabalhistas 
de segurança, saúde e higiene. 
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MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. 
Precedentes. 6. Recurso de revista 
interposto pelo MPT de que se 
conhece, por violação do art. 5º, V, 
da Constituição Federal, e a que se 
dá provimento. 7. Em decorrência do 
conhecimento do recurso de revista 
por violação do art. 5º, V, da 
Constituição Federal, seu provimento 
é medida que se impõe, para condenar 
os Recorridos, solidariamente, ao 
pagamento de indenização por dano 
moral coletivo no importe de R$ 
200.000,00 (duzentos mil reais), que 
deverá ser revertido ao FAT. 
 
 
Vistos, relatados e discutidos estes autos de 
Recurso de Revista n° TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110, em que é 
Recorrente MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO DA 8ª REGIÃO e são 
Recorridos VALDIR LEANDRO DE SÁ, JOSÉ CARLOS GALLETTI e ABRAÚNES 
SILVA LACERDA E OUTROS. 
 
O Tribunal Regional do Trabalho, na análise dos 
recursos ordinários, decidiu “acolher a ilegitimidade ativa 
relativamente aos pleitos veiculados no aditamento”, “excluir da 
condenação as penas de litigância de má-fé impostas na sentença de 
embargos de declaração” e “dar parcial provimento aos apelos, para, 
reformando, em parte, a r. sentença recorrida, excluir da condenação 
a indenização por danos morais coletivos”. 
O Ministério Público do Trabalho da 8ª Região 
interpôs recurso de revista. A insurgência foi admitida quanto ao 
tema "MPT - LEGITIMIDADE", por divergência jurisprudencial (decisão 
de fls. 6.154/6.155 da numeração eletrônica). 
Foram apresentadas contrarrazões. 
Os autos não foram remetidos ao Ministério Público 
do Trabalho. 
É o relatório. 
 
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V O T O 
 
1. CONHECIMENTO 
Foram atendidos os pressupostos extrínsecos de 
admissibilidade. 
 
1.1. LEGITIMIDADE ATIVA. MINISTÉRIO PÚBLICO DO 
TRABALHO. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS 
 
O TRT declarou, de ofício, a ilegitimidade ativa 
do Ministério Público do Trabalho para postular as “parcelas 
veiculadas no Aditamento”, mediante a adoção dos seguintes 
fundamentos: 
 
“AÇÃO CIVIL PUBLICA - FALTA DE LEGITIMIDADE DO 
ÓRGÃO AUTOR – ADITAMENTO 
Suscito, de oficio, a preliminar de ilegitimidade de parte no polo 
ativo da presente demanda relativamente às parcelas veiculadas no 
aditamento. Assim o faço em decorrência do efeito translativo dos recursos 
ordinários e do princípio da economia processual, que impõem ao órgão 
julgador, de oficio, extinguir o processo sem resolução de mento por 
ilegitimidade de parte, quando se verifique matéria de ordem publica, capaz 
de gerar a rescindibilidade do julgado, pois considerando que a Ação Civil 
Publica não e o meio adequado para defesa de interesses individuais, não 
sendo, portanto, o Ministério Público do Trabalho parte legitima para 
intenta-la. 
A legitimidade figura na teoria do processo como uma das condições 
da ação, sem o que o autor é carecedor do direito de ação, acarretando a 
extinção do processo. Consoante determina o art. 301, §4 , do CPC, a 
exceção do compromisso arbitral, „o juiz conhecera „de oficio‟ da carência 
de ação, não subsistindo dúvidas, portanto, de que a legitimidade de parte e 
daquelas matérias que o juiz deve conhecer de oficio. 
Conforme se sabe, o pedido de condenação em dinheiro na ação civil 
publica pressupõe que o réu ou réus tenham provocado dano em relação a 
determinado bem jurídico protegido. 
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Na presente hipótese, embora haja o pedido especifico do Ministério 
Público de aplicação reflexa das sanções da Lei 8.212/91, considerados a 
existência de supostos contratos de trabalho, o que implicaria em 
recolhimento previdenciário, bem como o ressarcimento aos cofres da 
União, vê-se que os fatos narrados no aditamento não trazem a conclusão 
pretendida. 
Com efeito, é certo que o que o Ministério Público do Trabalho 
postula são direitos de cunho individual que devem ser provados caso a 
caso, em instrução própria. 
Ora, na hipótese, os danos noticiados teriam sido causados ao 
patrimônio de particulares, não protegidos pela Lei que rege a Ação 
Civil Publica e cujos prejuízos devem ser pelos mesmos perseguidos, se 
assim o desejarem, pela via própria, neste ponto, não haveria sequer a 
legitimidade do Ministério Publico para postular. 
Com efeito, a ação civil publica não é o meio hábil a pretensão de 
tutela a interesses disponíveis e privados que não se inserem dentre 
aqueles interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e 
homogêneos protegidos pela lei que rege a ação civil publica. 
Assim, e nos termos do art. 267, VI, do Código de Processo civil o 
processo deve ser extinto sem Resolução de mento quando „não concorrer 
qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a 
legitimidade das partes e o interesse processual‟. 
O TRT, ao examinar recurso, atua como instância ordinária e realiza, 
ampla cognição, cabendo-lhe rever fatos e provas e reexaminar questões de 
ordem publica relacionadas as condições da ação e aos pressupostos 
processuais. 
Deste modo, extingue-se a presente ação, em relação aos pedidos 
feitos no aditamento, sem resolução de mérito.” (fls. 
5.018/5.020 da numeração eletrônica; grifos 
nossos). 
 
O MPT alega que “o que se pretende é a tutela dos 
trabalhadores diretamente explorados pela Reclamada, bem como de 
toda a sociedade ofendida, na medida em que a prática ilícita do 
denominado ‘trabalho escravo’ viola a dignidade dos trabalhadores e 
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direta e indiretamente toda a sociedade, com repercussão no âmbito 
internacional” (fl. 6.145 da numeração eletrônica). 
Aponta violação dos arts. 127 e 129, III, da 
Constituição Federal, 6°, „a‟ e „d‟, e 83, III, da Lei Complementar 
nº 75/93, 1°, IV, e 21 da Lei n° 7.347/85, e art. 81, parágrafo 
único, III, da Lei nº 8.078/90. Transcreve arestos para comprovação 
de divergência jurisprudencial. 
Inicialmente, registra-se que não se discute a 
legitimidade do Ministério Público do Trabalho, em si, para a defesa 
de direitos coletivos lato sensu prevista no art. 129, III,da 
Constituição Federal, mas se as parcelas postuladas assumem o 
caráter de direitos individuais homogêneos e admitem tutela 
coletiva. 
O exame da peça de aditamento (fls. 884/896 da 
numeração eletrônica) revela que o MPT postulou o pagamento de 
verbas rescisórias dos contratos dos empregados alegadamente 
resgatados em situação análoga à escravidão, tais como aviso prévio 
indenizado, férias e gratificação natalina. 
Não há dúvida que se trata de parcelas 
trabalhistas afetadas ao patrimônio jurídico de cada empregado 
individualmente. 
Percebe-se, também, que a violação de referidos 
direitos ostenta origem comum, decorrente da ação atribuída aos 
Reclamados. 
Tais características revelam direitos individuais 
homogêneos coletivamente tuteláveis, nos termos do art. 81, 
parágrafo único, III, da Lei nº 8.078/90. 
A omissão atribuída aos Reclamados relativa à 
falta de pagamento das verbas rescisórias atingiu diretamente todos 
os empregados, levando a questão comum (inadimplemento geral de 
parcelas trabalhistas) a se sobrepor às particularidades de cada 
indivíduo, superáveis em sede de liquidação. 
De tal sorte, o Ministério Público do Trabalho 
ostenta legitimidade para atuar em defesa dos referidos direitos 
individuais dos empregados, coletivamente tuteláveis. 
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MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. 
No mesmo diapasão, a jurisprudência desta Corte: 
 
“RECURSO DE EMBARGOS INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA 
LEI N.º 11.496/2007. LEGITIMIDADE ATIVA. MINISTÉRIO PÚBLICO 
DO TRABALHO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITOS INDIVIDUAIS 
HOMOGÊNEOS. INTERESSE SOCIAL RELEVANTE. 1. Na dicção da 
jurisprudência corrente do Supremo Tribunal Federal, os direitos 
individuais homogêneos nada mais são senão direitos coletivos em sentido 
lato, uma vez que todas as formas de direitos metaindividuais (difusos, 
coletivos e individuais homogêneos) são direitos coletivos e, portanto, 
passíveis de tutela mediante ação civil pública (ou coletiva). 2. 
Consagrando interpretação sistêmica e harmônica às leis que tratam da 
legitimidade do Ministério Público do Trabalho (artigos 6º, VII, letras c e d, 
83 e 84 da Lei Complementar n.º 75/1993), não há como negar a 
legitimidade do Parquet para postular tutela judicial de direitos e interesses 
individuais homogêneos. 3. Constatado, no presente caso, que o objeto da 
ação civil pública diz respeito a direito individual que, por ostentar 
origem comum - uma vez que decorre de irregularidade praticada pela 
empregadora, relativa ao não pagamento das verbas rescisórias, 
consoante previsto no artigo 477, § 6º, da CLT -, qualifica-se como 
direito individual homogêneo, atraindo, assim, a legitimidade do 
Ministério Público do Trabalho para a causa. 4. Recurso de embargos 
conhecido e provido.” (E-ED-RR - 205300-81.2001.5.01.0062 
, Relator Ministro: Lelio Bentes Corrêa, Data de 
Julgamento: 03/05/2012, Subseção I Especializada 
em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 
18/05/2012; grifo nosso). 
 
“RECURSO DE EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. 
ACÓRDÃO EMBARGADO PUBLICADO SOB A ÉGIDE DA LEI 
11.496/2007. MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. 
LEGITIMIDADE ATIVA. AÇÃO CIVIL COLETIVA. DISPENSA EM 
MASSA. PRETENSÃO ENVOLVENDO VERBAS RESCISÓRIAS, 
SALDO DE SALÁRIO E RECOLHIMENTOS DO FGTS. DIREITOS 
INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. 1. Considerado o ajuizamento da 
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MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. 
presente ação civil coletiva para a defesa de direitos coletivos e 
individuais homogêneos de trabalhadores ligados à reclamada pela 
mesma relação jurídica base, notadamente o contrato de trabalho, 
presente, ainda, a nota da relevância social e da indisponibilidade, bem 
como o intuito de defesa do patrimônio social, consubstanciado na 
busca dos aportes necessários ao Fundo de Garantia do Tempo de 
Serviço, tem-se como insuperável a necessidade de interpretação 
conforme à Constituição do parágrafo único do art. 1º da Lei 7.347/85, 
para reconhecer não só a propriedade da via eleita como a legitimidade 
ad causam ativa do Ministério Público do Trabalho. 2. Concorrem à 
viabilização da proposta de interpretação conforme à Magna Carta os 
métodos gramatical ou linguístico, histórico-evolutivo, teleológico e 
sistemático, mediante os quais são alcançadas as seguintes conclusões: i) o 
parágrafo único do art. 1º da Lei 7.347/85, introduzido pela Medida 
Provisória 2.180-35/2001, veda a veiculação de pretensão envolvendo o 
FGTS quando vinculada a interesses meramente individuais, não abarcando 
hipótese como a presente, em que, para além dos depósitos nas contas 
vinculadas dos empregados, busca-se o resguardo do patrimônio público e 
social - escopo de cariz indivisível; ii) a finalidade dos idealizadores da 
Medida Provisória 2.180-35/2001 foi a de obstar a tutela coletiva nas ações 
a respeito dos índices de atualização monetária expurgados das contas 
vinculadas dos trabalhadores, questão já superada na atualidade e que 
nenhuma correlação guarda com a presente ação civil pública, manejada 
com a finalidade de garantir o aporte de recursos ao FGTS, mediante 
eventual condenação da ré na obrigação de regularizar os depósitos nas 
contas vinculadas dos seus empregados; e iii) o sistema de ações coletivas, 
em cujo vértice impera a Carta de 1988, expressamente garante ao 
Ministério Público a função institucional de promover ação civil pública na 
defesa do patrimônio público e social e de outros interesses difusos e 
coletivos, estes últimos tidos, na autorizada dicção da Corte Suprema, como 
gênero no qual se encontram os interesses coletivos em sentido estrito e os 
interesses individuais homogêneos. Precedente desta SDI-I/TST. Recurso 
de embargos conhecido e provido.” (E-RR - 74500-
65.2002.5.10.0001 , Relatora Ministra: Rosa Maria 
Weber, Data de Julgamento: 10/11/2011, Subseção I 
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MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. 
Especializada em Dissídios Individuais, Data de 
Publicação: DEJT 18/11/2011; grifo nosso). 
 
“[...] III- RECURSO DE REVISTA DA EMPRESA. ANTERIOR À 
LEI N.º 13.015/2014, À IN 40/TST E À LEI Nº 13.467/2017. 
ILEGITIMIDADE ATIVA 1. Trata-se de ação civil pública ajuizada 
pelo Ministério Público do Trabalho, no bojo da qual, entre outros, 
postulam-se tutela específica de obrigação de não fazer quanto à 
abstenção do uso da arbitragem para os casos em que se controverte 
sobre direitos individuaisde trabalhadores, bem como de obrigação de 
fazer consistente no pagamento de verbas rescisórias e de indenização 
por dano moral coletivo. 2. Segundo o Art. 127 da CF/88, o Ministério 
Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do 
Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático 
e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. 3. O art. 129, III, da CF 
estabelece a legitimidade do Ministério Público para atuar no polo ativo da 
ação civil pública, com o intuito de proteger o patrimônio público e social, 
o meio ambiente e outros interesses difusos e coletivos. 4. No campo das 
relações de trabalho, ao Ministério Público compete promover a ação civil 
no âmbito desta Justiça, para a defesa de interesses coletivos, quando 
desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente garantidos, bem 
como outros interesses individuais indisponíveis, homogêneos, sociais, 
difusos e coletivos. 5. Na espécie, a ação civil pública ajuizada pelo 
Ministério Público do Trabalho objetiva: (I) coibir a prática de utilização 
ilegal da arbitragem para dirimir conflitos relativos a direito trabalhista 
indisponível; (II) postular o pagamento das verbas rescisórias 
irregularmente pagas; e (III) requerer indenização por dano moral coletivo 
decorrente da prática indevida da arbitragem. 6. Evidencia-se, pois, a 
natureza dos direitos tutelados, pois relativos a todos os trabalhadores em 
atividade no estabelecimento. E, ainda, é difusa a natureza dos direitos, já 
que a tutela preventiva beneficia os futuros trabalhadores que vierem a 
laborar no estabelecimento, os quais não são identificáveis. 7. Revela-se, 
ademais, o caráter individual homogêneo dos direitos dos ex-
empregados ao pagamento das verbas rescisórias, porquanto 
decorrente da origem comum relativa à prática ilícita de empregar 
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arbitragem para a resolução de conflitos relacionados a direito 
trabalhista indisponível. 8. Por conseguinte, o desrespeito a esses direitos 
coletivos, difusos e individuais homogêneos exige a atuação do Ministério 
Público do Trabalho e impõe, à luz dos arts. 127, 129, III, 6º, VII, d, e 83, 
III, da Lei Complementar nº 75/93, o reconhecimento de sua legitimidade 
ativa ad causam para demandar a tutela jurisdicional necessária e adequada. 
Há julgados. 9. Recurso de revista de que não se conhece. [...]” (ARR-
53500-59.2009.5.15.0151, Relatora Ministra: Kátia 
Magalhães Arruda, Data de Julgamento: 25/04/2018, 
6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 27/04/2018; 
grifos nossos). 
 
 “PRELIMINAR DE NULIDADE POR JULGAMENTO EXTRA 
PETITA. Não será apreciada a prefacial titulada, nos termos do art. 282, § 
2º, do CPC de 2015, por entender ser possível, no mérito, ser proferido 
decisão favorável ao recorrente. Recurso de revista não conhecido. 
LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO 
TRABALHO PARA PROPOR AÇÃO CIVIL PÚBLICA. BLOQUEIO 
DE CONTAS E VALORES A RECEBER. EMPRESA PRESTADORA 
DE SERVIÇOS A ENTE PÚBLICO. AUSÊNCIA DE PAGAMENTO DE 
SALÁRIOS. VERBAS RESCISÓRIAS. FGTS E OUTRAS VERBAS. 
DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. Na ação civil pública em 
análise, o Ministério Público do Trabalho da 2ª Região requereu, em 
síntese, „além dos bloqueios das contas e bens da empresa ré, o (...) 
pagamento de salários dos meses de outubro e novembro de 2007, 13º 
salário, férias ' vencidas e/ou proporcionais' , salário família ' aos 
empregados que façam jus ao direito' , ' aviso prévio' , ' FGTS de todo o 
período contratual‟. A Corte regional, ao analisar o recurso ordinário 
interposto pela Fazenda Pública do Estado de São Paulo, reconheceu, de 
ofício, a ilegitimidade do Ministério Público do Trabalho para promover 
esta ação, sob o fundamento de que „não há uma situação de fato comum 
que caracteriza direito individual homogêneo‟, tendo em vista que „há 
particulares circunstâncias que cada um pode apresentar (acordo, ação 
trabalhista individual, período da prestação de serviços, situação de efetiva 
tomadora por parte da Fazenda Pública do Estado em face de cada 
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circunstância etc.)‟. Ainda, a Corte regional apontou que „o Ministério 
Público nem mesmo possui legitimidade para a defesa de todo e qualquer 
interesse individual homogêneo, já que, diante do disposto no art. 127 da 
Constituição da República, há necessidade de que o interesse individual 
homogêneo seja também indisponível‟. Inicialmente, imperioso verificar 
que, embora o artigo 127 da Constituição Federal atribua ao Ministério 
Público a incumbência da „defesa da ordem jurídica, do regime democrático 
e dos interesses sociais e individuais indisponíveis‟, a legitimidade do 
parquet para propor ações civis públicas não se resume unicamente à esta 
hipótese. Neste sentido, o artigo 6º, inciso VII, alínea „d‟, da Lei 
Complementar nº 75/93 confere ao Ministério Público da União 
legitimidade para propor ação civil pública para a „defesa de outros 
interesses individuais indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e 
coletivos‟. De acordo com o artigo 129, inciso III, da Constituição Federal, 
o Ministério Público possui legitimidade para propor ação coletiva para a 
proteção dos interesses difusos e coletivos. Por outro lado, nos termos do 
ordenamento jurídico brasileiro e na esteira da jurisprudência iterativa desta 
Corte e do Supremo Tribunal Federal, o Ministério Público detém 
legitimidade para ajuizar ação civil pública. O artigo 83, inciso III, da Lei 
Complementar nº 73/1993 também prevê a legitimidade do Ministério 
Público do Trabalho para „promover a ação civil pública no âmbito da 
Justiça do Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quando 
desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente garantidos‟. Quando 
se trata de direitos metaindividuais, o que determina realmente se o objeto 
da ação coletiva é de natureza difusa, coletiva ou individual homogênea é a 
pretensão trazida em Juízo, uma vez que um mesmo fato pode dar origem 
aos três tipos de pretensões, de acordo com a formulação do pedido, como 
bem destaca Nelson Nery Júnior, in Código Brasileiro de Defesa do 
Consumidor Comentado pelos Autores do Anteprojeto, 9ª edição. Os 
direitos individuais homogêneos estão definidos no inciso III do artigo 81 
da Lei n° 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor). Tratando-se de 
direitos origem comum, aqueles buscados nesta demanda, na forma 
dessa fundamentação, constata-se que o Ministério Público do 
Trabalho detém legitimidade ativa para ajuizar a ação civil pública nos 
termos propostos. Destaca-se, ademais, que o pleito formulado pelo 
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MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. 
Ministério Público dirigido diretamente ao empregador e ao tomador visa 
ao bloqueio de contas e valores a receber, com a finalidade de garantir o 
pagamento de haveres trabalhistas, tais como, salários atrasados, 13os 
salários, férias vencidas, aviso-prévio, FGTS, entre outras verbas de caráter 
alimentar. Ante o exposto, é patente a legitimidade ativa do Ministério 
Público do Trabalho para o ajuizamento da demanda em exame. Recurso de 
revista conhecido e provido.” (RR - 6800-43.2008.5.02.0047 , 
Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta, 
Data de Julgamento: 21/02/2018, 2ª Turma, Data de 
Publicação: DEJT 23/02/2018; grifos nossos). 
 
“AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA 
INTERPOSTO PELAS SEGUNDA E TERCEIRA RECLAMADAS. 
EMPRESA AUTO VIAÇÃO PROGRESSO S.A. E CONSÓRCIO 
PROGRESSO/LOGO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE 
ATIVA AD CAUSAM DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO 
TRABALHO. O parquet, ao ajuizar ação civil pública no exercício da 
atribuição constitucional que lhe confere o art. 129, III, e da atribuição 
infraconstitucional preconizada pelo art. 83, III, da Lei Complementar 
nº 75/93, pretende que as reclamadas se abstenham de praticar atos 
visando ocultar relações de emprego; que reconheçam o vínculo de 
emprego com os seus efetivos empregados; que paguem as verbas 
rescisórias não adimplidas, bem como sejam condenadas ao consequente 
dano moral coletivo, ou melhor, a pretensão do parquet é assegurar o 
cumprimento do ordenamento jurídico e os direitos de coletividade de 
trabalhadores afetada, tendo em vista a conduta lesiva das reclamadas. 
Como se observa, a reivindicação do parquet refere-se à postulação de 
natureza indisponível, de modo que o Ministério Público tem 
legitimidade para propor a presente ação, consoante a diretiva do art. 
129, III, da CF, segundo o qual é função institucional do Ministério 
Público promover a ação civil pública, para a proteção do patrimônio 
público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e 
coletivos. Agravo de instrumento conhecido e não provido.” (AIRR-
1221-20.2015.5.06.0351, Relatora Ministra: Dora 
Maria da Costa, Data de Julgamento: 31/05/2017, 8ª 
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Turma, Data de Publicação: DEJT 02/06/2017; grifos 
nossos). 
 
“I - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA 
INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº 13.015/2014 - MINISTÉRIO 
PÚBLICO DO TRABALHO - LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM - 
DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS Vislumbrada ofensa ao artigo 
129, III, da Constituição, dá-se provimento ao Agravo de Instrumento para 
mandar processar o Recurso de Revista. II - RECURSO DE REVISTA 
INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº 13.015/2014 - MINISTÉRIO 
PÚBLICO DO TRABALHO - LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM 
- DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS O Ministério Público do 
Trabalho detém legitimidade para o ajuizamento de Ação Civil Pública 
visando à proteção de interesses difusos e coletivos, tal como preconizado 
no artigo 129, III, da Constituição, que também contempla a defesa de 
interesses individuais homogêneos, considerados espécies de interesses 
coletivos em sentido amplo. Conquanto os pedidos de anotação do termo 
final do contrato de trabalho na CTPS e de condenação ao pagamento 
das verbas rescisórias devidas possam ser vindicados mediante ações 
individuais, é inequívoco que se encontram vinculados a uma origem 
jurídica comum, decorrente do ato uniforme de dispensa dos 
empregados sem o cumprimento das obrigações legais. Assim, não há 
como afastar a natureza de direito individual homogêneo da 
postulação, motivo pelo qual se reconhece a legitimidade do Ministério 
Público do Trabalho. Recurso de Revista conhecido e provido.” (RR-
55-23.2012.5.01.0342, Relatora Ministra: Maria 
Cristina Irigoyen Peduzzi, Data de Julgamento: 
22/02/2017, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT 
03/03/2017; grifos nossos). 
 
Diante dos direitos individuais homogêneos 
coletivamente tuteláveis constantes da peça de aditamento à petição 
inicial apresentada pelo Ministério Público do Trabalho da 8ª 
Região, constata-se a violação dos arts. 21 da Lei n° 7.347/85, e 
art. 81, parágrafo único, III, da Lei nº 8.078/90. 
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Sendo assim, conheço do recurso de revista, por 
ofensa aos arts. 129, III, da Constituição Federal, 21 da Lei n° 
7.347/85, e art. 81, parágrafo único, III, da Lei nº 8.078/90. 
 
1.2. DANO MORAL COLETIVO. CONDIÇÕES DEGRADANTES DE 
TRABALHO. DESCUMPRIMENTO DE NORMAS TRABALHISTAS DE SAÚDE E HIGIENE 
 
O Tribunal Regional deu parcial provimento aos 
recursos ordinários interpostos pelos Reclamados, para afastar a 
condenação ao pagamento da indenização por dano moral coletivo. 
Nesse sentido, adotou os seguintes fundamentos: 
 
“Condições de Trabalho, Danos Morais Coletivos e Nulidade dos 
Autos de Infração 
O primeiro réu afirma que inexiste nas fazendas qualquer espécie de 
trabalho escravo, eis que as propriedades possuem alojamento, água 
encanada e refeitórios, conforme fotografias do local juntadas aos autos, 
não tendo o recorrente praticado qualquer ato que reduzisse os 
trabalhadores a condições análogas as de escravos. 
Pugna pela anulação das anotações constantes da CTPS's obreiras, 
sob a justificativa de que nem mesmo foram consideradas as declarações do 
segundo leu no sentido de ser ele o real empregador, tendo sido imposto ao 
recorrente a condição de empregador, conduta fiscalizatória que 
configuraria coação, pois as anotações dos contratos de emprego teriam 
ocorrido de forma constrangedora e violenta. 
Aduz não ser possível a ocorrência de abalo moral coletivo, posto que 
a discussão dos autos refere-se a violação a direito individual Por outro 
lado, assegura que não teria sido demonstrado de que forma ocorreriam os 
danos a coletividade, o que importara no reconhecimento de que qualquer 
demanda trabalhista teria o condão de gerar o dano moral coletivo. 
Defende que, caso mantida a condenação, o quantum indenizatório 
deve ser reduzido, eis que arbitrado de forma excessiva, principalmente 
porque este valor jamais será revestido em favor dos trabalhadores. Afirma 
que nem mesmo em casos de infortúnio com resultado morte as 
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PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 
 
Firmado por assinaturadigital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme 
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. 
indenizações são fixadas em tão alto valor, jamais passando de R$60 
000,00. 
Alega que os trabalhadores encontrados nas fazendas laboravam a 
menos de um mês, o que deve ser considerado para efeito de reparação 
imaterial, sob pena de ofensa aos arts 402 a 404, e 944, todos do Código 
Civil. Por fim, assegura que a indenização aplicada pela origem configura 
dupla penalidade, pois o recorrente e os demais reclamados já teriam sido 
apenados administrativamente pela DRT. 
O terceiro réu assegura que o autor não demonstrou qualquer 
participação do recorrente na alegada pratica de trabalho escravo, 
principalmente porque não participou da contração dos obreiro ou mesmo 
da direção dos trabalhos. 
Sustenta inexistir trabalho escravo, mas precaria realidade (sic) sócio-
econômica do interior do Estado do Pará. Afirma que os obreiros não 
tinham limitação em sua locomoção, tendo a maioria dos trabalhadores 
reconhecido que podiam abandonar o trabalho, tendo muitos, inclusive, 
saído para fazer compras e telefonar para a família. Afirma que não se pode 
adotar parâmetros europeus para se definir o trabalho escravo, mormente 
porque a precária realidade social no Estado do Pará seria decorrente da 
omissão do Podei Publico. Assegura que os obreiros encontrados pela 
fiscalização estavam em uma realidade muito próxima, talvez melhor, do 
que aquela vivida nas cidades. 
Aduz que o conceito de trabalho degradante deve variar de acordo 
com a realidade do local de prestação de serviços Aduz que, após o 
„resgate‟ feito pelo Grupo Movel, muito trabalhadores voltaram a prestar 
serviço na fazenda, o que importaria dizer que nem mesmo as pessoas 
interessadas reputam como escravidão as condições de labor nanadas pelo 
MPT. 
Assegura que a maioria dos obreiros estavam laborando ha pouco 
tempo na fazenda e que nem mesmo havia chegado o dia de pagamento do 
primeiro salário, fatos que considera sei suficiente para afastai a alegação 
de trabalho escravo. 
Defende que, caso mantida a condenação, pois entende não ser 
possível a reparação de dano moral a coletividade, o quantum indenizatório 
deve sei reduzido, eis que arbitrado de forma excessiva, principalmente 
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MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. 
porque trata-se de valor suficiente para pagar o salário de 482 
trabalhadores. Afirma que nem mesmo em casos de infortúnio com 
resultado morte as indenizações são fixadas em tão alto valor, jamais 
passando de 50 salários – mínimos. 
Alega que a indenização deve ser proporcional a culpa do agente, a 
condição sócio-econômica da vitima, ao poder econômico do réu, e 
obediente a realidade e circunstancias do caso concreto. Assegura que a 
indenização aplicada pela origem configura dupla penalidade, pois o 
recorrente e os demais reclamados já teriam sido apenados 
administrativamente pela DRT. 
O autor afirma que Grupo Movel de fiscalização do trabalho 
encontrou na Fazenda Tucunaré, em setembro/2005, péssimas condições de 
labor e infringência de várias normas trabalhistas, o que acarretou a 
lavratura de vários autos de infração. Afirma, ainda, que as condições 
degradantes de labor reduzem os obreiros a condições análogas as de 
escravo, possibilitando a reparação extrapatrimonial dos danos sofridos pela 
coletividade. 
Analiso. 
Primeiramente, e necessário registrar que os obreiros encontrados 
pela fiscalização do trabalho desempenhavam atividade rural, consistente 
na formação de pastagens (derrubada de árvores, retirada de suas raízes, 
limpeza dos pastos já formados, etc), trabalho que, notadamente, possui 
características penosas, e só pode ser desempenhado com o exercício da 
forca bruta do homem. 
Com efeito, entendo que as condições severas de trabalho, por si só, 
não são suficientes para a caracterização de trabalho degradante, sob pena 
de se viabilizar a condenação em danos morais coletivos em razão de todas 
as atividades que são desempenhadas com elevada força e desgaste físicos. 
Aliás, é viável registrar que a atividade dos obreiros tem o objetivo certo de 
fomentar o setor primário da economia, base de crescimento do país. 
Na mesma esteira das condições de labor, no tocante ao alojamento, 
banheiros e alimentação, verifico que foram juntadas várias fotografias dos 
alojamentos da Fazenda, sendo possível verificar condições de 
habitabilidade e saneamento, havendo dissenso apenas no tocante a 
afirmação de que as instalações não eram utilizadas pelos obreiros. 
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MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. 
Conforme consta dos autos, haviam algumas frentes de trabalho, 
localizadas a mais de 20 km da sede da Fazenda, frentes de labor que 
avançavam na limpeza dos pastos e desmatamento da floresta, se 
distanciando cada vez mais do alojamento da sede fazenda. Ora, não há 
como impor ao empregador a movimentação do alojamento, na mesma 
proporção do avanço das frentes de trabalho, o que inviabiliza do 
reconhecimento da tese inicial. 
Por outro lado, em que pese os alojamentos e barracões utilizados 
pelos obreiros não serem dos melhores (alguns cobertos com lonas e 
palhas), reputo que tal fato apenas enseja o descumprimentos de 
normas de saúde, higiene e segurança, não configurando, contudo, 
condições degradantes, e sim condições ruins de labor, ínsitas a 
atividade de desmatamento e formação de pastagens. 
Do contrário, observando-se o mesmo seguimento rural, ter-se-ia que 
reputar degradante também os trabalhos desempenhados em comitivas de 
gado, já que, no referido exemplo, os trabalhadores são compelidos a 
dormir no lugar que melhor lhes aprouver, não tendo nem mesmo os 
barracões que possuíam os obreiros localizados pelo Grupo Móvel . 
Fato que impõe a ilação de que o trabalho penoso também precisa 
ser realizado por algum ser humano, o que não importa no 
reconhecimento automático de condições degradantes, mas apenas 
condições desfavoráveis de realização do labor. 
Assim, e evidentemente impossível levar as condições existentes na 
sede da fazenda para as frentes de trabalho, mormente em se tratando de 
atividade transitória. 
A própria transitoriedade da atividade de formação e limpeza de 
pastagens impede o reconhecimento de trabalho escravo, pois inexistente o 
cárcere ou impossibilidade de locomoção dos obreiros. Nem mesmo a 
fiscalização encontrou qualquer empregador ou preposto armado. No 
mesmo sentido, não foi confirmada alegação de aliciamento, já que vários 
obreiros já haviam trabalhado na fazenda em oportunidade anterior, tendo 
ciência das condições de trabalho. 
Além disso, a realidade social do interior do Estado do Pará 
também é severa, com cidades em que o saneamento básico não chega a 
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PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 
 
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MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. 
4% da população local, o que revela que até o Poder Público tem 
dificuldades de promover os direitos sociais. 
Pelo exposto, afasto qualquer conclusão que entenda que as condições 
de trabalho narradas na inicial reduziram os obreiros as condições análogas 
as de escravo. 
Inexistindo o dano transindividual (caracterização de trabalho 
escravo), requisito da responsabilidade civil, não ha que se falar em 
reparação moral coletiva. 
A mais disso, como destacado pelos recorrentes, o descumprimento 
das normas trabalhistas (condutas narradas na inicial) já atraiu a punição 
administrativa, o que afasta a reparação por danos morais coletivos, sob 
pena de se punir uma pessoa, duas vezes, pelo mesmo fato (bis in idem). 
Assim, reputo que as cominações administrativas já são aptas a reparar o 
descumprimento do ordenamento jurídico por parte dos reclamados. 
Para dar remate, o mero descumprimento de norma trabalhista só gera 
danos individuais, que não foram objeto de reparação nestes autos, eis que 
o autor objetivou apenas compor os supostos danos experimentados pela 
sociedade. 
De outro vértice, nada há a reparar no tocante as anotações das CTPS' 
s, pois nestes autos só esta em discussão as condições de trabalho e demais 
constatações feitas na fiscalização ocorrida em setembro/2005 A segunda 
fiscalização e suposta coação do Grupo Movel aludidas pelo primeiro réu 
são objeto de outra ação civil publica, razão pela qual a arguição suplanta 
os limites da lide. 
Registro, ainda, que não houve insurgência administrativa quanto aos 
autos de infração, mas apenas em sede judicial, não se podendo negar 
ciência dos autos de infrações, já que houve ate representação por preposto 
no ato fiscalizatório. 
Sob outra perspectiva, as insurgências quanto a formação dos autos 
de infração não passaram de mera alegação, não tendo restado demonstrada 
a coação aventada pelo primeiro réu, já que nem mesmo do teor do 
depoimento de fl. 1260 pode-se tirar tal conclusão. 
Desse modo, reputo que a decisão de origem encontra-se escorreita 
no tocante as obrigações de fazer e não fazer deferidas em relação aos 
atuais e futuros empregados, eis que decorrem de exigência legal. 
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PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 
 
Firmado por assinatura digital em 04/12/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme 
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. 
Dou parcial provimento aos recursos para considerar inexistente a 
pratica de trabalho escravo e excluir da condenação a indenização por 
danos morais coletivos, decisão que aproveita ao segundo réu, ante o ponto 
comum que une os réus, consoante determina o art 509 do CPC, até mesmo 
porque foram considerados responsáveis solidários.” (fls. 
5.032/5.044 da numeração eletrônica; grifos 
nossos). 
 
O MPT da 8º Região, ora Recorrente, pugna pelo 
restabelecimento da indenização por dano moral coletivo. 
Aponta violação dos arts. 5º, V, 6º e 7º da 
Constituição Federal, 1º, 3º, 13 e 21 da Lei nº 7.347/85, 81, I e 
II, da Lei nº 8.078/90 e 186 e 927 do Código Civil. Transcreve, 
ainda, arestos supostamente divergentes. 
Da leitura da petição inicial, verifica-se que a 
causa de pedir do dano moral coletivo foram as condições degradantes 
de trabalho - incluindo-se aí condições de trabalho análogas às de 
escravo – e o descumprimento de normas trabalhistas. 
Como visto, o Tribunal Regional afastou a 
configuração de trabalho em condições análogas às de escravo pelos 
trabalhadores rurais, porque entende que o descumprimento das regras 
mínimas de segurança, saúde e higiene do trabalhador não caracteriza 
escravidão moderna. Concluiu, ademais, que as más condições de 
trabalho não rendem ensejo ao reconhecimento de dano moral coletivo. 
Com efeito. Apesar de o Tribunal Regional não 
haver identificado condições de trabalho análogas às de escravo, 
registrou que: (a) as frentes de trabalho poderiam se distanciar 
“mais de 20 km da sede da fazenda; (b) havia alojamentos “cobertos 
com lonas e palhas”; e (c) o trabalho penoso também precisa ser 
realizado por algum ser humano”. 
Sucede que, à luz da farta jurisprudência do TST, 
o empregador deve assegurar condições mínimas de saúde, higiene e 
segurança aos empregados aonde quer que eles sejam levados para 
executar seu trabalho. 
Nesse sentido, os seguintes precedentes: 
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MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. 
 
“I - AGRAVOS DE INSTRUMENTO EM RECURSOS DE 
REVISTA DAS RÉS. MATÉRIAS EM COMUM. [...]. FERROVIÁRIO. 
CONDIÇÕES DE TRABALHO DEGRADANTES. AUSÊNCIA DE 
SANITÁRIOS NO LOCAL DE TRABALHO. ABUSO DO PODER 
DIRETIVO DO EMPREGADOR. VIOLAÇÃO DA DIGNIDADE DA 
PESSOA HUMANA DO TRABALHADOR. INDENIZAÇÃO POR 
DANOS MORAIS. A conquista e a afirmação da dignidade da pessoa 
humana não mais podem se restringir à sua liberdade e intangibilidade 
física e psíquica, envolvendo, naturalmente, também a conquista e a 
afirmação de sua individualidade no meio econômico e social, com 
repercussões positivas conexas no plano cultural - o que se faz, de maneira 
geral, considerado o conjunto mais amplo e diversificado das pessoas, 
mediante o trabalho e, particularmente, o emprego. O direito à indenização 
por danos moral e material encontra amparo nos arts. 186 e 927 do Código 
Civil, c/c art. 5º, X, da CF, bem como nos princípios basilares da nova 
ordem constitucional, mormente naqueles que dizem respeito à proteção da 
dignidade humana e à valorização do trabalho humano (art. 1º da CR/88). 
Assim, tem-se que as condições de trabalho impostas pelo empregador e a 
que era exposto o reclamante, tendo que fazer suas necessidades 
fisiológicas no próprio compartimento de condução da locomotiva e em 
sacolas plásticas, pois em função das condições de trabalho, a utilização do 
banheiro não é procedimento habitual, ultrapassa os limites de atuação do 
poder diretivo do empregador para atingir a liberdade do trabalhador de 
satisfazer suas necessidades fisiológicas, afrontando normas de proteção à 
saúde e impondo-lhe uma situação degradante e vexatória. Essa política de 
disciplina interna revela uma opressão despropositada, autorizando a 
condenação ao pagamento de indenização por danos morais. Ora, a higidez 
física, mental e emocional do ser humano é um bem fundamental de sua 
vida privada e pública, de sua intimidade, de sua autoestima e afirmação 
social e, nessa medida, também de sua honra. É um bem, portanto, 
inquestionavelmente tutelado, regra geral, pela Constituição Federal (artigo 
5º, V e X). Agredido em face de circunstâncias laborativas, passa a merecer 
tutela aindamais forte e específica da CF, que se agrega à genérica anterior 
(artigo 7º, XXVIII, da CF). Precedentes. Agravos de instrumentos 
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PROCESSO Nº TST-RR-198000-50.2006.5.08.0110 
 
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MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. 
conhecidos e desprovidos. [...].” (ARR - 1782-
68.2012.5.03.0016 , Relator Ministro: Alexandre de 
Souza Agra Belmonte, 3ª Turma, Data de Publicação: 
DEJT 27/04/2018). 
 
“[...]. RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA. [...]. DANO 
MORAL. CONFIGURAÇÃO. INSTALAÇÕES SANITÁRIAS E LOCAL 
PARA REFEIÇÃO INADEQUADOS. Trata-se de pedido de indenização 
por danos morais decorrentes do descumprimento das normas de saúde e 
segurança do trabalho, uma vez que os banheiros disponibilizados pela 
reclamada aos seus empregados, em razão da higienização precária, eram 
inadequados ao uso, o que obrigava os trabalhadores a realizarem suas 
necessidades fisiológicas no mato, caracterizando a condição degradante e 
ofensa ao princípio da dignidade da pessoa humana. Além disso, o local 
fornecido para a realização das refeições consistia em uma lona esticada ao 
lado do ônibus, sob a qual ficavam mesa e cadeira, o qual, no entanto, não 
era utilizado por todos os empregados em razão da distância do ponto de 
serviço. Com efeito, com base no contexto delineado pelo Regional, é 
possível identificar, nitidamente, neste caso, a responsabilidade subjetiva da 
reclamada pela situação degradante a que eram submetidos seus 
trabalhadores, na modalidade culposa. Competia à empregadora 
empreender todos os esforços necessários para garantir a segurança e 
higiene dos trabalhadores no âmbito de seu estabelecimento, uma vez que a 
responsabilidade pela adequação dos procedimentos e pela segurança e 
higiene do ambiente de trabalho é da empresa. Assim, consentir que o 
trabalhador laborasse em local onde inexistiam locais adequados para a 
refeição e onde as instalações sanitárias não estão submetidas a processo 
suficiente de higienização, de sorte que sejam mantidas limpas e 
desprovidas de quaisquer odores e contaminações, caracteriza o descaso da 
empregadora com a mínima e essencial proteção do trabalhador. Dessa 
forma, ficaram evidenciados o dano, o nexo causal e a culpa da reclamada, 
elementos indispensáveis à indenização por danos morais. Recurso de 
revista não conhecido. [...].” (RR - 144-67.2011.5.09.0242, 
Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta, 2ª 
Turma, Data de Publicação: DEJT 23/02/2018). 
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“RECURSO DE REVISTA. PROCESSO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº 
13.015/2014. 1. DIFERENÇAS SALARIAIS. INSTRUÇÃO 
NORMATIVA Nº 40 DO TST. [...]. 2. INDENIZAÇÃO POR DANO 
MORAL. NÃO DISPONIBILIZAÇÃO DE INSTALAÇÕES 
SANITÁRIAS. DESRESPEITO AOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 
DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, DA INVIOLABILIDADE 
PSÍQUICA (ALÉM DA FÍSICA) DA PESSOA HUMANA, DO BEM-
ESTAR INDIVIDUAL (ALÉM DO SOCIAL) DO SER HUMANO, 
TODOS INTEGRANTES DO PATRIMÔNIO MORAL DA PESSOA 
FÍSICA. DANO MORAL CARACTERIZADO. 3. VALOR ARBITRADO. 
CRITÉRIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE 
OBSERVADOS. A conquista e afirmação da dignidade da pessoa humana 
não mais podem se restringir à sua liberdade e intangibilidade física e 
psíquica, envolvendo, naturalmente, também a conquista e afirmação de sua 
individualidade no meio econômico e social, com repercussões positivas 
conexas no plano cultural - o que se faz, de maneira geral, considerado o 
conjunto mais amplo e diversificado das pessoas, mediante o trabalho e, 
particularmente, o emprego. O direito à indenização por dano moral 
encontra amparo no art. 5º, V e X, da Constituição da República e no art. 
186 do CCB/2002, bem como nos princípios basilares da nova ordem 
constitucional, mormente naqueles que dizem respeito à proteção da 
dignidade humana, da inviolabilidade (física e psíquica) do direito à vida, 
do bem-estar individual (e social), da segurança física e psíquica do 
indivíduo, além da valorização do trabalho humano. O patrimônio moral da 
pessoa humana envolve todos esses bens imateriais, consubstanciados, pela 
Constituição, em princípios fundamentais. Afrontado esse patrimônio 
moral, em seu conjunto ou em parte relevante, cabe a indenização por dano 
moral, deflagrada pela Constituição de 1988. Na hipótese, o Tribunal 
Regional, com alicerce no conjunto fático-probatório produzido nos autos, 
constatou que restou "comprovado nos autos que a reclamada não fornecia 
acesso a instalações sanitárias, o que caracteriza violação à obrigação de 
zelar pela segurança e saúde dos trabalhadores, propiciando-lhes um meio 
ambiente do trabalho decente e sadio". Nesse contexto, explicitou a Corte 
de origem que "a conduta omissa e negligente da ré, (causou) lesão à honra 
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e à dignidade do autor e, restando evidente o nexo causal entre o 
comportamento da reclamada e os danos de ordem moral causados, surge o 
dever de indenizar, nos termos do art. 186 e 927, do Código Civil". A 
jurisprudência desta Corte Superior passou a considerar que os 
trabalhadores do transporte coletivo atraem a incidência da proteção 
normativa fixada pela NR nº 24 MT no sentido de assegurar condições 
sanitárias e de alimentação minimamente razoáveis. Ainda que não se possa 
exigir instalações ideais, tem de ser garantido o mínimo básico de condição 
de trabalho, relativamente às necessidades fisiológicas e de alimentação do 
ser humano. Ausentes tais condições mínimas, aplica-se a norma 
constitucional reparadora (art. 5º, V e X, da CF). Assim, compreende-se 
que a efetiva restrição ou limitação ao uso de banheiros pelo empregador 
ultrapassa os limites de atuação do poder diretivo do empregador para 
atingir a liberdade do trabalhador de satisfazer suas necessidades 
fisiológicas, afrontando normas de proteção à saúde e impondo-lhe uma 
situação degradante e vexatória. Desse modo, consoante consignado no 
acórdão recorrido, as condições de trabalho a que se submeteu o 
Reclamante realmente atentaram contra a sua dignidade, a sua integridade 
psíquica e o seu bem-estar individual - bens imateriais que compõem seu 
patrimônio moral protegido pela Constituição -, ensejando a reparação 
moral, conforme autorizam o inciso X do art. 5º da Constituição Federal e 
os arts. 186 e 927, caput, do CCB/2002. Ademais, afirmando a Instância 
Ordinária, quer pela sentença, quer pelo acórdão, a presença dos requisitos 
configuradores do danomoral, torna-se inviável, em recurso de revista, 
reexaminar o conjunto probatório dos autos, por não se tratar o TST de 
suposta terceira instância, mas de Juízo rigorosamente extraordinário - 
limites da Súmula 126/TST. Recurso de revista não conhecido nos temas.” 
(RR - 1763-80.2015.5.17.0141 , Relator Ministro: 
Mauricio Godinho Delgado, 3ª Turma, Data de 
Publicação: DEJT 20/10/2017). 
 
Sob esse prisma, apesar de o Tribunal Regional não 
haver identificado condições de trabalho análogas às de escravo, se 
delineou o descumprimento de normas trabalhistas de saúde e higiene 
e, sobretudo, de condições claramente degradantes de trabalho. 
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Devida, assim, a indenização por dano moral 
coletivo decorrente das condições extremamente degradantes de 
trabalho a que eram submetidos os trabalhadores e do descumprimento 
de normas trabalhistas de saúde e higiene. 
Ante o exposto, conheço do recurso de revista, por 
violação do art. 5º, V, da Constituição Federal. 
 
2. MÉRITO DO RECURSO DE REVISTA 
 
2.1. LEGITIMIDADE ATIVA. MINISTÉRIO PÚBLICO DO 
TRABALHO. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS 
 
Em decorrência do conhecimento do recurso de 
revista por ofensa aos arts. 129, III, da Constituição Federal, 21 
da Lei n° 7.347/85, e art. 81, parágrafo único, III, da Lei nº 
8.078/90, seu provimento é medida que se impõe, para reconhecer a 
legitimidade ativa do Ministério Público do Trabalho da 8ª Região 
referente aos pedidos constantes do aditamento à petição inicial e, 
consequentemente, restabelecer a sentença relativamente aos pedidos 
feitos no mencionado aditamento. 
 
2.2. DANO MORAL COLETIVO. CONDIÇÕES DEGRADANTES DE 
TRABALHO. DESCUMPRIMENTO DE NORMAS TRABALHISTAS DE SAÚDE E HIGIENE 
 
Conforme visto no conhecimento do recurso de 
revista, é devida a indenização por dano moral coletivo decorrente 
das condições extremamente degradantes de trabalho a que eram 
submetidos os trabalhadores e do descumprimento de normas 
trabalhistas de saúde e higiene. 
No que concerne ao valor da indenização, 
considerando a gravidade objetiva do desrespeito a normas mínimas de 
segurança, saúde e higiene do trabalho e à dignidade dos 
trabalhadores no caso concreto e, ainda, a jurisprudência do 
Tribunal Superior do Trabalho em casos análogos, considero razoável 
e proporcional fixar, desde logo, o valor da indenização por dano 
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moral coletivo em R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), que deverá ser 
revertido ao FAT. 
Em decorrência do conhecimento do recurso de 
revista por violação do art. 5º, V, da Constituição Federal, seu 
provimento é medida que se impõe, para condenar os Recorridos, 
solidariamente, ao pagamento de indenização por dano moral coletivo 
no importe de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), que deverá ser 
revertido ao FAT. 
 
ISTO POSTO 
 
ACORDAM os Ministros da Sétima Turma do Tribunal 
Superior do Trabalho, à unanimidade, (a) conhecer do recurso de 
revista interposto pelo Ministério Público da 8ª Região, quanto ao 
tema “LEGITIMIDADE ATIVA - MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO - DIREITOS 
INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS”, por violação dos arts. 129, III, da 
Constituição Federal, 21 da Lei n° 7.347/85, e art. 81, parágrafo 
único, III, da Lei nº 8.078/90, e, no mérito, dar-lhe provimento, 
para reconhecer a legitimidade ativa do Ministério Público do 
Trabalho da 8ª Região referente aos pedidos constantes do aditamento 
à petição inicial e, consequentemente, restabelecer a sentença 
relativamente aos pedidos feitos no mencionado aditamento; (b) 
conhecer do recurso de revista do Ministério Público da 8ª Região, 
no tocante ao tema “DANO MORAL COLETIVO - CONDIÇÕES DEGRADANTES DE 
TRABALHO - DESCUMPRIMENTO DE NORMAS TRABALHISTAS DE SAÚDE E 
HIGIENE”, por violação do art. 5º, V, da Constituição Federal, e, no 
mérito, dar-lhe provimento, para condenar os Recorridos, 
solidariamente (arts. 2º e 9º da CLT), ao pagamento de indenização 
por dano moral coletivo no importe de R$ 200.000,00 (duzentos mil 
reais), que deverá ser revertido ao FAT. 
Custas processuais atribuídas aos Réus, no importe 
de R$ 4.000,00 (quatro mil reais), calculadas sobre o valor 
provisoriamente arbitrado à condenação de R$ 200.000,00 (duzentos 
mil reais). 
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Atenda-se ao requerido nas petições de fls. 
6.241/6.244, com relação à representação dos Recorridos. 
Brasília, 4 de dezembro de 2018. 
 
 
Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001) 
UBIRAJARA CARLOS MENDES 
Desembargador Convocado Relator 
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