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Curso | Agente Comunitário de Saúde 1 Agente Comunitário de Saúde 400 horas Curso | Agente Comunitário de Saúde 2 MÓDULO I PROMOÇÃO À SAÚDE E ATUAÇÃO SOCIAL EM SAÚDE Profª Mestra Juliana Barbosa Framil Curso | Agente Comunitário de Saúde 3 NOTA SOBRE A AUTORA Juliana Barbosa Framil é enfermeira pela Faculdade de Educação e Meio Ambiente (FAEMA)-2012. Possui especialização em Enfermagem do Trabalho (2017). Possui Mestrado em Psicologia (2017-2019) tendo desenvolvido sua pesquisa na linha de Saúde e Processos Psicossociais. Desenvolveu sua dissertação sobre perfil epidemiológico de pessoas com transtornos mentais e qualidade de vida. Atua como enfermeira na assistência estudantil do IFRO/ Campus Ariquemes desde 2014. E-mail para contato: juliana.framil@ifro.edu.br Para acesso ao lattes, clique aqui mailto:juliana.framil@ifro.edu.br http://lattes.cnpq.br/5622389140771096 Curso | Agente Comunitário de Saúde 4 SUMÁRIO 1 PROMOÇÃO À SAÚDE E ATUAÇÃO SOCIAL EM SAÚDE ....................................... 5 1.1 POLÍTICA NACIONAL DE PROMOÇÃO A SAÚDE ...................................................... 5 2 PROCESSO DE TRABALHO EM EDUCAÇÃO ............................................................ 16 2.1 EDUCAÇÃO EM SAÚDE ................................................................................................. 16 2.2 EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE ....................................... 16 2.3 EDUCAÇÃO EM SAÚDE E OPÇÕES PEDAGÓGICAS ................................................ 18 2.4 PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM E PRÁTICAS EM SAÚDE .......................... 20 2.5 PLANEJAMENTO DE AÇÃO EDUCATIVA .................................................................. 22 2.6 TRABALHANDO EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA COMUNIDADE .............................. 22 2.6.1 Como trabalhar educação em saúde na comunidade ................................................. 22 2.6.2 Recomendações gerais para atividades educativas .................................................... 24 3 AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE: UM AGENTE DE MUDANÇA .................. 25 3.1 VULNERABILIDADE, RISCO SOCIAL E VIOLÊNCIA ............................................... 27 3.2 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE .................................................. 29 3.3 ESTATUTO DO IDOSO ................................................................................................. 32 3.3.1 Violência Intrafamiliar e Maus Tratos contra a pessoa idosa ................................... 34 3.4 ATENÇÃO A PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E SEXUAL .................................................................................................................................................. 36 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 39 Curso | Agente Comunitário de Saúde 5 1 PROMOÇÃO À SAÚDE E ATUAÇÃO SOCIAL EM SAÚDE 1.1 POLÍTICA NACIONAL DE PROMOÇÃO A SAÚDE A Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, ocorrida em Alma- Ata, no ano de 1978, reitera a concepção de saúde numa abordagem ampliada: A saúde - estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade - é um direito humano fundamental, e que a consecução do mais alto nível possível de saúde é a mais importante meta social mundial, cuja realização requer a ação de muitos outros setores sociais e econômicos, além do setor da saúde (OMS, 1978, p. 1). Concomitante a esta concepção de saúde como um direito de todo cidadão a ser buscada como meta mundial e aos movimentos internacionais que discutiam concepções de saúde e sua determinação social, ficou evidente que o processo saúde-doença é consequência da forma como a sociedade se organiza, trabalha e vive em um certo espaço histórico, geográfico e social (BRASIL, 2006a). Devido a este entendimento o modelo biomédico torna-se retrógrado, pois centra os cuidados em saúde no tratamento de sintomas e valoriza apenas o aspecto biológico. Como o modelo biomédico tornou-se impróprio para lidar com todos os condicionantes e determinantes das condições de vida-adoecimento das pessoas, foi necessário repensar os modelos de atenção à saúde (BRASIL, 2006a). Na Declaração de Alma Ata, é enfatizado o direito e dever da população em participar na elaboração e execução da assistência que receberá. É preferível a realização de cuidados primários de saúde como essenciais, com embasamento científico e aceitação da comunidade, tornando-se de alcance universal, baixo curso e o primeiro contato da população com os profissionais de saúde. fundamentados cientificamente e passíveis de aceitação da comunidade, sendo de alcance universal e custo acessível, constituindo-se como o primeiro contato entre profissionais de saúde e população. Portanto, os cuidados primários em saúde resultam das necessidades da comunidade e visam modifica-las (OMS, 1978). Posteriormente, em 1986, na Primeira Conferência Internacional de Promoção à Saúde, ocorrida em Ottawa, Canadá, as diversas discussões resultaram na publicação do documento homônimo que define a promoção à saúde e quais os requisitos básicos para que esta possa ocorrer: Curso | Agente Comunitário de Saúde 6 Promoção da saúde é o nome dado ao processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo. Para atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e social os indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente. A saúde deve ser vista como um recurso para a vida, e não como objetivo de viver. Nesse sentido, a saúde é um conceito positivo, que enfatiza os recursos sociais e pessoais, bem como as capacidades físicas. Assim, a promoção da saúde não é responsabilidade exclusiva do setor saúde, e vai para além de um estilo de vida saudável, na direção de um bem- estar global. As condições e os recursos fundamentais para a saúde são: Paz – Habitação – Educação – Alimentação – Renda - ecossistema estável – recursos sustentáveis - justiça social e equidade O incremento nas condições de saúde requer uma base sólida nestes pré-requisitos básicos. (OMS, 1986, p. 1). Na Carta de Ottawa, também se faz referência ao empoderamento e à participação social ao definir como inacessível o maior potencial de saúde caso não houver controle sobre os determinantes da própria saúde. Além disso, foram definidos cinco campos para atuação: elaboração de políticas públicas saudáveis, criação de ambientes propícios à saúde, desenvolvimento de habilidades, ênfase na ação comunitária e reorientação dos serviços de saúde. (OMS, 1986). Para se promover a saúde é necessária a integração de diferentes setores, através de alianças intersetoriais e ações múltiplas. Ocorreram ainda diversas conferências internacionais discutindo como melhorar a saúde mundial a partir da reorganização do modelo de atenção à saúde, sendo as mais importante a declaração de Alma-Ata e a Carta de Ottawa. No Brasil, essa modificação de modelo biomédico para uma atenção à saúde de forma ampliada foi acompanhada da reorganização político-administrativa do país marcada pela criação da Constituição Cidadã e surgimento de um sistema de saúde que considera osdeterminantes sociais de saúde e que tem como princípios fundamentais a integralidade, a equidade, a universalidade e a participação social (BRASIL, 2006a). A Constituição do Brasil define em seu artigo 196 que: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988, p. 42). Em 1990, a partir da Lei N. 8080 foi instituído o Sistema Universal de Saúde (SUS), inspirado no modelo inglês; hoje é o maior sistema público gratuito de saúde que garante atendimento de necessidades em saúde desde a atenção primária até os níveis de maior complexidade, ofertando de suplementação de ferro até imunobiológicos especiais de custo elevado. O SUS traz em seu bojo a concepção de que os níveis de saúde de uma população expressam seu nível de organização e define-se socialmente num determinado tempo e espaço, Curso | Agente Comunitário de Saúde 7 sendo influenciado por condicionantes e determinantes de saúde (BRASIL, 1990). Além do reconhecimento da determinação social da saúde-doença, a criação do SUS estruturou-se em princípios doutrinários – universalidade, equidade e integralidade – e organizacionais. Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde - SUS são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no artigo 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios. I - Universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; II - Integralidade de assistência, entendida como um conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; IV - Igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie (BRASIL, 1990, p. XX). Em 2006, no Brasil, foi estabelecida a Política Nacional de Promoção à Saúde (PNPS) pela Portaria N. 687, 30 de março. Esta portaria apresentou os objetivos, diretrizes e responsabilidades de cada esfera governamental para que o sistema de saúde trabalhasse sob a perspectiva de promoção à saúde com envolvimento de outros setores também (BRASIL, 2006a). É importante diferenciar promoção à saúde e prevenção, enquanto a primeira apresenta uma abrangência maior, busca o maior potencial de qualidade de vida de uma comunidade; a prevenção busca evitar determinadas doenças por meio de ações específicas. Por exemplo, a orientação do ACS para que as mães continuem aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de idade é uma medida de promoção à saúde, pois o leite materno possui diversos benefícios e melhora o desenvolvimento da criança em geral; porém a vacinação com a vacina pentavalente previne contra cinco diferentes doenças, é uma prevenção específica. No quadro a seguir é possível ver um resumo dos principais pontos da PNPS: Objetivos específicos Incorporar e implementar ações de promoção da saúde, com ênfase na atenção básica; Ampliar a autonomia e a co-responsabilidade de sujeitos e coletividades, inclusive o poder público, no cuidado integral à saúde e minimizar e/ou extinguir as desigualdades de toda e qualquer ordem (étnica, racial, social, regional, de gênero, de orientação/opção sexual, dentre outras); Promover o entendimento da concepção ampliada de saúde, entre os trabalhadores em saúde, tanto das atividades-meio, como os da atividade-fim; Curso | Agente Comunitário de Saúde 8 Contribuir para o aumento da resolubilidade do Sistema, garantindo qualidade, eficácia, eficiência e segurança das ações de promoção da saúde; Estimular alternativas inovadoras e socialmente inclusivas/ contributivas no âmbito das ações de promoção da saúde; Valorizar e otimizar o uso dos espaços públicos de convivência e de produção de saúde para o desenvolvimento das ações de Promoção da Saúde; Favorecer a preservação do meio ambiente e a promoção de ambientes mais seguros e saudáveis; Contribuir para elaboração e implementação de políticas públicas integradas que visem à melhoria da qualidade de vida no planejamento de espaços urbanos e rurais; Ampliar os processos de integração baseados na cooperação, solidariedade e gestão democrática; Prevenir fatores determinantes e/ou condicionantes de doenças e agravos à saúde; Estimular a adoção de modos de viver não-violentos e o desenvolvimento de uma cultura de paz no país; Valorizar e ampliar a cooperação do setor da saúde com outras áreas de governos, setores e atores sociais para a gestão de políticas públicas e a criação e/ou o fortalecimento de iniciativas que signifiquem redução das situações de desigualdade. Diretrizes Reconhecer na Promoção da Saúde uma parte fundamental da busca da equidade, da melhoria da qualidade de vida e de saúde. Estimular as ações intersetoriais, buscando parcerias que propiciem o desenvolvimento integral das ações de Promoção da Saúde. Fortalecer a participação social como fundamental na consecução de resultados de Promoção da Saúde, em especial a equidade e o empoderamento individual e comunitário. Promover mudanças na cultura organizacional, com vistas à adoção de práticas horizontais de gestão e estabelecimento de redes de cooperação intersetoriais. Incentivar a pesquisa em Promoção da Saúde, avaliando eficiência, eficácia, efetividade e segurança das ações prestadas. Divulgar e informar das iniciativas voltadas para a Promoção da Saúde para profissionais de saúde, gestores e usuários do SUS, considerando metodologias participativas e o saber popular e tradicional. Curso | Agente Comunitário de Saúde 9 Áreas prioritárias para atuação Divulgação e implementação da Política Nacional de Promoção da Saúde; Alimentação Saudável; Prática Corporal/Atividade Física; Prevenção e Controle do Tabagismo; Redução da morbi-mortalidade em decorrência do uso abusivo de álcool e outras drogas; Redução da morbi-mortalidade por acidentes de trânsito; Prevenção da violência e estímulo à cultura de paz; Promoção do desenvolvimento sustentável. Fonte: BRASIL, 2006a A estruturação do SUS a partir de tais princípios e a concepção de documentos normativos como a portaria 687/2006 reitera a importância de trabalhar a partir da perspectiva de cuidados primários em saúde e de promoção à saúde. Sendo assim, é fundamental conhecer os Determinantes Sociais de Saúde (DSS), os quais são caracterizados como contexto no qual a vida de uma pessoa se desenvolve (CNDSS, 2008). Os determinantes sociais de saúde estão atrelados de forma indissociável ao conceito de iniquidades em saúde – as desigualdades resultantes do contexto socioeconômico e cultural no qual grupos e/ou famílias interagem. As iniquidades em saúde são “consequências injustas, evitáveis e desnecessárias”, identificadas em estatísticas que expressam a dificuldade ou mesmo impossibilidade de acesso aos requisitos básicos definidos na Carta de Ottawa para se atingir o potencial de saúde (WHITEHEAD, 2000, p. 5). Como exemplo disto, Kliksberg (2011) informa que um milhão e novecentas mil pessoas perdem a vida a cada ano devido à falta de água; a falta de energia faz com que aproximadamente 2700 milhões de pessoas preparem sua alimentação de forma semi-primitiva, o que favorece a contaminação e proliferação de doenças evitáveis com medidas simples de higiene. Portanto, atuar sobre os determinantes sociais de saúde é tão importante para promover saúde, prevenir doenças e agravos e reduzir as iniquidades (BUSS; PELLEGRINI-FILHO,2007). Conforme Sant´anna et al. (2010) os determinantes sociais de saúde são as condições relativas às características de cada pessoa e coletividade que interferem no processo saúde-doença. Estes determinantes são classificados em três tipos, porém na prática eles não se dissociam e interagem múltipla e reciprocamente na produção do binômio saúde-doença: Proximais: são as características de cada pessoa, como fatores genéticos, idade e sexo; Curso | Agente Comunitário de Saúde 10 Intermediários: relativos aos aspectos comportamentais de vários grupos, como as redes sociais, comunitárias e de saúde; Distais: engloba as características mais gerais, como habitação, emprego, e outros fatores socioculturais, econômicos e ambientais; exigem ação de outros setores além da saúde para sua modificação. Todos estes fatores ou determinantes sociais de saúde agem de forma sinérgica na produção de saúde ou doença de cada pessoa e na comunidade onde vive. É importante lembrar que nenhum determinante social de saúde é capaz de causar uma doença, é preciso a junção de diversos determinantes para que uma pessoa adoeça. Portanto, quando forem adotadas medidas de promoção à saúde e prevenção de doenças devem basear-se em mais de um determinante para se ter sucesso (SANT´ANNA et al., 2010). Conforme Buss e Pellegrini-Filho (2006), os aspectos que mais interferem na forma como os DSS influenciam a situação de saúde das pessoas são: como a renda per capita se distribui entre um grupo populacional e as relações de solidariedade e confiança estabelecidas entre as pessoas e redes sociais. Segundo estes autores, quando se atinge certo valor do nível de Produto Interno Brito (PIB) per capita, o que mais modifica a condição de saúde da população não é a renda em si, mas como esta renda está distribuída entre seus habitantes. Por exemplo, no Brasil há uma péssima distribuição de renda, onde 20% dos mais ricos possuem uma renda 26 vezes maior que a renda dos 20% mais pobres; além disso, a corrupção foi responsável pela inadequada utilização de 85 bilhões de reais de dinheiro público – este valor correspondia a 2,3% da riqueza nacional em 2005-2006. Caso este valor tivesse sido utilizado adequadamente poderia ter erradicado a miséria no Brasil retirando 16 milhões de pessoas desta condição (BUSS; PELLEGRINI-FILHO, 2006; CABRAL; DINIZ, 2011). O fortalecimento das relações sociais e do capital social são importantes meios de impactar nas condições de saúde da população, sendo decisivos para a promoção da saúde em nível individual e coletivo (BUSS; PELLEGRINI-FILHO, 2006). A promoção da equidade em saúde, e consequente, melhores condições de vida, deve ser precedida de mudanças nas relações políticas, socioeconômicas e culturais, que estão alicerçadas nas redes no fortalecimento de vínculos de solidariedade e confiança. (SENA; SILVA, 2007). A abordagem dos determinantes sociais de saúde é feita através do modelo proposto por Dahlgren e Whitehead, modelo adotado pela Comissão Nacional de Determinantes Sociais de Saúde, ilustrado na figura 1. Neste modelo os DSS são apresentados em diferentes camadas de acordo com seu nível de abrangência, desde uma camada mais próxima com os determinantes individuais até uma camada mais distante na qual estão inseridos os macrodeterminantes. No primeiro nível estão os indivíduos, apresentando características específicas como idade, sexo e fatores genéticos, que obviamente interferem no seu potencial e condições de saúde. Na próxima camada estão dispostos o comportamento e os estilos de vida individuais. Curso | Agente Comunitário de Saúde 11 Na camada seguinte faz-se referência às redes comunitárias e de apoio, cuja variedade e existência expressam o nível de coesão social, imprescindível para a saúde da sociedade como um todo. No nível seguinte estão dispostos os fatores relacionados a condições de vida e de trabalho, como o acesso a serviços essenciais e alimentos, demonstrando que os grupos populacionais em desvantagem socioeconômica são mais vulneráveis às condições propiciadoras de doença decorrentes de habitações, meios de trabalho insalubres e acesso desigual a serviços. E por fim, no último nível, situam-se os macrodeterminantes, relacionados às condições econômicas, culturais e ambientais da sociedade, inclusive o processo de globalização, com grande influência sobre as camadas anteriores. (CNDSS, 2008). Figura 1 – Determinantes sociais de saúde Fonte: CNDSS, 2008 Como mencionado anteriormente, os DSS agem de modo recíproco e sinérgico na produção das condições de saúde e doença das pessoas e comunidades. Podemos citar como exemplo o caso das diarreias que constituem importante causa de adoecimento e até mesmo óbitos em crianças. As diarreias são causadas por diversos fatores, a presença do agente infeccioso não causa a doença sozinha, é necessário que ocorram situações que propiciem o desenvolvimento das doenças diarreicas, fatores estes dispostos na figura a seguir. Outro aspecto a ser obervado nas relações apresentadas na imagem é como a relação de todos os DSS faz com que se desenvolva um ciclo vicioso de ocorrencia de diarreias e desnutrição. Curso | Agente Comunitário de Saúde 12 Atividade de fixação: Pesquisa e responda às seguintes respostas no nosso fórum: 1 O que é diarreia? 2 O que é desidratação? 3 Quais as principais causas de mortalidade infantil? Figura 2 – Sinergismo multifatorial na produção e manutenção das doenças diarreicas Fonte: Almeida-Filho; Rouquayrol, 2006 Segundo Mendes (2010), no cenário epidemiológico brasileiro há uma carga tripla de doenças que revelam um sistema de saúde fragmentado, privilegiando a assistência curativa e priorizando condições agudas. Conforme este autor, as três principais formas de adoecimento no Brasil são: Problemas relacionados a infecções, desnutrição e problemas de ordem reprodutiva; Doenças crônicas não transmissíveis que aumentam cada vez mais devido ao estilo de vida atual; Aumento de doenças e mortes por causas externas como acidentes e violência dos mais variados tipos, como ferimento por arma de fogo, agressão doméstica, dentre outros. No Brasil, há exemplos de práticas de saúde que atuaram diretamente nos determinantes sociais de saúde e tiveram êxito comprovado. Em Assaré no Ceará, a mortalidade infantil que era de 29,63 óbitos por mil nascidos vivos em 2009 foi reduzida para 3,77 no ano seguinte, após a implantação do Projeto Mãe Valoriza a Vida, que envolvia a atuação de diversos setores da sociedade com incentivo ao Curso | Agente Comunitário de Saúde 13 aleitamento materno que alcançou 100%, contribuindo para o combate a desnutrição. (PIMENTEL, 2011a). Em Borba no Amazonas, município que prioriza o controle da malária, foi estabelecida uma parceria entre a Atenção Básica e a Gerência de Endemias. Esta aliança permitiu a descentralização das medidas de controle da malária e a redução da doença naquele município. (PIMENTEL, 2011b). Outra experiência que apresentou resultados positivos ocorreu no município de Diadema – São Paulo, após a aprovação de uma lei local que proíbe o consumo de bebidas alcoólicas após as 23 horas. Depois da lei ser publicada, houve redução do índice de homicídios na cidade em 30% e diminuição dos casos de violência doméstica. (DUALIBI et al., 2007 apud PAHO, 2011, p. 21). As políticas públicas desenvolvidas no Brasil já retiraram 28 milhões de pessoas da pobreza, entretanto há mais de 16 milhões de pessoas que vivem em condições sub-humanas, correspondente a 8,5% da população brasileira, com uma renda per capita de até RS 70. É evidente a disparidade entre regiões, sendo que na região nordeste concentra-se 59% da população extremamente pobre, enquanto na região sudeste há apenas 4% deste grupo. Dentre os residentes na zona rural,25% sobrevivem em condições precárias. Na tentativa de melhorar este contexto, foi definido o plano Brasil Sem Miséria pelo governo federal visando ampliar e aprimorar as experiências brasileiras exitosas na área social, como Bolsa Família, Brasil Sorridente e Luz para Todos. Outras medidas foram adotadas, como práticas de capacitação profissional ao incentivo à produção rural e urbana. Estas ações resultaram em impactos sociais positivos. No período compreendido entre janeiro de 2011 e janeiro de 2012, observou-se a redução da concentração de renda e da pobreza em 2,1% e 7,9%, respectivamente. (BRASIL, [2011?]; BRASIL, 2012a). Segundo Censo de 2010, outro dado relevante foi a redução em 47% da taxa de mortalidade infantil no Brasil, que correspondia a 29,7 mortes em mil crianças nascidas vivas no ano 2000, passando a 15,6/1000 em 2010. Este resultado advém de programas destinados à proteção e promoção da saúde da família, da gestante e da criança, como a rede Amamenta Brasil, Pacto pela Redução da Mortalidade Infantil, Rede Cegonha. Entretanto, permanecem as diferenças regionais, ocorrendo uma taxa de 18,5 e 12,6 mortes em cada 1000 crianças nascidas vivas na região nordeste e sul, respectivamente. Apesar deste avanço, o Brasil ainda figura com uma taxa de mortalidade infantil alta se comparado a países desenvolvidos, cuja mortalidade de crianças com até um ano de idade é de 5 mortes em mil nascidos vivos. (BRASIL, 2012b; IBGE, 2012). A Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar de 1998-2008 (PNAD) evidenciou que as desigualdades nas condições de saúde são mais estáveis e dificeis de modificar com politicas de curto prazo do que as as desigualdades de uso e acesso a serviços de saúde. A análise dos resultados dessa década demonstrou que embora permanecam muitas desigualdades, o acesso aos serviços aumentou, tanto para ofertas mais simples, como consulta médica, quanto para procedimentos de maior complexidade, como a mamografia; além disto, o maior acesso foi da Curso | Agente Comunitário de Saúde 14 população em regiões carentes e em todas as regiões houve maior acesso para os mais pobres. Foi evidenciado dificuldade de acesso aos medicamentos prescritos nos atendimentos, pois em apenas 45% destes atendimentos as pessoas receberam todos os medicamentos receitados (VIACAVA, 2010). Mas professora, eu estou fazendo um curso de técnico em agente comunitário de saúde, como tudo isso interfere em meu trabalho? O ACS tem sua atuação baseada na educação em saúde que ajuda a comunidade a transformar as condições nas quais se dá o processo de adoecimento. A condição de morador do território de trabalho faz com que você, futuro ACS, consiga compreender a dinâmica de vida em sua comunidade e articule este conhecimento com as necessidades individuais e da coletividade e como relacionar às redes de atenção à saúde. Ainda não entendi, pode explicar novamente? Curso | Agente Comunitário de Saúde 15 Quando você realiza uma visita domiciliar e preenche os dados necessários, você está identificando os determinantes de saúde daquela família. Por exemplo, se numa família vive uma criança com menos de 6 meses então devemos verificar se esta criança está recebendo aleitamento materno exclusivo, se está fazendo as consultas para avaliar crescimento e desenvolvimento, se está com todas as vacinas em dia. Por que? Porque é sabido que a mortalidade infantil é maior no primeiro ano de vida quando a criança está mais susceptível a infecções e adoecimento pelo meio externo; sabemos também que o leite materno fortalece a imunidade, combate alergias, ajuda no crescimento e desenvolvimento, as vacinas previnem doenças infecto-contagiosas que no passado matavam muitas crianças. As orientações que você irá dar ao responsável por essa criança são uma forma de educação em saúde, pois você está dando informações sobre como melhorar a condição de saúde dessa criança e como ela pode conseguir ter acesso a isto em seu território Entendi professora, então nosso trabalho como agente comunitário de saúde é bem importante não é?!? Com toda certeza, o ACS ajuda os outros profissionais a identificar as condições saúde- doença mais rapidamente, pois vive no mesmo território que a população. O fato de ser da comunidade também torna mais fácil o processo de educação em saúde, pois as pessoas provavelmente já o conhecem e compartilham das mesmas condições geográficas, boas ou ruins. Curso | Agente Comunitário de Saúde 16 2 PROCESSO DE TRABALHO EM EDUCAÇÃO 2.1 EDUCAÇÃO EM SAÚDE O que é educação em saúde? Por que o processo de trabalho do agente comunitário de saúde envolve educação em saúde? O Ministério da Saúde (2006b, p. 19) define educação em saúde como: 1 – Processo educativo de construção de conhecimentos em saúde que visa à apropriação temática pela população e não à profissionalização ou à carreira na saúde; 2 – Conjunto de práticas do setor que contribui para aumentar a autonomia das pessoas no seu cuidado e no debate com os profissionais e os gestores a fim de alcançar uma atenção à saúde de acordo com suas necessidades. O conceito de educação em saúde é importante para reconhecer a importância e a impossibilidade de dissociar estas temáticas no cotidiano, pois sabemos que a educação influencia a saúde e vice-versa. A educação em saúde constitui-se como instrumento básico para empoderamento das pessoas na tentativa de melhorar a qualidade de vida e promover saúde das pessoas e coletividade expressa na Carta de Ottawa e na Política Nacional de Promoção à Saúde (BUSS, 1999). 2.2 EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE A seguir são apresentados alguns conceitos relativos à educação e saúde: Educação continuada: Processo de aquisição sequencial e acumulativa de informações técnico-científicas pelo trabalhador, por meio de escolarização formal, de vivências, de experiências laborais e de participação no âmbito institucional ou fora dele. Educação na saúde: Produção e sistematização de conhecimentos relativos à formação e ao desenvolvimento para a atuação em saúde, envolvendo práticas de ensino, diretrizes didáticas e orientação curricular. Educação permanente em saúde: Ações educativas embasadas na problematização do processo de trabalho em saúde e que tenham como objetivo a transformação das práticas profissionais e da própria organização do trabalho, tomando como referência as necessidades de saúde das pessoas e das populações, a reorganização da gestão setorial e a ampliação dos laços da formação com o exercício do controle social em saúde. Educação popular em saúde: Ações educativas que têm como objetivo promover, na sociedade civil, a educação em saúde, mediante inclusão social e promoção da autonomia das populações na participação em saúde (BRASIL, 2006b, p. 19-20). A Educação Permanente em Saúde é essencial a todos os profissionais atuantes no SUS, principalmente pela possibilidade de analisar, modificar e reorganizar a forma de trabalho e cuidado, priorizando sempre os usuários do sistema de saúde. Não constitui-se como processo Curso | Agente Comunitário de Saúde 17 formal exclusivo de profissionais, envolve todos os atores sociais da comunidade; pode ser realizada conforme é oportunizada, ou seja, conforme interesse dos envolvidos, podendo ocorrer dentro e fora da unidade de saúde, tendo como critério norteador o saber popular, a intersetorialidade, interdisciplinaridade e potenciais do território no qual a equipe atua (MACHADO; VANDERLEI, 200?). Na figura seguinte são descritos os espaços e situações possíveis de interação da educação permanente em saúde. Figura 3 – Oportunidades de realizaçãoda Educação Permanente em Saúde Fonte: Machado e Vanderlei, 200? A educação permanente em saúde é fundamental para reestruturar o trabalho no SUS e reorientar as práticas educativas e assistenciais conforme necessidade da população e por considerá-la como detentora de conhecimentos próprios também (VASCONCELOS; GRILLO; SOARES, 2009). As referidas autoras esboçaram um mapa conceitual apresentando como se dá a educação permanente em saúde relacionando-a à vivência na população (figura 4). Figura 4 – Mapa conceitual de educação permanente em saúde Curso | Agente Comunitário de Saúde 18 Fonte: Vasconcelos; Grillo; Soares, 2009 2.3 EDUCAÇÃO EM SAÚDE E OPÇÕES PEDAGÓGICAS O processo educativo pode ocorrer de formas variadas e cada abordagem possui sua importância, bem como vantagens e desvantagens. No fluxograma a seguir estão descritas as principais formas de aprendizagem. Curso | Agente Comunitário de Saúde 19 Figura 5 – Tipos de abordagem Fonte: BORDENAVE, 1995, MACHADO;VANDERLEI, 200? No decorrer do processo de trabalho os profissionais de saúde, inclusive os agentes comunitários de saúde, vão se deparar com diferentes situações e contextos, sendo que em cada situação será mais apropriado determinada abordagem pedagógica ou a mistura de várias delas (MACHADO; VANDERLEI, 200?). Por exemplo: João, um morador de 52 anos, hipertenso e diabético, em sua área de atuação, não modifica alimentação, não pratica atividade física e consome medicamento prescrito esporadicamente, somente quando passa mal. Apesar do ACS orientar em todas as visitas domiciliares as ações a serem feitas: Reduzir consumo de carboidratos, sal, açúcar e alimentos gordurosos; aumentar consumo de legumes, frutas e verduras; praticar atividade física com frequência, no mínimo 3 vezes por semana. Vamos refletir? Como deve ser feita a abordagem deste morador? Como devo orientá-lo? Ficou curioso? Vamos resolver esta situação-problema na nossa aula! Abordagens pedagógicas tradicionais Trasmissão: há uma pessoa que detém o conhecimento e ensina; presume-se que a outra pessoa não sabe e portando deve aprender. O conhecimento é transmitido do primeiro para o segundo. Condicionamento: concentra-se no modelo de repetição, foca nos resultados operacionais/ comportamentais. Por exemplo: Treinamento do ACS para preencher as fichas de cadastro e notificação. Abordagens pedagógicas que têm o aprendiz como foco Metodologia da problematização: mais do que uma abordagem, é uma postura crítica reflexiva sobre a realidade encontrada para que o indivíduo atue transformando sua realidade. Curso | Agente Comunitário de Saúde 20 2.4 PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM E PRÁTICAS EM SAÚDE Como já vimos anteriormente, não se pode dissociar saúde e educação; o processo ensino-aprendizagem no contexto nas práticas de saúde pode ocorrer em diferentes momentos e situações. A pedagogia da problematização considera que não é a reprodução de conhecimento e condicionamentos que importa na nossa realidade, mas sim a capacidade que cada pessoa tem para identificar problemas e definir soluções adequadas, permanentes e criativas. Para desenvolver esta habilidade é importante que o aluno saiba fazer perguntas relevantes para que possa compreender e resolver apropriadamente problemas apontados; identificar as tecnologias e recursos disponíveis, bem como os obstáculos para a resolução; orientar e organizar as pessoas envolvidas na situação apontada; pode ocorrer de modo individual e coletivo (BORDENAVE, 1995). A metodologia da problematização é muito importante na educação em saúde, pois permite que as pessoas consigam identificar e agir sobre uma determinada situação. As etapas da metodologia problematizadora seguem um fluxo por Maguerez (BORDENAVE, 1995), representado na figura 6 e que pode ser utilizado nas mais variadas áreas: Figura 6 – Arco de Maguerez e metodologia problematizadora Fonte: SILABE, 2018 1) No primeiro momento, o aluno deve observar com atenção a realidade em determinando espaço e tempo para identificar os problemas. 2) No segundo momento, a partir da observação da realidade deve-se definir quais os pontos mais importantes daquele assunto e quais as variáveis mais importantes. Curso | Agente Comunitário de Saúde 21 3) No terceiro momento, ocorre a teorização do problema, o aluno busca as causas do problema identificada, nesta etapa é necessário recorrer ao conhecimento científico para compreender o porquê de tais situações problemáticas estarem ocorrendo. 4) No quarto momento, quando o aluno já compreendeu porque ocorre determinado problema, ele utiliza então sua criatividade e inteligência para propor soluções para a situação problemática – é a fase de formulação de hipóteses. 5) Na quinta etapa, o aluno e o grupo (se houver) aplicam a realidade as soluções práticas definidas pelas hipóteses – momento de provar se sua solução surtirá efeito ou não. Após a aplicação, inicia-se o ciclo novamente ao observar a realidade e verificar se a solução hipotética foi efetiva ou não. Na atuação profissional, precisamos sempre estar atentos a melhor forma de promover educação em saúde, para que as pessoas sintam realmente a necessidade de aceitar e concordar com as orientações apresentadas. Devemos privilegiar a ideia de sempre estimular que o indivíduo entenda porque certo comportamento deve ser adotado ou modificado e não apenas dar orientação. Em paralelo a esta concepção problematizadora, temos também a pedagogia da autonomia proposta por Paulo Freire e que no campo da saúde emergiu como educação popular em saúde. Na educação popular em saúde a outra pessoa sempre é vista como detentora de um saber sobre si, seu corpo, cuidado, condições de vida, família, trabalho e outras necessidades; portanto é um sujeito com suas próprias vivências e concepções (NESPOLI, 2016). A educação popular parte do pressuposto de que todos estamos no mesmo horizonte, sem hierarquia, e reconhece a importância da luta por melhores condições de vida e a crítica e questionamento das injustiças sociais e econômicas que acometem a população. Assim, a educação popular em saúde assume papel fundamental na construção de ambientes e pessoas saudáveis. Mas para que isto ocorra é imprescindível que tenhamos habilidade crítica e que o trabalho em saúde não seja executado apenas como cumprimento de rotinas, procedimentos e indicadores de saúde, mas com a reflexão constante sobre qual nossa atuação, onde vamos atuar e quais as necessidades das pessoas que serão ouvidas (NESPOLI, 2016). Vamos colocar este conhecimento em prática? Considerando o exemplo mencionado nas páginas anteriores do seu João, 52 anos, hipertenso e diabético, sedentário e não adere ao tratamento medicamentoso. Como ficaria o arco considerando esta situação apresentada?!?! Vamos dar continuidade na resolução desta situação-problema na nossa aula! Curso | Agente Comunitário de Saúde 22 2.5 PLANEJAMENTO DE AÇÃO EDUCATIVA Estamos falando de educação em diferentes contextos e de diferentes abordagens, mas como devo planejar as ações educativas? O planejamento das ações do ACS envolve: Diagnóstico: Conhecer seu território de atuação e as pessoas que ali vivem, deve compreender o levantamento, análise e reflexão dos dados e definição das necessidades prioritárias. Plano de ação: definir quais são as prioridades passíveis de intervenção cuja modificação pode melhorar a saúde da comunidade. Compreende a meta de alcance do trabalho e as técnicas e métodos (estratégia) que podem ser utilizados, bem como os recursos disponíveis e o tempo necessário para executar atividade. Execução: compreende a parte prática, operacional, do plano de ação; Acompanhamento e avaliação: a avaliação é concomitante a todas as etapasdo planejamento e após a execução permite identificar necessidade de ajustes e readequações do plano de ação (BRASIL, 2009b). Guarde isso! O exercício de uma prática pedagógica voltada para a solução das necessidades de saúde da população está diretamente relacionado ao conhecimento do território como processo e das pessoas que nele habitam. É preciso ir além do conhecimento relacionado com os indicadores de saúde e de produção previamente pactuados. Território tem gente, diversidades, amores, vidas construídas e destruídas, dores, sofrimento, alegrias... Toda comunidade tem sua história, sua cultura – festas, manifestações religiosas e populares; o saber das benzedeiras e raizeiras; um grau de participação e mobilização social; uma forma própria de dispor do tempo livre; de conseguir e dispor de recursos financeiros; de realizar lazer com a família; de autopreservar-se; de compreender o processo saúde-doença etc. Cada “gente” é sujeito de sua vida e deve ser respeitado, acolhido, visto e atendido de forma integral, numa relação que gera vínculos institucionais e emocionais. Isso vale para abordagens coletivas e individuais (no consultório ou no gabinete odontológico, na recepção, no local de espera, na sala de vacina, na sala de procedimentos, na garagem da ambulância, que também é “sala” de espera, e outros – que você sabe bem quais são!) (VASCONCELOS; GRILLO; SOARES, 2009, p. 18). 2.6 TRABALHANDO EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA COMUNIDADE 2.6.1 Como trabalhar educação em saúde na comunidade As atividades educativas constituem elemento central na atuação do ACS e devem visar a melhora da qualidade de vida das pessoas de sua área de atuação. Tais ações podem envolver diversos temas, por isto é importante que haja sempre valorização do diálogo e do saber escutar (BRASIL, Curso | Agente Comunitário de Saúde 23 2009b). A abordagem ao indivíduo, família e comunidade envolve alguns temas principais (figura 6): Figura 5 – Abordagem ao indivíduo, família e comunidade Fonte: Vasconcelos; Grillo; Soares, 2009 O acolhimento é o primeiro contato da pessoa com o serviço saúde e normalmente ocorre quando o paciente tem alguma queixa para a qual busca solução, por exemplo, tem queixas de dor há alguns dias. Todo e qualquer profissional da atenção básica pode fazer o acolhimento do paciente (BRASIL, 2006a). Para que o acolhimento seja bem realizado é necessário que haja humanização do atendimento com uma escuta qualificada, respeitando o indivíduo que ali busca atendimento; também é importante que haja resolução do problema apresentado, caso não seja possível resolver ali na Unidade Básica de Saúde o paciente deve receber todas orientações e encaminhamentos necessários (VASCONCELOS; GRILLO; SOARES, 2009). O trabalho em grupo pressupõe a participação dos usuários de forma que se sintam dispostos e encorajados a falar expondo suas vivências, dificuldades e anseios em relação aos temas que são abordados. Entretanto, na prática alguns profissionais relatam ver o grupo apenas como uma troca de favores: os usuários vão ao grupo trocar receitas vencidas e os profissionais atingem as metas pactuadas (VASCONCELOS; GRILLO; SOARES, 2009). A visita domiciliar é o instrumento básico que permite ao ACS e demais profissionais de saúde conhecer a realidade de cada família de sua área de atuação, bem como sua rotina, condições de vida, situações de risco, dificuldades e potencialidades no cuidado em saúde. Além disso, a visita domiciliar permite que se estabeleça uma relação mais próxima com os profissionais de saúde, pois em seu próprio ambiente o usuário sente-se mais autônomo e seguro para expor seus anseios e problemas, o que fortalece o vínculo profissional-usuário (VASCONCELOS; GRILLO; SOARES, 2009). A atividade educativa pode ser realizada em diferentes momentos de trabalho do ACS, pode ocorrer individualmente ou com a presença de outros profissionais de saúde, no domicílio ou em espaços da comunidade em grupos. Toda equipe de saúde deve participar de atividades educativas, avaliando as melhores estratégias conforme as necessidades das pessoas que serão acolhidas, respeitando as individualidades e experiências de cada um e usando linguagem Curso | Agente Comunitário de Saúde 24 simples e clara; é responsabilidade de toda equipe (BRASIL, 2009b). É fundamental que o indivíduo se sinta encorajado a dialogar abertamente e sem preconceitos e julgamentos por parte da equipe; deve-se valorizar os saberes de cada pessoa e estimular o conhecimento, autocuidado, autonomia e autoestima para que, de fato, haja possibilidade de decidir sobre a própria saúde (BRASIL, 2009b). 2.6.2 Recomendações gerais para atividades educativas Algumas recomendações devem ser seguidas (BRASIL, 2009b), tais como: Planejar antecipadamente as ações definindo local, horário e data que favoreça maior participação da comunidade; Garantir condições de acessibilidade; Escutar o outro sem interrupções e julgamentos; Providenciar material que será usado; Permitir troca de experiências entre os próprios usuários mediando conforme necessidade; Respeitar o tempo de fala de cada um; Divulgar as atividades antecipadamente; Realizar dinâmicas para apresentar e integrar os participantes possibilitando maior interação e quebra da formalidade e temor de se expressar; Apresentar o tema e estimular participação de todos os presentes; Identificar quais fatores interferem nas condições de saúde em discussão, sem influencia-se por questões políticas, religiosas ou pessoais; Demonstrar necessidade do autocuidado e autoconhecimento; Facilitar exposição de dúvidas e favorecer o vínculo e a confiança dos envolvidos; Apresentar uma síntese de tudo que foi discutido. Algumas características e comportamentos são necessários aos profissionais de saúde para que possa desenvolver ações educativas (BRASIL, 2009b), tais como: Expressar-se de forma clara, simples e acessível; Utilizar-se de boa capacidade de comunicação; Ter empatia, favorecendo vínculo, confiança e acolhendo o saber e sentir de todos; Respeitar as crenças, valores e princípios que diferem dos seus; Manter conhecimentos técnicos atualizados; Buscar ajuda de outros colegas quando não conseguir responder a alguma demanda. Curso | Agente Comunitário de Saúde 25 Espera-se que com as atividades em grupo haja um maior engajamento das pessoas da comunidade na qual se atua (BRASIL, 2009b): As pessoas troquem experiências, informações e fortaleçam o vínculo social na comunidade; Sintam-se estimuladas a ser mais participativas nas reuniões de grupo; O coordenador ajude na exposição de experiências e ideias mantendo e estimulando o respeito às diferentes opiniões; As pessoas entendam seu papel na solução dos problemas da comunidade comuns a todos e a necessidade de buscar ajuda quando necessário. 3 AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE: UM AGENTE DE MUDANÇA O trabalho do ACS é visto como estratégico, pois é quase uma extensão da unidade de saúde, já que além de profissional, o ACS também é morador da sua área adstrita (BRASIL, 2009b). Ser ACS é, antes de tudo, ser alguém que se identifica em todos os sentidos com a sua própria comunidade, principalmente na cultura, linguagem e costumes. Precisa gostar do trabalho. Gostar principalmente de aprender e repassar as informações, entender que ninguém nasce com o destino de morrer ainda criança. Uma das coisas que influencia muito é o conhecimento. São os seus vizinhos. São pessoas que já te conheciam antes. Aí fica mais fácil de conversar, de estabelecer um clima de confiança. Eles nos encontram com facilidade, pois sabem onde moramos. Defendemos isso na emenda constitucional nº 51. Defendemos também na lei nº 11.350 e vamos continuar defendendo. Por quê? Porque é necessárioresidir na área. O que não podemos deixar passar é a exigência de que o agente resida na microárea. Há gente defendendo que o ACS tem que residir na microárea. Aí eu acho brincadeira! Não é necessário. Isso é demais. Agora, morar na área em que trabalha, sim. Se não morar na minha comunidade, eu me torno, naquela em que trabalho, a mesma coisa que o médico. Largo às cinco da tarde, vou embora e acabou-se a história. Então, perco essa identidade. Na medida em que eu moro lá, sou parte dela. Por isso, em alguns momentos é difícil separar. Em todo canto, compramos briga com prefeito e secretário, por causa de atenção na unidade, da limpeza que não foi feita ou do carro de lixo que não passou. Mas é muito difícil a gente separar o “eu” morador do “eu” trabalhador. Sou moradora também. Trabalho, sim, mas sou moradora também. Antes do trabalho, já era moradora. Acho que isso une muito a comunidade, cria um elo muito forte entre o ACS e a comunidade. Teresa Ramos – ACS, Recife. Pelo fato de residir na sua área adstrita, o ACS conhece os problemas que mais interferem nas condições de vida da população, além de ter vínculo maior com a população. Sabe identificar os pontos de estrangulamento como problemas de saneamento, violência intrafamiliar, consumo de entorpecentes, ocorrência de acidentes, dentre outros. Para que isto Curso | Agente Comunitário de Saúde 26 aconteça, o ACS deve manter-se sempre atento ao seu território. Para fazer um trabalho bem feito, o ACS deve: Conhecer seu território, incluindo os problemas e potencialidades; Manter-se ativo, com iniciativa e disposto a aprender; Observar a população e o ambiente; Sempre ter respeito e ética com os moradores e profissionais. O ACS deve realizar as visitas domiciliares, mas não deve restringir atuação apenas a estas, mas também estimular a comunidade a se organizar e reivindicar mudanças necessárias para promover melhor qualidade de vida. O ACS é a ponte que integra o conhecimento popular da comunidade e o saber técnico dos profissionais de saúde, daí sua importância como agente de mudanças (BRASIL, 2009b). Quando são identificadas situações que coloquem em risco a condição de saúde da pessoa/família, o ACS deve orientá-la para que vá a unidade de saúde para que seja realizada uma análise mais cautelosa. Todas as pessoas do território adstrito devem ter acompanhamento mensal, com prioridade para quem está em situação de risco (BRASIL, 2009b). As situações de risco são caracterizadas quando uma pessoa ou grupo possui maior chance de adoecer ou morrer, sendo alguns exemplos (BRASIL, 2009b, p. 27): Bebês que nascem com menos de dois quilos e meio; Crianças que estão desnutridas; Filhos de mães que fumam, bebem bebidas alcoólicas e usam drogas na gravidez; Gestantes que não fazem o pré-natal, fumam ou gestantes com diabetes e/ou pressão alta; Acamados; Pessoas que precisam de cuidadores, mas não possuem alguém que exerça essa função; Pessoas com deficiência que não têm acesso às ações e serviços de saúde, sejam estes de promoção, proteção, diagnóstico, tratamento ou reabilitação; Pessoas em situação de violência; Pessoas que estão com peso acima da média e vida sedentária com ou sem uso do tabaco ou do álcool. Há também as condições que aumentam a chance de que as pessoas adoeçam, como: baixa renda, desemprego, acesso precário água, luz elétrica, transporte, falta de água tratada, poluição do ar e água, falta de alimentação adequada, automedicação, tratamento descontinuado, dentre outros fatores (BRASIL, 2009b). Além das condições que aumentam a chance de adoecer, temos também a possibilidade de agravamento devido a dificuldade ou impedimento de acesso aos serviços de saúde, como: barreiras geográficas, grandes distâncias, ausência de adaptações para pessoas com deficiência Curso | Agente Comunitário de Saúde 27 física, dificuldade de ir a unidade de saúde no horário de atendimento, ausência de transporte público eficiente, ausência de profissionais, atendimento burocrático, estigma social com determinados grupos (BRASIL, 2009b). Risco é qualquer tipo de “perigo” para a saúde das pessoas. 3.1 VULNERABILIDADE, RISCO SOCIAL E VIOLÊNCIA As transformações ocorridas no modo de viver tem modificado também a condição de saúde e os problemas relacionados a esta. Sendo a saúde uma condição que resulta das interações sociais ocorridas e não apenas devido por fatores biológicos. Neste contexto de profundas e constantes modificações de estilos de vida, torna-se indispensável cuidar da vida para reduzir as vulnerabilidades de adoecimento e a possibilidade de que o adoecimento cause incapacidades, sequelas permanentes e mortes precoces de pessoas e populações (BRASIL, 2006a). Ao tratar da atenção social a famílias, a vulnerabilidade fica evidente como um conceito complexo relacionado à exposição das pessoas às questões próprias do ciclo de vida, das relações sociais, da dinâmica dos territórios, da qualidade do acesso a trabalho, renda e serviços. Os termos vulnerabilidade e risco social são adotados, no campo das políticas sociais e de saúde, no qual receberam e vêm assimilando enfoques variados, como territorial, social, econômico, dentre outros (ABRAMOWAY, 2002). Entende-se vulnerabilidade como algo dinâmico que varia de acordo com a intensidade da exposição, da gravidade, da ameaça e dos meios de respostas que a envolve. Sendo assim, o risco é a ameaça de sofrer um dano, enquanto que dano seria o resultado negativo de um risco concretizado, ou seja, a vulnerabilidade objetivada. A vulnerabilidade resulta da combinação do risco de ser exposto à ameaça e sua materialização, bem como da capacidade de resposta para se defender. (JANCZURA, 2012; SILVA, 2015). O conceito de vulnerabilidade enfatiza o contexto de vida social e histórico dos grupos sociais e está estreitamente relacionado ao esforço de superação por meio das práticas preventivas e promotoras de saúde apoiadas no conceito de risco. Considera a chance de exposição das pessoas ao adoecimento e a outros agravos sociais como resultante de um conjunto de aspectos individuais, coletivos e programáticos (BRASIL, 2009b). O conceito de integralidade permite pensar o sujeito na sua totalidade, mesmo que não seja possível responder a todas as suas demandas. É nessa perspectiva que o setor saúde busca intervir em situações específicas de vulnerabilidades e de risco para a saúde da população, Curso | Agente Comunitário de Saúde 28 criando as condições para o desenvolvimento de ações e estratégias de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação. A atenção integral extrapola ainda a estrutura organizacional hierarquizada e regionalizada dos serviços de saúde, que requer o trabalho articulado com outras políticas sociais no território. (BRASIL, 2010). A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002 apud BRASIL, 2014, p. 761) definiu a violência como: Uso da força física ou do poder real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha qualquer possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação. O fenômeno da violência resulta da interação de diversos determinantes sociais da saúde, tais como emprego, escolaridade, renda familiar, além daqueles relacionados aos fatores comportamentais, principalmente os relacionados às relações de gênero desiguais com cunho sexista e homo/lesbo/transfóbicas (BRASIL, 2014). Conforme o Relatório Mundial sobre a Violência e Saúde da OMS (OMS, 2002 apud BRASIL, 2014, p. 761-763) os tipos de violência são: Violência autoprovocada – tentativas de suicídio, suicídio, autoflagelação, autopunição, automutilação. Violência interpessoal – subdivide-se em violência intrafamiliar e comunitária(extrafamiliar). o Violência intrafamiliar/doméstica – ocorre entre os membros da própria família, entre pessoas que têm grau de parentesco, laços consanguíneos ou entre pessoas que possuem vínculos afetivos. Ou seja, existem relações de parentesco, laços consanguíneos ou vínculos afetivos entre vítima e provável autor (a) da agressão. o Violência extrafamiliar/comunitária – ocorre entre indivíduos sem relação pessoal, conhecidos ou não. Ou seja, não existem relações de parentesco, laços consanguíneos ou vínculos afetivos entre vítima e provável autor (a) da agressão. Inclui a violência juvenil, atos aleatórios de violência, estupro ou outras formas de violência sexual praticados por pessoas sem vínculo afetivo ou laços consanguíneos com a vítima. Outro exemplo é a violência institucional ocorrida nas escolas, locais de trabalho, prisões, instituições de saúde, entre outras instituições públicas ou privadas. Violência coletiva – subdivide-se em social, política e econômica, e se caracteriza pela subjugação/dominação de grupos e do Estado, como guerras, ataques terroristas ou formas em que há manutenção das desigualdades sociais, econômicas, culturais, de gênero, etárias, étnicas. Quanto às formas, podem ser: • Violência física – são atos violentos nos quais se faz uso da força física de forma intencional, não acidental, com o objetivo de ferir, lesar, provocar dor e sofrimento ou destruir a pessoa, deixando, ou não, marcas evidentes no seu corpo. Exemplos: chutes, beliscões, tapas, murros, torções, estrangulamentos, queimaduras, ferimentos por arma de fogo, por arma branca, por objetos etc. • Violência sexual – é qualquer ação na qual uma pessoa, valendo-se de sua posição de poder e fazendo uso de força física, coerção, intimidação ou influência psicológica, com uso ou não de armas ou drogas, obriga outra pessoa, de qualquer sexo, a ter, presenciar, ou participar, de alguma maneira, de interações sexuais ou a utilizar, de Curso | Agente Comunitário de Saúde 29 qualquer modo, a sua sexualidade, com fins de lucro, vingança ou outra intenção. Exemplos: estupro, assédio sexual, exploração sexual, pedofilia. • Violência psicológica – é toda forma de rejeição, depreciação, discriminação, desrespeito, cobrança exagerada, punições humilhantes e utilização da pessoa para atender às necessidades psíquicas de outrem. É toda ação que coloque em risco ou cause dano à autoestima, à identidade ou ao desenvolvimento da pessoa. Esse tipo de violência também pode ser chamado de violência moral, a exemplo do assédio moral. O bullying é outro exemplo de violência psicológica, que se manifesta em ambientes escolares ou outros meios, como o cyberbullying. • Negligência/abandono – é a omissão pela qual se deixou de prover as necessidades e cuidados básicos para o desenvolvimento físico, emocional e social de uma pessoa. Exemplos: privação de medicamentos; falta de cuidados necessários com a saúde; descuido com a higiene; ausência de proteção contra as inclemências do meio, como o frio e o calor; ausência de estímulo e de condições para a frequência à escola. O abandono é uma forma extrema de negligência. • Trabalho infantil – refere-se a qualquer tipo de atividade efetuada por crianças e adolescentes de modo obrigatório, regular, rotineiro, remunerado ou não, que contrarie a legislação trabalhista vigente e que coloque em risco o seu pleno desenvolvimento. A Constituição Federal considera menor trabalhador aquele na faixa de 16 a 18 anos (Art. 7º, inciso XXXIII). A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) proíbe “qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos”. O trabalho do menor aprendiz não pode ser realizado em locais prejudiciais a sua formação, desenvolvimento físico, psíquico, moral e social, e em horários e locais que não permitam a frequência à escola. • Tortura – é o ato de constranger alguém com emprego de força, maus tratos ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico e/ou mental, para obter qualquer tipo de informação, declaração, confissão ou vantagem para si ou terceira pessoa; provocar ação ou omissão de natureza criminosa; ou em razão de discriminação de qualquer natureza. Pode se apresentar com mais de uma forma de violência associada, pois a pessoa pode ter sofrido violência física, sexual e psicológica durante a tortura. • Tráfico de pessoas – inclui o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento de pessoas, recorrendo à ameaça, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade, ao uso da força ou outras formas de coação, ou à situação de vulnerabilidade, para exercer a prostituição, ou trabalho sem remuneração, escravo ou de servidão, ou para a remoção e comercialização de seus órgãos e tecidos, com emprego ou não de força física. O tráfico de pessoas pode ocorrer dentro de um mesmo país, entre países fronteiriços ou entre diferentes continentes. • Violência financeira/econômica – é o ato de violência que implica dano, perda, subtração, destruição, ou retenção de objetos, documentos pessoais, bens e valores de uma pessoa. Consiste na exploração imprópria ou ilegal, ou no uso não consentido de seus recursos financeiros e patrimoniais. Esse tipo de violência é muito frequente contra as pessoas idosas, mulheres e pessoas com deficiência. É também chamada de violência patrimonial. • Intervenção legal – segundo a CID-10, consideram-se os traumatismos infligidos pela polícia ou outros agentes da lei, incluindo militares em serviço, durante a prisão ou tentativa de prisão de transgressores da lei, ao reprimir tumultos, ao manter a ordem ou em outra ação legal. Pode ocorrer com o uso de armas de fogo, explosivos, gás, objetos contundentes, empurrão, golpe, murro, podendo resultar em ferimento, agressão, constrangimento e morte. 3.2 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), sancionado em 13 de julho de 1990, é o principal marco instrumental normativo do Brasil sobre os direitos da criança e do Curso | Agente Comunitário de Saúde 30 adolescente. O ECA assimilou os avanços preconizados na Convenção sobre os Direitos da Criança das Nações Unidas e serviu de eixo para se concretizar o Artigo 227 da Constituição Federal, que determinou direitos e garantias fundamentais a crianças e adolescentes. (BRASIL, 2019). Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. [...] Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando- se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem. [...] Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviçospúblicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais (CEDECA, 2017, p. 19-20). Entre as situações familiares consideradas de vulnerabilidade para crianças e adolescentes, podemos citar: gravidez de alto risco ou eventos traumáticos para a mãe durante a gestação, presença de rupturas e conflitos do casal, separações e lutos na família, mãe em situação de sofrimento psíquico, parto difícil ou traumático, pais com dificuldades de assumir a parentalidade (tornar-se pai e tornar-se mãe) e famílias com problemas múltiplos (drogadição, alcoolismo, pobreza, condições crônicas). Outras situações reconhecidas de vulnerabilidade: aleitamento materno ausente ou não exclusivo, gestação gemelar, malformação congênita, mais do que três filhos morando juntos, ausência de pré-natal, problemas familiares e socioeconômicos que interfiram na saúde da criança, problemas específicos da criança que interfiram na sua saúde, não realização de vacinas, identificação de atraso no desenvolvimento (PORTO ALEGRE, 2004). Considerado o maior instrumento dessa nova forma de se tratar a infância e a adolescência no país, o ECA inovou ao trazer a proteção integral, na qual crianças e adolescentes são vistos como sujeitos de direitos, em condição peculiar de desenvolvimento e Curso | Agente Comunitário de Saúde 31 com prioridade absoluta. Reafirmou ainda a responsabilidade da família, sociedade e Estado de garantir as condições para o pleno desenvolvimento dessa população, além de colocá-la a salvo de toda forma de discriminação, exploração e violência. (BRASIL, 2019). Nos últimos anos, foram realizados diversos aprimoramentos, dentre os quais se destacam: Lei da Primeira Infância (Lei nº 13.257, de 8 de março de 2016) implica o dever do Estado de estabelecer políticas, planos, programas e serviços para a primeira infância que atendam às especificidades dessa faixa etária, visando a garantir seu desenvolvimento integral; Lei Menino Bernardo (lei nº 13.010, de 26 de junho de 2014) estabelece o direito da criança e do adolescente de serem educados sem o uso de castigos físicos; e Lei que instituiu o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo Sinase (Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012) - regulamenta a execução das medidas socioeducativas destinadas a adolescente que pratique ato infracional. Lei que instituiu a Escuta Especializada (Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017) - estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência e altera a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Ao defender os direitos da criança e adolescente, também os reconhece como sujeitos com certa autonomia, de modo que estejam protegidos dos riscos e vulnerabilidades inerentes à dinâmica familiar como questões relativas ao alcoolismo, agressão entre os pais, abusos e traumas emocionais e sexuais, dentre outros que concretizam-se no âmbito domiciliar (SIERRA; MESQUITA, 2006). Além dos riscos no âmbito familiar, há também aqueles relacionados ao local de moradia, como precariedade, ocorrência de tráfico de drogas, criminalidade, prostituição infantil. Há também os riscos inerentes à infância por se tratar de uma fase de desenvolvimento. Então a qualidade da infância é marcada principalmente pela forma como essa criança se relaciona socialmente e ao local em que vive (SIERRA; MESQUITA, 2006). Neste sentido, deve-se identificar os fatores de risco e de vulnerabilidade existentes em cada território no contexto de vida das crianças e adolescentes para que se possa intervir adequadamente com as medidas de promoção e proteção integral (ABRAMOWAY, 2002). Curso | Agente Comunitário de Saúde 32 3.3 ESTATUTO DO IDOSO O Estatuto do Idoso define que: Art. 1°. É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. Art. 2°. O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. Art. 3°. É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. [...] Art. 15. É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde – SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos. [...] Art. 19. Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra idoso serão obrigatoriamente comunicados pelos profissionais de saúde a quaisquer dos seguintes órgãos: I – Autoridade policial; II – Ministério Público; III – Conselho Municipal do Idoso; IV – Conselho Estadual do Idoso; V – Conselho Nacional do Idoso. [...] Art. 43. As medidas de proteção ao idoso são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: I – por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; II – por falta, omissão ou abuso da família, curador ou entidade de atendimento; III – em razão de sua condição pessoal. Art. 44. As medidas de proteção ao idoso previstas nesta Lei poderão ser aplicadas, isolada ou cumulativamente, e levarão em conta os fins sociais a que se destinam e o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. Art. 45. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 43, o Ministério Público ou o Poder Judiciário, a requerimento daquele, poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas: I – encaminhamento à família ou curador, mediante termo de responsabilidade; II – orientação, apoio e acompanhamento temporários; III – requisição para tratamento de sua saúde, em regime ambulatorial, hospitalar ou domiciliar; IV – inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a usuários dependentes de drogas lícitas ou ilícitas, ao próprio idoso ou à pessoa de sua convivência que lhe cause perturbação; V – abrigo em entidade; VI – abrigo temporário. (BRASIL, 2003, p. 15, 17, 19, 23-24). Todas as alterações decorrentes do processo fisiológico do envelhecimento têm repercussão nos mecanismos homeostáticos do(a) idoso(a) e em sua resposta orgânica, diminuindo sua capacidade de reserva, de defesa e de adaptação, o que o torna mais vulnerável a quaisquer estímulos (traumático, infeccioso ou psicológico). Na figura 6 são apresentados os Curso | Agente Comunitário de Saúde 33 antecedentes, atributos e consequências do conceito de vulnerabilidade da pessoa idosa (BARBOSA; OLIVEIRA; FERNANDES, 2019). Figura 6 – Antecedentes, atributos e consequentes do conceito de vulnerabilidade da pessoa idosa Fonte: Barbosa; Oliveira; Fernandes, 2019 Dessa forma, as doenças podem ser desencadeadas mais facilmente, além da questão biológica o idoso(a) também apresenta maior vulnerabilidade socialpois torna-se dependente do cuidado de familiares e terceiros conforme as doenças vão impondo limitações (BRASIL, 2006b). O reconhecimento prévio da condição de vulnerabilidade pode levar melhor atendimento às principais necessidades de saúde dos idosos, ao se realizar um plano de cuidados Curso | Agente Comunitário de Saúde 34 que previna o declínio funcional e a morte precoce. (CABRAL et al., 2019). Conhecer a fragilidade de idosos em contexto de alta vulnerabilidade social poderá auxiliar na gestão e implementação de ações dos serviços públicos assistenciais direcionados para este segmento. Os serviços de proteção e atenção básica representam, na maioria dos casos, o contato mais próximo com a população e, portanto, têm potencial para o diagnóstico precoce da fragilidade de idosos, possibilitando o planejamento e intervenção de cuidado à longo prazo evitando efeitos adversos que poderão impactar negativamente tanto na qualidade de vida dos indivíduos quanto nos custos dos serviços de média e alta complexidade, posteriormente. (ARAUJO JUNIOR et al., 2019). 3.3.1 Violência Intrafamiliar e Maus Tratos contra a pessoa idosa Existem condições particulares, individuais, familiares ou coletivas, que aumentam o risco de ocorrência de violência intrafamiliar. A pessoa idosa torna-se mais vulnerável à violência na medida em que apresenta maior dependência física ou mental. A violência contra a pessoa idosa pode ser definida como uma ação ou omissão (única ou frequente) que resulte em dano físico ou aflição às pessoas idosas e que ocorre em relações das quais se espera ter confiança (BRASIL, 2006b). A violência contra idosos apresenta-se das seguintes formas: Estrutural: Devido a desigualdade social e é normatizada pelas condições de pobreza, miséria e discriminação. Interpessoal: Refere-se às agressões ocorridas no contexto das relações do dia-a-dia. Institucional: Relacionada à atuação ou omissão ao gerir políticas sociais e pelas organizações assistenciais (BRASIL, 2006b). A violência intrafamiliar corresponde a violência interpessoal, refere-se a qualquer ação ou omissão dirigida a outro membro da família que resulte em danos ao bem-estar, integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito de desenvolver-se plenamente. Ocorre no contexto de convivência familiar, ocorrendo em casa ou fora, entre pessoas da mesma família, seja por laços consanguíneos, civis ou por afinidade (BRASIL, 2006b). Esta forma de agressão pode ocorrer de diferentes formas e graus de severidade; raramente ocorrem de forma isolada, e envolvem um contexto de episódios frequentes de agressão cuja ocorrência mais extrema é o homicídio. A pessoa idosa fica mais vulnerável à violência por apresentar maior dependência dos cuidadores, além disso a sobrecarga e Curso | Agente Comunitário de Saúde 35 despreparo desses cuidadores predispõe aumentam o estresse e agravam a situação (BRASIL, 2006b). Infelizmente nos serviços de saúde nem sempre são identificados os sinais de agressão às pessoas idosas, sendo que toda suspeita de agressão deve ser notificada obrigatoriamente ao Conselho do Idoso, Delegacias e Ministério Público para as providências (BRASIL, 2006b). A agressão ao idoso acontece das seguintes formas: •Uso de força física para que o idoso faça algo que não quer, feri-lo, provocar dores, incapacidades ou morte. •Formas: tapas, socos, chutes, mordidas, empurrões, queimaduras, obrigar tomar meedicamentos ou outras substâncias, dentre outros. Violência física •Realizada pela pessoa com poder (por meio físico ou intimidação/ameaças) sobre o outro(a), visa satisfazer sexualmente o agressor(a). •Carícias não consentidas, penetração oral, anal ou vaginas, com pênis ou objetos, uso de linguagem erotizada, presencias relações sexuais com outras pessoas e impedimento do uso de preservativo. Violência sexual •Ação ou a falta dela que gere danos à auto-estima, desenvolvimento e identidade da pessoa idosa. •Insultos frequentes, terror, humilhação, desvalorização, exporação, privar de liberdade. Violência psicológica •Exploração indevida do idoso ou uso não consentido de seus bens e recursos financeiros. •Roubo, destruição de objetos pessoais, uso dos recursos financeiros do idoso deixando-o inapto para gerir os próprios recursos e cuidados. Violência econômica •Exercida no âmbito dos serviços púbicos, inclui diversos aspectos, desde a dificuldade em ter acesso aos serviços de saúde ao mau atendimento, incluindo diagnósticos e prescrições de medicamentos inadequados . Violência institucional •Falta de atenção para atender às necessidades básicas do idoso(a). •Administrar medicamentos de forma inadequada, não prover cuidados básicos de higiene, moradia e sáude. Abandono/negligência •Ocorre quando a pessoa idosa ameaça sua própria saúde e segurança, seja por vontade própria ou incapacidade de gerir o autocuidado (BRASIL, 2006b). Autonegligência Curso | Agente Comunitário de Saúde 36 3.4 ATENÇÃO A PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E SEXUAL A violência aflige diversas faixas etárias e grupos populacionais, sendo os mais afetados os idosos, crianças e mulheres. Quando analisamos as categorias de violência doméstica e sexual, as crianças e mulheres são as mais violentadas. A atenção básica à saúde tem um importante papel neste contexto na prevenção da violência e proteção integral destas pessoas. A unidade básica de saúde deve integrar-se com as instituições de seu território para que conheça a realidade das pessoas que ali vivem e saiba os órgãos de referência para encaminhamento e apoio social. Para compreendermos a atenção à pessoa em situação de violência doméstica e sexual devemos conhecer alguns conceitos básicos (BRASIL, 2013, p. 262-263): Violência sexual: é a ação que obriga uma pessoa a manter contato sexual, físico ou verbal, ou participar de outras relações sexuais com uso da força, intimidação, coerção, chantagem, suborno, manipulação, ameaça ou qualquer outro mecanismo que anule o limite da vontade pessoal. Manifesta-se como: expressões verbais ou corporais que não são do agrado da pessoa; toques e carícias não desejados; exibicionismo e voyeurismo; prostituição forçada; participação forçada em pornografia; relações forçadas (coerção física ou por medo do que venha a ocorrer). Assédio sexual: é um tipo de coerção de caráter praticada por uma pessoa em posição hierárquica superior a um subordinado. Caracteriza-se por insinuação de ameaça, ameaça ou hostilidade contra a pessoa baseada em relações assimétricas de poder. Manifesta-se por meio de propostas indecorosas, falas obscenas, pressão para ter relações sexuais que o outro não deseja. Estupro – relação sexual forçada: “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”, essa é a nova descrição legal do estupro. Portanto, atualmente, a mulher e o homem podem ser vítimas de estupro, quando constrangidos, mediante violência (física) ou grave ameaça (psicológica) a praticar conjunção carnal (penetração do pênis na vagina) ou qualquer outro ato libidinoso (exemplo: penetração anal ou oral). Abuso sexual em crianças e adolescentes: consiste em todo ato ou jogo sexual, relação hetero ou homossexual, cujo agressor está em situação de poder superior à criança ou ao adolescente. Pode se apresentar sob a forma de diversas práticas eróticas e impostas à criança ou ao adolescente pela violência física, ameaças ou indução de sua vontade. O abuso sexual geralmente é praticado por adultos que gozam da confiança da criança ou do adolescente, e pode ter caráter incestuoso. O incesto, como forma de violência, caracteriza-se como qualquer relação de caráter sexual entre adulto e uma criança ou adolescente quando existe laço familiar direto
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