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ANÁLISE - SÉRIE EN TERAPIA – CAPÍTULO 1 E 6 A série En Terapia (em português “Em terapia”), da Televisão Pública da Argentina, possui três temporadas e tem carácter dramático, apresentado o cotidiano de atendimento do psicólogo Guilherme Montes (interpretado por Diego Peretti), que atende diversos pacientes em seu consultório. É exposto de uma forma clara e objetiva os dramas dos pacientes, mergulhando-se nos eventos de sessões de psicanálise. A série iniciou-se em maio de 2012, terminando em dezembro de 2014. Foi uma adaptação de uma série de drama de Israel. Essa análise é centralizada na temporada 1 e especificamente nos capítulos 1 e 6. Nesses dois capítulos é apresentado a mesma paciente, Marina Generis, uma mulher independente, na faixa de 30 e poucos anos, que trabalha num hospital e vive com seu namorado Andrew. Ela é atendida sempre nas segundas-feiras e apresenta ao psicólogo Guilherme principalmente seus problemas amorosos com Andrew. Ela é uma personagem caracterizada como histérica, por apresentar muitas perturbações emocionais. CONTEXTO ABORDADO Com certeza, muitas pessoas têm dúvida e curiosidade dos problemas e assuntos que um psicólogo ouve e como ele reage com as mais embaçadoras situações. Além de ser um ótimo ouvinte, um psicólogo necessita trabalhar de um modo impessoal, mantendo sempre a serenidade em sua fisionomia facial e em suas palavras. PORQUE A ESCOLHA DESSA HISTÓRIA EXATAMENTE NO PRIMEIRO CAPÍTULO DA SÉRIE Por mais alta que seja a impessoalidade da relação entre um psicólogo e um paciente, um envolvimento mais pessoal, amigável é possível. Todavia, a relação esperada pela paciente Marina é algo surreal, como o próprio personagem Guilherme Montes relata : ‘eu sou seu psicólogo e você é minha paciente e será assim sempre’. O personagem, é claro transmite isso com outras palavras , mas condiz a essa informação. O drama e a obsessão de Marina são utilizado como ponto inicial da história por vários motivos. Pode-se destacar como primeiro a questão de polêmica que o assunto envolve e desperta. Um relacionamento entre psicólogo e paciente é algo que tem seus pontos contra a ética da profissão e causa muitas controvérsias, principalmente considerando todas as circunstâncias da situação: Guilherme é casado , tem filhos e Marina tem um namorado que quer muito se casar com ela. Outro ponto interessante abordado nessa temática do personagem é o status de confiança e sinceridade que um psicólogo acaba adquirindo ao longo de várias sessões de terapia - no enredo inicial temos o parecer que Marina é paciente assíduo de Guilherme e já possui familiaridade com ele. Marina é uma mulher que possui grande desequilíbrio emocional, o qual já vem a longa data, conforme apresentado no episódio 6, onde Guilherme relembra a história de Marina, quando ela perdeu a mãe e queria ser muito adotada por uma pessoa que na época dava muita atenção a ela. A personagem apresenta uma grande angústia e perturbação em relação ao seu futuro amoroso e constituição de família com seu namorado Andrew, além de estresse proporcionado do seu trabalho exaustivo em um hospital. Ela não confia em seu namorado, sente falta de atenção dele e não quer enxergar um futuro com ele. Na terapia ela encontra uma pessoa que pode desabafar, chorar e falar tudo o que realmente sente. Marina é uma pessoa carente, e sente que de seu psicólogo ela tem atenção e que pode confiar nele. Mulheres definitivamente gostam de atenção, de serem ouvidas e receberam uma crítica construtiva e não agressiva de um homem. Todos esses pontos proporcionam que Marina sinta-se bem com seu terapeuta e desenvolva um afeto romantizado e com muitas fantasias carnais que ela fala tanto no capítulo 1 como também no capítulo 6. Outro aspecto determinante para que a história da paciente Marina seja o ponto inicial da série, é o fato que acontecimentos envolvendo a palavra sexo vendem muito bem e trazem curiosidade e consequentemente, espectadores, mostrando desse modo, o lado comercial da produção. Todos esses pontos fazem que o caso da personagem Marina tenha sido uma boa escolha para iniciar o enredo dramático de “En Terapia”, proporcionando ao espectador a vontade de ver mais capítulos e querer saber o que irá acontecer no futuro amoroso entre os dois personagens aqui mencionados. SÍNTESE DO CAPÍTULO 1 O capítulo 1, o primeiro da série, começa com a personagem Marina, a paciente e o seu terapeuta Guilherme. É constatado que Marina estava muito ansiosa para ver e conversar com seu psicólogo, sendo que ela própria comenta que estava desde as 5 horas da madrugada na porta de seu consultório esperando-o. Ela realmente tem algo a contar e não aguenta mais segurar aquele sentimento. Em suas palavras acompanhadas de choro e angústia, Marina relata da briga com seu namorado Andrew, pois ele queria uma resposta decisiva por parte de Marina . Como ela mesmo relata, o companheiro quer definitivamente casar-se com ela e se isso não acontecer, queria que houvesse a separação, por não aguentar a falta de incerteza de Marina. Depois da briga, Marina saiu para beber com amigas e amigos e, depois de vários drinques, um colega aproveitando da fragilidade do momento, leva Marina para um banheiro unissex e assim começa um momento com beijos e amassos entre Marina e o amigo. Marina relata que estavam prestes a ter relações com o amigo, no momento que entra outra pessoa no banheiro ao lado e ela percebe que não quer continuar aquilo com o amigo, mas sim com outra pessoa. Nesse momento, o espectador acredita que essa outra pessoa é o namorado Andrew, no entanto , como palavras destemidas, Marina revela que essa outra pessoa é Guilherme, seu psicólogo , o qual ouve atentamente e não compreende como aquilo é possível. Marina revela que está muito apaixonada por Guilherme e .que tem inúmeras fantasias sexuais com ele. Esse torna-se o ponto inicial da característica dramática da série . Guilherme, apresenta surpresa com sensatez, mencionando que tudo aquilo que ela sente é algo impossível , apenas uma fantasia , sem nenhuma base real. Toda a confiança que Marina sente por Guilherme levou-a a aprofundar seus sentimentos com ele e almejar ser mais do que um paciente qualquer. Guilherme, todavia, assegura seus preceitos éticos, relatando que aquilo é inaceitável e que entre eles apenas existe a relação de terapeuta e paciente. A UNIÃO DOS DOIS CAPÍTULOS Como cada capítulo representa um atendimento diferente do psicólogo Guilherme, no capítulo 6, o qual se condiz com a próxima sessão de terapia de Marina, acontece a retomada do que aconteceu anteriormente com esse personagem, relatando toda a confissão que a personagem fez em sua consulta anterior ( capítulo 1), abordando-se o exato momento que causa o apogeu da história: a confissão da paixão que Marina sente por Guilherme. Isso foi uma ótima tática para relembrar o espectador do acontecido anteriormente e permitir entrar novamente no clímax dos personagens. SÍNTESE DO CAPÍTULO 6 O enredo desse episódio começa com Guilherme relatando para sua esposa ( Sabrina), do problema de entupimento não resolvido do banheiro do seu consultório. Sabrina não consegue compreender o estresse grande dele em relação ao banheiro e porque não deixa os clientes usarem o banheiro da casa, até que haja o conserto do banheiro do escritório. Nesse dia , acontece o retorno de sua paciente Marina. Inicialmente ela inicia-se mais serena, calma e uma alegria de modo bem contido. Ela apresenta-se com o uniforme do hospital, indicando que acabou de sair do trabalho, diferente do anterior onde ela estava com roupa de festa. Marina inicialmente relata que se entendeu com Andrew e aceitou casar-se comele. Inclusive, convida o próprio Guilherme para o casamento. Guilherme agradece o convite e fica feliz, porém, apresenta estranheza com a mudança repentina de decisão dela. Marina relata do acontecimento da semana o qual afetou profundamente . Ela conta que a ex do Andrew , a Natália e seu respectivo marido, o Gabriel, tinham acabado de ter um bebê, e eles a muito tempo convidavam Marina e Andrew para jantar na casa deles. Ela, apesar de controvérsias, aceita o convite. Porém, essa visita deixa Marina mais confusa e com medo de suas decisões. Ela percebe o almejo e vontade de Andrew constituir uma família com filhos e ao mesmo tempo enxerga a maternidade de Natália como uma prisão em gaiola, ficando surpresa quando Natália relata que sua fantasia era dormir mais de 4 horas numa noite . Marina relata que Andrew observava Natália com um cientista que observa um animal domesticado. Marina tem medos profundos e o psicólogo enxerga isso em suas ações , falas e expressões. Ele comenta da discórdia existente entre as ações da sessão passada com a sessão atual, e que a decisão de Marina aceitar o pedido de casamento parece muito retumbante, considerando todas a incertezas e medos que ela possui em relação a Andrew. Nesse ponto da história , Marina salienta que Andrew é medíocre para ouvir ela e que só apenas disse sim ao casamento a ele, porque Guilherme disse não. Trazendo à tona, a reviravolta da paixão e desejo carnal de Marina por seu psicólogo. .Acontece um silencio entre os personagens . Guilherme fica por um momento sem palavras . Aquela situação torna-se mais embaraçosa e ele salienta que aquilo é apenas uma fantasia dela, não real. Destaca que ela vê nele um refúgio, uma alternativa de sua dependência e ansiedade. Em conflito, ela destaca que acontece essa sensação de alternativa, mas, porém, com o diferencial de ela querer relações sexuais com ele. Marina vai em direção ao banheiro do escritório, Guilherme do problema do banheiro, ela então dirige-se em direção a saída que dá para o banheiro da casa, mostrando que a personagem já conhece o local . Ele a impede, e relata que prefere que os clientes utilizem apenas o banheiro do consultório. Marina questiona aquela situação, relata que vê medo em Guilherme, e que quando conheceu-o, ele era um homem morto escondido numa fachada profissional A sessão termina antes do tempo e Guilherme senta-se ao sofá mostrando sua sensação de incapacidade diante de toda aquela complicada e envolvente situação. PRINCIPAL PONTO TRATADO NESSES CAPÍTULOS Nesses dos capítulos é tratado sobre a paixão de uma paciente por seu terapeuta psicólogo . Essa paixão surge devido ao grande afeto que a paciente Marina adquiri pelo seu terapeuta Guilherme, ocasionado pela grande solicitude que este presta à Marina, mas que são oriundas de seu intelecto e vocação a profissão. Marina , desde a adolescência, como é perceptível em uma parte da história narrada por Guilherme, vive uma carência de atenção e de ter um bom ouvinte. Ela supre essa necessidade com ele, e por esse motivo, acredita que ele seja também o homem ideal para uma relação amorosa profunda e repleta. Guilherme , porém, segue sua ética profissional, sempre sendo um bom ouvinte, mas demostrando com palavras que o que Marina deseja não é coerente com toda a situação e trata-se de algo que surgiu devido a fragilidade emotiva e ansiedade que ela sente A REAÇÃO DO TERAPEUTA Sabendo da paixão que sua paciente possui por si, Guilherme fica abalado e perplexo, mas seu sentimento fica contido e ele tenta reagir de um modo calmo e singelo, sem apresentar alterações de voz as expressões fisionômicas do rosto. Entretanto, esse comportamento impassível é alterado no capítulo 6. No início desse capítulo. fica claro o medo de misturar o profissional com o pessoal, e no decorrer dessa etapa da série, o personagem começa a mostrar sua fragmentação e medo de envolver-se com a paciente. Isso fica exposto no momento que Marina salienta sua paixão e desejo pelo terapeuta, o psicólogo fica um momento em silêncio, sem saber o que falar naquele instante, apresentando uma expressão facial de reflexão e busca de respostas. Também a fragilidade de seu profissional é demostrada quando o personagem principal intervi e pede o encerramento daquela sessão de terapia, o que condiz com uma incerteza do que falar e como agir naquele momento. Ele como ser humano, incentivado pelos desejos da paciente, apresenta um desejo oculto e por isso a aversão apresentada nos últimos minutos da sessão. Quando o personagem Marina vai embora, a agonia reflete em Guilherme., pois o personagem encontra-se numa situação complicada que envolve não apenas ele, mas que também pode fragilizar sua família. Ele repensa em que decisão tomar, que tática abordar nesse problema, quando este senta-se ao sofá fica claro o seu desespero diante da situação. A FOCALIZAÇÃO DAS IMAGENS A cena de ambos capítulos, foca apenas muito na imagem facial dos personagens. Porém em desabafos, sejam em uma comunicação pessoal, ou ocorridas dentro em uma sessão com psicólogo, como é apresentado na história, os personagens demostram suas emoções não apenas pela fala ou expressões faciais e olhares, mas também por posições de sentar-se e movimentar as pernas durante a sessão, como também pelos gestos das mãos e posição dos braços. Um psicólogo de alto valor profissional avaliaria muito essa linguagem corporal e faria as expressões dos seus comentários baseando-se também nisso. Em muitos casos, uma pessoa tem dificuldade de apresentar suas emoções interiores apenas com palavras faladas, e por isso, acaba utilizando a linguagem corporal. Trata-se de um modo inconsciente do corpo demonstrar o psicológico da pessoa . Cerca de 93% da nossa comunicação é não verbal (conforme https://www.sbie.com.br/blog/linguagem- corporal-e-a-psicologia/) e faltou uma exploração disso nas cenas 1 e 6 - as quais respectivamente estão em análise nesse trabalho. A série teria mais valor técnico se apresenta-se em alguns pontos a figura por inteiro dos personagens, mostrando com mais ênfase seus gestos com as mãos, seu modo de sentar-se ou esticar as pernas. O personagem Guilherme é apresentado como um grande profissional e recomendado por diversas pessoas, todavia um ótimo profissional dessa área avalia todas as expressões corporais, mesmo sendo de um modo bem oculto. Isso infelizmente não é apresentado nos capítulos mencionados. CENAS QUE DARIAM ENFÂSE AO ENREDO Em momentos de ambos capítulos, a personagem Marina conta o que aconteceu na sua noite, dia e semana. Mas o que vemos são apenas as narrativas dela, sem cenas do que realmente aconteceu. Tem o ponto interessante por incentivar o espectador a imaginar o acontecimento, mas ao mesmo passo gera um ambiente monótono, sem a diversidade de personagens e cenários, gerando por consequência a falta de envolvimento do espectador com a narrativa do personagem. A série por si seria muito mais envolvendo se deixasse de ter um cenário único e mostrasse em relance as narrativas dos personagens. Por exemplo, no momento que Marina falava da visita na casa de Natália e Gabriel , apresenta-se cenas mostrando como foi esse acontecimento. Falta uma interação do que os personagens relatam É claro que adição de cenas com diferentes cenários e personagens acarretaria vários outros custos, mas por outro lado proporcionaria mais público ativo e com mais envolvimento nos acontecimentos. Em conclusão, por trata-se de uma adaptação e inclusive gerar outras adaptações, como a série brasileira “Sessão de terapia”, a dramaturgia de En Terapia é vista com bons olhos pelos espectadores. Mas poderia atrair um público maior com https://www.sbie.com.br/blog/linguagem-corporal-e-a-psicologia/https://www.sbie.com.br/blog/linguagem-corporal-e-a-psicologia/ a alteração do modo de filmagem - destacando muito a linguagem corporal dos personagens - e tendo-se uma diversidade de cenários para a apresentação das narrativas dos personagens.
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