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w w w .u s f. e d u .b r I N IC IA Ç Ã O À P E S Q U IS A C IE N T ÍF IC A PESQUISA CIENTÍFICA: POR ONDE COMEÇAR? INTRODUÇÃO Olá! Seja bem-vindo à segunda unidade do curso Iniciação à Pes- quisa Científica. Esta unidade tem por objetivo apresentar as etapas do método científico, os métodos e os estágios da pesquisa científica, prin- cipalmente no que se refere à identificação do problema de pesquisa e do tema, e da formulação de objetivos e hipóteses. BONS ESTUDOS!!! 5UNIDADE w w w .u s f. e d u .b r I N IC IA Ç Ã O À P E S Q U IS A C IE N T ÍF IC A 37 PÁGINA MÉTODO CIENTÍFICO A partir do momento que o homem ansiou por conhecer o mundo e aquilo que fazia parte dele, passou a repetir, ainda que sem per- ceber, etapas para resolver suas dúvidas, ou apenas no campo do pensamento ou na prática. Desde que ele percebeu que as árvores de uma determinada região davam frutos em uma época e em outra época eram outras árvores que davam seus frutos, criou rotas de peregrinação para se aproveitar dos frutos das diferentes árvores. Isso, dentro do campo científico, é o que chamamos de método. Segundo Appolinário (2015, p.11) o método “é um procedimen- to ou um conjunto organizado de passos que se deve realizar para atingir determinado objetivo”. O método científico nada mais é do que seguir passos para atingir um objetivo, que se relaciona dire- tamente com o conhecimento de uma área específica, e que pas- sa pela observação, pela definição do problema, pela elaboração de hipótese, verificação científica, análise e síntese. APPOLINÁRIO, Fábio. Metodologia Científica. Cengage Learning Editores, jun. 2015. [Minha Biblioteca]. Disponível na Biblioteca Virtual w w w .u s f. e d u .b r I N IC IA Ç Ã O À P E S Q U IS A C IE N T ÍF IC A 38 PÁGINA • Método dedutivo (desenvolvido por René Descartes), que baseia-se no esclarecimento das ideias por meio do raciocínio que leva a conclusões verdadeiras elabo- radas a partir de deduções lógicas; • Método indutivo (desenvolvido por Francis Bacon), que diz que somente por meio da observação pode conhe- cer algo novo. Esse método é muito utilizado nas Ciên- cias da Natureza, como botânica, zoologia, geologia e mineralogia; • Método experimental (desenvolvido por Galileu Galilei), baseada na formulação de uma hipótese que pode ser testado por meio de experiências. Esse método é bas- tante comum nas ciências físico químicas, nas quais os problemas podem ser matematizados. Embora o método científico siga essa ordenação, não é tão simples assim. Ao longo do tempo, vários filósofos e cientistas foram desenvolvendo seus próprios métodos de interpretação do universo. Os pensadores gregos empregavam a observação como primícias para responder às questões filosóficas e existen- ciais da época. Muito tempo depois, na idade média, passamos por um período de escuridão, em que pensar não era bem aceito pelos senhores feudais e pela igreja da época. O desenvolvimento do método científico só ocorreu no prin- cípio da modernidade, alicerçado pelo movimento importante da época chamado de Revolução Científica. Entre seus importantes expoentes, estão três que criaram os vários métodos de pesquisa (ANDRADE, 2012): w w w .u s f. e d u .b r I N IC IA Ç Ã O À P E S Q U IS A C IE N T ÍF IC A 39 PÁGINA Quem foram René Descartes, Francis Bacon e Galileu Galilei? A resposta mais curta é: foram grandes pensadores/cientis- tas que revolucionaram o modo de fazer a pesquisa científica. Mas talvez a resposta mais longa contextualize melhor a impor- tância desses e de outros expoentes da Revolução Científica. A Revolução Científica foi um período de iniciação à luz da pesquisa científica, que ocorreu de 1543 a 1687. Em 1543, Nicolau Copérnico publicou o livro Sobre a revolução dos orbes celestes e, em 1687, Isaac Newton publicou o livro Princípios matemáticos da filosofia natu- ral. Ambas as obras se relacionam ao desenvolvimento da física, em especial pela observação da astronomia, e marcam o início e o final do tempo onde a ciência foi redefinida. Esse período, unido ao Renascentismo e à Reforma Protestante, são considerados o marco para o início da modernidade. Muitos consideram o período das Grandes Navegações como o início das transformações e da quebra da ruptura com o mundo aristotélico e o período da Antiguidade anterior (MARCONDES, 2016). Em resumo, a Revolução Científica teve influência di- reta no nosso modo de agir e pensar a ciência, e criou bases fortes para que inovações ocorressem, como a própria Revolução Industrial. Muitos nomes foram im- portantes nesse período, tais como: • Nicolau Copérnico; • Andreas Vesalius; • Leonardo Da Vinci; • Michel de Montaigne; • Willian Gilbert; • Francis Bacon; • Galileu Galilei; • Johannes Kepler; • William Harvey; • René Descartes; • Robert Boyle; • Isaac Newton etc. 40 PÁGINA Eles desenvolveram a ciência nos campos da astro- nomia, da física, da matemática e da medicina. René Descartes (Figura 1) viveu de 1596 a 1650 e é um dos mais importantes filósofos da modernidade, com destaque na matemática (na qual desenvolveu o método das coordenadas e o produto cartesiano), na psicologia (na qual discutiu a subjetividade da consci- ência e propôs o método introspeccionista), e na me- dicina (em que formulou a visão mecanicista do corpo humano). Para Descartes, as ideias podem servir de base para o conhecimento e foi com esse pensamen- to que ele desenvolveu seu método indutivo (MAR- CONDES, 2016). Figura 1 – Desenho esquemático de René Descartes e seu plano cartesiano Fonte: SHAPIRO, 2016. I N IC IA Ç Ã O À P E S Q U IS A C IE N T ÍF IC A w w w .u s f. e d u .b r I N IC IA Ç Ã O À P E S Q U IS A C IE N T ÍF IC A 41 PÁGINA Francis Bacon (1561-1626 – Figura 2), foi um dos mais importantes influenciadores da Modernidade, especial- mente no que tange ao desenvolvimento da metodologia científica. Exerceu cargos altos na sociedade da época na área jurídica, chegando a ser lorde chanceler no reina- do de Jaime I, e recebendo o título de Visconde de Saint Albans, mas caiu em desgraça pela desavença política entre rei e parlamento. Sua importância se deve pela dis- cussão do método científico, em que apresenta a impor- tância da ciência experimental para o desenvolvimento da lógica científica. Mais do que isso, ele defendeu que a ciência experimental auxiliaria no desenvolvimento da sociedade, contribuindo para o bem-estar das pessoas. Essa ciência experimental só seria alcançada por meio da libertação do pensamento humano frente aos estig- mas existentes e ao poder inicial da observação da na- tureza, sem preconceitos. Para Bacon conhecer é saber fazer (MARCONDES, 2016). Figura 2 – Desenho esquemático de Francis Bacon Fonte: BORTHOLETTI, 2018. w w w .u s f. e d u .b r I N IC IA Ç Ã O À P E S Q U IS A C IE N T ÍF IC A 42 PÁGINA Porém, foi Galileu Galilei (Figura 3), que estabeleceu a ciência experimental de fato. Galileu (1564-1642), ao lado de Copérnico e Newton, foi um dos mais importan- tes expoentes da Revolução Científica, e um dos mais conhecidos em função de sua defesa política do helio- centrismo e do processo de inquisição que sofreu. Es- tudou medicina e ciências naturais, tornando-se profes- sor de matemática na Universidade de Pádua em 1591, onde inventou o telescópio e com ele pôde observar as montadas da lua, as luas de Júpiter a composição da Via Láctea, o que representou sua quebra de ideias, se “convertendo” ao heliocentrismo de Copérnico, pelo qual foi perseguido pela Inquisição Romana. Seu método ba- seia-se em analisar os dados da natureza (resolução), construir um modelo matemático que expresse os dados essenciais em teoremas e leis, deduzindo consequên- cias a partir dele (composição), e comprovar pela expe- rimentação se as leis formuladas e as consequências ocorrem realmente (MARCONDES,2016). Figura 3 – Desenho esquemático de Galileu Galilei à esquerda e Representação de Galileu utilizando seu telescópio para estudar as estrelas Fonte: BARAR, 2011. w w w .u s f. e d u .b r I N IC IA Ç Ã O À P E S Q U IS A C IE N T ÍF IC A 43 PÁGINA Dessa forma, hoje definimos o método científico com um caso particular que envolve diversos tipos de outros métodos, no qual estão claramente definidas as seguintes etapas: • a identificação de um fenômeno do universo que necessite de explicação que é chamado de observação; • a produção de uma explicação provisória sobre esse fenô- meno, que denominamos de hipótese; • a execução de um teste para prova a explicação, chamada de experimentação; • a análise e a conclusão para verificar se a explicação é verda- deira, que chamamos de generalização (appolinário, 2015). Atualmente, consideram-se outros métodos relacio- nados às etapas de trabalho, tais como os métodos: • histórico, que busca explicações nos acontecimentos passados; • comparativo, que compara semelhanças e diferenças em um tema de pesquisa; • estatístico, que utiliza os conceitos matemáticos para explicar a realidade; e • os estudos de caso, que se baseiam em estudos es- pecíficos a um local, uma empresa, etc. e que dificil- mente se repetiriam exatamente da mesma forma em outro local (MEDEIROS, 2014). w w w .u s f. e d u .b r I N IC IA Ç Ã O À P E S Q U IS A C IE N T ÍF IC A 44 PÁGINA Podemos agrupar os métodos também de acordo com a área do conhecimento como: ciências formais ou matemáticas, ciên- cias naturais ou biológicas, ciências morais e sociais, brevemente descritas na Tabela 1. Tabela 1 – Divisão das Ciências Tipos de ciência Características Ciências formais Lidam unicamente com abstra-ções, ideias e estruturas conceituais. Ciências naturais Estudam os fenômenos concer- nentes à biologia, à física e à química (vida, ambiente, etc.). Ciências sociais Ciências sociais, como a psicolo- gia, a sociologia e a economia dedi- cam-se à investigação dos fenôme- nos humanos e sociais. Fonte: APPOLINÁRIO, 2015. As ciências formais ou matemáticas incorporam a medida das grandezas, do qual fazem parte a álgebra, a aritmética, a geo- metria, a física, a química. São áreas que levam em conta a ob- servação de um fenômeno, a criação de hipóteses sobre esse fenômeno, a experimentação e a indução que nada mais é que modelagem matemática na forma de equação para esse fenô- meno (Tabela 2), caracterizando-se, portanto, inicialmente, como método indutivo e depois como experimental. São assim a inércia de Newton, a conservação das massas de Lavoisier e a teoria da relatividade de Einstein. w w w .u s f. e d u .b r I N IC IA Ç Ã O À P E S Q U IS A C IE N T ÍF IC A 45 PÁGINA As ciências naturais ou biológicas comtemplam os estudos dos seres vivos, de sua estrutura e composição química, das trocas que fazem com o ambiente mediante reações químicas ou processos físicos. Fazem parte dessa área a botânica, a zoologia, a biogeografia, a biologia marítima, a ecologia, a paleontologia, a anatomia, a taxionomia, a citologia, a histo- logia, a genética, a fitopatologia, a patologia, a embriologia, a medicina veterinária, a evolução. O método de pesquisa mais utilizado é o indutivo, que também pode culminar no método experimental. Fazem parte desses métodos as leis genômicas de Mendel, comprovada por modelos mate- máticos, que segue as etapas contidas na Tabela 1. Entretanto, no campo da Biologia, a experimentação, embora de grande importância, apresenta séria dificuldade em razão da complexidade dos fenômenos. Assim, a bo- tânica e a zoologia se desenvolveram, por exemplo, por estudos de ana- logias, através da associação das semelhanças, seguida de classificação, para se determinar a qual reino e a qual família pertence o ser vivo. Tabela 2 – Etapas dos métodos das ciências matemáticas e naturais Etapa do método Descrição 1) Observação Avaliar com sensibilidade as características do objeto de pesquisa. Ser detalhista na observação e não ter pressa no término da observação, utilizando todos os órgãos do sentido de forma racional. 2) Hipótese Levantamento das causas de um certo compor- tamento observado. A hipótese nada mais é do que uma suposição provisória que será provada na se- quência da pesquisa. 3) Experimentação É o estudo prático do fenômeno provocado artificialmente no sentido de se provar a hipótese. Deve-se ter paciência e ser imparcial durante a experimentação. 4) Indução Consiste na generalização de uma relação de causalidade que se torna lei. Quase sempre é pos- sível utilizar um modelo matemático para tal. w w w .u s f. e d u .b r I N IC IA Ç Ã O À P E S Q U IS A C IE N T ÍF IC A 46 PÁGINA Inércia de Newton O inglês sir Isaac Newton (1642-1727 – Figura 4), é famoso pela sua importância na Revolução Científica, uma vez que conseguiu integrar as diferentes teorias de outros expoentes do período. Sua principal obra foram os livros Princípios Matemáticos da Filosofia Natural (1686), no qual alia a observação da física e da astronomia com os cálculos matemáticos que explicavam os fenômenos, por exemplo, da movimentação dos corpos celestes, da gravitação uni- versal, entre outras. O livro I traz sua teoria sobre a movimentação dos corpos, que deram origem a três leis importantes, sendo a mais conhecida da lei da inércia, seguida do princípio fundamental da dinâmica e da lei da ação e reação (MARCONDES, 2016). Figura 4 – Desenho representativo de Isaac Newton e suas contribuições para a Revolução Científica Fonte: TORRES, 2018. A lei da inércia diz, basicamente, que um corpo perma- nece em repouso se estiver em repouso ou permanece em movimento se estiver em movimento a não ser que sofra a ação de uma força externa que altere o seu estado normal (NEWTON, 1686). O livro completo de Isaac Newton pode ser encontrado na indi- cação de leitura a seguir: w w w .u s f. e d u .b r I N IC IA Ç Ã O À P E S Q U IS A C IE N T ÍF IC A 47 PÁGINA Indicação de Leitura: NEWTON, Isaac. Philosophiae Naturalis Principia Mathematica. Londini, 1686. Disponível na Biblioteca Virtual. Uma divulgação científica interessante desse e de outros fenô- menos da física é realizada pelo GREF – Grupo de Reelaboração do Ensino de Física do Instituto de Física da Universidade São Paulo (USP). Observe na Figura 5 o início da divulgação desse tópico (GREF, 1998, p. 57). Figura 5 – Divulgação Científica sobre a Lei da Inércia Na sequência do texto, o GREF (1998) explica a aplicação da Lei Fonte: GREF, 1998, p. 57. da Inércia na parada de um grande meio de transporte, como um bar- co ou uma espaçonave, explana sobre o porquê de não sentirmos os movimentos de translação e rotação do planeta Terra e relaciona a Lei da inércia de Newton com a famosa Lei da Relatividade de Einstein. Leia esse interessante texto na Indicação de Leitura a seguir. w w w .u s f. e d u .b r I N IC IA Ç Ã O À P E S Q U IS A C IE N T ÍF IC A 48 PÁGINA GREF. Grupo de Reelaboração do Ensino de Física. Leitu- ras de Física: GREF Mecânica para ler, fazer e pensar. [São Paulo: USP]. 1998. Disponível na Biblioteca Virtual. Lei da Conservação das Massas de Lavoisier Antoine Lavoisier (1743-1794 – Figura 6), é considerado o Pai da Química pelas diversas influências que exerceu no nascimento des- sa ciência. Lavoisier teve grande influência no desenvolvimento da linguagem química, sendo um dos responsáveis pelo estabelecimento de uma sistematização na nomen- clatura de compostos químicos por meio da publicação de seu famoso livro Traité Élémentaire de Chimie (traduzido para Tratado Elementar da Química) em 1789 (CARVA- LHO, 2012). Sua importância no desenvolvimento de equipamentos científicos é considerada um marco da sua época. Um desses equipamentos desenvolvidos e aper- feiçoados foi a balança, coma qual elaborou a lei famosa que amplamente repetimos e readequamos para o tratamento lúdico conforme a necessidade: “Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. O nome verdadeiro da lei é Lei da Con- servação das Massas, mas a frase anterior é muito mais expres- siva e repetida. Em suma, a lei diz que em qualquer processo químico a massa inicial e somada dos reagentes é igual à massa final e somada dos produtos. A grande influência de Lavoisier se deu no estudo dos ga- ses resultantes dos processos de combustão. Ele precisou inventar equipamentos para medir a massa dos gases resultantes de uma Figura 6 – Desenho representativo de Lavoisier em seu laboratório Fonte: SILVA, 2019. w w w .u s f. e d u .b r I N IC IA Ç Ã O À P E S Q U IS A C IE N T ÍF IC A 49 PÁGINA reação química, quando ninguém conseguia “enxergar” esses gases. As ideias que perduravam na época se relacionavam a teoria do flogístico, segundo a qual se acreditava que a combustão consis- tia no desprendimento de corpos inflamáveis. Lavoisier consegue identificar que a combustão necessita de ar desflogisticado para acontecer, ou seja, a combustão necessitava do oxigênio e não da propriedade de inflamabilidade (VIDAL; CHELONI; PORTO, 2007). Estudos sobre a combustão permitiram o início da expe- rimentação aplicada à respiração, à fotossíntese e à calorimetria. Veja na Figura 7 a representação do laboratório de Lavoisier onde podemos ter uma ideia da invenção de equipamentos tão comuns para os experimentos realizados (SCIENCE HISTORY INSTITUTE, 2017). Figura 7 – Lavoisier em seu laboratório: experimentos sobre a respiração de um homem em repouso Fonte: Cortesia da Edgar Fahs Memorial Collection, Department of Special Collections, University of Pennsylvania Library. Para conhecer mais sobre a história de Lavoisier, navegue pelo site: https://www.sciencehistory.org/historical-profile/antoine -laurent-lavoisier w w w .u s f. e d u .b r I N IC IA Ç Ã O À P E S Q U IS A C IE N T ÍF IC A 50 PÁGINA Teoria da Relatividade de Einstein Albert Einstein (1879-1955 – Figura 8), é considerado um gênio fora de seu tempo. Na verdade, muitos acreditam que ainda não estamos vivendo o tempo de Eins- tein. Desde criança foi um incontido com as questões da ciência, tudo era motivo para que Einstein se per- guntasse: “Mas porque é dessa forma?”. Não foi um bom aluno, pois foi incom- preendido pelos professo- res da época. Por isso e porque era um incontido se transformou em autodida- ta. Se interessou pela ação do magnetismo e pela sua relação com a eletricidade desde muito cedo e isso o acompanhou por toda a vida (STRATHERN, 1998). Vivendo uma vida miserável e pobre, Einstein só tinha cabeça para a ciência. Em 1905 publicou na famosa revista Annalen der Physik os artigos: “Sobre um ponto de vista heurístico acerca da produção e da transformação da luz”, de forma a explicar a natureza da Luz, atuando ora como partículas independentes bastante semelhantes a um gás, mas com massa de repouso nula (fótons), ora como ondas, com características puramente ondulatórias; “Uma nova de- terminação do tamanho das moléculas”; “Sobre o movimen- to de pequenas partículas suspensas em um líquido esta- cionário, segundo a teoria cinética molecular do calor”, na qual propôs que as partículas de pólen suspensas na água eram bombardeadas pela moléculas invisíveis que forma- vam o líquido e que isso causava o movimento browniano, ou seja, nesse artigo Einstein provou a existência dos áto- Figura 8 – Fotografia de Albert Einstein Fonte: ENCYCLOPEDIA BRITANNICA. w w w .u s f. e d u .b r I N IC IA Ç Ã O À P E S Q U IS A C IE N T ÍF IC A 51 PÁGINA mos; “Sobre a eletrodinâmica dos corpos em movimen- to”, no qual propôs a teoria da relatividade especial, na qual os conceitos e leis do espaço e do tempo só podem reivindicar validade na medida em que permanecem em relação clara com as experiências (STRATHERN, 1998). A teoria da relatividade especial representou a ruptura da mecânica clássica de Newton, na qual tempo e espaço eram únicos e verdadeiros. Einstein formulou uma teoria nova que propunha uma explicação totalmente nova do universo. Vários, antes dele propuseram pequenos ajus- tes, mas ele foi o que quebrou totalmente o paradigma. Ele aceitou que o espaço e o tempo eram relativos e por isso a velocidade da luz é constante através do espaço indepen- dente da fonte da luz ou do observador estarem ou não em movimento, e não existe movimento absoluto e nem existe ausência total de movimento, o que significa que a velocidade é relativa ao referencial que a define. Duas contradições que representam o quão brilhante ele foi na elaboração da teoria, que se resumem na explicação de que à medida que a velocidade se aproxima da velocidade da luz, o tempo se torna mais lento (STRATHERN, 1998). Foi somente após dois anos de extensos estudos matemáticos que chegou à famosa equação E = mc2, na qual E é energia, m é massa e c é a velocidade da luz. Isso explicava a quantidade enorme de energia li- berada pelo sol e explicada a radioatividade que estava sendo estudada recentemente (STRATHERN, 1998). A teoria não parou aí, mas avançou para o patamar do que conhecemos como Teoria da Relatividade Geral, na qual foi incluída a gravitação ao fenômeno tempo-espaço, capaz de abranger corpos que se deslocam em movimento relativamente acelerado sob a ação de um campo de ener- gia emanado pela própria matéria, a gravidade. Pensando na luz com sua característica dual (onda e partícula) che- gou à conclusão de que, para um feixe de luz atravessar um campo gravitacional, se curvaria (pela característica de partícula), e isso tornaria a distância entre dois pontos mais curta. Todos os estudos posteriores culminaram, em 1916 na w w w .u s f. e d u .b r I N IC IA Ç Ã O À P E S Q U IS A C IE N T ÍF IC A 52 PÁGINA publicação na revista Annalen der Physik, em um artigo inti- tulado “O fundamento da teoria da relatividade geral”, parte confirmada em 1919 por experimentos realizados em pleno Eclipse Solar (STRATHERN, 1998). Indicação de Leitura: STRATHERN, Paul. Einstein e a rela- tividade em 90 minutos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. E-book. [Minha Biblioteca]. Disponível na Biblioteca Virtual. Leis de Mendel Gregor Johann Mendel (1822-1884 – Figura 9), foi outro grande cientista que soube utilizar a experimentação na ela- boração de suas leis. Monge e professor, fez vários experimentos genéticos com ervilhas, que todos nós aprendemos um dia nas aulas de biologia, que culminaria na elaboração de suas leis. Seus estu- dos foram feitos em 1863, publicados em 1866 nos anais da Natural History Socie- ty de Brno, mas só tiveram real impor- tância após 1900, quando os botânicos Hugo de Vries, na Holanda; Carl Correns, na Alemanha, e Erich von Tschermak- Seysenegg, na Áustria, buscavam indivi- dualmente literaturas que embasassem suas ideias com relação à hereditariedade (ASTRAUKAS et al., 2009). Resumidamente, Mendel utilizou a ervilha de jardim (Pi- sum sativum), que tem pétalas da flor que se fecham im- pedindo que grãos de pólen entram ou saiam, o que faz com essa espécie tenha que se autofertilizar, portanto, com Figura 9 Fotografia de Gregor Mendel Fonte: PIERCE, 2017. w w w .u s f. e d u .b r I N IC IA Ç Ã O À P E S Q U IS A C IE N T ÍF IC A 53 PÁGINA variação genética mínima de uma geração para outra. Em seus experimentos, cruzou plantas baixas e altas e verificou que as plantas geradas eram híbridas, e as baixas eram perdidas. De- pois, as híbridas geravam numa proporção 3:1 plantas altas e bai- xas na próxima geração, o que permitiu que ele concluísse que as plantas baixas deixavam seu código na geração das híbridas. Estavam definidos os termos dominantes e recessivos. Atualmen- te chamamos de genes dominantes ou recessivos (SNUSTAD; SIMMONS, 2018).A textura de semente, a cor de semente, a forma de vagem, a cor de vagem, a cor de flor e a posição da flor também foram estudadas por Mendel e também resultaram na proporção 3:1 quando as características eram estudadas uma a uma (SNUS- TAD; SIMMONS, 2018). A Figura 10 ilustra os principais aspec- tos estudados por Mendel em seus experimentos. Figura 10 – Fotos e desenhos utilizados por Mendel sobre a ervilha Pisum sativum nos seus estudos de hereditariedade. Ele examinou 7 características que apareciam nas sementes e nas plantas que cresciam a partir das sementes Fonte: PIERCE, 2017. Com os experimentos, Mendel percebeu que os genes tinham duas cópias de cada gene que poderiam ser iguais ou diferentes, e que essas cópias eram incorporadas aleatoriamente durante a reprodução das plantas. Dessa forma, Mendel constatou que a hereditariedade ocorria em função dos cruzamentos genéticos e que os recessivos não influenciavam em uma geração mas po- diam aparecer na subsequente (SNUSTAD; SIMMONS, 2018). w w w .u s f. e d u .b r I N IC IA Ç Ã O À P E S Q U IS A C IE N T ÍF IC A 54 PÁGINA As leis de Mendel podem ser resumidas da seguinte maneira: 1ª Lei: As células sexuais devem conter apenas um fator (ou unidade de herança) para cada característica a ser transmitida. Cada característica é condicionada por um par de fatores, um herdado do pai e outro herdado da mãe, que se separam na formação dos gametas com a mesma probabilidade; 2ª Lei: Na formação dos gametas, os principais pares de fatores se segregam independentemente, de tal forma que cada gameta recebe apenas um fato de cada par. To- dos os tipos possíveis de gametas serão produzidos nas mesmas proporções (SNUSTAD; SIMMONS, 2018). SNUSTAD, D. Peter; SIMMONS, Michael J. Fundamen- tos de Genética. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. E-book. [Minha Biblioteca]. Disponível na Biblioteca Virtual. Já as ciências morais e sociais contemplam o estudo do ho- mem como ser dotado de razão e de liberdade, sendo divididas em psicologia, história e ciências sociais. “A ciência moral, que tem como objeto o estudo da verdade, que é a lógica; o estudo do belo, que é a estética; e a ciência política, que procura determinar as leis gerais de qualquer sociedade.” (SANTOS; PARRA FILHO, 2012, p. 71). As ciências que trabalham com fatos decorrentes de observação utilizam o método indutivo e as ciências morais, que se preocupam com o ideal, utilizam o método dedutivo. Método dedutivo (desenvolvido por René Descartes), que baseia-se no esclarecimento das ideias por meio do raciocínio que leva a conclusões verdadeiras elaboradas a partir de deduções lógicas. w w w .u s f. e d u .b r I N IC IA Ç Ã O À P E S Q U IS A C IE N T ÍF IC A 55 PÁGINA Método indutivo (desenvolvido por Francis Bacon), que diz que somente por meio da observação pode conhecer algo novo. Esse método é muito utilizado nas Ciências da Natureza, como botânica, zoologia, geologia e mineralogia. A história estuda os principais acontecimentos políticos, eco- nômicos, intelectuais e morais relativos a uma época ou a toda a humanidade. O desenvolvimento da pesquisa é um processo len- to baseado na documentação encontrada para um determinado povo, ou pela transmissão da tradição ao longo do tempo, ou pela análise de monumentos pertinentes. Quase sempre se direciona para o uso de ciências auxiliares, como geografia, economia, de- mografia, sociologia, cronologia, arqueologia, hermenêutica, heu- rística, esfragística, antropologia, criptologia e a própria psicologia (SANTOS; PARRA FILHO, 2012). A psicologia estuda o homem enquanto ser único, podendo ser aplicada experimentalmente como a ciência que estuda os fenô- menos da consciência e suas leis e suas inter-relações com o mundo físico e social (SANTOS; PARRA FILHO, 2012). A sociologia tem como objetivo estudar as instituições e as ma- nifestações da vida social, bem como as alterações das próprias instituições, baseando-se em aspectos sociais e políticos, de for- ma a caracterizar a maneira de pensar, as atividades realizadas, os costumes, as leis, os tipos de instituições existentes na sociedade e sua forma de conduzimento. Os métodos mais utilizados são o w w w .u s f. e d u .b r I N IC IA Ç Ã O À P E S Q U IS A C IE N T ÍF IC A 56 PÁGINA dedutivo e indutivo, mas também pode-se fazer uso dos métodos comparativo, histórico, estatístico, monográfico, formal, funcional, compreensivo ou ecológico (SANTOS; PARRA FILHO, 2012). Indicação de Leitura: SANTOS, João Almeida; PARRA FILHO, Domingos. Metodologia Científica. 2. ed. Cengage Learning Edi- tores, abr. 2012. Cap. 3. E-book. [Minha Biblioteca]. Disponível na Biblioteca Virtual. Agora que você conhece o que é método, seus tipos e as áreas de pesquisa aos quais cada método melhor se adapta, vamos, enfim, estudar o que é pesquisa. Fonte: 123rf w w w .u s f. e d u .b r 57 PÁGINA I N IC IA Ç Ã O À P E S Q U IS A C IE N T ÍF IC A CONCLUSÃO Nessa unidade você aprendeu sobres os diferentes métodos de pesquisa e sobre as grandes contribuições de vários cientistas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do traba- lho científico: elaboração de trabalhos na graduação, 10ª edição. Atlas, 09/2012. E-book. [Minha Biblioteca]. Disponível em: https://integrada. minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522478392/cfi/0!/4/4@0.00:0.00. Acesso em: 20 fev. 2019. APPOLINÁRIO, Fábio. Metodologia Científica. Cengage Learning Edi- tores, 06/2015. E-book. [Minha Biblioteca]. Disponível em: https://integra- da.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522122424/cfi/0!/4/2@100:0.00. Acesso em: 19 fev. 2019. ASTRAUSKAS, J.P.; NAGASHIMA, J.C.; SACOO, S.R.; ZAPPA, V. Leis da Herença por Grepor Johann Mendel: Uma Revolução Genética. Revis- ta Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, n. 13, p.1-6, 2009. Dispo- nível em: http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/ qYG3dxvYmiF7rSK_2013-6-24-17-32-26.pdf. Acesso em: 16 maio 2019. BARAR, Frank S.K. Galileo Galilei: Honoured 400 Years Later. 12 de novembro de 2011. Disponível em: https://www.boloji.com/articles/11615/ galileo-galilei-honoured-400-years-later. Acesso em: 17 jun. 2019. w w w .u s f. e d u .b r I N IC IA Ç Ã O À P E S Q U IS A C IE N T ÍF IC A 58 PÁGINA BORTHOLETTI, Rafael. Francis Bacon: O Problema Fundamental Do Novum Organum. 21 de abril de 2018. Disponível em: https://me- dium.com/blog-do-bart/francis-bacon-o-problema-fundamental-do-no- vum-organum-2cea7fd4a39e. Acesso em: 17 jun. 2019. CARVALHO, R.S. Lavoisier e a sistematização da nomenclatura quí- mica. 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O Lavoisier que não está presente nos livros didáticos. Química Nova na Escola, n. 26, p. 29-32, 2007. Disponível em: http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc26/ v26a08.pdf. Acesso em 15 maio 2019.
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