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Apostila Promoção à saúde e atuação social em saúde Prof Juliana

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Curso | Agente Comunitário de Saúde 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Agente 
Comunitário 
de Saúde 
400 horas 
Curso | Agente Comunitário de Saúde 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO I 
 
 
 
 
 
 
 
PROMOÇÃO À 
SAÚDE E 
ATUAÇÃO 
SOCIAL EM 
SAÚDE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Mestra Juliana Barbosa Framil 
 
Curso | Agente Comunitário de Saúde 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NOTA SOBRE A AUTORA 
 
 
 
 
Juliana Barbosa Framil é enfermeira pela Faculdade de Educação e Meio Ambiente 
(FAEMA)-2012. Possui especialização em Enfermagem do Trabalho (2017). Possui 
Mestrado em Psicologia (2017-2019) tendo desenvolvido sua pesquisa na linha de Saúde 
e Processos Psicossociais. Desenvolveu sua dissertação sobre perfil epidemiológico de 
pessoas com transtornos mentais e qualidade de vida. Atua como enfermeira na 
assistência estudantil do IFRO/ Campus Ariquemes desde 2014. 
 
 
E-mail para contato: juliana.framil@ifro.edu.br 
 
Para acesso ao lattes, clique aqui 
mailto:juliana.framil@ifro.edu.br
http://lattes.cnpq.br/5622389140771096
Curso | Agente Comunitário de Saúde 
 
4 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
 
1 PROMOÇÃO À SAÚDE E ATUAÇÃO SOCIAL EM SAÚDE ....................................... 5 
1.1 POLÍTICA NACIONAL DE PROMOÇÃO A SAÚDE ...................................................... 5 
2 PROCESSO DE TRABALHO EM EDUCAÇÃO ............................................................ 16 
2.1 EDUCAÇÃO EM SAÚDE ................................................................................................. 16 
2.2 EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE ....................................... 16 
2.3 EDUCAÇÃO EM SAÚDE E OPÇÕES PEDAGÓGICAS ................................................ 18 
2.4 PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM E PRÁTICAS EM SAÚDE .......................... 20 
2.5 PLANEJAMENTO DE AÇÃO EDUCATIVA .................................................................. 22 
2.6 TRABALHANDO EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA COMUNIDADE .............................. 22 
2.6.1 Como trabalhar educação em saúde na comunidade ................................................. 22 
2.6.2 Recomendações gerais para atividades educativas .................................................... 24 
3 AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE: UM AGENTE DE MUDANÇA .................. 25 
3.1 VULNERABILIDADE, RISCO SOCIAL E VIOLÊNCIA ............................................... 27 
3.2 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE .................................................. 29 
3.3 ESTATUTO DO IDOSO ................................................................................................. 32 
3.3.1 Violência Intrafamiliar e Maus Tratos contra a pessoa idosa ................................... 34 
3.4 ATENÇÃO A PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E SEXUAL
 .................................................................................................................................................. 36 
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 39 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Curso | Agente Comunitário de Saúde 
 
5 
 
1 PROMOÇÃO À SAÚDE E ATUAÇÃO SOCIAL EM SAÚDE 
 
1.1 POLÍTICA NACIONAL DE PROMOÇÃO A SAÚDE 
 
A Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, ocorrida em Alma-
Ata, no ano de 1978, reitera a concepção de saúde numa abordagem ampliada: 
 
A saúde - estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a 
ausência de doença ou enfermidade - é um direito humano fundamental, e que a 
consecução do mais alto nível possível de saúde é a mais importante meta social 
mundial, cuja realização requer a ação de muitos outros setores sociais e econômicos, 
além do setor da saúde (OMS, 1978, p. 1). 
 
Concomitante a esta concepção de saúde como um direito de todo cidadão a ser buscada 
como meta mundial e aos movimentos internacionais que discutiam concepções de saúde e sua 
determinação social, ficou evidente que o processo saúde-doença é consequência da forma 
como a sociedade se organiza, trabalha e vive em um certo espaço histórico, geográfico e social 
(BRASIL, 2006a). 
 Devido a este entendimento o modelo biomédico torna-se retrógrado, pois centra os 
cuidados em saúde no tratamento de sintomas e valoriza apenas o aspecto biológico. Como o 
modelo biomédico tornou-se impróprio para lidar com todos os condicionantes e determinantes 
das condições de vida-adoecimento das pessoas, foi necessário repensar os modelos de atenção 
à saúde (BRASIL, 2006a). 
 Na Declaração de Alma Ata, é enfatizado o direito e dever da população em participar 
na elaboração e execução da assistência que receberá. É preferível a realização de cuidados 
primários de saúde como essenciais, com embasamento científico e aceitação da comunidade, 
tornando-se de alcance universal, baixo curso e o primeiro contato da população com os 
profissionais de saúde. fundamentados cientificamente e passíveis de aceitação da comunidade, 
sendo de alcance universal e custo acessível, constituindo-se como o primeiro contato entre 
profissionais de saúde e população. Portanto, os cuidados primários em saúde resultam das 
necessidades da comunidade e visam modifica-las (OMS, 1978). 
 Posteriormente, em 1986, na Primeira Conferência Internacional de Promoção à Saúde, 
ocorrida em Ottawa, Canadá, as diversas discussões resultaram na publicação do documento 
homônimo que define a promoção à saúde e quais os requisitos básicos para que esta possa 
ocorrer: 
 
Curso | Agente Comunitário de Saúde 
 
6 
 
Promoção da saúde é o nome dado ao processo de capacitação da comunidade para 
atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação 
no controle deste processo. Para atingir um estado de completo bem-estar físico, 
mental e social os indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações, satisfazer 
necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente. A saúde deve ser vista 
como um recurso para a vida, e não como objetivo de viver. Nesse sentido, a saúde é 
um conceito positivo, que enfatiza os recursos sociais e pessoais, bem como as 
capacidades físicas. Assim, a promoção da saúde não é responsabilidade exclusiva do 
setor saúde, e vai para além de um estilo de vida saudável, na direção de um bem-
estar global. 
As condições e os recursos fundamentais para a saúde são: Paz – Habitação – 
Educação – Alimentação – Renda - ecossistema estável – recursos sustentáveis - 
justiça social e equidade O incremento nas condições de saúde requer uma base sólida 
nestes pré-requisitos básicos. (OMS, 1986, p. 1). 
 
Na Carta de Ottawa, também se faz referência ao empoderamento e à participação social 
ao definir como inacessível o maior potencial de saúde caso não houver controle sobre os 
determinantes da própria saúde. Além disso, foram definidos cinco campos para atuação: 
elaboração de políticas públicas saudáveis, criação de ambientes propícios à saúde, 
desenvolvimento de habilidades, ênfase na ação comunitária e reorientação dos serviços de 
saúde. (OMS, 1986). 
 Para se promover a saúde é necessária a integração de diferentes setores, através de 
alianças intersetoriais e ações múltiplas. Ocorreram ainda diversas conferências internacionais 
discutindo como melhorar a saúde mundial a partir da reorganização do modelo de atenção à 
saúde, sendo as mais importante a declaração de Alma-Ata e a Carta de Ottawa. 
 No Brasil, essa modificação de modelo biomédico para uma atenção à saúde de forma 
ampliada foi acompanhada da reorganização político-administrativa do país marcada pela 
criação da Constituição Cidadã e surgimento de um sistema de saúde que considera osdeterminantes sociais de saúde e que tem como princípios fundamentais a integralidade, a 
equidade, a universalidade e a participação social (BRASIL, 2006a). 
 A Constituição do Brasil define em seu artigo 196 que: 
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e 
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso 
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação 
(BRASIL, 1988, p. 42). 
 
Em 1990, a partir da Lei N. 8080 foi instituído o Sistema Universal de Saúde (SUS), 
inspirado no modelo inglês; hoje é o maior sistema público gratuito de saúde que garante 
atendimento de necessidades em saúde desde a atenção primária até os níveis de maior 
complexidade, ofertando de suplementação de ferro até imunobiológicos especiais de custo 
elevado. O SUS traz em seu bojo a concepção de que os níveis de saúde de uma população 
expressam seu nível de organização e define-se socialmente num determinado tempo e espaço, 
Curso | Agente Comunitário de Saúde 
 
7 
 
sendo influenciado por condicionantes e determinantes de saúde (BRASIL, 1990). 
 Além do reconhecimento da determinação social da saúde-doença, a criação do SUS 
estruturou-se em princípios doutrinários – universalidade, equidade e integralidade – e 
organizacionais. 
Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou 
conveniados que integram o Sistema Único de Saúde - SUS são desenvolvidos de 
acordo com as diretrizes previstas no artigo 198 da Constituição Federal, obedecendo 
ainda aos seguintes princípios. 
I - Universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; 
II - Integralidade de assistência, entendida como um conjunto articulado e contínuo 
das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para 
cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; 
III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; 
IV - Igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer 
espécie (BRASIL, 1990, p. XX). 
 
 Em 2006, no Brasil, foi estabelecida a Política Nacional de Promoção à Saúde (PNPS) 
pela Portaria N. 687, 30 de março. Esta portaria apresentou os objetivos, diretrizes e 
responsabilidades de cada esfera governamental para que o sistema de saúde trabalhasse sob a 
perspectiva de promoção à saúde com envolvimento de outros setores também (BRASIL, 
2006a). 
 É importante diferenciar promoção à saúde e prevenção, enquanto a primeira apresenta 
uma abrangência maior, busca o maior potencial de qualidade de vida de uma comunidade; a 
prevenção busca evitar determinadas doenças por meio de ações específicas. Por exemplo, a 
orientação do ACS para que as mães continuem aleitamento materno exclusivo até os 6 meses 
de idade é uma medida de promoção à saúde, pois o leite materno possui diversos benefícios e 
melhora o desenvolvimento da criança em geral; porém a vacinação com a vacina pentavalente 
previne contra cinco diferentes doenças, é uma prevenção específica. 
 No quadro a seguir é possível ver um resumo dos principais pontos da PNPS: 
 
Objetivos específicos 
 Incorporar e implementar ações de promoção da saúde, com ênfase na atenção básica; 
 Ampliar a autonomia e a co-responsabilidade de sujeitos e coletividades, inclusive o 
poder público, no cuidado integral à saúde e minimizar e/ou extinguir as desigualdades de toda 
e qualquer ordem (étnica, racial, social, regional, de gênero, de orientação/opção sexual, dentre 
outras); 
 Promover o entendimento da concepção ampliada de saúde, entre os trabalhadores em 
saúde, tanto das atividades-meio, como os da atividade-fim; 
Curso | Agente Comunitário de Saúde 
 
8 
 
 Contribuir para o aumento da resolubilidade do Sistema, garantindo qualidade, eficácia, 
eficiência e segurança das ações de promoção da saúde; 
 Estimular alternativas inovadoras e socialmente inclusivas/ contributivas no âmbito das 
ações de promoção da saúde; 
 Valorizar e otimizar o uso dos espaços públicos de convivência e de produção de saúde 
para o desenvolvimento das ações de Promoção da Saúde; 
 Favorecer a preservação do meio ambiente e a promoção de ambientes mais seguros e 
saudáveis; 
 Contribuir para elaboração e implementação de políticas públicas integradas que visem 
à melhoria da qualidade de vida no planejamento de espaços urbanos e rurais; 
 Ampliar os processos de integração baseados na cooperação, solidariedade e gestão 
democrática; 
 Prevenir fatores determinantes e/ou condicionantes de doenças e agravos à saúde; 
 Estimular a adoção de modos de viver não-violentos e o desenvolvimento de uma cultura 
de paz no país; 
 Valorizar e ampliar a cooperação do setor da saúde com outras áreas de governos, setores 
e atores sociais para a gestão de políticas públicas e a criação e/ou o fortalecimento de iniciativas 
que signifiquem redução das situações de desigualdade. 
Diretrizes 
 Reconhecer na Promoção da Saúde uma parte fundamental da busca da equidade, da 
melhoria da qualidade de vida e de saúde. 
 Estimular as ações intersetoriais, buscando parcerias que propiciem o desenvolvimento 
integral das ações de Promoção da Saúde. 
 Fortalecer a participação social como fundamental na consecução de resultados de 
Promoção da Saúde, em especial a equidade e o empoderamento individual e comunitário. 
 Promover mudanças na cultura organizacional, com vistas à adoção de práticas 
horizontais de gestão e estabelecimento de redes de cooperação intersetoriais. 
 Incentivar a pesquisa em Promoção da Saúde, avaliando eficiência, eficácia, efetividade 
e segurança das ações prestadas. 
 Divulgar e informar das iniciativas voltadas para a Promoção da Saúde para 
profissionais de saúde, gestores e usuários do SUS, considerando metodologias participativas e 
o saber popular e tradicional. 
 
Curso | Agente Comunitário de Saúde 
 
9 
 
Áreas prioritárias para atuação 
 Divulgação e implementação da Política Nacional de Promoção da Saúde; 
 Alimentação Saudável; 
 Prática Corporal/Atividade Física; 
 Prevenção e Controle do Tabagismo; 
 Redução da morbi-mortalidade em decorrência do uso abusivo de álcool e outras drogas; 
 Redução da morbi-mortalidade por acidentes de trânsito; 
 Prevenção da violência e estímulo à cultura de paz; 
 Promoção do desenvolvimento sustentável. 
Fonte: BRASIL, 2006a 
 
 A estruturação do SUS a partir de tais princípios e a concepção de documentos 
normativos como a portaria 687/2006 reitera a importância de trabalhar a partir da perspectiva 
de cuidados primários em saúde e de promoção à saúde. Sendo assim, é fundamental conhecer 
os Determinantes Sociais de Saúde (DSS), os quais são caracterizados como contexto no qual 
a vida de uma pessoa se desenvolve (CNDSS, 2008). 
 Os determinantes sociais de saúde estão atrelados de forma indissociável ao conceito de 
iniquidades em saúde – as desigualdades resultantes do contexto socioeconômico e cultural no 
qual grupos e/ou famílias interagem. As iniquidades em saúde são “consequências injustas, 
evitáveis e desnecessárias”, identificadas em estatísticas que expressam a dificuldade ou mesmo 
impossibilidade de acesso aos requisitos básicos definidos na Carta de Ottawa para se atingir o 
potencial de saúde (WHITEHEAD, 2000, p. 5). 
 Como exemplo disto, Kliksberg (2011) informa que um milhão e novecentas mil 
pessoas perdem a vida a cada ano devido à falta de água; a falta de energia faz com que 
aproximadamente 2700 milhões de pessoas preparem sua alimentação de forma semi-primitiva, 
o que favorece a contaminação e proliferação de doenças evitáveis com medidas simples de 
higiene. Portanto, atuar sobre os determinantes sociais de saúde é tão importante para promover 
saúde, prevenir doenças e agravos e reduzir as iniquidades (BUSS; PELLEGRINI-FILHO,2007). 
 Conforme Sant´anna et al. (2010) os determinantes sociais de saúde são as condições relativas 
às características de cada pessoa e coletividade que interferem no processo saúde-doença. Estes 
determinantes são classificados em três tipos, porém na prática eles não se dissociam e interagem 
múltipla e reciprocamente na produção do binômio saúde-doença: 
 Proximais: são as características de cada pessoa, como fatores genéticos, idade e sexo; 
Curso | Agente Comunitário de Saúde 
 
10 
 
 Intermediários: relativos aos aspectos comportamentais de vários grupos, como as redes 
sociais, comunitárias e de saúde; 
 Distais: engloba as características mais gerais, como habitação, emprego, e outros 
fatores socioculturais, econômicos e ambientais; exigem ação de outros setores além da saúde 
para sua modificação. 
 Todos estes fatores ou determinantes sociais de saúde agem de forma sinérgica na produção de 
saúde ou doença de cada pessoa e na comunidade onde vive. É importante lembrar que nenhum 
determinante social de saúde é capaz de causar uma doença, é preciso a junção de diversos determinantes 
para que uma pessoa adoeça. Portanto, quando forem adotadas medidas de promoção à saúde e 
prevenção de doenças devem basear-se em mais de um determinante para se ter sucesso (SANT´ANNA 
et al., 2010). 
 Conforme Buss e Pellegrini-Filho (2006), os aspectos que mais interferem na forma como os 
DSS influenciam a situação de saúde das pessoas são: como a renda per capita se distribui entre um 
grupo populacional e as relações de solidariedade e confiança estabelecidas entre as pessoas e redes 
sociais. Segundo estes autores, quando se atinge certo valor do nível de Produto Interno Brito (PIB) per 
capita, o que mais modifica a condição de saúde da população não é a renda em si, mas como esta renda 
está distribuída entre seus habitantes. Por exemplo, no Brasil há uma péssima distribuição de renda, 
onde 20% dos mais ricos possuem uma renda 26 vezes maior que a renda dos 20% mais pobres; além 
disso, a corrupção foi responsável pela inadequada utilização de 85 bilhões de reais de dinheiro público 
– este valor correspondia a 2,3% da riqueza nacional em 2005-2006. Caso este valor tivesse sido 
utilizado adequadamente poderia ter erradicado a miséria no Brasil retirando 16 milhões de pessoas 
desta condição (BUSS; PELLEGRINI-FILHO, 2006; CABRAL; DINIZ, 2011). 
 O fortalecimento das relações sociais e do capital social são importantes meios de impactar nas 
condições de saúde da população, sendo decisivos para a promoção da saúde em nível individual e 
coletivo (BUSS; PELLEGRINI-FILHO, 2006). A promoção da equidade em saúde, e consequente, 
melhores condições de vida, deve ser precedida de mudanças nas relações políticas, socioeconômicas e 
culturais, que estão alicerçadas nas redes no fortalecimento de vínculos de solidariedade e confiança. 
(SENA; SILVA, 2007). 
 A abordagem dos determinantes sociais de saúde é feita através do modelo proposto por 
Dahlgren e Whitehead, modelo adotado pela Comissão Nacional de Determinantes Sociais de 
Saúde, ilustrado na figura 1. Neste modelo os DSS são apresentados em diferentes camadas de 
acordo com seu nível de abrangência, desde uma camada mais próxima com os determinantes 
individuais até uma camada mais distante na qual estão inseridos os macrodeterminantes. 
 No primeiro nível estão os indivíduos, apresentando características específicas como 
idade, sexo e fatores genéticos, que obviamente interferem no seu potencial e condições de 
saúde. Na próxima camada estão dispostos o comportamento e os estilos de vida individuais. 
Curso | Agente Comunitário de Saúde 
 
11 
 
Na camada seguinte faz-se referência às redes comunitárias e de apoio, cuja variedade e 
existência expressam o nível de coesão social, imprescindível para a saúde da sociedade como 
um todo. No nível seguinte estão dispostos os fatores relacionados a condições de vida e de 
trabalho, como o acesso a serviços essenciais e alimentos, demonstrando que os grupos 
populacionais em desvantagem socioeconômica são mais vulneráveis às condições 
propiciadoras de doença decorrentes de habitações, meios de trabalho insalubres e acesso 
desigual a serviços. E por fim, no último nível, situam-se os macrodeterminantes, relacionados 
às condições econômicas, culturais e ambientais da sociedade, inclusive o processo de 
globalização, com grande influência sobre as camadas anteriores. (CNDSS, 2008). 
 
Figura 1 – Determinantes sociais de saúde 
 
Fonte: CNDSS, 2008 
 
 Como mencionado anteriormente, os DSS agem de modo recíproco e sinérgico na 
produção das condições de saúde e doença das pessoas e comunidades. Podemos citar como 
exemplo o caso das diarreias que constituem importante causa de adoecimento e até mesmo 
óbitos em crianças. As diarreias são causadas por diversos fatores, a presença do agente 
infeccioso não causa a doença sozinha, é necessário que ocorram situações que propiciem o 
desenvolvimento das doenças diarreicas, fatores estes dispostos na figura a seguir. Outro 
aspecto a ser obervado nas relações apresentadas na imagem é como a relação de todos os DSS 
faz com que se desenvolva um ciclo vicioso de ocorrencia de diarreias e desnutrição. 
Curso | Agente Comunitário de Saúde 
 
12 
 
Atividade de fixação: 
Pesquisa e responda às seguintes respostas no nosso fórum: 
1 O que é diarreia? 
2 O que é desidratação? 
3 Quais as principais causas de mortalidade infantil? 
 
Figura 2 – Sinergismo multifatorial na produção e manutenção das doenças diarreicas 
Fonte: Almeida-Filho; Rouquayrol, 2006 
 
Segundo Mendes (2010), no cenário epidemiológico brasileiro há uma carga tripla de doenças 
que revelam um sistema de saúde fragmentado, privilegiando a assistência curativa e priorizando 
condições agudas. Conforme este autor, as três principais formas de adoecimento no Brasil são: 
 Problemas relacionados a infecções, desnutrição e problemas de ordem reprodutiva; 
 Doenças crônicas não transmissíveis que aumentam cada vez mais devido ao estilo de 
vida atual; 
 Aumento de doenças e mortes por causas externas como acidentes e violência dos mais 
variados tipos, como ferimento por arma de fogo, agressão doméstica, dentre outros. 
No Brasil, há exemplos de práticas de saúde que atuaram diretamente nos determinantes sociais 
de saúde e tiveram êxito comprovado. Em Assaré no Ceará, a mortalidade infantil que era de 29,63 
óbitos por mil nascidos vivos em 2009 foi reduzida para 3,77 no ano seguinte, após a implantação do 
Projeto Mãe Valoriza a Vida, que envolvia a atuação de diversos setores da sociedade com incentivo ao 
Curso | Agente Comunitário de Saúde 
 
13 
 
aleitamento materno que alcançou 100%, contribuindo para o combate a desnutrição. (PIMENTEL, 
2011a). 
Em Borba no Amazonas, município que prioriza o controle da malária, foi estabelecida uma 
parceria entre a Atenção Básica e a Gerência de Endemias. Esta aliança permitiu a descentralização das 
medidas de controle da malária e a redução da doença naquele município. (PIMENTEL, 2011b). Outra 
experiência que apresentou resultados positivos ocorreu no município de Diadema – São Paulo, após a 
aprovação de uma lei local que proíbe o consumo de bebidas alcoólicas após as 23 horas. Depois da lei 
ser publicada, houve redução do índice de homicídios na cidade em 30% e diminuição dos casos de 
violência doméstica. (DUALIBI et al., 2007 apud PAHO, 2011, p. 21). 
As políticas públicas desenvolvidas no Brasil já retiraram 28 milhões de pessoas da pobreza, 
entretanto há mais de 16 milhões de pessoas que vivem em condições sub-humanas, correspondente a 
8,5% da população brasileira, com uma renda per capita de até RS 70. É evidente a disparidade entre 
regiões, sendo que na região nordeste concentra-se 59% da população extremamente pobre, enquanto 
na região sudeste há apenas 4% deste grupo. Dentre os residentes na zona rural,25% sobrevivem em 
condições precárias. Na tentativa de melhorar este contexto, foi definido o plano Brasil Sem Miséria 
pelo governo federal visando ampliar e aprimorar as experiências brasileiras exitosas na área social, 
como Bolsa Família, Brasil Sorridente e Luz para Todos. Outras medidas foram adotadas, como práticas 
de capacitação profissional ao incentivo à produção rural e urbana. Estas ações resultaram em impactos 
sociais positivos. No período compreendido entre janeiro de 2011 e janeiro de 2012, observou-se a 
redução da concentração de renda e da pobreza em 2,1% e 7,9%, respectivamente. (BRASIL, [2011?]; 
BRASIL, 2012a). 
Segundo Censo de 2010, outro dado relevante foi a redução em 47% da taxa de mortalidade 
infantil no Brasil, que correspondia a 29,7 mortes em mil crianças nascidas vivas no ano 2000, passando 
a 15,6/1000 em 2010. Este resultado advém de programas destinados à proteção e promoção da saúde 
da família, da gestante e da criança, como a rede Amamenta Brasil, Pacto pela Redução da Mortalidade 
Infantil, Rede Cegonha. Entretanto, permanecem as diferenças regionais, ocorrendo uma taxa de 18,5 e 
12,6 mortes em cada 1000 crianças nascidas vivas na região nordeste e sul, respectivamente. Apesar 
deste avanço, o Brasil ainda figura com uma taxa de mortalidade infantil alta se comparado a países 
desenvolvidos, cuja mortalidade de crianças com até um ano de idade é de 5 mortes em mil nascidos 
vivos. (BRASIL, 2012b; IBGE, 2012). 
 A Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar de 1998-2008 (PNAD) evidenciou que as 
desigualdades nas condições de saúde são mais estáveis e dificeis de modificar com politicas 
de curto prazo do que as as desigualdades de uso e acesso a serviços de saúde. A análise dos 
resultados dessa década demonstrou que embora permanecam muitas desigualdades, o acesso 
aos serviços aumentou, tanto para ofertas mais simples, como consulta médica, quanto para 
procedimentos de maior complexidade, como a mamografia; além disto, o maior acesso foi da 
Curso | Agente Comunitário de Saúde 
 
14 
 
população em regiões carentes e em todas as regiões houve maior acesso para os mais pobres. 
Foi evidenciado dificuldade de acesso aos medicamentos prescritos nos atendimentos, pois em 
apenas 45% destes atendimentos as pessoas receberam todos os medicamentos receitados 
(VIACAVA, 2010). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Mas professora, eu estou fazendo um curso de técnico em agente comunitário de saúde, como tudo 
isso interfere em meu trabalho? 
 
 
O ACS tem sua atuação baseada na educação em saúde que ajuda a comunidade a transformar as 
condições nas quais se dá o processo de adoecimento. 
A condição de morador do território de trabalho faz com que você, futuro ACS, consiga 
compreender a dinâmica de vida em sua comunidade e articule este conhecimento com as 
necessidades individuais e da coletividade e como relacionar às redes de atenção à saúde. 
 
 
 
Ainda não entendi, pode explicar novamente? 
 
 
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Quando você realiza uma visita domiciliar e preenche os dados necessários, você está 
identificando os determinantes de saúde daquela família. Por exemplo, se numa 
família vive uma criança com menos de 6 meses então devemos verificar se esta 
criança está recebendo aleitamento materno exclusivo, se está fazendo as consultas 
para avaliar crescimento e desenvolvimento, se está com todas as vacinas em dia. Por 
que? Porque é sabido que a mortalidade infantil é maior no primeiro ano de vida 
quando a criança está mais susceptível a infecções e adoecimento pelo meio externo; 
sabemos também que o leite materno fortalece a imunidade, combate alergias, ajuda 
no crescimento e desenvolvimento, as vacinas previnem doenças infecto-contagiosas 
que no passado matavam muitas crianças. 
As orientações que você irá dar ao responsável por essa criança são uma forma de 
educação em saúde, pois você está dando informações sobre como melhorar a 
condição de saúde dessa criança e como ela pode conseguir ter acesso a isto em seu 
território 
 
 
 
Entendi professora, então nosso trabalho como agente comunitário de saúde é bem 
importante não é?!? 
 
 
Com toda certeza, o ACS ajuda os outros profissionais a identificar as condições saúde-
doença mais rapidamente, pois vive no mesmo território que a população. O fato de ser 
da comunidade também torna mais fácil o processo de educação em saúde, pois as 
pessoas provavelmente já o conhecem e compartilham das mesmas condições 
geográficas, boas ou ruins. 
 
 
 
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16 
 
2 PROCESSO DE TRABALHO EM EDUCAÇÃO 
 
2.1 EDUCAÇÃO EM SAÚDE 
 
O que é educação em saúde? Por que o processo de trabalho do agente comunitário de saúde 
envolve educação em saúde? 
O Ministério da Saúde (2006b, p. 19) define educação em saúde como: 
1 – Processo educativo de construção de conhecimentos em saúde que visa à 
apropriação temática pela população e não à profissionalização ou à carreira na saúde; 
2 – Conjunto de práticas do setor que contribui para aumentar a autonomia das pessoas 
no seu cuidado e no debate com os profissionais e os gestores a fim de alcançar uma 
atenção à saúde de acordo com suas necessidades. 
 
 O conceito de educação em saúde é importante para reconhecer a importância e a 
impossibilidade de dissociar estas temáticas no cotidiano, pois sabemos que a educação 
influencia a saúde e vice-versa. A educação em saúde constitui-se como instrumento básico 
para empoderamento das pessoas na tentativa de melhorar a qualidade de vida e promover saúde 
das pessoas e coletividade expressa na Carta de Ottawa e na Política Nacional de Promoção à 
Saúde (BUSS, 1999). 
 
2.2 EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE 
 
 A seguir são apresentados alguns conceitos relativos à educação e saúde: 
Educação continuada: Processo de aquisição sequencial e acumulativa de 
informações técnico-científicas pelo trabalhador, por meio de escolarização formal, 
de vivências, de experiências laborais e de participação no âmbito institucional ou 
fora dele. 
Educação na saúde: Produção e sistematização de conhecimentos relativos à 
formação e ao desenvolvimento para a atuação em saúde, envolvendo práticas de 
ensino, diretrizes didáticas e orientação curricular. 
Educação permanente em saúde: Ações educativas embasadas na problematização 
do processo de trabalho em saúde e que tenham como objetivo a transformação das 
práticas profissionais e da própria organização do trabalho, tomando como referência 
as necessidades de saúde das pessoas e das populações, a reorganização da gestão 
setorial e a ampliação dos laços da formação com o exercício do controle social em 
saúde. 
Educação popular em saúde: Ações educativas que têm como objetivo promover, 
na sociedade civil, a educação em saúde, mediante inclusão social e promoção da 
autonomia das populações na participação em saúde (BRASIL, 2006b, p. 19-20). 
 
A Educação Permanente em Saúde é essencial a todos os profissionais atuantes no SUS, 
principalmente pela possibilidade de analisar, modificar e reorganizar a forma de trabalho e 
cuidado, priorizando sempre os usuários do sistema de saúde. Não constitui-se como processo 
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formal exclusivo de profissionais, envolve todos os atores sociais da comunidade; pode ser 
realizada conforme é oportunizada, ou seja, conforme interesse dos envolvidos, podendo 
ocorrer dentro e fora da unidade de saúde, tendo como critério norteador o saber popular, a 
intersetorialidade, interdisciplinaridade e potenciais do território no qual a equipe atua 
(MACHADO; VANDERLEI, 200?). Na figura seguinte são descritos os espaços e situações 
possíveis de interação da educação permanente em saúde. 
 
Figura 3 – Oportunidades de realizaçãoda Educação Permanente em Saúde 
 Fonte: Machado e Vanderlei, 200? 
 
A educação permanente em saúde é fundamental para reestruturar o trabalho no SUS e 
reorientar as práticas educativas e assistenciais conforme necessidade da população e por 
considerá-la como detentora de conhecimentos próprios também (VASCONCELOS; GRILLO; 
SOARES, 2009). As referidas autoras esboçaram um mapa conceitual apresentando como se 
dá a educação permanente em saúde relacionando-a à vivência na população (figura 4). 
 
Figura 4 – Mapa conceitual de educação permanente em saúde 
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18 
 
 
 Fonte: Vasconcelos; Grillo; Soares, 2009 
 
2.3 EDUCAÇÃO EM SAÚDE E OPÇÕES PEDAGÓGICAS 
 
 O processo educativo pode ocorrer de formas variadas e cada abordagem possui sua 
importância, bem como vantagens e desvantagens. No fluxograma a seguir estão descritas as 
principais formas de aprendizagem. 
 
 
 
 
 
 
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19 
 
Figura 5 – Tipos de abordagem 
 
Fonte: BORDENAVE, 1995, MACHADO;VANDERLEI, 200? 
 
 No decorrer do processo de trabalho os profissionais de saúde, inclusive os agentes 
comunitários de saúde, vão se deparar com diferentes situações e contextos, sendo que em cada 
situação será mais apropriado determinada abordagem pedagógica ou a mistura de várias delas 
(MACHADO; VANDERLEI, 200?). 
Por exemplo: 
João, um morador de 52 anos, hipertenso e diabético, em sua área de atuação, não modifica 
alimentação, não pratica atividade física e consome medicamento prescrito esporadicamente, 
somente quando passa mal. Apesar do ACS orientar em todas as visitas domiciliares as ações a 
serem feitas: Reduzir consumo de carboidratos, sal, açúcar e alimentos gordurosos; aumentar 
consumo de legumes, frutas e verduras; praticar atividade física com frequência, no mínimo 3 
vezes por semana. 
Vamos refletir? Como deve ser feita a abordagem deste morador? Como devo orientá-lo? 
Ficou curioso? Vamos resolver esta situação-problema na nossa aula! 
 
 
Abordagens pedagógicas 
tradicionais
Trasmissão: há uma pessoa que
detém o conhecimento e ensina;
presume-se que a outra pessoa
não sabe e portando deve
aprender. O conhecimento é
transmitido do primeiro para o
segundo.
Condicionamento: concentra-se no
modelo de repetição, foca nos
resultados operacionais/
comportamentais. Por exemplo:
Treinamento do ACS para
preencher as fichas de cadastro e
notificação.
Abordagens pedagógicas que têm o 
aprendiz como foco
Metodologia da
problematização: mais do que
uma abordagem, é uma postura
crítica reflexiva sobre a realidade
encontrada para que o indivíduo
atue transformando sua realidade.
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20 
 
2.4 PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM E PRÁTICAS EM SAÚDE 
 
 Como já vimos anteriormente, não se pode dissociar saúde e educação; o processo 
ensino-aprendizagem no contexto nas práticas de saúde pode ocorrer em diferentes momentos 
e situações. 
 A pedagogia da problematização considera que não é a reprodução de conhecimento e 
condicionamentos que importa na nossa realidade, mas sim a capacidade que cada pessoa tem 
para identificar problemas e definir soluções adequadas, permanentes e criativas. Para 
desenvolver esta habilidade é importante que o aluno saiba fazer perguntas relevantes para que 
possa compreender e resolver apropriadamente problemas apontados; identificar as tecnologias 
e recursos disponíveis, bem como os obstáculos para a resolução; orientar e organizar as pessoas 
envolvidas na situação apontada; pode ocorrer de modo individual e coletivo (BORDENAVE, 
1995). 
 A metodologia da problematização é muito importante na educação em saúde, pois 
permite que as pessoas consigam identificar e agir sobre uma determinada situação. As etapas 
da metodologia problematizadora seguem um fluxo por Maguerez (BORDENAVE, 1995), 
representado na figura 6 e que pode ser utilizado nas mais variadas áreas: 
Figura 6 – Arco de Maguerez e metodologia problematizadora 
 
 Fonte: SILABE, 2018 
 
1) No primeiro momento, o aluno deve observar com atenção a realidade em determinando 
espaço e tempo para identificar os problemas. 
2) No segundo momento, a partir da observação da realidade deve-se definir quais os 
pontos mais importantes daquele assunto e quais as variáveis mais importantes. 
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21 
 
3) No terceiro momento, ocorre a teorização do problema, o aluno busca as causas do 
problema identificada, nesta etapa é necessário recorrer ao conhecimento científico para 
compreender o porquê de tais situações problemáticas estarem ocorrendo. 
4) No quarto momento, quando o aluno já compreendeu porque ocorre determinado 
problema, ele utiliza então sua criatividade e inteligência para propor soluções para a situação 
problemática – é a fase de formulação de hipóteses. 
5) Na quinta etapa, o aluno e o grupo (se houver) aplicam a realidade as soluções práticas 
definidas pelas hipóteses – momento de provar se sua solução surtirá efeito ou não. Após a 
aplicação, inicia-se o ciclo novamente ao observar a realidade e verificar se a solução hipotética 
foi efetiva ou não. 
Na atuação profissional, precisamos sempre estar atentos a melhor forma de promover 
educação em saúde, para que as pessoas sintam realmente a necessidade de aceitar e concordar 
com as orientações apresentadas. Devemos privilegiar a ideia de sempre estimular que o 
indivíduo entenda porque certo comportamento deve ser adotado ou modificado e não apenas 
dar orientação. 
 Em paralelo a esta concepção problematizadora, temos também a pedagogia da 
autonomia proposta por Paulo Freire e que no campo da saúde emergiu como educação popular 
em saúde. Na educação popular em saúde a outra pessoa sempre é vista como detentora de um 
saber sobre si, seu corpo, cuidado, condições de vida, família, trabalho e outras necessidades; 
portanto é um sujeito com suas próprias vivências e concepções (NESPOLI, 2016). 
 A educação popular parte do pressuposto de que todos estamos no mesmo horizonte, 
sem hierarquia, e reconhece a importância da luta por melhores condições de vida e a crítica e 
questionamento das injustiças sociais e econômicas que acometem a população. Assim, a 
educação popular em saúde assume papel fundamental na construção de ambientes e pessoas 
saudáveis. Mas para que isto ocorra é imprescindível que tenhamos habilidade crítica e que o 
trabalho em saúde não seja executado apenas como cumprimento de rotinas, procedimentos e 
indicadores de saúde, mas com a reflexão constante sobre qual nossa atuação, onde vamos atuar 
e quais as necessidades das pessoas que serão ouvidas (NESPOLI, 2016). 
 Vamos colocar este conhecimento em prática? 
 Considerando o exemplo mencionado nas páginas anteriores do seu João, 52 anos, 
hipertenso e diabético, sedentário e não adere ao tratamento medicamentoso. 
 Como ficaria o arco considerando esta situação apresentada?!?! Vamos dar 
continuidade na resolução desta situação-problema na nossa aula! 
 
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22 
 
2.5 PLANEJAMENTO DE AÇÃO EDUCATIVA 
 
 Estamos falando de educação em diferentes contextos e de diferentes abordagens, mas 
como devo planejar as ações educativas? 
 O planejamento das ações do ACS envolve: 
 Diagnóstico: Conhecer seu território de atuação e as pessoas que ali vivem, deve 
compreender o levantamento, análise e reflexão dos dados e definição das necessidades 
prioritárias. 
 Plano de ação: definir quais são as prioridades passíveis de intervenção cuja 
modificação pode melhorar a saúde da comunidade. Compreende a meta de alcance do trabalho 
e as técnicas e métodos (estratégia) que podem ser utilizados, bem como os recursos disponíveis 
e o tempo necessário para executar atividade. 
 Execução: compreende a parte prática, operacional, do plano de ação; 
 Acompanhamento e avaliação: a avaliação é concomitante a todas as etapasdo 
planejamento e após a execução permite identificar necessidade de ajustes e readequações do 
plano de ação (BRASIL, 2009b). 
Guarde isso! 
O exercício de uma prática pedagógica voltada para a solução das necessidades de 
saúde da população está diretamente relacionado ao conhecimento do território como 
processo e das pessoas que nele habitam. É preciso ir além do conhecimento 
relacionado com os indicadores de saúde e de produção previamente pactuados. 
Território tem gente, diversidades, amores, vidas construídas e destruídas, dores, 
sofrimento, alegrias... Toda comunidade tem sua história, sua cultura – festas, 
manifestações religiosas e populares; o saber das benzedeiras e raizeiras; um grau de 
participação e mobilização social; uma forma própria de dispor do tempo livre; de 
conseguir e dispor de recursos financeiros; de realizar lazer com a família; de 
autopreservar-se; de compreender o processo saúde-doença etc. Cada “gente” é 
sujeito de sua vida e deve ser respeitado, acolhido, visto e atendido de forma integral, 
numa relação que gera vínculos institucionais e emocionais. Isso vale para abordagens 
coletivas e individuais (no consultório ou no gabinete odontológico, na recepção, no 
local de espera, na sala de vacina, na sala de procedimentos, na garagem da 
ambulância, que também é “sala” de espera, e outros – que você sabe bem quais são!) 
(VASCONCELOS; GRILLO; SOARES, 2009, p. 18). 
 
 
2.6 TRABALHANDO EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA COMUNIDADE 
 
2.6.1 Como trabalhar educação em saúde na comunidade 
 
 As atividades educativas constituem elemento central na atuação do ACS e devem visar a 
melhora da qualidade de vida das pessoas de sua área de atuação. Tais ações podem envolver diversos 
temas, por isto é importante que haja sempre valorização do diálogo e do saber escutar (BRASIL, 
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23 
 
2009b). 
 A abordagem ao indivíduo, família e comunidade envolve alguns temas principais (figura 6): 
Figura 5 – Abordagem ao indivíduo, família e comunidade 
 
Fonte: Vasconcelos; Grillo; Soares, 2009 
 O acolhimento é o primeiro contato da pessoa com o serviço saúde e normalmente 
ocorre quando o paciente tem alguma queixa para a qual busca solução, por exemplo, tem 
queixas de dor há alguns dias. Todo e qualquer profissional da atenção básica pode fazer o 
acolhimento do paciente (BRASIL, 2006a). Para que o acolhimento seja bem realizado é 
necessário que haja humanização do atendimento com uma escuta qualificada, respeitando o 
indivíduo que ali busca atendimento; também é importante que haja resolução do problema 
apresentado, caso não seja possível resolver ali na Unidade Básica de Saúde o paciente deve 
receber todas orientações e encaminhamentos necessários (VASCONCELOS; GRILLO; 
SOARES, 2009). 
 O trabalho em grupo pressupõe a participação dos usuários de forma que se sintam 
dispostos e encorajados a falar expondo suas vivências, dificuldades e anseios em relação aos 
temas que são abordados. Entretanto, na prática alguns profissionais relatam ver o grupo apenas 
como uma troca de favores: os usuários vão ao grupo trocar receitas vencidas e os profissionais 
atingem as metas pactuadas (VASCONCELOS; GRILLO; SOARES, 2009). 
 A visita domiciliar é o instrumento básico que permite ao ACS e demais profissionais 
de saúde conhecer a realidade de cada família de sua área de atuação, bem como sua rotina, 
condições de vida, situações de risco, dificuldades e potencialidades no cuidado em saúde. 
Além disso, a visita domiciliar permite que se estabeleça uma relação mais próxima com os 
profissionais de saúde, pois em seu próprio ambiente o usuário sente-se mais autônomo e seguro 
para expor seus anseios e problemas, o que fortalece o vínculo profissional-usuário 
(VASCONCELOS; GRILLO; SOARES, 2009). 
 A atividade educativa pode ser realizada em diferentes momentos de trabalho do ACS, 
pode ocorrer individualmente ou com a presença de outros profissionais de saúde, no domicílio 
ou em espaços da comunidade em grupos. Toda equipe de saúde deve participar de atividades 
educativas, avaliando as melhores estratégias conforme as necessidades das pessoas que serão 
acolhidas, respeitando as individualidades e experiências de cada um e usando linguagem 
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24 
 
simples e clara; é responsabilidade de toda equipe (BRASIL, 2009b). 
 É fundamental que o indivíduo se sinta encorajado a dialogar abertamente e sem 
preconceitos e julgamentos por parte da equipe; deve-se valorizar os saberes de cada pessoa e 
estimular o conhecimento, autocuidado, autonomia e autoestima para que, de fato, haja 
possibilidade de decidir sobre a própria saúde (BRASIL, 2009b). 
 
2.6.2 Recomendações gerais para atividades educativas 
 
 Algumas recomendações devem ser seguidas (BRASIL, 2009b), tais como: 
 Planejar antecipadamente as ações definindo local, horário e data que favoreça maior 
participação da comunidade; 
 Garantir condições de acessibilidade; 
 Escutar o outro sem interrupções e julgamentos; 
 Providenciar material que será usado; 
 Permitir troca de experiências entre os próprios usuários mediando conforme 
necessidade; 
 Respeitar o tempo de fala de cada um; 
 Divulgar as atividades antecipadamente; 
 Realizar dinâmicas para apresentar e integrar os participantes possibilitando maior 
interação e quebra da formalidade e temor de se expressar; 
 Apresentar o tema e estimular participação de todos os presentes; 
 Identificar quais fatores interferem nas condições de saúde em discussão, sem 
influencia-se por questões políticas, religiosas ou pessoais; 
 Demonstrar necessidade do autocuidado e autoconhecimento; 
 Facilitar exposição de dúvidas e favorecer o vínculo e a confiança dos envolvidos; 
 Apresentar uma síntese de tudo que foi discutido. 
 Algumas características e comportamentos são necessários aos profissionais de saúde 
para que possa desenvolver ações educativas (BRASIL, 2009b), tais como: 
 Expressar-se de forma clara, simples e acessível; 
 Utilizar-se de boa capacidade de comunicação; 
 Ter empatia, favorecendo vínculo, confiança e acolhendo o saber e sentir de todos; 
 Respeitar as crenças, valores e princípios que diferem dos seus; 
 Manter conhecimentos técnicos atualizados; 
 Buscar ajuda de outros colegas quando não conseguir responder a alguma demanda. 
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25 
 
Espera-se que com as atividades em grupo haja um maior engajamento das pessoas da 
comunidade na qual se atua (BRASIL, 2009b): 
 As pessoas troquem experiências, informações e fortaleçam o vínculo social na 
comunidade; 
 Sintam-se estimuladas a ser mais participativas nas reuniões de grupo; 
 O coordenador ajude na exposição de experiências e ideias mantendo e estimulando o 
respeito às diferentes opiniões; 
 As pessoas entendam seu papel na solução dos problemas da comunidade comuns a 
todos e a necessidade de buscar ajuda quando necessário. 
 
 
 
3 AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE: UM AGENTE DE MUDANÇA 
 
 O trabalho do ACS é visto como estratégico, pois é quase uma extensão da unidade de 
saúde, já que além de profissional, o ACS também é morador da sua área adstrita (BRASIL, 
2009b). 
Ser ACS é, antes de tudo, ser alguém que se identifica em todos os sentidos com a sua 
própria comunidade, principalmente na cultura, linguagem e costumes. Precisa gostar 
do trabalho. Gostar principalmente de aprender e repassar as informações, entender 
que ninguém nasce com o destino de morrer ainda criança. 
Uma das coisas que influencia muito é o conhecimento. São os seus vizinhos. São 
pessoas que já te conheciam antes. Aí fica mais fácil de conversar, de estabelecer um 
clima de confiança. Eles nos encontram com facilidade, pois sabem onde moramos. 
Defendemos isso na emenda constitucional nº 51. Defendemos também na lei nº 
11.350 e vamos continuar defendendo. Por quê? Porque é necessárioresidir na área. 
O que não podemos deixar passar é a exigência de que o agente resida na microárea. 
Há gente defendendo que o ACS tem que residir na microárea. Aí eu acho brincadeira! 
Não é necessário. Isso é demais. Agora, morar na área em que trabalha, sim. Se não 
morar na minha comunidade, eu me torno, naquela em que trabalho, a mesma coisa 
que o médico. Largo às cinco da tarde, vou embora e acabou-se a história. Então, 
perco essa identidade. Na medida em que eu moro lá, sou parte dela. Por isso, em 
alguns momentos é difícil separar. Em todo canto, compramos briga com prefeito e 
secretário, por causa de atenção na unidade, da limpeza que não foi feita ou do carro 
de lixo que não passou. Mas é muito difícil a gente separar o “eu” morador do “eu” 
trabalhador. Sou moradora também. Trabalho, sim, mas sou moradora também. Antes 
do trabalho, já era moradora. Acho que isso une muito a comunidade, cria um elo 
muito forte entre o ACS e a comunidade. 
Teresa Ramos – ACS, Recife. 
 
 Pelo fato de residir na sua área adstrita, o ACS conhece os problemas que mais 
interferem nas condições de vida da população, além de ter vínculo maior com a população. 
Sabe identificar os pontos de estrangulamento como problemas de saneamento, violência 
intrafamiliar, consumo de entorpecentes, ocorrência de acidentes, dentre outros. Para que isto 
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26 
 
aconteça, o ACS deve manter-se sempre atento ao seu território. Para fazer um trabalho bem 
feito, o ACS deve: 
 Conhecer seu território, incluindo os problemas e potencialidades; 
 Manter-se ativo, com iniciativa e disposto a aprender; 
 Observar a população e o ambiente; 
 Sempre ter respeito e ética com os moradores e profissionais. 
 O ACS deve realizar as visitas domiciliares, mas não deve restringir atuação apenas a 
estas, mas também estimular a comunidade a se organizar e reivindicar mudanças necessárias 
para promover melhor qualidade de vida. O ACS é a ponte que integra o conhecimento popular 
da comunidade e o saber técnico dos profissionais de saúde, daí sua importância como agente 
de mudanças (BRASIL, 2009b). 
 Quando são identificadas situações que coloquem em risco a condição de saúde da 
pessoa/família, o ACS deve orientá-la para que vá a unidade de saúde para que seja realizada 
uma análise mais cautelosa. Todas as pessoas do território adstrito devem ter acompanhamento 
mensal, com prioridade para quem está em situação de risco (BRASIL, 2009b). 
 As situações de risco são caracterizadas quando uma pessoa ou grupo possui maior 
chance de adoecer ou morrer, sendo alguns exemplos (BRASIL, 2009b, p. 27): 
 
 Bebês que nascem com menos de dois quilos e meio; 
 Crianças que estão desnutridas; 
 Filhos de mães que fumam, bebem bebidas alcoólicas e usam drogas na gravidez; 
 Gestantes que não fazem o pré-natal, fumam ou gestantes com diabetes e/ou 
pressão alta; 
 Acamados; 
 Pessoas que precisam de cuidadores, mas não possuem alguém que exerça essa 
função; 
 Pessoas com deficiência que não têm acesso às ações e serviços de saúde, sejam 
estes de promoção, proteção, diagnóstico, tratamento ou reabilitação; 
 Pessoas em situação de violência; 
 Pessoas que estão com peso acima da média e vida sedentária com ou sem uso do 
tabaco ou do álcool. 
 
 Há também as condições que aumentam a chance de que as pessoas adoeçam, como: 
baixa renda, desemprego, acesso precário água, luz elétrica, transporte, falta de água tratada, 
poluição do ar e água, falta de alimentação adequada, automedicação, tratamento 
descontinuado, dentre outros fatores (BRASIL, 2009b). 
 Além das condições que aumentam a chance de adoecer, temos também a possibilidade 
de agravamento devido a dificuldade ou impedimento de acesso aos serviços de saúde, como: 
barreiras geográficas, grandes distâncias, ausência de adaptações para pessoas com deficiência 
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27 
 
física, dificuldade de ir a unidade de saúde no horário de atendimento, ausência de transporte 
público eficiente, ausência de profissionais, atendimento burocrático, estigma social com 
determinados grupos (BRASIL, 2009b). 
Risco é qualquer tipo de “perigo” para a saúde das pessoas. 
 
3.1 VULNERABILIDADE, RISCO SOCIAL E VIOLÊNCIA 
 
 As transformações ocorridas no modo de viver tem modificado também a condição de 
saúde e os problemas relacionados a esta. Sendo a saúde uma condição que resulta das 
interações sociais ocorridas e não apenas devido por fatores biológicos. Neste contexto de 
profundas e constantes modificações de estilos de vida, torna-se indispensável cuidar da vida 
para reduzir as vulnerabilidades de adoecimento e a possibilidade de que o adoecimento cause 
incapacidades, sequelas permanentes e mortes precoces de pessoas e populações (BRASIL, 
2006a). 
Ao tratar da atenção social a famílias, a vulnerabilidade fica evidente como um conceito 
complexo relacionado à exposição das pessoas às questões próprias do ciclo de vida, das 
relações sociais, da dinâmica dos territórios, da qualidade do acesso a trabalho, renda e serviços. 
Os termos vulnerabilidade e risco social são adotados, no campo das políticas sociais e de saúde, 
no qual receberam e vêm assimilando enfoques variados, como territorial, social, econômico, 
dentre outros (ABRAMOWAY, 2002). 
 Entende-se vulnerabilidade como algo dinâmico que varia de acordo com a intensidade 
da exposição, da gravidade, da ameaça e dos meios de respostas que a envolve. Sendo assim, o 
risco é a ameaça de sofrer um dano, enquanto que dano seria o resultado negativo de um risco 
concretizado, ou seja, a vulnerabilidade objetivada. A vulnerabilidade resulta da combinação 
do risco de ser exposto à ameaça e sua materialização, bem como da capacidade de resposta 
para se defender. (JANCZURA, 2012; SILVA, 2015). 
O conceito de vulnerabilidade enfatiza o contexto de vida social e histórico dos grupos 
sociais e está estreitamente relacionado ao esforço de superação por meio das práticas 
preventivas e promotoras de saúde apoiadas no conceito de risco. Considera a chance de 
exposição das pessoas ao adoecimento e a outros agravos sociais como resultante de um 
conjunto de aspectos individuais, coletivos e programáticos (BRASIL, 2009b). 
O conceito de integralidade permite pensar o sujeito na sua totalidade, mesmo que não 
seja possível responder a todas as suas demandas. É nessa perspectiva que o setor saúde busca 
intervir em situações específicas de vulnerabilidades e de risco para a saúde da população, 
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28 
 
criando as condições para o desenvolvimento de ações e estratégias de promoção, prevenção, 
recuperação e reabilitação. A atenção integral extrapola ainda a estrutura organizacional 
hierarquizada e regionalizada dos serviços de saúde, que requer o trabalho articulado com 
outras políticas sociais no território. (BRASIL, 2010). 
A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002 apud BRASIL, 2014, p. 761) definiu a 
violência como: 
Uso da força física ou do poder real ou em 
ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma 
comunidade, que resulte ou tenha qualquer possibilidade de resultar em lesão, morte, 
dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação. 
 
O fenômeno da violência resulta da interação de diversos determinantes sociais da 
saúde, tais como emprego, escolaridade, renda familiar, além daqueles relacionados aos fatores 
comportamentais, principalmente os relacionados às relações de gênero desiguais com cunho 
sexista e homo/lesbo/transfóbicas (BRASIL, 2014). 
Conforme o Relatório Mundial sobre a Violência e Saúde da OMS (OMS, 2002 apud 
BRASIL, 2014, p. 761-763) os tipos de violência são: 
 Violência autoprovocada – tentativas de suicídio, suicídio, autoflagelação, 
autopunição, automutilação. 
 Violência interpessoal – subdivide-se em violência intrafamiliar e comunitária(extrafamiliar). 
o Violência intrafamiliar/doméstica – ocorre entre os membros da própria 
família, entre pessoas que têm grau de parentesco, laços consanguíneos ou entre 
pessoas 
que possuem vínculos afetivos. Ou seja, existem relações de parentesco, laços 
consanguíneos ou vínculos afetivos entre vítima e provável autor (a) da agressão. 
o Violência extrafamiliar/comunitária – ocorre entre indivíduos sem relação 
pessoal, conhecidos ou não. Ou seja, não existem relações de parentesco, laços 
consanguíneos ou vínculos afetivos entre vítima e provável autor (a) da agressão. 
Inclui a violência juvenil, atos aleatórios de violência, estupro ou outras formas de 
violência sexual praticados por pessoas sem vínculo afetivo ou laços consanguíneos 
com a vítima. Outro exemplo é a violência institucional ocorrida nas escolas, locais 
de trabalho, prisões, instituições de saúde, entre outras instituições públicas ou 
privadas. 
 Violência coletiva – subdivide-se em social, política e econômica, e se 
caracteriza pela subjugação/dominação de grupos e do Estado, como guerras, ataques 
terroristas ou formas em que há manutenção das desigualdades sociais, econômicas, 
culturais, de gênero, etárias, étnicas. 
 
Quanto às formas, podem ser: 
• Violência física – são atos violentos nos quais se faz uso da força física de forma 
intencional, não acidental, com o objetivo de ferir, lesar, provocar dor e sofrimento 
ou destruir a pessoa, deixando, ou não, marcas evidentes no seu corpo. Exemplos: 
chutes, beliscões, tapas, murros, torções, estrangulamentos, queimaduras, ferimentos 
por arma de fogo, por arma branca, por objetos etc. 
• Violência sexual – é qualquer ação na qual uma pessoa, valendo-se de sua posição 
de poder e fazendo uso de força física, coerção, intimidação ou influência psicológica, 
com uso ou não de armas ou drogas, obriga outra pessoa, de qualquer sexo, a ter, 
presenciar, ou participar, de alguma maneira, de interações sexuais ou a utilizar, de 
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qualquer modo, a sua sexualidade, com fins de lucro, vingança ou outra intenção. 
Exemplos: estupro, assédio sexual, exploração sexual, pedofilia. 
• Violência psicológica – é toda forma de rejeição, depreciação, discriminação, 
desrespeito, cobrança exagerada, punições humilhantes e utilização da pessoa para 
atender às necessidades psíquicas de outrem. É toda ação que coloque em risco ou 
cause dano à autoestima, à identidade ou ao desenvolvimento da pessoa. Esse tipo de 
violência também pode ser chamado de violência moral, a exemplo do assédio moral. 
O bullying é outro exemplo de violência psicológica, que se manifesta em ambientes 
escolares ou outros meios, como o cyberbullying. 
• Negligência/abandono – é a omissão pela qual se deixou de prover as necessidades 
e cuidados básicos para o desenvolvimento físico, emocional e social de uma pessoa. 
Exemplos: privação de medicamentos; falta de cuidados necessários com a saúde; 
descuido com a higiene; ausência de proteção contra as inclemências do meio, como 
o frio e o calor; ausência de estímulo e de condições para a frequência à escola. O 
abandono é uma forma extrema de negligência. 
• Trabalho infantil – refere-se a qualquer tipo de atividade efetuada por crianças e 
adolescentes de modo obrigatório, regular, rotineiro, remunerado ou não, que 
contrarie a legislação trabalhista vigente e que coloque em risco o seu pleno 
desenvolvimento. A Constituição Federal considera menor trabalhador aquele na 
faixa de 16 a 18 anos (Art. 7º, inciso XXXIII). A Consolidação das Leis do Trabalho 
(CLT) proíbe “qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na 
condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos”. O trabalho do menor aprendiz não 
pode ser realizado em locais prejudiciais a sua formação, desenvolvimento físico, 
psíquico, moral e social, e em horários e locais que não permitam a frequência à 
escola. 
• Tortura – é o ato de constranger alguém com emprego de força, maus tratos ou grave 
ameaça, causando-lhe sofrimento físico e/ou mental, para obter qualquer tipo de 
informação, declaração, confissão ou vantagem para si ou terceira pessoa; provocar 
ação ou omissão de natureza criminosa; ou em razão de discriminação de qualquer 
natureza. Pode se apresentar com mais de uma forma de violência associada, pois a 
pessoa pode ter sofrido violência física, sexual e psicológica durante a tortura. 
• Tráfico de pessoas – inclui o recrutamento, o transporte, a transferência, o 
alojamento de pessoas, recorrendo à ameaça, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso 
de autoridade, ao uso da força ou outras formas de coação, ou à situação de 
vulnerabilidade, para exercer a prostituição, ou trabalho sem remuneração, escravo ou 
de servidão, ou para a remoção e comercialização de seus órgãos e tecidos, com 
emprego ou não de força física. O tráfico de pessoas pode ocorrer dentro de um 
mesmo país, entre países fronteiriços ou entre diferentes continentes. 
• Violência financeira/econômica – é o ato de violência que implica dano, perda, 
subtração, destruição, ou retenção de objetos, documentos pessoais, bens e valores de 
uma pessoa. Consiste na exploração imprópria ou ilegal, ou no uso não consentido de 
seus recursos financeiros e patrimoniais. Esse tipo de violência é muito frequente 
contra as pessoas idosas, mulheres e pessoas com deficiência. É também chamada de 
violência patrimonial. 
• Intervenção legal – segundo a CID-10, consideram-se os traumatismos infligidos 
pela polícia ou outros agentes da lei, incluindo militares em serviço, durante a prisão 
ou tentativa de prisão de transgressores da lei, ao reprimir tumultos, ao manter a ordem 
ou em outra ação legal. Pode ocorrer com o uso de armas de fogo, explosivos, gás, 
objetos contundentes, empurrão, golpe, murro, podendo resultar em ferimento, 
agressão, constrangimento e morte. 
 
 
3.2 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
 
 O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), sancionado em 13 de julho de 1990, é 
o principal marco instrumental normativo do Brasil sobre os direitos da criança e do 
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adolescente. O ECA assimilou os avanços preconizados na Convenção sobre os Direitos da 
Criança das Nações Unidas e serviu de eixo para se concretizar o Artigo 227 da Constituição 
Federal, que determinou direitos e garantias fundamentais a crianças e adolescentes. (BRASIL, 
2019). 
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade 
incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. [...] 
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à 
pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-
se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes 
facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de 
liberdade e de dignidade. 
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e 
adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, 
etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e 
aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de moradia ou 
outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem. 
[...] 
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público 
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, 
à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. 
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: 
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; 
b) precedência de atendimento nos serviçospúblicos ou de relevância pública; 
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; 
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção 
à infância e à juventude. 
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, 
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei 
qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais (CEDECA, 
2017, p. 19-20). 
 
Entre as situações familiares consideradas de vulnerabilidade para crianças e 
adolescentes, podemos citar: gravidez de alto risco ou eventos traumáticos para a mãe durante 
a gestação, presença de rupturas e conflitos do casal, separações e lutos na família, mãe em 
situação de sofrimento psíquico, parto difícil ou traumático, pais com dificuldades de assumir 
a parentalidade (tornar-se pai e tornar-se mãe) e famílias com problemas múltiplos (drogadição, 
alcoolismo, pobreza, condições crônicas). Outras situações reconhecidas de vulnerabilidade: 
aleitamento materno ausente ou não exclusivo, gestação gemelar, malformação congênita, mais 
do que três filhos morando juntos, ausência de pré-natal, problemas familiares e 
socioeconômicos que interfiram na saúde da criança, problemas específicos da criança que 
interfiram na sua saúde, não realização de vacinas, identificação de atraso no desenvolvimento 
(PORTO ALEGRE, 2004). 
Considerado o maior instrumento dessa nova forma de se tratar a infância e a 
adolescência no país, o ECA inovou ao trazer a proteção integral, na qual crianças e 
adolescentes são vistos como sujeitos de direitos, em condição peculiar de desenvolvimento e 
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com prioridade absoluta. Reafirmou ainda a responsabilidade da família, sociedade e Estado de 
garantir as condições para o pleno desenvolvimento dessa população, além de colocá-la a salvo 
de toda forma de discriminação, exploração e violência. (BRASIL, 2019). 
Nos últimos anos, foram realizados diversos aprimoramentos, dentre os quais se 
destacam: 
 Lei da Primeira Infância (Lei nº 13.257, de 8 de março de 2016) implica o dever do 
Estado de estabelecer políticas, planos, programas e serviços para a primeira infância que 
atendam às especificidades dessa faixa etária, visando a garantir seu desenvolvimento integral; 
 Lei Menino Bernardo (lei nº 13.010, de 26 de junho de 2014) estabelece o direito da 
criança e do adolescente de serem educados sem o uso de castigos físicos; e 
 Lei que instituiu o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo Sinase (Lei nº 
12.594, de 18 de janeiro de 2012) - regulamenta a execução das medidas socioeducativas 
destinadas a adolescente que pratique ato infracional. 
 Lei que instituiu a Escuta Especializada (Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017) - 
estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha 
de violência e altera a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do 
Adolescente). 
 Ao defender os direitos da criança e adolescente, também os reconhece como sujeitos 
com certa autonomia, de modo que estejam protegidos dos riscos e vulnerabilidades inerentes 
à dinâmica familiar como questões relativas ao alcoolismo, agressão entre os pais, abusos e 
traumas emocionais e sexuais, dentre outros que concretizam-se no âmbito domiciliar 
(SIERRA; MESQUITA, 2006). 
 Além dos riscos no âmbito familiar, há também aqueles relacionados ao local de 
moradia, como precariedade, ocorrência de tráfico de drogas, criminalidade, prostituição 
infantil. Há também os riscos inerentes à infância por se tratar de uma fase de desenvolvimento. 
Então a qualidade da infância é marcada principalmente pela forma como essa criança se 
relaciona socialmente e ao local em que vive (SIERRA; MESQUITA, 2006). 
 Neste sentido, deve-se identificar os fatores de risco e de vulnerabilidade existentes em 
cada território no contexto de vida das crianças e adolescentes para que se possa intervir 
adequadamente com as medidas de promoção e proteção integral (ABRAMOWAY, 2002). 
 
 
 
 
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3.3 ESTATUTO DO IDOSO 
 
O Estatuto do Idoso define que: 
 
Art. 1°. É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados 
às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. 
Art. 2°. O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, 
sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou 
por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde 
física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em 
condições de liberdade e dignidade. 
Art. 3°. É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público 
assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à 
alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à 
liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. [...] 
Art. 15. É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema 
Único de Saúde – SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto 
articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e 
recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam 
preferencialmente os idosos. [...] 
Art. 19. Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra idoso serão 
obrigatoriamente comunicados pelos profissionais de saúde a quaisquer dos seguintes 
órgãos: 
I – Autoridade policial; 
II – Ministério Público; 
III – Conselho Municipal do Idoso; 
IV – Conselho Estadual do Idoso; 
V – Conselho Nacional do Idoso. [...] 
Art. 43. As medidas de proteção ao idoso são aplicáveis sempre que os direitos 
reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: 
I – por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; 
II – por falta, omissão ou abuso da família, curador ou entidade de atendimento; 
III – em razão de sua condição pessoal. 
Art. 44. As medidas de proteção ao idoso previstas nesta Lei poderão ser aplicadas, 
isolada ou cumulativamente, e levarão em conta os fins sociais a que se destinam e o 
fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. 
Art. 45. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 43, o Ministério Público 
ou o Poder Judiciário, a requerimento daquele, poderá determinar, dentre outras, as 
seguintes medidas: 
I – encaminhamento à família ou curador, mediante termo de responsabilidade; 
II – orientação, apoio e acompanhamento temporários; 
III – requisição para tratamento de sua saúde, em regime ambulatorial, hospitalar ou 
domiciliar; 
IV – inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento 
a usuários dependentes de drogas lícitas ou ilícitas, ao próprio idoso ou à pessoa de 
sua convivência que lhe cause perturbação; 
V – abrigo em entidade; 
VI – abrigo temporário. (BRASIL, 2003, p. 15, 17, 19, 23-24). 
 
 Todas as alterações decorrentes do processo fisiológico do envelhecimento têm 
repercussão nos mecanismos homeostáticos do(a) idoso(a) e em sua resposta orgânica, 
diminuindo sua capacidade de reserva, de defesa e de adaptação, o que o torna mais vulnerável 
a quaisquer estímulos (traumático, infeccioso ou psicológico). Na figura 6 são apresentados os 
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antecedentes, atributos e consequências do conceito de vulnerabilidade da pessoa idosa 
(BARBOSA; OLIVEIRA; FERNANDES, 2019). 
Figura 6 – Antecedentes, atributos e consequentes do conceito de vulnerabilidade da pessoa 
idosa 
 
 Fonte: Barbosa; Oliveira; Fernandes, 2019 
 
Dessa forma, as doenças podem ser desencadeadas mais facilmente, além da questão 
biológica o idoso(a) também apresenta maior vulnerabilidade socialpois torna-se dependente 
do cuidado de familiares e terceiros conforme as doenças vão impondo limitações (BRASIL, 
2006b). O reconhecimento prévio da condição de vulnerabilidade pode levar melhor 
atendimento às principais necessidades de saúde dos idosos, ao se realizar um plano de cuidados 
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que previna o declínio funcional e a morte precoce. (CABRAL et al., 2019). 
 Conhecer a fragilidade de idosos em contexto de alta vulnerabilidade social poderá 
auxiliar na gestão e implementação de ações dos serviços públicos assistenciais direcionados 
para este segmento. Os serviços de proteção e atenção básica representam, na maioria dos casos, 
o contato mais próximo com a população e, portanto, têm potencial para o diagnóstico precoce 
da fragilidade de idosos, possibilitando o planejamento e intervenção de cuidado à longo prazo 
evitando efeitos adversos que poderão impactar negativamente tanto na qualidade de vida dos 
indivíduos quanto nos custos dos serviços de média e alta complexidade, posteriormente. 
(ARAUJO JUNIOR et al., 2019). 
 
3.3.1 Violência Intrafamiliar e Maus Tratos contra a pessoa idosa 
 
Existem condições particulares, individuais, familiares ou coletivas, que aumentam o 
risco de ocorrência de violência intrafamiliar. A pessoa idosa torna-se mais vulnerável à 
violência na medida em que apresenta maior dependência física ou mental. A violência contra 
a pessoa idosa pode ser definida como uma ação ou omissão (única ou frequente) que resulte 
em dano físico ou aflição às pessoas idosas e que ocorre em relações das quais se espera ter 
confiança (BRASIL, 2006b). 
A violência contra idosos apresenta-se das seguintes formas: 
 Estrutural: Devido a desigualdade social e é normatizada pelas condições de pobreza, 
miséria e discriminação. 
 Interpessoal: Refere-se às agressões ocorridas no contexto das relações do dia-a-dia. 
 Institucional: Relacionada à atuação ou omissão ao gerir políticas sociais e pelas 
organizações assistenciais (BRASIL, 2006b). 
 
A violência intrafamiliar corresponde a violência interpessoal, refere-se a qualquer ação 
ou omissão dirigida a outro membro da família que resulte em danos ao bem-estar, integridade 
física, psicológica ou a liberdade e o direito de desenvolver-se plenamente. Ocorre no contexto 
de convivência familiar, ocorrendo em casa ou fora, entre pessoas da mesma família, seja por 
laços consanguíneos, civis ou por afinidade (BRASIL, 2006b). 
Esta forma de agressão pode ocorrer de diferentes formas e graus de severidade; 
raramente ocorrem de forma isolada, e envolvem um contexto de episódios frequentes de 
agressão cuja ocorrência mais extrema é o homicídio. A pessoa idosa fica mais vulnerável à 
violência por apresentar maior dependência dos cuidadores, além disso a sobrecarga e 
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despreparo desses cuidadores predispõe aumentam o estresse e agravam a situação (BRASIL, 
2006b). 
Infelizmente nos serviços de saúde nem sempre são identificados os sinais de agressão 
às pessoas idosas, sendo que toda suspeita de agressão deve ser notificada obrigatoriamente ao 
Conselho do Idoso, Delegacias e Ministério Público para as providências (BRASIL, 2006b). 
A agressão ao idoso acontece das seguintes formas: 
 
•Uso de força física para que o idoso faça algo que não quer, feri-lo,
provocar dores, incapacidades ou morte.
•Formas: tapas, socos, chutes, mordidas, empurrões, queimaduras,
obrigar tomar meedicamentos ou outras substâncias, dentre outros.
Violência física
•Realizada pela pessoa com poder (por meio físico ou
intimidação/ameaças) sobre o outro(a), visa satisfazer sexualmente o
agressor(a).
•Carícias não consentidas, penetração oral, anal ou vaginas, com pênis
ou objetos, uso de linguagem erotizada, presencias relações sexuais
com outras pessoas e impedimento do uso de preservativo.
Violência sexual
•Ação ou a falta dela que gere danos à auto-estima, desenvolvimento e
identidade da pessoa idosa.
•Insultos frequentes, terror, humilhação, desvalorização, exporação,
privar de liberdade.
Violência psicológica
•Exploração indevida do idoso ou uso não consentido de seus bens e
recursos financeiros.
•Roubo, destruição de objetos pessoais, uso dos recursos financeiros do
idoso deixando-o inapto para gerir os próprios recursos e cuidados.
Violência econômica
•Exercida no âmbito dos serviços púbicos, inclui diversos aspectos,
desde a dificuldade em ter acesso aos serviços de saúde ao mau
atendimento, incluindo diagnósticos e prescrições de medicamentos
inadequados .
Violência institucional
•Falta de atenção para atender às necessidades básicas do idoso(a).
•Administrar medicamentos de forma inadequada, não prover cuidados
básicos de higiene, moradia e sáude.
Abandono/negligência
•Ocorre quando a pessoa idosa ameaça sua própria saúde e segurança,
seja por vontade própria ou incapacidade de gerir o autocuidado
(BRASIL, 2006b).
Autonegligência
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3.4 ATENÇÃO A PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E SEXUAL 
 
 A violência aflige diversas faixas etárias e grupos populacionais, sendo os mais afetados 
os idosos, crianças e mulheres. Quando analisamos as categorias de violência doméstica e 
sexual, as crianças e mulheres são as mais violentadas. A atenção básica à saúde tem um 
importante papel neste contexto na prevenção da violência e proteção integral destas pessoas. 
 A unidade básica de saúde deve integrar-se com as instituições de seu território para 
que conheça a realidade das pessoas que ali vivem e saiba os órgãos de referência para 
encaminhamento e apoio social. Para compreendermos a atenção à pessoa em situação de 
violência doméstica e sexual devemos conhecer alguns conceitos básicos (BRASIL, 2013, p. 
262-263): 
 
Violência sexual: é a ação que obriga uma pessoa a manter contato sexual, físico ou 
verbal, ou participar de outras relações sexuais com uso da força, intimidação, 
coerção, chantagem, suborno, manipulação, ameaça ou qualquer outro mecanismo 
que anule o limite da vontade pessoal. Manifesta-se como: expressões verbais ou 
corporais que não são do agrado da pessoa; toques e carícias não desejados; 
exibicionismo e voyeurismo; prostituição forçada; participação forçada em 
pornografia; relações forçadas (coerção física 
ou por medo do que venha a ocorrer). 
Assédio sexual: é um tipo de coerção de caráter praticada por uma pessoa em posição 
hierárquica superior a um subordinado. Caracteriza-se por insinuação de ameaça, 
ameaça ou hostilidade contra a pessoa baseada em relações assimétricas de poder. 
Manifesta-se por meio de propostas indecorosas, falas obscenas, pressão para ter 
relações sexuais que o outro não deseja. 
Estupro – relação sexual forçada: “Constranger alguém, mediante violência ou grave 
ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique 
outro ato libidinoso”, essa é a nova descrição legal do estupro. Portanto, atualmente, 
a mulher e o homem podem ser vítimas de estupro, quando constrangidos, mediante 
violência (física) ou grave ameaça (psicológica) a praticar conjunção carnal 
(penetração do pênis na vagina) ou qualquer outro ato libidinoso (exemplo: 
penetração anal ou oral). 
Abuso sexual em crianças e adolescentes: consiste em todo ato ou jogo sexual, 
relação hetero ou homossexual, cujo agressor está em situação de poder superior à 
criança ou ao adolescente. Pode se apresentar sob a forma de diversas práticas eróticas 
e impostas à criança ou ao adolescente pela violência física, ameaças ou indução de 
sua vontade. O abuso sexual geralmente é praticado por adultos que gozam da 
confiança da criança ou do adolescente, e pode ter caráter incestuoso. O incesto, como 
forma de violência, caracteriza-se como qualquer relação de caráter sexual entre 
adulto e uma criança ou adolescente quando existe laço familiar direto

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