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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE AGRONOMIA DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA REPRODUÇÃO ANIMAL MARI LOURDES BERNARDI 2017 2 PREFÁCIO Esta apostila visa dar suporte ao aprendizado efetuado na disciplina “Reprodução Animal”. Além das informações contidas na mesma, resultados de experimentos e material ilustrativo, referentes aos diferentes tópicos enfocados, mas ausentes nesta apostila, serão apresentados em aula. 3 SUMÁRIO • PUBERDADE 4 • CICLO ESTRAL 6 • DETECÇÃO DO ESTRO 8 • TERMORREGULAÇÃO TESTICULAR E ESPERMATOGÊNESE 12 • TRÂNSITO ESPERMÁTICO E FECUNDAÇÃO 15 • DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO 18 • RECONHECIMENTO MATERNO DA GESTAÇÃO 19 • PLACENTAÇÃO 20 • GESTAÇÃO 22 • DIAGNÓSTICO DA GESTAÇÃO 23 • DESENVOLVIMENTO FETAL 25 • PARTO 27 • PUERPÉRIO E REINICIO DA ATIVIDADE ESTRAL NO PÓS-PARTO 31 • INFLUÊNCIA DO FOTOPERÍODO NA REPRODUÇÃO 35 • INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NA REPRODUÇÃO 38 • INFLUÊNCIA DA NUTRIÇÃO NA REPRODUÇÃO 45 • BIBLIOGRAFIA 51 • ANEXOS E APÊNDICES 55 4 PUBERDADE A puberdade é atingida quando o macho ou a fêmea forem capazes de produzir gametas (espermatozoides ou óvulos) e de manifestar um comportamento sexual compatível com a realização de cópula e fecundação. Para atingir a puberdade é necessário um ajuste gradual entre a maturação do sistema nervoso central, culminando com a produção adequada de GnRH, FSH e LH, e a habilidade das gônadas (ovários e testículos) em assumir a esteroidogênese e a gametogênese. O evento endócrino mais importante, para que a puberdade ocorra, é o aumento gradativo da pulsatilidade de LH, até chegar a aproximadamente 1 pulso por hora. Em termos práticos, considera-se que um animal está púbere a partir do momento em que aparecem os primeiros sinais de atividade sexual: estro na fêmea e ejaculação no macho. A definição de puberdade em machos é mais difícil do que em fêmeas. Do ponto de vista científico, puberdade é o momento em que o macho bovino produz um ejaculado com 50 milhões de espermatozoides com um mínimo de 10% de motilidade (Almquist & Amann, 1976). Junto com as alterações do perfil hormonal que coincidem com o inicio da atividade sexual, observa-se no macho um crescimento testicular considerável e, na fêmea, além da manifestação do estro, há um crescimento da glândula mamária. Além disto, os hormônios sexuais apresentam uma ação sobre o organismo em geral, o que contribui para o dimorfismo sexual, quanto às características sexuais secundárias: ossatura fina, bacia larga, menor massa muscular nos anteriores da fêmea, em comparação ao macho. Como a eficiência reprodutiva plena não é atingida por ocasião do primeiro estro ou primeira ejaculação, a puberdade não deve ser confundida com maturidade sexual. Na puberdade o animal está apto para o primeiro acasalamento enquanto na maturidade sexual, atingida mais tarde, o potencial de acasalamento está no seu máximo. A puberdade é influenciada por vários fatores: hormonais, genéticos, nutricionais e ambientais. Estes fatores interagem influenciando a idade à puberdade, tanto para machos quanto para fêmeas. No que se refere ao aspecto genético há diferenças entre espécies e, dentro destas, diferenças entre raças ou linhagens. Em geral, a consanguinidade tende a aumentar a idade à puberdade. Machos ou fêmeas oriundos de cruzamentos tendem a atingir a puberdade mais cedo do que os de raça pura ou, em idade intermediária, conforme a idade à puberdade das raças cruzadas. Quando a alimentação permite um crescimento normal, a puberdade ocorre em uma idade e peso característicos. Sabe-se que para cada espécie ou raça, a puberdade é normalmente atingida quando um determinado percentual do peso adulto é atingido (de 25 a 60%, dependendo da espécie). Segundo Hafez & Hafez (2004), bovinos leiteiros atingem a puberdade com 30 a 40% do peso adulto, enquanto em gado de corte esse percentual é de 45 a 55%. Tem sido mostrado que raças zebuínas ou suas cruzas podem necessitar até 65% do peso adulto para atingir a puberdade. Fêmeas ovinas alcançam a puberdade com 40 a 60% do peso adulto (por exemplo, 40% e 50% nas raças Romney e Suffolk, respectivamente). Leitoas atingem a puberdade com aproximadamente 35% do peso de adulto ou até com menor percentual, como é o caso da raça Chinesa Meishan, que atinge a puberdade com aproximadamente 25% do peso adulto. Em geral, animais com crescimento rápido atingem a puberdade em idade mais precoce. Assim, quando há uma redução da velocidade de crescimento, a puberdade dependerá mais do peso do que da idade. De modo geral, o inicio da puberdade está mais ligado ao peso corporal, nos ruminantes, e mais ligado à idade nos suínos. Em bovinos, existem variações raciais muito grandes para o peso à puberdade, sendo que 90% das fêmeas de boa parte das raças manifestam o primeiro estro quando alcançam entre 270 e 340 kg. O fotoperíodo pode determinar a idade à puberdade nas espécies que apresentam atividade reprodutiva sazonal como é o caso dos ovinos, caprinos e equinos. Ovinos e caprinos apresentam a puberdade estimulada pelo fotoperíodo decrescente enquanto os equinos respondem ao fotoperíodo crescente. Em ovinos, borregas nutridas adequadamente e que chegam ao outono com 6 a 8 meses de idade já podem apresentar estros. No entanto, machos ou fêmeas que atingem o peso e idade em época de fotoperíodo não favorável, podem 5 demorar até terem a idade de 12 a 18 meses para iniciar a sua atividade reprodutiva. O efeito do fotoperíodo é menos pronunciado em bovinos e suínos, embora tenha sido observado que novilhas submetidas a 18 horas de luz diárias alcançaram a puberdade 25 a 50 dias mais cedo do que novilhas mantidas sob fotoperíodo natural (Rice, 1991). A interação social também pode influenciar a idade à puberdade. Este aspecto foi mais estudado em suínos, tendo sido observado que leitoas atingem a puberdade mais tarde quando criadas isoladas em relação à criação em grupo. No entanto, quando criadas em grupos, é importante que seja respeitado um espaço mínimo para cada fêmea. Recomenda-se fornecer um espaço de 1,5-2 m2/fêmea e mantê-las em grupos de 12 a 15 por baia. A presença de fêmeas adultas tende a retardar o aparecimento da puberdade, mas a presença do macho apresenta, em geral, um efeito positivo no desencadeamento da puberdade em suínos. Além da redução dos custos de produção, a antecipação da idade da primeira cobertura permitiria aumentar a vida útil da fêmea e sua produtividade. As leitoas possam ser estimuladas a entrar em estro utilizando métodos como o transporte de fêmeas, a transferência de fêmeas para outra baia, a mistura de diferentes lotes de fêmeas ou o contato com o macho. Estas medidas podem ser utilizadas separadamente, mas se usadas em associação tendem a apresentar melhores resultados, determinando a entrada em estro 4 a 10 dias após. Hughes et al. (1997) observaram que fêmeas submetidas ao transporte e expostas ao macho por 3 vezes ao dia entraram em puberdade mais cedo do que fêmeas que não foram submetidas a nenhum destes tratamentos ou que foram submetidas a apenas um deles. Hoje em dia, a exposição das leitoas ao cachaço é o manejo de escolha e de uso rotineiro para antecipar a puberdade das leitoas, em granjas de suínos. Embora não haja muitos estudos a este respeito, altas temperaturas ambientais tendem a retardar o aparecimento da puberdade. Puberdade de machos e fêmeas de diferentes espécies Puberdade Espécie Idade em meses (Variação) Peso em kg (Variação) Bovinos Macho 10 (6-18) Fêmea leiteira 10-12 corte 11-15 300 (200-450) zebuína 17-27 Ovinos Macho 7 (4-6) Fêmea 7 (6-9) 45 (40-50) Caprinos Macho 4-6 Fêmea 5-7 Suínos Macho 6 (4-8) Fêmea 6 (5-8) 77 (73-82)* Equinos Macho 18 (12-24) Fêmea 14 (10-24) Adaptadode Sorensen (1979), Hafez (1982) e Hafez & Hafez (2004) * Leitoas de linhagens modernas atingem a puberdade com peso superior ao apresentado na tabela Idade e peso à puberdade de machos bovinos Raça Idade (dias) Peso corporal (kg) Angus 295 246 Red Poll 283 258 Hereford 326 260 Pardo Suiço 264 294 Charolês 287 396 Adaptado de Hamilton & Stark (1989) 6 CICLO ESTRAL Controle hormonal do ciclo estral O ciclo estral é controlado principalmente pela interação do FSH, LH, estrógenos, progesterona e prostaglandina sendo que os padrões de secreção dos mesmos variam entre as diferentes espécies. O padrão descrito será o da ovelha. Os folículos se encontram em constante atividade de maturação, transformação ou involução, a partir do folículo primordial representado por uma única camada de células foliculares. Os folículos evoluem (em grupos) até a formação de folículos maduros ou de DE GRAFF, apresentando ciclos de proliferação das células foliculares e formação de cavidade ou antro. De modo geral, os folículos são classificados em primários, secundários e terciários, conforme o número de camadas celulares e a formação do antro folicular. Em sua transformação evolutiva o folículo passa a CORPUS RUBRUM quando, após a ovulação, a cavidade se enche de sangue; CORPUS LUTEUM ou AMARELO que resulta da invasão do antro folicular por células luteínicas derivadas da transformação das células da granulosa e da teca interna. Da involução do corpo lúteo resulta o corpo cicatricial denominado CORPUS ALBICANS. Os folículos que não evoluem degeneram e são chamados de FOLÍCULOS ATRÉSICOS. * O ovário da égua difere da apresentação acima descrita não apresentando zona cortical e medular distintas. Somente na chamada FOSSA DE OVULAÇÃO encontra-se parênquima ovariano revestido de epitélio germinativo. Os folículos crescem no sentido da fossa de ovulação, local onde se rompem para a liberação do óvulo. Fase folicular Fase de crescimento final, maturação e ovulação. Ocorre aumento dos níveis sanguíneos de estradiol (folículos) e queda dos níveis de progesterona. O FSH estimula as células da granulosa a produzir estradiol e o LH estimula as células da teca a produzir testosterona. Assim, o líquido folicular contém 17β-estradiol, testosterona e progesterona, além de uma série de fatores de crescimento que estimulam a produção ou mediam a ação destes hormônios. A progesterona em altos níveis exerce influência retrógrada negativa sobre a liberação de LH. O aumento de estrógeno durante a fase folicular exerce uma influência retrógrada positiva sobre o eixo hipotálamo-hipófise determinando o aparecimento da onda ovulatória de LH. Os níveis sanguíneos de LH aumentam (dobram) na fase folicular. Na égua não há um pico pré- ovulatório clássico, mas sim um aumento gradual de LH, atingindo a concentração máxima no dia posterior à ovulação (Gérard et al., 1999). Fase luteínica É a fase durante a qual o corpo lúteo está ativo; dura de 10 a 14 dias em ovelhas e de 12 a 16 dias em porcas e vacas. Após a ovulação, as células da teca e da granulosa proliferam e se transformam em células luteínicas (fenômeno de luteinização), as quais iniciam a secretar progesterona. Cerca de 7-9 dias após a ovulação, o corpo lúteo de ovelhas atinge seu pleno crescimento e função. A remoção do corno uterino na ovelha prolonga a vida do corpo lúteo ipsislateral ao corno removido. A elevação de estradiol oriundo dos folículos em crescimento estimula a produção de PGF2alfa na mucosa do útero (endométrio), o que irá ocasionar a lise do corpo lúteo. A fase luteínica se sobrepõe à verdadeira fase folicular (formação do antro e ovulação), nos mamíferos domésticos. Fenômeno de RAJAKOSKI: refere-se à existência de ondas de crescimento folicular (2-4 ondas) durante a fase luteínica. Estas diversas ondas de crescimento folicular que ocorrem durante o ciclo estral normalmente acabam em atresia dos folículos que estavam em crescimento. O(s) folículo(s) ovulante(s) é o que cresce durante a fase final de vida útil do corpo lúteo. 7 Regressão do corpo lúteo A artéria ovárica encontra-se enovelada sobre a veia uterina e a PGF2alfa produzida no útero pode assim passar diretamente para o ovário sem entrar na circulação sanguínea sistêmica (na égua, boa parte da PGF2alfa entra na via sistêmica para exercer seu efeito pois, nesta espécie, a artéria ovárica é bem menos enovelada na veia uterina). Divisões do ciclo estral Pró-estro: folículos ovarianos aumentam de volume, aumenta a irrigação do endométrio e das paredes vaginais, os quais se espessam. Fenômenos proliferativos gerais. Inicio marcado por degeneração do corpo lúteo. Mais ou menos 3 dias (vaca) e 2-3 dias (ovelha). Estro: período de receptividade sexual, durante o qual aumenta o crescimento folicular e quase sempre é o período de ovulação. Continuam os fenômenos proliferativos. Mais ou menos 18-19 horas na vaca e 24-36 horas na ovelha. A queda da progesterona seguida de rápido aumento de estrógeno (produzido pelos folículos pré-ovulatórios) é requisito essencial para o aparecimento do comportamento de estro. Metaestro: formação do corpo lúteo, alteração do endométrio (fase de secreção) e das paredes vaginais. Mais ou menos 3-4 dias na vaca e 2 dias na ovelha. Diestro: período de inatividade sexual, período de secreção do corpo lúteo. Mais ou menos 10-14 dias na vaca e 10 dias na ovelha. Quando há um período prolongado entre dois estros, maior do que o intervalo normal, a fêmea está em anestro (ausência de estro), o qual pode ser devido a causas fisiológicas (gestação, lactação, estacional), distúrbios ovarianos ou ainda a estados nutritivos deficientes. Ovulação Durante a ovulação, os folículos pré-ovulatórios sofrem três modificações básicas: 1. Maturação nuclear e citoplasmática 2. Diminuição da propriedade coesiva das células do cumulus oophorus 3. Adelgaçamento e ruptura da parede folicular externa Uma série de eventos bioquímicos se processa após a liberação da onda pré-ovulatória de LH, culminando com a ruptura folicular e liberação do ovócito. O folículo destinado a ovular não só recebe um maior volume de sangue em termos absolutos, mas possui capilares mais permeáveis que os outros folículos. Nas células do epitélio ovariano, próximas à parede folicular, ocorre a ruptura dos lisossomos com liberação de enzimas proteolíticas, incluindo colagenases, que destrõem as camadas que separam o ovócito do exterior. A parede do folículo torna-se excessivamente fina numa área circunscrita - estigma - a qual se projeta na superfície ovariana e torna-se totalmente avascular. A ruptura do folículo parece não ser um processo mecânico, mas ocorre flacidez do folículo ovulatório algumas horas antes da ovulação resultando em liberação lenta do líquido folicular, após a ruptura da parede do folículo. Características do ciclo estral das diversas espécies Espécie Duração do ciclo (dias) Duração do estro Momento da Ovulação Ovelha 17 (14-19) 24-36 horas 24-30 h após inicio (1/3 final) Cabra 21 (18-22) 24-48 horas 30-36 h após inicio (1/3 final) Porca 21 (19-23) 48-72 horas 35-45 h após inicio (1/3 final) Vaca 21 (18-24) 18 (12-30) horas 10-14 h após o final do estro Égua 21 (19-25) 4-8 dias 1-2 d antes do final do estro Adaptado de Hafez (1982), O'Connor & Senger (1997), Rae (2002) e Hafez & Hafez (2004) 8 DETECÇÃO DO ESTRO O procedimento de detecção de estro é extremamente importante, pois da sua correta execução depende a realização do acasalamento ou da inseminação artificial no momento mais adequado. Estros não detectados ou detectados erroneamente implicam em perdas, pois fêmeas que estavam em estro não serão inseminadas ou serão inseminadas em momento inadequado. É importante possuir um bom sistema de identificação das fêmeas e de anotação das datas de estro. Há basicamente dois tipos de erro associados com a detecção de estro e inseminação dasfêmeas: a não detecção de fêmeas em estro e a inseminação de fêmeas que não estão em estro. Este último deve-se a erros de anotação ou à detecção baseada somente em sinais secundários de estro ou uso de marcadores. Estima-se que há falhas na detecção do estro de 30 a 40% das fêmeas bovinas leiteiras. Sinais de estro • Aceitação da monta • Salta sobre as companheiras • Secreção de muco claro pela vulva • Edema e hiperemia da vulva • Agitação, nervosismo, mugidos • Diminuição do apetite, diminuição da produção de leite • Urina com frequência • Exposição do clitóris (em éguas) • Movimentação do rabo (mais em cabras) Vários métodos podem ser utilizados para a detecção de estro: • Observação visual • Uso de rufiões com ou sem marcadores • Uso de marcadores acoplados à garupa das fêmeas • Pintura da cauda • Monitoração da atividade física através de podômetros • Monitoração contínua através de câmeras de vídeo • Medida da resistência elétrica do fluido vaginal • Medida da temperatura vaginal ou temperatura do leite Os quatro primeiros são os métodos mais utilizados para a detecção do estro. A detecção da fêmea em estro pode ser efetuada através da observação visual pelo indivíduo que lida com os animais. Um dos comportamentos mais característicos de estro é a aceitação da monta (efetuada pelo macho inteiro, rufião ou outras fêmeas). Orihuela (2000) comenta que 90% das vacas montadas estavam em estro contrastando com 70% das que estavam montando. Algumas fêmeas são mais ativas sexualmente do que outras e algumas podem manifestar preferência sexual por uma parceira, em grupos sexualmente ativos. Em zebuínos, o comportamento de monta ocorre quase exclusivamente entre fêmeas em estro, sendo que o número de fêmeas detectadas em estro pelo sinal de aceitação de monta é menor do que o observado em fêmeas taurinas. Pelo fato de ser montada, a fêmea em estro pode apresentar a região da inserção da cauda suja ou com o pêlo “desalinhado”. Em bovinos leiteiros, as fêmeas aceitam a monta com maior frequência na ausência de atividades rotineiras de manejo do rebanho (alimentação, ordenha e limpeza das instalações) e nos momentos mais frescos do dia. Usando monitoração por câmeras de vídeo, durante 24h, por um período de 89 dias, foi constatado que 70% da atividade de monta das fêmeas leiteiras ocorre entre 7:00 da noite e 7:00 da manhã. O comportamento de estro também é influenciado pelo número de fêmeas que se encontram nas fases de pró-estro e em estro. Desta forma, foi observado que o número de montas aumentou significativamente quando 2 ou mais vacas estavam em estro ao mesmo tempo. Para que um maior número de fêmeas em estro seja detectado recomenda-se, em geral, que se procedam de 2 a 3 observações diárias (20 a 30 minutos de observação intensiva a cada vez). Em sua revisão, Orihuela (2000) salienta o fato da monta em vacas não durar mais 9 do que 5 a 7 segundos e das fêmeas receberem de 1 a 150 montas durante o estro. Pode-se assim perceber que o tempo em que a fêmea pode ser observada aceitando a monta é muito curto. Por isto, muitas fêmeas podem escapar da detecção deste sinal, sendo necessária a observação cuidadosa e intensa, além da associação com outros sinais de estro. Fatores como alta umidade, chuvas e ventos fortes tendem a reduzir as atividades motoras relacionadas com o estro. Fatores estressantes como transportar animais para um novo campo ou fechar animais que eram mantidos normalmente a campo, também podem contribuir para a diminuição da manifestação do estro. Algumas medidas podem ser adotadas para favorecer a manifestação de estro, o que permitirá aumentar a eficácia da sua detecção: - O observador do estro deve ser alguém com o qual as fêmeas estejam familiarizadas, com o qual as mesmas não associem situações traumáticas; - Fazer com que os animais possam interagir livremente em locais onde o piso não seja úmido ou escorregadio; - Realizar a detecção de estro em momentos que não coincidam com ordenha, alimentação, aplicação de medicamentos ou outras atividades; - Evitar problemas de membros locomotores para que as fêmeas não hesitem em montar nas companheiras ou para evitar que aceitem a monta, pelo fato de não conseguirem, devido à dor, desviar o salto de outras fêmeas; - Minimizar o efeito de altas temperaturas, pois a atividade de monta diminui nestas condições (utilizar abrigos ou locais com sombra); - Introduzir machos ou fêmeas sexualmente ativas (em estro) no grupo. Efeito do número de vacas em estro ao mesmo tempo sobre o comportamento de monta Número de saltos/vaca Número de vacas em estro Média Variação 1 11,2 1-30 2 36,6 1-179 3 52,6 1-173 4 ou + 49,8 1-130 O’Connor & Senger (1997) Rufiões para a detecção de estro podem ser obtidos através de uma série de procedimentos, sendo importante escolher animais de porte razoável e boa libido. • Vasectomia: preparados 1 a 2 meses antes da utilização • Desvio de pênis • Androgenização de fêmeas ou de machos castrados • Remoção da cauda do epidídimo • Utilização de animais intersexo • Utilização de colete ou avental que impede a cobertura Em geral, os três primeiros métodos são os mais utilizados. Recomenda-se utilizar 1 rufião para cada 40-50 fêmeas. No entanto, se o estro é sincronizado deve-se usar 5 a 10% de rufiões. O trabalho dos rufiões deve ser supervisionado de modo a detectar problemas e efetuar a substituição. Os problemas mais comuns e que conduzem a uma substituição do rufião são: • brigas • problemas de cascos ou membros locomotores • perda excessiva de peso • traumatismos diversos Sistemas de marcação das fêmeas em estro podem ser utilizados para auxiliar no processo de detecção, sobretudo para aquelas fêmeas que não aceitam a monta no momento da observação. No entanto, deve-se associar esta observação com outros sinais indicadores de estro para aumentar a eficácia da detecção. 10 Para marcar as fêmeas em estro, existem os seguintes dispositivos: • Buçal marcador (bovinos) Abastecê-lo a cada 3 dias com óleo e tinta xadrez que contraste bem com a cor da pelagem predominante no lote de fêmeas a serem detectadas • Dispositivos liberadores de corante utilizados na garupa das fêmeas (bovinos) • Uso de adesivos na garupa das fêmeas, os quais vão deixando mostrar corante fluorescente à medida que proteção é “raspada” pela monta nas fêmeas • Pintar a cauda da fêmea (bovinos) Em 70% dos casos de estro, há uma remoção de 50% ou mais de tinta. • Pintar o peito do macho com mistura de graxa de ovelha + corante (ovinos, caprinos) A utilização de podômetros baseia-se no fato de que o número de passos de uma vaca em estro é cerca de 2-3 vezes maior do que o de fêmeas que não estão em estro. A eficiência e exatidão da pedometria podem estar acima de 90% quando os animais são mantidos em condições em que a rotina não é muito alterada. Caso contrário, o número de diagnósticos falsos positivos pode ser grande. Uma das vantagens deste sistema seria o de permitir a detecção, pelo menos em parte, das fêmeas que apresentam estro silencioso. Em termos de monitoração via computador, minisensores implantados por via subcutânea, na região da garupa, foram testados para monitorar o número e duração das montas, bem como a atividade do animal. No entanto, o custo deste sistema ainda inviabiliza sua utilização. Medida da resistência elétrica do fluido vaginal O período peri-estro está associado com a hidratação da genitália feminina, o que conduziria a uma diminuição da resistência elétrica dos tecidos. A medida da resistência elétrica vaginal não tem, no entanto, fornecido resultados consistentes, pois, devido à variação individual, seria necessário realizar um monitoramento das várias fases do ciclo de cada fêmea para constatar a diminuição da resistência elétrica nas proximidades do estro. Devido ao trabalho e manuseio necessários para realizar medidasrepetidas, este método poderia ser mais adequado para avaliar fêmeas após a sincronização de estro ou para checar o retorno ao estro, 19 a 23 dias após o acasalamento, limitando, assim, sua aplicação a não mais do que 4- 5 dias. Medida da temperatura vaginal e temperatura do leite A utilização destes métodos baseia-se no fato de que fêmeas em estro apresentam um aumento da temperatura vaginal (0,3-1,1ºC) e do leite (0,2-0,4ºC). No entanto, a sua utilização pode ser benéfica como complementar de outros métodos de detecção, não sendo muito eficaz como método único de detecção do estro. É pouco provável que somente um dos métodos apresentados seja eficaz para uma boa detecção do estro. É sempre importante considerar os custos envolvidos e a praticidade da utilização de cada um dos métodos. Métodos que implicam em manipulação do animal (p. exemplo, medida da resistência elétrica do fluido vaginal) podem não ser adequados para grandes rebanhos. As fêmeas caprinas podem ser detectadas em estro pela observação visual, a qual pode ser associada ao uso de um rufião marcador. As fêmeas ovinas não demonstram o estro facilmente, sendo necessária a utilização de rufiões (mais comumente machos vasectomizados) para uma garantia de detecção. Eficiência isolada ou combinada de diversos métodos de detecção do estro em fêmeas bovinas Observação visual Pintura da cauda Machos castrados androgenizados TºC do leite Podômetros Combinados 68 -- -- -- 74 93 51 66 -- -- -- 80 61 -- 79 -- -- 88 77 -- -- 74 69 91-92-97* * Eficiência combinada de cada dois métodos ou dos três juntos Adaptado de Lehrer et al. (1992) 11 Para a detecção do estro das fêmeas suínas é importante que o macho esteja presente. As fêmeas suínas aceitam a monta do macho inteiro ou de macho vasectomizado (reflexo de tolerância ao macho - RTM), mas também ficam paradas e aceitam a pressão na região lombar realizada pelo homem (reflexo de tolerância ao homem - RTH). O RTH ocorre em somente 50% das fêmeas, caso seja efetuado na ausência do cachaço (50-60% das fêmeas nulíparas e 20-30% das fêmeas multíparas não apresentam RTH, apesar de estarem em estro), mas 90- 95% das fêmeas respondem positivamente se o macho estiver presente. O principal fator para que as fêmeas em estro demonstrem o reflexo de imobilidade é o cheiro do macho. Os feromônios, produzidos nos testículos e armazenados nas glândulas prepuciais e submaxilares estão associados ao odor dos cachaços e favorecem a manifestação do reflexo de tolerância pelas fêmeas. De modo geral, a escolha do(s) método(s) de detecção do estro deve levar em consideração os seguintes aspectos: • Eficácia • Custos • Praticidade de aplicação (manipulação do animal, etc) 12 TERMORREGULAÇÃO TESTICULAR E ESPERMATOGÊNESE Três estruturas participam do processo de termorregulação testicular: - Dartos: camada constituída de fibras musculares lisas e fibras elásticas, situada logo abaixo da pele da bolsa escrotal - Cremaster: túnica incompleta de fibras musculares - Plexo pampiniforme: emaranhado de veias envolvendo a artéria espermática Os mecanismos pelos quais a temperatura testicular é regulada são os seguintes: - Enrugamento ou distensão da pele da bolsa escrotal, pela túnica dartos, diminuindo ou aumentando a superfície de troca de temperatura com o meio ambiente; - Elevação ou abaixamento da bolsa escrotal, pelo cremaster, aproximando ou distanciando os testículos do corpo do animal, e - Troca de calor entre o sangue arterial e venoso, pelo plexo pampiniforme, fazendo com que a temperatura do sangue arterial que chega ao testículo diminua em até 4ºC. Durante o período de vida intrauterina, os testículos do feto migram até a bolsa escrotal. Nos ruminantes, a migração se completa durante a fase fetal. Nos equinos e suínos se completa logo após o nascimento e, nos coelhos, o canal inguinal permanece aberto podendo os testículos ser retraídos para dentro da cavidade abdominal, em qualquer momento. A regulação da temperatura testicular é essencial para que ocorra a formação adequada dos espermatozoides viáveis e com capacidade fecundante plena. Os machos cujos testículos permanecem na cavidade abdominal são denominados de criptorquidas. Estes machos possuem libido, pois a produção de hormônios continua acontecendo. Por outro lado, eles são inférteis, pois a temperatura testicular permanece acima da necessária (cerca de 34ºC) para que aconteça uma espermatogênese adequada. A atividade sexual do macho é um processo contínuo, diferentemente do que acontece com a fêmea que apresenta uma atividade cíclica. Mesmo assim, nas espécies que sofrem influência estacional, há uma redução na produção e viabilidade dos espermatozoides, na época de fotoperíodo desfavorável. A atividade sexual masculina está intimamente ligada ao bom funcionamento dos testículos, sob o controle do complexo hipotálamo-hipófise. Os testículos possuem duas funções essenciais à atividade sexual do macho: • Produção dos espermatozoides • Produção de testosterona O sêmen é um líquido mais ou menos viscoso, esbranquiçado ou levemente amarelado, o qual é constituído pelos espermatozoides em suspensão no plasma seminal. O plasma seminal é formado principalmente pelas secreções das glândulas acessórias masculinas (vesículas seminais ou glândulas vesiculares, próstata e bulbo-uretrais). O plasma seminal auxilia no transporte dos espermatozoides no trato masculino bem como dentro do trato feminino, principalmente na égua e na porca. Além disto, auxilia na manutenção de condições adequadas para a sobrevivência dos espermatozoides e, possivelmente, participe na provisão de condições adequadas para a fecundação. A composição química do sêmen varia conforme as espécies e contém particularmente: • Vários íons (Cl-, Na+, K+, etc) • Frutose - produzida essencialmente nas vesículas seminais e principal fonte de energia para os espermatozoides • Ácido cítrico - atuando essencialmente como tamponante do pH do sêmen (os citratos são frequentemente utilizados nos diluidores de sêmen) • Ácido lático - produto do metabolismo dos espermatozoides • Prostaglandinas - favorecem o transporte dos espermatozoides nas vias genitais femininas 13 A espermatogênese compreende o processo de multiplicação e diferenciação das células germinativas masculinas. A partir das células iniciais ou espermatogônias, há a formação dos espermatozoides no epitélio dos túbulos seminíferos, dentro dos testículos. O epitélio seminífero é composto de dois tipos celulares básicos: células de Sertoli ou de sustentação e células germinativas em desenvolvimento. As células de Sertoli asseguram a proteção (impedem contato direto com a corrente sanguínea) e nutrição das células que vão dar origem aos espermatozoides. Além disto, elas produzem a inibina e ABP (Androgen Binding Protein - Proteína fixadora de andrógenos), importantes na regulação da espermatogênese. Durante a espermatogênese, as células germinativas passam por cinco estádios celulares característicos: espermatogônias, espermatócitos primários, espermatócitos secundários, espermátides e espermatozoides. Estrutura do espermatozoide • Cabeça: constituída de núcleo altamente condensado envolto pelo acrossoma • Peça intermediária: rica em enzimas do metabolismo espermático • Flagelo ou cauda: seus movimentos conferem motilidade aos espermatozoides Controle endócrino da espermatogênese O LH estimula as células de Leydig (células intersticiais dos testículos) a produzir andrógenos testiculares, os quais estimulam o desenvolvimento das células germinativas. O principal andrógeno produzido é a testosterona, a qual é essencial para que ocorra uma espermatogênese adequada. O processo de maturação espermática, que ocorre durante o trânsito dos espermatozoides no epidídimo, depende da capacidade funcional das células epiteliais do epidídimo, a qual é mantida pelos andrógenostesticulares. O FSH estimula as células de Sertoli a produzir uma proteína fixadora de andrógenos de modo a manter um alto nível de andrógenos (testosterona) dentro dos túbulos seminíferos. As células de Sertoli também produzem o hormônio inibina que atua de modo retroativo sobre o hipotálamo e/ou hipófise para controlar a produção de FSH. Duração da espermatogênese O conhecimento da duração da espermatogênese possui uma grande importância prática, pois permite adaptar a preparação ou tratamento dos machos em função da previsão de sua utilização. Todo fator perturbador da espermatogênese, dependendo da severidade, possui um efeito negativo sobre a qualidade espermática, que pode perdurar por até 40-60 dias, dependendo da espécie. Duração da espermatogênese em várias espécies Espécie (macho) Duração (dias) Bovinos (Touro) 61 Equinos (Garanhão) 55 Ovinos (Carneiro) 47 Suínos (Cachaço) 39 Amann & Schanbacher (1983) Transporte espermático no epidídimo Os espermatozoides formados nos túbulos seminíferos não possuem motilidade própria, sendo transportados pelas secreções dos túbulos seminíferos e rete testis, auxiliadas pelos elementos contráteis da cápsula testicular e células mióides dos túbulos e ainda pelas células epiteliais ciliadas dos ductos eferentes. O epididimo é constituído de cabeça, corpo e cauda. À medida que os espermatozoides percorrem o epidídimo passam por processo de maturação que lhes confere motilidade e capacidade fecundante. A aquisição da capacidade fecundante é um fenômeno gradativo já que os espermatozoides da cauda possuem um índice de fecundação maior do que os situados na metade distal do corpo do epidídimo. O principal local de armazenamento dos espermatozoides é a cauda do epidídimo, onde permanecem cerca de 70% dos espermatozoides das reservas extra-gonadais. Machos 14 bovinos em repouso armazenam de 45 até 70% dos espermatozoides na cauda do epididimo. A permanência dos espermatozoides na cauda do epididimo é menor em machos que ejaculam diariamente, a reserva representando, neste caso, aproximadamente 25% da produção diária. Os espermatozoides podem permanecer viáveis e com capacidade fecundante por vários dias, na cauda do epididimo. A habilidade dos espermatozoides de sobreviver por longos períodos no epidídimo pode estar ligada a condições físico-químicas deste órgão. De modo geral, os espermatozoides estão imóveis ou semi-imóveis no epidídimo e acredita-se que seu estado metabólico seja quiescente. Os espermatozoides armazenados na cauda do epidídimo não são indefinidamente viáveis. Assim, após um descanso sexual prolongado, vários espermatozoides degenerados ou deteriorados estão presentes no ejaculado. Muitos dos espermatozoides produzidos são absorvidos no trato masculino (ampola do ducto deferente) ou eliminados na urina. O tempo de trânsito no epidídimo (cauda) pode ser reduzido de 10 a 20% por um aumento da frequência de ejaculação. Características do ejaculado de diversas espécies Macho Concentração média (bilhões/ml) Volume médio (ml) Cavalo 0,15 100 (40-320) Porco 0,30 300 (125-500) Touro 1-2 3-5 Bode 3 1,2 (0,2-2,0) Carneiro 3,5 1,0 (0,5-3,0) Galo 3,5-6,5 0,5-1,5 Peru 6-12 0,2-1,0 O pH do sêmen varia de 5,9 a 7,8. Adaptado de Mies Filho (1982), Bonnes et al. (1988), Sauveur (1988) 15 TRÂNSITO ESPERMÁTICO E FECUNDAÇÃO Transporte rápido dos espermatozoides Os espermatozoides penetram no muco cervical e através do aumento da atividade contrátil do miométrio, durante a cópula, um determinado número pode rapidamente (em 5 a 30 minutos) ser transportado até o oviduto. Porém, acredita-se que a fecundação somente ocorra após um número crítico de espermatozoides ter alcançado o local de fecundação. Colonização dos reservatórios espermáticos Nos ruminantes, uma grande quantidade de espermatozoides é aprisionada nas pregas mucosas das criptas cervicais. Na cérvix, a fagocitose dos espermatozoides é menos intensa do que no útero ou na vagina. Apesar dos espermatozoides deixarem a cérvix por sua própria motilidade, eles são principalmente transportados passivamente pelas contrações cervicais e uterinas (assim, alguns espermatozoides mortos também podem chegar ao local de fecundação), embora os defeituosos ou imóveis sejam mais facilmente retidos nas barreiras que impedem o seu avanço. Liberação gradual e prolongada dos espermatozoides Após o estabelecimento nos reservatórios, os espermatozoides são gradativamente liberados por um período mais ou menos prolongado. Este processo assegura uma contínua disponibilidade de espermatozoides no local de fecundação e impede que um número excessivo de espermatozoides chegue a este local evitando assim a polispermia, condição letal para o óvulo fecundado. Muitos espermatozoides são eliminados através da vulva e grande parte não consegue prosseguir após passar por estas barreiras, de modo que poucos chegam ao local de fecundação. Um desequilíbrio na relação estrógeno/progesterona pode afetar o transporte de espermatozoides pela alteração, seja das características quantitativas ou qualitativas das secreções cervicais, seja da motricidade do trato reprodutivo. Transporte e sobrevivência dos gametas O processo de fecundação depende da perfeita sincronia do transporte dos gametas no trato reprodutivo feminino, considerando que a sobrevivência dos mesmos é relativamente curta. No período de 1 a 2 h após a inseminação, nas espécies de ejaculação intravaginal, os espermatozoides são imobilizados pelas secreções vaginais. Desta forma, o transporte rápido para um local mais adequado torna-se essencial. Alguns componentes bioquímicos do plasma seminal são absorvidos na vagina ou cérvix para exercer um efeito sobre a contração da musculatura da trompa e útero, o que pode facilitar o transporte espermático para o local de fecundação. O istmo é a porção do oviduto que se comunica com o útero através do orifício útero- tubárico. O istmo é o principal reservatório de espermatozoides no trato reprodutivo da fêmea, tanto de ruminantes, quanto de suínos e equinos. Os espermatozoides ficam aderidos às células epiteliais da região do istmo e são liberados gradativamente para o local de fecundação. Os espermatozoides recém-ejaculados estão revestidos de um manto protetor de natureza protéica e lipídica. Após passarem pelo processo de capacitação, o qual consiste na eliminação e/ou rearranjo destes fatores de proteção, os espermatozoides estão aptos a processar a fecundação. O processo de capacitação é reversível, bastando para isto que os espermatozoides sejam colocados novamente em contato com o plasma seminal, onde se encontra o FATOR DESCAPACITANTE, o qual não é espécie-específico. Após a capacitação, o espermatozoide passa por alterações que culminam na liberação das enzimas necessárias para que ocorra a fecundação. Este processo denomina-se Reação Acrossômica e inicia quando o espermatozoide capacitado encosta no óvulo para fecundá-lo. 16 Enzimas liberadas no processo de fecundação - Hialuronidase: enzima mucolítica, responsável pela dissociação do cumulus oophorus, quando o mesmo ainda está presente - CPE: enzima responsável pela passagem através da corona radiata - Acrosina: enzima proteolítica responsável pela passagem através da zona pelúcida - Neuramidase espermática: enzima que atua sobre a zona pelúcida conferindo-lhe maior resistência à ação da acrosina, evitando a polispermia Após a penetração do espermatozoide, ocorre a liberação do conteúdo dos grânulos corticais do ovócito fazendo com que a zona pelúcida se altere e impeça a entrada de outros espermatozoides (Reação de Zona). Em algumas espécies, a penetração dos espermatozoides é bloqueada na superfície do óvulo (Bloqueio vitelínico). A intensidade com que a reação de zona ou o bloqueio vitelínico ocorrem depende de cada espécie. Na coelha, por exemplo, só ocorre o bloqueio vitelínico e, no suíno, osespermatozoides são bloqueados na porção interna da zona pelúcida. A polispermia (entrada de mais de um espermatozoide em cada óvulo) conduz à poliploidia, a qual é uma condição letal para o embrião. Algumas condições diminuem as probabilidades de que os bloqueios se instalem no óvulo, ocorrendo então a polispermia: • Envelhecimento dos óvulos • Exposição das fêmeas a temperaturas ambientais elevadas • Aumento do número de espermatozoides no local de fecundação Fecundação propriamente dita Por ocasião da penetração, o espermatozoide atravessa a zona pelúcida de forma oblíqua e, posteriormente, ocorre a união da cabeça à superfície do vitelo (lateralmente). As microvilosidades da superfície do óvulo se apoderam da cabeça do espermatozoide sendo que as membranas do óvulo e do espermatozoide se rompem e fundem-se para formar uma membrana contínua sobre o óvulo e a superfície externa do espermatozoide. Após a penetração, são formados os pró-núcleos (masculino e feminino), os quais crescem, sendo o masculino o de maior tamanho. Ao se formar o pró-núcleo feminino, há a expulsão do segundo corpúsculo polar. Os pró-núcleos entram em contato, desaparecendo a membrana nuclear e os nucléolos, constituindo o processo da singamia. Os cromossomas maternos e paternos agrupam-se de modo a reassumir o número diplóide da espécie. Ao formarem um único grupo de cromossomas representando a prófase da primeira divisão mitótica da clivagem, a fecundação está completa. O local da fecundação é na ampola do oviduto, próximo à junção ampola-istmo. Os reprodutores podem apresentar diferenças na capacidade de fecundação de seus espermatozoides, podendo o congelamento reduzir, de modo desigual, esta capacidade. Estas diferenças de congelabilidade do sêmen são mais frequentes nas espécies suína e equina. Tanto o óvulo quanto o espermatozoide possuem um período de vida fértil que difere entre as espécies. Em geral, os óvulos possuem vida fértil menor do que a do espermatozoide. Os espermatozoides podem perder sua capacidade de produzir embriões viáveis antes de perder sua habilidade para fecundar os óvulos, bem como podem perder sua capacidade de fecundar antes de perder sua capacidade de movimentação. A fecundação com óvulos ou espermatozoides envelhecidos pode resultar em desenvolvimento anormal do embrião, reabsorção embrionária ou aborto. Para efeitos práticos de acasalamento por monta natural ou inseminação artificial deve ser considerado um período de no máximo 12 h para o óvulo e aproximadamente 24 h para os espermatozoides como período ótimo de capacidade dos gametas formarem um embrião viável. Transporte do embrião no oviduto e no útero O momento da chegada do zigoto no útero é relativamente preciso e é importante para seu desenvolvimento normal e estabelecimento da comunicação com o ambiente materno. Se o embrião chegar muito cedo ou muito tarde, no útero, pode ocorrer a degeneração do mesmo. Os embriões requerem substâncias específicas para seu desenvolvimento inicial, as quais são encontradas no fluído tubárico e cuja composição difere da do fluído uterino. O fluído tubárico 17 também é importante para a manutenção do óvulo em seu preparo para a fecundação e segmentação. As contrações das diferentes porções das trompas são importantes para o transporte do embrião nos primeiros estádios de desenvolvimento. O peristaltismo da trompa tende a atrasar ligeiramente a progressão do óvulo fazendo-o permanecer por determinado período no seu interior. Estas contrações, associadas ao movimento ciliar, também auxiliam para que a implantação não ocorra no oviduto. A contratilidade da musculatura tubárica depende de um equilíbrio hormonal adequado sendo controlada principalmente pelos esteróides ovarianos e pelas prostaglandinas. 18 DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO Após a fecundação, inicia-se o processo de divisão celular mitótica quando cada célula origina duas novas células. Assim, o zigoto ou embrião aumenta o seu número de células, as quais são denominadas de blastômeros. Ao processo de divisão celular sem, no entanto, ocorrer aumento de tamanho do embrião, dá-se o nome de clivagem. O embrião possui algumas reservas de nutrientes armazenados no citoplasma, mas que não lhe permitem sobreviver por muito tempo. Portanto, o metabolismo do embrião é influenciado pela natureza e volume das secreções tubáricas, das quais o mesmo se nutre. Quando chega no útero, o embrião nutre-se das secreções uterinas (histiotrofo ou leite uterino) até estabelecer uma relação mais íntima com o útero e iniciar a formação da placenta. A partir de um determinado momento (16-32 células em bovinos), os blastômeros começam a compactar-se de modo a formar uma massa única que passa então a ser denominada de mórula. Entre 64 e 128 células, o processo de blastulação é iniciado com o aparecimento de uma cavidade dita blastocélica ou blastocele. À medida que o embrião cresce, ocorre diferenciação das células em dois grupos denominados trofoblasto e massa celular interna (esta última também denominada de botão embrionário). Posteriormente, o trofoblasto dará origem ao córion, que participa na formação da placenta, e o botão embrionário dará origem ao embrião propriamente dito. À medida que o embrião cresce a cavidade blastocélica expande-se e empurra o trofoblasto contra a zona pelúcida. Neste estádio o embrião é dito blastocisto expandido. Posteriormente, a zona pelúcida é rompida pela ação de enzimas proteolíticas produzidas pelo embrião. Assim, o embrião sai da zona pelúcida, sendo chamado de blastocisto eclodido. A partir deste momento o embrião pode livremente aumentar de tamanho, principalmente seu trofoblasto que assume uma forma alongada. Inicia-se então a fase de gastrulação, a qual ocorre somente nas células do botão embrionário. A gastrulação consiste do movimento e diferenciação de células ou grupos de células de tal modo que o embrião passa de uma estrutura de dois folhetos embrionários (ectoderma e endoderma) para uma de três folhetos (ectoderma, endoderma e mesoderma). Nesta fase, as futuras regiões formadoras dos órgãos são delimitadas em sua posição definitiva. Os três extratos ou folhetos germinativos primários, acima descritos, contribuem especificamente para a formação de diferentes tecidos e órgãos. Logo depois, ou mesmo durante a gastrulação, o desenvolvimento embrionário caracteriza-se pelo inicio da formação dos órgãos, os quais se originam por deslocamentos (migração, evaginação, invaginação, delaminação) de grupos celulares que vão constituir os esboços primários dos órgãos. Os esboços dos órgãos derivam sempre e diretamente dos folhetos germinativos que, em condições normais de desenvolvimento, originam constantemente os mesmos órgãos e estruturas. O período embrionário caracteriza-se por um rápido crescimento e diferenciação, durante o qual os principais tecidos, órgãos e sistemas são estabelecidos, sendo possível reconhecer as principais características da forma externa do corpo do embrião. Migração transuterina O tempo que o embrião permanece "solto" no útero é específico para cada espécie. Antes de estabelecer contato íntimo com o organismo materno, os embriões migram pelo útero para depois estabelecerem sua posição futura. Este processo ocorre mais comumente em suínos e equinos e os mecanismos fisiológicos que o regulam não são completamente conhecidos. Esta migração é importante para que ocorra a distribuição uniforme dos embriões de modo a diminuir a competição por nutrientes ou por "espaço de placenta". O processo de migração normalmente cessa a partir do momento em que o embrião inicia o contato mais íntimo com o útero, por volta do 12-14º dia, como é o caso em suínos. 19 RECONHECIMENTO MATERNO DA GESTAÇÃO Embora zigotos de mamíferos possam sobreviver por curtos períodos em dependência do material nutritivo acumulado no ovócito, eles devem iniciar um íntimo relacionamento com o sistema materno,de modo a assegurar o seu futuro desenvolvimento. Estas interações resultam na produção de um ambiente e nutrição adequados e necessários para o subsequente desenvolvimento do embrião. Quando ocorre a fecundação, o zigoto em desenvolvimento deve neutralizar o mecanismo luteolítico de modo que os corpos lúteos continuem a secretar progesterona. Esta transformação materna de um estado cíclico para o estado de prenhez é talvez a fase mais crítica da gestação e tem sido designada de Reconhecimento Materno da Gestação. Durante esta fase, 25 a 40% dos embriões podem ser perdidos devido a falhas maternas ou embrionárias no estabelecimento das condições ideais para o inicio da gestação. Os embriões produzem fatores, normalmente hormônios, que possuem a função de evitar a lise do corpo lúteo ou de estimular a sua função, visando a manutenção de elevados níveis de progesterona de modo a diminuir a atividade e o tônus muscular do útero, auxiliando assim na retenção e nutrição do embrião. Vários fatores já foram isolados dos embriões de várias espécies e estes possuem uma função anti-luteolítica ou luteotrófica. A prevenção da luteólise pode depender tanto de fatores luteotróficos como de fatores anti-luteolíticos, podendo a importância de cada um variar nas diferentes espécies. Níveis elevados de progesterona plasmática devem ser mantidos durante a gestação e os corpos lúteos devem permanecer funcionais além do seu tempo médio de vida. A PGF2alfa liberada a partir do endométrio é o fator luteolítico responsável pela regressão do corpo lúteo. Os blastocistos inibem ou neutralizam este mecanismo luteolítico, por volta de 12 a 16 dias após a fecundação. Em embriões bovinos, ovinos e caprinos já foram isoladas proteínas produzidas pelo trofoblasto embrionário e denominadas de trofoblastinas, as quais participam do processo de manutenção da atividade do corpo lúteo. Na espécie suína, o estrógeno produzido pelos blastocistos é o principal fator responsável pelo reconhecimento materno da gestação, sendo necessários no mínimo 4 embriões viáveis para que o estímulo seja adequado para a manutenção da gestação. 20 PLACENTAÇÃO O embrião é considerado "implantado" ou unido ao útero, quando se fixa em sua posição definitiva estabelecendo contato íntimo com o organismo materno. Por ser um processo gradativo, é difícil estabelecer o momento exato em que este contato está concluído. Estima-se que haja em ovinos uma variação do 10º ao 22º dia e, em bovinos, do 11º ao 40º dia. O córion, o qual deriva do trofoblasto, possui uma superfície densamente recoberta de microvilosidades, responsáveis pela ingestão do histiotrofo ou “leite uterino”. Posteriormente, as microvilosidades coriônicas sofrem um aplainamento facilitando a aderência do córion à parede uterina. Nos ruminantes existem porções especializadas do trofoblasto embrionário (cotilédones), as quais se conectam com as porções diferenciadas do epitélio uterino materno (carúnculas) formando pontos de união permanente, denominados de placentomas. Em suínos e equinos a associação é menos íntima sendo que os vilos ou pregas coriônicas ficam distribuídos difusamente por toda a superfície. Na égua formam-se microcotilédones de 75 a 110 dias de gestação. Em suínos, nesta fase inicial, não há limitações quanto ao aumento artificial da leitegada (superovulação, por exemplo). Mais tarde, a partir de 30 a 35 dias, no entanto, devido à insuficiência de suprimento vascular ou devido aos efeitos mecânicos da superpopulação, pode ocorrer uma redução do número de leitões e/ou redução no desenvolvimento fetal. As alterações hormonais maternas iniciadas por ocasião da fecundação propiciam condições favoráveis para a manutenção da gestação: • Diminuição da atividade muscular e tônus uterino • Aumento do suprimento sanguíneo para o útero • Alteração do conteúdo de proteínas e aminoácidos do fluido uterino • Alteração da atividade secretora do epitélio glandular e superficial do endométrio de modo a produzir o “leite uterino” ou histiotrofo, responsável pela nutrição do embrião antes do estabelecimento da placenta cório-alantóide. Placentação Os anexos fetais (cavidade amniótica, cavidade alantóica e placenta) são formados a partir do trofoblasto e dos folhetos embrionários. O âmnion é de origem ectodérmica e concorre para a formação da cavidade amniótica que envolve diretamente o embrião. O saco vitelino é de origem endodérmica, sendo que com o desenvolvimento da cavidade alantóica e amniótica é comprimido e desaparece. O alantóide concorre para a formação da camada que envolve a cavidade alantóica, normalmente sobreposta ou envolvendo a cavidade amniótica. O trofoblasto origina o envoltório denominado córion, no qual se dispõem as vilosidades coriônicas e os cotilédones, dependendo da espécie. Vasos sanguíneos estão distribuídos sobre o alantóide e desembocam no cordão umbilical, estabelecendo assim as trocas entre a mãe e o feto. Tecidos que formam a barreira placentária Tipos de placenta Tecidos Epitélio-corial Conjuntivo- corial* Endotélio- corial Hemo-corial Materno Endotélio + + + - Conjuntivo + + - - Epitélio + - - - Fetal Epitélio (Trofoblasto) + + + + Conjuntivo + + + + Endotélio + + + + *Também chamada de sindesmo-corial, atualmente designada sinepiteliocorial Adaptado de McDonald (1981) e Hafez (1982) 21 Classificação das placentas Padrão das vilosidades Barreira Perda de tecido Espécie Coriônicas materno-fetal materno no nascimento Ruminantes Cotiledonária epitélio-corial* nenhuma Porca Difusa epitélio-corial nenhuma Égua Difusa e microcotiledonária epitélio-corial nenhuma Adaptado de Hafez (1982) e Grunert & Birgel (1982) *Do ponto de vista histológico, a placenta de ruminantes é considerada sinepiteliocorial. Nesse caso, células binucleadas coriônicas migram e se fundem com as células do epitélio uterino, existindo, então, presença de células endometriais. O epitélio formado é considerado feto-maternal híbrido. Funções da placenta 1. Respiração Através da placenta efetuam-se as trocas gasosas entre o sangue materno e o sangue fetal. Esta função é facilitada pelos seguintes aspectos: • Diferentes velocidades de dissociação da hemoglobina pelo O2 e CO2 • Diferente afinidade da hemoglobina do adulto e do feto por O2 e CO2 • Diferença na tensão de oxigênio do sangue da veia uterina e da artéria umbilical 2. Nutrição Ocorre a transferência seletiva de nutrientes da mãe para o feto, conforme suas exigências. A água passa normalmente por difusão enquanto a glicose, aminoácidos, ácidos graxos livres, lactatos, etc, necessitam de sistema especial de transporte. 3. Filtração Dependendo da solubilidade e da concentração, determinadas substâncias conseguem atravessar a barreira placentária enquanto outras não. Em geral, a placenta é permeável aos anestésicos, mas não é permeável a soluções coloidais, leucócitos e algumas bactérias. Em ruminantes, suínos e equinos, a placenta não é permeável aos anticorpos (imunoglobulinas). Em função disto, os recém-nascidos destas espécies devem receber o colostro logo após o nascimento. 4. Produção de hormônios Na placenta (ou seria melhor denominá-la de unidade feto-placentária) são produzidos, principalmente, estrógenos, progesterona e lactógenos. Os níveis de produção de alguns destes hormônios são extremamente importantes para a manutenção da gestação, preparação para o parto e preparação da glândula mamária para a lactação. 5. Imunoproteção A barreira placentária auxilia na não rejeição do feto. Momento da entrada do embrião no útero, reconhecimento da gestação e placentação (dias) Espécie Entrada no útero Reconhecimento da gestação União embrio-materna completa (placentação) Bovinos 3-4 16-17 40-45 Ovinos 2-4 12-13 28-35 Suínos 2-2,5 10-12 25-28 Equinos 4-10 14-16 95-105 Adaptado de McLaren (1982) e Schäfer-Somi (2003)22 GESTAÇÃO Regulação hormonal da gestação • Progesterona: impede a descarga ovulatória de LH; reduz o tônus e a contratilidade uterina • Estrógeno: aumenta o metabolismo materno; favorece a implantação pelo aumento do fluxo sanguíneo ao útero; auxilia no crescimento da glândula mamária • Lactógenos placentários: estimulam o metabolismo glicídico, lipídico e protéico do feto (alteram o metabolismo materno dando prioridade ao feto para a utilização da glicose, por exemplo); promovem o desenvolvimento lóbulo-alveolar da glândula mamária • Relaxina: inibe as contrações uterinas, favorece a dilatação da sínfise pubiana e o relaxamento dos ligamentos sacro-isquiáticos, estes dois últimos nas proximidades do parto Manutenção da gestação O corpo lúteo é necessário durante praticamente toda a gestação, em algumas espécies como bovinos, suínos e caprinos. Na ovelha e na égua, no entanto, a placenta assume a produção de progesterona a partir da metade da gestação ou mesmo antes. Todas as espécies desenvolvem o corpo lúteo da gestação, a partir do folículo ovulatório do estro em que foram fecundadas. Na égua, no entanto, existe a formação de corpos lúteos secundários ou acessórios a partir do 40º dia, originários da luteinização de folículos com ou sem ovulação. O corpo lúteo original é mantido até a regressão dos corpos lúteos acessórios, a qual ocorre por volta de 160 a 180 dias de gestação. O inicio da gestação é normalmente estabelecido a partir do dia da cópula ou da inseminação. A gestação tende a ser mais longa em animais de maior porte, mesmo com raças de uma mesma espécie. Existe uma maior oscilação em torno da média quando o período de gestação é mais longo. É importante saber a duração média da gestação para poder diferenciar um parto normal de aborto, parto prematuro ou parto retardado. Além disto, é importante para poder programar o manejo dos períodos pré- e pós-parto. Duração média da gestação Espécie Duração média (dias) Variação fisiológica Amplitude Meses Éguas 335-337 320-355 36 11 Jumentas 360 348-377 30 12 Vacas 280-285 270-295 26 9 Ovelha, Cabra 150 144-156 13 5 Porcas 114 110-118 9 4 Coelhas 31 30-33 4 1 Adaptado de Grunert & Birgel (1982) Cuidados durante a gestação • Observar as fêmeas com maior frequência na fase final • Durante a gestação, é importante evitar situações estressantes mantendo as fêmeas em local calmo. Em suínos, evitar a mistura de lotes de fêmeas principalmente logo após a cobertura (durante o 1º mês) e no último mês de gestação; evitar o transporte, movimentação, banhos frios, superlotação, trabalhos pesados (tração, caminhada, exercícios) • Fornecer alimentação adequada, principalmente no 1/3 final • Suspender a ordenha 2 meses antes do parto (vacas leiteiras) • Evitar o uso de medicamentos que possam provocar aborto (corticosteróides, alguns anestésicos, vermífugos, substâncias com ação ocitócica, estas últimas sobretudo na égua) • Separar as fêmeas que abortaram, ver causas e estabelecer profilaxia • Realizar vacinações a fim de transferir imunidade para algumas doenças, através do colostro 23 DIAGNÓSTICO DA GESTAÇÃO Vários métodos de diagnóstico da gestação foram desenvolvidos no passado, tendo sido utilizados, sobretudo em caráter experimental. A maioria destes métodos era baseada em detecção indireta, isto é, não permitiam a visualização ou palpação dos embriões ou fetos. De um modo geral, podem ser citados a dosagem de eCG no soro (entre 40 e 120 dias de gestação, em equinos), a detecção de estrógenos na urina, a radiografia, a biópsia vaginal (suínos), a laparotomia, a detecção do fator precoce da prenhez, entre outros. A utilização de diagnóstico de gestação de modo rotineiro, nos estabelecimentos de produção animal, foi possível graças à descoberta de métodos que exatos e de custo não muito elevado. Quanto mais precocemente e com maior exatidão puder ser efetuado o diagnóstico de gestação, mais vantajoso será para a produtividade do rebanho. O diagnóstico precoce da gestação é importante e apresenta as vantagens de permitir: • Realizar nova cobertura ou inseminação, o mais precocemente possível • Descartar as fêmeas vazias (quando a decisão é de não dar nova chance à fêmea) • Detectar machos inférteis • Fornecer manejo adequado às fêmeas prenhes, principalmente em termos de nutrição Para ter uma utilização rotineira, um diagnóstico de gestação deve preencher os requisitos de precocidade, exatidão e economia. Os métodos de diagnóstico de gestação podem ser classificados em diretos e indiretos. O diagnóstico indireto é baseado em modificações bioquímicas, imunológicas, histológicas e hormonais que ocorrem durante a gestação. Estes métodos são pouco utilizados devido aos custos, equipamentos sofisticados e tempo necessário para sua realização, tendo sido mais empregados em nível experimental. O diagnóstico direto é estabelecido pela pesquisa externa ou interna das modificações que ocorrem durante a prenhez. Realizado por inspeção, palpação, auscultação, exames radiológicos e ultrassom. O não retorno ao estro é uma das maneiras mais simples e comuns de considerar uma fêmea prenhe. No entanto, perturbações uterinas e ovarianas podem levar ao não aparecimento do estro. Além disto, a eficácia do método depende de um controle e observação rigorosos da manifestação de estro. O diagnóstico através do ultrassom baseia-se no princípio de ondas ultrasônicas emitidas a partir de um transdutor ou receptor-emissor. Existem aparelhos com princípio Doppler que detectam os batimentos cardíacos fetais, além da pulsação dos vasos umbilicais. Os aparelhos com princípio de eco ultra-sônico detectam a presença dos líquidos e tecidos fetais no útero. Alguns emitem um som característico da presença de líquidos, enquanto outros permitem visualizar a cavidade uterina com líquidos, além de permitir a visualização do embrião, feto ou carúnculas, no caso dos ruminantes. Diagnóstico de gestação em bovinos Efetuado mais comumente pela observação do não-retorno ao estro e palpação retal. A ultrassonografia também vem sendo utilizada nesta espécie. A palpação retal ainda é um dos métodos mais utilizados. Através do mesmo detecta-se o aumento de volume uterino, presença de vesícula amniótica, presença do embrião ou feto, presença e tamanho dos placentomas e frêmito da artéria uterina média. Possível de ser efetuado a partir de 35 dias (maior exatidão aos 40-45 dias). Utilizando o ultrassom é possível visualizar a vesícula embrionária a partir de 12-14 dias, mas um diagnóstico seguro de prenhez é efetuado aos 28-30 dias. Através de ultrassom também é possível determinar o sexo do feto bovino, por volta de 55-60 dias de gestação. A determinação dos níveis de progesterona no plasma ou no leite é efetuada 19-23 dias após cobertura ou inseminação artificial com eficácia de 80% para as fêmeas gestantes e de 100% para fêmeas não-gestantes. 24 Diagnóstico de gestação em suínos A observação do não-retorno ao estro e a ultrassonografia são os dois métodos mais utilizados. Ultrassom: Os vários tipos de aparelhos utilizados (eco ultra-sônico, Doppler, Real-time) permitem em geral um diagnóstico eficaz por volta dos 30 dias de gestação. A exatidão é normalmente superior a 95% quando empregados por volta de 30-35 dias. O aparelho que permite a visualização da vesícula amniótica (por volta de 18 dias após cobertura) ou do embrião (facilmente visualizado entre 25-32 dias) permite um diagnóstico mais precoce com uma sensibilidade e especificidade superiores a 95%, a partir do 22º dia de gestação. Em épocas de temperaturas muito elevadas, recomenda-se um segundo diagnóstico (aproximadamente aos 40 dias de gestação) devido a maior probabilidade de ocorrência de reabsorção embrionária. As vesículas aumentam de tamanho e, acima de 40 dias, os fetos são visualizados sem problema. Acima de 64 dias, a estrutura fetal é claramenteidentificada – o esqueleto, cabeça, coração e outros órgãos podem ser visualizados. Exatidão na detecção de prenhez em porcas, através da ultrasonografia com imagem Dias após o acasalamento Exatidão (%) 18-19 94,4 20-21 93,3 22-23 97,3 24-30 100,0 Botero et al. (1984) apud Potter (1999) Diagnóstico de gestação em ovinos e caprinos A observação do não-retorno ao estro e a ultrassonografia são os métodos mais utilizados. Ultrassom: é um método cuja aplicação está sendo intensificada. São utilizados aparelhos com princípio Doppler, aparelhos que detectam apenas líquidos fetais ou, mais recentemente, aparelhos em “tempo real” (real-time) que permitem detectar o número de fetos e sua viabilidade. O custo elevado do equipamento é normalmente o principal entrave para sua utilização em larga escala, mas há técnicos que oferecem o serviço de diagnóstico, não sendo necessário o proprietário possuir um desses aparelhos. Permite o diagnóstico com eficácia próxima a 100% a partir de 40 dias de gestação ou mesmo antes. A partir de 40 dias de gestação, o diagnóstico pode facilmente ser efetuado por via transabdominal, mas na necessidade de um diagnóstico mais precoce é melhor inserir o transdutor por via retal. Desta última forma, em cabras, o embrião é visível aos 24 dias de gestação. Outros métodos que podem ser utilizados em ovinos e caprinos Laparascopia: baseada na observação da persistência do(s) corpo(s) lúteo(s) por volta de 15- 17 dias. Melhores resultados por volta de 30 dias, pois permite visualizar também as modificações uterinas. Dosagem da progesterona plasmática: 15º-17º dia após cobertura ou inseminação. Diagnóstico de gestação em equinos Efetuado basicamente pela palpação retal e ultrassonografia. Palpação retal: É um método bastante utilizado em equinos e segue os mesmos princípios descritos para bovinos. Pode ser efetuado a partir de 17-19 dias de gestação. Ultrassom: Bastante utilizado em equinos, a partir do 14º dia. Permite avaliar a viabilidade fetal, aspecto importante quando se trata de gestação gemelar e deve-se decidir pela destruição de um dos embriões ou pelo abortamento. 25 DESENVOLVIMENTO FETAL O período fetal inicia-se a partir do final do período embrionário, isto é, quando a organogênese está estabelecida. Neste período predominam os fenômenos de crescimento sobre os de formação propriamente dita. O inicio do período fetal ocorre, nas diferentes espécies, nas idades descritas a seguir: Suínos: 30 dias Ovinos: 35dias Bovinos: 45dias Equinos: 60dias O feto se nutre de nutrientes maternos obtidos via placenta, sendo a glicose o principal combustível. Na maioria das espécies, a maior parte do aumento do peso fetal ocorre no 1/3 final da gestação. Em bovinos, foi observado que o feto dobra seu peso nos dois últimos meses de gestação. Em fetos bovinos, 50% da energia do feto é obtida a partir da glicose, ¼ do lactato e ¼ de aminoácidos. Estima-se que, na fase final da gestação, o feto bovino consome cerca de 500g de glicose/dia. Nessa fase final o(s) feto(s) acumula(m) glicogênio no fígado e nos músculos esqueléticos para ajudá-lo a vencer o período de transição até a amamentação. Nos fetos ovinos, há um acúmulo de gordura marrom perirenal, a qual será utilizada na primeira semana de vida para a produção de calor. O padrão de crescimento ocorre numa sequência definida: 1º Sistema Nervoso Central 2º Ossos 3º Músculos e tecido adiposo Quando ocorrem deficiências nutricionais, dependendo do período da gestação em que estas ocorrem, alguns órgãos são mais afetados do que outros. Normalmente, o coração e cérebro são os órgãos mais preservados. Fatores extrauterinos que afetam o crescimento fetal Potencial genético Considerando a influência genética, pode ser citado o exemplo de terneiros holandeses que pesam 35% mais do que terneiros da raça Jersey e 15% mais do que o peso médio das raças leiteiras. No caso de ovinos, podem ser citados os fetos da raça Romney que crescem mais rapidamente do que os da raça Merino. Experimentos efetuados em várias espécies (equinos, ovinos, bovinos, coelhos) demonstraram que fetos de raças maiores serão maiores do que os de raças menores quando em ambiente uterino semelhante. Por outro lado, fetos de potencial genético semelhante serão maiores quando se desenvolvem no útero da raça maior do que no útero da raça menor. Assim, a contribuição materna se expressa no potencial genético do feto, mas também no ambiente uterino que fornece ao feto. O potencial genético do pai também se manifesta sobre o crescimento do feto. É importante esclarecer que não é o tamanho que o pai apresenta no momento da cobertura que define o tamanho do feto ao nascer, mas o seu potencial genético para maior ou menor crescimento; isto quer dizer que acasalar fêmeas jovens com machos jovens, não apresenta garantia de redução do tamanho ao nascer e possível redução de distocia; quando se recomenda o uso de machos jovens o objetivo é o de evitar que machos muito pesados realizem a cobertura em fêmeas muito leves, o que pode ser estressante para fêmeas de algumas espécies, como é o caso de suínos, mas sempre deve-se considerar que fêmeas mais jovens, sobretudo fêmeas bovinas, devem preferencialmente ser acasaladas com machos cujo potencial genético é para menor peso ao nascer. Temperatura ambiental Fêmeas expostas a altas temperaturas no terço final da gestação apresentam filhotes com baixo peso ao nascer e, normalmente, menor sobrevivência após o nascimento. Contribuem para este aspecto a redução do fluxo sanguíneo para o útero, a redução do consumo de alimentos por parte da mãe e, sobretudo, a redução da taxa metabólica e habilidade do feto em utilizar os nutrientes disponíveis, em função da temperatura intrauterina elevada. 26 Plano nutricional materno Dependendo da intensidade da redução, um plano nutricional baixo pode conduzir a uma redução do ganho de peso do(s) feto(s), pois a transferência de nutrientes a partir das reservas corporais da mãe é menos eficiente do que a transferência de nutrientes a partir dos componentes da dieta; a subnutrição, principalmente no 1/3 final leva ao nascimento de produtos subdesenvolvidos. Paradoxalmente, em fêmeas ovinas jovens (borregas), um plano nutricional elevado também conduz a uma diminuição do peso ao nascer. Nesse caso, a fêmea direciona os nutrientes para o seu ganho de peso e deposição de gordura, ao invés de transferí-los para o crescimento fetal. Em fêmeas jovens de outras espécies, ainda não foram efetuados estudos que confirmem ou não a ocorrência deste mesmo paradoxo nutricional. Idade da mãe Fêmeas jovens competem com o feto pela disponibilidade de nutrientes, tendo esta competição um maior ou menor prejuízo para o feto, dependendo do plano nutricional materno. Sexo do feto Normalmente fetos do sexo masculino apresentam uma taxa de crescimento superior à dos fetos de sexo feminino. Em suínos, foi constatado que os fetos machos ocupam mais espaço uterino, apresentam maior tamanho de placenta e são maiores do que as fêmeas. Compostos tóxicos Alguns compostos tóxicos podem afetar o crescimento fetal. Como exemplos podem ser citadas as micotoxinas. Fatores intrauterinos que afetam o crescimento fetal A troca de nutrientes através da placenta possui um importante efeito no crescimento fetal. Quando o fluxo de nutrientes é diminuído devido à competição entre os fetos, o tamanho fetal é reduzido. Quanto maior o número de fetos, maiores as probabilidades de que os mesmos nasçam com um peso inferior. Em vacas, ovelhas, cabras e éguas, gêmeos são normalmente menos pesados do que os produtos únicos. Na espécie suína, um maior número de fetos pode exacerbar a competições dos mesmos, sobretudo se o espaço uterino é reduzido. Em suínos, a superpopulação fetal e a restrição de espaço uterino começam a manifestar seus efeitos a partir de aproximadamente35 dias de gestação. Como consequência, há alterações no espaço ocupado por cada feto, na proporção de fetos sobreviventes e no tamanho dos fetos. 27 PARTO Consiste do processo fisiológico pelo qual o útero gestante libera o feto e a placenta do organismo materno. O mecanismo de desencadeamento do parto envolve uma complexa interação de fatores endócrinos, neurais e mecânicos, sendo suas atuações e interrelações não totalmente conhecidas. O eixo hipófise-adrenal do feto possui participação primária na determinação da duração da gestação e momento do parto. O cortisol fetal produz alterações na concentração de certos sistemas enzimáticos placentários. Desta forma, a placenta muda o metabolismo esteroidogênico no sentido da produção de estrógenos. A mudança da relação estrógeno/progesterona talvez seja o estímulo positivo para o endométrio produzir PGF2 alfa, a qual possui efeito positivo sobre as contrações do miométrio e negativo sobre o corpo lúteo diminuindo mais ainda a concentração de progesterona. A queda de progesterona deixa o útero mais sensibilizado à ação da ocitocina. Esta produz contrações no miométrio previamente sensibilizado pelo estrógeno. As modificações hormonais (aumento de estrógenos, diminuição da progesterona, aumento de ocitocina), associadas aos esforços do miométrio, estimulam a síntese e liberação de PGF2alfa a partir do endométrio e carúnculas. A relaxina é o hormônio responsável pelo afrouxamento das articulações (sacro-ilíaca) e ligamentos da pelve (sacro-isquiático), bem como pelo amolecimento da sínfise pubiana, os quais ocorrem nas proximidades do parto. Porca: PGF2alfa estimula a produção de relaxina pelo corpo lúteo. O perfil hormonal, principalmente em termos de estrógeno e progesterona, é bastante semelhante em ruminantes e suínos. O que varia um pouco é o momento em que a progesterona começa a decair e o estrógeno a subir. Em geral ocorre uma queda de progesterona e um aumento de estrógeno bem próximo ao parto (1-5 dias). Após o parto, a tendência é que ocorra uma queda brusca dos níveis de estrógeno. Égua: Relaxina é produzida pela placenta desde o primeiro terço de gestação e afeta as estruturas ósseas e moles do canal do parto. A égua apresenta um pico de progesterona por volta do 70º dia, o qual é mantido por aproximadamente 50 dias. O nível então permanece relativamente baixo ocorrendo um leve aumento antes do parto com uma queda logo após o mesmo. O aumento do cortisol do feto não é tão acentuado. O estrógeno atinge um pico no 200º dia, decresce e atinge concentração semelhante à da progesterona antes do parto, caindo rapidamente logo após o mesmo. Controle das contrações da musculatura uterina As primeiras contrações são irregulares e pouco intensas tornando-se, com o desenvolver do trabalho de parto, mais coordenadas, rítmicas e enérgicas. As contrações são controladas pelo sistema neuro-endócrino com participação do hipotálamo, hipófise e pelos hormônios ocitocina, PGF2α, estrógenos, progesterona, adrenalina e substâncias α e β- adrenérgicas. A estimulação dos adreno-receptores aumenta a sensibilidade celular para a contração. Via fetal Óssea Formada pela Pelve (ílio, ísquio, púbis, sacro e primeiras vértebras coccígeas). Alterações na forma da pelve, entre as espécies, influenciam na maior ou menor facilidade de parto. Bovinos: pelve ovalada, comprimida lateralmente, assoalho côncavo (dificuldade de parto). Pequenos ruminantes e suínos: pelve levemente circular (facilidade de parto). Equinos: pelve curta, praticamente circular, parede ventral plana (facilidade de parto). Via fetal Mole Formada por cérvix, vagina, vestíbulo vaginal, vulva e ligamentos sacro-isquiáticos. Nas espécies pluríparas, o útero também faz parte da via fetal mole. Os pontos críticos nas fêmeas bovinas são a cérvix, o anel hímenal e a vulva. Fases do Parto Alguns dias antes do parto, as fêmeas apresentam alguns sinais externos indicativos da proximidade do parto. Em geral, há aumento da glândula mamária, edema de vulva, 28 relaxamento da parede abdominal, etc (ver anexos). Antes da expulsão propriamente dita do feto, ocorre a dilatação da via fetal. A ocorrência de contrações uterinas determina a insinuação das bolsas, o que leva à dilatação completa do colo uterino. A fase de expulsão do feto compreende o período que vai desde o rompimento das bolsas até o nascimento do(s) feto(s). A expulsão do feto pode ser seguida ou não da expulsão imediata da placenta. O Reflexo de Ferguson é desencadeado pela distensão da vagina e cérvix pelo feto atuando sobre as terminações nervosas dessas regiões. Em função disto, grande quantidade de ocitocina é liberada, a qual é responsável principalmente pelas fortes contrações do útero na fase final do parto. Os estímulos do feto sobre os receptores nervosos localizados na porção dorsal da vagina são também conduzidos aos centros motores da medula espinhal através do nervo pudendo originando o Reflexo de evacuação ou de expulsão, responsável pelas fortes contrações da musculatura abdominal. Assim, na fase de expulsão, à força das contrações uterinas associa-se a força das contrações abdominais. Cuidados antes e durante o parto Para as espécies criadas extensivamente, deve-se recorrer os campos 2-3 vezes por dia, na época de parição. Assim, é possível auxiliar as fêmeas e os filhotes, quando houver problemas de parto. Um mês antes da parição das ovelhas recomenda-se a esquila ao redor do úbere e na região do entre-pernas a fim de que o parto aconteça em condições mais higiênicas e para facilitar a amamentação do cordeiro. Às vezes, é importante esquilar a cara das fêmeas lanudas, de modo que sintam frio, e busquem abrigo para si e para seus filhotes. Abrigos à campo podem ser preparados pela colocação de fileiras de fardos de feno em forma de cruz. Além de proteger os animais contra os ventos frios podem também servir de alimento. Em cabanhas é preferível construir abrigos que sirvam de maternidade de modo a assistir os partos e aumentar a sobrevivência dos cordeiros, principalmente na primeira semana de vida. As fêmeas suínas são normalmente transferidas para a maternidade 3-7 dias antes da data provável do parto. O acompanhamento do parto permite evitar o aumento da mortalidade perinatal (estimada em 7-10%). Este acompanhamento pode ser facilitado se os partos forem induzidos de modo a concentrá-los em horário normal de expediente. A indução do parto pode ser efetuada através da aplicação de PGF2alfa por via intramuscular ou intravulvar, o parto ocorrendo em média 30h após a aplicação. Pode-se também associar o uso de ocitocina (2-5 UI) 20h após a aplicação de PGF2alfa. Em ambos os casos, é indispensável conhecer a data de cobertura e duração média da gestação na propriedade para evitar abortos ou nascimento de leitões fracos. Um programa de indução do parto traz como vantagens: • Melhor utilização da maternidade • Evita partos durante os fins de semana permitindo assistência durante o parto • Possibilidade de transferência cruzada de leitões • Formação de lotes homogêneos por ocasião do desmame Partos distócicos Em todas as espécies, a incidência de distocia tende a aumentar quando se associa um elevado peso ao nascer do filhote com idade jovem da mãe. O desempenho reprodutivo subsequente é afetado em fêmeas com partos distócicos. Por exemplo, em bovinos, a ocorrência de partos distócicos reduz em 15% a taxa de concepção subsequente. Estudos têm mostrado que 75% das perdas de terneiros antes do desmame ocorrem no nascimento ou próximo do mesmo. Destas perdas, 80% ocorrem devido às dificuldades durante o parto. Em fêmeas bovinas jovens (primeiro parto), a ocorrência de distocias é mais comum, além de ter sido comprovado que a duração do parto (fase de expulsão) é maior do que em fêmeas mais velhas, conduzindo a um maior esgotamento destas fêmeas. As principais causas de distocia em
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