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NOÇÕES ESSENCIAIS DE DIREITO PENAL E PROCESSO PENAL SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 3 1.1 Conceito Analítico de Crime ........................................................................... 3 1.2 Llicitude .......................................................................................................... 7 1.3 Culpabilidade ................................................................................................. 8 2. CONCURSO DE CRIMES E DE AGENTES ....................................................... 10 2.1 Concurso de Crimes ..................................................................................... 10 2.2 Concurso de Agentes ................................................................................... 12 2.3 Aplicação da Pena ....................................................................................... 15 3. CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE .................................................... 18 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 22 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 23 1. INTRODUÇÃO 1.1 Conceito Analítico de Crime Para se tratar de Direito Penal e Processual Penal, antes é necessário estabelecer o conceito de crime. Assim, Mendonça e Dupret (2018, p.21) determinam que: O conceito analítico de crime compreende a estrutura do delito. Quer se dizer que crime é composto por fato típico, ilícito e culpável. Com isso, podemos afirmar que majoritariamente o conceito de crime é tripartite e envolve a análise destes três elementos. Com base no que foi expresso pelas autoras, os fatos dos crimes devem ser analisados conforme quadro abaixo: Figura 1: Conceito Analítico de Crime Fonte: (MENDONÇA E DUPRET 2018, p.21) Desse modo, dentro da conduta delituosa, deve-se analisar o nexo causal, a tipicidade e a culpabilidade. Assim, podemos dizer que, quanto a típidade, o fato para ser considarado como típico, é necessário que haja a realização de uma condulta cuja causa é derivada de uma previsão legal. Além da tipicidade formal, há também a material, onde é verificado se a ofensa ao bem jurídico foi realmente relevante, sendo o princípo da insignificância apto para realizar sua exclusão. CURIOSIDADE: Os Tribuanis Superiores tem afastado a aplicação do princípio da insignificância, como é o caso das súmulas 589 e 299 do STJ que dizem: "Súmula 589 - É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas. Súmula 599 - O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública." Em se tratando da conduta, pode-se dizer que está é o fato da pessoa fazer ou deixar de fazer algo, sendo elementos o dolo e a culpa. No artigo 18 do Código Penal, encontramos a classificação da seguinte forma: Art. 18 - Diz-se o crime: I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi- lo; O art. 18, inciso I, do CP traz a previsão do conceito de dolo direito de primeiro grau e de dolo eventual. II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. Figura 2: Distinção entre imprudência, negligência e imperícia Fonte: (MENDONÇA E DUPRET 2018, p.25) A culpa tem distinção entre ser consciente ou inconsciente, onde a primeira é quando se tem a previsão do resultado, mas acredita que não irá ocorrer. Já a segunda é quando o autor não possui previsão, ou seja, não pensa que o resultado possa ser possível. Já o dolo ele é divido entre direto (1º e 2º grua) e indireto. O dolo direito de 1º grau é quando o agente deseja o resultado, já o de 2º grau trata-se da consequência necessária, ou seja, o agente tem noção de certeza, sendo um efeito colateral do que se deseja. Em se tratando do dolo eventual trata-se quando o agente tem a noção de risco, ou seja, não se importa com o que pode causar com seus atos. A conduta do agente precisa ter nexo causal. Assim, o artigo 13 do Código Penal aduz: Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. § 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. A principal diferença entre o caput e o primeiro parágrafo é a teoria adotada. No caput, apresenta a teoria da conditio sine que non o que determina a verificação de que se o agente que deu ou não a causa. Já o primeiro parágrafo apresenta a teoria da causalidade adequada. Figura 3: Dolo x Culpa Fonte: (ENTENDEU DIREITO, 2020) DICA: Vide o vídeo Direito Penal | Kultivi - Dolo e Culpa | CURSO GRATUITO pelo link https://www.youtube.com/watch?v=89DpTAonPVY 1.2 Llicitude Via de regra a ilicitude estará presente sempre que o fato for típico, por esse modo, a ilicitude é estudada pelos seus excludentes e não por seus elementos, sendo os excludentes: legitima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal, exercício regular do direito, conforme previsto no artigo 23 do CP. Conforme previsto no artigo 25 do CP, a legitima defesa é o direito de reagir a uma agressão injusta, atual ou iminente, contra seu direito ou de outra pessoa. É importante mencionar que a reação deve ser suficiente para fazer com que a agressão pare. O estado de necessidade ocorre mediante perigo atual, inevitável e voluntário. Mendonça e Dupret (2018, p.30) dizem que: A noção de perigo é bem mais ampla que a noção de agressão. O perigo pode ser proveniente de uma conduta humana, mas também pode ser proveniente de uma calamidade, da força da natureza, do ataque de um animal ou de outros fatores. O Código Penal não restringiu ou especificou o que seria o perigo. Embora tenha sido claro ao exigir que ele seja atual (esteja acontecendo no momento em que o agente pratica a conduta), inevitável (não havia outra forma de salvar o bem jurídico) e involuntário (o agente não provocou o perigo por sua vontade). Importante mencionar que o artigo 24 CP não aceita que pessoas que possuem o dever legal de enfrentar o perigo alegem o estado de necessidade. Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. § 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços. Figura 4: Excludente de ilicitude Fonte: (ENTENDEU DIREITO, 2020) 1.3 Culpabilidade A culpabilidade é divida em três elementos: imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa. Desse modo, a melhor maneira de se estudar a culpabilidade é por meio das exceções: Figura 5: Excludentes de culpabilidade Fonte: (MENDONÇA E DUPRET 2018, p.31) A imputabilidade é a possibilidade de se poder atribuir a uma pessoa a responsabilidade de um determinado fato. Assim, qualquer pessoa que seja imputável, possui a consciência dailicitude e dela pode-se exigir uma outra conduta. ATENÇÃO: A imputabilidade é a regra e a inimputabilidade é a exceção. A potencial consciência da ilicitude é a possibilidade de compreensão do fato de que o agente praticava um ato ilícito. Já a exigibilidade de conduta diversa é um pouco mais amplo. É possibilidade de que o agente teria de agir conforme previsão legal, no momento de omissão ou ação. Essa possibilidade pode ser variada dependendo do agente e deverá ser realizado o juízo de medição conforme análise do caso concreto. ATENÇÃO: Vide a Aula 20 - Direito Penal. Culpabilidade. Causas de Exclusão da Culpabilidade do professor João Paulo Mendes, pelo link https://www.youtube.com/watch?v=0ZNl-KVD948 https://www.youtube.com/watch?v=0ZNl-KVD948 2. CONCURSO DE CRIMES E DE AGENTES 2.1 Concurso de Crimes Concurso de crimes ocorre quando apenas uma pessoa pratica uma variedade de delitos, ou ainda quando um concurso de pessoas pratica vários delitos. O concurso de crimes possui 3 espécies, sendo o concurso material (artigo 69 CP), concurso formal (artigo 70 CP) e crime continuado (artigo 71 CP). O concurso material, também conhecido como concurso real de crimes, está previsto no artigo 69 do CP e ocorre quando o agente, por meio de mais de uma ação ou omissão, realiza dois ou mais crimes. Sendo assim, os requisitos são: mais de uma ação ou omissão e prática de dois ou mais crimes. Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição de que trata o art. 44 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) O concurso formal, conforme previsto no artigo 70 do CP é quando ocorre uma só ação ou omissão e o agente pratica de dois ou mais crimes. O concurso formal pode ser divido em homogêneo e heterogêneo. O primeiro ocorre quando as infrações penais realizadas pelo agente, mediante apenas uma ação ou omissão, possuem uma mesma tipificação. E será considerado heterogêneo quando ocorrer mais de uma infração penal e for praticada com mais de uma tipificação. Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicasse-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) O crime continuado, previsto no artigo 71 do CP se trata de uma teoria jurídica adotada pelo legislador onde foi criada pelas razões políticas criminais e veio como forma de beneficiar o agente Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Figura 6: Concurso de crimes Fonte: (ENTENDEU DIREITO, 2020) 2.2 Concurso de Agentes O concurso de pessoas ou concurso de agentes ocorre quando uma pessoa concorre de qualquer maneira para a pratica de um crime. Nesse caso, será aplicado o que determina o artigo 29 do CP onde diz “quem, de qualquer modo concorre para o crime, incide nas penas a este cominadas na medida de sua culpabilidade”. Para que seja caracterizado concurso de pessoas, é necessário se ater aos seguintes requisitos: Deve-se estar diante de crimes unissubjetivos (ou de concurso eventual) Pluralidade de agentes e de condutas Relevância causal da conduta – ex.: A, desejando matar B, não encontra sua arma e vai à casa de C pegar emprestado. C empresta a arma. Antes de ir ao encontro de B, A resolve utilizar uma faca que encontra em seu caminho e deixa de lado a arma que havia pedido emprestado a C. A vai ao encontro de B e o mata. A conduta de C foi relevante para causar a morte de B? Uma vez que o agente já estava decidido a cometer o crime e não tendo utilizado a arma emprestada por C, a conduta deste passou a ser irrelevante. Mesmo querendo contribuir, a ausência de relevância faz com que ele não seja responsabilizado penalmente Liame subjetivo entre os agentes – vínculo psicológico que une os agentes. Não havendo liame subjetivo, cada um será responsabilizado isoladamente por sua conduta. É a adesão de vontades, que jamais poderá ocorrer após a consumação da infração, pois então estaria caracterizado delito de favorecimento. Identidade de infração penal – os agentes devem querer praticar a mesma infração penal O Código Penal, em seu artigo 29, apresenta a teoria monista para o concurso de pessoas ao dizer: Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser- lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Figura 7: Concurso de pessoas Fonte: (ENTENDEU DIREITO, 2020) DICA: Veja o vídeo CONCURSO DE PESSOAS | ART. 29 CÓDIGO PENAL de Prodige Preparatório no link https://www.youtube.com/watch?v=ScKjdFyQI3k 2.3 Aplicação da Pena A aplicação da pena é dividida em três etapas, conforme estabelecido pelo Código Penal, conhecido como trifásico, onde, na primeira fase são consideradas as circunstâncias do artigo 59 do CP para se determinar a pena base, estabelecendo a quantidade mínima e máxima da pena imposta em abstrato no tipo penal básico ou qualificado. Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;(Redaçãodada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Na segunda fase, se aplica as circunstâncias atenuantes e agravantes que estão previstas nos artigos 61, 62, 65 e 66 do CP. É nesse ponto que encontramos a pena intermediária e a pena provisória. Por fim, mas não menos importante, temos a terceira fase, onde são aplicadas as causas de diminuição e de aumento da pena, que estão previstas na parte especial e geral do Código Penal, estabelecendo assim, a pena definitiva. ATENÇÃO: É importante tomar cuidado para que não ocorra o bis in idem, pois muitas vezes, o que parecer ser elementar, pode entretanto aparecer como circunstância judicial, agravante e causa de aumento. Por isso, quando for fazer a capitulação delitiva, deve-se ater as elementares e as qualificadoras. Desse modo, para realizar a dosimetria da pena, deve-se levar em conta alguns requisitos, tais como: o uso obrigatório do critério trifásico; considerar todos os réus e todos os crimes cometido em respeito ao princípio da individualização das penas; analisar todas as circunstâncias previstas no artigo 59 do CP, na sua respectiva ordem, e fundamentar; a pena base deve respeitar os limites legais não ultrapassando o mínimo ou o máximo, mesmo levando em conta as atenuantes e as agravantes que são analisadas sobre a pena estabelecida na segunda fase. DICA: Vide o vídeo “Aplicação da pena - Dosimetria da pena - há outras aulas que complementam o raciocínio dessa” do Minuto Penal, no link https://www.youtube.com/watch?v=dXqKAdOg8eE Figura 8: Dosimetria da pena Fonte: (ENTENDEU DIREITO, 2020) 3. CAUSAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE Primeiramente, é importante mencionar que há uma distinção entre a prescrição presente do Direito Civil e a prescrição presente no Direito Penal. No Direito Penal, a prescrição, assim como a decadência e a perempção são causas de extinção da punibilidade, estabelecidos no artigo 107 do CP. Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - pela morte do agente; II - pela anistia, graça ou indulto; III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; IV - pela prescrição, decadência ou perempção; V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada; VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; VII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) VIII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005) IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei. Quando o sujeito pratica um crime, o direito de punir do Estado deixa de ser abstrato e se torna concreto, estabelecendo a relação jurídico-punitiva, surgindo a lide penal. A lide penal é estabelecida pelo conflito de interesses do Estado e do agente. O Estado, então, possui o direito de chamar o Judiciário para que seja aplicada a norma penal do crime cometido. Contudo, esse direito do Estado não dura para sempre. A prescrição ocorre com junção da inércia do Estado e o decurso do tempo, ou seja, é quando o Estado perde seu direito de punir por não o realizar no tempo previsto em lei. A prescrição pode ser dividida em pretensão punitiva e executória, conforme estabelece a Escola Brasileira de Direito (2020, s/p): 1. Prescrição da pretensão punitiva: dá-se no processo de conhecimento penal, ocorrendo pelo escoamento do prazo antes do trânsito em julgado da sentença. O prazo da prescrição da pretensão punitiva será estabelecido pela quantidade da pena in abstracto, sendo esta o máximo de pena aplicável para o tipo penal, haja vista que a sentença não poderá condenar à pena superior ao máximo legal. 2. Prescrição da pretensão executória: dá-se no processo de execução penal, ocorrendo pelo fim do prazo antes de iniciar o cumprimento da pena. O prazo da prescrição da pretensão executória será estabelecido pela quantidade da pena in concreto, ou seja, a quantidade de pena aplicada e já transitada em julgado. Para ambos os casos, deverá ser consultado o prazo prescricional estabelecido no art. 109 do Código Penal. Desse modo, o artigo 109 do CP estabelece: Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010). I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze; II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze; III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito; IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro; V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois; VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano. (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010). A decadência, por sua vez, também se trata de perder o prazo devido a uma inércia, contudo, nesse caso, a inércia se dá do particular ao qual teria o direito de acionar a justiça e não o faz. É nesse caso, por exemplo, quando a vítima deixa de realizar a queixa-crime no prazo determinado em lei. Desse modo, Bitencourt (2007, p.702-703) conceitua: Decadência é a perda do direito de ação a ser exercido pelo ofendido, em razão do decurso de tempo. A decadência pode atingir tanto a ação de exclusiva iniciativa privada como também a pública condicionada à representação. Constitui uma limitação temporal ao iuspersequendi que não pode eternizar-se. Capez (2007, p.569) continua: A decadência está elencada como causa de extinção da punibilidade, mas, na verdade, o que ela extingue é o direito de dar início a persecução penal em juízo. O ofendido perde o direito de promover a ação e provocar a prestação jurisdicional e o Estado não tem como satisfazer seu direito de punir [...] a decadência não atinge diretamente o direito de punir, pois este pertence ao Estado e não ao ofendido; ela extingue apenas o direito de promover a ação ou de oferecer a representação Já a perempção, ocorre quando o autor da ação ficar inerte durante uma ação penal privada, impedindo dessa forma que o processo dê prosseguimento e acarreta na extinção da punibilidade do réu. As causas de perempção estão previstas no artigo 60 do CPP: Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar- se-á perempta a ação penal: I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos; II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36; III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais; IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor. Stanici (2020, s/p) ainda complementa dizendo que: A perempção no processo penal se diferencia das demais formas de perempção uma vez que só poderá ocorrer nos processos em que a ação penal é privada, ou seja, nos processo em que a ação não é de titularidade do ministériopúblico, devendo a vítima apresentar queixa crime em face do autor do crime cometido contra ela. DICA: Veja ao vídeo “DIREITO PENAL - Decadência, Prescrição, Perempção e Retratação” de Me Passa Ai, pelo link https://www.youtube.com/watch?v=0mFnG4gq8Fc CONSIDERAÇÕES FINAIS Com o presente material, buscou-se realizar um apanhado geral e que sirva como base para o aprofundamento futuro sobre o Direito Penal e Processual Penal. De forma suscinta, podemos dizer que o Direito Penal se refere a parte material da área criminal, já o Direito Processual Penal, como o próprio nome já diz é a parte processual dá área criminal, é o conjunto de normas e princípios que regem a aplicação da parte material. Desse modo, foi apresentado as noções essenciais para o entendimento da matéria, como o conceito analítico de crime, que é a parte estrutural do crime, o qual é composto pelo fato típico, ilícito e culpável. A ilicitude, via de regra, estará presente sempre que o fato for típico, por esse modo, a ilicitude é estudada pelos seus excludentes e não por seus elementos. Por isso, foi abordado também sobre as excludentes de ilicitude no artigo 23 do Código Penal. Também foi apresentado sobre a culpabilidade e seus elementos. Em seguida, fez-se necessário falar sobre o concurso de crime e seus agentes, para só então falarmos um pouco sobre a dosimetria da pena, onde deve ser analisado tanto os agravantes quanto os atenuantes, para verificar o aumento ou redução da pena, respeitando os limites estabelecidos em lei. Por fim, mas não menos importante, foi tratado sobre a extinção da punibilidade que está prevista no artigo 107 do CP, onde foi aprofundado na prescrição, decadência e perempção. Quando o sujeito pratica um crime, o direito de punir do Estado deixa de ser abstrato e se torna concreto, estabelecendo a relação jurídico- punitiva, surgindo a lide penal. A lide penal é estabelecida pelo conflito de interesses do Estado e do agente. O Estado, então, possui o direito de chamar o Judiciário para que seja aplicada a norma penal do crime cometido. É importante frisar que este assunto não se esgota nas páginas deste trabalho e há muito que pesquisar e produzir de conhecimento sobre esta área tão importante. REFERÊNCIAS BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. V.2. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral. 11. Ed. São Paulo: Saraiva, 2007. Vol. 1 CAPEZ, Fernando Capez. Curso de Direito Penal. v.4. 5.ed. São Paulo: Saraiva, 2010. CAPEZ, Fernando Capez. Curso de Direito Penal. Parte Especial, v.2.10. ed. São Paulo: Saraiva. CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: Parte Geral. 11. Ed. São Paulo: Saraiva, 2007. Vol. 1. CUNHA, Rogério Sanches. Direito Penal – parte especial. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. ESCOLA BRASILEIRA DE DIREITO. Entenda a prescrição penal. Análise da prescrição da pretensão punitiva e executória. Jusbrasil. Disponível em https://ebradi.jusbrasil.com.br/artigos/436546849/entenda-a-prescricao-penal Acesso em set. 2020 ESTEFAM, André ; Gonçalves, Victor Eduardo Rios. Direito penal esquematizado® – parte geral / André Estefam; Victor Eduardo Rios Gonçalves. – Coleção esquematizado ® / coordenador Pedro Lenza - 9. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020. FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara koogan, 2001 GRECO, Rogério.Código Penal Comentado. 6.ed. Niterói: Impetus, 2012. HABIB, Gabriel. Leis Penais Especiais volume único/ coordenador Leonardo de Medeiros Garcia – 10. Ed. Ver, atual e ampl. – Salvador: Jus Podium, 2018, p.630/631. MARQUES, Alexandre Paranhos Pinheiro. Direito Penal: parte geral: princípios limitadores do direito penal, norma penal, lei penal do tempo e no espaço, teoria do crime (fato típico, ilícito e culpável), punibilidade e concurso de pessoas/ Alexandre Paranhos Pinheiro Marques; coordenação de Marcus Vinícius Manso Lopes Gomes. – 2. Ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019. MASSON, Cleber. Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120) – vol. 1 / Cleber Masson. – 13. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2019. MENDONÇA, Ana Cristina; DUPRET, Cristiane. Penal Prática OAB 2ª Fase. 4ª ed. Revista, ampliada atualizada. Editora JusPodivm. 2018 MISAKA, Marcelo Yukio. Sentença criminal / Marcelo YukioMisaka ; coordenação Cleber Masson. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014. QUEIROZ, Paulo. Direito penal. Parte geral. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 45. Na dicção do STF: “Os direitos fundamentais não podem ser considerados apenas proibições de intervenção (Eingrifsverbote), expressando também um postulado de proteção (Schutzgebote). Pode-se dizer que os direitos fundamentais expressam não apenas uma proibição do excesso (Übermassverbote), como também podem ser traduzidos como proibições de proteção insuficiente ou imperativos de tutela (Untermassverbote)” (HC 102.087/MG, rel. Min. Celso de Mello, rel. p/ acórdão Min. Gilmar Mendes, 2.ª Turma, j. 28.02.2012). STANISCI, Gabriel. Perempção no Processo Penal. Perempção - Conceito, Natureza Jurídica, Causas e Prazo.JusBrasil. Disponível em https://gabrielstanisci.jusbrasil.com.br/artigos/408560186/perempcao-no-processo- penal Acesso em set. 2020
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